ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
LIMITAR A DEGRADAÇÃO DA PROTEÍNA NO RÚMEN. PORQUÊ?
Elisabete Carneiro Eng.ª Zootécnica, Gestora de Zona da ADM Portugal S.A.
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
A eficiência produtiva e consequente rentabilidade,
tino delgado – proteína não degradada no rúmen.
é um dos pilares da produção de ruminantes. A
Limitar a degradação ruminal da proteína alimentar,
nutrição, nomeadamente a nutrição proteica, é um
permite que uma maior quantidade de aminoácidos
fator cuja monitorização se reveste de extrema
chegue ao intestino delgado, reduzindo o risco de
importância, pelo elevado impacto na produção, e
carência de aminoácidos essenciais aumentando
porque a sua variação dá origem a resultados dis-
assim a eficiência da nutrição proteica e alimentar.
tintos no desempenho do animal. Ela é essencial
Em determinados casos, as frações de proteína
para um ótimo crescimento e para a máxima pro-
microbiana e de proteína não degradada no rúmen
dução de leite. Da proteína exigida pelos ruminan-
são suficientes para atender às necessidades do
tes, uma é a proteína que é degradável no rúmen
animal. Mas em animais de elevada produção, a
e de cuja degradação resulta a disponibilização de
combinação destes aminoácidos não representa
amoníaco utilizado pela microflora ruminal para o
quantidade suficiente para suprir as exigen-
seu crescimento e multiplicação a que posterior-
tes necessidades do animal. Torna-se por isso
mente designamos de proteína microbiana. A outra,
essencial melhorar a quantidade de proteína que
é uma proteína bypass (proteína não degradável no
escapa a degradação ruminal de forma a aumen-
rúmen), que é posteriormente digerida e absorvida
tar a quantidade de aminoácidos disponíveis para
no intestino delgado.
absorção no intestino delgado sem, no entanto,
A compreensão da dinâmica de degradação ruminal
limitar a quantidade de azoto para a síntese
da proteína é essencial para se formular dietas com
microbiana no rúmen.
níveis adequados de proteína degradada no rúmen
Em nutrição de ruminantes tem-se como objetivo
(favorecendo a microflora ruminal) – e de proteína
fornecer o mínimo de proteína bruta na dieta,
não degradável no rúmen, promovendo uma dieta
mas, também fornecer a quantidade adequada de
e digestão mais eficiente e que otimiza o desem-
proteína degradável no rúmen de forma a obter a
penho produtivo e a saúde do animal.
máxima eficiência ruminal e consequentemente a
Embora se fale em necessidades proteicas, o rumi-
otimização da produção de proteína microbiana.
nante, na verdade, tem necessidades específicas em
A previsão e conhecimento da degradabilidade
determinados aminoácidos considerados limitantes,
da proteína no rúmen é uma informação básica
uma vez que caso não sejam fornecidos em quan-
necessária para otimizar os recursos alimentares
tidades suficientes na dieta, impedem a correta
utilizados na nutrição de ruminantes; uma previsão
síntese proteica do animal, mesmo quando sejam
e conhecimento precisos do perfil de degradação
alimentados com dietas de elevado teor proteico.
da proteína no rúmen é também essencial na redu-
Os aminoácidos são nutrientes necessários para
ção do custo alimentar, na redução do impacto
a manutenção, crescimento, reprodução, saúde e
ambiental e auxilia na garantia do bem-estar animal.
lactação; são utilizados como os diferentes ‘blocos
Importa referir também que, o desajuste entre a
de construção’ na síntese de proteína. Portanto,
degradação proteica no rúmen, e a disponibilidade
é indispensável fornecer a quantidade adequada
de energia à microbiota ruminal resulta, tal como
dos diferentes aminoácidos para que ocorram os
o fornecimento excessivo de ureia ou proteína
processos vitais e funções produtivas do animal.
bruta, no aumento dos valores de ureia sanguínea
Grande parte dos aminoácidos que são absorvidos
(e consequentemente do leite); tal, além de ser um
no intestino delgado, são provenientes da proteína
indicador de baixa eficiência alimentar, representa
microbiana sintetizada no rúmen a partir da proteína
uma agressão à homeostasia reprodutiva e produ-
degradada no rúmen. O amoníaco (NH3) é um dos
tiva e bem ainda um impacto ambiental negativo
produtos da fermentação ruminal e é o substrato
que traduz um desperdício de fontes proteicas e
que permite o crescimento microbiano. Os restantes
aumento da excreção de azoto para o ambiente.
aminoácidos absorvidos no intestino delgado que
Fontes proteicas de elevada degradabilidade,
representam uma menor proporção são fornecidos
quando digeridas pelo ruminante, resultam na
pela proteína bypass ou protegida que escapam à
produção de elevadas concentrações de amoníaco
degradação ruminal e que chegam intactos ao intes-
no rúmen; quando essa concentração ultrapassa o