Ágora Jornal 2012 - Ed. 08

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Ágora jornal

Ágora, ideias jornalísticas Guarapuava-PR, 2012 Ed. 08, ano 02

O desenvolvimento dos bairros em Guarapuava O progresso dá os seus sinais. Casarões antigos de madeira dividem espaço com novas construções, modernas e imponentes. Os bairros de Guarapuava crescem, os pontos comerciais se instalam longe do centro e os moradores assistem a esse desenvolvimento com satisfação. p. 8

Juventude e ansiedade: tudo junto, ao mesmo tempo e agora

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Saiba qual é a função do mesário durante as eleições

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Uma taxista, quilômetros de simpatia e amor pela profissão

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Ensaio especial: retratos da vida de cachorros de rua

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Foto: Luciana Grande

Foto: Gabriela Titon


ao leitor

Na companhia das ruas Gabriela Titon

Eles vagam sem rumo, perdidos nessa imensidão de abandono e indiferença. Acuados, sempre acuados. Os menos traumatizados e ariscos se aproximam cautelosamente, mas o receio de que um movimento brutal possa ferir-lhes é mais forte. Retribuem as cenas pacatas

e violentas de desprezo que já presenciaram com latidos de desaprovação quando um humano chega perto. Andam por aí, perambulando sem destino. Caminham entregues a sorte, aguardando ansiosos a compaixão de alguém que lhes dê carinhosamente um pouco de respeito.

Ágora jornal

O olhar triste de alguns denuncia a vida desagradável e o descaso encontrado nas ruas; o ar misterioso de outros revela a esperteza de quem já se acostumou com a liberdade e o risco de viver a Deus dará. Estão ao léu... Reviram lixos, enfrentam a ventania e deixam que o acaso

lhes proteja até que escutem uma voz dizer sutilmente, como na música, “vamos embora, companheiro, vamos”. Nesta edição do Jornal Ágora, foi produzido um ensaio fotográfico sobre cachorros que vivem na rua. Confira as imagens nas páginas 17 a 20. Até a próxima.

“VEJA VOCÊ, ONDE É QUE O BARCO FOI DESAGUAR A GENTE SÓ QUERIA UM AMOR DEUS PARECE ÀS VEZES SE ESQUECER AI, NÃO FALA ISSO, POR FAVOR ESSE É SÓ O COMEÇO DO FIM DA NOSSA VIDA DEIXA CHEGAR O SONHO, PREPARA UMA AVENIDA QUE A GENTE VAI PASSAR” Trecho da música “ Conversa de Botas Batidas”, da banda Los Hermanos.

expediente Departamento de Comunicação Coord. Prof. Edgard Melech Jornal Laboratório Prof. Anderson Costa Editora-chefe da edição 08 Bárbara Brandão

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Redação Ana Carolina Pereira, Bárbara Brandão, Ellen Rebello, Gabriela Titon, Giovani Ciquelero, Helena Krüger, Nathana D’Amico, Katrin Korpasch, Luciana Grande, Mario Raposo Junior, Poliana Kovalyk, Vinícius Comoti, Yorran Barone e Yarê Protzek

Tiragem: 500 exemplares Gráfica Unicentro Contato: (42) 3621-1088 E-mail: jornalagora.unicentro@ gmail.com Download das edições www.unicentro.br/agora e www.redesuldenoticias.com.br

O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro. Curta a nossa página no facebook: http://www.facebook.com/Jornal ÁgoraUnicentro


comportamento

O jovem: novos desafios e papeis sociais COMO A NOVA GERAÇÃO ENFRENTA UM MUNDO VASTO DE POSSIBILIDADES, O EXCESSO DE INFORMAÇÃO E A ANSIEDADE POR VIVER O PRESENTE. Matéria e diagramação: Helena Krüger

A juventude está muitas vezes associada a uma época de descobertas, de diversão, aprendizado e também de muitos desafios. Atualmente, observa-se que há uma tentativa da sociedade em definir e caracterizar a nova geração de jovens, um exemplo são os vários nomes para tentar conceitua-los, como 2.0, Y, Millennials. No entanto, independente das designações, o que se percebe é que há uma mudança no comportamento de uma geração que está inserida em um contexto social específico, que é a cibercultura. As pessoas interagem o tempo todo com novas tecnologias e com a internet. Para o sociólogo frânces, Zygmunt Bauman a sociedade atual estabelece relações e experiências muitas vezes, muito rápidas e efêmeras , como ele diz "Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar". Assim, cabe um diálogo sobre como a juventude se comporta em relação a esse cenário. Com objetivo de responder questões como essas, uma empresa de pesquisas realizou um estudo sobre o comportamento da juventude e produziu um vídeo chamado We all want to be young. (Nós tomos queremos se jovens). Tal material caracteriza a juventude contemporânea como a mais

Foto: Helena Krüger

plural e globalizada da história, e talvez uma das que mais exerça influência nas outras esferas da sociedade. No entanto, o vídeo também alerta para uma outra característica desses jovens, a ansiedade crônica. O acadêmico do 2º ano de História, Lucas Mores, se diz ser ansioso e se sente inserido em todo esse contexto social. Ao comentar sobre a geração a qual pertence, disse não gostar de definições e generalizações, mas diz observar que as pessoas estão mais ansiosas pelo volume de informação e pelo número de possibilidades que oferecem ao jovem. “Os fenômenos demoram para acontecer, não é tão bonitinho gera tensões sociais, não se pode tratar de uma geração como um todo como se não houvesse enfretamento ou resistências a determinado padrão ou modelo”, opina. O psicólogo e professor universitário, Paulo Roberto dos Santos define, primeiramente, o que é juventude a partir de uma perspectiva em que ele diz ser mais coerente com o que vivemos hoje. “Segundo o teórico Sérgio de Paula Ramos, a juventude está relacionada ao início da puberdade até o processo de auto sustentação, tanto no complexo biológico, psi-

cossocial quanto no econômico. Na concepção do teórico deixa-se de ser um sujeito fantasioso que brinca para se transformar em um sujeito mais prático, que sai a busca para tentar entender sobre esse mundo e a si próprio. A partir desse momento, o jovem inicia comportamentos de experimentação, o primeiro beijo, a primeira transa, a primeira atitude arriscada, tudo isso é uma necessidade de viver e com o passar do tempo ele vai adquirindo papeis sociais diferentes”. Ele também explica que a ansiedade está relacionada a vários fatores, entre eles o consumismo, a maneira como se exercem as relações sociais e, ao mesmo tempo, é muito particular, pois depende de cada indivíduo a maneira como se lida com esse sentimento. “Na nossa sociedade quem não tem dinheiro para comprar ou satisfazer seus desejos de consumo, se torna um sujeito, muitas vezes, frustrado. O consumismo é um dos causadores do processo de angústia e ansiedade do ser humano. Como o jovem busca uma identidade, a publicidade vende padrões e modelos, aplicando a felicidade a um produto. A aluna de Serviço Social, Camila Cristina H. Schulze aos dezoito anos diz observar

como a mídia impõe padrões de comportamento e de consumo. “Os jovens de hoje são influenciados por mídias, redes sociais e textos que, direta ou indiretamente, impõe a ditadura da felicidade”, disse a acadêmica Camila. Ela também comenta sobre as vantagens e as crises de ser jovem atualmente. “A geração de hoje tem a vantagem de estar em um dos melhores momentos da história mundial. Muitos jovens não estão ou não querem passar por dificuldades ou sofrimentos por não estarem preparados psicologicamente, então, suas escolhas acabam sendo da forma fácil e rápida para que esse sofrimento não venha a perdurar”. Sobre tal dificuldade em fazer escolhas e enfrentar desafios, Santos explica que são as crises que fazem com que o sujeito, por si só se desenvolva e cresça, apesar de proporcionar angústias e sofrimentos. “A crise gera uma sensação de impotência porque não se tem recursos suficientes para lidar com determinada situação. Muitas vezes, o que vai determinar um jovem que consegue lidar bem com suas crises é se ele conseguiu enfrentá-las na infância e se desde muito cedo os pais pontuaram sobre limites e desafios”, observa.

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Foto: Helena Krüger

Rede sociais e a ansiedade

“ Ao refletir sobre como a internet modifica as relações e a maneira como os jovens interagem com o mundo, observa-se que o excesso de conteúdo faz com que as pessoas aumentem os níveis de ansiedade. O psicólogo exemplifica como esse cenário provoca esse fenômeno. “Suponhamos que você vai ao supermercado comprar uma pasta de dente e precisa optar por duas marcas, só que de repente o funcionário chega no seu ombro e diz que há mais de 70 marcas. Isso gera ansiedade, dúvida e insegurança nas escolhas. Quando você precisa optar por algo, automaticamente, se abre mão de outra coisa, muitas vezes tal decisão pode gerar frustação e o grande número de possibilidades assusta”, diz Santos.

PAULO ROBERTO DOS SANTOS, PSICÓLOGO.

Camila diz que sente essa ansiedade, principalmente, no âmbito profissional. “Sinto, principalmente em relação a escolha da profissão. Um exemplo disso, é querer abraçar várias oportunidades e caminhos ao mesmo tempo. Em questões pessoais, os jovens de hoje tendem a ser mais flexíveis as relações de vitórias e fracassos até por não estarem acostumados ao sofrimento”. É o que explica Santos. “Quando se fala da questão de carreiras e profissões, o jovem pensa que esta decisão chave é fundamental na sua vida e se ele errar vai ser infeliz. Além disso, o nosso campo de relações e possibilidades ficou tão diversificado que essa angústia aumenta.As-

É uma questão problemática, pois vemos o individualismo cada vez mais latente. Vivemos em multidões, mas somos cada vez mais sozinhos. Estamos no meio de um grupo e pensamos de uma forma egoísta”.

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sim temos a tendência de abraçar tudo e não dar conta de nada”. O acadêmico de História também relata sofrer com tal situação. “Eu sou bem ansioso, e acredito que os jovens tem uma vontade de querer fazer tudo ao mesmo tempo, está mais ligado ao excesso a informação, antes não tinha muita opção, os jovens tinham que seguir a carreira dos pais, por exemplo, não tinha possibilidade. A ideia que o mundo está aberto e pode escolher o que quiser causa essa ansiedade”. Ele ainda comenta que a interação via redes sociais cria vínculos muito mais fracos, apesar de fazer com que os jovens se comuniquem mais virtualmente, ao mesmo tempo gera um sentimen-

to de isolamento. “É uma questão problemática, pois vemos o individualismo cada vez mais latente. Vivemos em multidões, mas somos cada vez mais sozinhos, estamos no meio de um grupo e pensamos de uma forma egoísta”. Hoje muito se comenta sobre o poder de atuação e de mobilização dos jovens na internet e por meio das redes sociais. Mores acredita que, infelizmente, na maioria dos casos esses movimentos não são significativos. “Muitas vezes, esses jovens não tem a experiência social sobre o assunto em questão, além de ser muito fácil aderir algo pelo Facebook ou Orkut, por exemplo. São movimentos efêmeros como a maioria das relações sociais na juventude”.

Foto: Helena Krüger

Assim temos a tendência de abraçar tudo e não dar conta de nada”.


Transtornos O psicólogo diz que o jovem deve procurar ajuda quando percebe que não consegue lidar com tal sentimento sozinho. “Eu sempre digo se você tem algo que não aprova em si e isso te impede de ter uma vida plena e feliz e não consegue encontrar uma forma de lidar com essa situação, aó você deve procurar ajuda profissional. Para ele, uma das formas de se amenizar a ansiedade é passar encarar as experiências da vida como um desafio que sempre irá agregar algo. “Cada vez que você se propõe desafiar e enfrentar determinada situação, você vai adquirindo experiência e esse nível de ansiedade vai diminuindo. Pois você vai confiar mais na capacidade de aprender do que na sua capacidade de acertar sempre. É essa preparação para vida, que não vai ser todas as vezes que vou me sair bem é uma postura interessante que acaba aliviando a angústia e apreensão”.

Foto: Helena Krüger

O psicólogo explica, que tal ansiedade e angústia é natural na maioria das vezes, mas é preciso atentar quando tal sentimento passa a incomodar e a impedir o sujeito de realizar certas ações. Segundo ele, tem um ponto natural e necessário, mas quando a pessoa não consegue lidar sozinha com tal problema, o quadro pode se tornar crônico e gerar alguns tipos de transtornos. “As causas da ansiedade são várias, existem coisas que podem contribuir, mas ela não deve ser vista como uma coisa ruim, ela tem a sua função biológica e prática. Porém, as pessoas podem adquirir níveis altos e exagerados, como no chamado de transtorno do pânico em se caracteriza pelo medo de locais públicos, acompanhado de uma sensação de morte.Outros casos podem estar relacionados a stress pós traumático, no campo organizacional existe a síndrome de burn out, situação muito estressante entre outras”.

Fonte: pontoeletronico.me

ANSIEDADE CRÔNICA É UMA DAS CARACTERÍSTICAS DOS JOVENS DESSA GERAÇÃO

INFOGRÁFICO COM AS CARACTERÍSTICAS DAS TRÊS GERAÇÕES DE JOVENS REPRESENTADAS NO VÍDEO “WE ALL WANT TO BE YOUNG”

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política

Trabalhadores nas eleições EM ANOS ELEITORAIS, DIVERSAS PESSOAS SÃO CHAMADAS PELA JUSTIÇA ELEITORAL PARA PRESTAR O SERVIÇO DE MESÁRIO

Matéria e diagramação: Yarê Protzek

Este ano será realizado mais uma eleição municipal. A população com mais de 16 anos poderá escolher um vereador para representar a sociedade na Câmara, além do próximo prefeito. Para que a eleição aconteça é necessário mais do que candidatos e uma urna. O papel dos mesários, população que trabalha durante o dia da eleição, é importante para que a eleição aconteça. Em todos os anos em que há votação para a escolha do próximo prefeito, governador, presidente, etc diversas pessoas são convocadas pela justiça eleitoral para trabalhar de mesários. Além das pessoas convocadas, há também os voluntários que podem se candidatar no site do TRE-PR (Tribunal Regional Elei-

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toral) e preencher um cadastro. explicou o papel do mesário duLogo após de fazer a inscrição, a rante as eleições. “O mesário é pessoa receberá um aviso se par- fundamental nas eleições. Ele vai ticipará ou não como mesário na chegar de manhã, vai inicializar a próxima eleição. urna, atender os eleitores da seção, Em Guarapuava, há cerca de liberar a urna, orientar os eleitores mil mesários ensobre o que potre convocados e dem e que não voluntários dispodem fazer e EM GUARAPUAVA, tribuídos em 233 no final retiram HÁ CERCA DE MIL seções. No mua mídia onde são MESÁRIOS ENTRE nicípio, até esta salvos todos os CONVOCADOS E eleição não foi votos da urna e VOLUNTÁRIOS realizada nenhulevar para o ponma pesquisa para to de transmissaber a porcentasão”. Em relação gem dessas pessoas que atuam no de como é feita a escolha das pesdia da eleição, porém, esta análise soas que participarão nas eleições, será realizada durante a votação a Chefe de Cartório comenta que há um banco de dados da popudeste ano. A Chefe de Cartório da 43º lação que já havia sido convocada Zona Eleitoral, Priscila Gelenski, nos últimos anos, outro com dados

de servidores públicos e o terceiro com nomes de voluntários para a função. “Costumamos chamar o mesmo pessoal, também é feito um pedido de servidores públicos dos órgãos públicos de Guarapuava para serem convocados”. A escolha para a função é feita levando em consideração a idade do eleitor, instrução e se ele está em dia com a Justiça Eleitoral. “A pessoa precisa tem que ter a mínima condição de operar a urna. Geralmente são escolhidas pessoas novas que entendem mais de computador” explica Gelenski. As pessoas que trabalham como mesários têm benefícios como: vale alimentação no valor de R$ 20,00 no dia da eleição, dois dias de folga por dia trabalhado na eleição, critério de desempate em


concursos (quando está previsto no edital do concurso) e, se forem universitários, ganham horas extra-curriculares. Anualmente, existem pessoas que são convocadas e, por algum motivo, não comparecem às eleições. Quem não se apresenta e não expõe a razão da falta é intimado posteriormente às eleições para esclarecer a razão pela qual não apareceu. O juiz eleitoral decidirá se aceita o argumento. Caso for

recusada, a pessoa irá receber uma multa administrativa que varia de R$35,00 a R$350,00 dependendo da condição econômica e justificativa alegada. “Tem coisas que acontecem que a pessoa não pode prevê, ela sofre um acidente e quebra a perna, é um motivo. Mulheres que estão grávidas e nos últimos meses também, ou que está amamentando, ai o juiz indefere essa dispensa”. Gelenski também explica como é suprida a ausência de mesários no

dia da eleição. “São quatro funções: presidente, secretário, primeiro mesário e segundo mesário. Com a falta de algum deles, os demais vão subindo de função, por exemplo, se faltou o presidente o primeiro mesário substitui e assim por diante. O último mesário é escolhido na hora e geralmente são pessoas que aparecem para votar na fila. Então existe essa prerrogativa de ser nomeado na hora, pela necessidade”.

Há a necessidade das pessoas se disponibilizem a ir trabalhar nesse setor. É um trabalho voluntário sem uma restituição financeira, mas o retorno você tem na sociedade, eu acho que vale a pena você se dispor um dia para servir ao Estado ou Município”. M relata que sempre que for convocado participará das eleições. “Gosto de trabalhar nas eleições e quando você faz aquilo que gosta você faz bem feito e com vontade de fazer mais”. O estudante Gabriel Brito Kohler, foi chamado para a atividade desde que fez o título de eleitor, em 2006. “Fui convocado para mesário e participei de qua-

tro eleições. Na última votação para presidente eu fiquei doente e não pude ir. Depois que passou a eleição, justifiquei para o juiz e ele liberou a multa. Meu medo de ter faltado era de ter meu CPF marcado, porque daí você não pode fazer concurso, não dá para fazer conta de banco, então esse era meu medo”. Kohler conta que depois de falar o motivo de sua ausência, ele se comprometeu a ir no segundo turno. “È um trabalho importante, mas não acho muito legal trabalhar como mesário. Tem pessoas que trabalham há muito tempo lá, tem gente que gosta, mas eu preferiria não trabalhar”, conta o estudante.

Convocação Marcos Cesar Santos Moreira, corretor de imóveis, foi convocado para a função de mesário pela primeira vez em 1992. “Chamaram-me para ser secretário e, a partir da segunda convocação pra frente fui presidente da mesa. Participei de todas as eleições depois daquele ano”. Ele conta que nunca tinha pensado em ser voluntário, mas sempre que é requisitado o seu trabalho, está à disposição da Justiça Eleitoral. “Eu vejo que cada pessoa em cada lugar tem uma função e nas eleições não é diferente. Para que ocorram as eleições, para que o processo seja completo é necessário que haja os mesários.

Foto: Yarê Protzek

Gosto de trabalhar nas eleições e quando você faz aquilo que gosta você faz bem feito e com vontade de fazer mais” Marcos Cesar Santos Moreira, Corretor de Imóveis

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cidade

No caminho da descentralização: o crescimento dos bairros em Guarapuava REGIÕES MAIS AFASTADAS DO CENTRO PROGRIDEM E TENDEM A DESAFOGAR A ÁREA CENTRAL DA CIDADE Matéria e diagramação: Luciana Grande Nos últimos tempos, o intenso fluxo de veículos e pessoas no centro de Guarapuava tem causado transtorno e incomodado os moradores da cidade. A falta de vagas para estacionar, as filas nos bancos e o aumento no número de acidentes de trânsito são um reflexo disso. Desde que houve a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os carros zero quilômetro, em maio deste ano, a quantidade de automóveis na área central aumentou e piorou ainda mais essa situação. No entanto, a solução para esse problema, ao contrário do que se imagina, não está no aumento no número de vagas de estacionamento ou no alargamento das ruas do centro, mas sim no desenvolvimento dos bairros. Isso ocorre porque, conforme explica o secretário municipal de

Habitação e Urbanismo da Prefeitura, Francisco Andriata, quando o bairro oferece uma infraestrutura adequada, o morador não precisa se deslocar até o centro para realizar algumas tarefas básicas, como ir ao banco, fazer compras no mercado, adquirir medicamentos na farmácia, dentre outras atividades. Esse crescimento já é notório em alguns bairros da cidade.

Meu bairro, minha vida

Ao percorrer as ruas de alguns bairros da cidade, é possível notar a presença de várias construções, novos pontos comerciais, abertura de filiais de empresas e criação de serviços básicos como agências bancárias e farmácias. O crescimento é visível a olho nu. De acordo com dados da prefeitura, o bairro que tem sido modelo de desenvolvimento em

Guarapuava e deu partida a esse processo é o Bonsucesso. “Esse bairro é um exemplo no sentido de descentralização. O desenvolvimento atraiu bancos, farmácias, mercados... Coisas úteis e necessárias para o cidadão”, comenta Andriata. O secretário explica também que outros bairros que se destacam pelo crescimento são o Trianon, Vila Bela e Vila Primavera. O fotógrafo Diego Obal, morador do Bonsucesso há mais de 16 anos, conta que gosta muito de residir ali e não trocaria por outro local da cidade. Segundo ele, hoje o bairro possui tudo o que ele precisa. “Eu vou para o centro só porque trabalho lá mesmo. Mas não preciso mais vir até o centro pra comer, ir à farmácia, no mercado, no banco, na lotérica, no posto de combustível. As empresas estão

vendo a oportunidade de crescer no Bonsucesso e estão deixando de centralizar as coisas”. Ele comenta que a vinda das empresas trouxe o progresso, principalmente depois que a Avenida Sebastião de Camargo Ribas foi repavimentada e a iluminação do local reforçada. Segundo a engenheira civil Valéria Lustosa, que faz parte da equipe do departamento de Aprovação de Projetos da Prefeitura, o bairro com mais consultas prévias e requerimentos de aprovação de projetos para pontos comerciais é o Bonsucesso. “Há duas agências bancárias novas que foram implantadas lá, que são muito uteis pra desafogar um pouco o centro da cidade. Nessa região é onde a gente percebe mais o crescimento do comércio”. Já no que se refere ao aumento no número de residências, Valé-

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Foto: Luciana Grande

AVENIDA SEBASTIÃO DE CAMARGO RIBAS, NO BAIRRO BONSUCESSO, EXEMPLO DE DESENVOLVIMENTO E AUTOSSUFICIÊNCIA


Fotos: Luciana Grande

NO CENTRO DE CÉLULA DO TRIANON, RUA VICENTE MACHADO, HÁ UMA SÉRIE DE CONSTRUÇÕES EM ANDAMENTO

ria comenta que o bairro com as maiores estatísticas de crescimento é o Vila Bela. Outro bairro que está se desenvolvendo na questão comercial - de forma mais gradativa que o Bonsucesso, mas ainda assim considerável – é o Trianon. Antônio Zago, comerciante e morador do local há quase 40 anos, comenta que de uns 15 anos para cá houve muitas mudanças e desenvolvimento. Ele, que mora na Rua Vicente Machado (considerada um “centro de célula”), conta que, logo que veio embora para Guarapuava, nessa rua só havia casas de madeira. As poucas que ainda persistem até os dias de hoje eram as melhores na época. Hoje, estão a um passo de serem demolidas para a construção de novos pontos comerciais. “Eu notei o início do desenvolvimento por aqui quando vieram mais faculdades e foram implantados novos cursos na cidade, porque isso atraiu muitas pessoas de outros municípios e fez com que os moradores daqui não precisassem estudar fora. Na minha opinião, esse foi um dos fatores decisivos para o crescimento dos bairros e da cidade de uma maneira geral”. Recentemente, Zago ampliou o supermercado que possui no local há 39 anos. Segundo ele, a reforma foi feita porque eles sentiram necessidade em vista ao progresso na região, por isso, era necessário acompanhar. “Eu nunca pensei em abrir filial ou mudar o mercado para o centro. Para mim, o Trianon é um lugar privilegia-

do, não pretendo nunca deixar de morar e nem de ter comércio por aqui”. Como comerciante, ele vê o desenvolvimento como algo extremamente positivo, já que atrai mais pessoas para o local. No papel de morador também não vê problemas, mesmo com o barulho e a sujeira que as construções ocasionam na rua em que mora. “Essas coisas fazem bem, trazem movimento e melhoram a qualidade de vida. É preciso ter paciência com as construções, porque o progresso sempre vem para o bem”.

CADA BAIRRO POSSUI UM CENTRO DE CÉLULA. NO MAPA, ESSES CENTROS ESTÃO DEMARCADOS EM BRANCO.

Avenida Sebastião de Camargo Ribas e na Rua Antônio Losso”. O secretário explica que o poder municipal incentiva a instalação de comércio, além dos centros de célula, também nas vias arteriais (as chamadas avenidas rápidas e com alto fluxo de pessoas e veículos) como a Avenida Manoel Ribas, Moacir Júlio Silvestre e a XV de Novembro, por exemplo. Nestes centros de célula, portanto, os parâmetros de ocupação são diferenciados, para que o comércio possa se instalar em locais

“Notei o início do desenvolvimento quando vieram mais faculdades e foram implantados novos cursos na cidade, isso atraiu pessoas de outros municípios e fez com que os moradores daqui não precisassem estudar fora”. Os centros de célula

Com o intuito de incentivar a instalação de pontos comerciais nos bairros, Andriata explica que em 2006 foi criado o plano diretor do município, época em que o planejamento criou o que foi chamado de “centro de célula”. “Esses centros são regiões onde a prefeitura diagnosticou que havia a tendência da instalação de aglomerados comerciais. Por isso, existe uma política de incentivo a instalação de comércio nesses pontos. No Bonsucesso, por exemplo, o centro de célula é na

estratégicos e atrair os consumidores. Conforme enumera a engenheira Valéria Lustosa, alguns dos incentivos oferecidos para o comércio nesses centros são: recuo frontal menor (para que a construção possa ficar mais próxima da rua); taxa de ocupação maior (esse critério corresponde à porcentagem máxima de construção, na horizontal, permitida dentro de um lote, o que permite um controle do crescimento urbano ou de proteção de áreas ambientais); coeficiente de aproveitamento maior (número que,

multiplicado pela área de um lote, indica o total de metros quadrados que podem ser construídos). Além disso, Valéria explica que na legislação existem exigências para construções de comércio em centros de célula. “Nesses locais a gente exige que sejam feitas calçadas com piso tátil e paver, que são aqueles bloquinhos intertravados. Isso tudo para facilitar a circulação de pessoas. São esses alguns critérios que usamos pra incentivar”. Segundo a engenheira, a ideia do plano diretor com as células era criar pequenos centros em cada bairro para fazer com que os bairros fossem quase que autossustentáveis, com tudo que as pessoas precisam. No entanto, ressalta que esse projeto ainda não foi totalmente desenvolvido. “A ideia dos engenheiros para os gestores públicos era que fosse feito um passeio diferenciado, iluminação especial e mobiliários urbanos que dessem ao local uma cara de centro mesmo, para atrair o comércio. Eu até defendo que nesse centro de célula não poderiam mais ser construídas residências, mas como é algo complicado, ainda é permitido”. Por tais motivos, Valéria acredita que a ideia dos centros de célula pode gerar uma descentralização e, assim, melhorar a qualidade de vida da população. Entretanto, para isso, é necessário que haja um incentivo mais efetivo por parte do poder público. “Se nos próximos anos o poder público incentivar esse planejamento urbanístico especial nesses centros, com certeza vai melhorar a questão do fluxo no

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Consequências e expectativas futuras

Na opinião de Andriata, as principais consequências do desenvolvimento dos bairros em Guarapuava são a descentralização das atividades, a melhoria na qualidade de vida e de renda, a geração de empregos e a concorrência de qualidade. “Eu vejo o desenvolvimento como algo muito positivo. O planejamento existe para que haja incentivo para o comércio em determinadas regiões do bairro, enquanto outras permanecem apenas como áreas residenciais. Há locais onde não são permitidas determinadas atividades para não causar impacto de vizinhança e para que o progresso não seja prejudicial para os moradores”. Já no que se refere às expectativas futuras, o secretário conta que, nos últimos seis meses, in-

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vestidores de shoppings passaram a nutrir um interesse por Guarapuava. Segundo ele, há, pelo menos, quatro grandes grupos de investidores que estão analisando as possibilidades que a cidade oferece. Eles já vieram para cá, fizeram contato, conheceram áreas e demonstraram muito interesse. Agora, estão fazendo o plano de viabilidade dos projetos. “Shoppings precisam de terrenos grandes para serem implantados e áreas assim só estão disponíveis em regiões mais afastadas do centro, nos bairros mesmo. Isso tende a desenvolver ainda mais esses locais”. Outro sinal do desenvolvimento é a chegada de grandes redes de empresas na cidade. Isso incentiva a concorrência, o que reflete em crescimento e aprimoramento do comércio. “Com a instalação de um shopping, por exemplo, muitas pessoas de fora serão atraídas pelas oportunidades e Guarapuava poderá, finalmente, se consolidar como polo regional. Porque hoje ainda carece de determinadas estruturas pra que se torne mesmo um polo forte”.

Foto: Luciana Grande

centro e melhorar a qualidade de vida da população. Até porque as pessoas não conhecem essa ideia, então, às vezes, os comerciantes não querem se instalar num local que não é atrativo”.


há tempos Na editoria “há tempos”, a equipe do Ágora irá encontrar pessoas que apareceram nas linhas dos jornais guarapuanos há pelo menos 5 anos. Nesse espaço, daremos voz novamente a essas fontes e personagens do passado, e contaremos o que o estão fazendo hoje.

Comércio de Guarapuava se consolida como pólo regional SAIBA QUAIS MUDANÇAS OCORRERAM PARA QUE ISSO SE TORNASSE REALIDADE E ATRAÍSSE DIVERSOS INVESTIDORES PARA A CIDADE.

Matéria e diagramação: Bárbara Brandão O Diário de Guarapuava noticiou no jornal do final de semana de 17 e 18 de julho de 2004, o crescimento comercial da cidade naquele ano. Na matéria, o Presidente da Acig ( Associação Comercial e Empresarial de Guarapuava), Júlio Agner, informou que até o mês de julho daquele ano foram abertas 136 novas empresas, sendo que 52 delas haviam sido inauguradas até o mês de maio. O Jornal informou ainda, que segundo Júlio, havia um grande incentivo comercia no setor primário, sendo benéfico para o comércio de Guarapuava. Além disso, os empresários estavam investindo em infra-estrutura para que houvesse que o comércio de Guarapuava torna-se referência na região. Oito anos após essa matéria, Eloi Mamcasz, atual Presidente da Acig informou que muita coisa mudou. As primeiras iniciativas que mudaram o contexto comercial está relacionado ao movimento educação da cidade. “Nesses últimos anos houve uma consolidação de Guarapuava como pólo acadêmico. O reconhecimento de alguns cursos pelo MEC, as três faculdades

particulares instaladas aqui e a vinda da UTFPR, fizeram grande diferença para o comércio”. Com o crescente número de universitários mudando pra a cidade houve uma movimentação dos próprios empresariados para que pudessem atender essa parcela da população. Referente uma mobilização no setor da região de Guarapuava, localizada a uma distância de 60 quilômetros das cidades mais próximas, todas com um número menor de habitantes fez de Guarapuava também referencia em outro ponto. De acordo com o Eloi isso foi benéfico. “Aproximadamente, 40 ônibus chegam a cidade todos os dias com pessoa que vem buscar tratamentos na área da saúde e o comercio acaba sendo condutor. As pessoas vem ao médico, mas se alimentam aqui e aproveitam para comprar presentes”. Com o intenso movimento no comércio e consequentemente na economia da cidade. Guarapuava também se tornou uma macro região, com isso cresceu o número de empresas investindo na cidade. O Presidente da Acig lembrou que não houve um planejamento para esse avanço. “ Nós tivemos que nos adequar essas mudanças

da população sem programação. Algumas coisas precisavam ter sido planejadas com mais calma, as pessoas que vem pra cá também buscam atrativos, intretenimento. Hoje nós precisamos explorar isso em conjunto através de entidade e órgãos públicos”. Para os próximos anos, as perspectivas são ainda melhores, mas precisam ser planejadas. “Esse crescimento comercial é

um movimento é autônomo, mas depende de nós pra que as coisas continuem avança.Nós não queremos declínio, mas para isso precisamos de planejamento, precisamos pensar na cidade. Nunca se houve um tão grande incentivo para o empreendedor, a lei da pequena empresa tem favorecido para isso, para que todas as empresas se formalizem. Isso sempre terá reflexo no setor comercial”.

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enquete

foi bem, foi mal

Você é a favor ou contra a greve nas universidades federais? Enquete: Gabriela Titon

A mulher nas eleições

Em maio, teve início uma greve que chegou a contar com a adesão de 57 universidades federais. Por um lado, há quem concorde com as reivindicações salariais dos docentes. No entanto, milhares de alunos que ficaram sem aula por

Priscila Koteski Ferreira

meses foram prejudicados pelo movimento, causando diversos transtornos. Confira os comentários sobre a greve em instituições federais de ensino superior deixados na página do Jornal Ágora no Facebook.

Acredito que cada luta deve ser reconhecida. A greve tem um embasamento e não deve ser tratada como bagunça. Entretanto, não se deve esquecer que os alunos dependem dos professores, mas eles forem assistidos de acordo com a grade curricular sem extrapolar o período do curso, não há razão para não se apoiar a paralisação, pois é uma luta digna!

Eu acho a greve legítima. Contudo, os acadêmicos devem ser compensados de alguma maneira, seja repondo as aulas perdidas ou através de outras atividades.

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Em relação a campanha de 2008, a participação de mulheres nas eleições deste ano para cargos de legislativo e executivo somam uma crescimento de 40%. Também se destacam quando o tema é o eleitorado em Guarapuava, 52,2% dos títulos pertencem ao gênero feminino. Os homens resumemse a 47,7% de eleitores.

Acidentes de trânsito têm mais jovens envolvidos O Departamento de Trânsito do Paraná (Detran) divulgou que o maior grupo de envolvido em acidentes de trânsito em Guarapuava são jovens. As ocorrências registradas entre janeiro e julho de 2012, somam um total de 1.113, sendo que 48% delas possuem entre 18 a 29 anos. O Detran-Pr informou ainda, que os homens estão em maior número quando se refere a vítimas pelo trânsito. Foram 184 homens e mulheres 60.

Internet livre Thomas Morgado

Janaina Nunes

UM RESUMO DO MELHOR E DO PIOR DAS ÚLTIMAS SEMANAS

Se eu pensar somente como acadêmica, eu não iria querer a greve, iria atrasar as aulas e sairia prejudicada. Porém como uma professora comentou a alguns dias, é direito deles, assim como tantas outras categorias querem. Aluno que acha que o professor está errado em reivindicar seus direitos, deveria realmente deixar o meio acadêmico. Cansa ver a galera que só pensa em si mesmo. Chegamos até ao ensino superior, sim tivemos alguém que nós pegou pela mão e apontou o caminho. O mundo está com opiniões dividas, mas quando dizem que os professores não querem trabalhar por isso fazem greve deveriam lembrar, que não é somente o salário que está em voga, temos a estrutura da universidade.

A Prefeitura Municipal disponibilizou internet gratuita para todos os bairros de Guarapuava, incluindo os distritos de Entre Rios e Palmeirinha. A ação faz parte do programa “Acesso Livre”, e antenas foram instaladas em pontos da cidade para alcançar toda a população.

Panfletos no chão Como nas eleições anteriores, as ruas da cidade ficam tomadas pela grande quantidade de material sobre os candidatos à eleição. Além disso, os cavaletes tomam os lugares dos pedestres no meio da calçada, dificultando o tráfego.


perfil

Na editoria Perfil, as reportagens buscam mostrar as facetas guarapuavanas. Em cada edição, conversaremos com alguém da população, para saber sua história, sua rotina, suas ideias... Afinal, para conhecer nossa cidade, é importante conhecer as pessoas que a movimentam.

Simpatia pelas ruas HÁ 20 ANOS, MARLENE PERCORRE QUILÔMETROS PARA LEVAR SEUS PASSAGEIROS AOS DESTINOS DESEJADOS. SEMPRE SORRINDO, ELA DEIXA TRANSPARECER COM ORGULHO O AMOR PELA PROFISSÃO Matéria e diagramação: Gabriela Titon Fotos: Gabriela Titon APESAR DO PRECONCEITO ENFRENTADO NO INÍCIO, HOJE A TAXISTA TEM UMA BOA CLIENTELA, FORMADA PRINCIPALMENTE POR MULHERES

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nhas compridas vermelhas e cabelo pintado de loiro são as marcas registradas da primeira mulher a se aventurar na profissão de taxista em Guarapuava: Marlene Galvan. Com 20 anos de experiência, ela tem clientela fiel, formada principalmente pelo público feminino. As mães também confiam nela para levar os filhos à escola ou buscá-los em festas. “Sendo mãe e avó, cuido deles como se fossem meus próprios filhos”. No início, a gaúcha que se mudou para o Paraná ainda jovem encontrou quilômetros de preconceito a ser superado pelas ruas. Ela lembra que passou por situações desagradáveis no trabalho – e não foram poucas. “Uma vez, um casal abriu a porta e a mulher disse ao marido ‘não, não vamos pegar esse táxi’”. Hoje, ela incentiva quem está começando e acha que mais mulheres deveriam seguir seu exemplo. Aos principiantes,

um conselho de veterana: nessa área, é preciso ter cautela e andar no caminho certo. Marlene, que fica no ponto da Lagoa das Lágrimas todos os dias, fez muitos amigos em duas décadas de corridas, já que os clientes são tratados com simpatia e consideração. “Sempre falo alguma palavra de conforto, porque chega mais gente triste do que alegre”. Também há quem pense que ela é detetive, mas Marlene prefere carregar em silêncio tudo que presencia. “Tenho que fingir que não vejo nada”. A sensibilidade da taxista faz com que ela consiga algo difícil: conquistar a confiança e o carinho dos passageiros, ao invés de simplesmente realizar uma prestação de serviço. “Não considero meu cliente só um usuário de táxi, considero pessoas que falam coisas boas para mim, e eu sempre tenho uma palavra boa para eles. Eu me preocupo muito”. Apesar do salto alto, a vaidosa

taxista também sabe fazer força quando é necessário. Trocar um pneu, por exemplo, tornou-se tarefa fácil para Marlene. Ela reconhece que a profissão é arriscada, mas nunca teve problemas – talvez por sua fé, perceptível pelo terço pendurado no espelho interno do automóvel. Dentro do carro, seja com alguma emissora de rádio sintonizada ou um CD tocando,

“Sempre falo alguma palavra de conforto, porque chega mais gente triste do que alegre” o repertório é focado em música sertaneja e gauchesca, seus estilos favoritos. “É isso que o guarapuavano curte também”. Sua jornada principal é durante o dia, mas os passageiros podem ligar em seu celular a qualquer horário. “O cliente não gosta

que você diga não. Tem que estar disponível”. Seja para distâncias curtas ou longas, ela está sempre “na área” – e prefere viajar a dirigir no perímetro urbano. O marido de Marlene, que já faleceu, era taxista e apoiou-a para começar no ramo. Sua família também a incentiva, embora às vezes ache que ela trabalha em excesso. Esse possível exagero, contudo, tem justificativa: a companhia das ruas e estradas é o jeito encontrado para afastar a solidão – sua filha, seu neto e os demais familiares moram em outras cidades. “Enquanto fico no táxi está tudo bem. De noite, a solidão pega”. Ela conta que vai se aposentar em breve, no entanto, batalhadora que é, não abandonará a profissão. O amor pelo trabalho é tamanho que quando Marlene ouve a pergunta “o táxi é a sua segunda casa?”, pensa alguns segundos e responde com ar de quem está grata pelo que conquistou: “não, é mais o táxi mesmo do que a própria casa”.

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versus GABRIELA TITON

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Uma comédia sem graça: por mais absurdo que soe, essa é a constatação inicial sobre a nova série protagonizada por Charlie Sheen, Anger Management. As piadas e o humor fácil de Two and a Half Men continuam, a diferença é que dessa vez o programa não consegue captar a atenção do espectador. Por sorte, cada episódio dura cerca de 20 minutos. Quando vi o primeiro, percebi que nada de surpreendente aconteceria nos próximos... E a previsão foi concretizada: nada instiga o público a perder tempo com a superficialidade da atração. Na mesma linha do riso, ao ser comparado com os consagrados The Big Bang Theory e Modern Family, por exemplo, o seriado em questão perde nos quesitos inteligência, criatividade e atuação. Apesar de se classificar como humorístico, Anger Management é entediante, já que não tem nada de inovador. Ao contrário: tudo nele é mesmice.

GABRIELA

YORRAN

YORRAN BARONE

Anger Management, que proporcionou a volta do polêmico Charlie Sheen à telinha, não agradou. Apesar de primeira cena promissora, na qual o protagonista traz a ficção um episódio passado, variados fatores resultaram em tal status. Primeiro, a relação entre as personagens é caracterizada pelo atual estágio das sitcoms, ou seja, um humor fraco, forçado e que não foge do lugar comum. E nessa forçassão de barra que reside o segundo defeito do seriado. Muitas vezes, algumas atuações se confundem. Atores designados aos papéis dos pacientes se parecem com palhaços de circo, causando certo constrangimento. Por fim, vemos em Sheen (preso a sua identidade de Two and a Half Man e de sua própria vida) um protagonista que apostou em seu carisma e peculiaridades a fórmula errônea do sucesso. Portanto, assistam pela curiosidade, mas com pouca esperança de uma eventual simpatia.

A série Anger Management (Tratamento de Choque) é uma adaptação do filme homônimo, de 2003. Protagonizado por Charlie Sheen (que atuou em Two and a Half Men por oito temporadas), o seriado mostra o ator como um terapeuta de mesmo nome, especializado em controle de raiva. Ele atende um grupo de pacientes em sua casa, e realiza um trabalho com prisioneiros. Charlie era jogador de baseball, mas deixou a carreira devido aos seus próprios problemas de raiva. Agora, ele supera as dificuldades do atual trabalho, além de lidar com a ex-esposa, a terapeuta e a filha de 13 anos.

indicações

LIVRO: A SEGUNDA VEZ QUE TE CONHECI AUTOR: MARCELO RUBENS PAIVA Um jornalista bem sucedido se torna, quase sem querer, um “cafetão” após o término de seu segundo casamento. Porém, vê sua nova rotina abalada com o reaparecimento da primeira mulher.

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ÁLBUM: BORN TO DIEPARADISE EDITION ARTISTA: LANA DEL REY O novo álbum de Lana chegará às lojas em 12 de novembro. A nova versão de “Born To Die”, que já está em pré-venda no iTunes, trará nove músicas novas, além das que já fazem parte de seu primeiro álbum.

LIVRO: CONTOS PLAUSÍVEIS AUTOR: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Num misto de histórias, contos, fábulas e pensamentos cotidianos, esse livro se estrutura a partir de uma combinação de obras em prosa de um dos principais autores brasileiros de todos os tempos.

ÁLBUM: EL CAMINO BANDA: THE BLACK KEYS A dupla americana de blues-rock lança seu novo projeto, sem grandes mudanças ou inovações. Mas isso não quer dizer que seja ruim. “El Camino” matém o padrão dos outros álbuns da banda e traz ótimas canções.


entrevista

Laboratório de História Ambiental e Gênero desenvolve ações junto a Unicentro ENVOLVIDOS NO PROJETO REALIZAM PESQUISAS, GRUPOS DE ESTUDOS, DENTRE OUTRAS ATIVIDADES LIGADAS AS TEMATIVAS. Matéria:Yorran Barone

O LHAG trabalha com três linhas de pesquisa. História Ambiental, Ciência e Natureza; História Ambiental e Desastres; História Ambiental Gênero e Ciência. Quais os motivos para a escolha destes temas? “Buscamos esta variedade de temáticas para aumentar os espaços de pesquisas acadêmi-

cas. Apenas uma linha torna a maioria das pesquisas parecidas, um estudo fechado. Cada aluno tem esta possibilidade, dentro da história ambiental ou do gênero, de aumentar a possibilidade de análise teórica, fugindo de um único nicho. Até o momento, houve mais eventos relacionados à história ambiental, portanto houve maior divulgação de ações desta área. Mas os estudos em gênero, em nosso grupo, se equiparam a primeira linha citada”. A linha de pesquisa voltada para a História Ambiental e Desastres é única em todo o cenário nacional. O que lhes representa este ineditismo? Primeiro que é um desafio muito grande, devido à baixa quantidade de interlocutores. Contudo, há uma vantagem em ser pioneiro, pois iniciamos com pesquisas desta linha. Atualmente, buscamos agregar o conhecimento de outras áreas, como Geografia e Biologia, para maior conhecimento do assunto. No ano passado, trouxemos um professor dos Estados Unidos para aprendermos mais com esse nível de pesquisa. É um campo pequeno, mas percebemos que os estudos caminham nesta direção. Deste modo, o desenvolvimento teórico é de suma importância para a Unicentro”.

Foto: arquivo pessoal

Desde abril, a Unicentro conta com o LHAG, o Laboratório de História Ambiental e Gênero. Este espaço surgiu com o interesse de congregar pesquisa, ensino e extensão nas áreas de História Ambiental e Gênero, tanto de maneira isolada como convergente. Entre as atividades desenvolvidas, figuram pesquisas de Iniciação Científica, Trabalhos de Conclusão de Curso de História, pesquisas em nível de Pós-Graduação (mestrado) da Unicentro, além de estudos individuais, encontros de discussão de textos ligados aos respectivos temas de interesse do LHAG, interações com especialistas, exibição de filmes e dentre outras ações. Para detalharmos o trabalho dos 14 envolvidos (divididos entre coordenadores, mestrandos e acadêmicos), a equipe Ágora convidou a coordenadora do projeto, professora Luciana Rosar Fornazari Klanovicz, que atua nesta função junto ao professor Jó Klanovicz.

COORDENADORA DO LHAG, PROF. ª LUCIANA KLANOVICZ

Quais as ações do LHAG no que tange o tripé-universitário: ensino, pesquisa e extensão? “Realizaremos um projeto no distrito na Palmeirinha, na qual serão ofertadas oficinas sobre questões relacionadas ao gênero, como violência contra a mulher. Enxergamos um desenvolvimento do laboratório, visando esta atuação junto à comunidade. O projeto na Palmeirinha será o ponto de partida. Portanto, não nos limitaremos aos grupos de estudos e produção de artigos, mas neste trabalho focado, também, no ensino e na extensão”.

No mês de Setembro, ocorreu o 2º Simpósio Internacional de História Ambiental e Migrações, realizado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Qual foi a participação do LHAG neste evento? E os pontos positivos aos acadêmicos participantes? “Trabalhei na primeira edição, em 2010, atuando na organização e o contato com eles ainda é muito grande. Desde a criação do laboratório, pensamos em levar os alunos para participarem e exporem seus trabalhos. Por ser um evento de tamanha mag-

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nitude, na qual os acadêmicos encaram perguntas bem específicas, o crescimento foi enorme. Houve, ainda, mesa redonda entre os coordenadores de laboratórios de história ambiental do Brasil e cada representante detalhou os estudos da área. A Unicentro fora citada como um pólo regional do Paraná, pelo professor da UEL, Gilmar Arruda, um dos grandes pesquisadores deste nicho no país” Como a comunidade acadêmica e interessados podem participar do LHAG? “As reuniões são semanais, sempre às 14 horas, em nossa sala, lotada no Departamento de História. Sempre realizamos discussões de textos relacionados à história ambiental e gênero. Em seguida, disponibilizamos os materiais em nosso blog (http://historiaambientalegenero.blogspot.com.br/) e para impressão na casa vermelha. Todos estão convidados”

Ao longo destes cinco meses, como você avalia a importância do laboratório para o desenvolvimento do corpo discente e da Unicentro? “Primeiro, abre um espaço físico para o aluno interessado em aquisição de conhecimento. Possuímos uma boa gama de materiais, como livros, revistas e artigos, que colaboram para este desenvolvimento intelectual. Temos, ainda, as interações entre os participantes. Essas relações proporcionam um desenvolvimento acadêmico como um todo, devido à melhora na escrita, aumento de publicações e oralidade. Quanto a Unicentro, todas as ações do grupo são divulgadas em sites e redes sociais, levando o nome do laboratório e da Universidade. Devido a esta movimentação, nos ofertaram o convite para ministrarmos uma palestra em Passo Fundo/RS”

“É um campo pequeno, mas percebemos que os estudos caminham nesta direção. Deste modo, o desenvolvimento teórico é de suma importância para a Unicentro”.

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ensaio fotográfico Foto: Luciana Grande

s a u r s a d a i h n a Na comp de rua aso com os cachorros sc de o s, po tem os ido nos últim de sua proteção. Tema bastante discut versas ações em prol di do ita sc su e ão laç pu tina desses tem sensibilizado a po cial para mostrar a ro pe es io sa en um u ro elabo Nesta edição, a equipe l. a liberdade paradoxa um animais que vivem

Foto: Luciana Grande Foto: Yarê Protzek

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Foto: Luciana Grande

Foto: Yorran Barone

Foto: Gabriela Titon

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Foto: Luciana Grande

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Foto: Gabriela Titon

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