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BERENICE GORINI

Sobre A Obra

Entre as décadas de 1970 e 1980, Berenice Gorini passou a integrar as cadeiras de palha à sua pesquisa artística com o volume das tramas de palha e outros objetos. Após assumir um cargo administrativo dentro da universidade, o trabalho burocrático e solitário do escritório lhe propôs momentos de reflexão e observação às cenas cotidianas do seu entorno. Ao perceber que as cadeiras que ficavam à frente de sua mesa sugeriam a ausência de pessoas, ela passou a idealizar uma nova série de esculturas e instalações que transitam na criação de novos seres, formas e silhuetas. Cabeça, braços e pés de madeira, palhas e fibras foram anexados a esses suportes, em que, agrupados ou não, passaram a ser distribuídos estrategicamente nos espaços expositivos ao lado das vestimentas, totens e as figuras em cestarias.

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Dados Técnicos

Sem título, s/d. Berenice Gorini. Escultura (fibra e madeira), 139 x 35 x 69 cm. Acervo: Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) – Florianópolis/SC.

Foto: Aionara Preis.

Desdobramentos Po Ticos

O olhar sensível de Berenice Gorini ao enredo cotidiano a fez identificar nos materiais, como palhas e fibras naturais e objetos disponíveis ao seu redor, as potencialidades de conferir um novo discurso ao seu trabalho. Essas observações e referências do acaso foram apropriadas em suas instalações artísticas e pensadas sob uma nova perspectiva, apropriando-se dos espaços nas mostras, nas pesquisas e na história da arte catarinense. Os Desdobramentos Poéticos a seguir partem da obra “Sem título” (escultura que faz parte do acervo do MASC), os quais se apresentam como propostas de ações a serem realizadas coletivamente como uma forma de mobilização, ação e reflexão do pensamento artístico.

Artesanias As cadeiras

Quais artesanias você conhece?

Quais desses trabalhos manuais você já teve a oportunidade de vivenciar em sua família, comunidade ou cidade?

Você aprendeu com alguém alguma técnica de artesanato? Saberia ensinar algum processo manual? O termo artesania consiste nos processos de investigação, experimentação e conhecimento técnico que envolvem o trabalho manual. Estas e outras questões introdutórias poderiam motivar um momento de “começo de conversa” com seus alunos. Pergunte aos alunos(as) quais são os trabalhos manuais que eles conhecem e vivenciam. Cada um poderia descrever, narrar ou demonstrar o que conhecem.

À medida que as respostas vão surgindo, filtre e alimente uma espécie de diagnóstico inicial. É relevante mapear o quão próximo ou distante esses saberes estão de seus alunos. Aproveite estes momentos para investigar se existe no contexto familiar dos alunos, ou na própria comunidade, alguma prática artesanal como bordados, cestaria, crochê, bonecas de pano, brinquedos de madeira, cerâmicas, pinturas, biscuit, rede de pesca, entre outros. Será que esses trabalhos manuais são feitos por mulheres, homens ou crianças? As respostas para esta questão podem ser o gatilho para problematizações acerca da divisão cultural e social das tarefas dentro do contexto familiar. E será que algumas das respostas não podem desencadear ideias de propostas para novos conteúdos?

Quem sabe estes assuntos sejam uma grande oportunidade de ampliar a discussão. Apresente a obra de Berenice Gorini contida no verso desta ficha para promover um diálogo divertido em grande grupo e facilitar a leitura de imagem. A figura do(a) professor(a) é crucial na mediação deste bate-papo. O curta-metragem de Berenice Gorini pode fundamentar a discussão (você pode acessá-lo via QR code).

Esses processos manuais fazem parte de um conjunto de tradições passadas de geração em geração, e podem estar relacionadas à constituição da identidade cultural e coletiva do círculo social do qual seus alunos(as) fazem parte.

Feitas as discussões, que tal convidar uma pessoa da comunidade para contar sobre sua história e propor uma oficina de trabalhos manuais? Tal experiência pode ser ainda mais interessante se os alunos(as) puderem experimentar o processo. Registre com seu celular estes momentos – eles podem servir para divulgar os saberes culturais e também como documentos para sua avaliação descritiva.

Arte x artesanato 02.

O que foi possível compreender com a pesquisa sobre as artesanias? Existe alguma diferença social, algum problema ambiental ou econômico envolvendo esta prática? E as matérias-primas são fáceis de encontrar? Quais adaptações precisam ser feitas? Convide seus alunos(as) a pensarem sobre o contexto em que os trabalhos manuais estão inseridos, e que procurem juntos pelas problematizações e os conceitos em que eles podem ser abordados. Este exercício também contribui para pensar sobre a diferença entre arte e artesanato. Que tal fazer esta pergunta aos seus alunos e conversar sobre no que difere a arte que está em museus e galerias, sendo reconhecidas como tal, com aquelas que são comercializadas nas ruas, feiras, lojinhas de souvenir, etc., como é o caso do artesanato? Vale salientar que a arte passou por grandes transformações conceituais ao longo dos anos, e hoje ela é reconhecida pela sua função social por expor e problematizar as características históricas e culturais de uma determinada sociedade. Tais debates podem desencadear escritas individuais e/ou coletivas, produções artísticas, podcasts, mapas mentais, diários de bordo, entre outras possibilidades.

Em sequência, traga a trajetória biográfica e poética da artista Berenice Gorini, utilizando as informações contidas no caderno, na ficha e no curta-metragem. Identifique e aproxime os debates feitos anteriormente com as produções da artista e com as opiniões dos alunos. De acordo com Gorini, quando ela viu as tiras de palha em um pequeno paiol na comunidade de Ilhas em Araranguá, vislumbrou que aquela matéria-prima parecia por si só instalações “dignas de bienal”. Ali teve início a pesquisa com fibras naturais na poética artística de Berenice. Portanto, refletimos: quanto de artesanato tem a arte de Berenice Gorini?

Quantos tipos de cadeira existem em sua casa? Quais são os momentos em que cada uma é utilizada? E como são utilizadas? Existem variações de modelo e materiais na composição de cada uma? Com o passar do tempo, mudanças de hábitos e de trabalho, o ser humano tem passado horas do seu dia sentado em uma cadeira e, além dessa utilidade, cada cadeira reserva um lugar em específico, seja ele público ou particular. Normalmente, sentamos em diferentes cadeiras, desde em nossa casa até nos locais públicos e privados. Podemos sentar na cadeira usada na cozinha, sala de estar, varanda, escritório, sala de espera, sala de aula, refeitório, entre outras. Mais quantos tipos de cadeira é possível indicar?

Professor(a), você pode iniciar a conversa com seus alunos(as) utilizando as perguntas acima e, em seguida, fazerem juntos no quadro uma lista com as variedades de cadeiras que eles identificam e quais as suas utilidades. O design e materiais desses objetos também são indicadores da atividade que uma pessoa pode desempenhar ao ocupar a cadeira, seja em funções políticas, pessoais ou sociais. Peça aos alunos(as) que observem a cadeira em que estão sentados neste momento. São todas iguais? São separadas da carteira ou têm apoio acoplado para o caderno? É igual à cadeira do professor(a)?

Para facilitar o diálogo, apresente a imagem da obra de Berenice Gorini contida no verso desta ficha e, caso ainda não tenha feito, exiba o documentário para que seus alunos(as) conheçam a trajetória da artista e como iniciou sua produção com as cadeiras. Neste momento, pode ser utilizado como recurso técnico o desenho de observação para exercitar a percepção da luz e sombra e do volume tridimensional (a cadeira) com o bidimensional (o desenho da cadeira). É na interação com as cores, formas, volume e na relação direta com a visualidade do objeto que se trabalha a percepção.

As reflexões apresentadas até o momento derivam das relações que um objeto utilitário, neste caso, a cadeira, pode estabelecer com o sujeito. Os objetos do cotidiano, quando apresentados em outros contextos e trazidos para o campo das Artes Visuais, perdem total ou parcialmente sua função utilitária para se relacionarem com o conteúdo ao qual estão se referindo. Tal aspecto evidencia o percurso técnico e poético que o(a) artista fez para chegar até o resultado final. Todo esse conjunto que abarca o fazer poético, a pesquisa, o processo de criação e conhecimentos envoltos dos saberes e fazeres está relacionado aos conceitos da obra de arte.

No caso de Berenice, a cadeira é utilizada como suporte para sustentar corpos construídos com materiais distintos. E se as cadeiras estivessem vazias, sem nenhuma interferência, teria o mesmo sentido? Na construção de uma narrativa poética, é o pensamento que se faz valer. Para auxiliar neste momento, pode ser feita uma busca por outros artistas que utilizam o mesmo objeto de maneira diferente. Como no caso da artista Doris Salcedo (veja no caderno “Com quem dialoga”), que empilha muitas cadeiras em lugares inusitados. Aqui vale provocar seus alunos(as) sobre o que a artista quer comunicar com essas instalações, uma vez que a cadeira não passou por nenhum procedimento técnico das Artes Visuais.

Professor(a), estes momentos de pesquisa e conversa sobre a produção artística são essenciais para que seus alunos sejam capazes de analisar uma obra de arte contemporânea. E, após a conversa, proponha que pensem o objeto/ função/formato da cadeira sobre outras perspectivas. Exercícios assim são melhores de desenvolver e mediar quando trabalhados coletivamente. Peça para se reunirem em um grupo pequeno e possibilite meios para que escolham qual o recurso técnico que melhor se adequa às ideias que surgirem. Podem utilizar desenho, pintura, colagem, fotografia, instalação, intervenção, enfim, o que mais acharem interessante. Lembre-se que a construção de uma narrativa poética é fundamental neste momento! Boa aula.

BNCC - Objetos de Conhecimento e Habilidades (6º ao 9º Ano)

· Contextos e Práticas (Artes Visuais): (EF69AR01);

· Processos de Criação (Artes Visuais): (EF69AR07); Sistemas de linguagem (Artes Visuais): (EF69AR08).

Acesse o curta-metragem sobre a artista: