Ditadura e resistência uff rev artefinal internet (1)

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Ditadura e Resistências

ção e suas músicas de protesto; a nova investida da linha dura e o AI 5, em dezembro de 1968”. (FALCON, 2013, p.24). Ibiúna, a repressão ao movimento dos trabalhadores, a estruturação do projeto de Reforma Universitária da ditadura e a contrarevolução organizada estabelecem um regime de terror permanente que marcariam a segunda metade do ano de 1968, intensificando um processo que já havia sido iniciado anteriormente. Esses tempos prefaciavam um novo ciclo repressivo que deixaria marcas profundas na história do Brasil, em geral, e na da UFF, em particular.

2.3.

A Reforma Universitária, o AI-5 e o decreto 477: A UFF sob o céu de chumbo

T

emendo que ocorresse no Brasil um levante de larga escala, tal qual ao que ocorreu em Paris em maio de 1968, as classes dominantes atuam conjuntamente em uma frente repressiva, que culminará posteriormente no AI-5, e em uma frente “modernizadora” conservadora, da qual faz parte a Reforma Universitária. Essa última é feita numa tentativa de expropriar a bandeira da reforma (RIBEIRO, 1978, p.27-29) dos movimentos que a levantaram no fim da década de 1950 e início da de 1960, dando à Reforma Universitária o contorno e o conteúdo definidos pelo novo bloco hegemônico alçado ao poder pós-golpe. A Reforma Universitária de 1968 não é aquela defendida pelo governo João Goulart antes de 1964, que

toma a UNB como referência. Nem o modelo defendido pela UNE, que culminaria no projeto de universidade crítica a partir das propostas da UEE-SP (MARTINS FILHO, 1987, p.146-150). Muito menos a universidade crítica ou nova defendida por um grupo de professores no âmbito do projeto derrotado na Comissão Paritária da FFLCH-USP em 1968 (CUNHA, 1988, p.155-163). O projeto de Reforma Universitária do governo, na verdade, é gestado com o objetivo de consolidar um conjunto de alterações administrativas, institucionais, de planejamento e legais que se iniciam em anos anteriores e que se aceleram em 1968. Essas alterações vêm a consolidar um modelo de universidade regido pela racionalidade empresarial e gerencial, as quais são incorporados novos mecanismos de controle da representação estudantil e dos dissensos e contestações. Suas principais características são: 1) a universidade passa a ser concebida como uma instituição destinada a produzir capital e recursos humanos voltados para o mercado, que supostamente garantiria o desenvolvimento; 2) submissão da universidade ao paradigma organizacional e de racionalidade que toma a grande empresa como modelo (SOUZA, 1981, p.161); 3) ampliação da quebra da autonomia universitária por via das intervenções do Estado e da Segurança Nacional, em algo que Leher e Silva chamaram de instituição da heteronomia (LEHER & SILVA, 2014). Entre as medidas implementadas pela lei da Reforma (5540/68) e por outros mecanismos legais e administrativos do período, estão: a implementação de taxas e anuidades no ensino público; a intensificação das transferências para

Parte 2

A Rebeldia dos Professores da UFF. Do Golpe de Estado à Formação da Aduff-SSind

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