ALIMENTAÇÃO ANIMAL SUSTENTABILIDADE
COMBATE AO DESPERDÍCIO ALIMENTAR ATRAVÉS DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL – IMPACTO E FUTURO I - Introdução
Francisco Júdice Halpern Estagiário de Laboratório De Heus Nutrição Animal, SA
Na atualidade, a União Europeia (UE) produz cerca 2,5 mil milhões de toneladas de resíduos por ano (Pereira, 2019), segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), prevê-se até 2050 um grande crescimento demográfico da população mundial, atingindo o nosso planeta 9/10 biliões de habitantes, provocando um aumento das necessidades alimentares atuais estimado em 60%. Estes preocupantes números vão obrigar a uma resposta na produção mundial de alimentos, numa altura em que muitos recursos naturais (terra, água, entre outros) já são escassos. Esta foi uma das razões por que o Parlamento Europeu destacou recentemente o tema da Economia Circular como fundamental para a política europeia. Neste sentido, a legislação comunitária está a ser atualizada relativamente à gestão de resíduos, nomeadamente com a introdução de medidas para o seu aproveitamento alimentar, que podem significar poupanças no valor de 600 mil milhões de euros, o que representará 8 % do volume de negócios atual das empresas da UE e a redução das emissões anuais totais de gases com efeito de estufa entre 2 a 4% (Forum Estudante, 2019). Deste modo, consegue-se também dar um passo importante no combate à poluição ambiental e reforçar a economia social do nosso planeta. A indústria de alimentação animal tem sido a principal recicladora da maioria dos coprodutos produzidos pelas Indústrias Agroalimentares (IAAs), através da utilização de milhões de toneladas como matérias- primas e contribuindo assim para a sustentabilidade ambiental e económica de várias empresas.
II – Coprodutos das Indústrias Agroalimentares Anualmente as IAAs (e agora também nos biocombustíveis) são geradoras de impressionantes quantidades de alimentos com vários fins, produzindo géneros alimentícios com origem em múltiplas indústrias como as do açúcar, dos óleos alimentares, dos lacticínios, do amido, do malte, das massas alimentícias e dos sumos, entre outras, a maioria secos ou desidratados, mas também na forma húmida ou líquida destinados ao setor da alimentação humana. Todas estas atividades utilizam matérias-primas alimentares que são transformadas através de processos industriais. Tendo em conta o seu objetivo, são produzidas frações dos alimentos originais nutricionalmente valorizáveis. No entanto, não são normalmente destinados à alimentação humana. Estas frações (subprodutos ou resíduos dos processos de fabrico) são atualmente denominadas de coprodutos ou produtos derivados. Na forma sólida ou na forma líquida, são exemplos de utilização corrente em fábricas de alimentos para animais (Quadro 1). Outros produtos derivados, menos comuns e quase sempre na forma líquida ou húmida, são normalmente utilizados diretamente nas explorações pecuárias (Quadro 2). Embora a (re)utilização destes produtos derivados possa ser em processos como a combustão ou fertilização de solos, é na alimentação animal (feed) que reside o principal reaproveitamento dos mesmos como matérias-primas, contribuindo diretamente para a nutrição de diferentes animais e indiretamente para a alimentação humana (food) por uma política de Economia Circular. Deste modo, valorizam-se “resíduos” e diminuem – se as “pressões
Grupos de Coprodutos
Exemplos de Coprodutos
Derivados de Cereais
Glúten Feed, Farinha Forrageira, DDGS e Glúten Meal, Sêmeas de Milho, Trigo e Cevada;
Derivados de Oleaginosas
Bagaços de Soja, Girassol, Colza e Palmiste. Cascas de Soja
Derivados de Frutos ou Tubérculos
Polpas de Citrinos, Beterraba e Alfarroba;
Gorduras Vegetais
Óleos, Oleínas e Lecitinas de Girassol, Soja, Colza, Palma e Coco;
Gorduras Animais
Banha de Porco, Sebo de Vaca, Gordura de Aves e Óleo de Peixe;
Concentrados de Açúcares
Melaço de Beterraba, Melaço de Cana-de-Açúcar, Vinhaças e Glicerol.
Quadro 1 – Coprodutos de utilização corrente em alimentação animal.
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL