Revista Alimentação Animal n.º 120

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

LIMITAR A DEGRADAÇÃO DA PROTEÍNA NO RÚMEN. PORQUÊ?

Elisabete Carneiro Eng.ª Zootécnica, Gestora de Zona da ADM Portugal S.A.

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

A eficiência produtiva e consequente rentabilidade,

tino delgado – proteína não degradada no rúmen.

é um dos pilares da produção de ruminantes. A

Limitar a degradação ruminal da proteína alimentar,

nutrição, nomeadamente a nutrição proteica, é um

permite que uma maior quantidade de aminoácidos

fator cuja monitorização se reveste de extrema

chegue ao intestino delgado, reduzindo o risco de

importância, pelo elevado impacto na produção, e

carência de aminoácidos essenciais aumentando

porque a sua variação dá origem a resultados dis-

assim a eficiência da nutrição proteica e alimentar.

tintos no desempenho do animal. Ela é essencial

Em determinados casos, as frações de proteína

para um ótimo crescimento e para a máxima pro-

microbiana e de proteína não degradada no rúmen

dução de leite. Da proteína exigida pelos ruminan-

são suficientes para atender às necessidades do

tes, uma é a proteína que é degradável no rúmen

animal. Mas em animais de elevada produção, a

e de cuja degradação resulta a disponibilização de

combinação destes aminoácidos não representa

amoníaco utilizado pela microflora ruminal para o

quantidade suficiente para suprir as exigen-

seu crescimento e multiplicação a que posterior-

tes necessidades do animal. Torna-se por isso

mente designamos de proteína microbiana. A outra,

essencial melhorar a quantidade de proteína que

é uma proteína bypass (proteína não degradável no

escapa a degradação ruminal de forma a aumen-

rúmen), que é posteriormente digerida e absorvida

tar a quantidade de aminoácidos disponíveis para

no intestino delgado.

absorção no intestino delgado sem, no entanto,

A compreensão da dinâmica de degradação ruminal

limitar a quantidade de azoto para a síntese

da proteína é essencial para se formular dietas com

microbiana no rúmen.

níveis adequados de proteína degradada no rúmen

Em nutrição de ruminantes tem-se como objetivo

(favorecendo a microflora ruminal) – e de proteína

fornecer o mínimo de proteína bruta na dieta,

não degradável no rúmen, promovendo uma dieta

mas, também fornecer a quantidade adequada de

e digestão mais eficiente e que otimiza o desem-

proteína degradável no rúmen de forma a obter a

penho produtivo e a saúde do animal.

máxima eficiência ruminal e consequentemente a

Embora se fale em necessidades proteicas, o rumi-

otimização da produção de proteína microbiana.

nante, na verdade, tem necessidades específicas em

A previsão e conhecimento da degradabilidade

determinados aminoácidos considerados limitantes,

da proteína no rúmen é uma informação básica

uma vez que caso não sejam fornecidos em quan-

necessária para otimizar os recursos alimentares

tidades suficientes na dieta, impedem a correta

utilizados na nutrição de ruminantes; uma previsão

síntese proteica do animal, mesmo quando sejam

e conhecimento precisos do perfil de degradação

alimentados com dietas de elevado teor proteico.

da proteína no rúmen é também essencial na redu-

Os aminoácidos são nutrientes necessários para

ção do custo alimentar, na redução do impacto

a manutenção, crescimento, reprodução, saúde e

ambiental e auxilia na garantia do bem-estar animal.

lactação; são utilizados como os diferentes ‘blocos

Importa referir também que, o desajuste entre a

de construção’ na síntese de proteína. Portanto,

degradação proteica no rúmen, e a disponibilidade

é indispensável fornecer a quantidade adequada

de energia à microbiota ruminal resulta, tal como

dos diferentes aminoácidos para que ocorram os

o fornecimento excessivo de ureia ou proteína

processos vitais e funções produtivas do animal.

bruta, no aumento dos valores de ureia sanguínea

Grande parte dos aminoácidos que são absorvidos

(e consequentemente do leite); tal, além de ser um

no intestino delgado, são provenientes da proteína

indicador de baixa eficiência alimentar, representa

microbiana sintetizada no rúmen a partir da proteína

uma agressão à homeostasia reprodutiva e produ-

degradada no rúmen. O amoníaco (NH3) é um dos

tiva e bem ainda um impacto ambiental negativo

produtos da fermentação ruminal e é o substrato

que traduz um desperdício de fontes proteicas e

que permite o crescimento microbiano. Os restantes

aumento da excreção de azoto para o ambiente.

aminoácidos absorvidos no intestino delgado que

Fontes proteicas de elevada degradabilidade,

representam uma menor proporção são fornecidos

quando digeridas pelo ruminante, resultam na

pela proteína bypass ou protegida que escapam à

produção de elevadas concentrações de amoníaco

degradação ruminal e que chegam intactos ao intes-

no rúmen; quando essa concentração ultrapassa o


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