Revista Alimentação Animal n.º 113

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

O LABORATÓRIO COLABORATIVO PARA A BIOECONOMIA AZUL: COMO MOLDAMOS O FUTURO?

Elisabete Matos Coordenadora Técnico-Científica do B2E 16 |

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

A implementação do conceito de Laboratório Cola-

novos e existentes e incluirão processos de interna-

borativo (CoLAB), com o objetivo claro de fomen-

cionalização da capacidade científica e tecnológica

tar o emprego qualificado em Portugal através da

nacional, apoiando assim os setores do crescimento

valorização social e económica do conhecimento,

azul com maior potencial: a biotecnologia e a aqua-

proporcionou ao setor da Bioeconomia Azul uma

cultura, de forma a contribuir para os novos usos e

oportunidade única. De facto, para quem atua na

valorização dos recursos naturais vivos marinhos. O

fronteira entre a indústria e a academia (grupo ao

B2E permitirá assim gerar pontes entre a inovação

qual me orgulho de pertencer), há muito que é evi-

e a transferência de tecnologia, através do fluxo

dente a falta de atores que façam a transposição

de ideias criativas da investigação para (e fora de)

para a indústria da excelente ciência desenvolvida

ambientes industriais e sociais, para além do con-

no nosso país. Muitos projetos de investigação

texto empreendedor académico restrito.

bem-sucedidos, que chegaram à fase de prova de

Para atingir os nossos objetivos, reconhecidamente

conceito de novos produtos ou até à escala piloto,

ambiciosos, contamos com um conjunto de associa-

não são posteriormente valorizados. Não porque não

dos (Tabela 1) com competências inigualáveis, tanto

exista mercado para eles, mas por questões bem

da ciência como da indústria, sem esquecer as enti-

mais irrelevantes, em teoria: não há quem passe

dades setoriais relevantes. O B2E integra institui-

do piloto ao industrial; os investigadores não con-

ções de I&D de renome nas áreas da Aquacultura e

seguem vender os seus produtos; e outras razões

Biotecnologia, com elevadas capacidades técnicas

facilmente ultrapassáveis – em teoria.

e excelentes instalações para realizar investigação

Na prática, o que acontece é que os investigadores

de ponta em áreas complementares. A presença de

não só não estão preparados para vender a sua ciên-

instituições socioeconómicas estratégicas (parcei-

cia, como também não são particularmente benefi-

ros industriais de alta tecnologia, centros de inter-

ciados com isso (posso sugerir um novo indicador

face tecnológica e instituições intermediárias e de

de desempenho, além do financiamento obtido e do

interface) como associados do CoLAB B2E assegura

número de publicações e patentes? Que tal “valor

uma capacitação eficiente ao nível das competên-

gerado na indústria”?). Ajudava se a indústria e a aca-

cias transferíveis e, deste modo, garante que as

demia falassem a mesma linguagem, o que acontece

soluções desenvolvidas possam chegar ao mercado.

raramente e não estimula a comunicação eficaz. Por

Assim, no setor da investigação, contamos com a

sua vez, são ainda raras as empresas que têm noção

Universidade do Porto (ICBAS e FCUP), a Universi-

clara, não só das suas necessidades, mas também

dade de Aveiro (CESAM), a Universidade do Minho

do potencial existente na ciência para as atender. É

(ICVS/3B’s), o CIIMAR e o INESC TEC. Por outro lado,

lamentável, porque os investigadores portugueses

a representar o setor da indústria, contamos com

destacam-se na resolução de desafios antes até

empresas que abrangem um leque vasto de ativi-

de as empresas descobrirem que os têm. É mesmo

dades: a Sonae MC, a A2O, a Ingredient Odissey, a

essencial trabalharmos a comunicação: a linguagem

Safiestela, a Savinor, e destaco a Sorgal e a Sparos,

científica é muito distinta da linguagem industrial, o

associadas da IACA. Finalmente, contamos com o

que não estimula as simbioses entre os dois meios.

Fórum Oceano, o cluster que reúne as entidades

É este o enquadramento (ou desalinhamento) que

que atuam em setores ligados ao mar, sejam estes

levou à criação do Laboratório Colaborativo para a

apoiados em recursos biológicos ou não.

Bioeconomia Azul (CoLAB B2E). O B2E veio fechar

As atividades específicas a desenvolver pelo CoLAB

a lacuna existente no setor entre a academia e a

B2E incluem i) a implementação da agenda nacional

indústria, o chamado "vale da morte" da inovação.

de investigação e transferência de tecnologia; ii) a

Sob o lema “Inspirado pelo Oceano – Impulsionado

recolha, organização e partilha de informação, a

pelo Mercado – Alimentado pelo Conhecimento”, o

organização de networking, o desenvolvimento das

B2E tem como principal objetivo (como referido

empresas do setor, a constituição de novos mode-

acima) aumentar o valor económico e social de pro-

los de negócio que valorizem o conhecimento e a

dutos e serviços, de forma a promover a criação de

inovação, nomeadamente através da criação de spin

empregos altamente qualificados. Estes produtos

offs e startups, o fomento da iniciativa legislativa

e serviços serão baseados em produtos biológicos

e o lançamento de projetos mobilizadores à escala


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