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r fl xõ s d um suj ito transgay

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prim ira po masia

prim ira po masia

As Refle sujeit o

xões de um t r a n s g a y

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Por Luiz Fernando Prado Uchoa Arte Ananda Feliciano

Ser homem trans é ter de superar cotidianamente obstáculos para a construção de uma identidade masculina por meio de vestimentas que muitas vezes não são idealizadas para aquele corpo em construção, acostumar-se em inconvenientes como menstruação no início da transição, criação de um prenome, desenvolvimento de um novo círculo de amizades, o enfraquecimento de laços familiares ou relacionamento amoroso. A nova narrativa se desenvolve sem nenhum tipo de apoio social e pelo fato de ter sido resignado como alguém pertencente ao gênero feminino, devido a uma genitália; e essa jornada é solitária e árdua, já que inexiste serviços de apoio psicossocial em muitas regiões do país. Antes de revelar a minha real identidade de gênero, tinha uma dita vivência lésbica como tentativa de expressar minha latente masculinidade e, por esta razão, me relacionava com mulheres até o início de minha transição por ainda não conseguir distinguir conceitual

mente a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual.

Nunca imaginei ser um homem trans gay por ter tido várias relações com mulheres antes e durante minha transição. Só com o passar do tempo o desejo por homens se intensificou e fui saciá-lo frequentando ambientes propícios mas enfrentei dificuldades para ser respeitado em minha construção identitária e, por esta razão, minhas investidas amorosas ou sexuais foram complicadas em virtude da transfobia existente no meio gay.

Constantemente escuto de homossexuais que se fosse para me relacionar sexualmente ou afetivamente como o gênero masculino, “Por que não ficou do jeito que estava”, “sou gay e não sou obrigado a me relacionar com uma lésbica masculinizada” ou ainda pior “homem de buceta, que nojo”, “Você nunca será um homem de verdade”. Um sentimento de solidão compulsória me acompanha por reivindicar uma masculinidade distinta da norma e isso me faz pensar que terei de atender a determinados padrões estéticos ou sociais esperados pelo cis gays ou em algum ponto, serei obrigado a conformar em ser uma espécie de fetiche para homens que buscam vivenciar fantasias sexuais com uma pessoa detentora de caracteres masculinos e com uma genital lida como feminina. Todo gay costuma paquerar em festas, aplicativos, bares ou saunas e obtém sucesso em sua empreitada. Mas para mim nestes ambientes, em que o pênis reina como uma figura soberana, um homem trans como eu possuidor somente de próteses artificiais ou de uma vagina nunca chances de ser considerado um bom partido por aqueles que crentes na masculinidade contida neste órgão e, com isso, o abandono é a única saída. Na maior parte do tempo, imagino como seria viver uma história romântica sem ter de explicar a um homem minha transição de gênero, militância e ativismo LGBTI+ e que a relação sexual fosse como qualquer outra, sem grandes ensaios e diálogos acerca de especificidades corpóreas e, com isso, o interesse sexual-amoroso ou amoroso-sexual fosse pautado em minha personalidade ou aparência. O amor ou relação casual entre um homem trans gay e cis

gay torna-se inviável em uma sociedade homossexual falocêntrica que galga a homossexualidade legitima neste órgão essencial na relação entre machos e também nas características másculas no jogo sexual homoerótico tóxico no qual deverá existir as figuras ativa e passiva e, nesta configuração, será determinado qual papel terá de ser exercido por cada qual baseado ou na genitália ou maneirismo. Por mais conquistas significativas que o segmento de travestis e transexuais tenham alcançado como, por exemplo, a decisão recente do Supremo Tribunal Federal que garante a retificação de prenome e de gênero sem necessidade de se recorrer ao judiciário, a obrigatoriedade da cirurgia de resignação sexual e de laudos médicos, ou seja, o procedimento torna-se administrativo de responsabilidade dos cartórios de registro civil, a retirada da transexualidade no dia(18) de junho da classificação de transtorno mental na Organização Mundial da Saúde(OMS). Porém, esta última conquista não deve ser celebrada de forma tão fervorosa assim pelo fato da OMS ainda atrelar a transexualidade como

patologia por especialistas da instituição sustentarem que essa manutenção tem como objetivo de incentivar a oferta de políticas públicas de saúde para esta população. Há um lado perverso desta recente conquista por ainda manter as identidades travesti e trans catalogadas como uma condição patológica e, por esta razão, estes indivíduos não são considerados(as) cidadãos de direito e o acesso a hormonioterapia e cirurgias só é possível mediante ao aval de profissionais de saúde em sua maioria composta por cisgêneros que entendem a identidade travesti ou trans com prerrogativas biologizantes e geneticistas sendo na verdade, uma condição identitária pertencente ao sujeito no campo político-social. Contudo, esta patologização só favorece para a transfobia existente em relação a esta forma distinta de masculinidade existente e os homens trans percorrem caminhos tortuosos cheios de dores, sofrimentos por simplesmente reivindicarem sua identidade em meio a uma sociedade cisheteronormativa que lhes esmaga promovendo modelos tóxicos de hombridade em que o corpo viril,

pênis, barba, heterossexualidade e determinados maneirismos sejam requisitos validadores da perfeita estereotipação máscula. Diante desta lógica cisheteronormativa permeada pelo machismo, pela misoginia e transfobia nem consigo vislumbrar a possibilidade de namorar um cis gay ou até outro homem trans já que este fragilizado na construção de sua identidade, muitas vezes esconde sua homossexualidade, bissexualidade ou pansexualidade por receio de ser rechaçado no meio LGBT ou até cis hétero.

Enquanto a mudança de paradigma não ocorre busco auxiliar outros homens trans a superarem suas angústias com relação a transição de gênero em grupos de Whatsapp, facebook e grupos presenciais, redijindo textos, ministrando palestras em escolas, universidades e em serviços diversos objetivando que as pessoas conheçam estas narrativas transmasculinas e assim compreendam que existem diversas formas de ser HOMEM para a inserção social do segmento ser concretizada e o estigma se romper possibilitando a construção de uma sociedade mais receptiva a DIVERSIDADE. As grandes lições aprendidas nesta jornada em busca de minha verdadeira identidade: é que ser feliz é viver em um estado de constante superação. E se o outro incompreende a sua essência jamais busque por algo que ele é incapaz de lhe dar seja mais você seguindo a sua estrada sem tipo de arrependimento.

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