XI Congresso ALAIC - GT2

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Para refletir sobre a (não) lugarização, partimos das noções de lugar e não lugar propostas por Marc Augé, e de entre-lugar de Bhabha (1998) e Castrogiovanni (2004). Diferentemente de Michel de Certeau2, que opõe o lugar ao espaço, como a figura geométrica ao movimento, a palavra calada à falada, Augé compreende o lugar no sentido inscrito e simbolizado, o lugar antropológico. É o signo e o símbolo juntos. O lugar

antropológico não se resume a um espaço físico, geográfico. Ele é, nas palavras do autor, “o princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de inteligibilidade para quem o observa. Lugares cuja análise faz sentido porque foram investidos de sentido” (2010, p. 51). Os sentidos brotam dos percursos que nele se efetuam, nos discursos que nele se pronunciam, da linguagem que o caracteriza, das relações que ali se constroem, dos sujeitos que ali habitam. Para Augé, três características são típicas dos lugares antropológicos: eles se pretendem identitários, relacionais e históricos: o projeto da casa, as regras da residência, os guardiões da aldeia, os altares, as praças públicas, o recorte das terras correspondem para cada um a um conjunto de possibilidades, pescrições e proibições cujo conteúdo é, ao mesmo tempo, espacial e social. (2010, p. 51)

O lugar se constrói em meio a sensibilidades e fragmentos identitários do sujeito ou da dimensão que ali se lugariza. Uma dimensão lugarizada, significa dizer que entre ela e o lugar há um vínculo constituído, uma ligação que a torna parte, uma sensação plena de pertencimento. Neste contexto, entendemos as Organizações como lugares, por terem sua identidade e agirem sobre a identidade dos sujeitos que a conformam; por serem essencialmente lugares de relação e, sobretudo na contemporaneidade, dependerem de suas relações para firmarem-se e legitimarem-se e históricas, uma vez que possuem trajetória, personagens e memória. Já os não-lugares, ao contrário do lugar, pressupõem a ausência de vínculos, é onde nem a identidade, nem a relação, nem a história encontram sentido. Um não-lugar é como um lugar vazio de significações, são espaços constituídos em relação a certos fins (transporte, trânsito, comércio), baseadas em contratos. “Assim como os lugares antropológicos criam um social orgânico, os não-lugares criam tensão solitária”

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Para Michel de Certeau (1994) o espaço é um “lugar praticado”, sendo o lugar apenas a ordem segundo a qual elementos são distribuídos em relação de coexistência, uma configuração instantânea de posições que se torna espaço na medida em que nele dimensões entram em movimento. Ele cita a rua como exemplo: a rua geometricamente definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos pedestres.


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