Revista Alimentação Animal nº 110

Page 38

ALIMENTAÇÃO ANIMAL VIII JORNADAS DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL

SUSTENTABILIDADE E NUTRIÇÃO ANIMAL PARA 2050 O principal objetivo deste artigo é tentar que

Além da atividade agropecuária representar cerca

nós, como especialistas no setor da Alimen-

de 23% das emissões de gases com efeito de estufa

tação Animal, tenhamos mais consciência do

(IPCC, 2019), das quais aproximadamente 2/3 são

nosso papel importante na cadeia alimentar e

devidas à pecuária e, destas por sua vez, 2/3 aos

na sustentabilidade do nosso planeta.

ruminantes, deve ter-se em conta que 1/3 da área

Em primeiro lugar, deve ter-se em conta que, de acordo com as Nações Unidas (2015), a população mundial em 2050 aumentará 33% em relação à atualidade (de 7300 para 9700 milhões de pessoas) e que essa população exigirá um aumento da produção de proteína de origem Gerardo Santomá

animal na ordem dos 70%. Este aumento mais

Diretor Técnico Trouw Nutrition Ibérica.

do que proporcional na procura por proteína de origem animal em relação ao aumento da população deve-se ao facto de o consumo de proteína

as previsões de aumento do consumo de proteína animal, estima-se que serão necessários mais 280 milhões de ha em 2030 (Fórum para o Futuro, 2018), para produzir a quantidade de alimento necessária para satisfazer o setor da alimentação animal. Do ponto de vista da sustentabilidade, estas necessidades constituem uma séria ameaça ao cumprimento das metas de saldo de emissões 0 em 2050, devido à elevada desflorestação global que tal implica.

que, felizmente, se prevê que irá aumentar nos

Com base nestas questões de sustentabilidade,

próximos anos.

assim como em aspetos da saúde humana, várias

Perante esta situação, devemos perguntar se o

instituições como a Comissão EAT-Lancet (2019)

dade de alimentos. De acordo com os relatórios recentes da WWF (World Wild Foundation – Fundação para a Vida Selvagem, a maior fundação ambientalista do mundo) em 2016 e 2018, parece que já há mais de 40 anos excedemos a biocapacidade da Terra. Por outro lado, a evolução dos limites planetários propostos por Rockström (2009) indica que o nosso planeta está a exce-

recomendam reduzir de forma significativa o consumo de carne nos países mais desenvolvidos, de 90-100 kg por habitante e ano para os 20-30. Com efeito, muitas outras instituições oficiais de vários países partilham esta linha de recomendação de consumos mais moderados de carne e até numerosas empresas de produção animal estão a abrir linhas de produção de proteína vegetal com sabor a carne (Beyond Meat, Tyson, Maple Leaf, etc.), assim como

der os limites sugeridos em 4 dos 9 indicadores

as empresas inovadoras que estão a desenvolver a

(biodiversidade, fluxos N e P, alterações climá-

produção de carne de laboratório (Memphis Meats,

ticas e uso da terra). No entanto, parece que

PHW-Super Meat, etc.). Nesta produção de carne,

ainda estamos a tempo de reverter a situação

serão necessários 99% menos terra, 90% menos

e, daí, os acordos alcançados em Paris em 2015

água e serão emitidos 90% menos gases com efeito

para limitar a emissão de gases com efeito de

de estufa, aos quais se deve acrescentar que não

estufa a ponto de não exceder os 2 ° C de tem-

será necessário matar animais, a carne não conterá

peratura média global da Terra em relação à era

pesticidas, antibióticos ou vestígios de substân-

pré-industrial.

cias similares. Pesquisas recentes indicam que as

As implicações deste acordo, não apenas do ponto de vista da emissão de gases com efeito de estufa, mas também do uso da própria terra (ver relatório recente do IPCC, 2019), levam a que as estratégias sugeridas por várias institui-

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

de matérias-primas para a alimentação animal. Com

aumentar com o nível económico das pessoas

nosso planeta é capaz de produzir essa quanti-

38 |

mundial dedicada às culturas se destina à produção

gerações mais jovens (geração Y, geração Z, ...) são mais sensíveis a estes problemas, de modo que a percentagem de população vegana, vegetariana ou flexitariana destas gerações é maior do que no caso de gerações mais adultas.

ções proponham uma mudança radical no uso de

Nesta secção, não podemos esquecer o impacto

fontes de energia (renováveis vs. fósseis), bem

do desperdício alimentar na sustentabilidade. De

como no sistema de alimentação. O objetivo final

acordo com a FAO (2013), aproximadamente 1/3

é chegar a 2050 com um saldo 0 nas emissões

dos alimentos produzidos para consumo humano

de gases com efeito de estufa.

são desperdiçados todos os anos. É necessário


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.