ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA
BENEFÍCIOS DA ESTEVA E DOS SEUS TANINOS NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES As crescentes preocupações com a sustentabilidade dos sistemas de produção animal, associadas aos elevados custos das matérias primas convencionais têm levado à procura por recursos alimentares alternativos que possam ser aplicados na alimentação animal sem comprometer a produtividade e a qualidade dos produtos. Subprodutos agroindustriais e plantas arbustivas, pela sua elevada disponibilidade e baixo custo, têm sido largamente estudados para aplicação na alimentação animal, particularmente em ruminantes pela capacidade que estes animais têm de converter recursos de baixo valor nutricional em produtos alimentares de elevada qualidade (carne e leite). Os subprodutos agroindustriais e as plantas arbustivas, além de serem fontes importantes de nutrientes, contêm frequentemente na sua composição compostos bioativos com propriedades benéficas na saúde e bem-estar animal, na qualidade dos produtos e no ambiente. A Esteva (Cistus ladanifer L., Figura 1) é uma planta arbustiva endémica da região mediterrânea. Encontra-se de norte a sul de Portugal, sendo particularmente abundante no sul, onde surge de forma espontânea ocupando extensas áreas em espaços agrícolas e florestais. Nutricionalmente a Esteva é um alimento desequilibrado e de baixo valor. Contém moderados teores de fibra (318-410 g de NDF/kg matéria seca (MS)), baixo teor proteico (55 – 100 g/kg MS) e baixa digestibilidade da matéria orgânica (249 – 315 g/kg MS) [1]. A Esteva contém um elevado teor de taninos condensados (32 – 161 g/kg MS) [1], principalmente quando a planta é jovem e durante o verão. Os taninos condensados são genericamente considerados compostos antinutritivos. Contudo, o consumo de taninos condensados pode ser prejudicial, benéfico ou não induzir qualquer efeito nos animais dependendo da concentração na dieta, da sua estrutura química, da composição da dieta base, da espécie e estado fisiológico dos animais [2]. Pela riqueza em taninos condensados, a Esteva tem suscitado
Eliana Jerónimo1,2, Teresa Dentinho3,4 20 |
ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
1
entro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do AlenC tejo (CEBAL) / Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), 7801908 Beja, Portugal
2
ED – Mediterranean Institute for Agriculture, Environment M and Development, Portugal, CEBAL, 7801-908 Beja, Portugal
3
Instituto Nacional de Investigação Agraria e Veterinária, Polo de Investigação da Fonte Boa (INIAV-Fonte Boa), 2005-048 Vale Santarém, Portugal
4
Centro Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal (CIISA), Avenida da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa, Portugal
grande interesse para utilização na alimentação animal pelos benefícios que estes compostos podem induzir em termos de eficiência alimentar, saúde e bem-estar animal, qualidade dos produtos e no ambiente. Ao longo de mais de duas décadas têm sido desenvolvidos estudos em Portugal sobre a utilização de Esteva ou de extratos de taninos condensados de Esteva na alimentação animal, que incluem a avaliação da sua composição química e nutritiva, estudos in vitro, metabólicos e ensaios produtivos com pequenos ruminantes (borregos e cabras leiteiras). Os resultados obtidos até ao momento são bastante promissores. Na Tabela 1 são apresentados os principais resultados obtidos em ensaios produtivos com borregos e cabras leiteiras. Uma das preocupações quanto à incorporação de Esteva ou de extratos de taninos de Esteva na dieta de ruminantes é o possível impacto negativo no desempenho produtivo dos animais. Em ensaios realizados com borregos foram testadas quantidades entre 50 e 250 g/kg de Esteva na dieta [3–6] (Tabela 1). Apenas num dos ensaios se verificou redução do ganho médio diário nos animais alimentados com o nível mais elevado de Esteva (250 g/kg de Esteva na dieta) [6]. Com níveis de incorporação até 200 g/kg de Esteva na dieta a produtividade dos borregos não foi comprometida [4–6]. A inclusão de extrato de taninos condensados na dieta pode condicionar o desempenho produtivo, mas os resultados mostram que 1,25% de taninos condensados de Esteva na dieta de borregos (consumo médio diário de 15 g de taninos condensados) não afetou o ganho médio diário [6]. Em cabras leiteiras, o consumo de 20 g/ dia de taninos condensados de Esteva também não afetou a produção de leite (Tabela 1) [Jerónimo et al., dados não publicados].
Melhoria da Utilização Digestiva da Proteína Um dos efeitos mais importantes da ingestão de taninos condensados pelos ruminantes é a capacidade que têm de melhorar a utilização digestiva da proteína dos alimentos por impedirem a sua excessiva e rápida degradação no rúmen. A pH ruminal (pH 5,5 – 7,0) os taninos ligam-se à proteína dos alimentos, reduzindo a sua solubilidade e a degradação microbiana. Como consequência, maior quantidade de proteína de origem alimentar passa aos compartimentos pós ruminais onde é então libertada por dissociação dos complexos tanino-proteína em