Trívio n.º 8, março 2018

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DE LISBOA A GOA

A noite já ia longa, naquele dia de junho, e eu estava no meu quarto, de janela aberta, a fazer as malas. Arrumava roupa, máquinas fotográficas, carregadores e protetor solar. No dia seguinte, ia viajar de cruzeiro para a Índia. Estava tão entusiasmado! O Taj Mahal, a comida, a cultura! Mal podia esperar pelo dia seguinte. De manhã, apanhei o barco e, duas semanas depois, chegámos ao porto de Goa. Dali viajaria de comboio até

Nova Deli. Entrei no comboio e começámos a andar. De repente, ouvi um estrondo vindo da parte da frente do comboio. Levanteime, olhei pela janela e vi meia dúzia de homens a entrar numa carruagem e a saquear o vagão principal. Como tantos outros, fugi. Consegui esconderme atrás de uns arbustos ali perto. Queria ajudar as pessoas que não tinham conseguido sair, mas não pude fazer nada. Passei noites e noites a imaginar e rever o acontecimento na minha cabeça. Não conseguia dormir depois de ver aquele massacre. Decidi que a viagem não podia continuar comigo assim. Voltei para Goa, para tentar arranjar transporte para voltar a Portugal, mas o próximo barco era só no dia seguinte.

Apanhei-o e lá me levou até Ravena, na Itália. A partir daí, iria de avião para Lisboa. À noite, uma terrível tempestade abateu-se sobre a região. O aeroporto ficou devastado. Decidi ir de carro. Aluguei um e consegui viajar até Nice, na França. Lá, adoeci e tive de esperar uma semana, até me sentir melhor. Arranjei boleia até Madrid, de onde saí navegando no Tejo. Finalmente, três semanas depois de ter partido, voltei a Lisboa. Aí lembrei-me da beleza de Nice, dos edifícios lindos, as ruas serpenteantes, as catedrais e os monumentos. Apercebi-me de que tinha adorado os museus e tudo o resto. Naquela altura, pus-me a pensar: onde vou no próximo verão?

que preferia esquecer. À medida que cresço apercebo-me de como a vida é curta, por um lado injusta, por outro surpreendente. Irei arrepender-me mais do que não fiz do que dos erros que cometi. Mas crescer é mesmo assim, aprender a decidir o que fazer com o tempo que nos é dado. O meu nome é Margarida e isto é uma parte apenas da minha história.

pode ser domado com o tempo. Definitivamente, um defeito que devo amenizar. A máscara faz transparecer uma figura jovem, de espírito livre, que esconde um interesse substancial por problemas que invadem a vida daqueles que se consideram “adultos”. Domina-me, frequentemente, uma necessidade desmedida de intervir e colocar o meu ponto de vista perante assuntos primordiais. Não me considero a típica rapariga banal e, por vezes, fútil, que exibe pensamentos navegantes nas redes sociais. Percebo que, para a maioria, isso seja uma via para o seu próprio reconhecimento público, mas por que não perdurar a interação pessoal? Nesse aspeto, identifico-me com aqueles que ostentam a sabedoria, questionando, constantemente, o vício e a obsessão que se instalam nos tempos modernos. De certo modo, considerome uma pessoa que supera a superficialidade da vida, ao visionar a essência de inéditos momentos que constroem o percurso que guia o destino, podendo ser incerto e instável, mas definitivamente ascendente de felicidade e satisfação.

André Meirinho, 7.º F, ES António Damásio

AUTORRETRATO

Sou apenas uma rapariga que, a cada dia que passa, tenta descobrir o seu papel a desempenhar neste mundo tão misterioso, que julgo grande quando todos me dizem que é pequeno. Vivo com os sentimentos à flor da pele. Sou tímida e sensível, emociono-me com facilidade. Consigo também ser bastante teimosa. Por vezes, não ouço os conselhos daqueles que me desejam bem. Quem me conhece diz que sou ansiosa, que devo viver sem pensar no que o futuro me reserva. Tenho medo de revelar as minhas emoções e sinto que esse medo desgasta as memórias felizes, assim como o mar desgasta as falésias. Tenho um milhão de sonhos no meu coração que acredito que se irão realizar. Todos os minutos passados junto da minha família são mágicos. Afinal é ela que me estende a mão quando tudo parece escuro e me dá força e coragem para seguir em frente e encontrar a luz. Gosto muito de ajudar quem precisa e consigo oferecer sem esperar nada em troca. Acredito que a verdadeira beleza de uma pessoa é invisível aos olhos e o seu valor está na generosidade do seu coração. Gosto de apreciar um bom livro ou filme, especialmente quando a chuva cai e o vento bate furiosamente na janela. Não há nada como estes momentos em que a fantasia nos abre as portas e a realidade se fecha atrás de nós. Muitos acontecimentos marcaram a minha vida, uns felizes e outros

M. Ruiva, 11.º ano, ES António Damásio

Será que a minha existência sobressai neste mar de gente indiferente e alheada da realidade? Bom, embora seja importante ter uma boa reputação perante a visão dos que me rodeiam, prefiro caminhar pela sombra dos pensamentos que vagueiam pelas mentes alheias, mantendo a minha discrição. Apesar do olhar dos outros codificar uma figura com personalidade vincada, esta contrasta com a aparente fragilidade que emana do meu ser. Os nervos que me corroem por dentro, incessantemente, debilitam o meu sistema de defesa, ao testar os meus limites nunca antes explorados. Percebo, agora, a essência das ações que nos definem. Talvez, a adesão à psicologia me tenha auxiliado a crescer, proporcionando-me uma experiência invulgar, possivelmente a mais marcante. De facto, essa evidente preocupação sempre andou de mãos dadas com a rapariga franzina, embora determinada, que se reflete todos os dias no espelho. Os olhos penetrantes, que buscam uma verdade, e a tez pintalgada ressaltam nessa precisa imagem, assim como o breve relevo que percorre a vasta estrada, escondida por largas ondas apagadas, vítimas de um incessante calor intenso. Impressionante, certo? Como algo tão difícil e teimoso,

Inês. G. 11.º ano, ES António Damásio


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