segundaPRETA - caderno 1 (2017)

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CADERNO


>> CIBERTERREIRO | Foto: Pablo Bernardo




segunda PRETA

Espaço de Fabulação e Outra Alegrias No início a Segunda Preta era um desejo. Era a vontade de um bando de gente preta de criar uma espaço onde pudéssemos, além de nos fortalecermos e nos cuidarmos, mostrarmos nossas produções artísticas e gerarmos conhecimentos sobre nós mesmos. Um espaço de fabulação onde fosse possível nos inventar constantemente. Passada a primeira temporada, somos aquelas sementes plantadas por Abdias do Nascimento brotando e gerando estranhos frutos. Aquele bando de gente preta descobriu que juntos somos mais fortes e armou seu quilombo. Aquele desejo do início germinado lá no Mineirinho, nosso buteco escritório, hoje é realidade, já tem nome e RG. Ela já está na segunda temporada e cresce saudável e forte em parceria com o Teatro Espanca e as bênçãos de Exu. Espaço criado também para o diálogo tenso sobre a produção das estéticas negras, virou destino certo de artistas da cidade. Espalhada aos quatro cantos pelos ventos de Iansã, vem reconfigurando material e simbolicamente o espaço comum das artes em Belo Horizonte.



NESTE CADERNO:

PRIMEIRA TEMPORADA de 16/01 a 20/02 de 2017

HOMENAGEADA: RUTH DE SOUZA PROGRAMAÇÃO FOTOS CRÍTICAS

SEGUNDA TEMPORADA de 15/05 A 19/06 de 2017 HOMENAGEADA: ZORA SANTOS PROGRAMAÇÃO

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>> TEATRO ESPANCA | Foto: Pablo Bernardo



ÍNDICE __________________ Ruth de Souza ... 15 _____________________________________ In Sã: O universo do rosário em nós ... 19 ____________________________________________________ Crítica - In Sã: O universo do Rosário em Nós e a Segunda é Preta. Sim, tem preto no Teatro! ... 21 _____________________________ Nossa Senhora da Açoteia ... 27 _______________________ Crítica - Da Açoteia ... 30 ________________ Mãe da Rua ... 35 ________________________________ Crítica - Brincar de coisa séria ... 39 _______________________________ Contava com o céu pra tudo ... 42 __________________ Pixaim elétrico ... 46 ______________ violento. ... 50 __________________________________________ Crítica - Por uma poética da encruzilhada ... 54 __________ Lótus ... 57 ___________________________________ Crítica - Sobre quedas e tropeços ... 60 ________________ Ciberterreiro ... 64 ___________________________________________________ Crítica - Navegando por todos os sentidos, transformando tempo e espaço ... 68

>> NO TEATRO ESPANCA | Foto: Pablo Bernardo


_________________________ Festa de Encerramento ... 72 ____________________________________ Ficha Técnica - Primeira temporada ... 72 ______________________ Entre Temporadas ... 73 ________________ Zora Santos ... 77 ________________ Apologia III ... 80 ___________________ Linha de Frente ... 81 ____________ Ressoar ... 82 ________________ Refém Solar ... 83 _____________ Antônio ... 84 __________________________ Fragmentos Maquinicos ... 85 ___________ Àbíkú ... 86 _______________________________________ Dê afeto à sua preta em praça pública ... 87 _________________ Unha postiça ... 88 __________________ Aquela mulher ... 89 ____________ Pantera ... 90 _____________________________ Black Boulevard ou Tudo Preto de Novo ou O Ensaio Geral... ... 91



PRIMEIRA TEMPORADA



RUTH DE SOUZA HOMENAGEADA DA PRIMEIRA TEMPORADA

>> Foto: Luiz Paulo Lima 15


>> Ruth de Souza, a estrela negra do teatro brasileiro, fez história ao ser a primeira atriz negra a representar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ruth nasceu na capital do Rio, em 1921, na região do Engenho de Dentro. Viveu parte da infância em Minas Gerais e depois retornou à capital carioca. Em 1944 decidida a aprender teatro, mas sem saber por onde começar, tomou conhecimento da existência de uma companhia de teatro recém-criada chamada Teatro Experimental do Negro (TEN), que na época se reunia na UNE (União Nacional dos Estudantes). O grupo, criado por Abdias do Nascimento, teve por objetivo propor uma nova dramaturgia e valorizar os atores e atrizes negr@s. Assim, Ruth adentrou o TEN e interpretou, entre outros espetáculos, Todos os Filhos de Deus Têm Asas e Imperador Jones, de Eugene O’Neill, Otelo, de Shakespeare, O Filho Pródigo, de Lúcio Cardoso e Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. Em 1947 estreou no cinema em Terras sem Fim, de Jorge Amado e a partir de 1965 passou a trabalhar também na televisão. Primeiro trabalhou nas TVs Tupi e Record e mais tarde na TV Globo, onde estreou em 1969. Na rede Globo interpretou, além de minisséries, inúmeras telenovelas, com destaque para A Cabana do Pai Tomás

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(1969), O Bem Amado (1973), Sinhá Moça (1986), quando contracenou com o amigo Grande Otelo e O Clone (2001). Além de dois Prêmios Saci, por Sinha Moça e Fronteiras do Inferno, Ruth recebeu em 1988 a Comenda do Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco e o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado, de 2004, pelo filme Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo. Sua carreira conta mais de trinta longas-metragens, mais de 25 peças de teatro e cerca de 30 telenovelas. Sua carreira foi construída através de dedicação e perseverança, abrindo caminhos para diversos atores negros que até então não tinham espaço, seja no teatro, na televisão ou no cinema brasileiro. Em 2015 Julio Claudio da Silva lançou o livro “Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro - relações raciais e de gênero nas memórias de Ruth de Souza”, onde conta com detalhes a biografia desta grande referência da arte negra brasileira.

Fonte: “Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro - relações raciais e de gênero nas memórias de Ruth de Souza” Julio Claudio da Silva, Editora UEA Edições, 2015.

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IN SÃ:

O UNIVERSO DO ROSÁRIO EM NÓS

>> UP3 – União Performática Pessoas da Pessoa



SINOPSE Um homem. Uma missão: Reconstruir o mundo. Ele via anjos... Estava louco? Quando estava lúcido? Trancado em seu mundo, apenas com sua missão, buscava seu pouco de possível. No lugar de uma explicação oferece sua experiência pulsante do mundo, experiência concreta, em movimento, tão mais viva quanto inacabada. FICHA TÉCNICA Companhia: UP3 – União Performática Pessoas da Pessoa Concepção: Anderson Feliciano e Evandro Nunes Atuação: Evandro Nunes Dramaturgia: Anderson Feliciano Cenário: Marcel Diogo Figurino: Zora Santos Luz: Valber Palmeira/Preto Amparo Maquiagem: Catarina Queiroz Duração: 35min Indicação etária: Livre Este espetáculo foi apresentado na segunda, 16 de janeiro de 2017.

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In Sã: O universo do Rosário em Nós e a Segunda é Preta. Sim, tem preto no Teatro! Por Marcos Alexandre – Faculdade de Letras – UFMG/CNPq É como se o mundo não saísse do lugar. Estamos em 2017 e ainda nos espantamos com a triste notícia de uso de blackface no teatro. A polêmica se deu com o espetáculo “Trem de Minas” dos irmãos Leonildo Miranda Araújo e Leosino, atores e produtores do espetáculo, apresentado na 43ª Campanha de Popularização de Teatro e da Dança. O fato foi trazido à baila por meio do blog do jornalista Miguel Arcanjo¹, sendo também discutido pela jornalista de O Tempo, Joice Athiê². O que nos espanta é o fato de continuarmos lendo como resposta comentários que dizem realizar “uma homenagem à diversidade” ou “uma homenagem à raça negra”, ainda mais depois de todo debate realizado em 2015, pelo Itaú Cultural, depois da polêmica surgida com o espetáculo “A mulher do trem”, do coletivo Os Fofos Encenam³. Diante desta premissa, nos vem a pergunta: Será que as pessoas do meio artístico não se interam das notícias ou as negligenciam? Nos dias atuais, já não dá para aceitar o uso de blackface no teatro contemporâneo sob nenhuma circunstância e/ou prerrogativa. Não posso questionar o trabalho citado pelo fato de não tê-lo visto, mas posso argumentar que é difícil ver os sujeitos negros sendo retratados em cena a partir de estereótipos que não os tratam a partir de seus lugares de enunciação e de fala e tenho as minhas dúvidas se xs negrxs, realmente, se veem de alguma maneira homenageados em propostas espetaculares que apenas reforçam tais estereótipos 1-http://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2017/01/19/comblackface-peca-trem-de-minas-estreia-com-polemica-de-racismo-em-bh/ 2 – http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/pe%C3%A7a-trem-deminas-gera-pol%C3%AAmica-com-blackface-1.1425420 3 – A íntegra do debate pode ser consultada em: https://www.youtube. com/watch?v=LG_cRXBsKfE


que aparecem desde o figurino, até as partituras físicas que buscam imitar trejeitos que alguns artistas julgam que nos “representam”. O diretor da companhia Os Fofos Encenam, Fernando Neves, em debate, teve a decência de pedir desculpas àqueles que se sentiram ofendidos por usar a técnica que remete ao blackface em seu espetáculo. Seria importante que as pessoas entendessem de uma vez por todas que este não é o caminho adequado para se referir às corporeidades negras. Revisando e revisitando este lugar e, por sua vez, dando voz e propriedade aos discursos afrocentrados é que surge A segunda Preta como uma excelente iniciativa para valorizar a cultura afro-brasileira, dando vazão aos afetos, corporeidades, identidades, inquietações e subjetividades negras. Entre a variedade de trabalhos apresentados na primeira edição do projeto, ratificando que o teatro negro cobre uma vasta gama de propostas estéticas, trago o espetáculo In Sã: O universo do Rosário em Nós para uma breve discussão. O trabalho conta com atuação de Evandro Nunes, dramaturgia de Anderson Feliciano, concepção espetacular assinada por Anderson Feliciano e Evandro Nunes, cenário idealizado por Marcel Diogo e figurino de Zora Santos. Ouço… Por isso sigo o caminho da luz que me guia. Por caminhos distintos, de encontro ao divino, que me receberá. Então reconstruo o mundo num instante medido Eu quero ser o mar… Ouço… Por isso ajunto tudo. Guardo os inguardáveis Separo o sal da serragem Listo nomes, datas e quantidades. Preciso estar pronto Em breve ele virá.

Em um ritmo de repetição, em princípio palavras jogadas ao vento, como num suposto estado letargia a partir do qual um homem negro, um corpo negro, vai tomando consciência de si, 23


de seu corpo, e de cada palavra enunciada, que é dividida com o seu espectador. Um gesto de bater na cabeça é reiterado. Representação “clássica” da insanidade, mas, sobretudo, uma ação corporal para que este sujeito possa começar a tecer os seus discursos como se tudo fosse um jorro de anseios, de afetos e de expectativas. O desejo de ser mar, que nunca é, mas sempre é e está em busca de ser; o homem que constantemente está em busca de algo e que “enxerga o mundo por dentro”. O que é enxergar o mundo por dentro? Para a personagem ressignificada nos gestos e nuances corporais de Evandro Nunes, este homem representa vários corpos e vários tipos de corporeidades que estão em estado de busca e que procuram se tocar, amar, sentir… e sentem dor, alegria, ódio, medo… almejam viver e se encontram com as representações cotidianas de vida e morte… Vários simulacros da figura emblemática de Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 1909 [1911?] – Rio de Janeiro, 1989), gênio para uma grande parcela de intelectuais, “louco” por outros, incompreendido por muitos, vêm à tona. Uma fonte inesgotável de memórias rasuradas e de discursos que buscam ser reconhecidos no Outro: “Todos ocuparam esse mesmo lugar que estou. Tem memória essa parede? E esse corpo? Memória do futuro? Me sinto mergulhado nesse instante. Instante esse que insiste em perdurar.” (Feliciano, 2017) O corpo-presença do Bispo o Rosário se faz presente em cena não apenas no nível discursivo a partir da tessitura dramatúrgica de Anderson Feliciano, mas também está evidenciado no cenário, nos pequenos adereços que compõem o palco e no figurino utilizado por Evandro Nunes, que chama a atenção, principalmente, o casaco utilizado, por ter sido confeccionado a partir de um tecido rústico, no qual foram inscritas, por meio de um bordado feito à mão, palavras-fios de lã (linhas), tecidos e que tecem palavras rasuradas como se fossem inscrições mnemônicas que marcam o corpo e a pele daquele sujeito/ Homem x o Bispo x o Homem, não se sabe onde começa um e onde finda a outro. No obra do Bispo do Rosário, produzida a partir do “lixo” e da sucata, foram encontrados diversos trabalhos em que se destacam navios (o mar, ah o mar…), além de estandartes e 24


o seu famoso Manto que deveria vesti-lo no dia do “juízo final”. Com as suas obras – arte-resíduo-objetos –, o Bispo marcou a sua presença nos espaços em que viveu e transitou e a palavra foi um elemento pulsante de sua vida-obra. Em In Sã, Feliciano e Nunes também utilizam a palavra (em seus múltiplos sentidos sígnicos) e o corpo como pulsão para adentrar no universo do religioso e do profano e tudo isso é corroborado na cena final, onde o cenário, que já tinha sido transformando em mar – espaço de travessia, descobertas e imaginário diaspórico de nossas cenas negras –, ganha outra dimensão quando o corpo do ator (o Homem/ o Bispo) faz dele a representação do Manto Celestial (azul como o céu, com as águas profundas da mar, dos lagos, mananciais e rios). Manto de Nossa Senhora do Rosário (em Nós, para justificar a performance), do Bispo ou de Iemanjá, a rainha dos mares? Não importa. As palavras estão postas para serem ressignificadas e o corpo do ator é apenas um instrumento… Eu coleciono instantes. Às vezes me sinto assim. Às vezes me sinto assim. Em outras me sinto assim. Nesses momentos penso no mar. E se eu fosse mar? Minha pessoa se faz no limiar entre o tempo e o instante. Nasce do que ainda não é possível delimitar. As formas não são possíveis até mim. Elas se fazem após aquilo que me é possível. O tempo na medida certa. Na medida exata do tempo. O tempo no tempo certo. É um labirinto. Um mundo como abismo da alma. A obra está pronta. (Feliciano, 2017)

Marcos Alexandre é graduado em Letras pela FALE-UFMG, onde concluiu o Mestrado e o Doutorado. Realizou a pesquisa de pósdoutorado “Brasil e Cuba em diálogo: a cultura afrodescendente em cena”, no ISA – Havana/Cuba, e no PPGAC, da UFBA. Integra o Mayombe Grupo de Teatro. É bolsista do CNPq. Professor Associado da FALE-UFMG, onde atua na graduação e na pós-graduação e também ministra disciplinas para o curso de Teatro; coordena o NEIA – Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Alteridade, em parceria com o prof. Eduardo Assis, e o PLTA – Programa Letras e Textos em Ação, em parceria com a profa. Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa. 25



NOSSA SENHORA DE AÇOTEIA >> Adyr Assumpção



SINOPSE Numa aldeia do Algarve em Portugal , “quando os homens e mulheres viviam do mar e para o mar”, uma mulher conta a sua história e das gerações que a precederam. Entre o risível e o trágico a trama percorre três gerações de mulheres até um surpreendente final. * Açoteia: palavra de origem árabe que na região do Algarves em Portugal, designa os terraços nos alto das casas que funcionam como mirantes, ou lugar para a secagem de frutos, como o figo por exemplo. FICHA TÉCNICA Espetáculo de Adyr Assumpção Texto: Luís Campião Produção: Comédia de Arte Produções Duração: 60 min Indicação etária: 14 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 13 de janeiro de 2017.

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Da Açoteia¹ Por Soraya Martins Uma mirada a partir da peça Nossa Senhora da Açoteia, de Adyr Assumpção. Desde pequena gostava de ouvir estórias, desde pequena ficava encantada quando via e ouvia a grande narradora da minha família, minha tia Keila Beatriz, mais conhecida como Marrom, nome “artístico” para os mais íntimos, que faz uma referência à cantora Alcione. Essa minha tia é a mais nova dxs filhxs e é a pessoa que mais sabe ou inventa sobre as memórias da família Oliveira. Pra tudo tem uma estória, tão ficcionalizada e verdadeira que, até quando soa muita invencionice, a gente não duvida e fica lá para escutar. Contrariando Walter Benjamin, a arte de narrar nunca passou perto de se extinguir no quintal dessa minha tia, entre feijoadas, um samba da Alcione ou Almir Guineto e uma cliente que ela atende no “Salão Moderno” improvisado no seu quintal. A arte de narrar nunca teve em vias de extinção porque a nossa experiência familiar nunca caiu de cotação. Nossas estórias nunca foram um relato puro como uma informação ou relatório. Minha tia Keila mergulha a coisa narrada na sua própria vida para em seguida retirá-la dela, imprimindo assim a sua marca de narradora, uma griot afrobrasileira, e por que não, negritando e colocando tudo no seu lugar, uma verdadeira Alcione Leskov, de Benjamin? Os gestos da minha tia, assimilados pelo trabalho de manicure-cabeleireira-artesã, sustentam o que é dito. Desse lugar, ela trabalha a sua matéria-prima como narradora, a vida humana. Dali, ao recorrer ao acervo de toda uma vida, ela passa a sua sabedoria para quem tem interesse em conservar o que foi dito. Uma Nossa Senhora da Açoteia, de Adyr Assumpção, que traz à luz 30


da cena uma narrativa de maturação, a partir de uma lenta superposição de camadas finas e translúcidas que, pouco a pouco, de chá em chá, lançando mão da mais épica das faculdades – a memória que, ao mesmo tempo, apropria-se do curso das coisas e resigna-se com o desaparecimento delas, com o poder da morte- reintera que nossa história de luta não pode ser apagada como página de internet e nos faz lembrar (na verdade, nunca esquecemos) da força e sabedoria e perspicácia da mulher: vai de Angela Davis, passando pelas personagens femininas da peça, chegando até na minha tia, na Zora, na Cida, na Grazi, na Rauta, na Eneida e em tantas outras. Evocar o discurso de Angela Davis na Marcha das Mulheres contra Trump mostra a dimensão utilitária (de bom conselho dado de graça!) de Nossa Senhora da Açoteia, como toda narrativa que se preze. A naturalidade da personagem-narradora faz com que os discursos e estórias fiquem gravados na memória do ouvinte/ expectador porque o que é narrado emerge também das experiências compartilhadas por vivermos em um mesmo mundo hetero-patriarcal, racista, homofóbico e capitalista. Mas, nós mulheres, viveremos 200 anos, como as hienas e as três gerações de mulheres da açoteia, para praticar um “feminismo inclusivo e interseccional”, de combate à supremacia masculina branca; para lutar pela gente mesma, pelas outras mulheres e por nossos filhos e filhas que virão. Quanta sabedoria cabe no silêncio estratégico de uma mulher? “Nós representamos forças poderosas 31


de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente” (Angela Davis). E nós como mulheres de luta, que evocamos “a voz de nossas bisavós nos porões do navio, a voz de nossas avós que ecoou obediência aos brancos donos de tudo e a voz de nossas mães que ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias”, nos enxergamos e nos recriamos na e a partir da açoteia. E miramos, bem do alto, narrativas outras e outras perspectivas históricas que não aquelas fornecidas pelos combatentes em nome de uma memória oficial. Este é só o começo. Comecei com minha tia e termino copiando, ao mesmo tempo, Ella Baker e Angela Davis: “nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!”. Viveremos 200 anos!

1 – Açoteia: palavra de origem árabe que, na região do Algarves em Portugal, designa os terraços nos altos das casas que funcionam como mirantes, ou lugar para a secagem de frutos. Soraya Martins é Doutoranda em Literaturas de Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestre em Teoria da Literatura pela FALE/UFMG. Formada no Teatro Universitário (TU/UFMG), cursou Semiologia do Teatro no Dipartimento di Musica e Spettecolo dell´Università di Bologna, Itália. Desde 2011, atua no cenário artístico mineiro como atriz e pesquisadora do teatro negro brasileiro. Escreve críticas teatrais para o blog Horizonte da Cena e para o projeto segundaPRETA. Tem seu currículo trabalhos realizados junto a diversas companhias, entre elas, Companhia Candongas e outras firulas, Grupo do Beco, Caixa de Fósforos e, atualmente, trabalha com o Grupo Espanca. 32


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Mร E DA RUA >> Cia Espaรงo Preto



SINOPSE Um homem bateu em minha porta e eu abri, senhoras e snhores põe a mão no chão. “Mãe!” Corre cipó, na casa da vó “Mãe!” Os escravos de Jó “Mãe da Rua!” Lançando mão de jogos, brincadeiras e relatos da infância pessoal e de outros os atores transportam para o palco em forma de jogo cênico uma realidade conhecida por muitos jovens negros e principalmente por suas genitoras. FICHA TÉCNICA Realização: Cia Espaço Preto Atuação: Anderson Ferreira, Andréa Rodrigues, Guilherme Diniz e Michele Bernardino Trilha original: M.A CLÃ Texto: O grupo Duração: 25min Indicação etária: 12 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 20 de janeiro de 2017.

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Brincar de coisa séria Por Soraya Martins Uma mirada a partir da cena-experimento Mãe da Rua, da Cia Espaço Preto, e a discussão que se seguiu. A maioria das pessoas gostaria de voltar no tempo por considerar o antigamente mais bonito, digno de ser revivido, ou porque voltar no tempo significa também o retorno à juventude. Nunca quis voltar a minha infância ou adolescência. Adoro o meu presente e as fabulações que faço para o meu futuro. Lembrar do meu antigamentemente é lembrar de pera, uva, maçã, salada mista em que nunca fui coroada com um beijo no final. Mas ontem fiquei com saudade do que vivi e do que eu era. Quis (re) brincar com minha infância e ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas bem pretinhas um espaço pra eu sempre ficar. Pois é também brincando que a gente conquista até mesmo novas poéticas. Cantando cantigas de criança, a gente grafa a palavra na performance do corpo e essa palavra, em movimento espiralar, passa de boca em boca, criando um Espaço Preto de pressão e potência. Quem nunca brincou de aviãozinho? Toda brincadeira tem um fundo de verdade, e a poética construída por Mãe da Rua para nos contar essas verdades sociorraciais passa por uma rede complexa de diferentes tipos de signos, meios de expressão e ações, tecendo um universo pleno de fusões, superposições, ambiguidades e desvios. Brincar de aviãozinho ou de foguinho, colocando a mão no chão ao som de uma sirene, aponta, ali, para uma função dialógica, de dupla fala, revelando formações discursivas de dupla referência, que estabelecem, em vários níveis, um diálogo intercultural entre periferia e centro, entre várias formas de expressão. Uma brincadeira. Responde rápido. Qual a sua relação com a polícia? Pum-pum-pum não deu tempo! 39


No interstício do espaço criado em cena – a rua – é tecida uma estrutura dupla, de aparências e dissimulações e ilusões, que consiste num modo de relacionamento com o real como indicação de uma outra perspectiva da experiência e da análise cultural. A mãe da rua assume sua própria fala e conta a história de seu ponto de vista. De qual brincadeira na infância eu mais gostava? De criar brincadeiras novas. Conhece a brincadeira da cadeia alimentar? Que posição você ocupa? Quem produz e quem consome? Outra brincadeira. Responde. Por que o indivíduo branco não se racializa e se coloca geralmente como universal? “O código da duplicidade instaura o jogo da aparência e da representação, que é também o jogo do olhar, da ironia, da sedução, o jogo dos sentidos na tradução da diferença, em que não se cristalizam verdades absolutas, mas, sim, práticas de fala, jogos discursivos, espaço de linguagem” (Leda Maria Martins). Brincar de mãe da rua impõe uma singularidade como um traço positivo de reconhecimento, reapropriando-se de uma experiência pessoal que erige sujeito(s) falante(s) e não apenas dito. Reatualiza as várias formas de sermos diaspóricos. Vai. Última brincadeira. Séria. Para tentar responder com calma e paciência de Jó. Como é possível descolonizar nosso próprio pensamento e construir novos conhecimentos e novas formas de nos articularmos? “Os debates propostos por nós tem ampliado territórios e ampliado a denominada poética negra? Temos debatido sistematicamente nossos procedimentos estéticos?” (Anderson Feliciano) Não disse que seria fácil. Mas. Essa rua, essa rua já é nossa e, por isso, temos que mandar ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas bem brilhantes, só pra gente, só pra gente (e quem mais quiser) passar e ficar. 40


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CONTAVA COM O CÉU PRA TUDO >> Dan Costa e Lucas Costa




SINOPSE De forma leve e divertida a cena fala sobre a dura (e sofrida) realidade de uma libriana com ascendente em gêmeos, conta como uma mulher cheia de dualismos e dúvidas entende e encara o mundo, contando com a intuição, os orixás, a sorte, o universo. FICHA TÉCNICA Texto: Dan Costa Atuação: Dan Costa e Lucas Costa Duração: 15min. Indicação etária: 12 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 06 de fevereiro de 2017.

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PIXAIM ELร TRICO >> Michelle Sรก




SINOPSE Toda ou quase toda sapatão arranha um violão! Dos lugares de não privilégio e também de “alguns” privilégios de ser mulher negra e lésbica é o que fala esse experimento de cena ou performance sonora. Dos muitos amores platônicos da pré adolescência e dos vários amores vividos na vida adulta. Fetichismo na tv, no pornô ser sapatão não é só caô, envolve muito amor. Da alegria e satisfação de ser o que sou e viver a plenitude dos dias, por não ter vergonha de mim é que encaro com corpo, verbo e escarro os que não cuidam da sua vida. Saí do banheiro da Mary in Hell e fui pra rua com minha menina. Hoje entendo como foi e é importante Villa Paraty e Boate Giz para as que vem do texas, periferias mil e do interior buscando na capital a diversidade e realização dos seus desejos. FICHA TÉCNICA Atuação: Michelle Sá Encenação: Manu Pessoa Iuminação: Akner Gustavson Participação sonora: Pat Manoese Duração: 15min Indicação etária: 18 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 06 de fevereiro de 2017.

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VIOLENTO >> Preto Amparo




SINOPSE violento. adjetivo. 1. que ocorre com uma força extrema ou uma enorme intensidade. 2. em que se emprega força bruta; brutal, feroz. 3. que possui grande força, grande poder de ataque ou de destruição. 4. falta de moderação, excessivamente enfático; veemente. 5. que apresenta agitação intensa; agitado, revolto, tumultuoso. 6. que perde facilmente o controle sobre si mesmo; irascível, colérico. 7. que contraria o direito e a justiça. 8. diz-se da morte causada pela força ou por acidente. FICHA TÉCNICA Performer: Preto Amparo Direção: Alexandre de Sena Preparação corporal: Felipe Soares Apoio técnico: Cézar Frank Duração: 15 minutos. Indicação etária: 12 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 06 de fevereiro de 2017.

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Por uma poética da encruzilhada Por Soraya Martins Uma mirada a partir das cenas: Contava com o céu para tudo, de Dan Costa e Lucas Costa; Pixaim Elétrico, de Michelle Sá e Pat Manoese; e Violento, de Preto Amparo. 22 de outubro de 1986. Oxum com Ogum. Água e fogo. Intuição e medo. Busca e fé em si mesma. Identidade(s) que se constrói na temporalidade e na narração, sempre suscetível à invenção. Leveza. Riso brando. Busca pela(s) identidade(s) no seu caráter fragmentado, múltiplo, relacional e contingente. Dan contava com o céu para tudo, até mesmo para si afirmar. Porque as performances afirmam identidades – incompletas, modelada pela linguagem, cuja dimensão existencial é dialógica, aberta a (construída por) um outro – curvam o tempo, remodelam e adornam corpos, contam histórias. Michele contava com o céu, com seu pixaim e com a exposição radical dela mesma como sujeita-enunciadora. Porque as performances também dizem da encenação de situações de autobiografia, de representação da(s) identidade(s) como um trabalho de constante restauração, sempre inacabado. “As coisas mudam e as resistências se somam”, um golpe de direita, uma cabeçada, cabelos ao vento sem esconder volumes nem negar raízes e nem se negar. Pixaim elétrico, o pôr-de-fora de si mesma, não como uma “outra eu”, mas na honestidade de uma “eu” sem máscaras, que se afirma desafiando padrões, sobretudo sexuais e raciais, fazendo política e buscando a própria biografia como inspiração para compor novos discursos e espaços. Estética do si. O Pedro contava com o céu, com seu pixaim e a sua “violência” estética. Porque a sua performance passa por gestos e movimentos que vão além de uma representação, o que no seu corpo se repete são experiências e vivências “em contínuo movimento de recriação, remissão e transformação” (Leda Maria Martins). O corpo do Pedro 54


é memória viva e pulsante – gestos, oratura, dança, canto, e ainda, lembranças traumáticas. Na sua tessitura dramática, Pedro Preto em movimento produz imagens que tecem sentidos, nos contam histórias que os textos tendem a camuflar e nos revela experiências que fazem o percurso do pessoal ao coletivo e vice-versa. Esse corpo resguarda, nutre, cria uma performance contestatória. Três corpos adornados, em performance e que são performance. O Pedro na sua altivez está em Michele, que com a sua força, está em Dan, que com a sua busca está em todxs nós. Ou pode ser tudo ao contrário também porque a nossa quadrilha emerge da encruzilhada (termo que é também um conceito teórico, como aponta Leda Maria Martins), lugar do contato e contaminações, do encontro e desencontro, da mediação e da mudança. Somos muitos, nos aquilombamos, nos contaminamos de crenças, de valores, de presenças que se entrecruzam, tecendo possibilidades/formas múltiplas para se pensar as várias poéticas negras em cena. E nessa encruzilhada… O corpo negro é pensado como conceito semiótico, definido por uma rede de relações, sem delimitar fronteiras discursivas. No movimento do signo negro, em suas variadas posições, é possível acentuar um outro saber também possível, “possível de verdades, possível de legitimidade, possível de encanto e sedução, e como todo saber, passível, porém, de fendas, de rasuras, de incompletudes” (Leda Maria Martins). E nessa quadrilha… Dan, libriana, busca a fé em si; Michele, a nervura do real, se radicaliza em si mesma; e Pedro é preto e não comete crimes (tente comer a sua pipoca em paz!) e se tece na dramaturgia do seu corpo. E eu que não tinha entrado na história me alimento dessas poéticas. 55



Lร TUS

>> Danielle Anatรณlio



SINOPSE LÓTUS é uma performance teatral que tem como ponto de partida a linguagem poética negra feminina. Em cena, o universo de mulheres que trazem em suas afetividades histórias invisibilizadas pelo imaginário social. A performance trata de amor, superação, beleza e vida, isto dentro de um contexto de solitude em que está inserida a mulher negra contemporânea, além de contar os caminhos que essas mulheres encontram para resistir e reexistir. FICHA TÉCNICA Texto e atuação: Danielle Anatólio Produção: Carlos Maia Figurino: Renato Carneiro Percussão: Júlia Dias Design gráfico e fotografia: Amanda Nascimento Iluminação: Rivaldo Rio Técnico de luz: Preto Amparo Duração: 45min Indicação etária: 10 anos Este espetáculo foi apresentado na segunda, 13 de fevereiro de 2017.

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Sobre quedas e tropeços Por Soraya Martins Reflexão/questionamentos a partir do espetáculo Lótus, de Danielle Anatólio. segunda – Preta. Dia de Exu. Princípio dinâmico de individualização e comunicação. A instância propulsora de interpretação, a ambivalência e a multiplicidade fazem desse orixá um topos discursivo que intervém na formulação de sentido da cultura da negra. Exu é metáfora da própria encruzilhada semiótica das culturas da diáspora. Aqui, na segunda PRETA, na encruzilhada de discursos, lugar de contato e contaminações, de encontro e desencontro, da mediação e da mudança, deu-se a flor de Lótus. “O que você vê quando passa uma mulher negra na rua? Com quantas você já pensou em ter filhos?” Cidinha da Silva, em “Engravidei, Pari cavalos e Aprendi a voar sem asas”, pergunta o que resta a essas mulheres que desde cedo aprenderam, dentro de uma lógica colonizadora, que era importante vestir o branco sagrado do matrimônio, só não sabiam que o vestido não era feito para o seus corpos? Dani, Quando te vejo em cena – do meu lugar de enunciação que de alguma forma se aproxima do seu e, ao mesmo tempo, se distancia – com o seu corpo grande, corpo negro de mulher preta, com subjetividades fragilizadas que perpassam todas nós, fico pensando na potência do seu corpo-Dani, na sua presença, no seu jogo cênicodramático que atrai e estimula o público, recuperando o teatro na sua concepção de evento comunitário e, mais ainda, reatualizando, cenicamente, práticas diferentes de leitura, concepção e inscrição do real. Nós mulheres não 60


somos iguais, temos nossas individualidades, camadas, quereres e desejos. E nós, mulheres negras, entre tantas camadas-desejos-quereres, pensamos nossos corpos como potência de vida. O Anderson uma vez me contou que desde sempre é encantado com a imagem do equilibrista. Um corpo. Uma corda, o desejo de chegar do outro lado e a possibilidade da queda. Aqui, a queda também é potência de vida. Ele me falou de um Teatro da Queda ou do Tropeço. Corpos em movimento. Fanon, certa vez, falou para ele, Anderson Feliciano, que cada corpo em movimento sobre o solo racista é já um corpo “tropeçante”. A dramaturgia do Tropeço (conceito em desenvolvimento por Anderson na sua dissertação de mestrado em Dramaturgia) é uma dramaturgia onde se pode refletir sobre as questões raciais e também construir espaços e relações que podem reconfigurar, material e simbolicamente, um território comum. Criar situações onde corpos estão em equilíbrio -precário- e podem tropeçar, mas pensando a queda, repito, como criação, estabelecendo lugares de enunciação e tecendo outras poéticas. Me encantei pela imagem do “tropeçante” e contaminada, no melhor sentido, pela segunda – PRETA – dia do orixá que abre os caminhos, me permito aqui, no nosso lugar de encruzilhada em que “se entrecruzam, nem sempre amistosamente, práticas performáticas, concepções e cosmovisões, princípios filosóficos e metafísicos, saberes diversos” (Leda Maria Martins), tentar “abrir caminhos”, olhar de outros pontos e nisso me pergunto sobre a possibilidade de inventar constantemente uma poética 61



negra sem reproduzir a construção ficcionalizada e distorcida que socialmente tem-se de nós. Como olhar/ falar da e para gente sem colocar na boca o discurso que o outro construiu sobre nós? E a gente gira na gira… “Toda mulher preta é flor de Lótus” e a essência dessa flor nos faz pensar que o corpo no âmbito da memória (também traumática) é sujeito de mudança. A senhora mãe do rio traz sonhos bons! Acredito que a nossa poética e potência também estão, e não só, nos “tropeços” das nossas vidas. O seu discurso-palavra (que de alguma forma é o meu também) se faz muito necessário, na medida em que nos possibilita pensar nossas práticas comportamentais, nos colocar em desequilíbrio como mulheres e homens e, principalmente, nos abrir para escutar o outro e refletir sobre as práticas que criticamos, mas que em algum momento acabamos por reproduzir. Na delicadeza da flor, Lótus grita que somos força, luta e guerra só quando queremos. Discurso nosso. Eu, agora, embriagada de sonhos bons, quero me colocar na minha dimensão frágil! Eu, agora, quero até os clichês e estereótipos da “delicadeza feminina” que me foi negado. Te agradeço. Cochichando… Dani, se o seu discurso-palavra é potente (e necessário), o seu corpo-Dani, esteticamente, como discurso, ainda é mais e, assim como Exu, é veículo da sua própria narrativa. Vamos dançar! A senhora mãe do rio traz também sonhos bons… (som do tambor). 63


CIBERTERREIRO >> Coletivo Black Horizonte




SINOPSE CIBERTERREIRO: espaço do exercício e da experimentação coletiva de outras formas de criar, inventar e habitar o mundo. Tendo como base os procedimentos das artes e das culturas que emergem no Atlântico Negro e seu diálogo com as tecnologias digitais de som e imagem, o Ciberterreiro propõe a imersão num ambiente intermídia. A ideia é construir um espaço que possibilite a criação de narrativas instantâneas a partir do contato entre o público, os artistas e as interfaces. Nesta performance, o Coletivo Black Horizonte propõe a experiência do rito, do sagrado e do profano, tendo como inspiração as relações entre corpo, som, imagem e movimento, presentes nas festas e rituais do candomblé, umbanda, rodas de samba, danças urbanas, capoeira e reinados. FICHA TÉCNICA Criação: Coletivo Black Horizonte Performadores: Gil Amancio e Gabi Guerra Registro videográfico: Cida Reis Duração: 50 min Indicação etária: Livre Este espetáculo foi apresentado na segunda, 20 de fevereiro de 2017.

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Navegando por todos os sentidos, transformando tempo e espaço Por Soraya Martins Uma mirada a partir da cena Ciberterreiro, do Coletivo Black Horizonte. Nunca tinha visto Ele em cena. Aquele braço negro com cabelos brancos. Um salve a Ele, a Clementina de Jesus, Elza Soares, Nana Vasconcelos, Bispo do Rosário, Raimundo Nonato e Dona Valdete, a todas as pessoas ali reverenciadas, os que vieram antes de mim, e a Gabi, minha ancestral de hoje. Tambor, tambor vai buscar quem mora longe! O tambor foi buscar, entre a boa e a nova vista, na zona leste de belo horizonte, Ele. O tambor reatualizou, ali, um “corpo da história” inscrita não pela palavra-verbo da prática letrada, mas pelo performativo que, como memória incorporada, funciona também como um saber. Saber de Preto Velho. O “ali” de que falei é o terreiro do “pai attyvista”, que foi transformado e recriado na segunda PRETA. No terreiroterritório-quintal, espaço da encruzilhada de saberes e cosmovisões, a música, o cheiro de manjericão, de erva cidreira e das pessoas, as vozes e a arte na sua múltipla dimensão ciber criou – na performance ritual estabelecida- dispositivos ancestrais que jogam com outras formas de habitar o mundo, de conviver e de hackear os códigos coloniais, pois “o terreiro seria o campo (o território de preservação da regra simbólica) delimitativo da cultura negra no Brasil, o espaço da reposição cultural de um grupo cujas reminiscências de diáspora ainda eram muito vivas. […] Guardião de axé e auô, o terreiro é, ao mesmo tempo, aiê e orum, matéria e antimatéria, lugar da irradiação de intensidades, de possibilidades de reversibilização para a sociedade global. […] O limite que ele traz é o do ritual – que 68


joga com a aparência, o segredo, a luta, a ausência de universalizações, a abolição da escravatura de sentidos, esta operadora de encantamento e sedução” (Muniz Sodré). A prática performativa que se deu ali, naquele ciberterreiro-território, se refere às reminiscências muito vivas, do canto, da música, do espaço, dos cheiros e sensações, das imagens produzidas em cena e projetadas, do jogo estabelecido com o público, e se revela de forma radicalmente dinâmica: mantém a tradição transformando-a. Nessa performance, a cultura da cena, além das marcas, símbolos e formas, se afetiva pelo conhecimento que Ele, Gil, traz em seu corpo quando a executa, na combinação dos seus movimentos no tempo e no espaço. “Do que o outro necessita?” Na performance ritual realizada no último dia da primeira temporada da segunda PRETA, no dia do guardião dos caminhos e portais, entre ritmo, dança e comida (todos esses elementos simbólicos se encadeiam, de acordo com Sodré, sem relação de causa e efeito – pois não há signo determinante – mas por contiguidade, por contato concreto e instantâneo), Ele, Gil, e Ela, Gabi, vão falar que precisamos de cuidado, com a gente mesmo e com o outro através, também, da arte. “Cantar-dançarbatucar”, comer e beber não é apenas forma, mas uma estratégia de cultuar, entre outras coisas, a memória e o cuidado, ambos exercidos pelo corpo em sua plenitude. 69


Tal plenitude, Zeca Ligiéro me confessou que ele a chama de oração orgânica. Vi -Ele- em cena. Aquele braço negro com cabelos brancos, aquela presença, no ciberterreiro contemporâneo (é verdadeiramente contemporâneo aquele que estabelece uma relação de dissociação e anacronismo com seu próprio tempo, adere e, ao mesmo tempo, se distancia deste), cruzamento semiótico discursivo, espaço de confluências e mediações, reforçando as relações entre performance, memória, identidades, cura e cuidado. Vi crianças (pela primeira vez tinha na segunda PRETA!), mulheres e homens e me vi celebrando o encontro, a convivência, o olhar e os gestos como possibilidades do próprio discurso policênicoperformativo. “Do que o outro necessita?” De terreiros, territórios, quintais. De plantar relações, cheiros, presenças, vizinhanças e plantas. A segunda PRETA celebra a sua primeira temporada com a performance da memória, das identidades e do cuidado. Uma oração orgânica. Toda nossa. Coletiva.

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FESTA DE ENCERRAMENTO Luthier Bar - Radiola Picumãh djs Alexandre de Sena e Bill, MC P.A.P.O e performance de Ailton Lima Realizada no dia 20 de fevereiro de 2017.

FICHA TÉCNICA - PRIMEIRA TEMPORADA Fotos e vídeos: Pablo Bernardo Textos: Soraya Martins Equipe: Andrea Rodrigues, Dan Costa, Evandro Nunes, Lucas Costa, Michele Bernardino, Preto Amparo, Rainy Campos e Sabrina Rauta Teatro Espanca: Alexandre de Sena, Aline Vila Real, Aristeo Serranegra e Gustavo Bones

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ENTRE TEMPORADAS

CINEMA PRETO COMENTADO ALMA NO OLHO (dir. Zózimo Bulbul, 12min, 1973) COMPASSO DE ESPERA (dir. Antunes Filho, 98min, 1973) >> por Adilson Marcelino Graduado em Letras, pela PUC-MG, e em jornalismo pelo UNI-BH, Adilson Marcelino é jornalista e pesquisador de cinema brasileiro. Especializado em assessoria de imprensa na área cultural há 26 anos, trabalhou com grande parte dos grupos de teatro de Belo Horizonte, com atuação também em dança, circo, música, literatura, artes visuais e arte-educação. No cinema, trabalhou 15 anos no mercado exibidor, fez curadoria, escreveu para catálogos, apresentou sessões comentadas, ministrou palestras, e apresentou e prefaciou publicações, como o livro “Esfinge Negra – A História do Cineasta Afrânio Vital, importante diretor negro. Foi também colaborador, redator e editor da revista Zingu!, dedicada especialmente ao cinema popular. É criador e editor do Mulheres do Cinema Brasileiro, site de pesquisa histórica que está mapeando a participação das mulheres no nosso cinema nacional desde a fase muda até a atual, pioneiro em seu recorte e premiado em Minas Gerais e São Paulo, além de ser referência nacional. Realizado no dia 17 de abril de 2017. 73



SEGUNDA TEMPORADA



ZORA SANTOS HOMENAGEADA DA SEGUNDA TEMPORADA

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Há muito a cena tá preta por Anderson Feliciano e Evandro Nunes Uma Tigresa de unhas negras e íris cor de mel. Uma mulher, uma beleza que me aconteceu. Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu, ela me conta, sem certeza tudo que viveu. Que gostava de política em mil novecentos e sessenta e seis… Ela bem que poderia ser aquela Tigresa da canção do Caetano. Nasceu no início da década de 1950. No mais o que sabemos é o que ela nos contou sem certeza. Mulher negra de uma beleza estonteante venceu um concurso de modelo nos anos 70 e fez seu primeiro desfile profissional no Palácio das Mangabeiras. Ela nos conta que foi atriz, não sabemos se trabalhou no Hair, mas estreou no teatro substituindo Ana Davis. Ainda atuou nos espetáculos: Relatório Kinsey (Olha que tem nós na cama), Orfeu do Carnaval, A incrível Borboleta Azul, No mundo da lua, Teatro Rival. Das passarelas e dos palcos para o cinema, mas as besteiras de menina que ela disse não. Atuou nos filmes: Os Inconfidentes – Joaquim Pedro de Andrade, Chico Rey – Walter Lima Júnior e Os condenados – Zelito Viana. Ainda se enveredou pela culinária afro mineira, colocando no centro da cena gastronômica nossa ancestralidade. Incansável como uma Tigresa ela, como uma Griot, nos ensina remédios e receitas caseiras que curam o corpo e a alma, além de, com seu olhar sensível, confeccionar jóias e adereços, junto a sua filha Catarina Queiroz. Não sabemos se ela tem muito ódio no coração, mas que tem espalhado muito amor, sim! 78


E em breve teremos um novo filme com ela. Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar … Por isso e por tudo que Zora Santos, nos faz seguir nessa cena/segunda preta.

Anderson Feliciano é Mestrando em Dramaturgia e Pós – graduado em Estudos Africanos e Afro-brasileiros (2009) pela PUC – Minas, além de Performer e Dramaturgo. Desde 2007 vem desenvolvendo projetos focados nas questões raciais e de gênero. É autor dos livros infantis “A Verdadeira História do Saci Pererê” (2009) e “Era Uma Vez em Pasárgada” (2011). Foi vencedor do Primeiro Prêmio de estímulo a novos dramaturgos promovido pelo Clube de Leitura (Belo Horizonte – 2011) com o texto “Pequenas Histórias de trocas de pernas, peles e olhos nos seus arroubos e arredores” e ainda teve o texto “Antes que Aconteça Muita coisa Pode Acontecer” selecionado para uma leitura dramática no concurso promovido pelo projeto Negro Olhar (Rio de Janeiro – 2011). já escreveu textos dramáticos para companhias de Brasil, Chile e Argentina. Como performance há participados de festivais por vários países da América Latina. Evandro Nunes é Pedagogo, Ator e Arte Educador. Mestrando em Educação pela FAE/UFMG, 2017. Especialista em Educação para as Relações Étnico-raciais, UNIAFRO/UFOP, 2015.Pósgraduando lato sensu em Ensino e Pesquisa no campo de Arte e Cultura pela Universidade do Estado de Minas Gerais. Fez parte da Equipe de Formadores do Projeto A cor da Cultura, TV Futura/ Fundação Roberto Marinho. Prestou serviço à Associação Religiosa e Cultural de Culto Afro-Brasileiro Ilê de Keto Axé Alafin Odé, junto com a Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte, 2011. Fez parte da equipe de Curadores do 16º Festival de Teatro Estudantil – FETO. Integrou a Banca Examinadora do trabalho de Conclusão de Curso Intitulado “Brincar e Foliar – é so começar: perspectiva de um experimento na implementação de história e cultura afro-brasileira na educação infantil”, UFMG/Escola de Belas Artes, 2016. Preside a NEGRARIA – Coletivo de Artistas Negros/ as. Ganhador do Troféu Zumbi de Cultura, categoria teatro, 2015. Há 20 anos dentro da área artística, tem experiência em Atuação, Direção Teatral, Produção Cultural, Coordenação Artística e Pedagógica, além de ser professor de teatro. 79


>> Foto: Fernanda Vásquez

APOLOGIA III >> Coletivo Tropeço 15/05 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Em Apologia III me aproprio do uso pejorativo da palavra pêra que usavam para me ofender e da famigerada frase “você se parece muito com seu pai” para compor a cena. A apropriação e (re)interpretação corporizada dessas memórias translada o passado ao aqui agora da cena, reatualizando a possibilidade de gerar nova memória sobre os mesmos eventos e a criação de outras poéticas. FICHA TÉCNICA Realização: Coletivo Tropeço Concepção: Anderson Feliciano Performance: Anderson Feliciano e Carlos da Silva Direção: Marcel Diogo / Mário Rosa Duração: 15 min Indicação etária: Livre 80


>> Foto: Daniel Eljano

LINHA DE FRENTE >> Coletivo Tropeço 15/05 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Em Linha de Frente o corpo em seu equilíbrio precário se configura em uma operação coreográfica revelando o entrelaçamento profundo entre movimento, corpo e lugar. FICHA TÉCNICA Realização: Coletivo Tropeço Concepção e performance: Anderson Feliciano Direção: Nicolás Licera Vidal Vídeo: Daniel Eljano Duração: 20 min Indicação etária: Livre

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>> Foto: Felipe Soares

RESSOAR >> Companhia Negra de Teatro 22/05 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Teatro, instalação, performance e outras formas poéticas de relação. Pesquisas em processo do novo espetáculo da Companhia Negra de Teatro. FICHA TÉCNICA Direção e dramaturgia: Felipe Soares Atuação: Eliezer Sampaio e Michele Bernardino Assistência de direção e iluminação: Allan Calisto Textos: Felipe Soares e Michele Bernardino Cenografia: Allan Calisto e Felipe Soares Produção: Companhia Negra de Teatro Duração: 30 min Indicação etária: 12 anos

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>> Foto: Marina Mitre

REFÉM SOLAR >> Elisa Nunes 29/05 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Corpo Extra-Terreno feminino/ Que em assimilação sobre sua condição de objeto pivô no desconforto alheio ao realizar toda sua comoção em alegria festiva/ Denuncia pela boca do outro o que é ou não é feio// Se nota sem opção frente a hiperssexualização/ Refem de si propria enquanto corpo/ Tido e lido no telão/ Nomenclatura mestiça adotada com carinho/ Escancara e Atiça a mula, não é malandrade… é jeitinho// Extra Brasilis e Intra Globão/ Beleza do Globo se vê em dispersão/ Grito de luta que abocanha a mão de quem tenta calar o brilhoso bicho-papão. FICHA TÉCNICA Intérprete Criadora: Elisa Nunes Orientação Cênica: Mariana Razzi Iluminação: Pedro Amparo Duração: 20 min Indicação etária: 18 anos 83


>> Foto: Marina Mitre

ANTÔNIO >> André Sousa 29/05 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Das mais íntimas entranhas de um negro forte sou expelido em um formoso tear. Ali sou cuidadosamente tecido com cor, traços, curvas e sentidos únicos. Sou estrutura para sobreviver, resistir e, finalmente, prevalecer. O fazer/criar/construir/trabalhar (…) são as ferramentas dadas para afirmar. São condições impostas, não há escolha a ser feita. FICHA TÉCNICA Interprete-criador: André Sousa Direção: Luísa Machala e Raquel Pires Cavalcante Foto: Marina Mitre Duração: 10 min Indicação etária: Livre 84


>> Foto: Divulgação

FRAGMENTOS MAQUINICOS >> Coletivo Maquinária 29/05 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Fragmentos Maquinicos é uma cena livremente inspirada no texto de Heinner Muller “Hamlet Maquina”. Os atores performam algumas partes do texto na integra com uma constituição dramaturgica proveniente de suas vivências dentro e fora do teatro. Além de relatarem suas próprias experiências em um ato que é contra o racismo, o machismo e a homofobia. FICHA TÉCNICA Atores: Jéssica Garcêz, Diony Moreira e Hernandis Moura Duração: 30min Indicação etária: 16 anos

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>> Foto: Divulgação di

ÀBÍKÚ >> Teatro Negro e Atitude 05/06 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE A peça conta a história de André, um menino que nasce da falta de diálogo entre os pais, cresce na ausência de perspectivas para o futuro, vive em meio às desigualdades sociais do país e morre a sombra de um mito – o mito das crianças Àbíkú. FICHA TÉCNICA Realização: Teatro Negro e Atitude Direção: Evandro Nunes Texto: Evandro Nunes, Clécio Lima, Danielle Anatólio e Marcus Carvalho Elenco: Clécio Lima, Sinara Teles e Marcus Carvalho Cenário: Clécio Lima Figurino: Alex Teixeira Iluminação: Paulo Alves Faria Direção Musical, Trilha Sonora Original e Produção: Marcus Carvalho Duração: 60 min Indicação etária: 12 anos 86


DÊ AFETO À SUA PRETA EM PRAÇA PÚBLICA >> Rolezinho de artistas independentes 12/06 | 19h | RUA AARÃO REIS SINOPSE O que é o afeto negro? Pouquíssimas vezes homens e mulheres negras puderam pensar e exprimir suas afetividades. Houve uma época em que casais negros poderiam ser presos por atentado ao pudor simplesmente por demonstrar carinho e amor em público. Beijar, tocar, abraçar, acolher nunca foram ações que negr@s puderam e aprenderam a fazer publicamente uns com os outros. “Reaja a violência racial: dê AFETO à sua/seu preta/preto em praça pública”. FICHA TÉCNICA Duração: 1h Indicação etária: Livre

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>> Foto: Divulgação

UNHA POSTIÇA >> Coletivo Tropeço 12/06 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Ela em seu equilíbrio precário caminha com um saco de laranjas. Ela, o saco de laranjas, um tanto de fragmentos de memórias e a possibilidade de fabular sua própria história. FICHA TÉCNICA Realização: Coletivo Tropeço Concepção: Anderson Feliciano Atuação: Soraya Martins Duração: 20 min Indicação etária: 12 anos

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>> Foto: Ricardo Aleixo

AQUELA MULHER >> Zora Santos e Ricardo Aleixo 12/06 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Concebida como um exercício de investigação cênica que explora os limites da relação entre voz, texto, gesto e movimento, a performance intermídia AQUELA MULHER inaugura um novo momento criativo da atriz Zora Santos. Sob a direção de Ricardo Aleixo, autor, também, do texto e da trilha sonora executada em tempo real, Zora traz ao palco as muitas faces da mulher que ela, arquetipicamente, carrega dentro de si. FICHA TÉCNICA Atuação: Zora Santos Texto, direção e trilha sonora: Ricardo Aleixo Duração: 20 minutos Indicação etária: 16 anos 89


>> Foto: Demétrio Alves

PANTERA >> Rauta 12/06 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE Rauta leva rascunhos de falas não ditas, o corpo em processo aprumado, sabedoria, tristezas inventadas do que poderia acontecer com todas, pede licença as musas inspiradoras por ab(usar) de algumas palavras. Há seres que nascem personagens, outras fodas. Talvez isso seja mais uma coisa inventada. O que seria de nós sem as invenções!? O Teatro Negro existe. Clássica, elegância, amor e tesão… Francisca e o seu relato do nascimento. A mulher negra que desfaz o objeto corpo; PANTERA é o animal que ela transformou-se. FICHA TÉCNICA Concepção: Rauta Participação especial: Demétrio Alves Figurino: Rauta e Zora Santos Audio visual : Cooperiente Luz: Preto Amparo Duração: 25 min Indicação etária: 14 anos 90


>> Foto: Divulgação

Black Boulevard ou Tudo Preto de Novo ou O Ensaio Geral… 19/06 | 20h | TEATRO ESPANCA SINOPSE 1926: entra em cena, Companhia Negra de Revistas. 1987: uma sementinha. 2008: Eu, Hamlet? 2017: Black Boulevard. NÃO! Tudo Preto! De novo? NÃO. Quatro artistas em busca de um novo espetáculo, mas o dramaturgo… Bom, não vai dar para discutir isso agora e nem para mostrar com detalhes todo o processo que nos levou a esse espetáculo, cujo ensaio geral começa agora! FICHA TÉCNICA Dramaturgia: Antonio Hildebrando | Direção e Direção Musical: Tatá Santana | Elenco: Elisa Nunes, Fabiana Brasil, Rainy Campos e Sitaram Custodio | Músicos: Isabela Arvelos, Juventino Dias, Rogerio Santos e Thiago Braz | Preparação corporal: Elisa Nunes e Sitaram Custodio Preparação vocal: Isabela Arvelos e Tatá Santana | Preparação para canto: Isabela Arvelos | Figurino e Cenário: Anderson Ferreira e Lira Ribas | Iluminação: Cezar Frank/Eliezer Sampaio | Produção: Anair Patricia e Rainy Campos | Apoio: Bel’Africa Bonecas Duração: 50min Indicação etária: 12 anos 91



>> LÓTUS | Foto: Pablo Bernardo



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2ª temporada Homenageada Zora Santos :: 15/05 – 20h – Performances Apologia III (Coletivo Tropeço) Linha de Frente (Coletivo Tropeço) :: 22/05 – 20h – Ressoar (Companhia Negra de Teatro) :: 29/05 – 20h – Dança preta Refém Solar (Elisa Nunes) Antônio (André Souza) :: 05/06 – 20h – Àbíkú (Teatro Negro e Atitude) :: 12/06 – 19h – Experimentos cênicos Dê afeto à sua preta em praça pública (Artistas independentes) Unha postiça (Coletivo Tropeço) Aquela mulher (Zora Santos e Ricardo Aleixo) Pantera (Rauta) :: 19/06 – 20h – Black Boulevard ou Tudo Preto de Novo ou O Ensaio Geral…

Hora: 20h - exceto dia 12/06 (às 19h) Local: Teatro Espanca! Rua Aarão Reis, 542 - Centro Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5,00 (meia) Residentes fora dos limites da Avenida do Contorno pagam meia-entrada

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