Revista Alimentação Animal n.º 111

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL PERSPETIVAS 2020

MAIS SUSTENTABILIDADE EXIGE MAIS PRAGMATISMO

Pedro Pimentel

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

O tema da sustentabilidade tem-se vindo a tornar absolutamente incontornável na agenda dos políticos, da sociedade, das empresas e, claro, das marcas. É um tema fundamental, tratado hoje de uma forma muito apaixonada, com uma grande componente de ativismo militante, que gera forte ruído em torno dos problemas que a sustentabilidade visa mitigar. Esse ativismo tem vindo a conquistar uma ampla atenção da comunicação social, das redes sociais e de outros meios de divulgação e, em simultâneo, tem vindo a ajudar a despertar a consciência de cada vez mais cidadãos, de todas as franjas etárias e estratos sociais. A questão das alterações climáticas, o slogan mil vezes repetido de que ‘não existe um Planeta B’, o problema da deposição dos plásticos ou a poluição dos mares, estão a colocar uma pressão muito forte para que sejam – com carácter de urgência – encontradas soluções que visem prevenir e resolver esses problemas. Esta pressão é complementada pelo discurso, muitas vezes simplista, mas nem por isso menos eficaz, daqueles que dão a cara por este tema, e por imagens, muitas vezes absolutamente chocantes, que nos mostram as consequências de atitudes descuidadas e penalizadoras para o ambiente e para o planeta. É verdade que não há zonas do globo imunes a estes problemas ou onde estes problemas não assumam uma dimensão relevante e que a ideia de uma sociedade com zero emissões e zero resíduos não passa, nesta altura, de uma mera utopia. Mas é também verdade que essas imagens mais chocantes são colocadas perante os nossos olhos, muitas vezes sem informação nem enquadramento. Dados recentes mostram, por exemplo, que mais de 75% dos plásticos que poluem actualmente os oceanos são para lá arrastados pelas águas de 10 rios – dois em África e oito na Ásia – que neles desaguam. Por isso também se percebe que a parte de leão das fotos que nos agoniam provêm das águas do Pacífico ou do Índico e, reconheça-se, resultam da ausência de infraestruturas e de atitudes comportamentais que se distanciam dos padrões que, felizmente, fomos incorporando ao longo de décadas. Contudo, sustentabilidade tem um espectro bastante mais amplo, que não se confina apenas às matérias de matriz ambiental. O seu triângulo tem outros dois catetos: o económico e o social. As soluções que se vão definindo têm que considerar o ser humano e as suas necessidades prioritárias.

Têm que considerar os investimentos e custos que geram, não se podendo esquecer a forma como serão financiadas pela sociedade (seja o Estado ou as organizações) e suportadas (em termos de apoio e contributo) pelos cidadãos. E nunca se deve esquecer que se não existirem os meios financeiros necessários, isto é, se a sustentabilidade económica não estiver assegurada, a sustentabilidade ambiental e social ficarão seriamente comprometidas. Por outro lado, sendo colocadas com um carácter de emergência, estas soluções têm que ser entendidas pela sociedade como parte de um esforço coletivo que tem que fazer, mas o ser humano tem que nelas ser devidamente enquadrado, não como uma parte do problema, mas como uma parte da solução. E é fundamental que esse esforço seja realizado, de forma solidária, no seio de cada nação ou região, mas também à escala planetária. A pressão colocada pela emergência em encontrar soluções para estes problemas, está também a ter impacto nos próprios processos de decisão. A necessidade de reagir ao ruído da opinião pública (e da opinião publicada), das sucessivas manifestações e das indignações das redes sociais, tem em alguns casos levado à adoção de medidas por vezes mais mediáticas do que efetivas, mais efémeras do que consistentes. Medidas tomadas sem a necessária preparação, consolidação, escrutínio e definição de parâmetros de controlo. No mundo das Marcas e no universo do Grande Consumo, este tema está a ser encarado com preocupação e algum sentimento de injustiça, mas também com muita seriedade e um forte sentido de responsabilidade. O nosso padrão de consumo, reconheça-se, resulta na aquisição e consumo de um elevado número de produtos, sendo também elevado o volume de embalagens que introduz no nosso dia-a-dia e que, no final do seu ciclo-de-vida, implicam uma solução de deposição, de tratamento e, sempre que possível, de valorização. No entanto, porque a deposição nem sempre é feita da forma mais adequada e porque as imagens, mesmo que de parte incerta, se repetem perante os nossos olhos, gera-se uma crescente antipatia em relação à embalagem dos produtos e, muito especialmente, às embalagens plásticas. E essa antipatia contamina os produtos e as marcas que as utilizam. Neste ‘percurso’ tende a esquecer-se a função da embalagem e a sua importância para o incremento da qualidade de vida a que assistimos nas últimas décadas. Basta pensar nos produtos alimentares


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