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EDI BALOD

Gloss Rio

Antropologia - Ciência que tem por objeto o estudo e a classificação dos caracteres físicos do homem e dos agrupamentos humanos (origem, evolução, desenvolvimento físico e material), bem como seu comportamento, costumes, crenças sociais etc.

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Arte de Rua - Também conhecida como Street Art, trata-se de um conjunto de manifestações artísticas que se apropriam de espaços públicos, desconstruindo a ideia de que a arte necessita da legitimidade das instituições como museus, galerias ou da própria academia para ser consumida pelas pessoas. Destacase o grafite, o hip hop, o lambe-lambe, o stencil, a instalação e as intervenções artísticas, entre outros.

Entalhe - Técnica de corte, incisão e/ou ranhura na madeira.

Esboço - Estudo, rascunho ou ideia inicial de uma produção artística.

Etnografia - Ramo da antropologia que trata da origem, das características antropológicas e sociais das diferentes etnias.

Biografia

Edison Paegle Balod nasceu no município de Orleans/SC, em 1943, mas foi em Criciúma/SC que o artista constituiu residência.

Em 1972, ingressou no curso de Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, onde passou a frequentar os ateliês de arte na cidade de Porto Alegre/RS. As experiências e conhecimentos adquiridos em paralelo à sua graduação possibilitaram o amadurecimento de seu pensamento poético.

Ainda, antes de se formar, Edi Balod começou a lecionar a disciplina de Cultura Regional e Antropologia Cultural na Fundação Educacional de Criciúma – FUCRI, atual mantenedora da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Em 1987, iniciou especialização em Arte Educação na UNIFACRI – Criciúma/SC e, em 1990, uma especialização em História do Brasil na mesma instituição. Coordenou inúmeros estudos e projetos de extensão voltados ao patrimônio cultural local, bem como dedicou boa parte de sua carreira ao grupo Boi de Mamão da UNESC e à presidência da Fundação Cultural de Criciúma.

Em sua trajetória, além de atuar como docente em curso superior, trabalhou como produtor cultural e pesquisador no campo da literatura e das artes plásticas. Atualmente reside, cria e expõe no Atelier Casa Arte Ana Frida Antiques em Criciúma/SC, local que abriga praticamente todas as suas produções.

Com quem se relaciona?

· Kurt Schwitters

· Janor Vasconcelos

· Helene Sacco

Falésia - Escarpas íngremes formadas a partir da ação erosiva da água do mar, das chuvas, dos ventos e outros eventos climáticos.

Harmônio - Instrumento musical de teclados e foles que substitui o órgão, no qual os tubos são trocados por palhetas livres ou acionados de forma elétrica.

Jogral - Declamação de poemas ou canções feitas por um coro, que altera entre o canto e a fala. São bastante comuns como um gênero de peça teatral.

Materialidade na arte - Qualidade daquilo que é material e que dá consistência física a uma obra de arte.

Meandro - Caminho tortuoso do percurso do rio. Memorabilia - Agrupamento de diferentes objetos dispostos de forma organizada, capazes de desencadear memórias e lembranças de um passado nostálgico.

Pacas - Gíria utilizada para indicar exagero, excesso, intensidade.

Pictórico - Elementos que são representados visualmente; o que diz respeito à pintura.

Pneumoconiose - Doença pulmonar causada principalmente pela inalação de poeira e/ou substâncias agressivas ao corpo humano.

Veraneio - Período de férias ou recesso que acontece no verão; geralmente é atrelado ao período ou temporada em que se passa no litoral para descanso.

Visagem - Visão de fenômeno sobrenatural.

Xilogravura - Técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre o papel ou outro suporte adequado.

Contexto

A região de Criciúma, também conhecida como região carbonífera, se desenvolveu principalmente pela extração do carvão mineral no início do século XX. O crescimento econômico e urbano eclodiu entre as décadas de 1940 e 1960. À medida que o carvão se tornava símbolo de desenvolvimento, também começou a trazer inúmeros problemas ambientais, a destacar a degradação do solo e a poluição do ar e da água, além dos desabamentos das minas, as péssimas condições de trabalho dos mineiros, a reivindicação de direitos trabalhistas, entre outros.

O movimento sindical ganhou evidência e, durante o período de ditadura militar, o prédio do Centro Cultural Jorge Zanatta, que antes pertenceu ao Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM e ao Conselho Nacional do Petróleo - CNP, onde hoje está sediada a Fundação Cultural de Criciúma, serviu como cárcere na década de 1960. Muitos desses fatos influenciaram a poética da maioria dos artistas contemporâneos criciumenses, como é o caso de Edi Balod.

Além da extração do carvão mineral, Edi tem como referência o litoral araranguaense. Araranguá é um município do extremo sul catarinense, localizado a aproximadamente 42 km de Criciúma. Popularmente conhecida como “cidade das avenidas”, é cortada por um rio homônimo. Suas águas percorrem boa parte do território local, até chegar ao bairro Ilhas – ao lado da praia do Morro dos Conventos – e desembocar no mar. A barra do rio Araranguá, além de ser um atrativo turístico, faz parte do imaginário, da história e da realidade dos pescadores locais e habitantes da cidade. Em Ilhas, também encontramos a balsa que, durante anos, é um dos meios de transporte mais acessados pelos moradores e que liga o resto da cidade com o bairro.

Morro dos Conventos é, de longe, o ponto turístico mais importante de Araranguá, uma praia de águas limpas, com uma montanha rochosa que abriga um farol e um hotel sobre ela. O artista, desde criança, frequenta esses espaços e foi amplamente inspirado em sua trajetória artística por cada falésia citada.

Po Tica

Balod transitou pela escultura, música, desenho, poesia, pintura, cerâmica, instalação artística, assemblage, apropriação, [xilo]gravura, artes cênicas, performance, cinema, contação de histórias, entre outras linguagens, além de atuações técnicas como curador e avaliador de editais de Arte e Cultura. Muitas dessas produções são resultados de anos de coleta [i]material provinda da extração do carvão mineral na região carbonífera sul catarinense, da Ferrovia Tereza Cristina, dos movimentos sindicais, dos mineiros e das minas, além dos pescado- res, do imaginário litorâneo, das artesanias e dos saberes culturais dos moradores dos bairros Morro dos Conventos, Barranca e Ilhas em Araranguá/SC, e nos municípios de Balneário Rincão/SC, Jaguaruna/SC e Laguna/SC.

Pregos, dormentes, picaretas, madeiras, capacetes, vagonetas, carvão mineral e vegetal, canoas, fragmentos de tarrafas e redes de pesca, cordames, fibras, cestarias, material lítico, tecidos, palhas, peças religiosas, lampiões, entre outros, deslocam-se do seu contexto inicial e assumem-se como arte na poética de Balod. Objetos que constituem as tramas pessoais do artista e se findam em propostas desenvolvidas como parte de uma autocuradoria e que ainda envolvem registros textuais, imagéticos e orais.

O Atelier Casa Arte Ana Frida Antiques, local onde reside e ficam expostos os trabalhos de Balod em Criciúma/SC, é uma espécie de ateliê-galeria que miscigena a história da arte sob um viés, muitas vezes, problematizador e, ao mesmo tempo, expressivo. Suas instalações se compõem de peças com ou sem nenhuma alteração, que foram produzidas e utilizadas em outra época com outras funções, escolhidas a partir da intencionalidade do artista.

Conceitos

Palimpsesto contemporâneo

Termo atrelado aos papiros e pergaminhos que tinham seu conteúdo textual primitivo raspado, sendo reutilizados durante a Idade Média na Europa. No caso de Edi Balod, na contemporaneidade, relacionamos – em sentido figurado – o conceito com as produções e apropriações que o artista faz, refaz e/ou reorganiza em um mesmo suporte com ou sem nenhuma alteração. Trata-se de uma provocação conceitual que dialoga com a intencionalidade e o desprendimento do artista perante a reutilização de determinados suportes para mais que uma proposta.

Assemblage

O termo assemblage, incorporado às artes em 1953, foi concebido pelo pintor e gravador francês Jean Dubuffet (1901-1985), para fazer referência a trabalhos que, segundo ele, “vão além das colagens”. O princípio que orienta a feitura de assemblages é a “estética da acumulação”: todo e qualquer tipo de material pode ser incorporado à obra de arte (ASSEMBLAGE, Itaú Cultural, 2023).

Artista-coletor

Termo atrelado ao processo de criação e seleção de Edi Balod perante seu percurso poético. Além da coleta intrínseca aos objetos, materiais e suportes encontrados, doados e percebidos ao longo de sua trajetória, percebemos a coleta de histórias, registros de imaterialidades e artesanias locais.

Imagem I

Lua azul, 2018. Edi Balod e Gilberto Pegoraro. Acrílico s/ tela, 78 x 60 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis.

Imagem II

Morro por ti de amores, s/d. Edi Balod. Acrílico s/ tela, 120 x 90 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis

Imagem III

Canoa de Ilhas, s/d. Edi Balod. Assemblage, 120 x 90 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis.

Imagem IV

Trilhos, s/d. Edi Balod. Instalação, 220 x 27 cm. Acervo particular. Foto: Aionara Preis