Consciência e Liberdade 26 (2014)

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Monsignor Pietro Pavan

“…a verdade não se impõe de outro modo senão pela força dessa mesma verdade que penetra nas almas ao mesmo tempo suave e fortemente”. (Vaticano II, Documentos Conciliares, 2ª edição, 1967, União Gráfica, pág. 502). A adesão total à verdade exige um ato de amor que apenas pode ser cumprido livremente; e a harmonização da vida, em todas as suas manifestações com a verdade conhecida, não tem valor humano senão se for cumprida não sob o efeito de pressões constrangedoras do ambiente, mas na sequência de decisões pessoais. É fácil de compreender quanto tudo isso exige que os seres humanos sejam isentos de coerção na sua vida social, para estabelecerem as suas relações multiformes com a verdade. É uma exigência enraizada na própria natureza destas relações independentemente da forma como cada um as estabelece. Assim – pode ler-se no parágrafo citado – o direito à imunidade perante qualquer pressão contínua a persistir mesmo que se abuse dela; no entanto, o seu exercício pode ser limitado ou impedido se, por um abuso, se altera a ordem pública como o notifica o nº 7 da Declaração. “Todos os homens, segundo a sua dignidade, uma vez que são pessoas, isto é, seres dotados de razão e vontade livre e, por isso mesmo, de responsabilidade pessoal, são impelidos por sua própria natureza e obrigados moralmente a procurar a verdade, antes de mais a que se refere a religião. Têm também a obrigação de aderir à verdade conhecida e ordenar toda a sua vida segundo as exigências da verdade. Mas os homens não podem satisfazer esta obrigação psicológica e ao mesmo tempo a imunidade de coação externa. Portanto, o direito à liberdade religiosa não se funda nas disposições subjetivas da pessoa, mas na sua própria natureza. Pelo que o direito a esta imunidade permanece também naqueles que não satisfazem a obrigação de procurar a verdade e aderir a ela; e o seu exercício não pode ser impedido desde que se guarde a devida ordem pública.” (Vaticano II, Documentos Conciliares, 2ª edição, 1967, União Gráfica, pág. 503.) O imediatismo e a natureza da relação entre a pessoa humana e a verdade se bem que impliquem, como temos constatado, a exclusão dos meios coercivos a fim de que esta relação possa ser corretamente estabelecida, revelam, também, a grandeza do ser humano que exige abrir-se à verdade, à luz da verdade e que progrida sem cessar no conhecimento da verdade até que chegue a abrir-se diretamente sobre a Verdade que é o próprio Deus, Aquele que “fez penetrar nas suas narinas um sopro de vida” (Génesis 2:7): “Tu fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração não estará tranquilo se não repousar em Ti” (Santo Agostinho, Confissões, 1).


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