Jornal 5 estrelas jan2021

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Por David Fialho

SABIA QUE...

Sabia que... só consigo estar a escrever este texto graças ao medo? É verdade, em muitas e diferentes situações, o medo já me informou de perigos e preparou-me para me proteger de muitos riscos e é graças a ele que, deste modo, consigo estar aqui. Quem está a ler este texto, também só o consegue fazer graças à proteção do medo e dos seus sinais de alarme protetores. Hoje vamos falar sobre o medo, que é uma resposta normativa e autoprotetora que nos prepara para nos relacionarmos com diferentes ameaças. A verdade é que alguns dos medos da infância e juventude, associados a situações e objetos que não são perigosos, são transitórios, de intensidade moderada, específicos de uma determinada fase de desenvolvimento e são evolutivos e normativos. Estamos a falar do medo de estranhos, da separação dos pais, do escuro, de monstros, de barulhos, de falhar, de avaliações, entre outros... Então, porquê falar de medo, se ele tem uma função protetora e se é esperado em determinadas idades?? A verdade é que nós também temos medos que não são normativos, que são prolongados, que surgem com demasiada intensidade e frequência, assim como são manifestados de modo desproporcional ao risco ou até sentidos em situações em que o perigo não existe, como são exemplo os medos do escuro, de espaços fechados ou de falar em público. A verdade é que o medo, associado a ansiedade e a preocupações, pode ter efeitos significativos no nosso bem-estar, nas nossas rotinas e no nosso desenvolvimento, sendo este o grupo de problemas que surgem com maior frequência nas consultas de saúde mental infantil.

De outro prisma, com frequência, situações e contextos seguros são evitados ou enfrentados com grande nervosismo, fazendo a criança perder situações agradáveis ou potenciadoras do seu crescimento adequado. Para lidarmos melhor com o medo, temos, primeiro, de o conhecer um pouco melhor. O medo manifesta-se através de três respostas: as cognitivas (os nossos pensamentos), as fisiológicas (aumento do ritmo cardíaco, sudorese, náuseas, alterações no ritmo de respiração, sensações de falta de ar, calafrios, tonturas, etc.) e as comportamentais (enfrentar, fugir, evitar, esconder). Quanto aos pensamentos, o medo e a ansiedade vêm associados a pensamentos de preocupação, a hipervigilância, a perceções antecipatórias de ameaça, a avaliações negativas, a ruminações de fuga e a preocupações frequentes, até com os próprios sintomas físicos do medo ou da ansiedade. Então, a pessoa an-

siosa tem tendência para prestar atenção a informação mais negativa, antecipando danos e dificuldades, mesmo quando estes não são prováveis. Os mais ansiosos e inseguros são indivíduos que antecipam catástrofes e que se percebem incapazes para encarar e ultrapassar problemas/perigos/dificuldades. Muitas vezes, de um evento negativo surgem generalizações, como são exemplo os alunos que, por terem uma negativa num teste, criam a regra de que não vão ser capazes de tirar boas notas nas próximas avaliações. Noutras situações, a informação é tratada de forma seletiva, sendo que, em 10 testes, um aluno tem uma negativa e 9 positivas e acaba por valorizar mais a negativa, negligenciando o sucesso, o que o faz prever dificuldades. Como estamos a ver, os medos são muitas vezes enganadores e alimentados por pensamentos irrealistas que, normalmente, surgem de modo automático. Quando tentamos perceber a etiologia do Medo, ou seja, a origem e as causas do medo, percebemos que este é explicado pela conjugação de fatores biológicos e genéticos com outros ambientais (modelos, experiências, aprendizagens). 31


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