Revista Alimentação Animal nº 110

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL 50.º ANIVERSÁRIO DA IACA

PERCEÇÃO DA REALIDADE: A INDÚSTRIA DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL VISTA PELA SOCIEDADE Manuel Chaveiro Soares

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Por amabilidade da Direção da IACA e do seu Secretá-

então os primeiros bens alimentares necessidades e

rio-Geral, tenho a honra de moderar uma sessão parti-

os segundos luxos (Moura, 1966).

cularmente interessante, basicamente consagrada às

No entretanto, em Portugal o PIB per capita registou

caraterísticas da Indústria da Alimentação Animal – sua

um incremento notável, colocando-nos desde o início

evolução e perspetivas – bem como à perceção que a

da década de 1990 na categoria de país desenvolvido

Sociedade tem da mesma.

e, consequentemente, a carne deixou de ser consi-

Para desenvolver estes temas foram convidados seis

derada um alimento de luxo. De facto, o consumo de

distintos conferencistas, que seguramente nos irão pro-

proteína animal elevou-se substancialmente entre nós

porcionar uma excelente ocasião para refletirmos sobre

no pós-guerra, o que trouxe vantagens nutricionais

o contributo excecional que a Indústria da Alimentação

relevantes, nomeadamente estimulando o anabolismo

Animal tem proporcionado à Sociedade, mormente

muscular proteico, especialmente importante para o

após a Segunda Guerra Mundial – quando se começa

crescimento das crianças e para desacelerar a perda

a afirmar de forma mais expressiva e passa a bene-

de massa muscular durante o envelhecimento.

ficiar dos avanços científicos alcançados na primeira

Adicionalmente, os alimentos de origem animal apre-

metade do século passado, especialmente no âmbito

sentam propriedades organolépticas muito apreciadas

da nutrição e da alimentação animal, com destaque

e um custo relativamente baixo.

para a descoberta e síntese das vitaminas, da análise

Comemora-se hoje o 50º aniversário da atividade asso-

e síntese dos aminoácidos e, mais recentemente, da

ciativa no Setor da Indústria de Alimentos Compostos

utilização de enzimas.

para Animais, sendo de salientar o papel meritório que

Estes progressos científicos, associados ao melhora-

o associativismo tem desempenhado durante este

mento genético dos animais e à profilaxia, aplicados

longo percurso, designadamente nos contactos esta-

por um corpo técnico profissional e por empreende-

belecidos com as autoridades competentes, nacionais

dores dinâmicos, vieram reflectir-se numa eficiência

e comunitárias, bem como no apoio direto à Indústria,

alimentar cada vez melhor, ou seja, uso de menos área

nomeadamente no âmbito da divulgação científica e

de solo para produzir uma unidade de carne, leite, ovos

tecnológica, bem como na promoção de debates sobre

ou pescado.

outros temas de interesse para os Associados.

Numa orientação igualmente amiga do ambiente, desde

Como resultante da atividade da Indústria da Alimenta-

o seu início a Indústria da Alimentação Animal constitui

ção Animal, de sublinhar que esta contribuiu em grande

um exemplo em termos de economia circular, desig-

parte para retirar alguns milhões de Portugueses do

nadamente aproveitando subprodutos da indústria

estado de subnutrição e, adicionalmente, tem-lhes

alimentar, com relevo para a sêmea de trigo, bagaços

proporcionado uma alimentação agradável.

de oleaginosas e farinhas de carne provenientes dos

Curiosamente, é neste ambiente de prosperidade ali-

matadouros. Por sua vez, os efluentes pecuários dos

mentar – em termos de abastecimento, valor nutritivo

animais de produção, utilizados como fertilizantes dos

e segurança sanitária dos alimentos – que nos países

solos, inserem-se também na economia circular.

afluentes emergem movimentos de ideologias diversas

Por outro lado, verifica-se que os níveis de rendimento

que colocam em causa o consumo de proteína animal,

familiar estão associados à estrutura de consumo, sendo

criando um ambiente sociopolítico contestatório, quer

que rendimentos mais elevados influenciam a mudança

de índole animalista quer de acentuado pendor ecolo-

em direção aos bens de origem animal. Acresce que,

gista, neste caso apontando algumas consequências da

em decorrência da crescente eficiência da produção

intervenção humana nos recursos físicos e biológicos.

animal, os preços ao consumidor tendem a ser relati-

Reconhecendo desde longa data esta problemática

vamente baixos.

ambiental, a Indústria da Alimentação Animal está cada

A propósito do que precede, seja-me permitido trazer

vez mais atenta aos progressos científicos e tecnológi-

à colação um estudo realizado em 1950-51, junto dos

cos suscetíveis de minimizar quaisquer consequências

grupos sócio-económicos mais modestos do Porto,

negativas para o ambiente, num propósito de conciliação

em que se verificou uma elasticidade-despesa de 0,22

entre alimentação de qualidade e sustentabilidade dos

para as batatas e de 1,56 para a carne, designando-se

recursos vitais, com vista a beneficiar a comunidade.

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL


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