ALIMENTAÇÃO ANIMAL OPINIÃO
SE EU COMER UM BIFE, ESTOU A MATAR O PLANETA?
Juan Pascual Médico Veterinário MBA em Gestão e Marketing
Quase todos os dias vemos títulos que nos alertam
seguem decompor a celulose, mas nenhum animal
para o perigo que os Gases com Efeito de Estufa (GEE) produzidos pelas vacas representam para a
é tão especializado como os ruminantes. Quando a celulose é digerida no rúmen, um dos subprodutos
Terra. De acordo com esses títulos, comer carne de vaca é uma das principais causas do aquecimento
libertados é o gás metano (CH4) que as vacas eliminam através dos arrotos.
global; portanto, para o parar ou mesmo reverter, todos devemos parar – ou, pelo menos, reduzir – o consumo de carne de vaca (e leite). Mais uma razão apontada pelos meios de comunicação para desistir da carne de vaca é a quantidade de água necessária para a produzir que, normalmente, se diz estar perto de 9.000 litros de água por 500 gramas ou quase 3.000 litros por hambúrguer. Mas estes números são verdadeiros? Vamos verificar os factos para ficarmos com uma ideia da repercussão do comportamento dos meios de comunicação que, muitas vezes, simplificam num título curto e, frequentemente, alarmista assuntos que são bastante complexos. Os ruminantes (vacas, ovelhas, cabras) têm um sistema digestivo único. Estes animais têm um estômago com 4 compartimentos diferentes, dos quais o maior, o rúmen, é um laboratório cheio de bactérias, fungos e protozoários que digerem celulose (o polissacarídeo que forma a parede das células vegetais, aquilo a que vulgarmente chamamos fibra) e obtêm da mesma os principais açúcares e ácidos gordos voláteis de que os ruminantes necessitam para viver.
E é aqui que as coisas começam a complicar-se para as vacas, porque este gás tem um potente efeito estufa e é um dos principais fatores que impulsionam o aquecimento global. Antes de mais, temos de esclarecer que os ruminantes não são, de forma alguma, a única ou até mesmo a fonte mais importante de metano; existem outras, tais como as florestas, os pântanos, os ruminantes selvagens, os combustíveis fósseis, o gás natural, a "fracking", os arrozais e até as térmitas (que também são capazes de decompor a madeira e digeri-la). Colocando tudo em perspetiva, também devemos referir que das emissões totais de GEE, o metano é responsável por 16% e, deste total, os ruminantes contribuem com 17%, como podemos ver no gráfico abaixo:
Figura 2: % da fonte do total de emissões de metano provocadas por diferentes fontes. A digestão do gado representa 17% do total Figura 1: O rúmen é um laboratório cheio de microrganismos que decompõem a celulose e fornecem elementos nutricionais essenciais que permitem ao animal crescer e produzir leite.
A celulose é a molécula orgânica mais frequentemente encontrada no planeta. 50% da composição da madeira baseia-se na celulose. 90% da composição do algodão também é celulose. Alguns outros herbívoros, tais como cavalos e coelhos, têm bactérias no ceco que também con24 |
ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
Mas, qual é o contributo do metano para o aquecimento global? Existe uma classificação aceite pela comunidade científica chamada Potencial de Aquecimento Global (PAG) que compara a quantidade de energia absorvida por um determinado gás durante um determinado período de tempo e a compara com a mesma quantidade de energia absorvida pelo CO2. Geralmente, o PAG é medido durante um período de 100 anos. O PAG de CO2 é 1 e, a partir dele, podemos calcular o CO2 dos restantes gases.