ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA
O FUTURO ESTÁ NAS NOSSAS MÃOS
Jorge Tomás Henriques Presidente
"Entendo ser o momento de identificarmos as nossas fraquezas e capitalizar as nossas forças, aumentando a nossa excelência, resiliência e sustentabilidade, rumo a um futuro que está nas nossas mãos (re)construir!"
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
Escrever algumas destas linhas há seis meses atrás
mente a zero. Apesar de se manter operacional,
pareceria um ato totalmente desligado da realidade.
a indústria agroalimentar acabou por sofrer um
A verdade é que o mundo mudou literalmente de
enorme impacto com a suspensão do consumo fora
um dia para o outro. A crise em que mergulhámos
de casa e foram muitas as preocupações que surgi-
veio colocar a nu a vulnerabilidade global, não ape-
ram com toda a indefinição que se gerou, podendo
nas em relação à saúde da população, mas também
dar como exemplo o impacto do encerramento de
em termos políticos, económicos, sociais e ambien-
fronteiras no transporte de mercadorias, o abas-
tais. Considerando que já se debatia antes da pan-
tecimento de matérias-primas, os critérios para
demia que o chamado “business as usual” não era
a atividade laboral. De destacar que os principais
sustentável, agora é ainda mais evidente. Não nos
responsáveis pela continuidade do abastecimento
podemos dar ao luxo de perder de vista o grande
foram os empresários e os trabalhadores desta
desafio que temos pela frente: como “reinicializar”
indústria, que não baixaram os braços e que con-
as nossas economias e sociedades de forma a pro-
tinuaram a garantir a produção. Acreditamos que
mover um crescimento sustentável e conciliador
no futuro próximo os consumidores irão dar ainda
das diferentes vertentes? Os objetivos traçados
mais valor à disponibilidade de alimentos seguros,
no Pacto Verde Europeu e na Estratégia Farm to
diversificados, sensorialmente e nutricionalmente
Fork da UE, para garantir a neutralidade climática
adequados e produzidos de forma sustentável, pelo
e sistemas alimentares mais sustentáveis, ganham
que o papel deste setor torna-se determinante. No
agora enorme relevância, merecendo o nosso foco
caminho a percorrer para a saída deste período
de atuação enquanto associações. Daquela que
negro das nossas vidas existirá também uma opor-
ficará na história da humanidade como a crise
tunidade única para as empresas estabelecerem as
COVID-19 do início do século XXI, que obrigou o
bases para uma nova realidade de produção e con-
mundo a “encerrar”, começamos agora a retirar as
sumo sustentáveis, como forma de enfrentarem um
primeiras lições em relação à segurança alimentar
mercado global em constante mudança ao nível das
(abastecimento), que necessita de um debate muito
expectativas, preferências e perceções dos consu-
consistente no âmbito da formulação das orienta-
midores. Ao nível da cadeia de abastecimento, os
ções políticas para o futuro. Devemos, por exemplo,
canais e segmentos de mercado anteriormente ainda
procurar compreender a verdadeira solidez dos
pouco explorados (por exemplo, encomenda on-line
sistemas alimentares da Europa, que afinal podem
e entrega direta) e a procura constante de modelos
não estar tão desligados como por muito tempo se
de negócios inovadores, vieram para ficar. Tomar
fez crer acabando por alimentar e potenciar uma
decisões ousadas ao nível da gestão dos negócios
dependência externa provavelmente excessiva. Por
para acelerar a transição digital e ecológica, investir
outro lado, e de forma muito mais evidente, fica
em inovação social, estabelecer novas parcerias ao
agora claro, para os mais céticos e mais distraídos,
nível da cadeia de abastecimento e colocar ainda
que a indústria agroalimentar é um setor essencial
mais foco nos consumidores, serão parte do ADN
e estratégico para o nosso país (e para a União
das empresas. Esta é também uma oportunidade
Europeia), tanto na produção de géneros alimentí-
para, sem hipotecar a ideia de um comércio global,
cios como de alimentos para animais, devendo ser
reduzir a dependência de países terceiros, apostar
vista como prioritária por parte de todos o deciso-
numa rede logística segura, na inovação e na digita-
res políticos e agentes económicos que conduzirão
lização, concorrendo assim para o aumento de redes
a desafiante tarefa de recuperação económica e
de eficiência, e contribuir, em suma, para a criação
social. Na verdade, a inexistência de roturas de
de um mercado único forte e solidário e para haver
produtos nas prateleiras, representou não só a
uma distribuição de valor muito mais equitativa na
garantia da segurança alimentar (abastecimento),
cadeia de abastecimento. Entendo ser o momento
como da segurança dos géneros alimentícios (ino-
de identificarmos as nossas fraquezas e capitalizar
cuidade) e da segurança nutricional. No espaço de
as nossas forças, aumentando a nossa excelência,
uma semana, a rotina de compras, as prioridades
resiliência e sustentabilidade, rumo a um futuro
dos consumidores e a tipologia de refeições mudou.
que está nas nossas mãos (re)construir! Estou con-
Por outro lado, um elo muito importante da cadeia
vencido que a indústria portuguesa agroalimentar
de valor, o canal HORECA, ficou reduzido pratica-
ficará mais forte!