Revista Alimentação Animal nº 110

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL VIII JORNADAS DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES PARA O SETOR DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL Introdução

Carlos Buxadé Consultor

No período atual 2019 – 2020, no momento de estudar o setor da alimentação animal no seio de Portugal (da própria União Europeia, na realidade), é necessariamente obrigatório, especialmente no momento de analisar as suas ameaças e oportunidades, contextualizá-lo no seu enquadramento socioeconómico e político. Entendemos por contextualizar a localização do setor considerado (o da alimentação animal) num determinado ambiente (próximo (Portugal) médio (sul da União Europeia), distante (o Mundo). Neste contexto, é óbvio que o setor da alimentação animal em Portugal é significativamente diferente do da Holanda, Brasil ou Estados Unidos, para dar três exemplos. Assim, enquanto Portugal produz anualmente cerca de 3,2 milhões de toneladas de alimentos destinados à alimentação animal, a Alemanha produz mais de 24 milhões de toneladas e a União Europeia 164 milhões. É verdade que o setor da alimentação animal constitui uma atividade de natureza económica, imersa na globalidade económica da região onde se localiza com um peso socioeconómico e político determinado, que utiliza os fatores de produção clássicos (capital geográfico, capital humano e capital financeiro). É igualmente uma atividade económica que compete com outras atividades económicas, internas e externas.

O contexto Todo o contexto é composto por um conjunto de: – Situações económicas, sociais e políticas, mais ou menos visíveis. – Fenómenos, temáticas, materiais e imateriais. – Circunstâncias (próprias, alheias, próximas, distantes, recentes, etc.). Este conjunto combina-se num determinado momento e num local específico do futuro do setor. Isto tem consequências óbvias nos sucessos que ocorrem no âmbito dos seus limites espácio-temporais. Tal, paralelamente, gera pontos fracos, ameaças, pontos fortes e oportunidades para o setor objeto de tratamento ou estudo. Pelos motivos acima expostos, o contexto deve ser minuciosamente analisado, pois é uma realidade altamente específica e dinâmica e é nele que as realidades ocorrem, neste caso do setor da alimentação animal que o influencia permanentemente de forma altamente significativa. 34 |

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

Não é necessário referir que o contexto gera ameaças e oportunidades para o setor.

A globalização Quer gostemos ou não, a globalização tem uma influência significativa na realidade do setor da alimentação animal português. Deve ter-se em conta que a globalização é um processo dinâmico que envolve as esferas económica, tecnológica, social, cultural e política em todos os setores da atividade comercial (ou não empresarial) à escala mundial (ainda que com as suas nuances e intensidades). A mesma baseia-se na crescente eficiência e eficácia da comunicação e, como tal, gera-se uma clara interdependência complexa entre diferentes regiões do globo. Esta interdependência afeta os mercados, as suas bases sociais e culturais, dando lugar, com maior ou menor intensidade, a uma série de transformações sociais, económicas e políticas importantes, que conferem a todo o sistema um caráter de natureza global. No âmbito que nos interessa aqui, afeta, em primeiro lugar, o “mundo das Matérias-primas”, a sua origem e o seu desenvolvimento (origem muito variável, localização mundial). Ao longo do tempo, isto deu origem a que 4/5 grandes lobbies comercializem uma percentagem muito elevada destas matérias-primas (cruciais para o setor, é claro), o que, naturalmente, representa ameaças e oportunidades. Devemos ter em conta que, desde há cerca de 40 anos que o setor da alimentação animal (considerado a partir de uma perspetiva global) é um exemplo paradigmático do que é um setor globalizado. Na nossa exposição, exemplificamos isto com os casos da soja e do milho, embora também pudéssemos fazê-lo com base na consideração de alguns oligoelementos-chave (por exemplo, ferro ou manganês) ou vitaminas (por exemplo, A ou B). Nesta globalização, a indústria agroquímica também foi bastante afetada (passando por um grande processo de fusões e consolidações); Assim, por exemplo, o negócio mundial dos herbicidas, pesticidas e sementes está em 4-5 mãos cujo PIB é equivale praticamente ao atual Produto Interno Bruto trimestral português.

A soja Apenas alguns dados, mas muito ilustrativos. A produção anual atual de oleaginosas no Mundo situa-se em pouco mais de 600 milhões de toneladas; das quais 370 milhões são de soja e 10 países do Mundo produzem 94% da mesma (347 milhões).


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