ALIMENTAÇÃO ANIMAL 50.º ANIVERSÁRIO DA IACA
MEIO SÉCULO DE VIDA COM ROBUSTEZ E RESILIÊNCIA Jorge Henriques Presidente da FIPA
22 |
A IACA está de parabéns ao completar meio século, não apenas pela data histórica que celebra, mas por poder hoje afirmar, sem hesitação, que o tempo que muitos empresários e profissionais do setor dedicaram a erguer a “casa da indústria de alimentos compostos para animais” foi bem empregue. Num mundo cada vez mais imediatista e onde as mudanças na envolvente empresarial surgem a uma velocidade cada vez mais acelerada, atingir meio século de vida com a robustez e resiliência que atualmente testemunhamos não é tarefa fácil. Muito poderia ser dito, e certamente muito se dirá, sobre o saldo positivo entre os bons momentos e os menos bons de uma vida já longa. Parece-me, no entanto, importante destacar uma das características mais distintivas do código genético da IACA, a cooperação. É com esta visão que a IACA fica decisivamente ligada ao nascimento da FIPA, em 1987, dois anos após a assinatura do tratado de adesão à CEE, na perspetiva de que a “união faz a força” e que a competitividade da nossa indústria agroalimentar, no novo contexto do projeto europeu, passava por ter uma interlocutora única e apta a criar uma rede de contactos institucionais sólida e eficaz. Para além de sócia fundadora, a IACA tem marcado sempre presença nos órgãos sociais da FIPA e assumido as responsabilidades de representação da Federação em comités e grupos de trabalho, em Portugal e no quadro da União Europeia. O primeiro grande desafio que o setor agroalimentar teve de enfrentar de forma conjunta assentou nas negociações do seu enquadramento legal, numa fase em que o mesmo começou a afastar-se do caráter vertical, onde eram estabelecidos requisitos por produto, e passou a ser caracterizado por uma abrangência mais horizontal, criando regras aplicáveis a toda a indústria. Como consequência natural da europeização das políticas, a IACA apoia a FIPA no processo de adesão à então denominada CIAA (Confederação das Indústrias Agroalimentares da CEE), hoje batizada como FoodDrinkEurope. Este passo foi fundamental para uma boa resposta das empresas nacionais aos desafios do processo legislativo e para uma melhor preparação técnica na condução das discussões com os interlocutores nacionais. Mas era apenas o começo do longo caminho que tem sido feito e onde se tem sabido colocar de lado as naturais vocações concorrenciais quando se enfrentam desafios que exigem, acima de tudo, cooperação. Surgiam, entretanto, os grandes desafios da segurança alimentar e a necessidade de valorização das especificidades do mercado nacional e dos seus vetores de competitividade diferenciados. Anunciava-se o desenvolvimento de um quadro jurídico que passaria a abranger toda a cadeia alimentar – “do prado ao prato” – numa abordagem global e integrada, ganhando ainda mais relevância a cooperação institucional que se havia estabelecido com o Ministério da Agricultura a propósito das negociações da Política
ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
Agrícola Comum e que se estendia agora à formulação das políticas de segurança alimentar, ao controlo oficial, à rastreabilidade e aos organismos geneticamente modificados. Mais tarde iriam somar-se os desafios do abastecimento de matérias-primas e mais recentemente o melhoramento genético. A relação com o Ministério da Economia, que tinha sofrido uma importante aproximação com o aparecimento da ASAE, ganha uma nova dimensão com a criação da PARCA – Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Alimentar, tendo a indústria contribuído para a revisão do enquadramento legal das Práticas Individuais Restritivas do Comércio e para a dinamização do Código de Boas Práticas Comerciais para a Cadeia de Abastecimento Agroalimentar, num dos bons exemplos de articulação com a CIP – Confederação Empresarial de Portugal. Entre os vários marcos na vida do associativismo agroalimentar encontra-se o momento de integração da FIPA no consórcio europeu SPES, que permitiu a constituição de uma unidade de mediação técnico-científica com impacto muito positivo em vários setores. Nos últimos anos foram implementados vários projetos de I&D em áreas como a segurança alimentar, alimentos tradicionais, nutrição, eficiência energética e, mais recentemente, no contexto da pegada de carbono, desafio para o qual a cooperação com a IACA tem sido fundamental. Mas os desafios não param e o panorama da sustentabilidade trás também o reforço da relação institucional com o Ministério do Ambiente, em matérias como a transição para uma economia circular, a neutralidade carbónica, as metas de reciclagem e a eficiência energética, cabendo às estruturas associativas um papel importante na mobilização para uma abordagem sensata à relação única que a indústria agroalimentar tem com a sua envolvente, garantindo o equilíbrio entre a preservação dos recursos e a competitividade a longo-prazo, numa perspetiva económica, social e ambiental. Podemos hoje afirmar, num justo reconhecimento a todos os intervenientes em reflexões, debates, negociações e, acima de tudo, ações concretas, que todo este caminho só foi possível com um trabalho contínuo de consolidação do movimento associativo nacional e porque os líderes do setor da alimentação animal tiveram a visão de perceber, muito antes do Livro Branco sobre a Segurança dos Alimentos, que a cadeia alimentar é uma só, e que o “feed” é parte integrante do “food”. Ver a estrutura representativa de tão importante elo da cadeia de valor completar 50 anos é assim muito mais do que o somatório de cinco décadas ao serviço da alimentação animal e da indústria alimentar em geral, é saber que a IACA irá enfrentar o futuro com determinação, abraçar novas causas e alimentar a permanente inquietação de querer marcar a diferença e conseguir superar-se a cada dia que passa. Essa será a melhor homenagem a todos os dirigentes, funcionários e profissionais do setor que contribuíram para erguer esta obra!