Ágora Jornal 2012 - ED 06

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Ágora jornal

Ágora, ideias jornalísticas Guarapuava-PR, 2012 Ed. 06, ano 02

Semelhanças que fazem a diferença Foto: Yarê Protzek

Laços genéticos que se transformam em laços de solidariedade: é esse o objetivo que o projeto Padrinhos de Sangue pretende proporcionar. A iniciativa do Hemocentro de Guarapuava facilitará o tratamento de pacientes com doenças crônicas. p. 8

Adoção: um ato de amor que conquista novos adeptos a cada ano p. 03

As desvantagens da redução do IPI para os carros zero p. 05

Mulheres lutam contra o machismo e a violência em Guarapuava p. 10

Sete tecnologias clássicas da web 1.0 que ‘quase’ fazem falta p. 12


ao leitor

O circo está na cidade Mário Raposo Jr. Ruas estão sendo asfaltadas, obras finalizadas e, principalmente, a cidade está mais florida. É, estamos em ano eleitoral, época em que toda a inércia dos últimos três anos é rompida para se mostrar serviço no final do mandato. Uma forma de dizer “é isso o que eu posso fazer, caso eu seja reeleito. Então, votem em mim”. É nessa época também que vemos novas e antigas figuras nos trazendo a promessa de uma

solução para todos os problemas da cidade. Segundo eles, a educação e a saúde de Guarapuava ficarão melhores do que nunca e o progresso finalmente dará as caras por esses lados. Eu gostaria muito de acreditar nisso, quem não queria? Mas é difícil de acreditar que algo possa mudar enquanto nossos queridos políticos continuam os mesmos, senão nos rostos, pelo menos nos sobrenomes.

Desculpem-me pelo meu ceticismo, mas há 22 anos conhecendo essa cidade, foi pouco o progresso que vi chegar. Inclusive, vi cidades menores nos ultrapassar, enquanto nós ficamos somente nas promessas. Não que Guarapuava seja uma cidade ruim, longe disso, mas a parte política faz com que ela não consiga atingir seu potencial. Quem sabe uma reformulada nesse aspecto traria o tal do progresso de

que tanto falam e não mostram. Mas, enquanto essa mudança não surge, nos resta torcer para que, nessa nova leva que está vindo, apareça alguém que realmente traga algo mais para Guarapuava do que notícias ruins, estátuas bizarras e flores nas ruas. Enquanto isso, o jeito é aproveitar as reformas que o ano eleitoral nos trouxe, até porque, mais dessas, só daqui a quatro anos.

tirinha “Tiago Silva é cartunista, designer de jornais, artista gráfico, chato, hiperativo, ateu, muito chato, pai, marido, petulante, chato pra caramba. Se acha cronista e toca bateria nas escassas horas vagas. Tem 26 anos, nasceu em São João do Ivaí, mudou-se há cinco para Campo Mourão, ambas cidades do belíssimo estado do Paraná. Sim! Ele é super bairrista! E chato!” Tiago Silva

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“QUEREM ME SALVAR, QUEREM ME CURAR DO QUE EU NÃO SOFRO. QUEREM ME CURAR, QUEREM ME SALVAR, MAS EU SÓ OUÇO”. Trecho da música “Mentiras”, da banda Titãs. A faixa está no álbum “Jesus não tem dentes no país dos banguelas”.

expediente Departamento de Comunicação Coord. Prof. Edgard Melech Jornal Laboratório Prof. Anderson Costa Editor-chefe da edição 06 Mário Raposo Jr.

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Redação Ana Carolina Pereira, Bárbara Brandão, Ellen Rebello, Gabriela Titon, Giovani Ciquelero, Helena Krüger, Nathana D’Amico, Katrin Korpasch, Luciana Grande, Mario Raposo Junior, Poliana Kovalyk, Vinícius Comoti, Yorran Barone e Yarê Protzek

Contato: (42) 3621-1088 E-mail: jornalagora.unicentro@ gmail.com

O Jornal Laboratório Ágora é desenvolvido pelos acadêmicos do 4º ano de Jornalismo. Todos os textos são de responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da Unicentro.

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infância

Um novo lar, uma nova esperança A ADOÇÃO TEM GANHADO MAIS ADEPTOS NOS ÚLTIMOS ANOS. CONHEÇA O PANORAMA DESSE PROCESSO EM GUARAPUAVA E SE APAIXONE POR ESSA AÇÃO Matéria e diagramação: Bárbara Brandão O ato da adoção já foi restrito a um pequeno grupo e visto como algo assustador e contestado. Com o passar dos anos, as leis foram se alterando e muita coisa mudou. Desde a década de 90, o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) ampliou a adoção para um maior número de pessoas, homens e mulheres, não importa o estado civil, desde que sejam maiores de 18 anos de idade e ofereçam um ambiente familiar adequado. Pessoas solteiras, homossexuais, viúvas ou divorciadas que tenham estáveis condições socioeconômicas podem candidatar-se à adoção de uma criança. De acordo com a assistente social do Saij (Serviço Auxiliar da Infância e da Juventude) Luciana Marcondes Almeida, a comarca de Guarapuava abrange também as cidades de Campina do Simão, Turvo, Candói e Foz do Jordão, reunindo quatro instituições que abrigam crianças. “Nós temos a Casa Lar de Candói, em Foz do Jordão a Casa Abrigo Benjamin Kraus, em Turvo a Associação Canaã de Proteção à Infância, em Entre Rios outra Associação Canaã e aqui na cidade temos a Fundação Proteger”. De janeiro de 2012 até o mês de junho, o Saij de Guarapuava realizou 35 adoções. Essas instituições abrigam cerca de 120 crianças, algumas em busca de uma família e outras em situação

de risco, isto é, crianças que os pais não possuem condições de educar devido ao uso de entorpecentes ou abuso sexual. Nesses casos, o SAIJ propõe aos pais um programa de recuperação para ter o filho de volta; se eles corresponderem o filho é liberado, caso contrário, a criança é encaminhada para o cadastro de adoção. “Nesse momento, a criança mais nova que nós temos liberado para adoção é de quatro anos, mas ela tem algumas implicações por ser uma criança especial. E a criança mais velha tem 17 anos”. Em 2009, a lei federal 12.010, conhecida como Lei da Adoção, foi modificada, adicionando novos requisitos para quem deseja adotar. A lei instituiu que são necessários que todos os casais passem por uma preparação social, com ações como participar de grupos de apoio e passar por entrevistas e orientações com profissionais de direito e psicologia. “Quando o pretendente chega até nós, já encaminhamos a documentação, as orientações que deve procurar. Também fornecemos informações sobre o processo, mas o juiz quer ter certeza que realmente os pais já sanaram todas as suas dúvidas e têm conhecimento sobre o que é a lei e seu caráter irreversível”. É comum que alguns requerentes procurem, no momento do cadastro de adoção, perfis de crianças

que se aproximem com o biótipo da família. Um dos fatores que favorecem a demora da adoção está diretamente relacionado com o perfil de criança escolhido pelo casal. “Ainda é normal que os casais busquem crianças de 0 a 2 anos, mas trabalho aqui há bastante tempo, posso dizer que mudou esse perfil. Já conseguimos liberar crianças de 0 a 5 anos sem problemas. De 5 a 10 temos algumas dificuldades, mas a gente consegue. Crianças acima de 10 anos existe um caso ou outro, mas às vezes dá certo”. A adoção tardia (acima de três anos) está nos processos mais difíceis de desenvolver. “Existe uma diferença grande entre a criança sonhada e a criança real. A criança sonhada é o bebê recémnascido que foi tirado do hospital. No abrigo, não existe essa criança. Quem está conosco são crianças de cinco e seis anos que desejam uma família.” Na lei de 2009, os pretendentes a pais devem fazer duas visitas às instituições para ter conhecimento de como funciona uma casa lar, como essas crianças vivem. Na última etapa, uma equipe do SAIJ promove visitas à casa do requerente, e só então a juíza Rafaela Zarpelon aprova o cadastro de adoção. Atualmente, 53 pessoas estão na lista de espera para adotar, no entanto, esse número varia semanalmente.

Mesmo após a adoção, há um período de acompanhamento do SAIJ no processo de adaptação da criança e da família. “O juiz é responsável por designar o prazo. O primeiro ano de adaptação é sempre mais difícil, por isso é importante esse acompanhamento e o grupo de apoio”. De acordo com a assistente social, devido a modernização da lei e a própria mudança na constituição familiar, o preconceito tem alcançado índices menores. “É importante deixar claro que hoje para adotar não precisa ter casa própria ou uma renda alta. Pouco importa se o interessado ganha um ou dois salários, o que a gente procura são pessoas que sejam bons pais e que possam lidar com a situação da adoção”. Grupo de Apoio Gama A lei solicita que os interessados em adotar passem por uma preparação social e frequentem pelo menos três reuniões de grupos de apoio. O professor e psicólogo Matheus Brandão é o responsável pelo Grupo Gama, realizado em um período quinzenal na Faculdade Guairacá. “O grupo é aberto. Qualquer pessoa que tiver interesse pode ingressar, além de futuros pais e aqueles que já adotaram. Nas reuniões ocorrem conversas e trocas de experiência”. De acordo com a solicitação do participante, algumas reuniões são Foto: Bárbara Brandão

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Foto: Bárbara Brandão

temáticas. Já foi tema do grupo, por exemplo, o processo de adaptação das crianças e qual o momento certo para contar sobre a adoção. “A nossa intenção também é que os requerentes evitem ficar presos a alguns mitos, dúvidas”. O interesse pela criação do Gama nasceu em 2007, de pais que já tinham adotado. Desde o início, mais de 400 pessoas frequentaram o grupo. Este ano, cerca de 100 pessoas já participaram. “Infelizmente, muitos pais acabam desistindo do processo. Hoje, os casos são bem menores, mas ainda existem. Muitas vezes é por causa da dificuldade de compreender a diferença entre a criança sonhada e a criança real”. Um caso de amor Há 11 anos, a professora Regina Britto Fonseca, que tinha um filho de 12 anos, decidiu ter mais uma criança. Entretanto, na ida ao médico, descobriu que precisava de um tratamento para engravidar, que talvez trouxesse futuros problemas a saúde dela. “Eu estava de férias na praia, com meu filho e meu marido, mas me sentindo ruim com aquela situação, aí surgiu a ideia de adotar. Já de início, meu filho me apoiou, disse para eu fazer o que era melhor para mim, mas meu marido foi contra”. No retorno para Guarapuava, Regina já havia mudado a opinião

do marido e estava pronta para a adoção. “Em uma quinta-feira, fui ao fórum e peguei tudo que precisava, conversei com a assistente social. Naquele momento, ela me explicou algumas coisas, e meu marido que estava viajando veio para Guarapuava. Nós participamos de uma reunião com a assistente social, no fim deu tudo certo”. O processo de adoção da professora começou em março de 2001 e durou um ano. “Nós queríamos um bebê. Lembro até hoje do meu filho dizendo que queria uma irmã de sobrancelhas grossas e um pouco parecida com ele. Então contei para a assistente e

na academia, às 4 horas da tarde, e meu filho estava em casa e ligaram lá. Meu filho não sabia onde eu estava, e quando soube que era do fórum ele já disse ‘então é minha irmã que chegou?’- e eles confirmaram. Minha irmã foi ao meu encontro com uma flor, ela me olhou e disse: ‘adivinha?’. Eu já disse, ‘a Eloisa chegou?’ E ela respondeu que sim”, contou Regina, emocionada. “Quando eu vi aqueles olhinhos de jabuticaba ali, olhando para mim, eu não media esforços para levantar de noite no frio e cuidar dela. O sentimento é de entrega total, como eu me entregaria se fosse um filho biológico”.

“Eu vou educar como eduquei o meu filho. Ela é minha agora, está sob minha responsabilidade, nunca mais a gente desfaz esse laço. Continuo sendo a mesma pessoa, mas me sinto diferente e não sei como isso acontece” ela pediu uma foto dele para ver”. A escolha pela adoção fez com que a vida de Regina tomasse outros rumos. Ela reduziu a carga de trabalho, começou a preparar a casa para a chegada da nova moradora, comprou roupas de bebê e preparou para o dia em que Eloisa iria chegar. Como o processo é fechado, Regina não sabia a data exata em que iria receber Eloisa. “Um dia eu estava

Eloisa hoje tem dez anos e de acordo com Regina é agitada e esperta. “Eu vou educar como eduquei o meu filho. Ela é minha agora, está sob minha responsabilidade, nunca mais a gente desfaz esse laço. Continuo sendo a mesma pessoa, mas me sinto diferente e não sei como isso acontece”. Mesmo com o ato de amor, ela conta que já foi interrogada pela sua

ação. “Acho que quando você decide, tem que estar bem resolvida e ser muito cabeça, porque existem pessoas que ficam te questionando e não te dão paz”. O fato de Regina ser professora de história de um dos colégios da cidade fez com que a história dela se espalhasse rapidamente, incentivando muitas pessoas a realizarem a mesma ação. Em nenhum momento, Regina escondeu da sua filha como ela nasceu. “Eu já contei várias vezes como ela veio para nossa casa, digo sempre que ela é filha do coração. Ela sempre me pede pra eu contar de novo”. A presença de Eloisa na vida de Regina e de sua família fez com que um novo sentimento nascesse. “O meu filho e o meu marido estão morando em outra cidade, mas ela está aqui comigo, ela é especial na minha casa, na minha família, para os tios, tias, primos. Ela não é um especial diferente, ela é algo que nasceu na nossa família e se tornou um exemplo para outras pessoas diariamente”. A professora sabe que a filha está crescendo e pode questionar sobre os verdadeiros pais, mas Regina diz estar preparada para isso. “Sei que agora vem a adolescência e ela vai passar por mudanças, mas acho que estou preparada para tudo. Estou do lado dela para apoiar qualquer decisão, como decidir conhecer os pais.”

Foto: Bárbara Brandão

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economia

A contra mão da redução do IPI A MEDIDA FACILITA A COMPRA DO CARRO ZERO, MAS, EM ALGUNS CASOS, PODE SER CONSIDERADA UMA DESVANTAGEM PARA O BRASILEIRO Matéria e diagramação: Luciana Grande No final do mês de maio deste ano, o governo federal determinou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros zero quilômetro. O desconto, que totaliza cerca de 7%, gera uma redução significativa no valor total dos veículos. Um carro que normalmente custaria R$ 30 mil, por exemplo, ficaria na faixa de R$ 28 mil. Por tal motivo, essa medida atraiu muitas pessoas às concessionárias para a aquisição do tão sonhado carro zero. De acordo com o economista Altamir Thimóteo, essa diminuição se deu em função da crise financeira que está ocorrendo na Europa e outros lugares do planeta, já que isso tem refletido em várias economias. Por isso, os pátios das montadoras estavam lotados de veículos que não conseguiam ser vendidos. Além disso, a aprovação do crédito no Brasil está difícil em razão da inadimplência, o que também influencia nessa situação. “O mercado de carros,

que envolve muitos valores, estava estagnando o comércio. Então, como incentivo, o governo reduziu o IPI”. Essa medida vai permanecer em vigor até o dia 31 de agosto deste ano. As montadoras investiram muito em publicidade em diversas mídias, a fim de convencer os brasileiros a comprarem um automóvel. No entanto, apesar de toda a “mágica” que envolve o carro zero, a redução do IPI também trouxe consigo consequências negativas. A desvalorização dos veículos usados e semi-novos foi uma delas.

Zero ou usado?

O empresário Horst Hessert, dono de uma garagem de carros multimarca em Guarapuava há 13 anos, ficou bastante descontente com essa medida. Ele comenta que, em razão disso, teve que diminuir entre 5 e 15% o preço dos carros usados da loja. “Se caiu o preço do novo, caiu também o do usado. Só que eu acredito que

isso não prejudica apenas quem possui revenda de carros usados, mas todo brasileiro que tem um, já que todos perderam parte do seu patrimônio pessoal”. Contudo, ele comenta que ainda não sentiu reflexo no número de vendas em função disso, mas sim em consequência da dificuldade de aprovação dos financiamentos, pois os bancos estão muito rigorosos. Thimóteo concorda que a redução do IPI prejudica o comércio dos carros usados. “Às vezes, as pessoas só veem o fato de que vão pagar menos pelo zero e pronto. Mas tem todo um contexto que envolve isso. A desvalorização dos usados é uma consequência, sem contar que, ao tirar o carro da loja, você já perde no mínimo 10% do valor pago”. Além disso, o economista acredita que essa redução poderia ter sido aplicada a outros setores. No entanto, como há multinacionais envolvidas, foi uma forma que o governo encontrou para amenizar a situação.

Mas, na opinião dele, apenas uma reforma tributária seria capaz de solucionar os problemas da economia no país. Horst conta que, desde que foi determinada a redução do IPI, ele já perdeu vários negócios com carros usados em sua loja. “Todos os dias vêm pessoas aqui em dúvida se compram zero ou usado. Aqui na minha loja eu também vendo carros zero quilômetro, de várias marcas, então ainda tenho a opção de oferecer. Mas várias garagens não trabalham dessa forma”. O estudante e gerente de vendas Lincoln Almeida é uma das pessoas que desistiu de comprar um carro usado em função da baixa do IPI. Segundo ele, o automóvel que iria comprar sairia quase o mesmo preço do novo. Além disso, entende que uma grande vantagem é o fato de que, com o tempo, são lançados modelos novos e os antigos vão sendo depreciados. Por outro lado, assim como muitos, Lincoln vê no carro zero um sen-

Foto: Luciana Grande

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tido especial. “Eu acho válido pelo prazer que você proporciona ao seu ego, porque carro zero é status, status é demonstração de poder e isso faz muito bem pra gente”. Porém, ele também acredita que a medida pode causar problemas. “A liberação do crédito não é um esforço para girar a economia, fazer o trabalhador gastar aquele dinheiro que está guardado. Mas é preciso cuidado, porque nem todo mundo tem esse dinheiro guardado e, mesmo com juros baixos, a falta de pagamento pode gerar um rombo”. Já Horst entende que a vantagem do carro usado ou semi-novo é o fato de que a pessoa pode adquirir um veículo completo e mais confortável pelo mesmo preço do zero. “A propaganda divulgada na mídia pelas concessionárias é muito intensa, por isso o carro zero acabou virando um sonho de consumo para os brasileiros”. Já para aqueles que já possuem um automóvel, o empresário explica que na troca de um usado por outro, o comprador sente menos o efeito da depreciação (que tende a variar entre 20 e 25% na troca por um veículo zero). Portanto, o prejuízo é menor. Embora discorde da decisão do governo em reduzir o IPI para os automóveis zero quilômetro, Horst acredita que a intervenção foi positiva no que se refere à diminuição da taxa de juros. “A medida do IPI, na minha opinião, muito mais prejudicou do que aju-

dou o brasileiro. Mas os juros estão auxiliando bastante”. Sobre a redução dos juros, Thimóteo ressalta que essa situação é muito favorável para o setor produtivo. As taxas de juro diminuíram em função da taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia), que atingiu 8,5%. Além disso, o governo alterou a caderneta de poupança, o que refletiu na baixa dos juros para financiamentos. Ainda no que diz respeito ao IPI, o economista entende que essa medida é positiva no sentido de incentivar as vendas e o comércio. No entanto, acredita que isso não seja algo tão vantajoso no contexto geral. “Se olharmos em termos de arrecadação, o governo deixa de coletar R$ 2 bilhões nesse período. Ele não perde também, sempre acaba encontrando outra forma de arrecadar”. Ao mesmo tempo, Thimóteo atenta ao fato de que também não há muitas vantagens para o cidadão, já que se tratam de medidas paliativas estanques. Por isso, o economista aconselha que seja feita uma análise da situação antes de “aproveitar” essa redução do IPI, pois ela pode não trazer benefícios. “O carro zero é sempre chamativo. Se você tem o dinheiro e não vai financiar, pode trocar de carro sem que isso seja prejudicial. Mas, se for trocar somente para ter um zero e financiar dando o antigo de entrada, eu recomendo que espere até setembro para não ter prejuízos”. Fotos: Luciana Grande

Fluxo de veículos em Guarapuava A dificuldade em trafegar e encontrar vagas para estacionar na área central da cidade tem incomodado a população. Por isso, o aumento na frota de automóveis causado pela redução do IPI pode piorar ainda mais essa situação. Segundo Altair Bonassa, coordenanor do Departamento de Trânsito de Guarapuava (Guaratran), há algum tempo o número de registros de carros zero vinha crescendo e, com a medida do governo, aumentou ainda mais. Ele explica que isso está sendo constatado pelas estatísticas, mas ainda não foi sentido nas ruas. “Acredito que as pessoas comecem

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a notar esse aumento daqui um ou dois meses”. Hoje, a frota na cidade é de aproximadamente 76 mil veículos, quantidade considerada dentro da média por Bonassa. No que se refere aos problemas do fluxo e falta de vagas de estacionamento na área central, o coordenador explica que, ao contrário do que parece, o crescimento da cidade tende a melhorar essa situação. “O desenvolvimento dos bairros gera um desmembramento da área central. Se há uma agência bancária perto de onde a pessoa mora, por exemplo, ela não precisa vir até o centro. Isso diminui o número

de veículos na área. No bairro Bonsucesso isso já está ocorrendo”. Além disso, Bonassa explica que a utilização dos estacionamentos privados é uma ótima opção para quem vem até o centro. “A nossa prioridade é melhorar o fluxo, não os estacionamentos. As pessoas precisam se conscientizar de que os espaços privados para estacionar proporcionam comodidade e segurança”. Ele destaca, ainda, que se houvesse maior interesse dos guarapuavanos neste tipo de alternativa, o segmento poderia crescer, o que geraria concorrência e melhora nos preços.


enquete

E se o estudante pagasse “meia” no pegágio? ENQUETE MOSTRA QUE GRANDE PARTE DOS PARANAENSES SÃO A FAVOR DESSA MEDIDA Enquete: Luciana Grande No dia 15 de maio, a Assembleia Legislativa do Paraná aprovou uma medida que beneficia com uma isenção de 50% na taxa de pedágio estudantes e empresas que transportam alunos de colégio, escolas ou universidades. Isso é válido para quem estuda em uma cidade, mora em outra e precisa passar por praças de pedágio no Paraná. A medida entra em vigor quando a lei for promulgada. Porém, as concessionárias de pedágio alegam que isso causará

um aumento geral nas taxas, o que tende a prejudicar muitas outras pessoas. Por esse motivo, a decisão da Assembleia Legislativa gerou polêmica e ideias diversas a respeito. Na enquete realizada pelo jornal Ágora, perguntamos qual era a opinião dos internautas sobre o tema, sendo que 72% alegaram achar justo que estudantes paguem apenas metade da taxa, enquanto 28% mostraram discordar da medida.

São pouquíssimos os estudantes que viajam, se comparado ao resto. Em geral, eles vão tirar ainda mais dinheiro do povo.

Everton Guilherme

Acho justo, se não aumentar as taxas. Porque é caro pra todo mundo, mas pros estudantes é só alguns anos. Pro restante o aumento seria permanente.

UM RESUMO DO MELHOR E DO PIOR DAS ÚLTIMAS SEMANAS

Hospital Regional No dia 31 de maio, foram empossados os membros da comissão executiva responsável pela elaboração do projeto de implantação do Hospital Regional em Guarapuava. São 11 participantes de inúmeras entidades que pretendem viabilizar o andamento do projeto. A posse da comissão é mais uma etapa para a concretização do projeto em Guarapuava.

Dificuldades no albergue O Albergue Noturno Frederico Ozanam está com o estoque precário de alimentos. Devido ao frio, o atendimento no local aumenta em 25%, o que gera mais gastos com alimentação. O albergue tem uma despesa por mês de até R$ 15 mil, mas recebe uma ajuda de custo de R$ 4 mil do município. Bazares são realizados para diminuir o déficit, porém, não chegam a pagar todos os custos.

Construção novas UPAs Guarapuava ganhará duas novas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). Uma delas, localizada no bairro Batel, já está em fase de construção, enquanto a Unidade de Saúde do Morro Alto está em processo de licitação. A construção dos dois prontos atendimentos facilitará os internamentos e encaminhamentos para os hospitais. Os locais também trarão agilidade no atendimento de saúde do município.

Estrutura do Conselho Tutelar Camila Syperreck

Estudantes com carro, né? Porque a companhia de ônibus não vai diminuir o preço da minha passagem. Muito pelo contrário. Aí eu, sendo estudante, vou pagar mais caro ainda. Elton Gutoch Rosa

foi bem, foi mal

Os funcionários do Conselho Tutelar de Guarapuava encontram dificuldades para realizar suas atividades devido às más condições em que se encontra o prédio. Com apenas um centro para 167 mil habitantes, o local não tem condições de atender muitas pessoas ao mesmo tempo devido ao escasso número de computadores e impressoras, falta de privacidade das salas de atendimento (que são pequenas), pouca ventilação, infiltração e difícil localização para a população, já que o conselho funciona na rodoviária.

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saúde

Laços de sangue e solidariedade A CAMPANHA PADRINHOS DE SANGUE PRETENDE ENCONTRAR DOADORES 100% COMPATÍVEIS PARA OS PACIENTES QUE PRECISAM DE SANGUE FREQUENTEMENTE Matéria e diagramação: Yarê Protzek

Foto: Yarê Protzek

Inúmeras campanhas são feitas para aumentar a quantidade de bolsas de sangue nos hemocentros dos municípios. A necessidade de doadores é frequente e importante, já que muitas vezes o sangue salva a vida daqueles que precisam. Pensando nisso, o médico responsável pelo Hemocentro de Guarapuava, Seme Youssef Reda, criou a campanha “Padrinhos de Sangue” para ajudar aquelas pessoas que necessitam da doação com certa regularidade. A campanha teve início em março de 2012 e pretende facilitar a vida de pacientes de diversas enfermidades, como doença renal crônica, hematológicas, anemia falciforme etc. “Esses pacientes são complicados porque vão precisar de sangue quase o resto da vida. Então, o projeto nasceu com esta finalidade: resolver o problema do paciente que tem todo mês essa dificuldade e o estresse de achar um doador”, explica o médico. Segundo Reda, a estrutura do sangue funciona como se fosse um sistema de chave e fechadura. Os glóbulos vermelhos que compõem o sangue possuem 24 fenótipos, que são as fechaduras. Para os pacientes que precisam de sangue regularmente, essas fechaduras devem achar chaves correspondentes para que não haja complicações. São necessá-

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rias 24 chaves idênticas às fechaduras para que a transfusão seja perfeita. “O tipo sanguíneo e o Rh são só o início da chave. Se você pegar a membrana de um glóbulo vermelho e aproximar com um microscópio, vai ver todas 24 fechaduras. Cada fechadura pode dar uma complicação se eu não conheço a chave certa”. O nome foi escolhido para sensibilizar e criar um laço entre doadores e receptores, já que, uma vez encontrados os padrinhos, o afilhado só receberá sangue dessas pessoas. Reda explica que um paciente pode ter vários padrinhos, dependendo da quantidade de sangue e a frequência que precisa para o tratamento, já que uma pessoa só pode doar sangue três vezes ao ano. “Achar doadores fenotipados, ou seja, correspondentes, aleatoriamente era muito difícil. Então, pedíamos ajuda para outras cidades. Esse projeto vem para resolver isso”. O médico comenta que quando alguém se torna padrinho de sangue fica responsável pelo afilhado porque ele dependerá daquela doação para viver. “Não adianta você querer ser padrinho de sangue se não seguir certas regras, tiver uma vida mais disciplinada. Por exemplo, não pode por piercing durante um ano, fazer tatuagem, maquiagem definitiva,


Vai demorar um pouco para a campanha funcionar. É uma engrenagem grande e complexa; precisamos estudar corretamente para que a roda da vida do bem não pare nunca”

entre outros fatores”. A lista de requisitos para saber se está apto a ser padrinho de sangue é a mesma para a doação convencional. Até o momento, a campanha está em fase de cadastramento e pesquisa dos futuros voluntários. Cerca de 500 pessoas já estão cadastradas para o cargo de padrinho. Os doadores mais procurados são aqueles que possuem o tipo sanguíneo “O” com o fator Rh negativo, já que são mais difíceis de encontrar em Guarapuava, pois apenas 8% da população tem esse tipo sanguíneo. Em seguida, serão feitos os cadastramentos de

Seme Youssef Reda, médico responsável pelo projeto

quem é do tipo sanguíneo “A” com fator Rh negativo, e logo após os demais tipos. “Vai demorar um pouco para a campanha funcionar. É uma engrenagem grande e complexa; precisamos estudar corretamente para que a roda da vida do bem não pare nunca”. Primeiro inscrito O médico do hemocentro informou que, após pensar na criação da campanha, conversou com os membros do Exército para ver se tinham interesse em participar. “O coronel Rueda, do 26º GAC [Grupo de Artilharia

de Campanha, foi o nosso primeiro inscrito como padrinho de sangue. O pontapé inicial foi dos integrantes do Exército”. De acordo com o coronel Willian Wilson Alexanfre Rueda, do 26º GAC de Guarapuava, o Exército participa há muitos anos de campanhas voltadas a doação de sangue. Quando ficaram sabendo dessa nova campanha, alguns também resolveram participar. “Achei interessante a ideia. Marcamos uma reunião no Exército, onde todos os oficiais participaram. A partir daí, demos início a campanha interna com

relação a doação dentro dessa nova sistemática”. Rueda é do tipo sanguíneo A com fator Rh negativo e está disposto a ser padrinho de sangue. “Para mim é uma grande satisfação poder ajudar alguém. Temos que levantar as mãos aos céus e agradecer que estamos podendo doar sangue e vamos doar com a maior boa vontade”. O coronel completa afirmando que, caso tiver um afilhado de sangue, irá gostar de conhecer a pessoa. “Você cria uma empatia, um vínculo afetivo entre os dois e isso facilita muito mais esse comprometimento”

O sangue como medicamento Leland Gramazio Nunes, 29 anos, é do tipo sanguíneo A+ e é hemofílico. A hemofilia é a deficiência dos fatores VIII ou IX presente no sangue. Ela prejudica o mecanismo de coagulação, fazendo com que, ao se ferir, a pessoa comece a sangrar sem controle. A doença é hereditária e ocorre com mais frequência nos homens. No caso de Leland, há a falta do fator VIII, que ele adquire através de um medicamento. O remédio é desenvolvido em outro país devido à alta tecnologia necessária para produzi-lo. Nunes toma

três doses intravenosas fornecidas pelo Governo Federal para a prevenção de hemorragias. “Eu não tomo necessariamente o sangue, mas preciso do fator VIII que está presente na corrente sanguínea. De qualquer forma, o sangue é utilizado para fazer o medicamento, ou seja, várias bolsas são usadas para conseguir esse fator”. O sangue utilizado para fazer o medicamento não pode ser reutilizado. “Preciso de componentes do sangue e acho que a campanha é importante, é um compromisso entre o padrinho e o afilhado”.

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cidadania

“Sou minha, só minha, e não de quem quiser”

Matéria e diagramação: Gabriela Titon

DESDE A INFÂNCIA, O DISCURSO MACHISTA É REPRODUZIDO EM DIFERENTES ESFERAS, CONTRIBUINDO PARA FORMAR ÍNDICES ASSOMBROSOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. EM GUARAPUAVA, A MARCHA DAS VADIAS FOI APENAS O PONTAPÉ INICIAL PARA QUE A SOCIEDADE SE CONSCIENTIZE E POLÍTICAS PÚBLICAS SEJAM IMPLEMENTADAS A frase do cartaz colado no caminhão de som não servia somente para aquela ocasião: “tire o seu machismo do caminho que eu quero passar com o meu corpo”. A 1ª Marcha das Vadias de Guarapuava, que aconteceu no dia 23 de junho, foi um marco para uma cidade que revela números assustadores em relação à violência contra a mulher. O estopim para a realização do protesto foi a divulgação do Mapa da Violência 2012, em que o município figura como o 91º do Brasil e o 11º do Paraná no índice de homicídios femininos (confira mais dados no quadro da página ao lado). Outra paródia de música reivindicava a liberdade para escolher o que vestir, em resposta a alegações frequentes de que a mulher é estuprada em função de sua roupa inadequada e tem culpa se algo de ruim lhe acontece. “Eu só quero ser feliz, andar tranquilamente com a roupa que escolhi. E poder me assegurar: de burca ou de sainha, todos vão me respeitar”. Durante o trajeto, performances lembraram o sofrimento de vítimas que tiveram a vida interrompida pela força masculina e a falta de amparo a quem ainda pode sair dessa situação. Apesar de bem-sucedida, a manifestação foi apenas o início da luta contra a opressão às mulheres. Além de provocar reflexão, ações políticas foram cobradas, como a construção de uma Casa Abrigo, a implementação da Secretaria Municipal da Mulher, a estruturação da Delegacia da Mulher e a nomeação de uma delegada. Também foi lançado um abaixo-assinado solicitando a criação da secretaria, que será entregue aos candidatos a

Foto: Gabriela Titon

NA MARCHA DAS VADIAS, CARTAZES MOSTRARAM A INDIGNAÇÃO COM O PENSAMENTO MACHISTA

prefeitura. O evento, que teve início com a ideia de acadêmicas de arte-educação da Unicentro, recebeu apoio da Marcha Mundial das Mulheres, da APP-Sindicato, do Movimento Passe Livre, do Movimento das Mulheres do Primavera e do Levante Popular da Juventude. Educação A professora Terezinha dos Santos Daiprai, uma das organizadoras da marcha e representante da APP-Sindicato de Guarapuava, ressalta que a educação machista é a principal responsável por agressões não somente físicas, mas também verbais. “Essa educação é voltada para o poder que o homem acredita ter sobre o

corpo da mulher, e leva muitos a acharem que podem bater, tolher a liberdade, humilhar moralmente e abusar sexualmente”. Em vários casos, a mulher se submete a essa situação por depender economicamente do companheiro, em todos os níveis sociais. Para que o ciclo da violência seja quebrado, é preciso que haja profissionalização feminina; assim, ela poderá se sustentar sozinha e não precisará tolerar abusos. O combate ao pensamento machista passa não só pela educação escolar, mas também familiar, em questões como a divisão de tarefas dentro de casa. “Existe essa divisão em algumas famílias isoladas, mas não como uma condição

de sobrevivência. Ninguém vive sem o trabalho doméstico, mas homens e mulheres não foram educados para dividir tarefas, isso precisa ser construído”. Os brinquedos dados às crianças também reforçam a concepção de que somente a mulher é responsável por cuidar do lar e dos filhos. As escolas, que podem construir ou desconstruir discursos, têm papel fundamental na transformação da sociedade. Nesse sentido, a organização da marcha cobrará do Poder Executivo que considere as propostas deliberadas na Conferência Municipal das Mulheres de 2011. No evento, foi discutida a implementação do estudo da história das mulheres e das

“Sou minha, só minha, e não de quem quiser” é um trecho da música “1º de julho”, composta por Renato Russo. A canção foi interpretada tanto pela banda Legião Urbana quanto pela cantora Cássia Eller.

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Foto: Gabriela Titon

PERFORMANCE MOSTRA QUE, EM GUARAPUAVA, MULHERES QUE SOFREM VIOLÊNCIA NÃO ENCONTRAM AMPARO

questões de gênero no currículo das escolas municipais. Infelizmente, tanto na educação básica quanto no ensino superior, falar sobre violência e machismo ainda é tabu, como destaca Terezinha. Para demonstrar que a discriminação está presente em diversas esferas, a funcionária da APP-Sindicato de Curitiba Rosani Moreira comenta que as mulheres sofrem preconceito dentro das próprias instituições de ensino. “A educação é considerada uma área dos serviços e ficou para as mulheres, 85% da categoria é composta por mulheres. Então, acham que não precisa de formação, de salário, de condições de trabalho...”. Ideias reproduzidas Além da educação, discursos religiosos e midiáticos também ajudam a disseminar o pensamento machista e são introjetados na cabeça da população. Algumas religiões pregam que a mulher deve ser delicada e submissa, representando a harmonia do lar, como analisa Terezinha. Assim, o machismo não parte somente dos homens, mas também das mulheres. “Muitas mulheres querem casar e ter filho. Tudo bem, mas que seja uma escolha dela e não uma imposição da sociedade. Ainda é muito isso: a mulher tem que achar um bom marido com uma condição financeira boa, ter filhos e viver em função disso”. Em cidades conservadoras, sobretudo, esse sentimento de obrigação ainda é comum. A acadêmica Jocelize Souza Santos, que estava na marcha, tem a mesma percepção. “Guarapuava é muito religiosa. No Brasil, a religião manda muito. Inclusive em projetos de lei, se o Vaticano é contra ele interfere, como já aconteceu. Essa questão de o homem ser superior vem muito da religião, com a ideia de a mulher ter sido criada da costela do homem”.

Já a mídia contribui para perpetuar a imagem da mulher enquanto mercadoria e a necessidade de se buscar determinado padrão de beleza, entre outros aspectos. A professora universitária Angela Cristina da Silva, da área de psicologia, afirma que certos conceitos do nosso cotidiano são naturalizados sem questionamentos, por isso a importância de refletir sobre o que é apresentado em materiais

“O machismo ajuda a nos massacrar; e esse discurso mata, ensina as pessoas a tratarem as outras como se não fossem gente” publicitários. “As propagandas fazem incitações machistas nem que seja em fração de segundos. E as pessoas não percebem. Quando você mostra, falam que é exagero; mas tem que direcionar o olhar para ver que existe outro grau de violência, que não é física. Isso vai sedimentando nas concepções da criança e quando ela crescer vai achar natural”. Para que esse cenário se altere, ela acredita que o primeiro passo deve ser no ensino superior, formando profissionais responsáveis. “Mas, se essas mobilizações continuarem acontecendo, quem já está no mercado vai se conscientizar e saber que dependendo do que fizer será questionado”. Apoio masculino O apoio dos homens no enfrentamento a opressão é fundamental, como observa o professor universitário Gilberto Malheiros. “O homem não pode conviver com a mulher como sendo uma luta eterna, ao contrário: homem e mulher se complementam, não são inimigos”. Para ele, a violência

é injustificável numa época em que a mulher tem participação ativa no Produto Interno Bruto do país. “A mulher tem que ser reconhecida, não só a que trabalha numa empresa, mas a que trabalha em casa. O homem vai trabalhar enquanto a esposa toma conta da casa e dos filhos para que ele produza e apareça num panorama econômico como alguém estatisticamente visível; mas a mulher que dá essa condição a ele de ir produzir nem aparece, ao contrário: tem em troca a violência dentro de casa. E muitas vezes ela tem seus direitos castrados pela Justiça, que se torna negligente”. Para o acadêmico Mario Henrique de Mattos, é necessário mostrar que a violência é absurda em Guarapuava. “Os dados demonstram a importância de se debater esse tema. O machismo impera aqui, tanto na questão do feminicídio quanto da homofobia. Em todo lugar a gente percebe que acontece: nas ruas, no trabalho, nas faculdades...”. Transformação Embora a mulher venha conquistando espaço no mercado de trabalho, a igualdade de gêneros está distante de ser atingida. Na teoria, os direitos estão assegurados na Constituição Federal, contudo, eles raramente são perceptíveis na prática. Para que aconteçam mudanças, ações como a Marcha das Vadias são essenciais. Em Guarapuava, o protesto irreverente deixou claro que lugar de mulher é onde ela quiser. “Isso colabora para que as pessoas se tornem mais participativas e criem senso crítico”, diz Jocelize. De acordo com Rosani, o principal saldo da manifestação é organizativo, já que as mulheres precisam estar juntas para contestarem e buscarem seus direitos. “Guarapuava é muito violenta para as mulheres e os homossexuais, por isso a importância de protestar numa cidade tão conservadora e agressi-

va. O machismo ajuda a nos massacrar; e esse discurso mata, ensina as pessoas a tratarem as outras como se não fossem gente”. Alguns avanços, como a existência da Lei Maria da Penha, têm auxiliado a coibir casos de violência. Contudo, a alteração desse quadro passa por várias questões, dentre elas a preparação dos profissionais que atuam na área, já que, conforme Terezinha, as vítimas são humilhadas até mesmo dentro das delegacias. Na opinião da professora, os políticos precisam se unir e cobrar do Governo do Estado o aparelhamento da Delegacia da Mulher, que atualmente funciona juntamente com a 14ª SDP (Subdivisão de Polícia Civil). A construção de uma Casa Abrigo também é urgente, visto que muitas mulheres em situação de violência são acolhidas pelo Albergue Noturno – o que, segundo Terezinha, é desumano, porque no local elas não contam com proteção e segurança. “É uma questão de inteligência política investir nas políticas públicas para as mulheres e na prevenção da violência. A mulher que vive em situação de violência adoece, com doenças desde a ansiedade e depressão até aquelas que a levam a morte. E elas vão se tratar na saúde pública. Ou seja: o município não investe na prevenção e tem que investir nas consequências”. Vadias A Marcha das Vadias surgiu no Canadá, em 2011, após um policial afirmar que as mulheres não deveriam se vestir como vadias para que não fossem estupradas. Desde então, adotando o nome irônico, o movimento acontece em vários países, abordando a não-culpabilização da mulher em casos de violência, entre outras questões. “Até nisso existe preconceito: quando um homem é chamdo de vadio, ele é preguiçoso; quando uma mulher é vadia, os adjetivos são outros”, diz Terezinha.

ESTATÍSTICAS DA VIOLÊNCIA O Mapa da Violência 2012, realizado pelo Instituto Sangari, mostra que em Guarapuava a taxa de homicídios é de 8,2 a cada 100 mil mulheres. O número representa quase o dobro da média nacional (4,4), o que faz com que o Brasil seja o sétimo país em feminicídio. Nesse quesito, o Paraná é o terceiro Estado brasileiro, com 6,3 mortes a cada 100 mil mulheres. Em âmbito nacional, a principal faixa etária no índice é de 20 a 29 anos (7,7 mortes a cada 100 mil mulheres). Em 68,8% dos atendimentos a mulheres vítimas de violência feitos pelo SUS no Brasil, a agressão ocorreu nas próprias residência; em 51,6% dos casos há reincidência; e na faixa dos 20 aos 59 anos o principal agressor é o cônjuge. Fonte: Mapa da Violência 2012 - www.mapadaviolencia.org.br

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tecnologia

##**No$t@lgi@/w&b 1.0**## CONHEÇA ALGUMAS TECNOLOGIAS DE INTERNET QUE FORAM REVOLUCIONÁRIAS, MAS QUE, COM O PASSAR DOS ANOS, CAÍRAM EM DESUSO. Matéria e diagramação: Yorran Barone No atual cenário online, é notório o avanço tecnológico. Ferramentas de internet como o sistema operacional Android, que figuram em celulares e tablets; a facilidade na criação de portais, blogs e sites gratuitos; e o aumento na velocidade de internet, com operadoras que disponibilizam serviços em banda larga, são algumas das evoluções que caracterizam nossa realidade. Apesar de os computadores e a internet não terem muitos anos de vida, poucos jovens de hoje conheceram os programas responsáveis pelas primeiras revoluções, ainda na chamada web 1.0. Por isso, vamos relembrar aqui algumas das tecnologias que já foram o auge da internet e que caíram em desuso. Vai servir de informação para a novíssima geração, e uma sessão nostalgia para os ‘jovens mais velhos’,. Caso você se lembre de algum destes programas, entre em contato e conte suas experiências, lembranças, como recebeu estas novidades ou indique outros progrmas que não constam nesta lista. Enjoy!

mIRC Se, atualmente, conversas no ciberespaço residem nos chats do Facebook ou no MSN Messenger, muito se deve ao IRC (Internet Relay Chat), considerado uma das primeiras plataformas de interação online, em tempo real, além de possibilitar o compartilhamento de arquivos. O mIRC foi um dos programas com estas características. Lançado em 1995, foi bastante utilizado por muita gente, como o fotógrafo Renan Prando, de 27 anos, que começou a usar o programa em 1999. “Gostava pela possibilidade de manter contato com as pessoas”. O mIRC ainda circula pela rede, mas com bem menos adeptos.

ICQ Outro importante item de evolução no quesito comunicação online foi o ICQ, lançado em 1997. Um dos pioneiros a permitir postagem de mensagens instantâneas, o sistema caiu no gosto do povo e é referência para os atuais formatos. Contudo, também já não consta na lista de preferências da maioria dos usuários desse tipo de tecnologia, como é o caso do jornalista Tiago Aramayo, 27. Na época, utilizador assíduo, ele não lamenta a queda, mas relembra que fez uso por bastante tempo. “Eu gostava muito do nome, I Seek You (eu procuro você) e achava uma pena o trocadilho não funcionar em português”.

Napster Ferramenta precursora em se tratando de compartilhamento de arquivos sonoros, o Napster protagonizou uma das maiores brigas judiciais do meio musical. A banda Metallica encabeçou um processo contra Shawn Fanning, criador do programa, contestando a legalidade em permitir essa troca de arquivos. Mesmo com a vitória no processo, a nova tecnologia já estava consolidada. Alguns anos passados, servidores com as mesmas funções, como Morpheus e Kazaa, deram continuidade a ideia. Com início em 1999, o Napster foi comprado em 2002 por um grupo que passou a vender músicas. Em dezembro do ano passado, o programa saiu do ar oficialmente.

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Geocities Em 1994, o Geocities foi criado visando a hospedagem de sites gratuitos, produzidos, principalmente, pelo Front Page, programa já ultrapassado e de domínio da Microsoft. Milhares de adeptos passaram a veicular suas produções e usuários, muitas vezes, localizavam esses sites no Cadê. Ao longo dos anos e com o lançamento de novas tecnologias virtuais, o sistema ficou ultrapassado. “Não atendia mais minhas necessidades e troquei pelo ONDA, que era mais barato, rápido e permitia outras funcionalidades”, relata o desenvolvedor de internet Caio Eduardo Pereira, 33, que postou sua página no HPG, sistema similar ao Geocities, que se extinguiu em 2009.

Cadê A empresa Google, que hoje engloba serviços de software online, é considerada a maior ferramenta de busca pela internet. No passado, o serviço brasileiro Cadê, fundado em 1995, sob o formato do já existente Yahoo!, foi utilizado por muitos. Uma particularidade foi a “migração” das enciclopédias para o site. Bruno Bonadio, estudante de 22 anos, relata que no espaço a procura por temas específicos é simples. “É muito mais fácil procurar na internet do que em livros, além de rápido”, destaca Bonadio, que, atualmente, busca temas relacionados a faculdade e assuntos futebolísticos.

Netscape Navigator Navegadores web como Google Chrome e Mozilla Firefox caíram no gosto do povo, mas poucos conhecem o Netscape Navigator, uma referência para os atuais modelos citados. Lançado em 1994, possuía um layout simples e poucas funções, mas justo com seu propósito, além de ser de fácil utilização. “Algumas configurações referentes a conexões ou favoritos eram um pouco diferentes do Internet Explorer, por exemplo, mas não havia dificuldades para quem utilizava a internet de maneira frequente”, relata o servidor público Christian Ciquelero, de 33 anos, que fora utilizador do navegador entre 1998 e 2002.

Usina do Som Fãs de músicas que buscavam na internet alternativas para ouvir preferências, o Usina do Som foi um grande canal. Com um acervo musical online de milhares de sons, a particularidade residia em poder escutar o que queria sem a necessidade de download. O estudante Phelippe Ferreira, 23, conta que a fácil utilização e rapidez para carregar as músicas foram pontos-chave para utilizá-lo com frequência e diz que parou de acessá-lo a partir do conhecimento de novas tecnologias. “Passei para a fase de baixar as músicas. Era possível adquirir discografias inteiras e deixar em arquivo”. Em 2005, o Usina do Som foi retirado do ar.

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entrevista

Muito além do tênis EX-TENISTA E PROFESSOR, AGNALDO CONTA COMO COMEÇOU NO TÊNIS E FALA SOBRE SEU PROJETO, QUE AJUDA CRIANÇAS DENTRO E FORA DAS QUADRAS Matéria: Mário Raposo Jr. Fotos: Mário Raposo Jr.

AGNALDO AO LADO DE SEU MURAL, QUE REGISTRA GRANDES MOMENTOS DO PROJETO. ELE ENSINA TÊNIS PARA CRIANÇAS GUARAPUAVANAS HÁ 14 ANOS

Há 15 anos em Guarapuava, o professor Agnaldo Almeida, que veio de Londrina, tem engrandecido o cenário guarapuavano do tênis com seu projeto ‘Tô no Tênis’. Em entrevista ao Ágora, Agnaldo fala do seu começo no tênis, seus projetos e seus alunos. Como foi o início no tênis? Eu estou no tênis desde os seis anos de idade, comecei catando bolinha em um clube lá em Londrina. Meu irmão me levava para o clube e eu acabei gostando. Comecei com seis anos e fui jogando. Depois comecei a competir, inclusive uns empresários me ajudavam com despesas, viagens, essas coisas. A maioria das crianças dessa idade prefere o futebol, você foi para o tênis porque gostou ou não se dava bem no futebol? Não, não. Às vezes, a gente

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escapava do clube pra bater uma bolinha, mas o tênis me conquistou desde o início. Dá para dizer que eu era 90% do tênis e 10% do futebol. Como você virou professor? Foi uma maneira de retribuir o que o tênis te deu? Isso mesmo. Como eu disse, comecei catando bolinha e como rebatedor. Depois fiz cursos de aperfeiçoamento e desde os 16 anos dou aula de tênis. Quer dizer, professor mesmo eu virei depois dos 18. Até porque a confederação, a ITF (International Tenis Federation) só pode liberar para ser professor depois dos 18. Além de dar aula, você criou um projeto chamado ‘Tô no Tenis’. Fale um pouco sobre como ele funciona. Eu estou aqui em Guarapuava há 15 anos, esse projeto já está indo para 14 anos. E come-

çou assim: era uma ideia que eu tinha quando eu vim para cá e passei para o Milton Meirelles (empresário) e tive o incentivo da prefeitura. Desde então, a gente vem procurando parcerias que ajudem a manter o projeto, até porque a gente tem custos com material, com comida, assistentes e tudo isso. E quais os pré-requisitos para participar? Tem que estar estudando, isso é prioridade, tem que manter a nota boa. Com exceção das crianças de quatro anos, que ainda não entraram na escola. Mas, para quem tem idade, se não trouxer resultados escolares, a gente dá uma punição de uns quinze dias sem jogar. Então, quando isso acontece, eles já sentem falta das aulas. Já teve algum aluno desse projeto que virou competidor?

Sim. Há um mês nós estivemos em Palmas, três atletas do projeto participaram e os três foram campeões em suas categorias. Também temos o Carlinhos Almeida, que foi vice-campeão em Arapongas. Então a gente sempre dá uma peneirada e os que se destacam nas aulas a gente leva para os torneios. Os alunos estão sempre ralando, querendo competir, a tendência é só fortalecer isso. Como você vê o cenário do tênis em Guarapuava? Há uns 15 anos o tênis em Guarapuava era muito restrito, não tinham competições. Isso passava a ideia para os outros que no interior não existe tênis. E nós estamos há 14 anos trazendo torneios para cá e mostrando que no interior tem tênis e bons tenistas, tanto na categoria adulto quanto juvenil.


há tempos Na editoria “há tempos”, a equipe do Ágora irá encontrar pessoas que apareceram nas linhas dos jornais guarapuanos há pelo menos cinco anos. Nesse espaço, daremos voz novamente a essas fontes e personagens do passado, e contaremos o que o estão fazendo hoje.

Enfermeira desenvolve ações a favor do aleitamento materno há 28 anos HELENA CAMARGO CONTA SOBRE SUA PAIXÃO PELO INCENTIVO A AMAMENTACAO E COMO ESTÁ O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO BANCO DE LEITE EM GUARAPUAVA Matéria e diagramação: Helena Krüger Muito antes de sair nas páginas do jornal Diário de Guarapuava, no dia 7 de outubro de 2003, falando sobre a criação de um novo manual de aleitamento materno, a enfermeira Helena Ramos Camargo já estava envolvida em ações de incentivo a amamentação. Há nove anos ela foi fonte na reportagem e falou sobre a importância da publicação de um manual que orientasse gestantes sobre as diversas vantagens do ato de amamentar. A enfermeira contou ao Àgora sua trajetória profissional e como surgiu sua paixão em pesquisar e incentivar o aleitamento materno. “Quando tive a minha primeira filha, que hoje está com 32 anos, passei por muitas dificuldades para amamentar e não recebi apoio nem orientação, mas mesmo assim consegui superar e amamentei ela até um ano de idade. A partir dali

aquilo me despertou interesse, e eu já cursava enfermagem. Hoje posso dizer que em toda minha caminhada profissional trabalhei envolvida com aleitamento”. Desde que se formou, há 28 anos, Helena não mede esforços para orientar sobre o tema e exalta a importância da amamentação. “O leite materno é insubstituível. Embora haja grande disponibilidade de formas lácteas no mercado, nenhuma se aproxima da constituição do leite materno, porque ele é um fluído humano. São inúmeras as vantagens, a criança que mama no seio tem muito mais chances de ser física e mentalmente saudável, o leite é a primeira vacina. Na questão emocional, a amamentação cria um vínculo ou o elo entre a mãe e o bebê”. Segundo Helena, se a questão do aleitamento materno fosse levada mais a sério muitos dos proble-

HELENA JÁ CRIOU VÁRIOS PROJETOS EM PROL DO ALEITAMENTO

mas de saúde pública como redução da mortalidade infantil, promoção e redução da mortalidade materna seriam amenizados. “A principal estratégia de combate é o aleitamento materno e é um instrumento muito simples”. Nesse contexto, a enfermeira destaca a importância da criação de um banco de leite em Guarapuava e conta como está o andamento do projeto. “Acredito que até o final do ano esteja em funcionamento. A estrutura e equipamentos devem chagar daqui uns meses no hospital filantrópico São Vicente. Mas não se pode esquecer que não basta instalar a estrutura sem um equipe bem capacitada. O banco de leite exige uma estrutura complexa, já que depende de equipamentos e equipe treinada e especializada, por isso a demora da instalação. O banco é uma necessidade da região, muitos bebês que precisam de leite humano, e em contrapartida quantas mães que estão amamentando até perdem de aproveitar o leite. A ideia é aproveitar o excedente de produção das lactantes e direcionar para recémnascidos prematuros ou que estão internados por outros motivos”. Atualmente, Helena é professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), enfermeira da Regional de Saúde e está coordenando ações como os projetos Cuida de Mim e Mame: res-

Foto: Helena Krüger

gatando o prazer por amamentar, que presta assistência a mães que têm dificuldade em amamentar. O ambulatório funcionará às quintas e sextas-feiras durante a tarde e será inaugurado na primeira semana de agosto, em comemoração a Semana Mundial de Aleitamento Materno. Nesse mesmo período, Helena também está a frente da realização do Seminário Regional de Aleitamento Materno, que será nos dias 8 e 9 de agosto, na Unicentro. “Na época da matéria estávamos orientando estágios, em que tivemos a oportunidade de fazer o manual de aleitamento materno. Foi um trabalho muito legal com as alunas de enfermagem. E depois esse material foi replicado e multiplicado dentro da Secretaria de Saúde. Utilizamos essa cartilha até hoje, ela será reformulada no Projeto Mame. A publicação foi um marco, porque foi produzida aqui e voltada para a realidade de Guarapuava”.

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versus

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BÁRBARA BRANDÃO

O filme propõe a representação do preconceito racial em um núcleo fechado de mulheres domésticas na sociedade norte-americana nos anos 60. A história é simples, mas muito sensível. O preconceito racial consegue ser retratado com perfeição ao se confrontar com mulheres da alta sociedade da época, as quais mal sabem cuidar dos próprios filhos. Em alguns momentos, como na separação dos banheiros e no controle de papel higiênico, torna-se revoltante compreender que a simples diferença da cor da pele pode gerar ameaças e perseguições tão medíocres. No entanto, a história caminha por um desejo de superação, de romper com as dificuldades e normas vigentes, para acreditar no sonho de liberdade. O filme consegue tratar de um contexto histórico com reflexos ainda na sociedade contemporânea.

BÁRBARA

YARÊ PROTZEK O longa-metragem retrata a desigualdade social na década de 60 nos Estados Unidos. Uma aspirante a jornalista decide contar as histórias das empregadas negras na casa dos patrões. No desenrolar do filme, são contadas histórias comoventes e em alguns trechos cômicas. O filme mostra como era a relação dos brancos e dos negros na época em que o direito do homem branco era defendido, como se os negros não pudessem ter os mesmos direitos. Com uma crítica sobre o racismo e o preconceito, o filme mostra as duas perspectivas existentes naquele momento: a dos brancos e dos negros. Por se tratar de um gênero de filme que gosto muito (drama), achei a história interessante do início ao fim. Vale a pena assistir pela narrativa, pela construção dos personagens, trilha sonora, cenários escolhidos, enfim, pelo contexto em geral.

“Histórias cruzadas”, de Tate Taylor, se passa em Jackson, pequena cidade no Estado do Mississipi (EUA), na década de 60. Skeeter (Emma Stone) é uma garota da sociedade que retorna determinada a ser escritora. Ela começa a entrevistar as mulheres negras da cidade, que deixaram suas vidas para trabalhar na criação dos filhos da elite branca. Aibileen Clark (Viola Davis), a empregada da melhor amiga de Skeeter, é a primeira entrevistada, o que desagrada a sociedade como um todo. Apesar das críticas, Skeeter e Aibileen continuam trabalhando juntas e, aos poucos, conseguem novas adesões.

YARÊ

indicações

ÁLBUM:THE STRANGE CASE OF BANDA: HALESTORM O segundo álbum da banda americana serve para eles se firmarem no cenário hard rock. The Strange Case Of... supera o álbum de estreia da banda, tanto em peso quanto em qualidade.

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FILME: J. EDGAR DIRETOR: CLINT EASTWOOD John Edgar Hoover é um dos responsáveis pela criação do FBI. Porém, sua vida pessoal tem segredos sombrios o suficiente para acabar com sua carreira.

ÁLBUM: OMERTÁ BANDA: ADRENALINE MOB Diferente do progressivo de suas outras bandas, aqui, os integrantes mostram um rock mais pesado e direto. Com onze faixas, Omertá traz uma grande estreia de uma banda promissora.

FILME: MILLENIUM DIRETOR: DAVID FINCHER É o primeiro filme de uma trilogia sobre a história do jornalista Mikael Blomkvist, contratado para solucionar um mistério que leva a uma trama muito maior.


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