Consciência & Liberdade 28 (2016)

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Joaquín Mantecón

Mas existe uma cristianofobia ainda mais subtil e deletéria que se desenvolve nos países ocidentais. Infelizmente, é difícil de identificar como tal, porque se trata de um fenómeno aparentemente neutro. Não há dúvida de que a maior parte da elite intelectual, cultural, política e económica no Ocidente se sente estranha à esfera religiosa, que considera como um obscuro resíduo de um passado felizmente obsoleto, quando não se coloca particularmente como oponente à religião cristã e a tudo o que a cultura cristã significa. As causas são, provavelmente, os preconceitos herdados das Luzes e da Revolução Francesa, assim como dos sistemas filosóficos idealistas e do marxismo-leninismo. Estas correntes ideológicas conservam os preconceitos anticristãos e defendem um modelo de sociedade onde a religião aparece como absolutamente residual. Procuram a sua justificação última no princípio da tolerância, conhecido como um relativismo absoluto, tornado, paradoxalmente, num novo dogma oficial. Podemos situar nesta linha as medidas administrativas e legislativas com um conteúdo muito ideológico que, sem responder a uma necessidade social muito clara, impõe modelos de conduta, aparentemente neutros, mas que se traduzem por disposições diretamente atentatórias das convicções de um setor importante da população. Faço alusão às leis que são a expressão da ideologia do género. Mesmo se forem legais do ponto de vista formal e material, o facto de elas não permitirem um eventual objetor de consciência supõe (subentende) uma falta de sensibilidade preocupante quanto ao sentido real da liberdade de religião e de crença. Por outro lado, convém lembrar que não parece aceitável que o Estado assuma, mesmo em aparência, a menor ideologia, seja qual for a sua orientação. O Estado não tem religião oficial, mas também não tem ideologia oficial. A época das ideologias oficiais chegou ao fim com o naufrágio do nazismo, do fascismo e do comunismo. Foi sublinhado muito justamente que impor este tipo de medidas não aumenta os limites da liberdade, como afirmam os seus autores; pelo contrário, na prática, entram valores fortemente enraizados na sociedade impondo aquilo que muitos consideram como anti-valores. Com efeito, afirmar que se trata de posições neutras aparece como um sofisma inaceitável uma vez que o resultado é uma clara divisão da sociedade. Em definitivo, a Espanha conhece também manifestações de cristianofobia, que eu qualificaria como cada vez mais numerosas. Por um lado, as do tipo claramente anticlerical, agressivas e escandalosas, sob a capa de uma dita liber-


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