Revista Alimentação Animal n.º 112

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA

O PAPEL DA INDÚSTRIA EUROPEIA NO PÓS COVID-19 Como conciliar a recuperação económica com base em metas/restrições "verdes" e mais ambientais com um setor dos alimentos compostos para animais e da pecuária competitivo e sustentável? Qual poderá ser o nosso papel no pós COVID-19? Asbjørn Børstin* Presidente

"A FEFAC acredita no caminho de uma pecuária e produção de alimentos compostos para animais mais sustentáveis, mas precisaremos das ferramentas certas e do acesso à inovação que permitem os avanços tecnológicos"

É difícil exagerar os impactos que a crise da COVID19 está a provocar nas pessoas em todo o mundo. A cadeia de valor da produção animal não é exceção. Esta enfrenta o seu próprio conjunto de desafios e a indústria dos alimentos compostos para animais está a fazer o possível para se adaptar às novas circunstâncias. Todos os setores económicos precisam de recuperar destes tempos sem precedentes, incluindo a agricultura e a pecuária. Com a estratégia agrícola da UE, a expectativa política é de que esta recuperação seja "verde". A FEFAC acredita no caminho de uma pecuária e produção de alimentos compostos para animais mais sustentáveis, mas precisaremos das ferramentas certas e do acesso à inovação que permitem os avanços tecnológicos. Olhando para a crise da COVID-19, que estará connosco durante mais tempo do que queremos admitir, gostaria, antes de mais, de salientar a incrível capacidade dos produtores de alimentos compostos para animais e das suas cadeias de fornecimento para se adaptarem aos desafios. Não dececionámos os nossos clientes da agropecuária, que passaram por momentos preocupantes sobre se os fornecimentos de alimentos compostos não seriam interrompidos quando a crise realmente começou a atingir a Europa. Temos de prestar homenagem a todos os trabalhadores, quer aqueles que operam em fábricas de alimentos compostos para animais, quer os motoristas, pelo seu empenho e pela aplicação séria dos requisitos de segurança. Foi da maior importância a nossa experiência na implementação de medidas de biossegurança. Na minha opinião, uma lição-chave a ser aprendida é que a Europa deve estar agradecida por ter podido contar com cadeias de fornecimento eficientes e flexíveis e importações sem interrupções. É irónico que estas mesmas importações, expressas como uma forma de 'dependência' quando se trata da soja (nunca é o caso das bananas, café ou abacate), sejam vistas como uma questão fundamental quando se trata de sistemas alimentares sustentáveis. Os efeitos das medidas de bloqueio nos padrões de consumo leva-

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ram a uma disponibilidade reduzida de proteínas para utilização nos alimentos compostos para animais na Europa. Por exemplo, a reduzida disponibilidade de grãos de fermentação devido ao menor consumo e produção de cerveja. Mas também o fornecimento de bagaços proteicos produzidos na UE foi afetado, devido a ajustamentos nas metas de mistura de biocombustíveis. Esta lacuna poderia ser compensada com bagaço de soja importado. No entanto, a ameaça de uma expansão descontrolada do vírus na capacidade logística dos países exportadores é claramente um novo elemento a integrar na avaliação da sustentabilidade dos nossos fornecedores. No entanto, isto não elimina o facto de que a pergunta 'de onde retiramos as nossas proteínas para os alimentos compostos?' é o principal desafio que temos de enfrentar nos próximos anos nas deliberações da Estratégia Farm to Fork. E os apelos à "soberania" dos alimentos e rações da UE só se tornarão mais fortes. Nesta matéria, defendo uma "perspetiva de bioeconomia". A FEFAC está totalmente de acordo com a ambição expressa na Estratégia Farm to Fork de "promover proteínas vegetais cultivadas na UE, assim como matérias-primas alternativas, tais como insetos, alimentos marinhos (por exemplo, algas) e coprodutos da bioeconomia". Insetos, mas também micróbios e fungos, podem desempenhar um papel interessante. Deve ser possível chegar a uma situação em que estes 'organismos intermediários' consumam biomassa de fluxos de resíduos que são posteriormente consumidos por animais produtores de géneros alimentícios. Isto contribuiria muito para a ambição de reduzir as perdas de nutrientes, em particular, o azoto. O setor europeu da produção de insetos está a declarar claramente a sua abertura para inovar nesta direção, por exemplo, através da utilização de antigos alimentos que contêm carne ou peixe. A indústria de alimentos compostos para animais deve estar aberta a discutir os parâmetros de acordo com os quais isto pode ser feito de uma forma que não ponha em causa os nossos compromissos com a segurança alimentar. Quando se trata do futuro dos biocombustíveis baseados em culturas, é necessário pensar em bioeconomia do ponto de vista da produção de alimentos compostos para animais na renovada ambição política da Comissão Europeia. A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, lançada em conjunto com a Estra-


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