Revista Alimentação Animal n.º 117

Page 4

ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

A IMPORTÂNCIA DA PROATIVIDADE N.º 117 JULHO A SETEMBRO 2021 (TRIMESTRAL) ANO XXXII 3€ (IVA INCLUÍDO)

I FÓRUM DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL CONFIRMA PROATIVIDADE DA INDÚSTRIA

4 |

A LIMEN TAÇÃO AN IM A L

Longe vão os tempos das crises da BSE (1996), das dioxinas (1999), do Livro Branco sobre Segurança Alimentar (2000) ou ainda dos nitrofuranos (2003) e das atitudes defensivas da Indústria da Alimentação Animal que, pese embora os argumentos e o “ir à luta”, não raras vezes sentindo-se injustiçada porque estava perante problemas dos quais não era responsável, foi apanhada num verdadeiro turbilhão, não sabendo como reagir, pelo peso fortemente negativo junto da opinião pública. E, por essa via, também com impacto nos seus clientes, com todo o drama que afetou em diferentes momentos, quer o consumo de carne de bovino ou, anos mais tarde, a carne de frango. Sabemos hoje que parte desses consumidores de carne de bovino se perderam em muitos países, pese embora em Portugal a recuperação tenha sido rápida, e que o consumo desta carne se caracterize pela relativa estabilidade. Regressando a esse passado não muito longínquo, há 25 anos, lembramo-nos que nessa altura, no primeiro grande embate, com a crise das vacas loucas e as farinhas de carne, fomos dos que mais defendemos que a Indústria se deveria antecipar ao legislador, mostrar algo de positivo e explicar o que e como fazíamos. Abrir, se possível as portas das empresas à opinião pública, através da comunicação social, e levar os clientes a perceber melhor os processos de produção, para ganharmos confiança e credibilidade. Os receios eram compreensíveis, tanto mais que existia um sentimento de que a alimentação animal era o “bode expiatório”, as regras eram muito mais restritivas que as que vigoravam na alimentação humana (quem se não lembra da famosa “fórmula aberta”?) e o setor passava da agricultura (DG AGRI) para a saúde e proteção dos consumidores (DG SANTE), decisores que não faziam a mínima ideia de como funcionava o setor (ou a Fileira animal). No entanto, depois de maturadas discussões no quadro da FEFAC avançámos para a elaboração do Código de Boas Práticas, que foi replicado em muitos Estados-membros e Associações, entre as quais Portugal e a IACA (no nosso caso com aprovação e homologação das autoridades nacionais), com novas versões atualizadas, em função dos avanços legislativos, nomeadamente da introdução do HACCP e a higiene nos alimentos para animais, bem como a rastreabilidade. O que não evoluímos nestes últimos anos…como a Indústria da alimentação animal se modernizou, e se adaptou de uma forma notável, aos sucessivos desafios, legislações, restrições de mercados, nunca desistindo, impulsionada pelo conhecimento, pela tecnologia e por uma presença junto dos centros de

decisão, a montante e a jusante, com a DG AGRI ou a DG SANTE, numa forte cooperação internacional, no quadro da FAO ou do Codex Alimentarius, numa estratégia proativa que está definitivamente a colher os seus frutos. Conscientes de que tínhamos um papel a desempenhar, em 2016, na Turquia, num Congresso centrado na aceitação social da alimentação animal e da pecuária, a Indústria adotou a Visão 2030 com base em 3 pilares – segurança alimentar, nutrição animal e sustentabilidade – que anos mais tarde, em 2020, se traduziu na Carta de Sustentabilidade 2030, com objetivos claros, ambiciosos e mensuráveis. Anos antes, em 2015, tinha sido lançado o 1º Guia de Aprovisionamento de soja responsável, com preocupações na desflorestação, no ambiente, nas boas-práticas agrícolas, mas igualmente nas questões sociais e na envolvente com as comunidades locais, no Brasil, na Argentina, Paraguai ou nos EUA. Temos assim, um conjunto de sistemas de fornecimento de soja reconhecidos à escala mundial, contribuindo para uma visão mais favorável e responsável da cadeia de fornecimento. Em 2021, em linha com a Carta de Sustentabilidade, o Guia foi adaptado em função de uma nova agenda ligada ao ambiente e à desflorestação, às alterações climáticas, com novos e mais exigentes critérios. Ainda em 2021, foi apresentado o primeiro relatório da Carta de Sustentabilidade, com o compromisso de avaliação dos objetivos traçados, como um “prestar de contas” à Sociedade das metas a que nos comprometemos. A IACA orgulha-se de fazer parte de todo este processo, participando neste caminho desde a primeira hora. Temos a consciência de que esta postura proativa que assumimos também com a criação do FeedInov, ou com o Projeto SANAS, de que resultou o 1º Fórum da Alimentação Animal que merece destaque nesta edição da Revista “AA” tem sido importante para a credibilidade do Setor e para que, como testemunhamos pelas intervenções da então Presidente do Conselho, Maria do Céu Antunes, ou o Comissário Agrícola, a Alimentação Animal seja hoje considerada sem margem para dúvidas, como parte da solução para uma produção animal mais sustentável. O setor ganhou uma reputação que teremos de saber usar na credibilidade da atividade pecuária. Que ficou a dever-se, em nossa opinião, a uma estratégia e atitude proativas. Esta é a melhor lição dos últimos 25 anos, que nos deve guiar para o futuro. Jaime Piçarra


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.