Presente de Uma Noite - Sandra Marton ( Irmaos Wilde 02)

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PRESENTE DE UMA NOITE The Ruthless Caleb Wilde

Sandra Marton

Selvagens por natureza! O insensível advogado Caleb Wilde tem um temperamento implacável e uma inteligência afiada como navalha... Anos de trabalho incessante endureceram o coração de Caleb... Até que uma noite em Nova York mudou tudo. Agora ele é assombrado pela lembrança de lençóis amarfanhados, ondas de prazer e uma mulher inesquecível: Sage Dalton. A sereia de seus sonhos é, na verdade, a única pessoa que o fez de bobo. Mas, ainda assim, nada consegue aplacar seu desejo ardente por ela. Ao descobrir que Sage tem algo muito precioso que lhe pertence, um presente da noite que passaram juntos, Caleb irá reivindicar aquilo que lhe é de direito! Digitalização: Silvia Revisão: Andréa M.


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

Querida leitora, Mesmo o homem mais sério do mundo possui um coração sensível e ansiando pelo amor de uma mulher. Caleb sucumbiu à paixão ao passar uma noite inesquecível com Sage. Mas agora ele deseja mais. E se tornará mais insistente quando descobrir o segredo que ela esconde dele há algum tempo... Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books Tradução Vera Vasconcellos HARLEQUIN 2013 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE RUTHLESS CALEB WILDE Copyright © 2012 by Sandra Marton Originalmente publicado em 2012 por Mills & Boon Modern Romance Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

CAPÍTULO UM

Caleb Wilde se esforçava ao máximo para dar a impressão de que estava se divertindo. Não havia dúvida de que deveria estar. Encontrava-se em Nova York, uma de suas cidades favoritas, em uma festa que acontecia em uma boate do SoHo, tão na moda que a porta não possuía nenhuma identificação. Não que “na moda” fosse o termo que ele escolheria para rotulá-la. “Ostentosa” seria mais adequado, mas, afinal, o que ele sabia? Caleb suprimiu um bocejo. O cérebro parecia ter tirado férias. Não por causa do barulho, embora o som no enorme salão atingisse níveis estratosféricos, mas o que se poderia esperar de um DJ tão famoso a ponto de dar autógrafos nos intervalos do show? Também não se devia à bebida alcoólica. Caleb estivera com o mesmo copo de uísque na mão durante quase toda a noite. E definitivamente não por achar a festa entediante. O cliente, o qual Caleb viajara até ali para ver, estava comemorando 40 anos. A boate estava lotada de pessoas importantes. Administradores de fundos de cobertura, banqueiros internacionais, mandachuvas da mídia, astros e estrelas de Hollywood, realeza europeia. De segundo escalão, mas, ainda assim, realeza. E, claro, a cota exigida de beldades femininas. O problema era que Caleb estava muito cansado para apreciar qualquer uma delas. Estava na ativa desde antes do amanhecer. Tivera uma reunião às 7h com um cliente em seu escritório de Dallas. Às 10h, encontrara-se com os irmãos no rancho Wilde. Em seguida, voara para Nova York em um dos jatos particulares da família. Jantara e tomara alguns drinques com um colega dos tempos nebulosos em que trabalhara para a CIA. Caleb suprimiu outro bocejo. “Cansaço” não definia nem de longe o que sentia. Estava quase dormindo em pé. Sua presença ali, naquela noite, se devia apenas às obrigações sociais. Obrigações sociais e curiosidade. Havia pouco tempo, Caleb celebrara o próprio aniversário com um churrasco no rancho, ao lado dos irmãos e da cunhada. Recebera telefonemas das irmãs e outro do general... o último, dois dias depois, mas, afinal, quando alguém tinha um mundo a administrar, estava sempre ocupado. Tudo fora muito divertido, tranquilo e relaxado. Nada que se comparasse à festa em que se encontrava. 3


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Esse cara está ficando velho para frequentar boates da moda — Caleb dissera aos irmãos, naquela manhã. — Você certamente está — retrucara Travis, com expressão séria. — Bem, sim Quero dizer, não. Não exatamente. Quero dizer... — Sabemos o que quer dizer — acrescentara Jacob, com a mesma expressão de Travis. — É um dinossauro. — Sem dúvida. Podemos ouvir seus ossos estalarem. Os dois irmãos haviam trocado olhares significativos e, em seguida, começado a rir. — Estão parecendo uma dupla de mocinhas — dissera Caleb, esperando soar indignado. Os três sorriram e a discussão acabou por aí. Os irmãos deram início ao processo de dar cotoveladas e bater com as mãos espalmadas umas nas outras, gesto que homens adultos faziam quando se amavam. Em seguida, Caleb dissera, com um suspiro exagerado, que faria o grande sacrifício de ir à festa. — E depois nos conte como foi — Travis acrescentara, agitando as sobrancelhas. — Porque nós, igualmente macacos velhos, queremos todos os detalhes. Caleb ergueu o copo de uísque e o levou aos lábios, tomando um gole. Até então, os detalhes não diferiam do que esperara. No piso superior, onde estava, encontrara seu anfitrião e se engajara nos dois minutos de conversa gritada necessária. De lá, tinha uma visão de tudo que acontecia na pista de dança. O piso superior estava lotado, mas não se comparava ao que acontecia lá embaixo. O DJ se encontrava empoleirado em uma plataforma. As luzes ofuscantes pulsavam. O que parecia ser uma multidão de mil corpos suados se agitava ao som da música. Muitas das mulheres, todas espetaculares, mostravam interesse suficiente para lhe lançar sorrisos e olhares que apenas um defunto não saberia interpretar. O que não era nenhuma surpresa. Mas aquele efeito não era obra dele, e sim do DNA Wilde, uma mistura de centurião romano e sangue viking misturado com um pouco do que provavelmente seria Comanche e Kiowa. As irmãs Wilde provocavam os irmãos sem misericórdia sobre a aparência deles. — Oh, oh, oh — Jaimie costumava dizer, em uma perfeita imitação de uma donzela vitoriana desfalecida. — Aguente firme, coração! — Emily suspirava, com a mão espalmada no meio do peito. — Tão altos, tão morenos, tão perigosos. — Essa era a frase de Lissa, dita com toda a carga dramática de uma estrela de cinema. E aquele era o perfeito território Wilde. Tantas beldades femininas... Porém, naquela noite, Caleb não estava interessado. — Sou apenas um rapaz do campo vindo do Texas — dissera para uma loira que se insinuara para ele, havia pouco, forçando um sotaque interiorano. 4


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Aquilo fora o suficiente para afugentá-la. Na verdade, fora um pouco rude com ela. Mas, afinal, que tipo de mulher adejava os cílios para um homem e perguntava em uma voz sussurrada, que Caleb desconfiava ser usada para conquistar, se ele era alguém rico e famoso que ela deveria conhecer? Na verdade, ele era. Certamente rico. E famoso também, nos círculos jurídicos e corporativos. A abordagem da loira fora ao menos sincera. E decididamente diferente. Em outra ocasião o teria feito rir, dizer que era as duas coisas e perguntar o que ela faria quanto a isso. Mas não naquela noite. Naquele momento, pensou, relanceando o olhar ao relógio de pulso, o que queria era que se passassem mais 30 ou 35 minutos para poder ir embora. E então poderia encontrar seu anfitrião, se aquilo fosse possível, dizer-lhe que se divertira, mas tinha uma reunião bem cedo no dia seguinte em Dallas e, sentia muito, mas não poderia ficar por mais tempo. — ... para você? Caleb girou. Havia uma moça parada logo atrás dele. Bonita, não espetacular. Não em uma multidão de beldades como aquela, mas era bonita. Alta, loira, com enormes olhos azuis. E muita maquiagem. Demais para seu gosto. Não que seu gosto importasse. Bonita ou não, Caleb não estava disposto. — Desculpe — respondeu ele. — Mas terei de partir em breve. A moça se inclinou um pouco para a frente. Os seios lhe roçaram de leve o braço, mas ela recuou com rapidez. Embora breve, o contato teve o impacto de uma descarga elétrica para Caleb. A moça falou outra vez, mas ele não conseguiu escutar graças à música. Porém, certamente lhe dirigiu um segundo olhar. O que diabos era aquela coisa que ela estava usando? Um vestido ou algo que poderia ser considerado um vestido caso se acrescentasse mais 30 centímetros de tecido no comprimento. Era preto. Ou azul-marinho. Iridescente ou brilhante. Ou talvez fosse o efeito das luzes. De qualquer forma, a peça de roupa parecia ter sido colada nela. Alças finas e um pecaminoso corpete decotado que revelava a curva perfeita dos seios. Os olhos de Caleb baixaram até onde o vestido terminava, no topo das coxas. Surpreso, ele sentiu o corpo e o cérebro emergirem da apatia. Caleb sorriu, mas a moça permaneceu séria. — Sou Caleb — disse ele. — Não entendi seu nome. Os enormes olhos azuis adotaram a consistência de um iceberg. — Não lhe disse meu nome. Bastava daquela conversa. Aquela mulher podia estar disposta a jogos de sedução, mas ele não estava. — Nesse caso — disse, em seu melhor tom de intimidar testemunhas -, por que 5


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) está falando comigo? — Estou sendo paga para falar com você — retrucou a moça, com a voz tão fria quanto o olhar. — Bem, isso é bem direto, mas posso lhe garantir, moça, que não estou interessado... — Sou paga para perguntar o que está bebendo e lhe trazer outra dose. — Dessa vez, o olhar que ela lhe lançou refletia uma satisfação pétrea. — Sou uma garçonete, senhor. Acredite-me, não teria lhe dispensado um segundo olhar se não fosse esse o caso. Caleb pestanejou, confuso. Ao longo dos anos, algumas mulheres o haviam dispensado. A menina no quinto ano, Carrie ou Corey, algo assim, que o tinha esmurrado depois que ele debochara dela sobre alguma coisa durante o recreio. E uma ex-amante, que lhe dissera exatamente o que fazer com os brincos de safira de despedida que ele lhe enviara depois que ela o pressionara para determinar uma data para o casamento. Mas nenhuma delas o colocara em seu devido lugar como aquela moça. Deveria estar zangado. Mas não estava. A verdade era que admirava a insolência da loira. Aquele rosto, aquele corpo, aquele vestido... provavelmente fora importunada uma dúzia de vezes naquela noite, até que, por fim, pensara: basta! Não era tolo para pensar que aquela moça teria conseguido evitar o assédio, vestida daquela forma. Caleb preferira cursar a faculdade de Direito em vez de tocar no dinheiro do pai ou na herança que a mãe lhe deixara. Nessa época, trabalhara como entregador de pizza, garçom e balconista em um bar no campus da universidade. Conhecia o padrão de vestimenta para os garçons e as garçonetes de bares. Ao contrário dos homens, as mulheres sempre tinham de usar roupas mais ousadas e reveladoras naquele tipo de estabelecimento. Ou eram demitidas. A discriminação sexual ainda estava a todo o vapor na América do século XXI, Como advogado e homem, Caleb sabia disso. Ainda assim, achava que merecia coisa melhor do que ser tratado como algum tipo de predador. E disse isso à loira. A garçonete ergueu o queixo. — Isso significa um “não” para mais um drinque? — perguntou ela, em um tom de voz frio. — Exatamente — respondeu Caleb, virando-lhe as costas, tomando mais um gole do copo que tinha na mão e se acomodando para observar o cenário pelos próximos 15 ou 20 minutos. Não houvera muita mudança daquele que encontrara ao chegar. Muitos corpos roçando uns nos outros. Movimentos que eram quase tão divertidos 6


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) na vertical quanto seriam se estivessem sendo executados na horizontal. A multidão estava mesmo empolgada. E os funcionários que a servia também Não havia reparado neles antes, mas agora conseguia identificá-los, sem nenhum esforço. Homens de boa aparência, sem camisa, usando calça comprida preta, riam com os clientes mais simpáticos e davam atenção às mulheres que flertavam com eles. Mulheres belas, com cópias do vestido da loira que o abordara há pouco. Porém, nenhuma das garçonetes era tão bela ou tinha a mesma postura dela. Era fácil identificar a loira, mesmo em meio àquela multidão. O cabelo estava preso no topo da cabeça, formando uma massa de cachos. Além disso, havia a forma como ela se conduzia. Alta. Orgulhosa. A postura quase rígida. Esquecia-se de que estava vestindo aquela coisa extremamente sexy. Era a conduta dela que falava mais alto e dizia: mantenha-se a distância. Caleb descobriu seu olhar cravado nela. Viu o que aconteceu quando ela se aproximou de uma das minúsculas mesas que ladeavam a pista de dança. Um dos otários sentados lá ergueu o olhar, sorriu, disse algo e pousou uma das mãos nos quadris da garçonete loira. A moça saltou para trás como se a mão do cliente fosse um escorpião. Caleb observou quando ela abriu caminho através da pista de dança lotada, com uma pequena bandeja prateada cheia de drinques nas mãos, e outro idiota lhe passou a mão nas nádegas. A loira conseguiu dar um passo à direita e cravar o salto do sapato no dorso do pé do homem. Sem entornar uma única gota das bebidas. Caleb sorriu. Aquela moça sabia se defender... Ao menos, estava conseguindo, até que o mesmo idiota a seguiu, encurralou em um canto que se encontrava vazio por algum milagre e lhe disse alguma coisa. A loira fez um gesto negativo com a cabeça. O homem disse outra coisa e a tocou. Uma apalpadela rápida em um dos seios. O sorriso de Caleb desapareceu. Ele se ergueu, tentando ver melhor, mas as pessoas passavam diante dos dois, se interpondo em sua linha de visão. Muito bem. A loira conseguira escapar. Movia-se o mais rápido possível, dirigindo-se ao que devia ser a porta de serviço. Mas o homem a seguiu e alcançou a porta no mesmo segundo que ela. Em seguida, segurou-a pelos ombros e a puxou contra o corpo. A loira resistiu, mas foi inútil. O homem era muito grande e determinado. Provavelmente estava sob o efeito de drogas ou bebida. Agora, tinha uma das mãos no seio da moça e a outra — droga! — entre as pernas dela. A raiva fez o sangue de Caleb ferver. Ninguém via o que estava acontecendo? Seria ele o único que percebia que aquilo 7


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) não era um homem fazendo o papel de bobo, mas sim... uma tentativa de estupro? Caleb deixou o piso superior, pousando o copo na primeira mesa pela qual passou. Abriu caminho pela multidão e desceu a escadaria mais próxima. Da mesma forma como passava pelos defensores em seus dias de atacante no time de futebol do ensino médio. Onde ela estava? Caleb era alto, tinha 1,90m, mas era quase impossível avistá-la em meio àquela multidão. Conseguiu ver a porta. Mas nada além disso. A loira havia sumido. Assim como o homem Caleb olhou ao redor. Nada. Muito bem Respirou fundo. Algum bom samaritano tinha que ver o que estava acontecendo e colocar um fim àquilo. Ou... Deus do céu! Alguém abriu porta de serviço, recuou apressado e a largou, oscilando, até fechar. O tempo decorrido foi talvez três segundos... mas o suficiente para ele ver o que precisava. A porta não levava à cozinha, mas sim a algum tipo de armário amplo e imerso em penumbra. Provavelmente, um depósito. Lá dentro, a garçonete loira se encontrava pressionada à parede, lutando contra o homem que assomava sobre ela. Caleb correu na direção da porta, escancarou-a e disse algo grosseiro em tom alto. O homem girou na direção dele. — O que, diabos, você quer? — rosnou ele. — Isso não é da sua conta. Vá embora daqui! Caleb dirigiu o olhar à mulher. Os olhos azuis estavam arregalados, o rosto, pálido apesar das camadas generosas de maquiagem Uma das alças do vestido estava arrebentada e o corpete caía. — Você está bem? — Ele ia... — A voz da garçonete falhou. — Ele ia me... — Ei, amigo. É surdo? Disse para você sumir daqui... O homem era quase do tamanho de Caleb e também tinha a mesma compleição musculosa. Mas havia uma diferença. Um deles era só lascívia e ego. O outro era todo raiva justificada. Caleb se projetou para cima do homem Não demorou muito tempo. Alguns rápidos ganchos de direita, um de esquerda no abdome e o bastardo se desequilibrou, levando as mãos à barriga. 8


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Estava apenas me divertindo — disse o homem Caleb exibiu um sorriso largo. — Eu também — E o golpeou uma última vez. Foi tudo que precisou para o homem cair para trás, colidir contra a parede e descer lentamente até ficar estirado ao chão, onde era seu lugar. Ao lado dos pés da garçonete. Caleb olhou para a forma caída, limpou as mãos na calça comprida e dirigiu o olhar à mulher. Ela se encontrava ainda mais pálida do que há instantes atrás. — Ei! — disse ele, em tom de voz suave. Os imensos olhos azuis voaram para o rosto de Caleb. — Está tudo bem A garganta da garçonete se contraiu enquanto ela engolia em seco. — Ele... me perseguiu a noite toda. As palavras saíram em um sussurro enferrujado. Ela começava a tremer. Caleb soltou um palavrão baixo, retirou o blazer do terno e lhe entregou. — Vista isso. — Eu tentei afastá-lo, mas ele não me deixava em paz. — Um tremor lhe varou o corpo e ela voltou a fixar o olhar em Caleb. — E então, ele... me agarrou. E... me arrastou para cá. E... e... Caleb deu um passo à frente e começou a lhe envolver os ombros com o blazer. A garçonete se sobressaltou com o toque de suas mãos. — Calma — disse ele, com a mesma suavidade com que costumava domar as potrancas quando era garoto e trabalhava com os peões em El Sueno. Com muito cuidado, Caleb colocou o blazer em torno dos ombros da garçonete. A peça a cobriu do pescoço aos joelhos. — Coloque os braços nas mangas. A loira obedeceu. Com ainda mais cautela, procurando não deixar que as mãos a tocassem, ele juntou as lapelas e fechou os botões. Embora trêmula, ela não ofereceu resistência. O agressor gemeu. Caleb baixou o olhar ao homem, cujo nariz sangrava e se encontrava em um ângulo torto no rosto. Um dos olhos havia se fechado pelo inchaço. Não era o suficiente, pensou Caleb com frieza. A mulher pareceu pressentir sua intenção e lhe tocou o braço. — Por favor, pode me tirar deste lugar? — Devo chamar a polícia? A garçonete negou com a cabeça. — Não. A publicidade... E... ele não... ele não... conseguiu fazer mais do que... me tocar. Você chegou antes que ele pudesse... — Ela inspirou profundamente. — Quero apenas ir para casa. Caleb assentiu com a cabeça. Era uma excelente ideia... até ele pensar em passar pela multidão que se aglomerava na boate. — Existe alguma saída nos fundos? 9


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Sim. É aquela porta, atrás de você. Dominado pela raiva, Caleb não havia notado a porta, mas agora a via na parede dos fundos. — Vou colocar o braço em seus ombros — disse ele. — Apenas por segurança. Está bem? — A garçonete ergueu o olhar para encará-lo. O rosto estava manchado pelo rímel, os lábios tremiam e Caleb pensou que nunca vira mulher mais bela em toda sua vida. — Está bem? — repetiu ele. — Sim Caleb lhe envolveu os ombros com um dos braços. Ela enrijeceu o corpo, mas não se soltou. Os dois caminharam em direção à porta e ele a abriu. Do lado de fora, a rua estava escura e deserta. Caleb havia cruzado muitas ruas como aquela em seus dias de CIA e todos os seus sentidos vieram à tona. — Mantenha-se perto de mim — disse ele, em tom suave. A garçonete se grudou a ele quando a porta se fechou. Parecia delicada, quase frágil, na curvatura dos braços de Caleb. Ele teve vontade de voltar à boate e arremessar o punho contra o rosto do bastardo que a machucara. Mas não poderia. A moça precisava dele. E ele precisava de um transporte. Havia chegado ali de táxi, mas, ao que parecia, levaria muito tempo até que algum cruzasse o caminho deles. Os dois se encaminharam à esquina. Caleb pegou o celular e discou o número préprogramado do serviço de veículos particulares que utilizava quando se encontrava em Nova York. Estava com sorte. Uma das limusines acabara de deixar alguém a apenas alguns quarteirões dali. Enquanto esperavam, Caleb a mantinha colada a ele. Levou apenas alguns minutos para que o longo carro preto parasse no meio-fio. O motorista saiu do veículo e abriu a porta de trás. A moça girou na direção de Caleb. — Obrigada. — Não há de quê — retrucou ele, sorrindo. — Nem ao menos sei seu nome. Caleb ficou tentado a dizer que se apresentara a ela mais cedo, mas era evidente que a moça não se lembrava do incidente. Além disso, não se orgulhava do que acontecera. — Caleb — disse ele. — E você é...? — Sage. O nome combinava com ela. Era forte. E lindo. Assim como ela. Por que a achara apenas bonita quando a vira pela primeira vez? Até mesmo agora, com manchas pretas sob os olhos, aquela mulher tinha uma aparência adorável. — Bem — repetiu ela. — Obrigada por... — Fez uma pausa, corando. — Oh. — O que foi? — Quanto esse transporte custará? — Ela bateu de leve em uma peça enfeitada 10


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) com lantejoulas que lhe adornava o pulso e que ele julgara ser um bracelete. — Guardo meu dinheiro e minhas chaves comigo. Ninguém pode confiar nos armários, portanto... o negócio é o seguinte, tenho dinheiro, mas acho que não será o suficiente para pagar... — Por que eu a deixaria pagar? - Não. Quero dizer, não poderia permitir que você... — Eu iria pedir um carro de qualquer forma — mentiu ele. — Acompanhá-la até sua casa será apenas um pequeno desvio. — Acompanhar-me...? — Ela fez um gesto negativo com a cabeça. — Quer dizer, ir comigo? — Caleb assentiu. — Oh, não — Sage se apressou em dizer. — Sério, isso não é... — É, sim — retrucou Caleb em tom de voz suave, porém determinado. — Eu a acompanharei até a porta de sua casa e me certificarei de que ficará segura. Só então partirei. — Sage mordeu o lábio inferior. Caleb quase podia ler-lhe os pensamentos. Iria ele se transformar em um pesadelo ainda pior? — Palavra de escoteiro — disse ele, porque não lhe ocorria nenhuma forma de convencê-la de que suas intenções eram honradas. Além disso, tornar a atmosfera mais leve era melhor do que ceder à raiva que ainda fervilhava dentro dele. Por fim, Sage assentiu. — Obrigada, mais uma vez. — Ela girou e começou a entrar na limusine, mas tornou a virar para encará-lo. — Devo preveni-lo de que moro no Brooklyn. A forma como ela dissera aquilo dava a impressão de que estava se referindo à Mongólia Exterior. — Tudo bem — disse ele, o mais sério possível. — Minhas vacinas estão todas em dia. Sage o encarou por alguns segundos e soltou uma risada. Um som hesitante, mas, ainda assim, ouvi-lo o fez se sentir bem — Você é um cara legal — disse ela, em tom de voz suave. Ele? Legal? Caleb Wilde, ex-espião? Caleb Wilde, o advogado corporativo? Fora chamado de inteligente, de brilhante. Ousado. Diabos, até mesmo de implacável... — Obrigado — disse ele, com sinceridade. — Não há de quê. Os dois trocaram um sorriso. Sage clareou a garganta. — Eu não... não gosto nem de pensar no que poderia ter acontecido se você não... — Então, não pense. — Caleb se apressou em dizer. — E não falaremos sobre isso. Combinado? — perguntou, estendendo a mão. Sage fixou o olhar na mão estendida. Em seguida, aceitou-a com um gesto lento. Os dedos longos e a palma da mão de Caleb engolfaram a dela.

NÃO era nenhuma surpresa, pensou Sage, enquanto entrava na limusine. Seu salvador era um homem grande. Não apenas alto, mas grande no sentido de um homem 11


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) em ótima forma física. Também era alta e estava usando sapatos de salto alto, mas, ainda assim, tinha de inclinar a cabeça para trás para lhe ver o rosto. E que rosto! Aquele homem era incrivelmente belo. Não no sentido de um menino bonito, como muitos outros homens naquela cidade, mas de uma forma agressivamente masculina. Não que aquilo tivesse alguma importância. Grande. Valente. Destemido. E viera em seu socorro quando ninguém mais tentara. Muitas pessoas viram o que acontecera. Que um homem a havia quase arrastado até o depósito. Ela resistira, chutando-o e o socando, mas as pessoas que viram haviam decidido que aquilo devia fazer parte de algum jogo sexual ou não quiseram se envolver. Alguém abrira até mesmo a porta, soltara uma risada e dissera: — Ei, desculpe pela intromissão! Se aquele estranho não chegasse... — Sage? Pestanejando, ela o encarou. — Seu endereço — disse ele, em tom de voz gentil. Pelo tempo de uma batida do coração, apesar de tudo que estivera pensando, Sage hesitou. Caleb lhe cobriu a mão com a dele, sobre o couro macio do assento do carro. — Prometo — disse ele. — Que pode confiar em mim E Sage, que vivia há tempo suficiente para saber que não devia, exibiu um sorriso trêmulo para seu herói e decidiu que poderia.

CAPÍTULO DOIS

O tráfego estava intenso enquanto cruzavam Manhattan, mas voltou a diminuir quando transpuseram a Brooklyn Bridge. Agora a limusine se movia rapidamente pelas ruas escuras. Sage estava silenciosa. A breve risada que Caleb conseguira arrancar dela há muito se dissipara. Encontrava- se encolhida na extremidade do banco comprido. O rosto, virado para a janela. Tudo que ele podia ver era a nuca e a rigidez dos ombros delicados sob o blazer que lhe emprestara. E as pernas muito longas. Diabos! Não deveria pensar sobre aquelas pernas. Não em um momento como aquele. Sage tivera uma experiência terrível. De alguma forma, pensar nela como mulher 12


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) naquele momento lhe parecia errado. O que ela precisava era... o quê? Caleb se sentia impotente. Sage não quisera chamar a polícia e ele podia entender seus motivos, mas certamente precisava de... alguma coisa. De um chá quente? Um conhaque? Alguém para conversar? Um abraço? Sage lhe permitira abraçá-la, mas apenas por um minuto. Era um estranho. Do sexo masculino. A última coisa que ela desejaria era estar em seus braços. O problema era que todos os instintos de Caleb lhe diziam para esticar a mão, puxá-la para perto e lhe acariciar o cabelo. Passar um pouco de sua força para ela. Se ao menos pudesse tirá-la daquele estado de apatia. Fazê-la dizer alguma coisa. Vasculhou o cérebro à procura de algo para dar início a uma conversa. “O que está achando desse tempo?” parecia-lhe inadequado. Além disso, Sage não parecia disposta a conversa fiada. A verdade é que ele também não estava. A mandíbula de Caleb se contraiu. Ainda fervilhava de raiva. Deixara que o patife que a atacara saísse tranquilo da situação. Um homem que tentava se impor a uma mulher merecia ser surrado até quase à morte. Caleb deixou escapar um profundo suspiro. Porém, varrer o chão com aquele bastardo apenas a teria deixado mais aterrorizada. A melhor coisa fora tirá-la de lá o mais rápido possível. Mais uma vez, dirigiu o olhar a Sage. Ela havia puxado as pernas para baixo do corpo e estava trêmula. Caleb se inclinou para a frente. — Motorista? Desligue o ar-condicionado, por favor. Sage girou rapidamente na direção dele. — Não, por favor. Não por minha causa. Caleb forçou um breve sorriso. — Ora — disse ele, tentando soar casual. — Estou fazendo isso por mim. Estou quase congelando. Vocês, nortistas, parecem ter mania de arrepios. Os olhos azuis, arregalados e quase luminosos no interior sombrio do veículo lhe procuraram o rosto. — É mesmo? — Ora — disse ele, forçando o sotaque texano pela segunda vez naquela noite, disposto a fazer o que fosse necessário para que ela continuasse falando. — Sou um rapaz do Texas. Porém, o artifício não funcionou. Ela se limitou a assentir e dizer “Oh”, antes de voltar mais uma vez o olhar à janela. Caleb deixou passar alguns minutos e voltou a tentar. — Então — começou, com animação forçada. — Estamos no Brooklyn agora, certo? Era uma pergunta estúpida, que merecia uma resposta tola, mas Sage era muito 13


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) educada para dá-la. Em vez disso, girou na direção dele. — Sim. Caleb assentiu com a cabeça. — Em que parte você mora? — É um lugar chamado East New York. — Nome interessante. O comentário o premiou com um discreto sorriso. — É um bairro interessante. — Que significa...? — Já esteve no Brooklyn antes? — Serve um open house em Park Slope talvez sete ou oito anos atrás? — A pergunta o agraciou com outro sorriso vago. Caleb teve vontade de erguer o punho no ar em um gesto de vitória, mas se conformou em retribuir o sorriso. — Claro que não. Park Slope é luxuoso. Cheio de advogados, economistas... O que foi? — Era a profissão da pessoa que eu estava visitando naquela noite — explicou Caleb. — Um advogado amigo meu, cuja esposa é uma contadora pública. — Não me diga que você é um contador público! — Não sou. — Caleb sorriu. — Sou advogado. — Também não parece ser advogado. — Por que não? Sim, por que não? Bem, porque advogados e contadores públicos deviam ser frios e lógicos, certo? Porém, aquele homem agira influenciado por puro instinto. Protegera-a e a salvara. Sage detestava até mesmo o conceito da violência, mas ver Caleb nocautear seu agressor lhe causara um frisson. O comportamento dele era tão masculino. Bruto, embora terno. A combinação mais sexy possível. Era verdade que não possuía grande conhecimento sobre os homens — bem, exceto por David, a quem adorava -, mas era impossível imaginá-lo cuidando dela como Caleb. Tinha quase certeza de que fora ele o cara que a aborrecera no piso superior da boate, mas, no final das contas, Caleb fora o único homem que conseguiria enxergar além de seu vestido indecente e ir em seu socorro. Agora estava tentando fazê-la relaxar. Aquela era a finalidade daquela conversa trivial. Sage apreciava os esforços de seu salvador, mas o que realmente desejava era se enroscar em um canto e fingir que não estava ali, como costumava fazer quando criança. Mas Caleb não lhe permitiria. E provavelmente estava certo. Fingir que algo não estava acontecendo não funcionara quando era uma menina e não estava funcionando agora. — ... ainda estou esperando — dizia ele. Sage pestanejou, confusa. 14


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Esperando? — Claro. Se é bom ou ruim o fato de não achar que pareço um advogado. Caleb estava sorrindo e o coração de Sage sofreu uma discreta aceleração. Aquele homem era dono de um sorriso espetacular. E incrivelmente belo. — Aquele soco de direita que deu — disse ela, afastando todos aqueles pensamentos absurdos da mente. — Não é típico de um advogado. Caleb soltou uma risada. — Obrigado... acho — respondeu, percebendo os lábios de Sage se curvarem em um breve sorriso. Excelente, mas o silêncio voltou a reinar no interior do veículo. Aquilo não era bom, pensou ele enquanto a mente funcionava a todo vapor para encontrar outra forma de recomeçar a conversa. Aquele pequeno diálogo tivera um efeito positivo. Sage tinha a postura um pouco mais relaxada. Diga alguma coisa, Wilde, pensou ele, limpando a garganta. — Então, se Park Slope é luxuoso, onde você vive é... ? A velocidade da limusine reduziu até parar ao meio-fio. — Chegamos, senhor — disse o motorista. Caleb olhou pela janela, observando a rua e os prédios que se enfileiravam um do lado do outro. Em seguida, dirigiu o olhar a Sage. — É aqui que você vive? Mas logo percebeu que empregara o tom errado. Sage enrijeceu o corpo, dessa vez indignada. Porém, que reação poderia ter um homem quando acompanhava uma mulher à porta de casa e a tal porta se localizava no que poderia ser chamado de um cortiço, para ser generoso? Encontravam-se em frente a uma construção de quatro andares. O prédio era um dentre uma fileira de construções idênticas, coladas umas as outras como contas em uma corrente. Caleb podia ver as janelas cobertas por ripas de madeira. Barras de ferro enferrujadas. Degraus débeis que levavam a sacadas ainda mais frágeis. A rua era longa, estreita, com alguns postes de luz apagados. O lugar parecia uma propaganda da deterioração urbana. O que não se conseguia ver eram pessoas. Era tarde, claro, mas aquela era uma cidade que fervilhava e nunca dormia. — Obrigada — agradeceu Sage. Caleb girou o corpo na direção dela. O motorista estava parado, com a porta aberta, e ela se preparava para sair do carro. — Espere um minuto. — Foi muito gentil de sua parte, senhor... Caleb. Mas ele a segurou pelo braço. — Eu disse “espere um minuto”! Sage sibilou, tentando se soltar. Movimento errado, droga! Podia quase ver o que ela estava pensando. 15


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Com muito cuidado, ele a soltou. — Quis apenas dizer... tem certeza de que este é o endereço certo? A expressão de Sage mudou de temerosa para desafiadora. — Sim É aqui que eu moro. — Caleb pensou em um modo educado de lhe dizer que aquela vizinhança era perigosa, mas certamente ela já sabia disso. Mas não importava. Sage lera sua mente. — Não é como Park Slope — disse ela, com a sombra de um sorriso. Para o inferno com a educação! — Não — respondeu, sem rodeios. — Certamente não. A resposta varreu a sombra do sorriso do rosto de Sage. — Devo me desculpar por você não aprovar o lugar onde moro? — Não. Claro que não. Quis apenas dizer... — Caleb se calou, inspirou profundamente e expeliu o ar antes de prosseguir. — Onde fica o metrô? — Por quê? — Porque estou tentando imaginá-la perfazendo esse caminho todas as noites! Esse é o motivo. — Eu... costumo andar do metrô até em casa com uma pessoa. — E ela trabalha com você? — Não, mas nossa jornada de trabalho é similar. — Sim, bem, onde está ela esta noite? Aquela era uma excelente pergunta, embora complicada. Começando pelo fato de que “ela” era “ele” e se chamava David. Além disso, não estava disposta a responder àquela pergunta. — Ouça — começou ela. — Admito que este... não é exatamente um bairro espetacular e, graças a você, não tive de vir de metrô. Portanto, agradeço-lhe mais uma vez. Aqui está seu blazer e... — Fique com ele — retrucou Caleb, em um tom quase rude. — Ao menos, dê-me seu endereço para que eu possa... — Pode me devolver depois de eu acompanhá-la até a porta. — Não, isso não é necess... Caleb saiu da limusine e a contornou. — Sem discussões. Vou levá-la até sua porta. Está resolvido. — Está acostumado a fazer valer sua vontade? — Sim, quando é necessário. Caleb podia quase vê-la pesando suas palavras. Por fim, Sage suspirou. Uma parte da beligerância desapareceu de seu semblante enquanto ele lhe estendia a mão. Após hesitar por alguns instantes, ela a aceitou. A mão era quente e segurava a dela com força. Sage lutou contra o desejo de entrelaçar os dedos aos dele. A verdade era que a bravata a havia abandonado. O fato de Caleb ter lhe lembrado de que, se não a tivesse trazido, ela teria feito aquele caminho a pé tivera tal efeito sobre Sage. Ainda mais quando sabia que houvera uma série de assaltos recentes no bairro a mulheres que viviam sozinhas. 16


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Não que vivesse sozinha. Não exatamente. A questão era que não havia nada a ganhar, fingindo que não apreciara a ajuda de Caleb. — Obrigada — disse ela enquanto subiam os degraus que levavam à sacada. — Mais uma vez. — Não há o que agradecer. Fico feliz em ter podido ajudá-la. — Quando alcançaram a porta da frente, Caleb estendeu a mão. — Suas chaves. Sage deu de ombros, como se aquilo não fosse importante. — A fechadura está quebrada. Caleb queria dizer alguma coisa, ela podia ver, mas não o fez. Em vez disso, assentiu e abriu a porta. E disse algo baixo e desagradável. Sage não podia culpá-lo. Era assim que se sentia todas as vezes que penetrava no hall escuro e sujo, inspirava o fedor da cerveja, urina e maconha. Quando via as portas semidestruídas que se enfileiravam no corredor e a escada de madeira que se erguia na escuridão. Diga alguma coisa, disse ela a si mesma, diga alguma coisa. — Bem — começou ela, em tom alegre. — É isso. — Caleb a olhou como se ela fosse louca. — Meu apartamento é no quarto andar. Nenhuma palavra da parte dele. Ou... espere. Havia... alguma coisa. Uma discreta faísca nos olhos azuis. — O que, diabos, está fazendo em um lugar como este? Sage pensou em uma meia dúzia de respostas, mas qualquer uma delas revelaria questões pessoais que ele não precisava saber. — Moro aqui — disse ela, com o máximo de dignidade que pôde reunir, antes de se dirigir à escada. Porém, não conseguiu ir muito longe, antes que as mãos longas se fechassem em seus ombros e a girassem na direção dele. — Droga! — disse ele, em tom brusco. — Pare de representar! Pode ser vantajoso fingir ser forte e experiente, mas eu estava lá, uma hora atrás, quando o preço por esse fingimento se tornou muito alto. — Sage ofegou quando ele a ergueu até que ficasse na ponta dos pés. — Há muitos perigos para você aqui. — Nada aconteceu até agora. — É mesmo? É assim que define o que lhe aconteceu esta noite? — Aquilo não tem nada a ver com isto. — Você trabalha em um lugar perigoso. E vive em um lugar perigoso. — Isso se chama fazer o que posso para ter um teto sobre minha cabeça. — Não há ninguém que possa ajudá-la? — Estou me virando bem sozinha. — Oh, sim Estou vendo... 17


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Uma das portas do prédio se abriu. Dois homens saíram para o corredor. Um deles era enorme e feio. Metade do rosto de um deles estava coberto por tatuagens feitas em casa. Sage os vira antes. Tinham o hábito de lhe dizer coisas obscenas quando ela passava. Aqueles dois a apavoravam. — Uau! — disse o tatuado. — Estamos interrompendo a festa? O outro sorriu, exibindo dois dentes de ouro na frente. — Está parecendo divertido. — Claro que sim. Acha que talvez eles queiram companhia? As mãos de Caleb se enterraram nos ombros delicados. Ela quase podia sentir a tensão se irradiando dele. — Caleb — murmurou ela. — Não. — Kay-Leb — imitou o tatuado, em falsete. — Não. Oh, Deus! — Caleb — disse ela, em tom áspero. — Você vem ou não? — Sim, cara. Você vai com ela ou não? Porque se não for... Sage se soltou das mãos que lhe apertavam os ombros, segurou o braço de Caleb e quase o arrastou na direção da escada. Apesar dos esforços em se soltar, ele concluiu que Sage não permitiria. A única forma de se desvencilhar seria a machucando, e Caleb preferia cortar a própria garganta a fazer isso. — Droga! — rosnou ele. — Não fugirei desses... desses... — Eles são dois — sussurrou Sage. — E você é apenas um. Caleb soltou uma risada. Um som áspero e grotesco. E ela soube que aqueles dois não seriam páreo para o homem ao seu lado. Ainda assim, não poderia permitir que Caleb corresse aquele risco por sua causa. Sage agia baseada no instinto feminino. — Sim, mas se estiver errado? — Não estou. — E se estiver? — insistiu ela. — O que acontecerá comigo depois? Caleb a encarou. A porta no andar de baixo bateu com força. Sage conseguiu expelir o ar que prendia, aliviada. Caleb xingou baixo, envolveu-a com um braço e ela se colou ao corpo musculoso. Ela podia sentir as batidas vigorosas do coração de Caleb. A estrutura forte parecia ter sido forjada em aço. E então, lentamente, ele deixou escapar um longo suspiro. — Está tudo bem — disse, em tom de voz suave. Sage assentiu com a cabeça e girou o rosto para enterrá-lo na curva do pescoço largo. Estava tudo bem, agora que ele a abraçava. E se Caleb não estivesse ali? Sage deixou escapar um fraco gemido de nervoso. Ele a puxou mais para perto. Os dois permaneceram assim por alguns longos minutos. E, então, ela recuou. 18


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Não... não sei o que dizer. — Não precisa dizer nada. — Quero dizer, quantas vezes uma pessoa pode dizer “obrigada”? Caleb inclinou a cabeça e roçou os lábios da forma mais suave possível contra os dela. Não havia nada de sexual no gesto. Sage sabia que ele quisera confortá-la com aquele gesto e conseguira. Como seria se Caleb a beijasse de maneira diferente, de uma forma que significasse algo mais? — Sage? Você está bem? — Sim — respondeu ela, levemente ofegante. — Estou. — Muito bem — Caleb retrucou, de forma brusca. — Mais três lances de escada e pode se livrar de mim. Subiram o restante dos degraus e Sage estacou quando chegaram ao quarto andar, apontando para uma porta em frente a eles. — É aqui que moro. Caleb estendeu a mão. — Suas chaves. — Ergueu as sobrancelhas. — Suponho — acrescentou, em tom de voz seco — que essa fechadura esteja inteira? Sage confirmou com a cabeça. Em seguida, entregou-lhe as chaves. As mãos dos dois se tocaram. A dela estava trêmula. Os olhos de Caleb se estreitaram — O que foi? Sage negou com a cabeça. O que poderia dizer? Não a verdade. Que, no momento em que cruzasse aquela porta e ele partisse, estaria sozinha. Que, apesar do acordo que fizera, de ela ter prometido não pensar no que havia acontecido na boate, sabia que não conseguiria. — Está assustada — disse ele, sem rodeios. — Não — Sage se apressou em dizer. — Estou bem. — Uma ova que está. E não a culpo. — Sério, estou bem. Caleb não respondeu. Em vez disso, destrancou a porta, mas a bloqueou com o corpo. No passado, aprendera a nunca entrar em um lugar que oferecia perigo em potencial, sem estar vigilante. Estavam nos Estados Unidos, não no Iraque ou no Paquistão, mas tudo era possível. E, depois do que acontecera na boate e o que quase acontecera no andar térreo há pouco, seu nível de adrenalina ainda estava alto. — Lar, doce lar — disse ela, com uma risada baixa. De onde estavam parados tinham a visão de todo o apartamento, mas não havia nada de agradável nele. Uma sala de estar do tamanho de uma caixa de sapatos. Um quarto. Um toalete. Uma cozinha minúscula. O lugar ostentava uma mobília velha e gasta, mas tudo se encontrava escrupulosamente limpo. — Fique aqui — disse ele. Caleb entrou em um por um dos aposentos e, por fim, 19


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) voltou à porta de entrada. — Tudo limpo. Caleb sabia que estava na hora de lhe desejar boa-noite, mas não conseguia proferir as palavras. Então ela disse: — Sei que está tarde, mas... gostaria de tomar um café? Caleb respondeu que café era exatamente o que estava querendo. Estava claro que aquela também era a resposta que Sage esperava. — Ótimo — retrucou ela, deixando escapar um profundo suspiro. Em seguida, fechou a porta e a trancou. — Para ser sincera... acho que... não conseguiria dormir de imediato. Caleb pousou a mão sob o queixo delicado e lhe ergueu o rosto. — Está segura agora — disse, em tom de voz suave. — Eu sei. — Sage exibiu outro sorriso. — Esse é um dos riscos de ser atriz. Quero dizer, ter uma imaginação fértil. — É isso que faz? É atriz? — Aham. Por isso trabalho de noite na boate. Sobra tempo para fazer testes durante o dia. — Eu já a vi antes? — perguntou ele e os dois gargalharam, sabendo que aquela era a mais clichê das perguntas. — Recentemente? Bem, há um comercial de água mineral que, se conseguir reparar, sou a cliente número quatro da fila no caixa. Caleb sorriu. — Cliente número quatro, certo? — Tentei ser a cliente número dois, porque havia um texto para citar, mas o diretor achou que outra atriz seria melhor para o papel. — Erro dele. Sage lhe devolveu o sorriso e ele teve vontade de aplaudir. — Quando eu conseguir meu primeiro Tony ou Oscar, vou destacar isso no meu discurso de premiação. Os dois gargalharam outra vez. Em seguida, o riso secou. O tempo pareceu se estirar enquanto a sala imergia em um silêncio pesado. Repleta de energia sexual. Mútua. Caleb podia sentir a pulsação nas orelhas e deu um rápido passo atrás. Sage fez o mesmo. — O café logo ficará pronto — disse ela, em tom de voz jovial. — Dê-me ao menos um minuto para trocar de roupa, está bem? Caleb limpou a garganta. — Sem problemas. Vou... vou... — Vou o quê? Não faria nada sensato se não fosse cauteloso. Sage desapareceu por cinco minutos, o que foi suficiente para que Caleb recobrasse o autocontrole. E imaginasse o que ela estaria vestindo. 20


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Imagens pipocavam em sua mente, das quais deveria se envergonhar, porque não havia nada de sexual naquilo. E Sage reforçou isso ao reaparecer trajando um conjunto de moletom, com o rosto sem maquiagem e o cabelo solto. Como conseguia estar ainda mais graciosa sem nenhum daqueles artifícios? — ... blazer. — Caleb pestanejou várias vezes. Ela estava lhe devolvendo o blazer. — Disse que acho que seu blazer está amarrotado. — Ah, não tem problema. Apenas... esqueça isso... — Ele pegou o blazer e o pousou sobre o encosto de uma cadeira estofada que já vira dias melhores. Droga, por que não conseguia formar uma frase coerente? — Ah, vou lavar as mãos se não se importar. — Oh, claro. Farei o café. Acha que o chofer quer uma xícara? Posso levar uma para ele... — Ele tem uma garrafa térmica. Os motoristas dessas empresas sempre... — Caleb fez um movimento negativo com a cabeça, admirado. Depois de tudo que acontecera, ela ainda conseguia pensar na necessidade dos outros. — Mas direi a ele que você pensou nisso — afirmou. — Ele ficará agradecido. De alguma forma, Caleb conseguiu se dirigir ao toalete do tamanho de um armário. Girou a torneira de água fria. Tinha de manter a cabeça no lugar. Sage era uma mulher bonita. Diabos, era linda! E daí? Vivia em um local horrível e trabalhava em outro não menos perigoso. Mas ele não era seu protetor, nem guardião. Também não queria uma aventura de apenas uma noite com ela. Sage não era o tipo de mulher talhada para sexo casual. Caleb colocou as mãos em concha sob a torneira e jogou água no rosto. — Uma xícara de café — disse ele, ao espelho. — E estará fora daqui. Abriu a porta e se encaminhou à cozinha. Tomou uma xícara de café. Rápido. Sage fez o mesmo, porque, sim, estava na hora de colocar um ponto final naquilo. — O café está ótimo — elogiou, com um breve sorriso. — Eu mesma moo os grãos — informou Sage, retribuindo o sorriso. — Bem.. — disse Caleb por fim, erguendo-se da cadeira. Ela fez o mesmo e os dois se encaminharam à porta, a qual não oferecia grande proteção. Oca. Nenhum olho mágico. Uma corrente que em uma porta como aquela era como carregar um revólver com bolinhas de espuma de borracha. — Esqueceu algo — disse Sage. Caleb girou e ela lhe estendeu o blazer. — Obrigado — disse ele, pegando o blazer e hesitando por alguns instantes. — Você vai ficar bem? — Sim — respondeu Sage, rápido demais. — Ouça, talvez não devesse passar a noite aqui, sozinha. — Pode acreditar, ficarei bem. 21


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Caleb desviou o olhar para o sofá. Era feio como o pecado e projetado para uma casa de boneca, mas havia uma grande almofada em uma das extremidades e um cobertor dobrado sobre o encosto. — Parece confortável. Sage corou. Por quê? Saberia o que ele estava a ponto de dizer? Porque ele sabia, mesmo antes de as palavras lhe escaparem pelos lábios. — Ficarei aqui — disse ele. — No sofá. Até amanhã. — Não — protestou Sage. — Sério, não é necess... Caleb retirou o celular do bolso e falou com o motorista da limusine. Informou-o de que havia mudado de planos. — Diga ao seu chefe para me enviar a fatura e acrescentar duzentos dólares para você. Sim. Claro. Não há de quê. — Não — repetiu ela. — Espere... — Lembra-se do que eu disse sobre sempre fazer valer minha vontade quando quero? — Caleb desabotoou os punhos da camisa e os enrolou. — Bem, este é um dos momentos. — Mas eu estou bem. Estou segura. Estou... — Conheço algumas pessoas — disse, em tom de voz brusco. — Darei alguns telefonemas pela manhã e verei o que posso fazer para lhe arranjar outro apartamento e outro emprego. — Caleb. Estou falando sério... Erguendo uma das mãos, ele afastou uma mecha de cabelo dourado do rosto de Sage. — Aqui vai algo que precisa aprender sobre mim — disse ele, em tom de voz baixo. — Posso ser tão teimoso quanto uma mula. Os olhos de Caleb lhe varreram o rosto e se detiveram nos lábios aveludados. O desejo de beijá-la pulsava forte dentro dele, mas não iria ceder à ânsia. Passaria a noite ali para protegê-la, não porque a desejava. Mentiroso. Desejava-a. E muito. Mas não iria tirar vantagem de Sage. Mas poderia beijá-la. Apenas uma vez... Droga! — Vá se deitar — disse ele, com voz áspera. — Descanse um pouco. Conversaremos mais amanhã. Sage não argumentou. Caleb imaginou se ela estava tendo o mesmo problema, se pensamentos similares aos dele lhe passavam na mente. Rilhando os dentes, ele a observou se afastar em direção ao quarto e fechar a porta. Em seguida, se sentou no sofá, retirou os sapatos e se deitou de costas. Não esperava dormir, mas, por fim, acabou cochilando... Um som o acordou. Era Sage, parada do lado de fora do toalete, observando-o.

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Sandra Marton - [Irm達os Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paix達o 332)

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

CAPÍTULO TRÊS

A luz vinda da rua lançava uma suave iluminação sobre ela. Sage trajava o mesmo conjunto de moletom que ele vira mais cedo. O cabelo, de um dourado desbotado, se encontrava desgrenhado, e ela estava descalça. Parecia macia, doce e tão desejável que o fez querer se levantar e envolvê-la nos braços. Mas Caleb não o fez. Sage o estava observando com uma imobilidade que dava a impressão de estar decidindo o que faria no momento seguinte. Poderia apenas esperar que aquela decisão o incluísse. Caleb permaneceu tão estático quanto ela, embora cada célula viva de seu corpo estivesse alerta com a presença daquela mulher. Ele engoliu a respiração em seco, observando-a por sob o anteparo dos próprios cílios. Sage iria até ele? Iria se inclinar e beijá-lo? Ou estaria simplesmente vagando pelo apartamento sem nenhuma motivação específica? Talvez apenas não estivesse conseguindo dormir. Caleb esperou por algum sinal de resposta. Alguns minutos se passaram até conseguir um. Sage desviou o olhar e, em seguida, caminhou em silêncio até a cozinha. Caleb deixou escapar um longo suspiro. Aquilo fora desanimador... e, ao mesmo tempo, não fora. Não passara a noite ali para fazer sexo, e sim para protegê-la. Querer fazer amor com ela não tinha nada a ver com aquilo. Era um desejo voraz, egoísta e totalmente masculino. Sage merecia tratamento melhor. Se por mais nenhuma outra razão, ao menos por ter confiado nele. Tinha de honrar aquela confiança. A honra, sem nenhum exagero, era o princípio fundamental que norteava a vida de Caleb. E o mesmo valia para todos os irmãos Wilde. O pai sempre estivera muito ocupado construindo uma carreira quatro estrelas no exército para desempenhar um papel paterno decente, mas conseguira instilar um código de ética básico na mente dos filhos. Honra. Honestidade. Dever. Caleb ouviu a porta do refrigerador se abrir e depois fechar. Os sons que vinham da cozinha lhe diziam que Sage estava se servindo de um copo de água. Ou leite. Esforçava-se para fazer o mínimo de barulho possível, mas todos os sentidos de Caleb estavam sintonizados com ela. E agora? Devia ficar onde estava? Ir ao encontro dela? Ver se ela estava precisando dele? Caleb suprimiu um gemido. 24


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sabia a resposta certa para aquela pergunta. Fechou os olhos e rolou para o lado, fingindo dormir. Aquela não só era a atitude certa, mas também a mais sensata... Mas era um pouco tarde para se importar com a sensatez, certo? Por que, diabos, teria um homem sensato se oferecido... não, insistido em passar a noite no sofá do apartamento de uma mulher que mal conhecia? Levantou-se e se dirigiu à cozinha. Não o fez de modo muito silencioso. A última coisa que desejava era assustá-la. Estacou à soleira da porta, viu-a parada à bancada, com uma embalagem de leite aberta em uma das mãos. Estava de costas para ele. O cabelo cascateava pelas costas. Um desejo quente e aguçado o varou. Volte para o sofá, disse Caleb a si mesmo. Apenas vire as costas e ela nem saberá que esteve aqui. Em vez disso, ele limpou a garganta. — Sage? — Ao girar, ela deixou cair o copo que segurava, que se estilhaçou no que pareciam milhares de pedaços contra o linóleo gasto. Não precisava mais se preocupar em não assustá-la. — Querida. — Ele entrou rapidamente na cozinha. — Está tudo bem. Sou eu. — Oh, Deus! Pensei... Quero dizer, pensei... Sage estava trêmula. O rosto exibia a mesma brancura do leite. Cacos de vidro se encontravam espalhados por todos os lados. — Não se mexa — disse ele. — Ou se cortará. Tarde demais. Um fino veio escarlate se juntara ao leite derramado. Caleb estendeu os braços. — Venha. Deixe-me tirá-la daqui. Sage hesitou. Em seguida, se inclinou na direção dele, envolvendo-lhe o pescoço com os braços. Caleb a ergueu no colo. Deus, a sensação de tê-la contra o corpo! Macia. Quente. A fragrância refrescante e delicada, como uma tarde de primavera. Podia sentir a respiração suave contra o pescoço, o cabelo sedoso contra o rosto. Os seios, o abdome, todo o corpo de Sage pressionado a ele. Caleb ansiava por puxá-la ainda mais contra o corpo, escorregar as mãos pela espinha delgada, erguer-lhe o rosto na direção do dele... Pare com isso, disse ele a si mesmo. Aqueles pensamentos, o desejo ardente, eram totalmente errados. Talvez por esse motivo a voz de Caleb tenha soado tão rude enquanto a carregava para o toalete e a sentava sobre a tampa do vaso sanitário fechado. — Muito bem — disse ele, acendendo a luz sobre a pia. — Vamos cuidar desse corte. — Não é nada. — É bem provável que tenha razão. — Ele se ajoelhou e segurou seu pé. — Mas vamos nos certificar, está bem? 25


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) O pé de Sage era pequeno, com um arco elevado. As unhas estavam pintadas em um tom de rosa muito pálido. Caleb tinha vontade de erguer aquele pé, levá-lo à boca e beijar o dorso... Uma lava fervente de desejo o invadiu, fazendo-o se erguer com extrema rapidez. Em seguida, abriu a torneira da pia. — Muito bem — repetiu ele, franzindo a testa. “Muito bem” parecia ter se tornado sua expressão favorita. — Tudo de que precisamos agora é uma toalha de rosto, uma toalha de banho e um curativo. E de um sorriso de Sage, que o observava com expressão ilegível no rosto gracioso. Caleb sabia como mudar aquilo. Inclinou-se na direção dela, roçou-lhe os lábios com os dele e escorregou os dedos pelo cabelo sedoso... — Caleb. A voz de Sage soou tão suave que o fez estremecer sobre o toque etéreo daquela vibração sonora. — Sim — disse ele, forçando um sorriso largo. — Eu sei. Minhas habilidades médicas são limitadas, mas... — Caleb. — Sage o encarava com a cabeça inclinada para trás. Ele podia ver a pulsação alterada na base do pescoço delicado. — O que é? — respondeu ele, em um sussurro rouco. Sage umedeceu os lábios com a ponta da língua. — Meu... pé está ótimo. Sério. Veja. O sangramento estancou e o corte é tão pequeno que mal dá para ver. Caleb desviou o olhar do rosto gracioso a sua frente e o pousou no pé que segurava. Sage tinha razão. O sangramento havia parado. Tudo que restara fora um corte mínimo. O que Sage faria se ele encostasse os lábios naquele corte? Caleb se afastou. Um segundo a mais e se encontraria tão rígido quanto uma pedra. E o que seria da honra e da confiança? Deixou escapar um suspiro, pensando em rios, lagos e córregos gelados. — Toalhas de rosto — disse ele. — Onde você as guarda? — Estão no armário, na gaveta do meio. Caleb assentiu e pegou uma das que se encontravam em uma pilha bem organizada, mergulhou-a na pia e a torceu. — Perfeito — disse ele, agachando-se e erguendo mais uma vez o pé dela. Sage sorriu. — O que foi? — perguntou ele, erguendo o olhar e percebendo o sorriso. — Estou apenas constatando que você estava certo. Sabe ser muito teimoso. — Eu lhe disse. Caleb tocou levemente o corte com a toalha. Sage voltou a observá-lo. As mãos eram longas. Limpas, com unhas bem aparadas, mas não pareciam pertencer a um homem que ganhava a vida atrás de uma mesa. Eram mãos fortes. Firmes. Masculinas. 26


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Como seria a sensação delas em seu corpo? Uma onda de calor a envolveu. Droga! Não pensara em Caleb o suficiente por aquela noite? Não haviam sido as imagens daquele homem, daquele estranho, que a fizeram virar de um lado para o outro no colchão? Aquilo era ridículo. Sage limpou a garganta. — Eu, ah, acho que fiz uma grande bagunça na cozinha. Caleb ergueu mais uma vez o olhar. — A culpa foi minha. Dei-lhe um grande susto. — Não tive intenção de acordá-lo. É que... não conseguia dormir. — Pesadelos? Sage negou com a cabeça. — Não. Apenas não conseguia... — Eu também não. — Não é de admirar. Aquele sofá... Mais uma vez, ele ergueu o olhar. — Não tinha nada a ver com o sofá. A voz de Caleb soou baixa. Rouca. Sage o encarou e um rubor suave se espalhou pelas bochechas de seu rosto. Sabia o que ele estava lhe dizendo. Fora ela que o mantivera acordado. Como Caleb reagiria se ela lhe dissesse que lhe acontecera a mesma coisa? Sentiu o coração dar um salto no peito. Os olhares dos dois se encontraram e se mantiveram fundidos um no outro até que Caleb se ergueu com um movimento rápido. — Está quase no fim — O tom de voz se tornara brusco. — Deixe-me colocar um curativo. — Não precisa de curativo. — Sim, precisa. Estão no armário dos medicamentos? Sage suspirou. — Sim De nada adiantaria argumentar com ele. Àquela altura, já havia chegado a tal conclusão. Seu cavaleiro era um homem determinado. O que, tinha de admitir, era uma qualidade admirável, principalmente quando toda aquela determinação estava focada em cuidar dela. Nunca ninguém fizera isso antes. Bem, exceto por David, algumas vezes, mas não era o mesmo. Caleb a fazia se sentir... protegida. Mais que isso. Fazia com que se sentisse estimada. Uma definição tola, já que ele era um completo estranho. Sage o observou retirar a caixa de curativos do armário, abri-la e se agachar em frente a ela. O toque das mãos longas era suave. Tudo nele era gentil. Aquilo a surpreendia, levando em conta o tamanho de Caleb e a forma como ele lidara com seu agressor e com a dupla de brutamontes no hall de entrada, horas atrás. Estava totalmente focado. Em seu pé e no corte inconsequente. 27


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Seria Caleb sempre assim? Costumaria se focar com a mesma determinação na mulher que estivesse com ele na cama? Sage deixou um pequeno som escapar do fundo da garganta. Ele ergueu o olhar. — Eu estou machucando você? — Não. — Ela se apressou em dizer. — Tem certeza? Sage confirmou com um gesto de cabeça, embora não tivesse mais certeza de nada. Como poderia ter quando, em uma noite, um homem parecia ter virado toda sua existência de cabeça para baixo? Desejava tocá-lo. Esticar a mão. Tocar-lhe o cabelo. Era curto. Preto como o azeviche. Queria lhe tocar o rosto, também Escorregar os dedos sobre aqueles ossos malares proeminentes, o nariz forte, a boca sensual. Desejava olhar no fundo daqueles olhos para ver se eram realmente azuis, ou seriam pretos? E aqueles cílios. Tinham a cor de fuligem Grossos. Longos. Uma mulher seria capaz de matar para ter um homem como aquele. Uma nova onda de calor a encobriu, rápida e perigosa. Estaria louca? Aquele não era seu modo de ser. Ficar observando um estranho e fantasiando sobre fazer amor com ele... — Não — disse Caleb. A voz grave soara baixa, como momentos atrás. E áspera, como uma lixa. Sage piscou várias vezes. Sentia a pulsação acelerada no pescoço. — Não me escutou? Disse para não me olhar desse jeito. Sage sabia o que ele queria dizer. A tensão no toalete exíguo gravitava na atmosfera como uma corrente cheia de eletricidade. Também sabia o que Caleb estava fazendo. Prevenindo-a. Dando- lhe uma chance para recuar. “Não sei a que está se referindo” seria a resposta mais simples, dada não em tom provocativo, mas com uma inocência pueril. Afinal, era uma atriz. E das boas, apesar da escassez de créditos em seu currículo. Para o inferno com aquilo! — Não olhar para você como? — perguntou, nem um pouco pueril ou inocente, mas sim com a sincera aceitação do que queria por parte de uma mulher. Caleb deixou escapar um som que se assemelhava a um gemido de desespero. — Sage — disse ele. — Sabe o que está fazendo? — Não — sussurrou ela. — Mas sei o que quero. Os olhos de Caleb se tornaram tão escuros como uma noite sem luar. Ele esticou as mãos para alcançá-la, ou talvez ela o tivesse feito, mas quando se ergueu ele a tinha em seus braços. Caleb a beijou. Não apenas o leve roçar de lábios como fizera antes. Dessa vez, era um beijo faminto. A língua experiente exigiu acesso e Sage o concedeu de boa vontade, ávida, 28


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) desejando aquela paixão. E Caleb a satisfez. Sem hesitação ou cautela. Agora era o homem que ela conhecera naquela noite. Másculo, fogoso e exigente. E Sage amou aquele contato. Envolveu o pescoço largo com os braços e ele a ergueu do chão, apertando-a contra o corpo. Os seios macios em contraste com a rigidez do peito musculoso, os lábios sedosos pressionados aos dele, a ereção rígida de encontro ao abdome de Sage. A intensidade daquele beijo a fez enroscar os dedos dos pés. Quando a boca ousada abandonou a dela, Sage enterrou o rosto na curva do pescoço largo. — Ah, Deus! — disse ela. — Ah, Deus, Caleb... — Tem certeza disso? — perguntou ele, com a voz rouca. — Sim. Sim. Sim.. Mais uma vez Caleb se apossou daqueles lábios suculentos, antes de carregá-la para o quarto e a pousar de pé no chão ao lado da cama. Sage esticou as mãos para a bainha da camiseta de moletom, mas ele as segurou e as beijou. — Quero despi-la — disse Caleb. E assim o fez. Lentamente. Erguendo- lhe a camiseta ao mesmo tempo em que ela levantava os braços. Em seguida, arrancou-a pela cabeça de Sage e a atirou para o lado. O beijo frio do ar da noite nos seios desnudos logo foi substituído pelo calor da boca de Caleb, fazendo-a gritar de prazer. Sage fechou os punhos em torno do tecido da camisa que ele usava, mas Caleb fez um movimento negativo com a cabeça. — Ainda não — sussurrou ele, sabendo que tinha de vê-la por inteiro, antes que aquilo fosse mais adiante. Sentia o autocontrole se derramar como mel que transbordasse de uma colher. — Ainda não — repetiu, enganchando os polegares na calça de moletom de Sage e a puxando para baixo pelos quadris, pelas pernas longas... E, Deus, como ela era linda! Seios empinados e redondos. Cintura fina. Quadris femininos, sensuais e graciosos. As pernas longas e elegantes. Na junção das coxas, uma massa de pelos dourados, esperando para ser acariciada. — Sage. Você é linda... Caleb se livrou da camisa. Ela deixou escapar um som de puro prazer e escorregou as mãos sobre os ombros largos, o peito musculoso e o abdome definido. Caleb sempre cuidara da forma física, praticando esportes, treinando quando trabalhava na CIA ou cavalgando. Fazia isso para se manter forte e, por que não dizer, por vaidade também Agora, de alguma forma inexplicável, sabia que havia feito aquilo tudo para ela, para uma mulher que nunca esperara encontrar, conhecer e ter. As mãos delicadas trabalhavam em seu cinto e na braguilha da calça comprida. De repente, aquilo foi demais para Caleb. De modo gentil, afastou as mãos de Sage, mas não havia nenhuma gentileza no modo como baixou o zíper, livrou-se da calça e da cueca preta. Em seguida, puxou-a de volta para seus braços. 29


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Caleb gemeu com a sensação da pele sedosa contra a dele. Com a fragrância de Sage. De mulher. De sabonete. De excitação. Sage enterrou as mãos na massa espessa de cabelo negro e ergueu o corpo na direção do dele. Em seguida, deixou escapar um grito de prazer quando sentiu a ereção lhe pressionar o abdome. Os dois tombaram sobre a cama. Lençóis brancos. Fronhas brancas. Edredom branco. A combinação perfeita para a pele e o cabelo dourado de Sage. Caleb lhe beijou os seios. Sugou-lhe os mamilos, ouvindo os gritos suaves de prazer, enquanto abria com uma trilha de beijos quentes um caminho descendente por aquele corpo de curvas perfeitas. Com o rosto a forçou a abrir as pernas, procurou e encontrou a inefável doçura que o aguardava. Os gritos de Sage se tornaram mais agudos. As mãos delicadas se enterravam no cabelo de Caleb enquanto ele a beijava, mordia de leve e a explorava com a língua. Com um grito ofegante, ela alcançou o clímax contra a boca experiente que a estimulava. Caleb se entregou ao prazer de lhe saborear o orgasmo. Em seguida, se ergueu, movendo-se de volta pelo corpo quente e sedoso, e se apossou dos lábios macios. Sage gemeu e ergueu os quadris, arqueando o corpo contra o dele. Caleb a beijou outra vez. Em seguida, se ajoelhou entre as coxas macias... E se tornou imóvel como uma pedra. Não, pensou ele, não... — O que foi? — sussurrou ela. Caleb teve vontade de soltar uma risada. Ou um grito. — Não trouxe nenhuma proteção comigo — disse ele. — Sage sacudiu a cabeça de um lado para o outro. — Preservativos. Não tenho... Sage esticou a mão e lhe pousou o dedo indicador de leve sobre os lábios. — Tudo bem. — Não. Eu... — Tudo bem. Estou tomando pílula. Caleb deixou escapar o ar que não percebera estar prendendo. Sage acabara de proferir as mais doces palavras que jamais ouvira. — Ótimo. Perfeito. Absolutamente perf... Sage arqueou os quadris e ele a penetrou. Ela estava quente. Úmida. Aquela mulher era um milagre esperando sua possessão. — Sage — sussurrou ele. Caleb observou os enormes olhos azuis perderem o foco, enquanto ela revirava a cabeça de um lado para o outro sobre o travesseiro. Penetrando-a ainda mais fundo, ele começou a se mover em um ritmo mais rápido e forte. Estabelecendo uma cadência que transcendia tudo que ele experimentara antes. 30


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Era um homem experiente com as mulheres, que fazia sexo com bastante frequência, que conhecia o prazer, a alegria e as maravilhas do ato... Mas nunca fora daquele jeito. Nunca como... Os pensamentos de Caleb se dissiparam em uma névoa. Sage estava trêmula, soluçando. Repetiu o nome dele algumas vezes, antes de soltar um grito tão repleto de prazer que o atirou à beira de um precipício de êxtase. — Sage... — disse ele. Os músculos internos de Sage se contraíram em torno dele. Ela gritou. Caleb atirou a cabeça para trás e os dois mergulharam juntos em um universo de prazer.

Envoltos NOS braços um do outro, os dois imergiram em um sono profundo e isento de sonhos até que algo o acordou. Um som. Um barulho. Por alguns segundos, Caleb não soube onde estava. E, então, a mulher ao seu lado suspirou e tudo lhe veio à mente. Caleb sorriu. Em seguida, se inclinou sobre a forma adormecida e depositou um beijo suave no cabelo de Sage. Luz incidia da janela e ele podia ouvir sons vindos da rua. Devia ter sido aquilo que o acordara. Estava acostumado ao silêncio de sua cobertura em Dallas e do rancho Wilde. Poderia Sage se acostumar àquelas mesmas coisas? O pensamento o pegou de surpresa. Por que pensar daquela forma? Sim, queria voltar a vê-la, sempre que estivesse em Nova York... A menos que pudesse encontrá-la em Dallas. Aquela era uma ideia louca. Absolutamente maluca. Precisava era de um pouco de café. Rolou para fora da cama com cuidado, vestiu a calça comprida e caminhou, descalço, na direção da cozinha. O leite derramado e os vidros continuavam como na noite anterior. Sem problemas. Limparia aquela bagunça, mas primeiro... Dissera a Sage que arranjaria outro lugar para ela morar. E um emprego. Teria alguma importância se fizesse aquilo ali ou em Dallas? — Ora, homem — sussurrou ele. — Claro que teria... Mas não faria nenhum mal se desse um telefonema para verificar algumas coisas... Encaminhou-se à sala de estar. Seu celular se encontrava sobre a mesa de centro, onde o deixara. Ele o pegou e voltou para a cozinha. Em seguida, apertou o botão de discagem rápida que correspondia ao número do irmão, Travis, que atendeu no oitavo toque. — É melhor ter uma boa razão para estar me telefonando — resmungou Travis. — Porque pode ser 6h em Nova York, mas aqui, no mundo real, são... 31


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — O que sabe sobre teatro em Dallas? — Seguiram-se alguns segundos de silêncio. — Eu perguntei... — Eu o ouvi. O que aconteceu? Bateu com a cabeça? Que diabos eu saberia sobre teatro? E por que está interessado? — Está namorando aquela ruiva. A atriz. Alguma vez ela mencionou alguma coisa sobre conseguir emprego nessa área? — Eu estava namorando a ruiva. Ela não é atriz, e sim cantora. E de que diabos está falando? Sim, de quê? Caleb virou as costas para a porta da cozinha. A última coisa que desejava era que Sage o surpreendesse fazendo planos. Diabos! O que estava fazendo? Sexo maravilhoso e privação de sono. Uma péssima combinação. — Caleb? Travis parecia preocupado. Caleb resfolegou. Por que o irmão não ficaria? — Sim, estou aqui. Ouça, esqueça o que eu... Ouviu o som da descarga do vaso no banheiro através das paredes finas. Sage estava acordada. Droga! Tinha de pôr um fim àquele telefonema. — Quem, diabos, é você? Caleb virou. Um homem estava parado à soleira da porta da cozinha, encarando-o. Era alguns anos mais jovem que ele, menor, mas em boa forma física. — Caleb? — chamou Travis. — Mais tarde falo com você — disse ele, interrompendo a ligação. Ótimo. Alguém havia invadido o apartamento de Sage enquanto estivera ao telefone e agora teria de enfrentá-lo seminu e, aparentemente, com apenas metade do cérebro funcionando. — Calma — disse ele, no tom mais tranquilo que pôde conjurar. — Faça a coisa mais sensata. Vire e saia pela porta... O invasor deu um passo à frente. — Eu lhe fiz uma pergunta. Quem é você? E o que está fazendo em meu apartamento? Caleb pestanejou, confuso. — O que está dizendo? O que quer dizer com seu apartamento? — Quis dizer exatamente isso, amigo. — O olhar do homem varreu Caleb de cima a baixo, observando-lhe o peito nu e os pés descalços. — Onde está Sage? O que fez a ela? — Conhece Sage? E você... vive aqui... ? — Vou chamar a polícia. — Não. Espere um minuto. — David? Era Sage. Ela contornou o invasor, com os olhos fixos em Caleb. — Não o machuque. 32


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Conhece esse cara? — perguntou Caleb. — Eu lhe disse, camarada, moro aqui. O olhar de Caleb se desviou para Sage. — Isso é verdade? — Sim, é, mas... — Sage — disse o invasor, segurando-a pelos ombros. — Você está bem? — Estou. — Ela fez uma pausa. — Caleb, este é... — David — terminou Caleb, com a voz fria. — Ouvi você dizer o nome dele. — Não! Não é o que está pensando... Caleb soltou uma risada grotesca. — Não tem noção da metade do que estou pensando. — Sage — disse David. — O que está acontecendo aqui? Passo a noite fora e quando volto encontro um.. homem seminu na nossa cozinha. — Caleb — Sage se apressou em dizer. — Há uma explicação simples para... — Aposto que há — retrucou Caleb, com um sorriso tenso. — Você e esse seu amante têm um acordo. — Não! — Sim. — David soltou uma risada constrangida, soltando Sage e se encaminhando na direção de Caleb. — Ei, rapaz, sinto muito. Você me pegou de surpresa. Acordo ou não, deveria ter telefonado antes de voltar. — Sorrindo, ele estendeu a mão para Caleb. — Estamos em paz agora? Caleb estreitou o olhar. A raiva se propagava por suas veias. Raiva daquele bastardo sorridente. De Sage. E, acima de tudo, de si mesmo por ter sido um tolo. — Estamos — rosnou ele e, pela segunda vez em menos de 12 horas, colocou toda a sua força em um gancho de direita. Sage soltou um guincho. O namorado despencou como uma pedra, os olhos revirando e os pés escorregando na mistura de leite e cacos de vidro. Ela se ajoelhou ao lado dele. — David! David! Fale comigo! — Sage ergueu o olhar a Caleb, os olhos arregalados pela incredulidade. — Você... o agrediu. Como pôde fazer isso? Caleb relaxou os lábios contraídos. — Diabos! — respondeu. — Por que não o faria? Passou por ela pisando duro, recolheu os sapatos e a camisa, no quarto, o blazer e a própria sanidade na sala de estar, antes de sair, decidido, pela porta.

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

CAPÍTULO QUATRO

Travis Wilde estacou do lado de fora das portas duplas de vidro que levavam ao escritório de advocacia Wilde and Wilde, Attorneys at Law, em Dallas. Além daquelas portas, um mar de assoalho em carvalho vermelho levava à mesa da mulher de cabelo grisalho, sempre vestida de preto e com semblante austero. Edna Grantham, sra. Edna para os que não queriam ter a cabeça decepada, era a guardiã do portão de Caleb desde a fundação do escritório. Travis sabia, por instinto, que não era a pessoa favorita da sra. Edna. Os olhares frios que ela lhe lançava eram prova disso. Na opinião da secretária, ele era o responsável por desviar a atenção do patrão do trabalho. Mas não era exatamente assim. Quando não se encontrava no tribunal ou em reunião com algum cliente, Caleb quase sempre se mostrava disposto a desfrutar de um pouco de diversão. Chegava até mesmo a sugeri-la. Mas não ultimamente. Nos últimos dias, sempre se encontrava muito ocupado para fazer qualquer coisa que envolvesse conviver com outras pessoas. Fora essa a razão que trouxera Travis até ali, naquela manhã. Estava na hora de confrontar Caleb e lhe perguntar o que, diabos, estava acontecendo. O irmão mudara. Travis e Jake haviam notado. Assim como Addison, a esposa de Jake, que ocupava a segunda posição na Wilde and Wilde Attorneys at Law. “Muito ocupado” era a resposta constante de Caleb ultimamente. Além, claro, de “Não tenho tempo”. Para nada. A perguntar era: por quê? Travis não tinha a menor ideia. Tampouco Jake. A única coisa que sabiam era que a mudança do irmão começara pouco depois de ele ter viajado para Nova York, alguns meses atrás. Caleb voltara um homem diferente. Os irmãos Wilde eram muito unidos. Sempre foram e sempre seriam, mas respeitavam a privacidade uns dos outros. E, dos três, Caleb provavelmente era o que mais ruminava um problema, antes de dividi-lo com alguém. Porém, estavam começando a ficar preocupados e decidiram que alguém teria de descobrir o que estava acontecendo. Travis viera preparado. Não queria parecer muito óbvio, portanto trouxera algo em sua maleta de couro italiano, alguns documentos, uma carta... Um trabalho, diferente das usuais incursões de Caleb nas batalhas corporativas, que, por sorte, despencara sobre seu colo no dia anterior. 34


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Travis endireitou a gravata e limpou a garganta. Em seguida, escancarou as portas de vidro. — Bom dia — disse, em tom de voz brusco. A sra. Edna olhou para um lado, depois para o outro. Em seguida, se inclinou para a frente, quase se erguendo da cadeira, até quase encostar o rosto ao dele. — Oh, sr. Travis — sussurrou ela. — Estou muito feliz em vê-lo! — Aquilo o pegou de surpresa. — É o sr. Caleb. Travis experimentou uma pontada de dor no coração. — O que aconteceu? — Esse é o problema, sr. Travis. Não sei. Tudo que sei é que ele não é mais o mesmo. E isso está piorando a cada dia. Hoje, o sr. Caleb tinha um horário marcado com o juiz Henry, que ele passou semanas tentando marcar. Porém, quando o lembrei desse compromisso, ele disse para cancelá-lo! Pode imaginar isso? Travis não podia. Caleb podia ser negligente com algumas coisas, mas nunca quando se tratava de seu trabalho. — Por favor, diga e ele que estou aqui. A sra. Edna corou. Aquilo era definitivamente uma novidade. — Talvez seja melhor o senhor apenas entrar, sem ser anunciado. — Quer dizer que, se disser a ele que estou aqui, talvez ele não... — Ele dirá que está ocupado. — Ou que não tem tempo. — Travis assentiu. — Tem razão. Muito bem Vou entrar e direi que a senhora não estava em sua mesa. — O fato de a sra. Edna estar preocupada a ponto de confiar nele era a prova de que precisava. O escritório de Caleb ficava localizado ao final de um longo corredor. A porta estava fechada. Travis contou até cinco e bateu, antes de girar a maçaneta sem esperar autorização para entrar. A porta se abriu para uma sala que era o retrato de Caleb. Paredes de vidro modernas. Tapete oriental tradicional. Sofá moderno de couro, cadeiras e uma mesa de centro. Uma mesa tradicional, antiquada e imensa. Caleb se encontrava de costas para a porta. — Estou ocupado, Edna — disse ele. — Seja o que for... — Bem, ao menos isso revela uma coisa. — disse Travis. — Que você não precisa chamá-la de “senhora”. Caleb virou de repente. — O que está fazendo aqui? — É bom vê-lo também. Caleb assentiu e forçou um sorriso quase tão genuíno quanto o de Travis. — Sim — disse ele. — Também fico feliz em vê-lo, Trav, mas... — Está ocupado. — Exatamente. Travis dirigiu um olhar significativo à superfície quase vazia da mesa do irmão. — Está sempre ocupado ultimamente. Caleb cruzou os braços. 35


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Algumas pessoas estão. E já ouviu falar em bater à porta antes de entrar? — Eu bati. — E quanto a esperar para ser autorizado a entrar? Já ouviu falar disso? — Autorizado a entrar — disse Travis em tom solene enquanto se encaminhava na direção do irmão. — Uma expressão dura quando se trata de decidir se quer receber ou não pessoas de seu próprio sangue, não acha? — Não estou com disposição para discussões tolas. — Não está disposto a fazer muitas coisas ultimamente. — Muito bem Chega. Não sei como passou por Edna, mas conseguiu. E eu já lhe disse que estou... — Ocupado. Certo. — Travis se deixou afundar em uma das cadeiras de frente para a mesa do irmão. — Importa-se se eu me sentar? Caleb estreitou o olhar. — Ouça, Travis, tenho uma reunião com um juiz em.. — Mentira. — Droga, Travis... — Arranjei um novo cliente para você, irmão. — Já tenho muitos clientes. — Assunto empresarial — prosseguiu Travis, sem pressa. — Algo diferente. Caleb exibiu o espectro de um sorriso. — Posso lhe contar um segredo? — O sorriso secou. — É isso que faço. Direito Societário, para o caso de não ter notado. Travis retirou um envelope pardo da maleta, mirou e o atirou sobre o tampo da mesa. — Dê uma olhada. — Não estou interessado. — É de um dos meus clientes. Um nortista. Inteligente. Linha dura. Possui mais dinheiro que Deus e um pedigree inquestionável. — Bom para ele. Agora, se não se importa... — Mas ele está com um problema. Tem apenas um herdeiro. Um filho que nunca fez nada que orgulhasse o pai, mas agora agravou as coisas, morrendo. Mas a questão é que ele de fato deixou algo para a posteridade. Um bebê, aninhado confortavelmente na barriga da amante grávida. Caleb inspirou profundamente. — Muito bem. Vá direto ao ponto. — Estou no ponto. Veja bem, a amante não fará a vontade de meu cliente. Ele quer a criança. Deseja lhe dar o nome da família. Quer criá-la. Melhor ainda, adotá-la. — Adotá-la? — Caleb perguntou, surpreso mesmo contra a vontade. O direito societário era sua maior paixão, mas havia momentos em que se tornava um pouco maçante. A situação que Travis estava descrevendo não tinha nada de maçante. — Exatamente. Ele quer que a moça lhe dê a criança de papel passado assim que ela nascer. Caleb resfolegou. 36


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Como um carro? Travis sorriu. — Exatamente como um carro. Mas ela se recusa. Portanto, meu cliente quer levá-la aos tribunais. — Sob que acusação? — Ele alega que a amante do filho não será uma boa mãe. Ela não tem dinheiro ou emprego e vive no que ele chama de pocilga. Afirma também que ela tem uma moral duvidosa. — E seu cliente tem tudo. Dinheiro. Status. Poder. E uma moralidade inquestionável. — Exatamente. — Travis fez uma pausa. — Mas o problema é que a moça tem algo que ele não pode contestar. Bem, além da criança em seu ventre, claro. — E o que é? — Ela alega que a criança não é neta de meu cliente. Caleb assentiu. — Interessante. Bem, um exame de DNA provará... — Ela não concorda em fazê-lo. Não quer nada de meu cliente, nem mesmo atende seus telefonemas. — Travis sorriu. — E é por isso que precisamos de um advogado durão e inteligente. — Ele precisa de um super-herói — retrucou Caleb. — Não eu. E por que um morador da costa leste está procurando por um texano? — Ele confia em mim. E conhece sua fama — explicou Travis, sorrindo. — Acontece que você tem a reputação de ser um excelente advogado. Quando ele soube que você era meu irmão... — Desculpe, Trav. Não estou interessado. — Muito ocupado? — perguntou Travis. — Não tem tempo? Caleb dirigiu um olhar colérico ao irmão. — Obrigado por ter vindo até aqui. Da próxima vez, telefone antes. — E é só? — Sim. Não estou interessado. Já disse isso. Travis se ergueu e caminhou até a porta. — Não está interessado em muitas coisas, ultimamente. Sim, ele tinha razão. Durante semanas, dez para ser mais exato, desde que retornara de Nova York, mantivera os irmãos a distância. Dissera a si mesmo que eles não notariam. Mas claro que eles haviam notado. E agora queriam respostas. Era uma pena, pensou Caleb, inflexível, porque não as teriam. Como poderiam, se nem mesmo ele sabia a resposta? Tudo que sentia era raiva e aversão. De Sage. De si mesmo. 37


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Caleb ouviu a porta bater e deixou escapar um suspiro de alívio. Travis fora embora. Ao menos era alguma coisa, embora aquilo o deixasse exatamente onde se encontrava antes. Com a cabeça cheia de lembranças que não conseguia esquecer. Dormira com uma mulher que acabara de conhecer. Deus sabia que fizera isso antes. Passara a noite na cama dela. Também fizera isso antes. A mandíbula de Caleb se contraiu. Mas, dessa vez, a cama não pertencia apenas à mulher. Era a cama que ela dividia com o amante. Aquilo o fez estremecer só de pensar. Como um homem podia se deitar naqueles lençóis, possuir uma mulher como ele o fizera, ouvindo os gritos dela, sentindo-lhe o calor do corpo... Aquela mulher o fizera de bobo, o deixara pensar que era doce e inocente, quando a mais pútrida verdade era que possuía um amante com o qual tinha um acordo. O cara era um promíscuo, assim como ela. Caleb estremeceu. O acordo que Sage tinha com o amante não era de sua conta. Era sórdido, claro, mas o bastante para fazer com que perdesse o controle e nocauteasse o homem? O bastardo da boate merecera a surra que levara, mas o amante de Sage apenas entrara no lugar certo, na hora errada. A reação que tivera, a violência da qual lançara mão se devia ao fato de ter sido iludido pela farsa de Sage, pela humilhação de se lembrar de que pensara em trazer aquela mulher para sua vida. — Algo aconteceu em Nova York. Caleb virou de repente e se deparou com Travis parado ao lado da porta fechada, com os braços cruzados. — Pensei que tivesse ido embora. — Fechei a porta, mas ainda estou aqui. — Bem, abra-a outra vez e vá embora. - Não vou a lugar nenhum. Não até que converse comigo, não até que me conte o que aconteceu no leste. Naquela manhã, quando estava em Nova York, você me ligou. Era muito cedo. Seis e pouco da manhã para você e... — Ouça, esse não é um bom dia para... — Nenhum dia tem sido bom. Não para você. Não há um bom tempo. — Acabou? — Por que me telefonou? Você parecia, não sei, feliz. E depois, de repente, soou... não muito feliz. — Que bom que seguiu o ramo das finanças — retrucou Caleb, em um tom de voz frio. — É muito melhor com números do que com as palavras. — Chega de charadas, cara. Algo aconteceu, e nós queremos saber o que foi. Estou aqui por minha causa. Por Jacob. Por Addison. E pelo dragão assustado que guarda seu reino. — Você tem muito tempo livre. — Caleb se encaminhou à própria mesa, ajustou uma pilha de papéis que não precisava ser ajustada, pousou o olhar no envelope pardo e 38


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) o atirou na direção do irmão. — Todos têm, incluindo esse seu cliente. As imaginações de vocês estão se tornando muito férteis. — Consultou algum médico? Caleb ergueu o olhar. — O quê? — Droga! Como isso não me ocorreu antes? O telefonema. A forma como tem agido desde então... — Travis deixou escapar um suspiro trêmulo. — Está doente? Jesus! Se estiver... se estiver lutando contra alguma doença e não nos contou... — Ah, cara. — Caleb se deixou afundar na cadeira atrás da mesa. — Não — disse, em voz baixa. — Não é nada disso. E sinto muito se... — Ergueu o olhar, percebeu a preocupação no olhar de Travis e se odiou por ser o culpado daquilo. — Estou bem, Trav. Juro. É que... é que... — Que o quê? Caleb encarou o irmão. Em seguida, deixou escapar um profundo suspiro. Talvez, se conversasse sobre o assunto, conseguisse expurgar toda aquela confusão de seu organismo. — Sente-se — disse ele, de modo brusco. — Vou lhe contar. Não levou muito tempo para relatar os fatos. Como poderia, quando eram tão simples? Travis se limitou a assentir com a cabeça a certos intervalos. Caleb não omitiu nada. Relatou inclusive o fato de ter dormido com ela e todo o incidente com David no dia seguinte. — Nem mesmo sei por que fiz aquilo. — Caleb se ergueu e começou a andar de um lado para o outro do escritório. — Quero dizer, aquela era a casa do cara. A mulher dele. Eu era o intruso, não ele. — Passou uma das mãos pelo cabelo e dirigiu o olhar ao irmão. — Simplesmente perdi a cabeça, sabia? — Quem não perderia? — Aquilo era tão... era tão... — Sórdido. Eles têm uma relação aberta, ou o que queira chamar, e isso não combina com você. — Não. Diabos, não! Se eu soubesse que estava na cama de outro homem, com a mulher alheia... — Pensou que ela estava empolgada com você — disse Travis, em tom gentil. — Mas ela estava interessada em variar. Caleb fez uma careta de desgosto. — Exatamente. — Esfregou o rosto com as mãos. — Não entendo por que deixei que isso me afetasse tanto. Travis se ergueu e deu uma palmada firme no ombro do irmão. — Não permita que o afete mais. Foi coisa de uma noite só. Um pouco de divertimento, horas agradáveis... Não passaria mesmo disso, certo? — Certo — disse Caleb em tom de voz brusco, bloqueando todo o resto. A percepção desconfortável de que perdera o controle naquela noite, primeiro ao levar Sage para a cama e depois ao socar seu amante... Sentira-se como que pairando à 39


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) soleira da porta de algo novo quando acordara nos braços de Sage naquela manhã. — Ei! — disse Travis. — Estou falando sério. Foi apenas algo que aconteceu. Esqueça isso. Aquele era um bom conselho e Caleb assentiu. — Tudo que você está dizendo faz sentido. Obrigado — disse ele. — Oh, não. Não vai escapar tão facilmente. Se quer mostrar sua gratidão, ao menos leia o conteúdo daquela pasta. — O quê...? Oh, seu cliente. Aquele que quer roubar um bebê da amante do filho morto. — Ora, Caleb... — Estou brincando — respondeu Caleb, rindo. — Está bem Darei uma olhada. Talvez possa recomendar alguém, porque não há a menor possibilidade de eu pegar esse caso. Se não por outra razão, apenas pelo fato de não ter a experiência necessária nessa seara. Os dois homens se encaminharam à porta. Trocaram sorrisos, apertos de mão e, em seguida, Travis partiu. Caleb suspirou e voltou à própria mesa. Interessante, pensou enquanto afundava na cadeira, como se sentia melhor por ter conversado sobre o que acontecera em Nova York. Dera proporções colossais àquele incidente. Agora, graças a Travis, sua cabeça voltara para o lugar. Coisa de uma noite só. Nada mais, nada menos. E aquilo era passado. Caleb abriu o envelope pardo e entornou o conteúdo sobre a mesa. Algumas fotos brilhosas caíram com a face para baixo. Não tinha importância. Estava interessado apenas no conteúdo da pequena pasta. Ele a abriu. Leu rapidamente a primeira página. Tratava-se de informações sobre as partes envolvidas no que, provavelmente, seria um caso jurídico difícil. Thomas Stinson Caldwell. Idade: 62 anos. Endereço: Park Avenue. Fundador e presidente de um império da corretagem de imóveis no valor de... Caleb soltou um assovio baixo. Não era de se admirar que o homem pensasse ser o dono do universo. Caldwell era um viúvo. Pai de David Charles Caldwell morto. Idade: 28 anos na data da morte, há oito semanas. Muito bem. Página dois. A mulher. O nome dela era Sage Dalton. Tinha 24 anos. Caleb sentiu a pulsação acelerar. Sage? Sage e David? Não! Era impossível. Esticou a mão para as fotografias. Girou-as. E o sangue lhe fugiu para os pés. Uma das fotos era do rapaz que ele deixara nocauteado no apartamento do Brooklyn. A outra... Era de Sage.

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

CAPÍTULO CINCO

O toalete feminino no St. Regis em Park era um mar de dourado, mármore e paredes espelhadas. Uma atendente, trajada em um uniforme branco e dourado, movia-se com discrição ao fundo. — Se precisar de alguma coisa, senhora, basta pedir — dissera ela quando Sage entrara, havia pouco. Após agradecer à atendente, ela se virou para a parede espelhada. E estremeceu. Tinha uma péssima aparência. Estava pálida. Os olhos estavam enormes e com incipientes círculos escuros ao redor. Com exceção do abdome levemente abaulado e oculto pelo blazer que estava usando, exibia uma magreza doentia. Até alguns dias atrás, Sage era o clichê dos clichês, devolvendo o que comia todas as manhãs. E se sentia cansada, tanto pela gravidez quanto pelos turnos dobrados no restaurante grego em que estava trabalhando, próximo a seu apartamento, no Brooklyn. O patrão ameaçara demiti-la se ela não trabalhasse dobrado. Precisava do dinheiro. Voltara à boate para pegar suas coisas, o pagamento e dizer ao dono que estava se demitindo, mas não tivera oportunidade. O patrão tomara conhecimento da cena da noite anterior e a demitira. Sentia-se, para descrever de uma forma delicada, um caos. E preocupada. A verdade era que vivia preocupada o tempo todo. Tinha de encontrar um lugar seguro para morar. Aquela era a prioridade numero uno. A segunda era engordar suas economias. A escassa quantia que possuía nunca seria suficiente para cobrir as despesas do bebê... Seu bebê. Quando aquelas palavras haviam deixado de fazê-la tremer de medo e começado a enchê-la de esperança? Sage descobriu que estava grávida da forma mais antiquada. Primeiro, a suspensão do ciclo menstrual. E, depois, as manhãs curvada sobre o vaso sanitário. Por fim, comprou um teste de gravidez de farmácia. O homem que ela mais odiava no mundo lhe deixara um presente de despedida. Mas o erro fora dela. Primeiro por dormir com ele. Não que tivessem dormido, pensou, sentindo um nó na garganta. Em segundo, por não perceber que não se podia tomar uma pílula anticoncepcional, digamos, na segunda-feira pela manhã e a próxima na terça-feira no fim da tarde, independentemente do quanto estivesse ocupada com testes, trabalho, aulas... Mas, na ocasião, Sage não estava tomando pílula para evitar uma gravidez, e sim para regularizar o ciclo menstrual. 41


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) E certamente fizera aquilo. Quando descobrira que estava grávida, caminhara de um lado para o outro do apartamento, dias e noites, como um tigre enjaulado buscando a saída. Pensara que não poderia ter aquele bebê. Não tinha dinheiro. Tampouco um futuro definido. Nenhum plano, além de como sobreviver ao dia seguinte. Mas aquela pequena vida lhe pertencia. Significava que nunca mais seria sozinha, que podia criar aquela criança da forma como gostaria de ter sido criada, com amor e esperança em vez de amargura e desespero. Decisão tomada. Teria aquele bebê. A criança e a decisão nada tinham a ver com o estranho que a engravidara. Seu cavaleiro errante se revelara um vilão, um estranho judicioso, disposto a pensar o pior dela e nem mesmo lhe dar a chance de se explicar. Não que devesse qualquer explicação àquele homem. O que acontecera entre eles fora apenas... apenas aventura de uma noite. Não importava o fato de ela nunca ter tido aventuras daquele tipo em sua vida ou que quase não tivesse feito sexo antes. Agora era uma mulher adulta. E ele... apenas um doador de sêmen. Porém, tal “doação” não viera na forma de um tubo de ensaio, mas do tempo passado naqueles braços fortes, das carícias, suspiros e prazeres... Sage dirigiu um olhar furioso à pessoa que o espelho refletia. Era patético pensar naquilo. Retirou o batom da bolsa. Seria necessário mais do que um simples batom para melhorar a aparência. Ainda bem que trouxera um blush e um pó compacto. Estava na hora de disfarçar a palidez, os círculos escuros sob os olhos e se transformar na mulher que Thomas Caldwell não podia intimidar. Podia ser incauta quando o assunto era homens e sexo, mas não era estúpida quanto a qualquer outra coisa. Sabia por que ele havia escolhido o St. Regis para aquele encontro. Queria intimidá-la com um ambiente suntuoso. Não havia dúvida de que o pai de David a julgava uma mulher falida, solteira, grávida e desesperada. Bem, dos quatro termos, três eram verdadeiros. Mas não estava desesperada. As coisas seriam difíceis, mas factíveis. Tudo era factível quando se possuía força de vontade. Caldwell não a conhecia. Não conhecera nem ao menos o próprio filho, não o verdadeiro David, ou teria admitido que ele jamais poderia ser o pai do filho que ela estava esperando. Thomas Caldwell não gostava da verdade. Sage não tinha a menor ideia de como o pai de David descobrira que ela estava grávida. Suspeitava de que contratara detetives particulares para desencavar qualquer podridão em sua vida quando percebera o quanto ela e David eram íntimos, e 42


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) talvez os tivesse mantido após a morte do filho. Tudo que sabia era que Caldwell começara a lhe telefonar há algumas semanas, exigindo que ela admitisse estar carregando seu neto no ventre. Deus, que pensamento terrível! O pai de David passou a tentar convencê-la a lhe entregar a criança. Quando não conseguiu, as coisas se tornaram piores. Perguntara quanto ela queria pela criança. E foi, então, que ela resolvera parar de atendê-lo. Sage aplicou blush nas bochechas do rosto. O efeito rosa contra a pele pálida lhe deu uma aparência ainda pior. Arrependida, pegou alguns lenços de papel e limpou a maquiagem. Na semana anterior, ele lhe enviara uma carta, informando-a de que seu advogado havia lavrado um documento estipulando que ela renunciaria a toda e qualquer reivindicação presente e futura de linhagem e descendência. Bastava assinar o documento diante do advogado e nunca mais teria notícias dele. E era por isso que Sage se encontrava no St. Regis. Mas não seria intimidada. Ficaria apenas aliviada de vê-lo fora de sua vida para sempre. Uma camada de batom? Nada mal. Em seguida, ajustou as presilhas que lhe afastava o cabelo do rosto. Trajava um terninho cinza, escarpim cinza e uma bolsa também cinza. Tudo comprado em liquidações. Tinha um pressentimento estranho sobre aquele encontro. Thomas Caldwell fora tão insistente. E de repente... bum!... desistiu. Aquilo a agradara até aquela manhã, quando de repente lhe ocorrera o seguinte pensamento: Por quê? Por que ele desistira? As passadas de Sage se tornaram mais lentas. Os elevadores estavam logo à frente. Assim como uma cabine telefônica. Poderia ligar para o número da suíte que Caldwell lhe dera, dizer que ele poderia lhe enviar os papéis, que ela os registraria em cartório mediante testemunhas. Mas logo descartou tal possibilidade. Afinal, queria Caldwell fora de sua vida ou a perturbando pelo restante dela?, repreendeu-se Sage, marchando, decidida, para os elevadores.

Encontraria Caldwell na suíte 1740. O pai de David alegara que queria privacidade quando ela protestara, dizendo que preferia que o encontro se desse no saguão. Quanto antes aquilo acabasse, melhor. Subiu no elevador tão ornamentado quanto o saguão e estacou em frente à porta da suíte 1740. Ergueu a mão para bater, mas tornou a baixá-la. Verificou a hora no relógio de punho. Estava seis minutos adiantada. E daí? Entre, assine os papéis e saia. Aprumou os ombros e bateu à porta, que devia estar entreaberta, porque cedeu assim que ela a tocou. Era como a cena de um filme de terror, embora as dobradiças não rangessem 43


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Olá? Nada. Sage deu outro passo à frente. Encontrava-se em uma sala de estar, iluminada pela luz do sol e impecavelmente mobiliada, para um fã de salas de estar de funerais luxuosos. À frente, se encontrava outra porta que dava para um cômodo contíguo. — Sr. Caldwell? — Nenhuma resposta ainda. Sage tinha a impressão de ter um milhão de borboletas no estômago. — Sr. Caldwell? Não estou com disposição para brincadeiras, portanto se houver alguém aqui... Uma figura, enevoada pela luz do sol, transpôs a porta do cômodo adjunto. - Olá, Sage — disse uma voz masculina rouca. Sage conhecia aquela voz. O som dela lhe assombrava os sonhos. — Não — disse ela enquanto sentia o coração subindo para a garganta. — Que bom revê-la! - Não — repetiu Sage, a palavra soando como um sussurro, antes de cambalear para trás, quando a figura saiu da luz e tomou a forma de um homem. Alto. Esbelto. De ombros largos. — Caleb? — sussurrou ela. O sorriso, frio e cruel, transformava aquele belo rosto em uma máscara perigosa. — Garota esperta — disse ele. Sage repetiu o nome dele. Em seguida, revirou os olhos e desabou. Caleb soltou um palavrão e se projetou para a frente. Segurou Sage pelos ombros, antes que ela atingisse o chão. De fato havia desmaiado ou estava apenas representando? Era uma boa atriz. Provara isso na noite em que dormira com ele. Na cama de outro homem. Não. Aquilo era real. O corpo de Sage se encontrava flácido, a cabeça atirada para trás, quando ele a ergueu nos braços. Muito bem. Quisera surpreendê-la. Fazê-la admitir que estava à procura da melhor oferta que pudesse ter, porque, sem dúvida, aquele era o jogo de Sage... Em vez disso, ele a tinha chocado. Agora, teria de lidar com um grande drama, além de, sem dúvida, lágrimas e soluços. Não que aquilo fosse afetá-lo. Sage parecia frágil em seus braços. Quase assustadoramente magra. O rosto estava lívido, com exceção das olheiras escuras. Mas a fragrância dela ainda era a mesma. Suave. Feminina. Delicada. Quando a cabeça de Sage tombou contra seu ombro, a sensação do cabelo sedoso contra sua mandíbula tinha a mesma sedosidade de que se lembrava. Como as lembranças daquela mulher, daquela noite, ainda conseguiam afetá-lo? Sabia o que ela era, que estava carregando um filho do amante morto, que estava tentando conseguir sugar quantos milhões pudesse de seu cliente. E agora sabia que fora um idiota em ter aceitado aquele caso e que ela ainda conseguia afetá-lo. 44


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sage gemeu. O som o trouxe de volta à realidade. Caleb fechou a porta com o cotovelo, carregou-a até ao sofá em brocado de dois lugares e a deitou. — Sage. — Nenhuma resposta. — Sage — repetiu ele, com a voz tão cortante quanto a lâmina de uma faca. — Droga! — xingou, entre dentes cerrados. Em seguida, caminhou, decidido, até o quarto, entrou no toalete, pegou uma toalha de mão, ensopou-a na água e a torceu. Havia feito aquilo tudo antes. Passado uma toalha molhada sobre a pele de Sage. Cuidando dela, se preocupado com ela. Sim, mas certamente não estava preocupado com ela agora. Apenas precisava de Sage acordada e completamente desperta. O fato de ela estar com uma aparência péssima e estar carregando um bebê em seu ventre não significava nada para ele. Além disso, Sage era uma mulher forte. Ninguém precisava se preocupar com ela. Com os lábios contraídos em uma linha fina, Caleb voltou à sala de estar e se agachou ao lado do sofá. Passou a toalha úmida no rosto delicado com movimentos bruscos e impessoais. — Vamos — disse ele. — Abra os olhos. Os cílios de Sage adejaram. Ergueram-se. Os olhos azuis, escurecidos e enevoados, encontraram os dele. Caleb atirou a toalha úmida sobre uma imensa mesa de centro, se ergueu e assomou sobre ela, aguardando, de braços cruzados e pernas afastadas. Levou alguns segundos para que o olhar de Sage se focasse. E, então, ela se sentou no sofá com um gesto brusco. O medo emprestava um brilho intenso a seus olhos. Ótimo, pensou ele, inflexível. Era exatamente assim que a queria. Com o olhar fixo nele e aterrorizada. — O que... o que está fazendo aqui? Caleb exibiu um sorriso tenso. — Que modo grosseiro de cumprimentar um velho amigo. — O que está fazendo aqui? — A voz de Sage havia ganhado ressonância, mas ele se sentiu satisfeito ao perceber que as mãos delicadas tremiam quando ela afastou o cabelo do rosto. — Você não é Thomas Caldwell! Caleb descruzou os braços e fingiu aplaudi-la. — Uma dedução brilhante. Não, não sou. — Ele retirou um cartão de visitas do bolso e o atirou sobre o colo de Sage. — Caleb Wilde. O advogado de Thomas Caldwell. Sage ergueu o cartão, leu-o e, em seguida, o encarou. Os olhos azuis se arregalaram. Um homem poderia se afogar naquelas profundezas, pensou ele, detestando-se pela momentânea falta de foco. — Advogado... dele? Mas como? Como você... 45


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Apenas um desses golpes do destino — respondeu ele, em tom de voz rude. — Espera que eu acredite nisso? — Acredite-me, moça. Também custei a crer. — Os lábios de Caleb se contorceram — Talvez a vida tenha um péssimo senso de humor. Sage não respondeu. Em seguida, ela deixou escapar um suspiro longo e trêmulo, expeliu o ar da mesma forma e se levantou. No mesmo instante, oscilou. Caleb quase a envolveu nos braços. Seria um gesto automático, claro, uma reação masculina instintiva a uma mulher em dificuldades, mas o simples fato de o pensamento ter lhe cruzado a mente o enfureceu. — Sente-se. — Vou embora. — Quer desmaiar outra vez? — Caleb lhe segurou o braço. — Droga, sente-se! Sage o encarou. Em seguida, soltou o braço com um solavanco e se sentou outra vez no sofá. — Onde está Caldwell? — Estraguei seus planos? Estava ansiosa por se confrontar com um homem que está sofrendo com a morte do filho? — Sofrendo? — Sage soltou uma risada trêmula. — Para um advogado, senhor... disse ela, relanceando o olhar ao cartão que ainda segurava em uma das mãos. — Para um advogado, Caleb Wilde, não é muito esperto. — Seu trouxa não veio. — Meu o quê? Caleb se sentou em uma das cadeiras que flanqueavam o sofá. — Quanto quer pelo bebê? — Você está maluco? — Ouça, não vamos perder tempo, está bem? Disse a Caldwell que não lhe entregaria o neto, mas ambos sabemos que isso é uma mentira. Diga-me quanto quer e lhe direi se faremos negócio. Sage se levantou e ele fez o mesmo. — Adeus, sr. Wilde. Caleb a observou através dos olhos semicerrados. Aquela mulher sabia representar, mas, afinal, era uma atriz. — Vamos ao que interessa, srta. Dalton. A última oferta foi de 5 milhões. Estou autorizado a elevar para 6. Nada mais. É pegar ou largar. Sage soltou uma risada. — Você é patético. Você e seu patrão. — Ele é meu cliente. — Ele pode ser seu anjo guardião, não estou interessada. Vim aqui para assinar algo que afastaria Caldwell da minha vida para sempre. Não há nada para assinar? Então, não temos nada a discutir. E é melhor dizer a seu cliente que, se ele voltar a me importunar, eu o processarei por assédio. 46


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sage o contornou. Ele a deixou ir, observando-a se encaminhar na direção da porta. Aquela moça era impressionante. A moral de Sage podia deixar muito a desejar, mas tinha de respeitá-la pela coragem Caleb esperou até que ela estivesse quase alcançando a porta. — Srta. Dalton. Definiu o comportamento de meu cliente como assédio, mas ele perdeu o único filho que teve. Agora está dizendo a ele que também perderá o único neto que terá? Sage virou e o encarou. — Por que não pergunta a seu cliente, quando ele, de fato, perdeu David, sr. Wilde? Caleb havia suspeitado de que houvera um distanciamento entre pai e filho. A verdade era que não gostava de Caldwell. Havia algo desagradável naquele homem, mas aquele não era assunto seu. Era um advogado, não um psicólogo. — Problemas familiares — retrucou Caleb. — Não são problema meu. — E, ao que parece, tampouco a justiça. Caleb forçou um sorriso. — Acredite-me, Sage. Você não vai ferir meus sentimentos. — Como poderia? — perguntou ela, empinando o queixo. — Se não possuiu nenhum senti... Caleb se moveu com rapidez, agarrou-lhe as mãos, prendendo-as nas laterais do corpo. — Os sentimentos que tenho por você — disse ele, com a voz rouca — são os que qualquer homem teria por uma mulher que o recebeu na cama do amante. Qualquer resquício de coloração que restava no rosto de Sage se evaporou. — Eu o desprezo — sussurrou ela. — Parecia não pensar assim naquela noite. — Caleb fechou os centímetros que os separavam. Com uma das mãos segurou as duas de Sage e lhe ergueu o rosto com a que deixou livre. — Pelo que sei, estava carregando um filho dele. Os enormes olhos azuis se encheram de lágrimas. — Vá para o inferno! — Não estava? Era o bebê dele que estava em seu ventre naquela noite? Sage o xingou de uma palavra que Caleb não julgava que ela conhecesse. Mas, afinal, aquela mulher sabia de muitas coisas que ele jamais imaginaria. — Abriu as pernas para mim — rosnou ele. — E, quando eu fui embora, abriu-as para ele... Sage cuspiu no rosto dele. Caleb paralisou. Uma dúzia de reações lhe ocorreu, começando por esbofeteá-la... e terminando em atirá-la sobre o sofá de dois lugares, pressioná-la contra a superfície acolchoada e se enterrar dentro dela. Um pensamento mais desprezível que o outro. Caleb a soltou. Retirou um lenço imaculadamente branco do bolso e secou o rosto. — Suponho — disse ele, com extrema calma — que este seja o momento de lhe 47


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) fazer uma pergunta. Empinando mais uma vez o queixo, Sage o encarou. — Não — disse ela, sem rodeios. — Não estou esperando um filho seu. Acrediteme, se estivesse, talvez tivesse lidado com esta gravidez de maneira diferente. Caleb assentiu. Sabia que não tinha nada a ver com aquilo, mas apenas um tolo não teria perguntado... e apenas um idiota se sentiria magoado com a veemência da resposta, embora fosse a que esperara. Fizera amor com ela apenas uma vez... fizera sexo com ela apenas uma vez, pensou ele, corrigindo-se com frieza. E Sage garantira que estava tomando pílula. — Então, tenho apenas uma última coisa a lhe dizer. — Caleb fez uma pausa. — Meu cliente concordará em não procurá-la mais. Sage piscou várias vezes. — Mas você disse... — Com uma condição. Ele quer uma prova de paternidade. Sage atirou as mãos para cima. — É tão surdo quanto ele? Este bebê não é de David. — Digamos que ele queira ficar em paz com sua consciência. — Nunca fala a verdade, sr. Wilde? Ele quer o teste porque acha que estou mentindo. — De qualquer forma, faça o teste e poderá esquecer isso tudo. — Então isso... isso não passou de um subterfúgio? — Se a criança não for de seu falecido amante, não há o que temer. Sage inspirou profundamente. — Quando ele quer que eu faça o teste? Caleb retirou um envelope branco e longo do bolso do terno cinza e o entregou a ela. — Amanhã pela manhã. Às 10h. Um sorriso amargo curvou os lábios de Sage. — É sempre tão seguro de que a vida será exatamente do jeito que deseja? — Sempre — disse ele, mas estava mentindo. A vida não saíra como ele desejava. Caso contrário, não estaria cheio de raiva e ódio por uma mulher que recentemente havia desejado mais do que qualquer outra que conhecera. — O que tenho de fazer? — Está tudo escrito aí. Detalhes do procedimento, a localização do consultório da ginecologista-obstetra, as credenciais da doutora. A não ser que prefira seu próprio médico...? O “próprio médico” de Sage era uma simpática enfermeira que ela vira uma vez na clínica Planned Parenthood. Duvidava que eles realizassem teste de paternidade lá. — Amostras do DNA de David foram levadas ao laboratório que analisará os resultados. Se houver amostras de outros homens que queira levar... Sage lhe dirigiu um olhar desgostoso. — Você é o homem mais odioso que eu tive a infelicidade de conhecer. Com isso, abriu a porta da suíte e se retirou pisando duro. 48


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

CAPÍTULO SEIS

Sage passou uma hora lendo o material que Caleb lhe entregara... e o resto da noite tentando não pensar no que aconteceria na manhã seguinte. O procedimento era chamado de BVC. O panfleto mencionava um “desconforto mínimo”. Mais preocupante era o fato de envolver a “mínima possibilidade” de causar algum dano ao bebê. Aquilo a fez procurar por mais informações. Ligou o laptop e pesquisou o assunto “biópsia do vilo corial” Encontrou um website, onde Sage fez perguntas a duas mulheres que haviam sido submetidas ao procedimento. As duas responderam que a descrição do exame soava muito pior do que o procedimento realmente era. E, o mais importante, elas e os bebês saíram ilesos da experiência. “Ajudará se tiver alguém a seu lado que goste de você”, uma das mulheres digitou. Mas não havia ninguém que gostasse dela. Na verdade, nunca houvera. A mãe morrera há muito tempo e a realidade era que ela havia cumprido com suas obrigações maternas, mas o amor nunca fizera parte daquela equação. David fora a única pessoa que de fato gostara dela... até surgir Caleb e a noite em que fora seu defensor, protetor e amante. Seu acusador. Sage fechou o laptop e se levantou. Espreguiçou-se e se dirigiu à janela. Amanhecia. Não havia sentido em fazer nada além de se preparar para o que estava para acontecer. Tomou um banho, secou o cabelo e o prendeu em um rabo de cavalo. Em seguida, colocou um conjunto de calcinha e sutiã de algodão branco e vestiu um jeans desbotado e velho que estava ficando um pouco apertado, mas que ainda servia. Em seguida, colocou uma camiseta. Preparou uma xícara de chá de ervas descafeinado e se sentou à mesa da cozinha, pensando em suas opções uma última vez. Caso se recusasse a fazer o teste, Thomas Caldwell, ou melhor, Caleb Wilde, continuaria a perturbá-la enquanto esperava o nascimento do bebê. Sage tinha muito que fazer nos próximos seis meses. Encontrar um lugar para morar, fora da cidade. Não correria o risco de criar sua criança em Nova York como mãe solteira. Além disso, não era uma pessoa afeita a cidades grandes. 49


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) A única coisa boa da qual conseguia se recordar da própria infância era a lembrança das campinas verdes, das árvores e das estradas rurais. Desejava o mesmo para o bebê que estava esperando. Mas, acima de tudo, teria de arranjar um emprego. O sonho de ser atriz poderia esperar. Cursara dois anos de faculdade, no turno da noite, que seria um ponto positivo em seu currículo. E tinha experiência em muitas funções que lhe abririam um leque de empregos. Estava pronta para começar uma nova vida. E como poderia fazer isso com Caleb Wilde em seus calcanhares? E, droga, tampouco conseguia parar de pensar naquele homem. Estar naquele desprezível apartamento não ajudava em nada. As lembranças dele estavam por todos os lados. Na sala de estar. Na cozinha. No quarto, onde fizeram amor. Não. Não amor. Onde fizeram sexo. — Idiota — disse Sage, em um sussurro áspero. Sexo. Lascívia. Fora apenas isso, sem tirar nem pôr, a mesma coisa que acontecera com a mãe e que levara a seu nascimento, 24 anos atrás. Porém, com uma grande diferença: ela amaria seu bebê. Já o amava. Tudo que tinha a fazer era afastar Caleb Wilde de sua vida. Sage espalmou as mãos sobre a barriga, sentiu o leve abaulamento que revelava a vida nova que se desenvolvia dentro dela. Em seguida, afastou a cadeira, entornou o que restava do chá de ervas na pia da cozinha, pegou a bolsa e saiu do apartamento.

O consultório de Fein ficava em uma bela casa logo depois da Fifth Avenue, na Upper East Side. Às 9h30, Caleb saltou de um táxi, subiu os degraus até a porta de entrada e tocou a campainha. Uma voz desencorpada atendeu o interfone. — Sim? — Caleb Wilde. Sou o advogado constituído nos autos para o exame de BVC que será realizado em... Seguiu-se um clique e a porta se abriu para uma sala de espera pequena e vazia. A recepcionista lhe dirigiu um sorriso simpático. — Bom dia, senhor. — Bom dia. A srta. Dalton já chegou? — Ela está marcada para as 10h. Caleb assentiu. Sabia disso. A questão era: iria Sage aparecer? Teria mudado de ideia depois de ler o material que lhe entregara? Caleb também o lera na noite anterior. O procedimento parecia horrível, mas Sage fora a culpada da necessidade daquele exame. Portanto, o que ele estava fazendo ali? 50


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) A campainha tocou. A recepcionista apertou um botão e a porta se abriu. Sage entrou na sala de espera. Não a Sage do dia anterior, que se esforçava em aparentar frieza e competência com seu terninho e escarpim. Aquela era a Sage daquela noite, há três meses. A que se encaminhara ao toalete do apartamento onde morava e procedera à mágica necessária para fazer uma mulher parecer doce e inocente. E parecia chocada em vê-lo. As sobrancelhas de Sage arquearam, os lábios se entreabriram. Por um insano instante, Caleb teve a impressão de que estava satisfeita em encontrá-lo ali. Errado. Sage franziu a testa e os lábios se contraíram. — O que está fazendo aqui? Caleb limpou a garganta. — Achei que... deveria passar aqui... para o caso de você ter alguma pergunta. O desdém refletido no olhar de Sage quase o fez se encolher. Em seguida, ela passou como uma flecha por Caleb. — Sage Dalton — disse ela à recepcionista, com voz firme. — Tenho um horário marcado com a dra. Fein. — Bom dia, srta. Dalton. A médica a atenderá em breve. Tenho alguns papéis para a senhorita preencher. Sage se sentou na cadeira de espaldar reto e os preencheu. Era hora de partir, disse Caleb a si mesmo. Sua presença ali era desnecessária. E indesejada. Relanceou o olhar ao relógio de pulso. De fato tinha um compromisso. Com Caldwell. A reunião estava marcada para dali a uma hora. Por que não ficar por mais alguns minutos? Sage não o queria ali, mas a vontade dela não era o mais importante. Talvez houvesse questões jurídicas que ela não conseguisse responder. Caleb se sentou em uma cadeira oposta à dela, mas Sage não ergueu o olhar. Pouco depois de Sage entregar os formulários à recepcionista, uma mulher trajando um jaleco amarelo pálido emergiu do corredor. Apresentou-se como a enfermeira da dra. Fein e lhe disse que a médica queria conversar com ela, antes do procedimento. Sage assentiu com a cabeça. A mandíbula de Caleb se contraiu. O rosto de Sage estava da cor do leite, como ficara depois do ataque que sofrera na noite em que a conhecera. Ela se encaminhou na direção da enfermeira. Caleb hesitou por alguns instantes e, em seguida, fez o mesmo. A enfermeira ergueu uma das sobrancelhas. — E o senhor é? — Caleb Wilde. O advogado constituído nos autos. — Não o meu advogado — Sage disse, em tom de voz rude. 51


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Represento o cliente que solicitou este exame. — E? — perguntou a enfermeira, de maneira educada. E, pensou Caleb, que diabos está fazendo, Wilde? — E — respondeu ele, no tom de voz que usava nos tribunais — ficarei ao lado da srta. Dalton até a hora do procedimento. A enfermeira fitou Sage. — Srta. Dalton? Sage lhe dirigiu um olhar repleto de ódio. — Ele quer se certificar de que eu não mude de ideia e saia pela porta dos fundos. — Isso não é... — Claro que é — disse ela. — Pode ficar à vontade, sr. Wilde, enquanto faço o que for necessário para afastá-lo da minha vida. A dra. Fein trocou apertos de mãos com os dois, e gesticulou para que se sentassem, nas cadeiras em frente a sua mesa. — Tem certeza de que quer permitir a presença do sr. Wilde durante nossa conversa? Sage deu de ombros. — Não me importo. — A voz soou baixa e não tão firme quanto antes. — Bem, então — retrucou Fein, erguendo os formulários que Sage preenchera. — Dê-me um minuto para que eu possa ler isto. A médica começou a ler. Sage se encontrava sentada com a coluna reta na cadeira, com os pés juntos e as mãos cruzadas sobre o colo. Caleb a observou. Era óbvio que ela estava perdendo pequenas porções de seu autocontrole. Mordia o lábio inferior e esfregava um polegar no outro. E agora estava trêmula. Algo se contraiu no íntimo de Caleb. — Sage? — chamou ele, com voz suave. Quando ela ergueu o olhar para encarálo, Caleb limpou a garganta. — Você está bem? — Sage o olhou como se ele fosse louco. — Quer que lhe traga algo? Talvez um copo de água? — Nenhuma resposta. — Ele se inclinou na direção dela. — Ouça — disse, em voz baixa -, não há nada de pessoal nisso. — Como poderia haver? Você é um advogado. As feições de Caleb se contraíram. Todas as piadas sobre advogados se resumiam naquelas quatro palavras ditas em tom frio. — O que quis dizer é que não tem nada a ver com... nada, além dos direitos de Thomas Caldwell. — Ele não tem nenhum direito. — Isso é o que você diz. — Porque sei que é verdade, sr. Wilde, e o senhor também saberá depois disso. — Ouça, estou apenas tentando lhe dizer que... — Faça um favor a nós dois. Não me diga nada. A médica ergueu o olhar, alternando-o entre os dois. — Bem — disse, em tom animado. — Tudo parece estar em ordem. Sage? Preciso 52


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) apenas reforçar alguns pontos. — Eu entendi tudo. — A voz de Sage soava rouca. — Por favor, vamos acabar logo com isso. — Levará apenas alguns minutos, prometo. Primeiro, quero saber se está ciente de que os resultados só estarão prontos dentro de aproximadamente cinco dias. A confirmação de paternidade, baseada no exame de hoje e nas amostras de DNA de David Caldwell, que foram adequadamente recolhidas por... — Sim. Quero dizer, estou ciente disso. — Ótimo. Quanto ao procedimento em si... há dois métodos padrão. Saberei ao certo qual é o preferencial assim que a examinar. Ambos têm 99,99 por cento de precisão. Entendeu isso também? — Sim — sussurrou ela, assentindo com a cabeça. — Sentirá um certo desconforto. Nada insuportável, mas... — Também estou ciente disso. Sage voltara a tremer. A voz soava como um rangido. Caleb sentiu os punhos cerrando. — Todos os dois apresentam um risco mínimo para a mãe e para a criança. Tem certeza de que entendeu isso, srta. Dalton? Caleb a observava. O tremor havia se intensificado. — O risco para o bebê. É muito pequeno, certo? Quero dizer, quando você... quando fez esse exame antes, algum bebê... algum bebê... — Para o diabo com isso! — Caleb disse, em tom alto e claro. — Sr. Wilde. — A médica dirigiu o olhar a ele. — Quero apenas me certificar de que a srta. Dalton está ciente de... — Sim, ela está. E eu também. E por isso não haverá exame algum. — O quê? — A senhora me ouviu, doutora. Não vamos continuar com isso. Dois círculos vermelhos surgiram no rosto, antes lívido, de Sage. — Isso se trata de algum tipo de... jogo macabro? Armou tudo isso para ver até que ponto eu chegaria para afastá-lo de minha vida? Caleb se ergueu. — Levante-se. — Levante-se? — A voz de Sage se ergueu várias oitavas. — Acha que pode me dar ordens? Suma daqui, Caleb Wilde! Não o quero aqui. Não preciso de você aqui. — Sim — Caleb retrucou, inflexível. — Precisa, sim. — Sr. Wilde. Srta. Dalton... — Leu os papéis que lhe dei? De fato os leu? — Cada palavra. — Então, sabe que os riscos são censuráveis. Caleb tinha razão. De fato eram. Mas que escolha tinha entre a cruz e a espada? — Essa decisão não é sua. Sage tinha razão. Ele não tinha nenhum direito ali, a não ser como representante de seu cliente... 53


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) E como o homem que a abandonara à mercê da arrogância manipuladora daquele mesmo cliente. — Tem razão — concordou Caleb, em tom de voz calmo. — Você se submeter ao exame não é uma decisão minha, mas autorizá-lo é. — Dirigiu-se à médica. — Estou retirando a autorização. Não haverá nenhum exame. — Não pode fazer isso — protestou Sage. Provavelmente não, mas ele era o único advogado naquela sala. Quem apresentaria algum argumento jurídico contra ele? A sombra de um sorriso curvou os lábios de Caleb. — Acabei de fazer. Sage se ergueu lentamente. — Maldito — sussurrou ela. — Primeiro, tornou impossível para mim recusar a me submeter ao exame. E, agora, diz que não o autorizará. — E não autorizarei. Sage dirigiu o olhar à médica. — Ele pode fazer isso? — Bem — disse a dra. Fein. — Nunca me deparei com uma situação assim antes... — Aqui vai a decisão: meu cliente não pagará pelo exame. — Eu pagarei. — Sage se apressou em dizer. — Quanto custa esse exame? Caleb dirigiu o olhar a ela. — Quatro mil dólares — respondeu. — Tem essa quantia? Sage o encarou. Ele podia ver uma dúzia de emoções diversas se refletindo nos enormes olhos azuis. Tudo, desde a descrença à raiva e ao desespero. — Espero que consiga conviver consigo mesmo — disse ela, em um sussurro trêmulo. — Porque você é o mais desprezível ser humano que já conheci. Caleb não respondeu. Agradeceu à médica pelo tempo dispensado e pediu para que lhe enviasse a conta dos custos que tivera. Em seguida, segurou Sage pelo braço e, apesar de suas tentativas de se libertar, ele a guiou para fora da clínica. Sage cravou os calcanhares no chão da calçada e girou na direção dele. — Por quê? — Eu lhe disse. Os riscos são muito altos. — E o que isso lhe importa? — O cabelo de Sage estava se soltando do elástico que o prendia. Ela o arrancou e afastou o cabelo do rosto. — Não consigo entendê-lo. Não entendo nada sobre você! Caleb soltou uma risada rouca. — Bem-vinda ao clube. — Não tem de tomar decisões por mim — disse ela, as lágrimas lhe banhando os olhos desafiadores. — Sou responsável por mim mesma. Sempre fui. — Sim. Foi o que deduzi. — Então, por que está interferindo em minha vida? Um sopro quente de vento atirou uma mecha do cabelo dourado sobre os olhos de Sage. Sem pensar, ele esticou a mão e a afastou. 54


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Deixe-me ajudá-la — pediu Caleb com suavidade. — Isso é loucura. Você trabalha para... — Caldwell é meu cliente. Ele me paga para lhe dar conselhos jurídicos e vou aconselhá-lo que é preferível fazer o teste após o nascimento do bebê quando o laboratório necessitará apenas de uma amostra de DNA não invasiva. — Ele não aceitará. E não poderei seguir com minha vida até... até deixar isso tudo para trás. Tenho de encontrar um lugar para morar. Arranjar um emprego. Fazer planos para meu bebê. E como poderei fazer isso com Caldwell pairando como uma sombra sobre mim durante todo o tempo? — Resolverei isso. Sage fez um movimento negativo com a cabeça. As lágrimas lhe umedeciam os cílios e começavam a rolar como pequenos diamantes pelo rosto. — Por quê? — perguntou ela. — Responda-me apenas essa pergunta, está bem? — Porque é a coisa certa a fazer. — Não pensava assim ontem. Caleb sorriu. — Talvez eu seja lento para aprender. — Está falando sério, certo? — perguntou Sage, com a voz repleta de incredulidade. — Vai mesmo convencê-lo a me deixar em paz até que o bebê nasça? — Sim. — Mas por que faria isso? Um músculo na mandíbula de Caleb se contraiu. Como ele pudera perceber o que era real e o que era mentira e ter se recusado a admitir isso por tanto tempo? — Porque acho que você esteve dizendo a verdade o tempo todo — disse ele, com voz baixa. Os olhos azuis se arregalaram. Caleb esticou as mãos para segurar o rosto dela, mas voltou a baixá-las. — O bebê — disse ele. — Não é de David. Silêncio. Em seguida, Sage deixou escapar um sorriso trêmulo. — Não. Caleb assentiu. — Fiz essa pergunta ontem — prosseguiu ele. — Agora vou fazê-la de novo. — Esticou as mãos e as pousou nos ombros delicados. — Sage, esse bebê é meu? — Caleb aguardou, sabendo que aquela era a forma como devia ter perguntado desde o início. — Diga-me a verdade — pediu, com voz suave. — Essa criança é minha? Os lábios que Caleb se recordava de terem o sabor do mais doce mel estavam trêmulos. Sage suspirou e tudo que um homem poderia sonhar, imaginar e — droga! — temer se encontrava refletido naquele som. — Sim — respondeu ela. — É. Estou esperando um filho seu.

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CAPÍTULO SETE

Caleb ouvira pessoas descreverem momentos cruciais em suas vidas de uma forma que ele julgava exagerada e até tola. Sabia que frases tais como: “o mundo paralisou” ou “a Terra tremeu” eram metáforas. Agora, escutando o suspiro de Sage, percebendo a escuridão daqueles olhos azuis, soube que nenhuma daquelas frases era exagerada. Expressavam a mais pura realidade, porque, se a Terra não tivesse tremido sob seus pés, não saberia definir o que acontecera. Fizera uma pergunta que nunca imaginara fazer e a resposta fora um divisor de águas. Sabia que precisava dizer algo, mas o quê? O cérebro parecia empacado, a língua colada ao céu da boca. Em um filme de cinema, aquela seria uma cena romântica, selada com um beijo dos protagonistas. Mas aquela era a vida real. Os dois mal se conheciam, exceto no sentido bíblico da palavra... e fora isso que os colocara em tal situação, para início de conversa. Uma corrente de água gelada parecia lhe correr nas veias. Não estava interessado em se casar com ninguém Não por um longo tempo. E, quando o fizesse, não seria com uma mulher que era uma total estranha. — Disse que estava tomando pílula anticoncepcional. — Foi tudo que conseguiu dizer. — E estava — afirmou ela. — Segundo a bula que as acompanhavam, tinham 99,99 por cento de eficácia. Mas acabei me enquadrando naquele 1 por cento. Desculpe. Naquele 0,01 por cento. — Ela o encarou, percebeu a expressão de Caleb e ergueu o queixo. — Sabe de uma coisa? Se não queria saber ou não está acreditando, não devia ter perguntado. Sage tinha razão. E o mais impressionante, ou talvez não tão impressionante assim, era que ele acreditava. Em um nível pragmático, por que outra razão Sage se mostraria tão disposta a fazer o exame de BVC? E, em um nível que não tinha nada a ver com pragmatismo, ela era a mulher que estava em seus braços naquela noite fatídica. Não importava que acordo ela tivesse com David Caldwell. Caleb sabia que ela não mentiria, principalmente em um assunto como aquele. — Eu acredito — disse ele, em tom de voz calmo. — É que... é uma informação bombástica para se digerir. Sage queria dizer algo expressivo ou inteligente, mas, ao se lembrar de sua reação inicial, quando viu as pequenas tiras do teste de gravidez se tornarem azuis, não conseguiu. 56


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Eu sei — disse, em voz baixa. Caleb assentiu. — Então, temos de conversar. — Não há nada para conversarmos. — Você está grávida — disse ele, sem rodeios. — Sou responsável por essa gravidez. Parece-me que temos muito que conversar. Aquilo não a surpreendeu. Caleb Wilde não era apenas um homem que acabara de receber uma notícia chocante. Era um advogado. Teria um discurso a fazer, talvez papéis para ela assinar. Como o pai de David quisera. Mas existia uma diferença entre Thomas Caldwell e Caleb Wilde. O primeiro queria se impor em sua vida. O segundo, certamente desejava ficar fora dela. E Sage não se opunha àquilo.

Caleb sugeriu que fossem para seu hotel. Sage pensou naquela suíte repulsiva e negou com a cabeça. — Esqueça. Há uma cafeteria à direita da estação do metrô. — Certo — retrucou ele, com voz calma. — Que melhor lugar poderia haver para discutir o fato de você estar grávida do que uma cafeteria? Poderíamos até mesmo pedir conselhos à garçonete. — Não gosto de seu quarto de hotel. — Você não o viu. — Claro que o vi. Ontem. — Foi Caldwell que tomou aquelas providências, não eu. Estou no... — Não me importo onde esteja hospedado. Não quero ir para seu hotel. Caleb ergueu uma das sobrancelhas. — O que significa isso, uma guerra territorial? — Claro que não — Sage se apressou em responder, embora... de fato fosse. Não havia a menor possibilidade de dar a Caleb qualquer tipo de vantagem psicológica. — Muito bem — disse ele. — Vamos para seu apartamento. A cena do crime, pensou Sage, sentindo uma onda de calor se espalhar pelo rosto. — Podemos conversar aqui. Quero dizer, não temos muito que conversar. Já lhe disse, não pedirei nada a você ou... As mãos de Caleb se fecharam sobre os cotovelos delicados, antes de ele a erguer até que ficasse nas pontas dos pés. — Não se trata de mim ou de você — disse ele. — Mas sobre isso. Sobre essa situação que nós criamos. — Trata-se de um bebê — retrucou Sage, tentando manter a voz firme. — Não de uma situação. — Entendeu o que eu quis dizer. — O que entendo — rebateu ela — é que já tomei minha decisão. 57


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Tomou essa decisão sem me consultar. — Você não faz parte disso. Caleb soltou uma risada, embora fosse um som nada agradável. — Está esperando um filho meu. E pretendo fazer a coisa certa em relação à criança. — A coisa certa. — Sage ergueu o olhar para encará-lo. — O que exatamente isso quer dizer? — Quer uma resposta sincera? — Pela primeira vez, Caleb não parecia tão seguro. — Não sei. E é sobre isso que temos de conversar. Sage assentiu. E, droga, pensou ele, eram lágrimas que faziam aqueles olhos azuis brilharem? Um punho pareceu se fechar em torno da garganta de Caleb. Ela parecia tão jovem, tão perdida, tão vulnerável! Em um gesto impensado, ele inclinou a cabeça e roçou os lábios de leve aos dela. Um erro. Caleb soube disso no mesmo instante, mesmo quando os lábios de Sage relaxaram sob os dele. O beijo evocou lembranças indesejadas. O sabor e a textura de Sage. A perfeição de tê-la em seus braços... Caleb virou de costas, sinalizou para um táxi que se aproximava e, em seguida, se dirigiu a ela. O rosto delicado se encontrava pálido. Os lábios, trêmulos, e ele desejou beijá-la outra vez... — Vamos — disse Caleb, em tom brusco. Instantes depois, estavam a caminho do Brooklyn.

O bairro não parecia melhor do que da última vez em que ele estivera lá. Na verdade, dava a impressão de estar ainda pior, porque havia latas de lixo reviradas na calçada. Sage saltou do táxi e Caleb saiu logo atrás dela. Na calçada, segurou-a pelo cotovelo e a guiou até o apartamento. — As chaves — disse ele, ignorando o fato de Sage revirar os olhos enquanto as entregava. Quando se encontravam na sala de estar, Caleb não perdeu tempo com preâmbulos e apontou para o sofá. — Sente-se. — Sage cruzou os braços. — Não me escutou? Eu disse... — Acha que eu pareço um poodle? Droga, mesmo cheio de raiva, ele teve vontade de rir, mas não era tolo a ponto de ceder àquele impulso. Em vez disso, exibiu os dentes em um sorriso frio. — Muito engraçado. — Não — retrucou ela. — Não tem graça nenhuma. — Sage passou por ele, se encaminhando à cozinha e começou a preparar um chá. Caleb a seguiu, resmungando alguma coisa em tom de voz baixo, arrancou a chaleira das mãos dela e a pousou sobre o fogão. 58


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — O que acha que está fazendo? — Uma xícara de chá de ervas descafeinado. — Sage ergueu o olhar para encontrar o dele, adejando os cílios e lhe dirigindo um sorriso doce o suficiente para lhe aumentar a glicemia no sangue. — Por quê? Quer uma xícara também? Estaria Sage deliberadamente tentando enfurecê-lo? Caleb tinha vontade de agarrá-la pelos ombros e sacudi-la para ver se lhe incutia um pouco de bom senso... Ou talvez puxá-la contra o corpo e beijá-la até que o bom senso fosse a última coisa em que ambos pensassem Diabos! Para onde iria a racionalidade quando se encontrava ao lado daquela mulher? Tinha de manter a mente focada. — Na verdade — respondeu ele. — Adoraria tomar um chá. — Caleb forçou o que esperava ser um sorriso insípido. Em seguida, retirou o terno, abriu o primeiro botão da camisa, afrouxou a gravata, desabotoou os punhos das mangas e as enrolou. Sage estreitou o olhar enquanto ele se sentava, esticava as pernas e cruzava os pés na altura dos tornozelos. Quando Caleb cruzou os braços sobre o peito, ela resmungou algo quase inaudível. O que o fez ter vontade de rir. O que ela disse foi incrivelmente grosseiro, especialmente vindo de uma mulher com aparência delicada e lábios de mel. Porém, não podia culpá-la. Compartilhava aquele sentimento. Conversar sobre aquela situação caótica... A chaleira apitou. Sage colocou os saquinhos de chá em duas xícaras. Caleb detestava aquela bebida e aquilo não era um chá genuíno, apenas uma mistura de ervas insípida. — Isso — disse ele, quando Sage pousou as xícaras sobre a mesa. — Não é chá. — É o que eu bebo. — Ridículo — resfolegou ele. Sage o encarou. — Mel? — Que tal açúcar? — Cortei o açúcar refinado de minha alimentação. — Sem açúcar. Sem chá de verdade. Você é uma dessas lunáticas por alimentação saudável? Sage puxou uma cadeira e se sentou de frente para ele. — Estou grávida. — Assim me disse. — Você é obtuso ou não tem noção da realidade? Mulheres grávidas não devem consumir cafeína! Têm de controlar a alimentação! — Oh, eu não sabia. Quero dizer, não entendo nada de... gravidez. — Não — concordou Sage, mas logo ele percebeu a raiva dela se esvair. Ela pousou os cotovelos sobre a mesa e inclinou a testa, recostando-a sobre os punhos. — Nem eu. 59


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Lágrimas rolaram pelo rosto delicado. Caleb se ergueu, pegou um pedaço de toalha de papel de um rolo pendurado sobre a pia e o entregou a ela. — Sage — começou com voz suave, agachando-se ao lado dela. — Sinto muito. Após aceitar a toalha de papel, ela assoou o nariz. — Não é culpa sua. Atirei isso sobre você como um... tijolo. Sei que está... tentando processar essa informação. Caleb puxou a cadeira e a posicionou ao lado da de Sage, sentou-se e lhe envolveu as duas mãos com a dele. — Ouça, ambos somos inexperientes nesse assunto. — A conclusão do ano — retrucou ela, com uma risada chorosa. — Mas aprenderemos a lidar com isso. — Caleb sorriu, se inclinou para a frente e lhe afastou uma mecha de cabelo do rosto com a mão livre. — Veja o quanto acabei de aprender sobre a alimentação das grávidas. Sage soltou uma risada. Dessa vez, genuína, e ele teve vontade de aplaudir. Em vez disso, empurrou a xícara de modo que ficasse posicionada diante dela. — Vamos. Tome um gole. Ótimo. Está com fome? Quer que eu faça alguma coisa para você comer? — Caleb... — Não? Muito bem. Então tome apenas o chá. — Caleb. — Sage pousou a xícara de chá. — O que disse. Sobre termos que conversar. — Sim — Ele se inclinou para trás. — Nós temos. Sage assentiu com a cabeça. — Quero apenas que saiba... quero dizer, sinceramente não espero... — Ouça — retrucou ele. — Somos duas pessoas adultas. Temos que enfrentar isso. Sage concordou mais uma vez, fazendo um gesto positivo com a cabeça. Muito bem. Aquilo era um progresso. Ambos estavam calmos. Ele certamente estava... Toda sua raiva... não fora contra ela ou contra ele, mas sim por não saber qual o próximo passo sensato a dar. Faculdade de Direito. CIA. Um carreira de sucesso. Sempre fizera escolhas sensatas para uma abordagem sensata em relação à vida. Sage afastou a cadeira para trás. — Dê-me um minuto. — Não. Não podemos adiar isso. — Lição número dois sobre gravidez — disse Sage, com um breve sorriso. — Dá vontade de urinar com muita frequência. — Ah! — disse ele outra vez. Aquela parecia sua palavra favorita naquele dia. Caleb a observou deixar a cozinha. Aquela mulher era muito orgulhosa. Determinada a não precisar dele ou de ninguém Droga! Qual deveria ser seu próximo passo? Conhecia as escolhas que poderiam ser feitas dentro da lei. Mas e quanto aos sentimentos? Emoções? Não havia como enquadrá-las em categorias jurídicas 60


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) estanques. Ouviu o som da descarga no toalete e a água correr na pia. Em seguida, a porta do banheiro foi aberta. Sage voltou à cozinha. Havia lavado o rosto e escovado o cabelo. Caleb sentiu o coração fazer algo... estranho dentro do peito. Devia ser seu estômago, e não o coração. Não comera nada naquela manhã. Não tomara nem ao menos café. Esticou a mão para a xícara do chá descafeinado, tomou um gole e tentou não vomitar. Sage soltou uma risada e ergueu o olhar. — Parece estar comendo minhocas. — Ora, minhocas não são tão ruins assim — Caleb sorriu da expressão que se estampou no rosto de traços perfeitos. — Crescer com uma dupla de irmãos que estão sempre ávidos por um desafio nos leva a fazer muitas coisas que não se deve falar na companhia de pessoas educadas. Sage sentou-se de frente para ele. Agora sem o sorriso no rosto. — Como o que fazer quando se descobre que a mulher com quem... quem esteve ficou grávida. — A mulher com quem fiz amor — retrucou ele, com voz baixa. Os olhos dos dois se encontraram. Após alguns longos segundos, Sage desviou o olhar, prendendo o lábio inferior entre os dentes. Ele a observou, tentando não pensar no quanto aquela boca era macia e doce. — Então — prosseguiu ela. — Então... estive fazendo planos. Bem, estive tentando, mas com Caldwell me assombrando... — Esqueça Caldwell. — Que inferno! Por que sua voz soava tão rouca? — Ele não a importunará mais. — Tem certeza? — Sim Vou dar um jeito nisso. — Obrigada. — Não me agradeça — retrucou ele, com a voz ainda mais rouca. — É apenas a coisa certa a fazer. — Limpou a garganta. — Que planos esteve fazendo? — O primeiro, que lidera a lista... — Sage se inclinou para trás na cadeira. — É me mudar daqui. — Tem toda razão. — Vou procurar um lugar... bem, ainda não tenho certeza. Pensei, talvez, no Queens. Ou em Long Island. Talvez até mesmo New... — Uma casa — interrompeu Caleb. — Crianças precisam de um jardim. Um cachorro. Espaço para correr. — Pensei sobre uma casa, mas alugá-la provavelmente é... — Alugar é uma boa ideia. Considerando o momento econômico, talvez seja melhor alugá-la agora. Há casas no mercado a um preço excelente. Deus do céu! Travis ficaria orgulhoso dele. Ou talvez não. Estava soando mais como um 61


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) executivo que estava a ponto de se tornar um... se tornar um.. — Talvez — disse Sage. — Mas tenho de ser realista. — Claro que sim. Ser realista é minha especialidade. — Teria ele dito aquilo? — O que quis dizer é que traçarei alguns planos e... — O quê? Os olhos de Sage se estreitaram. Ela era boa naquele gesto, que inevitavelmente prenunciava tempestade iminente. — Estou fazendo planos há quase três meses. — Tenho certeza de que sim, mas... — Não há nenhum “mas”. Fui eu que estive lidando com isso... como chamou? Essa situação. — Enquanto eu a desconhecia. — Caleb podia sentir uma leve onda de raiva se formando em seu íntimo outra vez. — O que me leva a fazer uma pergunta: por que não entrou em contato comigo quando soube que estava grávida? — Para começar, não sabia seu sobrenome. Não sabia nada sobre você, a não ser que vivia no Texas. O que fizemos... o que fizemos... — As bochechas do rosto de Sage se tornaram rubras. — Ainda não consigo acreditar. E, creia, não me orgulho disso. Imagens pipocaram na mente de Caleb. Ele acordando no meio da noite, o corpo em chamas de desejo por ela. Como tentara ignorar o que sentia e depois como percebera que Sage também o desejava. E então, tendo-a em seus braços, quente, selvagem... — Não me arrependo daquela noite — retrucou ele, com a voz rouca. — E você também não deveria se arrepender. Sage o encarou e, em seguida, se ergueu como se tivesse sido ejetada por molas. — Não quero falar sobre isso. Caleb também se ergueu e estacou ao lado dela. Muito próximo, muito masculino, muito tudo que ela se esforçara tanto para esquecer. — É por isso que estamos aqui — disse ele. — Para conversar sobre isso. — Sobre... sobre o bebê. Não sobre... — Nunca deixei de pensar em você — disse ele. — Não conseguia tirá-la da cabeça. — Pare! — Sage fechou os olhos, como se o gesto fosse capaz de apagar aquilo tudo. — Não quero... não quero... — Droga, não. Nem eu. — Com uma das mãos no cabelo de Sage, ele lhe virou o rosto em sua direção. Os fios sedosos lhe envolviam os dedos. — Mas não posso evitar. As lembranças de você. Seu sabor. Sua textura. Como foi estar dentro de você... Sage lhe deu um tapa na mão. Caleb lhe segurou o rosto com firmeza, forçando-a a encará-lo. — Não — disse ela em tom áspero, mas era tarde demais. Os lábios de Caleb estavam cobrindo os dela com o desejo reprimido há meses, com paixão e, ainda assim, com ternura. A língua quente exigiu entrada no interior aveludado da boca de Sage, fazendo-a gemer e entreabrir os lábios para lhe permitir acesso. Uma eternidade depois, Caleb ergueu a cabeça, mas não a soltou. 62


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Por que não me contou isso ontem? — Ele percebeu certa tensão na própria voz. E daí? O que acabara de fazer não era lógico, mas certamente perguntar era. — Preferia se submeter a um exame de paternidade a me contar a verdade? — Solte-me. — Responda a minha pergunta. Por que não me contou isso ontem? — Não estava muito interessado na verdade três meses atrás. Por que iria querer ouvi-la ontem? — O que quer dizer com isso? — Saiu correndo daqui naquele dia. Sem perguntas, nada. Apenas... nocauteou David, disse-me o que pensava e disparou pela porta. — E? — O que quer dizer com “E?”? Foi assim que tudo terminou entre nós. Agora está dizendo que, quando o encontrei esperando por mim naquele hotel, ontem, deveria ter lhe estendido a mão, sorrido e dito: “Olá, sr. Wilde, que bom revê-lo e, a propósito, estou esperando um filho seu”? — Sage se soltou das mãos que a seguravam, os olhos desafiadores faiscando de raiva... ou seria de dor? — Que modo fantástico de iniciar uma conversa! Caleb queria lhe dizer que estava errada, mas ela não estava. Nunca teria acreditado nela. Nem ao menos sabia por que acreditava agora. Mas acreditava. Os eventos daquela manhã haviam mudado tudo. Sage era, mais uma vez, a mulher que conhecera naquela noite há quase três meses. Uma combinação irresistível de vulnerabilidade e coragem. A mulher que o tocara fundo como nenhuma outra conseguira. — Não deveria ter saído daquela forma naquela noite — disse ele, em tom de voz baixo. — Deus sabe que não estava em posição de fazer nenhum julgamento moralista. — Ninguém está em posição de fazê-lo — retrucou Sage, com a voz tensa. — Principalmente sem fazer algumas perguntas antes. Um músculo se contraiu na mandíbula de Caleb. — O que havia para perguntar? — Esqueça — retrucou ela, exausta. - Não importa. — Uma ova que não importa. Sage ergueu o olhar para encará-lo, pesando naquelas palavras. Em seguida, exibiu um sorriso amargo. — Está bem Que tal: “Você e David são amantes?” — Está me dizendo que não eram? — Acreditaria se eu dissesse? Algo se agitou no íntimo de Caleb. — Tente. — O tempo escoou. Caleb soltou um xingamento, e a segurou pelos ombros mais uma vez. — Droga, quero saber a verdade. Vocês eram amantes? — Não. — Lágrimas banharam os imensos olhos azuis. — Ele era meu amigo. Meu melhor ami... — A voz de Sage falhou. Ele teve vontade de apertá-la contra o corpo e confortá-la, mas não poderia. Ainda não. Não até que as imagens dela com David lhe 63


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) sumissem da mente. — O dia em que o perdi — sussurrou ela — foi o pior da minha vida. Caleb assentiu com a cabeça. Procurou por palavras de consolo... mas, em vez disso, se ouviu perguntar: — Por que moravam juntos? Sage resfolegou, incrédula. — Isso é tudo com que você e seu ego gigantesco conseguem se preocupar? — Responda a minha pergunta — retrucou ele em tom rude, sabendo que o fantasma que vivia dentro dele, o agente da CIA que fora treinado para não confiar em ninguém, de repente assumira o controle. — Não estávamos vivendo como amantes. Disse a David que ele poderia ficar aqui até encontrar outro lugar. — Então, está me dizendo que eram amigos e que dividiam um apartamento? E lá estavam os olhos estreitados outra vez. — Não estou dizendo isso. Estou afirmando isso. Éramos amigos. Fim da história. Caleb assentiu mais uma vez. Havia apenas mais uma pergunta. Detestava-se por ter necessidade de fazê-la, mas tinha de saber. — E onde ele dormia? O ar que escapou entre os dentes cerrados de Sage sibilou. — Droga, Caleb! Não sei por que me importo em responder. Não está interessado na verdade! — Onde? — perguntou ele. Apesar de ter amigas do sexo feminino e saber que homens e mulheres podiam se relacionar sem que o sexo entrasse na equação, como poderia um espécime humano macho estar próximo de Sage sem desejá-la ou tocá-la? — Ele dormia onde você dormiu - respondeu ela, com a voz tensa. — Nós brincávamos dizendo que o sofá era nosso quarto de hóspedes. — Nós — Caleb se ouviu dizendo. Sage ergueu o rosto para encará-lo. O que proporcionaria aquele brilho aos imensos olhos azuis? As lágrimas ou a raiva? — Nós — confirmou ela. — Sem dúvida. David era mais que meu amigo. Era... minha família, o irmão que eu nunca tive. Sempre me apoiava... até o dia em que saltou de um ônibus em uma noite escura, um carro avançou o sinal e... e... — Droga! — Caleb disse, com voz rouca. Esticou os braços para Sage, mas ela desviou. — David e eu não tínhamos nenhum relacionamento sexual. Nunca tivemos e nunca teríamos. Não poderíamos. Ele era homossexual! Homossexual?! A palavra pareceu ecoar no repentino silêncio. — Homossexual? — Caleb disse. — Homossexual — Sage confirmou, limpando as lágrimas e lhe dirigindo um olhar que ele nunca mais esqueceria. — E você... é cem por cento um medalhista de ouro em idiotice! Sage virou as costas e marchou na direção do toalete, batendo a porta com força. 64


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Caleb ficou imóvel. David Caldwell era homossexual. Nunca fora amante de Sage. E ele, Caleb Wilde, era, de fato, um medalhista de ouro em idiotice. E foi então que a realidade o atingiu enquanto se deixava afundar na cadeira. Seria... diabos! Seria pai!

CAPÍTULO OITO

Sage bateu a porta do toalete com força. Estava cuspindo fogo! Não sabia qual dos dois era mais tolo, se ela ou Caleb. Nunca ocorrera a ele fazer qualquer pergunta sobre aquela noite. Sobre a possibilidade, a mínima possibilidade de ter interpretado as coisas de maneira errada. Mas por que se importaria? Conhecera-o mais ou menos às 21h. Trouxera-o para seu apartamento às 22h. Fizera sexo com ele, algumas horas depois. Sexo, puro e simples. Aquilo não significara nada para Caleb e certamente não devia ter significado nada para ela... Mentirosa. Mentirosa. Mentirosa. Significara tudo. Ao menos, acreditara que sim Agora, estava grávida de um filho de Caleb. Deus, que confusão! Vinte e quatro horas atrás, quando adentrara aquele quarto de hotel e o encontrara aguardando por ela, pensara que as coisas não poderiam ficar piores. Que piada! E a culpa era dela. Por que lhe contara a verdade? Ontem, quando Caleb perguntara se a engravidara, ela nem titubeara. A mentira lhe viera tão fácil quanto a própria respiração. Então, o que mudara? Absolutamente nada. Contar a verdade a Caleb apenas complicara as coisas. Nada de bom surgiria dali e ela, mais do que qualquer outra pessoa, sabia disso. Estava repetindo a história da mãe. Conhecendo um homem, fazendo sexo, ficando grávida... “barriguda”, para usar a terminologia da mãe. Sage observou o próprio reflexo no espelho. Logo ela, dentre todas as pessoas, iria colocar no mundo um ser com o estigma da ilegitimidade! Sabia que aquele era um pensamento cada vez mais antiquado. Mas não para ela. A ilegitimidade havia definido sua infância enquanto crescia em uma cidade pequena e conservadora com uma mãe incapaz de esquecer o passado. 65


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Seria esse o motivo pelo qual admitira a verdade para Caleb? Teria parte dela esperado que ele recebesse a notícia e dissesse... O quê? Que reconheceria o filho como sendo dele? Que assumiria o papel de pai, ao menos, pela metade? Fins de semana alternados e duas semanas durante o verão? Sage se deixou afundar sobre a tampa do vaso sanitário fechada. Durante todas aquelas semanas evitara pensar sobre tais questões. Havia se concentrado nas tarefas do dia a dia. Encontrar um lugar para morar. Procurar um emprego. Teria feito isso deliberadamente? Estaria tentando evitar se lembrar da própria infância? Sem pai. Nem mesmo um nome ou uma foto. Apenas as intermináveis referências da mãe sobre como aquele homem arruinara sua vida. Sage testemunhara o sofrimento de muitas outras mulheres que também tiveram os corações partidos por homens, que as usavam apenas para fazer sexo. Também experimentara o sexo. Em seu primeiro ano em Nova York, principalmente por estar cansada de ouvir as moças enaltecerem as delícias da vida sexual. Porém, para ela não fora nada bom, portanto não tentara uma segunda vez... até aquela noite, três meses atrás, quando descobriu que o sexo era... maravilhoso, desde que feito com o homem certo. Porém, Caleb se revelara exatamente o tipo que a mãe costumava descrever. Que estava disposto a usar as mulheres e nada mais. — Sage? A batida à porta a assustou. Erguendo-se, ela girou a torneira da água, para parecer estar fazendo algo de útil. — Sage, você está bem? A pergunta quase a fez soltar uma gargalhada. Ela estava ótima, tirando o fato de estar grávida, sozinha e perplexa por ter contado a Caleb uma verdade que ele não queria saber. — Sim — respondeu, com voz alta e clara. — Dê-me apenas um minuto. Sage fechou as mãos com força em torno da beirada da pia, inclinou a cabeça e fez alguns exercícios de respiração. Havia um velho provérbio que dizia que a verdade libertava, mas aquele era o problema com os antigos ditados. Às vezes, não faziam sentido. De volta ao ponto de partida. Por que contara a Caleb? Talvez devido à forma como ele tomara o controle das coisas naquela manhã. Caleb simplesmente se recusara a deixá-la fazer o exame por menor risco que implicasse. Fora uma espécie de declaração oficial. Sou Caleb Wilde. E estou no comando aqui. A mulher do século XXI que existia dentro dela deveria ter protestado, mas Sage amara o fato de ele tê-la feito se sentir segura e desejada. Mais uma vez, Caleb fora seu cavaleiro destemido, mesmo que por um curto espaço de tempo. — Sage! — As batidas à porta se intensificaram — Você está enjoada... 66


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Aprumando a coluna, ela girou a maçaneta, destrancou a porta e a escancarou. — Estou bem — respondeu, em tom calmo. Caleb não parecia convencido. Bem, por que deveria? Sage vira a própria imagem refletida no espelho. O rosto estava pálido; o cabelo, sem volume. — Nesse caso — disse ele -, precisamos conversar. — Já conversamos. — Ainda não. E lá estava ele, a ponto de lhe atirar um punhado de dinheiro em troca da promessa de que ela desapareceria de sua vida. Seria uma abordagem melhor do que a de seu pai biológico, mas não muito diferente. — Ouça — começou ela, cautelosa. — Vamos encurtar isso, está bem? Sei o que vai dizer. — Uau! Que talento útil. — E posso lhe poupar um bocado de tempo. Quero... — Você me disse. Um lugar para morar. Um emprego. Agora é minha vez. O que Sage desejava era que ele fosse embora, mas, tudo bem, deixaria que ele falasse. Sabia que, de outra forma, não conseguiria se livrar de Caleb. — Muito bem — concordou Sage, passando com um movimento impetuoso por ele e se dirigindo à diminuta sala de estar. Impetuosa, decidiu Caleb, era a única palavra adequada para defini-la naquele momento. Como uma mulher trajando apenas jeans e uma camiseta conseguia parecer tão régia lhe fugia à compreensão, mas, afinal, muita coisa naquela mulher em particular era um enigma para ele. Sage se acomodou em uma cadeira. Caleb optou pelo sofá. Sentada com a coluna reta, os joelhos pressionados um ao outro e as mãos unidas sobre o colo, ela parecia pálida. Porém, mais do que isso, parecia bem Sage permanecera no toalete por tanto tempo que o fizera imaginar se ela não estaria passando mal. As mulheres grávidas não passavam mal com facilidade? Não sabia nada sobre mulheres grávidas. As três irmãs estavam ocupadas demais com as próprias carreiras. Jake era recém-casado. Travis era... bem, era Travis. Seria um milagre se o irmão alguma vez sossegasse com uma mulher, e mais ainda resolvesse se tornar pai. Não que ele, Caleb, tivesse tomado tal decisão. Aquilo fora um incidente, mas, se tivesse de escolher uma mulher com quem ter um filho, Sage teria sido uma boa escolha. Talvez a escolha perfeita. Era uma mulher vivaz, interessante, corajosa e divertida. Bem, divertida quando não o enfrentava de igual para igual, mas a verdade era que gostava daquela característica nela. As mulheres nunca argumentavam com ele. 67


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Concordavam com tudo que ele dissesse. As irmãs o provocavam por causa disso. Somado a tudo isso, Sage era, bem, uma mulher linda. O cabelo tinha a cor do sol. Os olhos, do mar. Um clichê, mas era verdade. Lábios rosados que podiam se curvar em um sorriso ou tremer de emoção, mas que possuíam um sabor incrivelmente doce. As formas do corpo de Sage se encontravam quase todas ocultas pela camiseta, mas não precisava vê-las para saber. Cada centímetro dele estava tatuado em sua mente. Os seios. O peso delicado deles nas palmas de sua mão, o rosa desbotado dos mamilos, a forma como enrijeciam quando os acariciara e o sabor que tinham O olhar de Caleb desceu e a varreu de cima a baixo. Não parecia grávida, embora... sim. Agora podia ver. O leve abaulamento sob a camiseta. Qual seria a sensação daquele ventre arredondado sob suas mãos, antes de ele as escorregar para tocá-la entre as coxas...? — Caleb? No mesmo instante, ele ergueu o olhar. Saberia Sage o que ele estivera pensando, o que recordava, o que desejava naquele momento, pelo que ansiara durante todas aquelas semanas? Todos os músculos do corpo de Caleb voltaram à vida, atingidos por um fluxo de sensações quentes e intensas. Caleb se ergueu, caminhou até a janela e enfiou as mãos nos bolsos da calça, enquanto observava a rua repugnante e lutava por controle. Aquele não era o momento para se distrair. Sage ficara trancada no toalete por tempo suficiente para ele traçar um plano, que poderia facilmente colocar em prática. Por alguns minutos, considerara não resolver os detalhes pessoalmente. Um advogado que representava a si mesmo possuía um tolo como cliente. Era o que as pessoas diziam. Mas aquilo era simples. Não haveria muito para Sage objetar e isso era uma vantagem. Além do mais, mesmo que ela protestasse, era assim que as coisas seriam A lei e a lógica estavam do lado dele. Caleb inspirou profundamente. E expirou da mesma forma. Em seguida, assumiu o semblante que adotava nos tribunais. Girou e reparou que Sage também havia se erguido. Franziu a testa e gesticulou com a cabeça na direção da cadeira. — Sente-se. — As sobrancelhas de Sage se ergueram. Não podia culpá-la. Ele soara como um sargento. — Desculpe — disse, forçando um sorriso. — Quis apenas dizer que devemos nos acomodar enquanto discutimos nosso, ah, nosso... — Nossa situação — completou ela. — Não foi assim que se referiu a essa gravidez? Caleb estava perdendo terreno e ainda nem começara a falar. Muito bem. Ele se dirigiu outra vez ao sofá e se sentou no meio do estofado. Um segundo se passou. Em seguida, Sage se acomodou outra vez na cadeira. — Ouça, sei que não estava esperando... — A questão é que eu não esperava... 68


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Os dois disseram ao mesmo tempo. — Você primeiro — concedeu ele. Sage assentiu com um gesto de cabeça. — Não quero parecer hostil. Na verdade... sei que lhe devo um pedido de desculpas. Sage umedeceu os lábios. Um gesto nervoso, pensou ele, mas ainda assim era uma visão desconcertante. Aquela língua rosa umedecendo um pedaço de carne que ele sabia ser macia e ter o sabor do mel. Diabos! Caleb se ergueu outra vez. — Sim — concordou, em tom de voz brusco. — Deve-me. Deveria ter me contado a verdade de imediato, mas estou disposto a perdoá-la. — Que gentil de sua parte! Bastava de pedidos de desculpas. Sim, sabia que merecia aquilo. Soara ridículo, mas não havia a menor possibilidade de admitir. — A questão é que temos... temos um problema para o qual necessitamos de uma solução. Caleb quase se encolheu diante do som das próprias palavras, tão enfadonhas, formais e pateticamente inadequadas. Sage fez mais do que se encolher. Fixou-lhe um olhar que ele só podia julgar como letal. — Eu — disse ela — terei este bebê! — Você terá...? — Caleb fez uma careta. — Acha que eu lhe pediria para não têlo? — Quis apenas que isso ficasse entendido. Agora ela o agraciava com o tratamento completo: olhar gélido. Queixo empinado. Braços cruzados. — Claro que você terá esse bebê. — Caleb passou uma das mãos pelo cabelo. — É isso que quero discutir. O bebê. Você. Eu. Como vamos lidar com isso. Sage suavizou, mas apenas um pouco. — Foi isso que comecei a lhe dizer antes... tenho planos. Ainda não muito definidos, mas... — Presumo que tenha consultado um médico. — Uma enfermeira, na clínica. Sim — Não está se consultando com um ginecologista-obstetra particular? Havia algo no tom de voz de Caleb que não a agradou. Também não gostava do fato de ele estar em pé enquanto ela permanecia sentada. Teria Caleb feito isso deliberadamente, para obter vantagem psicológica? Sage se levantou. Ainda assim, ele era bem mais alto e imponente do que ela jamais poderia ser, mas ao menos não se sentia tão diminuída. — Não — respondeu, em tom de voz calmo. — Não estou. — Mas, de agora em diante, você o fará. Os olhos azuis se estreitaram 69


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Sim, eu o farei — afirmou. — E este apartamento. Não pode continuar morando aqui. — Você não escutou nada que falei? Eu já lhe disse... — E quanto a sua dieta? Está fazendo uma alimentação adequada? — Mingau de cereais e brotos de alfafa — disse ela, em tom agradável. — E quanto a você? — Não estamos falando de mim e sim de... Sage percebeu o instante em que ele entendeu. O rosto e todos aqueles planos e ângulos bem marcados se tornaram rubros. — Muito divertido — disparou Caleb. — Ouça — começou ela, suavizando um pouco. — Aprecio sua preocupação, mas tenho me arranjado bem até este momento, e... — Quando vai se mudar? — Em breve. — Para onde? — Eu lhe disse. Para o Queens, Long Island, New... — New Jersey. Sim, você disse. — Se o que está tentando me dizer é que ainda não levei meus planos a cabo... — Não tem “planos”, tem apenas vagas ideias. E há uma grande diferença entre os dois. — Está bem. Há uma diferença, mas... — Quero planos, e não vagas ideias para o bebê. — Meu bebê. — Nosso bebê — corrigiu Caleb, percebendo as palavras se sedimentarem não só no cérebro de Sage, como também no dele. O bebê dela. O bebê dele. O bebê deles. Sage estava esperando um filho seu. Mas moraria ali e ele lá, no Texas, a milhares de milhas de distância... E daí? A distância não era significativa nos dias atuais. Havia celulares. Softwares que permitam comunicação pela internet. Mensagens instantâneas. E, claro, os jatos Wilde, sempre sob seu comando. Caleb cruzou os braços. — Aqui vai minha decisão. — E o que você decidiu? — Deixe-me concluir. — Deixe-me poupá-lo do trabalho. Não quero seu dinheiro. — Como? — Eu disse que não quero seu dinheiro. Oh, não fique tão chocado. Sei aonde isso vai dar. Caleb ergueu uma das sobrancelhas. 70


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — É mesmo? — Vai preencher um cheque e eu terei de assinar mais papéis. Ao menos esse é seu plano, mas... — Que tipo de papéis? Sage piscou várias vezes. — O quê? — Já que parece ter certeza do que vou dizer, que tipo de papéis pedirei que assine? — Isenções. Ou que nome se dê. Algo que declare que sim, aceito seu cheque e não, não o incomodarei no futuro e... Caleb se moveu ligeiro. As mãos lhe agarraram os ombros, antes que ela pudesse escapar. — Que parte do que eu disse antes não entendeu? — Solte-me! — Ou não ouviu quando eu disse nosso bebê? — Ouvi. Mas sei que isso é uma figura de linguag... — Droga! — praguejou ele, furioso, puxando-a para os braços e a beijando. Que está fazendo, Wilde? perguntou a parte ainda racional do cérebro de Caleb. Mas a não racional havia parado de pensar. Talvez o mesmo tivesse acontecido a Sage, porque, após um segundo de protestos, ela se ergueu nas pontas dos pés e lhe envolveu o pescoço com os braços, entreabrindo os lábios para lhe facilitar o acesso. O beijo era tudo que ele se lembraria. Quente. Profundo. Eletrizante. E fez tudo mais perder a importância. Os braços fortes se fecharam em torno dela. — Nunca deixei de desejá-la — sussurrou ele. — Eu a desejei todos os dias, todas as noites, todos os minutos... Caleb a beijou outra vez e ela correspondeu. Em seguida, ele a ergueu nos braços e a carregou para o quarto, para a cama onde aquilo tudo começara. Despiu-a, apressado. Sem nenhuma gentileza. Não agora. Não quando ansiava por tê-la havia tanto tempo nua, contra sua pele. Em seguida, livrou-se das próprias roupas em tempo recorde. Todas as peças voando pelos ares. — Caleb — disse ela, erguendo os braços para recebê-lo. Ajoelhando-se entre as coxas macias, ele a penetrou com um só movimento. E Sage estava preparada. Quente. Úmida. Soluçando seu nome diante do prazer sufocante que aquela possessão a fazia sentir. — Estamos indo muito rápido — gemeu ele. — Muito rápido... Caleb tentou se conter. Mas ela não permitiu. Porque não estavam indo rápido demais. Não para ela. Tampouco para ele. 71


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Caleb lhe segurou as mãos, ergueu-as acima da cabeça de Sage e mergulhou dentro dela. Em seguida, recuou apenas para se enterrar cada vez mais fundo. — Caleb — sussurrou Sage, quando ele gemeu cedendo ao clímax alucinante ao mesmo tempo em que ela era arremessada aos píncaros do prazer.

Pareceu transcorrer uma eternidade até que a respiração dos dois voltasse ao normal. — Você está bem? — perguntou Caleb, com voz suave. Sage sorriu. — Sim — E o bebê...? — O bebê está bem. Caleb a beijou. Em seguida, rolou para o lado, levando-a consigo e a envolvendo no círculo seguro de seus braços. — Tem certeza de que não a machuquei? Sage lhe tocou o rosto com uma das mãos. — Sim Com um gesto lento, ele escorregou um dedo indicador sobre os lábios macios de Sage e mais abaixo, pelo pescoço delgado, tocando-lhe, em seguida, cada um dos mamilos como o roçar de uma pena. — Tem seios lindos, querida. Sage corou. Deus! Ele amava aquele rubor, pensou Caleb, enquanto depositava uma trilha de beijos pelo corpo quente e sedoso até o abdome levemente abaulado. E, sim, tinha de fato uma discreta elevação. — Começou a aparecer há pouco tempo — disse ela com voz terna, como se lesse os pensamentos de Caleb. Aparecer, pensou ele. A barriga. O ventre. Sua semente e, agora, seu bebê. — Fica ainda mais bela assim. Sage exibiu outro sorriso. — Acha mesmo? — Tenho certeza. — Hmm. — Ela enterrou o dedo no cabelo de Caleb e chamou seu nome. — Sim? — Estava falando sério... eu não quero que pense... quero dizer, não quero que se sinta... Caleb a silenciou com um beijo. — Esse bebê é nosso. Lamento apenas não ter estado presente antes. Os enormes olhos azuis se encheram de lágrimas. — Não chore, querida — disse ele, com voz áspera. — Por favor. Não há motivo para chorar. — Caleb se moveu sobre ela e baixou o olhar para observar aquele doce rosto. — Vamos fazer isso, juntos. Entendeu? Não há mais você ou eu. Agora existe apenas nós. Está bem? 72


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Está bem — sussurrou Sage. Ele se inclinou, lhe limpou as lágrimas com beijos e logo lhe capturou os lábios... — Sage — disse Caleb, com voz excitada. No mesmo instante, ela abriu os braços para recebê-lo... Mais que isso. Abriu o coração. Sage acordou sozinha na cama. O coração disparou. Teria Caleb partido? Esticou a mão para pegar o robe... E sorriu quando ele entrou no quarto. Ah, seu amante era um homem belo. O cabelo estava desgrenhado, não vestia camisa e estava descalço. A calça comprida, cujo botão de cima se encontrava aberto, caía-lhe pelos quadris. — Bom dia, dorminhoca — Caleb saudou. Sage piscou várias vezes. — É mesmo de manhã? Caleb se encaminhou até o lado da cama em que ela se encontrava, se inclinou, envolveu-a nos braços e lhe deu um beijo com gosto de café. — Manhã, noite, não tenho a menor ideia. — Ele a beijou outra vez de modo lento e terno. — Fiz café. E um chá de ervas descafeinado. Sage sorriu. — Perfeito. — Claro que poderíamos pular o café e o chá e irmos direto para sobremesa... O estômago de Sage roncou. Caleb riu, deu-lhe um beijo na testa e se ergueu. — Já que é assim, que tal tomarmos o café da manhã? Sage preparou ovos mexidos, e ele, as torradas. — Que pena que não tem nenhum tipo de queijo — comentou Caleb, perscrutando o refrigerador. — Tenho queijo cottage. — Queijo — repetiu ele, fingindo um tremor dramático. — Queijo de verdade. Amarelo. Fatiado. Que vem em pacotes... — Foi a vez de Sage estremecer. — Ou cachorros-quentes — acrescentou. — Isso seria perfeito. — Por favor, não me diga que esses são seus grupos alimentares favoritos! Caleb soltou uma risada abafada, fechou a porta da geladeira e virou na direção dela. Caramba! Aquela mulher era maravilhosa. Sem maquiagem. Com o cabelo solto. Um corpo de curvas perfeitas envolto em um robe que estava se abrindo. — Caleb? Queijo fatiado e cachorros-quentes são... ? Antes de responder, ele limpou a garganta. — Especialidades da casa — explicou. — Bem, especialidades dos irmãos Wilde. — Ah! — disse ela. Só então, Caleb se deu conta de que ela não sabia nada sobre sua família, mas haveria tempo para colocá-la a par de tudo. 73


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Porém, não agora. Não quando estava ávido por levá-la de volta para a cama, aproveitar ao máximo as horas que lhes restavam, porque no dia seguinte ele teria de estar de volta a Dallas. O olhar dos dois se encontrou. Sage disse o nome dele. Caleb abriu os braços e ela se atirou neles. — Sage — sussurrou ele, fazendo-a suspirar quando a ergueu nos braços e a levou de volta ao quarto. Caleb beijou-lhe todo o corpo, estacando para saborear a docilidade dos mamilos rígidos, do umbigo perfeito e se deliciar com a maciez entre as coxas de Sage. — Agora, é minha vez — murmurou ela. As mãos delicadas estavam frias, os lábios sedosos, quentes. As carícias, a princípio hesitantes, até mesmo delicadas. Atingido por uma sensação que sabia se tratar de ego masculino, Caleb concluiu que ela nunca tocara outro homem como estava fazendo naquele momento. Os lábios dos dois se uniram em um beijo interminável, ambos amando os sabores e texturas da boca um do outro, até que, de repente, não houvesse mais tempo a perder. Caleb se encontrava faminto por sentir aqueles músculos internos se fecharem em torno dele. E Sage ansiava por senti-lo enterrado fundo dentro dela. Chorando de alegria, ela se entregou ao clímax com um grito de prazer. Caleb a seguiu, segundos depois, atirando a cabeça para trás e gritando o nome dela. Em seguida, colapsou nos braços de Sage. Pele suada contra pele suada. Depois de um longo tempo, Caleb rolou sobre o colchão, se deitou ao lado dela e lhe pousou uma das mãos sobre o ventre. Em seguida, inclinou a cabeça e depositou um beijo no local onde a criança se encontrava. Sage lhe envolveu a nuca com uma das mãos e adormeceu. Caleb estava muito ocupado, planejando e tomando decisões. Depois de algum tempo, movendo-se com cuidado para não acordá-la, ele se ergueu, recolheu as próprias roupas e se encaminhou ao toalete. Tomou um banho, se vestiu e telefonou para o piloto do jato, orientando-o a preparar a aeronave para dali a uma hora. Retornou ao quarto. Sage estava adormecida. Ele se inclinou e depositou-lhe um beijo nos lábios. Remexendo-se, ela suspirou, abriu os olhos e sorriu. — Caleb — disse, com voz suave. Sentando-se ao lado dela, ele lhe segurou uma das mãos. — Preciso voltar para casa — disse. — Tenho uma reunião e não posso cancelá-la. O sorriso de Sage tremulou. — Não. Tudo bem. Eu entendo. Caleb levou a mão dela aos lábios. — Estarei de volta no próximo fim de semana. Encontrarei um apartamento. Uma casa. Contatarei um corretor de imóveis. — Eu farei isso. — Claro. Tudo bem. Mas apenas se certifique de conseguir algo em... 74


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Eu sei. Em um bairro seguro. — Sim, bem, claro. Mas o que eu iria dizer era que se certificasse de ser perto de um parque. — De um parque? — Central Park, se estiver se referindo a Manhattan. Eu estive em algumas magníficas cidades em Connecticut... O que foi? Sage se sentou na cama. A coberta lhe escorregou para a cintura e ele inclinou a cabeça para lhe beijar os seios. — Não — disse ela. — Tem de escutar. — Estou escutando — Caleb retrucou, com um sussurro rouco. — Mas, para sorte sua, senhora, sou um homem que consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo. Sage soltou uma risada, embora breve, e o afastou com delicadeza. — Estou falando sério. Não vou alugar uma casa na Fifth Avenue ou em uma daquelas... como as chama? Uma daquelas “magníficas cidades em Connecticut”. Caleb se inclinou para trás. — Por quê? — Porque — respondeu ela, paciente — não tenho condições de pagar. — Isso é bobagem. Eu posso pagar. Droga. Lá estavam os olhos estreitados. O olhar frio. — Não vai me sustentar — disse ela. — Vou sustentar nosso filho. Pensou que eu não iria? Achou que eu fugiria a minha responsabilidade? As costas de Sage enrijeceram. — Ajudar a sustentar nosso filho é uma coisa, mas não pretendo ser “responsabilidade” sua. Caleb percebeu o tom com que ela dissera aquela palavra e soube que Sage havia interpretado errado o que ele quisera dizer. — Querida, talvez eu esteja usando a palavra errada... — Não. Eu é que estou. O que quero dizer é: obrigada por querer ajudar. — Não — retrucou ele, com frieza. — Não me agradeça de forma alguma. — Eu só quis dizer... — É assim que está interpretando isso? Eu “ajudando” você? — Não foi isso que quis dizer. Apenas... ouça, vivo sozinha há anos. Posso tomar conta de... — Se tomar conta de meu filho do mesmo jeito que cuidou de si mesma... — Para sua informação, me saí muito bem cuidando de mim mesma. — Ah, certo. — O sarcasmo congelou cada palavra. — Basta olhar para isto... este lugar é prova disso. Sage lutou com o edredom e conseguiu mantê-lo seguro contra o corpo como se fosse um escudo, antes de se levantar da cama. — Sabe de uma coisa? Acho que está na hora de você ir embora. — Sim, também acho. — Caleb marchou na direção da porta, estacou, virou e apontou um dedo na direção dela. A raiva lhe contorcia as feições. — Não sei que tipo 75


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) lamentável de bastardo me considera, mas fique sabendo de uma coisa: nunca fujo de minhas responsabilidades. Os olhos de Sage se encheram de lágrimas produzidas pela raiva. — Já me disse isso, mas não se trata de uma “responsabilidade”, e sim de um bebê. — Diabos, claro que é um bebê! Meu bebê! — Esta criança é minha. Faz parte de mim E se está pensando em começar de onde Thomas Caldwell parou... Caleb soltou um palavrão grosseiro. Em seguida, girou nos calcanhares e partiu.

CAPÍTULO NOVE

O que as mulheres queriam? Os homens se faziam essa pergunta há séculos. Caleb debatera aquele assunto por quase 32 anos com os irmãos, nos dormitórios da faculdade, nas casernas da Marinha e tomando cerveja com seus colegas agentes secretos, no acampamento sigiloso entocado nas montanhas da Virginia, onde se preparara para a vida na CIA. Porém, nunca conseguira resposta. Nenhum homem conseguia. Travis resumira a questão. — As belezuras não sabem o que querem — dissera ele. — Se somos ternos, somos pegajosos. Se somos durões, somos insensíveis. Nunca somos inteligentes o suficiente, mas certamente podemos ser tolos o suficiente. Em qualquer um dos casos, somos causas perdidas. A trinta mil pés de altura, Caleb fez uma careta para o copo de uísque. Exatamente o que ele era. Uma causa perdida. — Muito bem — resmungou ele, erguendo o copo e tomando um longo e aquecedor gole. Àquela hora, no dia anterior, era um advogando representando um cliente. E agora era... o quê? Um homem em uma corda bamba. Tudo que podia fazer era colocar um pé à frente do outro e não olhar para baixo. Talvez devesse ter dado ouvidos ao velho provérbio sobre advogados serem tolos em representarem a si mesmos. Porém... Caleb tomou outro gole. Porém, aquela não era uma questão jurídica. Pelo menos, ainda não, a não ser que 76


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sage decidisse tentar afastá-lo daquele cenário. — Grande chance de ela conseguir! — resmungou ele, debochado. Fora ele que colocara um bebê no ventre dela e aquilo lhe dava certos direitos. Não era Thomas Caldwell, exigindo acesso a uma criança que não tinha seu sangue. Mas ele não estava querendo tirar o filho dela, apenas queria assumir o papel de pai. Que tipo de mulher negaria aquilo a um homem? — Sr. Wilde? Caleb ergueu o olhar. A comissária de bordo exibiu um sorriso educado. — O capitão pediu para lhe dizer que há uma tempestade se aproximando de Chicago e talvez as coisas fiquem complicadas dentro de algumas horas. As coisas já estavam complicadas, mas não em relação ao que ela dizia. — Certo — disse ele. — Obrigado. — Posso lhe servir alguma coisa? Um sanduíche, talvez? Ora, pensou ele, e atrapalhar a letargia que esperava que aquela segunda dose de uísque produzisse? — Obrigado — agradeceu Caleb, com educação. — Estou bem. A comissária sorriu e retornou à cabine. Caleb bebeu um pouco mais do uísque. Aquele era um dos momentos em que ter um jato particular era uma grande vantagem. Podia andar de um lado para outro, como já fizera; beber como estava fazendo agora; conversar consigo mesmo e evitar qualquer contato com a humanidade, com exceção do piloto, do copiloto e da comissária de bordo. Se ao menos pudesse evitar o contato consigo mesmo... Mas não podia. O cérebro estava repleto de besteiras. Repassava na mente aquele último confronto com Sage, tentando descobrir como havia passado de fazer amor a travar uma batalha em questão de minutos. A imagem do rosto de Sage, a raiva refletida nos olhos azuis, continuava espocando em sua mente. — Droga! — xingou ele, colocando de lado o copo de uísque. Em seguida, pegou o telefone via satélite, discou um número e ouviu a voz de Travis dizer “alô”. — Sou eu — rosnou Caleb. — Caleb? — Não foi isso que acabei de dizer? — Bem, não. Disse “sou eu” e detesto lhe dizer isso, rapaz, mas há provavelmente zilhões de “eus” no mundo. Posso apostar que conheço, no mínimo, centenas deles. — Muito engraçado. — Bem, me esforço para agradar. — Jake está aí com você? — Para ser mais específico, estou com Jake em El Sueno. Como você também estará, dentro de pouco tempo... ou está telefonando para dizer que não comparecerá a esta reunião? — Estão no escritório do rancho? Ligue o viva-voz, está bem? Mas primeiro feche 77


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) a porta. — Mais alguma instrução? Caleb fechou os olhos e segurou o nariz entre dois dedos. — Travis. — Sim? — Quero falar com os dois. E, devo lhes avisar, não estou com muito bom humor. — Até aí nada de novo, amigo. Está sempre irritável... — Trav. Preciso... de conselho. Silêncio. Em seguida, ouviu Travis dizer: — Jake? É Caleb. Logo após, disse mais alguma coisa, mas as palavras soavam abafadas, como se o irmão estivesse tapando o bocal do telefone. Um segundo depois, ouviu um clique suave, o que significava que Travis havia acionado o botão do viva-voz. — Caleb? — Jake? — Sim. Caleb, Travis disse... — Eu, ah, quero discutir algo com vocês para saber a opinião dos dois. — Claro — disse Jake. — Claro — repetiu Travis. Caleb ficou em silêncio. Não sabia como começar, por onde começar ou mesmo se deveria ter dado aquele telefonema. — Caleb? Você está aí? Assentindo com a cabeça, ele limpou a garganta e começou: — Suponhamos que haja um homem que conhece uma mulher. Ele passa a noite com ela. — Até então, está parecendo bom — disse Travis, soltando uma risada abafada. — Ela é, vocês sabem, legal. Bonita. Inteligente. Divertida. Ela é... — Ótima. — Jake o ajudou a concluir. Caleb negou com um gesto de cabeça. — Ela é mais que ótima. É... bem, ela é especial. — Outro silêncio se seguiu. E a voz de Jake soou cautelosa. — Especial, como? — Quer dizer, especial mesmo? — Travis quis saber. Caleb se levantou do assento e caminhou pelo comprimento do avião. — Sim — A voz soou rouca e ele limpou a garganta. Mais uma vez. — Bem, ele a conheceu. E depois se passou algum tempo. Alguns meses. E, então, ele descobriu que a mulher está... grávida. Não havia como confundir os ofegos do outro lado da linha. — Espere um minuto — disse Travis. — Eles estiveram juntos apenas uma vez? — Certo. — E nenhuma outra vez durante esses dois meses? — Na verdade, foram três meses. E depois disso não se viram mais. Ele não tinha 78


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) a menor ideia de que ela estava grávida. — O quê? — perguntou Jake, incrédulo. — A mulher não contou nada a ele? — Não. Ela não poderia. Não sabia o sobrenome do homem, não tinha seu endereço ou número de telefone... — Mas ela alega que ele a deixou barriguda. — Ele não a deixou barriguda — rosnou Caleb. — Ele a engravidou. No escritório de Jake, no rancho Wilde, dois pares de sobrancelhas se ergueram — E — começou Travis, cauteloso — ele tem certeza que é o pai da criança? — Ele tem. — Porque foi feito um exame de comprovação de paternidade? — Ouçam, não liguei para que façam um interrogatório, e sim para... — Aconselhar-se — completou Travis, sinalizando com movimentos frenéticos para que Jake pegasse uma caneta e um papel. O irmão atirou os dois itens na direção dele. “De que diabos ele está falando?”, escreveu Travis e Jake fez mímica da resposta: “Acha que sou um leitor de mentes?” Caleb voltou ao assento, ergueu o copo de uísque e tomou todo o conteúdo. — Mas há um problema — disse ele. — Ela não quer fazer nada do que ele diz. - O teste de comprovação de paternidade? — perguntou Travis. — Não estou me referindo a isso. — Está querendo dizer se livrar do... — Quero dizer se mudar da ratoeira onde ela vive. Consultar o melhor ginecologista-obstetra. Deixar que esse cara... compre as coisas que ela precisa, cuide dela e, claro, da criança quando nascer. — Claro — disse Jake em tom de voz calmo, levando as mãos à cabeça. - Ele quer fazer a coisa certa — concluiu Travis, imbuído da mesma calma enquanto fingia estar dando um tiro na têmpora. — Exatamente. O mais sensato a fazer. Cumprir com a responsabilidade. Outro silêncio se seguiu. Caleb se ergueu e começou a andar de um lado para outro do avião outra vez. Em Wilde’s Crossing, no Texas, Jacob e Travis se ergueram e começaram a andar em direções opostas. — Então — disse Travis, por fim. — De quem estamos falando, homem? — De um conhecido meu. — E — disse Jake — você, ah, quer se aconselhar? — Sim, porque... não tenho sido de grande ajuda para ele. — O que sugeriu que ele fizesse? — Exatamente isso. Mas ela não aceitou nada disso. Ainda não. Os irmãos se encararam e socaram o ar com os punhos. — Ótimo — disse Jake. — Porque ele não deveria fazer nada precipitado. “Precipitado?”, perguntou Travis por mímica e Jake lhe dirigiu um olhar furioso. — Sim — concordou Caleb. — Mas ele tem de fazer alguma coisa. É o filho dele. A mulher dele. Quero dizer, ela não é mulher dele. De fato não, mas... — Vou lhe dizer o que penso — disse Jake, sentando-se atrás de sua mesa e 79


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) gesticulando para que Travis fizesse o mesmo. — Primeiro, ele precisa tomar as providências para realizar um teste de comprovação de paternidade. Depois, consultar um advogado para acertar os trâmites legais, como... — Como a responsabilidade financeira que seu amigo está disposto a assumir — completou Travis. — Para com a mulher e para com a criança. — Eu já disse que ela não quer... — Se ela de fato não quiser dinheiro — a forma como Jake revirou os olhos mostrava o quanto duvidava daquilo -, ele pode começar a fazer um fundo patrimonial. Se ela recorrer a esse fundo, ótimo. Do contrário, ótimo também. — Não concordo com essa solução. E se ela nunca tocar nesse fundo? Eu nunca... meu amigo nunca permitiria que ela passasse necessidade ou criasse a criança na pobreza quando é absolutamente desnecessário. — Diabos — disse Jake com suavidade. — Caleb? — Travis limpou a garganta. — Você... seu amigo gosta dessa mulher? Ou é apenas uma questão de arcar com a responsabilidade? — É exatamente isso. Ser respons... — Seguiu-se um silêncio. Em seguida, Caleb disse com uma voz tão suave que os irmãos tiveram de se inclinar na direção do telefone para escutar. — Claro que ele gosta dela. Eu lhes disse. Ela é linda, inteligente. E... e... — Caleb. — Foi Jake a falar. — Escute, homem, sobre o que eu disse antes, sobre não fazer nada antes... — Precipitadamente — interrompeu Travis. — Precisa pensar bem. Venha para casa. Assim, poderemos conversar... — Conversar nunca resolve nenhum problema — retrucou Caleb. — Um homem precisa agir. Você dirigiu helicópteros, Jake. E você, Travis, pilotou jatos. Eu... diabos, esqueçam o que eu fiz. A questão é que, quando as coisas começam a dar errado, um homem precisa agir, e não conversar. E isso... está começando a dar errado. — Dar errado, como? — perguntou Jake, com voz suave. Caleb não respondeu. — Diga-nos o que está acontecendo — disse Travis. — Eu disse — respondeu Caleb, muito calmo. “Disse?”, os dois irmãos fizeram mímica um para o outro. — E vocês me ajudaram muito. — Caleb — disse Travis. — Trata-se daquela mulher em Nova York? Droga, isso é um problema envolvendo você? — Eu? — perguntou Caleb, com o máximo de indignação que conseguiu conjurar. — Deve estar brincando. Alguma vez me envolvi em uma confusão dessas? É um amigo meu. — Quem? — questionou Jake. Mas Caleb desligou. Jake apertou o botão para desligar o viva-voz. Por um interminável momento, os dois irmãos ficaram em silêncio. Em seguida, Jake fez um movimento negativo com a cabeça. 80


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Ah, Deus! — disse, com voz suave. Travis assentiu. — Concordo. — Deveríamos procurá-lo? — Sim. Não. Droga! Ele parecia bem no final do telefonema, certo? — Sim. Muito calmo. — Então, o que você acha? — Acho que o nome do amigo dele é Caleb. — Sim Diabos! Também acho. — Jake fez uma pausa. — E o que ele fará? Travis refletiu sobre o assunto e, em seguida, deixou escapar um suspiro. — A má notícia é que se trata de Caleb. E a boa é que se trata de Caleb. Sabemos como ele funciona. — Ele mantém as emoções trancadas dentro de si. Nunca pede conselho. — Mas foi isso que acabou de fazer. — Não — contrapôs Jake. — Caleb queria falar sobre toda essa situação para que ele mesmo encontrasse uma solução. Seguiu-se um silêncio. — E agora? — perguntou Travis. — Descobrimos onde ele está e vamos atrás dele? — Se vocês tivessem feito isso comigo, depois que deixei Adoré... quero dizer, Addison, eu os teria surrado. E certamente não acataria nenhum conselho que me dessem — Tem razão — disse Travis, desanimado. — É melhor não o pressionarmos. — Exatamente. Além do mais, trata-se do Homem-Sensatez. Lembra-se de como costumávamos chamá-lo quando éramos crianças? — Sim — respondeu Travis, esforçando-se ao máximo para parecer convencido. — Certamente o Homem-Sensatez não fará nada... — Precipitado — completou Jake, e os dois irmãos trocaram sorrisos que apenas eles poderiam identificar como falsos.

Muito ACIMA do solo, ainda a centenas de milhas de Dallas, o Homem-Sensatez olhava pela janela, para um leito branco de nuvens. Tão alvo e aconchegante quanto o que dividira com Sage horas atrás. Sage. As lágrimas de raiva que lhe banhavam os olhos azuis e que ele poderia facilmente ter dispersado se tivesse dito as palavras que estavam em seu coração... Caleb se ergueu de um salto e foi até a cabine. — Ted? — Sim, sr. Wilde. Estava a ponto de pedir a Sally que o avisasse de que o tempo melhorou. Não haverá necessidade de colocar o cinto de segurança ou... — Vamos voltar. — Voltar, senhor? 81


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Para Nova York. Para o aeroporto Kennedy. Se precisar apresentar um novo plano de voo, ou o que seja... O piloto sorriu. — Sem problemas, senhor. Próxima parada, Kennedy. Caleb assentiu e voltou a seu assento, tentando descobrir uma forma de lidar com a batalha que estava por vir.

Quando o jato particular aterrissou, Caleb ainda não tinha a mínima ideia do que faria. O que poderia dizer para convencer Sage de que queria apenas fazer a coisa certa? Aquela mulher era tão independente, tão facilmente irritável! Como o serviço de carros particulares só disporia de uma limusine para dali a uma hora, Caleb resolveu alugar um carro. Escolheu um dos mais velozes modelos esporte e a viagem para o fim do mundo do Brooklyn, que deveria levar uma hora, foi feita em 30 minutos. Parou, cantando pneu próximo ao meio-fio, em frente a um grupo de rapazes que pareciam saídos de um filme de gangues de Nova York. Retirou a carteira do bolso, pegou duas notas de cem dólares, rasgou-as ao meio e entregou uma para cada um. — Se o carro ainda estiver aqui, intocado, quando eu voltar, receberão a outra metade. Entenderam? Os meninos riram e assentiram com as cabeças. Em seguida, Caleb entrou no prédio e disparou pela escadaria que levava ao apartamento no 4° andar. O coração batia na garganta, mas nada tinha a ver com o esforço da subida. Como a convenceria a parar de ser tão teimosa? Para onde fora o HomemSensatez quando mais precisava dele? A sensatez lhe viria quando estivessem conversando. Sabia argumentar, principalmente sobre pressão. Vá em frente, disse ele a si mesmo e tocou a campainha.

Sage acabara de sair de um banho quase gelado. Após comunicar ao síndico que não havia água quente, ouvir um bocejo e uma resposta vaga, havia quase literalmente soltado os cachorros no homem. Aquilo não resolvera o problema da água, mas a fizera desabafar. Melhor do que ficar chorando, como fizera nas últimas horas. O síndico fora apenas uma válvula de escape. Seu verdadeiro alvo era Caleb. Será que aquele homem não entendia que ela não precisava do suporte financeiro que estava lhe oferecendo? Iria sustentar a ela e ao filho, muito obrigada. O que queria, o que esperava 82


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) dele... A campainha tocou. Estava farta daquele síndico que nada fazia. Baixou o olhar ao próprio corpo. Trajava um robe e estava descalça. O cabelo molhado lhe escorria pelo rosto. Não estava com aparência adequada, mas o que importava? A campainha tocou outra vez. Dessa vez, um punho esmurrou a porta. — Droga! — Ela ouviu Caleb rosnar. — Abra essa porta! Sage sentiu o sangue lhe fugir para os pés. Caleb estava de volta. — Sage! — A porta estremecia sob os murros. — Abra... essa... porta! Hesitando por alguns instantes, ela inspirou profundamente. Em seguida, caminhou na direção da porta, destrancou as intermináveis fechaduras e o encontrou parado lá. Enorme e enraivecido até a raiz do cabelo. Sage estreitou o olhar. — O que está fazendo aqui? Caleb lhe dirigiu um olhar furioso. Ela estava com uma aparência caótica. Molhada, com o cabelo úmido, com o mesmo robe velho e descalça. A onda de raiva mais violenta que Caleb jamais experimentara o envolveu. — Por que essa porta não tem um olho mágico? — Não sei — respondeu ela, indiferente. — Teria de perguntar ao fabricante. — É ridículo ter de abrir a porta para saber quem está batendo. — Foi para isso que veio? Para discutir portas? — perguntou ela, cruzando os braços sobre o peito. — Não. Claro que não, eu... eu... — Caleb engoliu em seco. A raiva ia desaparecendo. Algum tipo de sentimento que não sabia definir, mas que o assustava, estava começando a substituí-la. — Precisamos ter uma conversa sensata. Sage abriu a boca para protestar, mas tornou a fechá-la. Ele tinha razão. Haviam gritado um com o outro, mas conversaram pouco. E, afinal, tinham um interesse em comum. — Tem cinco minutos — retrucou ela com frieza, escancarando a porta. Caleb entrou e fechou a porta. — Muito bem — começou ele, procurando as palavras certas. — Para começar, quanto à questão financeira. — Não quero voltar a esse assunto. — Está bem Não precisa falar, basta escutar. Quero cuidar de você. O que há de tão horrível nisso? — Não preciso que ninguém cuide de mim. — Talvez não — concedeu Caleb. — Talvez seja eu que queira... que precise fazer isso. Droga, pensou ele, havia esquecido o bom senso e tudo mais, exceto o que sentia pela mulher parada diante dele. Tão forte e bela que lhe fazia a alma doer. Caleb soltou um palavrão, puxou-a para os braços e a beijou. A princípio, com 83


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) avidez e, em seguida, com uma ternura de fazer doer o coração. — Não — disse ela. — Ah, Deus, Caleb, não... Mas aquele era um protesto superficial, porque estava correspondendo ao beijo, sentindo o sal das próprias lágrimas nos lábios que se moviam contra os dela. — Desculpe, querida. Não tive intenção de magoá-la — disse ele com voz grave, erguendo-lhe o rosto. — Isso não tem nada a ver com responsabilidade financeira, e sim conosco. Você. Eu. O bebê que fizemos juntos. — Você é um bom homem, Caleb Wilde. Sei que quer fazer a coisa certa... — Quero mais que isso. — Ele roçou os lábios aos dela. — Quero que sejamos uma família. — O que está dizendo? Caleb deixou escapar um suspiro. — Case-se comigo. Seja minha esposa. — Não — protestou ela. — Isso é loucura... — Ouça-me, querida. Nós nos damos muito bem. — Exceto quando discutimos. — Certo — admitiu ele. — Mas isso só acontece porque é tão cabeça-dura quanto eu. — O que seria aquilo? Um sorriso? — Respeitamos um ao outro. Somos bons juntos. Na cama e fora dela. — Posou a mão sobre o ventre de Sage. — E vamos ter um filho. Parecem-me argumentos sólidos em que basear um casamento. Sage o encarou. Ele tinha razão. Era uma base sólida sobre a qual se construir um casamento. Porém, ela queria mais. Lágrimas lhe rolaram pelo rosto. Queria o amor e o coração de Caleb. Queria a alegria de saber que ele a receberia em sua vida, mesmo que não estivesse grávida... por amá-la. Porque ela amava aquele homem honrado, terno, decente, arrogante e impossível. — Eu a farei feliz. Prometo — afirmou ele, limpando-lhe as lágrimas com os polegares. Sage emitiu um som que poderia ser uma risada. As lágrimas agora rolavam com mais abundância. O que provava sua teoria de que os homens nunca conseguiriam entender as mulheres, porque, quando ele julgava que Sage fosse lhe dizer “não”, ela sorriu, se ergueu na ponta dos pés e roçou os lábios nos dele. — Sim.

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

CAPÍTULO DEZ

Sage fora criada em uma pequena cidade de Indiana. Os meteorologistas costumavam rotular aquele estado de “Beco dos Tornados”. Porém, ela sempre escapara deles. Agora, um conseguiu arrastá-la em seu vórtice. Mas aquela força da natureza se chamava Caleb Wilde. O que acontecia depois que uma mulher aceitava um pedido de casamento? Nos filmes seriam risos e uma alegria sufocante. Porém, o pedido de Caleb se baseara na honra. Em fazer a coisa certa. Ainda assim, aquele momento de ternura poderia ter se prolongado um pouco mais se ele não tivesse se concentrado no próprio telefone e se transformado em uma pessoa que ela não conhecia. Mas, afinal, não conhecia Caleb Wilde. Naquele momento, ele era a imagem do profissionalismo. Leu algumas mensagens de texto e fez algumas chamadas que consistiam, na maior parte, de ordens concisas. Em seguida, ergueu o olhar para encará-la e despachou mais uma ordem concisa. Desta vez para ela. — Faça suas malas — disse ele. Em seguida, virou de costas. — Ted — prosseguiu, ao telefone. — Em quanto tempo você consegue... — Por quê? — perguntou Sage. — Espere um minuto, Ted. — Caleb lhe dirigiu um sorriso. — Por que o quê? — Por que me mandou fazer as malas? — Para que possamos sair daqui o mais rápido possível. — Para onde vamos? Caleb a observou por um longo instante. Em seguida, disse a Ted que o encontraria dentro de uma hora e interrompeu a ligação. — Vamos para o aeroporto — disse ele. — Não precisa levar muita coisa. — O que está querendo dizer? Que aeroporto? Que avião? Acha mesmo que pode me mandar fazer alguma coisa sem me explicar o quê? Ao que parecia, Caleb Wilde não estava acostumado a ter suas ordens questionadas, a julgar pela surpresa estampada em seu rosto. Alguns segundos se passaram. Por fim, ele assentiu e conseguiu até mesmo sorrir. — Acho que deveria ter lhe explicado. Vamos voar para o Texas. — Você e esse homem, Ted? — Ted é meu piloto. — Piloto do seu helicóptero? — Isso mesmo. Caleb tinha um piloto, um avião e o que aquilo tinha a ver... Ah, Deus! 85


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Espere um minuto. Está pensando que vou para algum lugar com você? — Claro. Para o Texas. Algum problema quanto a isso? Sage o encarou. — Acho que você é que tem um problema — retrucou ela, com voz fria. — Porque não vou a lugar algum. — Ouça. Não tenho tempo para discutir. Tenho de retornar a Dallas. Sage estreitou o olhar. — Ninguém o está impedindo. — Droga, Sage... — Naquele instante, o celular de Caleb tocou. Com um xingamento baixo, ele atendeu. — Escute... — começou ela, mas Caleb ergueu uma das mãos e começou a falar ao telefone, andando de um lado para outro. Sage o observou, esforçando-se para manter o semblante frio, mas sentia o coração disparar. Caleb esperava que ela fosse para o Texas? Quando ela nunca fora além de New Jersey? Quando ela construíra uma vida ali? Quando não conhecia nada de Caleb ou da família dele... Mas havia concordado em se casar com ele... Era óbvio que cometera um erro. — Caleb, ouça-me... A mão se ergueu outra vez no mesmo gesto imperioso. A raiva se avolumou no íntimo de Sage. Ela pisou no carpete que Caleb parecia determinado a ocupar. — Desligue o telefone. As sobrancelhas de Caleb se ergueram em um gesto de surpresa. Ele a fitava como se estivesse vendo uma extraterrestre. — Falo com você mais tarde — disse ele, desligando o telefone e cruzando os braços. — E então? — Lembra-se do que lhe disse sobre Thomas Caldwell? — Sim. Eu sinto muito... — Não me importo com o que sinta. Não vou fugir da cruz e me atirar em uma espada. Os olhos de Caleb faiscaram. — Não sou Caldwell — disse ele, sem rodeios. — Não entendeu isso? — Os princípios são os mesmos. Não pode tomar decisões por mim, sem antes me consultar. — Não estou fazendo isso. — Não? — Não. Sim Quero dizer, droga! Ouça — disse ele, em um tom irritantemente confortador. — Estou apenas tentando acelerar as coisas. — Carregando-me para Dallas. — É o lugar onde moro. Onde advogo. Tenho compromissos... — Tem uma vida em Dallas. 86


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Sim, exatamente e... — E eu tenho uma vida aqui. Não pode simplesmente... — Acha que vamos conseguir fazer isso dar certo a distância? Acha que serei um pai e um marido em meio expediente? — Os lábios de Caleb se retorceram. — Não sei como foi sua infância, mas eu cresci apenas com meu pai. — E eu sem meus pais e... e... — E você o quê? Foi criada de maneira adequada? — Caleb se aproximou tanto que ela teve de inclinar a cabeça para trás para encará-lo. — Talvez tenha sido. Eu certamente não fui. E não estou disposto a fazer o mesmo com um filho meu. Sage abriu a boca para responder, mas voltou a fechá-la. — Tem razão — disse ela, por fim. — Eu também não fui criada de maneira adequada, mas... — Mas o quê? Não quer o melhor para nosso filho? Eu certamente quero. Sage o encarou. Tudo que Caleb dissera fazia sentido, mas... Estava acontecendo tudo muito rápido, pensou ela, deixando-se afundar no sofá. Mal acabara de se acostumar à ideia da gravidez e agora aquele homem estava entrando em sua vida. Um homem poderoso, exigente, decidido a fazer a coisa certa porque era maravilhoso, surpreendente... Porém, o que queria de Caleb era... era... — Olhe para mim — disse ele, agachando-se ao lado dela. — Sage negou com um gesto de cabeça. Não queria encará-lo agora que a voz de Caleb se tornara tão suave e ele lhe beijava as mãos. — Querida — começou ele. Sage ergueu o olhar para encontrar o dele e reconheceu tudo que uma mulher poderia desejar naquelas profundezas azuis. — Caleb. — A voz dela falhou. — Isso é... demais. É assustador. — Fui chamado de muitas coisas, querida — retrucou ele, com uma risada suave. — Mas de assustador é a primeira vez. — Sage também riu, mas Caleb sabia que ela estava tentando não chorar. — Sinto muito — prosseguiu. — Sei que deveria ter lhe dado mais tempo. Feito isso da maneira normal, permitindo que nos conhecêssemos melhor, entre jantares e sessões de cinema, museus e passeios no zoológico. Os enormes olhos azuis ainda brilhavam com as lágrimas, mas ela sorriu. — Não ao zoológico. Não gosto de ver animais enjaulados — disse, pensando em como era tolo estar chorando. — Está vendo? Já temos algo em comum. Eu também não. — Caleb exibiu um sorriso torto. — Passaria alguns dias aqui, voltaria para Dallas e voaria para cá no fim de semana. Depois de algumas semanas, eu a levaria para casa comigo para lhe mostrar minha cidade e El Sueno. — O que é El Sueno? — “O Sonho”. O rancho da família. — Um rancho de verdade? — perguntou Sage, esfregando o dorso da mão sobre o nariz. Caleb pensou no milhão de acres produtivos que compunham El Sueno, com seus 87


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) estábulos, celeiros, animais premiados e poços de petróleo. — Sim, um rancho de verdade. — Ele retirou um lenço imaculadamente branco do bolso e o encostou ao nariz de Sage. — Assoe, querida. — Ela obedeceu. Caleb a envolveu em um abraço. — Gostará de El Sueno. E de minha família também. — Sua família — sussurrou ela. — Quase me esqueci dela. Dois irmãos e três irmãs. — E um pai. — O rancheiro, certo? Caleb hesitou. Como Sage encararia seu modo de vida? Poderia se adaptar, tinha certeza. Mas ela desejaria isso? Havia muita coisa que ela não sabia. Era melhor dizer logo tudo, decidiu, recuando alguns centímetros. — Aqui vai um resumo: Lissa mora na costa oeste. É uma chef de cozinha. Em e Jaimie moram aqui em Nova York. Em está seguindo a carreira de música. Jaimie está tentando se firmar como designer. — Parecem boas pessoas. — E são. Gostará delas. — E quanto a seus irmãos? Vivem no Texas, como você? Caleb assentiu. — Jake administra El Sueno, mas também tem seu próprio rancho. A mulher dele é uma excelente pessoa. É advogada como eu e minha sócia. E Travis é um mago das finanças. — E o seu pai? O que faz? Caleb hesitou. — Nosso pai... é um militar. — Ah, um soldado. — Um general, querida. General Johr Hamilton Wilde. Sage se afastou para trás. — Um general? — Quatro estrelas — disse Caleb, solene. — Apenas para colocá-la bem à vontade. Sage percebeu a risada estampada nos olhos de Caleb, mas também viu refletida a compaixão. De repente, se descobriu disposta a admitir que a raiva que demonstrara havia pouco fora suscitada pelo medo. — Vai ser difícil, certo? — disse ela. Um músculo se contraiu na mandíbula de Caleb diante do misto de confiança e temor com que ela o encarava. — Desafiador, talvez. — Ele a puxou para perto. — Mas conseguiremos. Estamos fazendo a coisa certa. Pelo bebê. E por nós. O que disse há pouco, sobre sermos bons juntos... é mais que isso. Gosto de você. Você é importante para mim Você... você... — As palavras dançavam na mente de Caleb, porém nenhuma fazia sentido. — Tenho sido um tolo — prosseguiu. — Pedi que se casasse comigo e depois tentei ir em frente como se nada tivesse mudado. 88


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sage assentiu. — Eu entendo. Estamos dando um passo muito importante. Casar-nos, criarmos um filho juntos. — Sim, mas isso é a coisa certa a fazer e ambos sabemos disso. — Ele lhe afastou uma mecha de cabelo do rosto. — Não quero controlar sua vida. Desejo apenas encontrar a maneira certa de fazer isso dar certo. Sage suspirou e os braços fortes se apertaram em torno dela, envolvendo-a naquele calor masculino forte e protetor. — É difícil para mim... me afastar de tudo que é familiar. — Eu sei — retrucou ele, apostando na leveza do diálogo. — Droga, quem estaria disposto a abrir mão de um apartamento magnífico como este? — Sage recuou, espalmando as mãos sobre o peito largo. — E seus vizinhos? Aquela dupla de gentis cavalheiros que tive o prazer de conhecer. Posso imaginar como sentirá falta deles. Sage soltou uma risada. Genuína. Ele se ergueu trazendo-a consigo e adotou uma expressão séria. Os olhos ganharam uma nuance azul-escura. — Ficaremos bem — disse ele, com voz suave. — Você verá. — É que eu... cresci pobre. Em uma cidade pequena. Exatamente o oposto de você. — Ainda não viu Wilde’s Crossing — disse ele, com um breve sorriso. — Por falar em pequeno... — Sabe o que quis dizer. Sua criação foi muito diferente da minha... — Sim. Como Jake e Addison. Os dois são tão diferentes como o dia e a noite, mas o que se pode esperar quando um texano se casa com uma nortista? Aquilo o agraciou com outro sorriso. — Não me diga que ela teve de aprender a gostar daquele mingau de milho? — Claro que sim. Uma das coisas mais importantes que as noivas Wilde têm de aprender é apreciar algumas receitas da família. — Sage estava gargalhando. Um som que lhe penetrou na alma. Caleb a envolveu nos braços. — Ficaremos bem. Prometo. Confie em mim — disse, com olhar intenso. — Espero que sim — sussurrou ela. Confiar nele. Confiar no homem que lhe partira o coração e depois juntara todos os pedaços outra vez... — Confiará em mim? — Sim — sussurrou ela, sabendo que não só acabara de abrir o coração como o entregara a Caleb. Sem reservas.

Caleb lhe assegurara que não iriam para Dallas. Em seguida, pediu para que ela fosse até o quarto fazer as malas. O destino era surpresa. Quando ficou sozinho na sala de estar, ele deixou escapar um suspiro. A verdade era que precisava de alguns minutos sozinho. Sage estava apavorada. Droga, e ele também. Viajara para Nova York disposto a se vingar da mulher que o humilhara, apenas para descobrir que cometera um tremendo erro de julgamento. Sobre ela e muitas outras coisas. E acabara se envolvendo com Sage. 89


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Se aquilo não fosse algo aterrorizante para um homem, não sabia o que mais seria. O celular tocou. Caleb o ignorou. Os irmãos o haviam aconselhado a não fazer nada precipitado, mas que outra maneira tinha para lidar com aquela situação, a não ser tomando uma decisão rápida? E não se arrependia de tal decisão. Sage era tudo que ele poderia desejar. Era o tipo de mulher que um homem poderia amar. De repente, não conseguia colocar ar para dentro dos pulmões. Será que se tratava disso? Estaria ele... O telefone tocou outra vez, avisando-o de que havia chegado uma mensagem de texto. Aquilo o atirou de volta à realidade. Era um recado de Thomas Caldwell: É verdade que cancelou aquele exame, Wilde? Exijo uma explicação imediata. Caleb suprimiu um gemido. Como pudera deixar as coisas chegarem àquele ponto? Teria de entrar em contato com Caldwell, mas não agora. Primeiro tinha de fazer outras ligações. Havia usado o trabalho como desculpa para voltar a Dallas, mas a verdade era que não tinha muitos compromissos importantes pela próxima semana. Algumas reuniões com clientes que poderiam perfeitamente ser realizadas por sua sócia, Addison, a esposa de Jake, que era uma excelente advogada. Caleb quase telefonou para o escritório, mas resolveu mandar mensagens de texto. Dessa forma, evitaria as perguntas que não estava preparado para responder. Haveria muito que contar à família em breve, mas, primeiro, ele e Sage precisavam de um tempo juntos. Não posso sair daqui agora. Pode resolver as coisas para mim, na próxima semana? Addison respondeu imediatamente: Claro. Sem problemas. E acrescentou: Está tudo bem?, o que poderia ser uma pergunta generalizada ou algo mais específico, dependendo do que Jake lhe dissera. Não importava. A única resposta apropriada era: Tudo ótimo. Vejo-a em breve. Em seguida, Jake telefonou para o piloto do avião e lhe sugeriu que tirasse alguns dias de folga. Entraria em contato quando precisasse dele. O último telefonema foi o mais importante. Ligou para o hotel onde estava hospedado. Uma torre de vidro de frente para o Central Park, onde ocupava sempre a mesma suíte quando estava na cidade. Falou com o recepcionista que queria a suíte por mais uma semana e acrescentou algumas importantes instruções. O homem se mostrou solícito como sempre. Caleb consultou o relógio de pulso. Podia voltar a atenção a Caldwell... — Caleb? — chamou ela, com voz melíflua. Erguendo-se em um impulso, ele virou na direção do quarto... e sentiu a garganta se contrair. 90


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sage havia trocado de roupa. Usava um vestido de um tom azul que combinava com seus olhos e sandálias de tiras finas e saltos altos. O cabelo estava preso no topo da cabeça. As mãos de Caleb formigaram para soltá-los, despi-la e... — O que foi? — perguntou ela, com um sorriso confuso. — Você é tão linda que faz meu coração doer — respondeu ele com voz rouca, envolvendo-a nos braços. Era incrível aquela mulher bela e maravilhosa pertencer a ele. Sage lhe pertencia. E ele... pertencia a Sage.

CAPÍTULO ONZE

O carro alugado de Caleb se encontrava intacto quando os dois saíram e ele cumpriu com o prometido, entregando as duas metades das notas de cem dólares para os meninos e acrescentando mais cem para cada um. Afinal, não era todo dia que um homem pedia uma mulher em casamento. — Uau! — disse ele, dando partida no carro. — Uau, está acontecendo tudo tão rápido? É isso que quis dizer? — Sage quis saber. — Sim — concordou Caleb, porque seria bobagem não admitir. — Mas eu lhe disse que vamos ficar bem — acrescentou, entrelaçando os dedos aos dela. — Como pode saber? — Sou um pragmático. Por isso sei que dará certo. Não estamos entrando nisso às cegas. Sabemos quem somos e o que estamos fazendo. E fomos sinceros um com o outro. E a sinceridade é a base de qualquer relacionamento bem-sucedido. — Uau também! Caleb parou em um sinal vermelho. — Sei que teremos alguns obstáculos no caminho durante as próximas semanas. Terá que me dizer se eu não os perceber. Sage assentiu. — E você terá de fazer o mesmo comigo. — Sinceridade e confiança. Como poderá dar errado? Sage sorriu. — Nesse caso, poderia me dizer para onde estamos indo? — Quero lhe fazer uma surpresa. — Tudo isso está sendo uma surpresa. — Estamos indo para meu hotel. O sinal ficou verde. Durante o trajeto, os dois conversavam sobre a profissão de atriz e as dificuldades implícitas naquele ofício. 91


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Não entendo muito sobre essa carreira, mas há muitos teatros em Dallas — comentou Caleb. — Não conheço o Texas. — Em breve, conhecerá. Vou lhe mostrar todos os meus lugares favoritos e, se não gostar do apartamento de condomínio onde moro, arranjaremos outro lugar para morar. — Pensei que vivesse em El... El... — El Sueno. Esse é o rancho da família e costumo passar algum tempo lá, mas vivo em Dallas durante a maior parte da semana. — Ele relanceou o olhar a Sage. — Ora, quem gostaria de criar um filho em um espigão no meio da cidade? Procuraremos uma casa. Talvez um rancho, fora de Dallas. Até mesmo em Wilde’s Crossing. O que acha? Sage hesitou. — Não sei o que dizer... é tudo tão novo... Caleb lhe tocou o rosto, repreendendo-se em silêncio. Estava atirando uma carga muito pesada sobre aqueles ombros delicados. Sinceridade e confiança eram essenciais, mas algumas coisas deviam ser colocadas de lado até que chegasse o momento certo. — Não há pressa para fazer nada disso. Daremos um passo de cada vez, está bem? — Obrigada — agradeceu ela, com voz suave. — Por entender que isso é... — Engoliu em seco. — Acho que sou uma dessas pessoas que levam algum tempo para se ajustar a uma nova situação. Caleb sabia que ela estava tentando fazê-lo se sentir melhor, portanto disse que isso também acontecia com ele. Permaneceram em silêncio por algum tempo, até que Sage questionasse quando viajariam para Dallas. Caleb limpou a garganta. — Bem, pensei em ficarmos aqui pelo resto da semana... — Ah! — disse ela. Porém, aquela simples exclamação tinha todo o peso do mundo. Caleb relanceou o olhar a ela. — Está com medo de conhecer minha família — afirmou ele, com voz suave. — Acredite-me, querida, ficarão surpresos, mas felizes por mim. Por nós. Sage assentiu. Queria acreditar em Caleb. Estava acreditando nele, não só com seu futuro, mas com seu coração. E isso era o que tornava tudo aquilo que estava acontecendo tão perigoso... - Chegamos. Estacaram ao meio-fio, com o Central Park de um lado e um prédio alto do outro. Caleb desatou o cinto de segurança e fez o mesmo com o dela. — Que rosto triste — disse ele, em tom de voz suave. — Essa não é a melhor forma de começar a primeira semana de nossas vidas juntos. Sage ergueu o olhar para encará-lo. — Isso é algo muito bonito de se dizer. 92


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Caleb exibiu o sorriso que ela tanto amava. Uma mistura de arrogância com deboche. E extremamente másculo. — Acha que nós, advogados, só sabemos falar termos jurídicos? Sage soltou uma risada. — Quis dizer que você é cheio de surpresas. — Apenas boas — retrucou ele, puxando-a contra o corpo e a beijando. Alguém limpou a garganta. — Senhor? Madame? O porteiro se encontrava ao lado do carro, esforçando-se para não rir. Enquanto o homem contornava o veículo para abrir a porta do passageiro, Caleb lhe depositou um último e breve beijo nos lábios. — Pare com isso — sussurrou ela, com o rosto rubro. — Bem-vinda ao hotel New York - disse ele com um sorriso, envolvendo- lhe a cintura com um braço, depois que saíram do carro e entregaram as chaves ao manobrista. Sage ergueu o olhar ao rosto sorridente de seu amante e sentiu o coração flutuar.

A suíte era maravilhosa. Ampla. Arejada. Clara. As janelas da sala de estar davam vista para o Central Park, assim como as do quarto. Uma pequena sala de jantar se projetava da sala de estar. Porém, o que fez Sage soltar um “Oh!” de pura satisfação foram as flores. Rosas, tulipas, margaridas e uma variedade que ela não conseguia reconhecer enchiam elegantes vasos de cristal, em vários pontos da suíte. — Oh, Caleb — disse ela, com o rosto resplandecente de prazer. — Providenciou isso tudo? Estaria corando?, pensou Caleb, ao sentir um calor intenso se espalhar pelo rosto. — Gostou? Não sabia o tipo de flor que lhe agrada, portanto... Sage se atirou nos braços fortes e ele a puxou contra o corpo, enterrando o rosto no cabelo sedoso e sentindo os olhos embaçados. O que estava acontecendo com ele? O que começara com “fazer a coisa certa” estava se transformando em algo mais. — Queria que este dia e essa noite fossem especiais para você — disse Caleb. Sage ergueu um olhar marejado de lágrimas. — Você é especial. Você... você... Caleb a beijou repetidas vezes. As lágrimas de Sage se transformaram em suspiros e esses em gemidos. E ele pôde fazer o que desejara quando estavam no apartamento dela. Retirou-lhe as presilhas do cabelo. Livrou-a do vestido. Sage ficou apenas com um conjunto de sutiã e calcinha de renda azul-clara. E as 93


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) sandálias de salto alto. Aquela mulher era linda! E lhe pertencia. Caleb a tomou nos braços, beijou-a e gemeu quando ela lhe desatou o cinto, escorregou a mão para dentro da calça e lhe sentiu a rigidez. Para ela. Apenas para ela. Com um movimento rápido, Caleb retirou a camisa pela cabeça. Livrou-se dos sapatos e da roupa de baixo. Em seguida, ergueu-a nos braços, carregou-a para o quarto e fez amor com ela até que ambos estivessem esgotados. Durante todo o tempo, enquanto observava o rosto delicado e a escutava sussurrar seu nome, soube que sua vida havia mudado. Não apenas por causa do bebê, mas por Sage. Por tê-la encontrado. Porque... Caleb desistiu de pensar.

Envolta em um dos luxuosos robes do hotel, Sage virou na direção de Caleb com um pequeno prato de queijos variados em uma das mãos e uma tigela de morangos que encontrara no pequeno refrigerador próximo à sala de jantar. Sorrindo, ele abriu uma garrafa de champanhe. — Não alcoólico — disse ele enquanto servia o líquido espumante em duas taças. Levaram tudo para a cama e se recostaram contra os travesseiros empilhados enquanto se banqueteavam com as delícias. — Pouse sua taça. — Por quê? — perguntou ela, com um sussurro rouco, programado para levá-lo à loucura. Caleb lhe aspergiu algumas gotas do champanhe sobre o abdome. Sage ofegou e a mão tremeu. — Por isso. Depois de ela colocar a taça sobre a mesa, Caleb deixou que mais algumas gotas do líquido espumante escorregassem pelo corpo, seguindo-as com a língua até conseguir lhe apartar as pernas com o rosto. Sage sussurrou o nome dele. — Amo seu sabor e seu cheiro. Amo... O grito de prazer de Sage reverberou pelas paredes do quarto. E então a taça de champanhe de Caleb caiu ao chão. Ele se ergueu e lhe capturou os lábios, enterrandose dentro dela. Um redemoinho de sensações extasiantes o capturou em seu vórtice até que ele colapsasse, por fim, no círculo aconchegante dos braços de Sage. Pouco depois, com ela aninhada ao corpo forte, os dois imergiram em um sono profundo.

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Após um banho luxuriante no amplo e suntuoso toalete da suíte, os dois se secaram mutuamente, um toque levando a outro, um beijo seguido de outro... Caleb a levou de volta para a cama e ela enroscou as pernas em torno dos quadris retos, fazendo-o ofegar. — Caleb — sussurrou Sage. — Sim — gemeu ele. Muito mais tarde, tornaram a adormecer nos braços um do outro. Quando acordaram o céu estava escuro. — Estou faminto o suficiente para comer um... — começou ele. — Sanduíche de misto quente e um cachorro-quente? — completou Sage, referindo-se às especialidades Wilde sobre as quais ele falara. Caleb fez os pedidos pelo telefone e os dois vestiram os robes felpudos outra vez. Um garçom lhes trouxe o jantar: bifes grelhados, batatas assadas, minicenouras e aspargos. Os dois devoraram cada pedaço e abriram outra garrafa de champanhe sem álcool. Quando terminaram de comer, sentaram-se em frente à lareira, cuja cornija estava repleta de flores, com suas taças nas mãos, e se recostaram contra uma pilha de travesseiros pretos e brancos. Caleb a puxou, aconchegando-a à curvatura do braço. Sage suspirou e, em seguida, disse em tom sério: — Muito bem, Caleb Wilde, chegou a hora. — O coração de Caleb disparou. Iria ela dizer que mudara de ideia quanto ao casamento? — Para começar — disse ela, com um sorriso nos lábios -, sempre foi um príncipe encantado? Caleb soltou uma risada. — Acredite-me, querida. Nunca fui nada disso. A expressão de Sage se tornou séria. — Confio em você e nunca pensei que um dia fosse dizer isso a um homem. Caleb lhe depositou um beijo na têmpora. — Quer conversar sobre isso? Sage hesitou, mas logo concluiu que deveria. Era a sinceridade e abertura que tinham um com o outro que tornava aquele relacionamento tão especial. Sage virou para ficar de frente para ele. Contou que nasceu em Indiana, em uma cidade no meio do nada. Era apenas ela e a mãe. E, sem rodeios ou constrangimento, confessou que eram pobres. Aquilo o angustiou. Saber que Sage crescera sem as coisas que para ele foram abundantes. Mas o que mais o entristeceu enquanto ela lhe contava sua história foi saber que a vida de Sage fora marcada pela amargura da mãe e pela ausência de um pai. A mãe de Caleb morrera quando ele e os irmãos eram muito pequenos, mas tinha lembranças amorosas da mulher que se tornara sua madrasta. E, embora o pai não fosse um homem afetuoso, ao menos tivera um. 95


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sage lhe contou que viera para Nova York com 200 dólares que havia economizado trabalhando em uma lanchonete. Que alugara um apartamento com mais cinco moças. Em seguida, conseguira um papel em um filme com Sandra Bullock. Apenas uma aparição passageira, mas ela se saiu bem e conseguiu algumas outras participações e um comercial de cereal. — Pouco depois disso, conheci David. — A voz de Sage suavizou. — Ele era maravilhoso. Engraçado. Afetuoso. Inteligente. Tornou-se o irmão mais velho que nunca tive. Todos gostavam dele... menos o pai. Quando David assumiu a homossexualidade, Caldwell o deserdou e não atendeu mais seus telefonemas. Caleb a sentou sobre o colo. — Sinto muito pelo que fiz com David naquela noite. Não devia ter... — Ficou tudo bem — retrucou ela, sorrindo. — David disse que aquilo foi um elogio. Ele estava fazendo teste para um papel em que seria um heterossexual, e se você pensou que ele era meu amante... — Ela recostou o rosto no ombro largo. — Essa é minha vida. Agora tem de contar a sua. — Bem — disse ele. — Vejamos... O que poderia dizer a ela? Não gostava de falar de si mesmo. Era reservado com seus sentimentos. Aquela era sua natureza. Sendo assim, Caleb optou por falar sobre a família. Começou pelos irmãos, comentando sobre a personalidade de cada um. Depois foi a vez das irmãs, as quais Caleb comparou a ela. — São como eu? — perguntou Sage, agradavelmente surpresa. — Sim. Lindas, inteligentes, femininas, mas valentes quando têm de ser. Como Addison. — Ele a abraçou. — Vai se adaptar muito bem, querida. — Espero que sim — retrucou Sage, com voz suave. — E quanto ao general? — Inteligente. Conservador. Arrogante. — Mas ainda não falou sobre você. Caleb hesitou por instantes e depois pensou: por que não? Contou-lhe sobre sua vontade de se tornar um policial e depois um advogado. Em seguida, para a surpresa de Caleb, descobriu-se falando sobre os cinco anos em que trabalhara para a CIA. Como fora recrutado por um de seus professores da faculdade de Direito, embora ele tivesse resistido por se achar muito rebelde para aquele tipo de trabalho. — Mas você foi um bom agente — disse ela, com voz gentil. — Por algum tempo, sim A princípio, foi excitante e gratificante, mas depois de algum tempo soube que não queria passar o resto da minha vida naquele tipo de trabalho. Vi coisas... — Os lábios de Caleb se contorceram — Droga, fiz coisas... Sage se inclinou e lhe beijou os lábios. — Aposto que nunca fez nada que não achasse correto. Era verdade. Aquele fora o motivo que o fizera deixar a CIA. Fora capaz de lidar com o fato de arriscar a vida, a vida dos outros e até de tirar 96


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) algumas vidas em nome da segurança de seu povo. Porém, as coisas começaram a mudar. O motivo de algumas de suas missões lhe parecia sombrio, até mesmo ilusório. E então ele e a CIA seguiram caminhos diversos. Foi o que contou a Sage, sem dar detalhes, afinal sempre se comprometera a manter o sigilo sobre aquele tipo de trabalho. Por fim, Caleb ficou em silêncio e percebeu que estava prendendo a respiração até que ela se inclinou e o beijou. — Senhor Cavaleiro Destemido — disse Sage, com voz suave. — Você é a pessoa mais extraordinária que já conheci. — O coração de Caleb se dilatou de felicidade. — Sua família... sabe sobre nós? — Ainda não, mas contarei a eles em breve. Porém, você me fez pensar hoje. Precisamos de algum tempo sozinhos. — Sim, obrigada por isso. Caleb a beijou outra vez e os dois se esqueceram do mundo. A manhã trouxe consigo uma constante tempestade de verão. E um problema. Sage lhe disse, quando acabaram de tomar o café da manhã, que precisariam voltar a seu apartamento para pegar mais algumas mudas de roupa. Caleb exibiu um sorriso afetado. — Que olhar é esse? — perguntou ela. Caleb afastou a cadeira. — Levante-se. Tenho planos para hoje. — Voltamos às ordens concisas? Caleb lhe depositou um beijo nos lábios. — Vista-se e verá por si mesma. Sage vestiu o jeans e a camiseta que trouxera. Ele também optou por jeans e um suéter de algodão branco. Em seguida, desceram para o saguão e o porteiro lhes conseguiu um táxi. Minutos depois, o veículo estacionou em frente a uma famosa loja de departamentos na Fifth Avenue. — O que estamos fazendo aqui? — perguntou ela enquanto Caleb a guiava, apressado, para dentro da loja. — Não pode passar o restante da semana com um jeans e um vestido. Poderia passar nua, na cama, mas a camareira tem de entrar de vez em quando. Sage fingiu socá-lo no braço, porque uma mulher que passava por eles soltou uma risada. — Eu não lhe disse que era por esse motivo que tínhamos de voltar ao meu apartamento... ? Caleb lhe segurou a mão e a guiou pelas sessões de roupas. Quando ela protestou, começou a beijá-la de modo ousado. — Pelo amor de Deus, não na frente de todos... — Vou beijá-la até que concorde que um homem pode comprar roupas para sua 97


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) esposa. — Não sou sua esposa. — Mas será. — Você é impossível! — Sou muito determinado. E então, o que prefere? Uma maratona de beijos ou comprar roupas? Sage ficou tentada em optar pela maratona de beijos. Quando ele lhe dirigiu aquele sorriso pecaminoso e sexy, ela o retribuiu. — Está bem, você ganhou. Mas apenas o necessário. Sim, vestidos eram necessários, disse Caleb, assim como jeans, calças compridas sociais, saias, blusas, lingeries, sapatos, sandálias e muitas outras coisas. Tudo sobre os protestos sussurrados de Sage. Porém, Caleb amava o prazer que via estampado naqueles enormes olhos azuis enquanto ela admirava o próprio reflexo no espelho, vestida com seda, linho e tudo que nunca tivera antes. Depois de providenciarem para que tudo fosse entregue no hotel, voltaram para o primeiro andar, para que Sage pudesse escolher algumas bolsas entre a imensa variedade que a loja oferecia. Caleb aproveitou o ensejo e pediu para que a vendedora a mantivesse distraída por uns 15 minutos. Uma das joalherias mais famosas do mundo ficava apenas a alguns minutos de distância da loja. Caleb correu pela chuva e encontrou o gerente o aguardando, com dez lindos anéis expostos em uma bandeja em uma sala particular. Porém, ele não demorou muito a se decidir. Optou por um perfeito diamante azul-claro, margeado por safiras e encravado em ouro branco. Era uma joia clássica, como a mulher que o iria usar. Colocou a pequena caixa de veludo vermelha no bolso, correu de volta à loja de departamentos e a encontrou em dúvida entre três bolsas, o que Caleb resolveu, dizendo à vendedora que levaria todas. Sage o encarou com algo incrivelmente terno no olhar. — Não me canso de dizer que você é impossível. — Eu sou. E, então, aconteceu algo engraçado. Era como se um raio tivesse atingido o teto da loja, porque de repente e com toda certeza Caleb se deu conta de que não era impossível, como dizia ela. Era apenas um homem completamente apaixonado.

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332)

CAPÍTULO DOZE

Caleb serviu-se de um conhaque, parado em frente à janela que descortinava o Central Park, dizendo a si mesmo para se acalmar. Sage estava no toalete, excitada e feliz, em meio às sacolas e caixas com os artigos que ele lhe comprara. Caleb também se encontrava feliz e excitado. A pequena caixa vermelha queimava em seu bolso. Pedi-la em casamento fora relativamente fácil. O mais sensato a fazer. Porém, dizer a uma mulher que a amava nada tinha a ver com sensatez. Significava colocar o coração em risco. Nunca antes fizera nada parecido. O copo estremeceu em sua mão. Era surpreendente. Um homem que fora capturado, torturado pelo inimigo. Mas confessar a Sage que a amava... E se ela não correspondesse àquele sentimento? Quando Sage virou, ele viu a alegria estampada no rosto dela. — Seu louco. Comprar tudo isso para mim! Caleb pousou o copo, abriu os braços e ela se atirou neles, com os olhos cheios de lágrimas. Quando ele lhe perguntou por que estava chorando, Sage explicou que era de felicidade. Não era de admirar que a perspectiva de desnudar a alma diante dela e dizer que a amava o assustasse tanto. As mulheres não funcionavam da mesma forma que os homens. Eram imprevisíveis e difíceis de entender. Caleb a beijou, acariciou-a e a levou para a cama. Sabia que era loucura, mas queria dizer que a amava enquanto conseguia se concentrar em encontrar as palavras certas. E, no momento, não podia se focar em nada que não fosse se enterrar bem fundo dentro dela. Quando recobrou a sanidade, estavam em cima da hora. O recepcionista do hotel havia feito reservas em um luxuoso restaurante da cidade e conseguido entradas para uma peça que acabara de estrear. O restaurante estava perfeito como sempre. O serviço, impecável; o ambiente, elegante. Mas aquele não era o momento certo para lhe entregar o anel. Se o fizesse, não conseguiriam assistir à peça e aquela noite era toda dedicada a ela. Durante a encenação teatral, ele observou a concentração e a total atenção de Sage no que se passava no palco. No fim do primeiro ato, Caleb lhe segurou a mão a e beijou. Ela lhe dirigiu um sorriso íntimo que lhe varreu todo o temor. Sage o amava. Tinha certeza disso. 99


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Tudo que tinha a fazer era aguentar mais algumas horas e, então, poderia lhe dizer o que se passava em seu coração. Por fim, se encontravam a caminho da suíte do hotel que se tornara o mundo particular dos dois. Subiram no elevador em silêncio. Sage com a cabeça recostada ao ombro largo e ele lhe envolvendo o corpo com um braço possessivo. Quando alcançaram a porta, Caleb a ergueu nos braços, entrou e a fechou com o cotovelo. Não iria mais esperar. Chegara o momento. Beijou-a, pousou-a lentamente de pé no chão... e reparou na luz vermelha piscando no aparelho do telefone. Não, disse a si mesmo. Droga! Não iria adiar aquilo nem mais um segundo. — Há uma mensagem para você - disse Sage. Caleb negou com a cabeça. — Só haverá mensagem se a escutarmos. Sage soltou uma risada. — Um pensamento adorável, mas não quer saber do que se trata? — Não. — Ele fechou as mãos na base da espinha de Sage. Ela se inclinou para trás e lhe envolveu o pescoço com os braços. — Não estou interessado em mensagens esta noite. Por isso desliguei o celular horas atrás. — Então, a pessoa que está tentando contatá-lo deve ter mesmo urgência. Aquilo o fez parar para pensar. Talvez ela tivesse razão. Nem ao menos olhara para o celular desde aquela tarde. — Está bem — concordou, relutante. — Vou verificar. — Cinco minutos — disse ela. — É tudo de que dispõe. Caleb a beijou. — Dois minutos é tudo de que preciso. Sage sorriu. — Vou tirar esta roupa. — Não — protestou ele, com um sorriso pecaminoso. — Essa é uma tarefa minha, lembra-se? Sage corou e o beijou outra vez. Depois que ela entrou no quarto, Caleb pegou o telefone e seguiu as instruções automáticas. Sage soltou o cabelo e o penteou. Estavam levemente úmidos pela chuva que começara quando estavam a um quarteirão do hotel. Haviam voltado a pé por insistência dela. Deveria usar um secador ou Caleb gostaria deles assim? Imaginou-o entrando no quarto, envolvendo-a nos braços, beijando-a, despindo e fazendo amor com ela. O final perfeito para uma noite perfeita. Com o homem que amava. 100


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Percebera a forma como Caleb a observara naquela noite. Havia um brilho diferente naqueles olhos azuis. Na forma como a tocara. Ele era tão maravilhoso, tão terno que lhe parecia até perigoso desejar mais. Mas ela desejava. Queria o amor de Caleb. E, naquela noite, sentiu que talvez ele estivesse sentindo algo mais profundo por ela... — Pare com isso — Sage repreendeu a si mesma. Caleb gostava de estar em sua companhia. Gostava de fazer amor com ela. Pedira-a em casamento. Aquilo era suficiente. Um dia talvez um milagre acontecesse... — Droga, não! A voz de Caleb soou alto na sala de estar. Sage dirigiu o olhar à porta entreaberta. — Caleb? Não houve resposta. Ele continuava a conversar, mas Sage não conseguia escutar. A voz grave estava baixa, embora o tom fosse urgente. Encaminhando-se até a porta do quarto, ela o observou. Caleb estava de frente para a janela, ainda falando ao telefone. Parecia muito aborrecido. Já o conhecia o suficiente para perceber a postura tensa, os ombros enrijecidos, as pernas afastadas. Seu amante era um homem lindo. Por dentro e por fora. Bom, terno, generoso e sincero. E ela o amava com toda a força de seu ser. — Droga! — rosnou ele outra vez. — Jake não tinha de lhe dizer nada. Isso é problema meu, não dele. — Sage franziu a testa. Talvez o mais sensato fosse fechar a porta e lhe dar um pouco de privacidade. — Addison, ouça-me. — Ele estava falando com a cunhada e sócia. — Não discutirei isso agora porque não estou sozinho. É tão difícil entender isso? — Sage deu um pulo para trás quando Caleb se afastou da janela. A porta lhe servia de escudo e ele não a viu. — Está bem. Entendi. Jake só lhe contou porque pediu a ele quando não conseguiu me contatar, mas essa mulher, Sage Dalton, essa situação, não é da conta de ninguém. Só minha. — Dedos gelados pareceram percorrer a espinha de Sage. Essa mulher? Essa situação? — Estou resolvendo isso. É tudo que precisam saber. — Resolvendo isso. Ah, Deus! — Sim. Entendo isso. As ramificações jurídicas acima de tudo. Bem, claro. Um teste de paternidade. Certo. Depois que o bebê nascer. Isso eliminará qualquer possibilidade de futuras exigências. — Um soluço emergiu da garganta de Sage. Caleb, pensou ela, Ah, Caleb! — Ora! — rosnou ele. — Não, não me casei com ela! — Ele passou as mãos pelo cabelo. — Pareço esse tipo de tolo? Sei o que precisa ser feito e quando fazer. — Sage se atirou contra a parede, com a mão sobre a boca. Não vomite, disse ela a si mesma. — Entendo. — A voz de Caleb estava mais calma. — Sim, você tem razão. Não deveria tê-la deixado no escuro. Os assuntos pessoais são uma coisa, mas as implicações jurídicas... Ouça, pode resolver isso? Ótimo. Excelente. Faça algum documento. E certifique-se de que a criança vai ser minha. Só minha. 101


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Sage olhou ao redor, apavorada. Onde estava sua bolsa...? A bolsa que Caleb havia lhe comprado. Correu o olhar pela própria roupa. Ele lhe tinha comprado tudo. Teve vontade de rasgar as vestes. Porém, tinha de agir rápido. Podia ouvir o murmúrio da voz de Caleb mais calma agora. E por que não estaria? Nunca a vira como amante, e sim como um brinquedo. Não estava convencido da paternidade do bebê. Mas, quando soubesse que a criança tinha o mesmo DNA dele, exigiria a custódia do filho. Ao menos aquilo tornaria a vida do filho diferente da que ela tivera. Seria criado com um pai rico, arrogante, que o entregaria a babás e enfermeiras. Uma ova que iria! Aquele bebê era dela e de ninguém mais. Caleb Wilde podia estar se vangloriando de ter jogado bem, mas o jogo ainda não acabara. — Addison — disse ele. — Tenho de desligar. Eu lhe telefonarei amanhã. — Pode falar com ela agora — Sage disse, entrando na sala de estar. — Terá todo o tempo de que necessita. Prometo. Sage sabia que nunca esqueceria o olhar estampado no rosto de Caleb. O queixo caído, a boca aberta, a expressão perplexa. — Sage? — disse ele. — Querida? Mas ela escancarou a porta. — Adeus, Caleb. — Sage! Que diabos você... A porta de fechou com toda força. Caleb ficou parado, olhando naquela direção e tentando entender o que estava acontecendo. — Ela está me deixando — disse Caleb. — Sage está... Largou o telefone e saiu correndo. Abriu a porta... Mas era tarde demais. O corredor estava vazio.

CAPÍTULO TREZE

Caleb alcançou os elevadores a tempo de ver que um estava subindo e o outro, descendo. Correu pela escada de incêndio, descendo-a de dois em dois degraus, e irrompeu no saguão. Tarde demais. 102


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Não havia ninguém lá, exceto os recepcionistas. Não conhecia o porteiro que estava de serviço naquele momento. O homem lhe dirigia um sorriso educado. — Posso ajudá-lo? — Viu uma mulher passar por aqui? — Como? — Uma mulher. Minha... — Minha, o quê? Como deveria se referir a ela? Sage não era sua esposa. Namorada? Noiva? — Uma mulher loira, alta, que entrou comigo há pouco. — Ah, sim, senhor. Ofereci-me para lhe arranjar um táxi, mas... Diabos! Caleb olhou através das portas de vidro. Estava caindo uma tempestade. — Para onde ela foi? — Por ali. Na direção da esquina... Caleb saiu correndo. Estava em boa forma, sempre estivera. E agora se sentiu grato por isso, porque a chuva caía forte e o vento soprava com força... Mas, droga, Sage não estava em nenhum lugar. Talvez o porteiro tivesse se enganado. Embora aquela fosse a direção da estação de metrô mais próxima... Lá estava ela! A chuva lhe atrapalhava a visão, mas que outra mulher estaria andando sob aquele temporal com um vestido fino de noite e sapatos de salto alto lustrosos? Se ela caísse na calçada... Embora estivesse correndo a todo vapor, conseguiu apressar as passadas. Quando se aproximou mais um pouco, cometeu a estupidez de gritar o nome dela. Sage olhou para trás e começou a correr. — Diabos! — gritou ele, com o coração em disparada. Ela se aproximava do meiofio e um caminhão de entregas virava a esquina. — Sage! — berrou Caleb, imprimindo uma velocidade que jamais pensou possível. Quando a alcançou, fechou os braços em torno dela e a puxou contra o corpo. Durante o tempo de uma batida do coração permaneceram naquela posição, com Sage segura em seus braços. — Droga, droga, droga! — rosnou ele, virando-a em sua direção. O rosto delicado estava inundado de chuva e lágrimas. Caleb soltou um palavrão grosseiro e a beijou. Os lábios macios se coloram aos dele por tempo suficiente para enchê-lo de esperança. Mas, em seguida, Sage recuou as costas com um movimento brusco, ainda envolta nos braços fortes, e arremessou os punhos fechados contra os ombros largos. Em seguida, xingou-o de algo que o teria feito rir se Caleb não estivesse a ponto de colocar o coração pela boca. Em vez disso, ele lhe segurou os punhos e se refugiou na raiva. — O que diabos está pensando? Não viu o sinal vermelho? Não percebeu o caminhão? Mais alguns segundos, e você poderia... — Ele emudeceu diante da enormidade do que poderia ter acontecido. — Eu quase a perdi — sussurrou ele. 103


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) — Como se isso tivesse alguma importância — rebateu Sage, com voz trêmula. — Do que está falando? — Ou talvez tenha. Talvez queira mesmo esse filho... — Os dentes de Sage tiritavam Ele retirou o terno e a agasalhou. — Não quero nada de... Caleb começou a fazer sinal para os táxis que passavam, mas se encontravam em Nova York e em um temporal. Mas... aleluia! Havia uma cafeteria na esquina. — Venha — disse ele, envolvendo-lhe o corpo com um dos braços. Porém, Sage negou com a cabeça, firmou os saltos no chão e se recusou a se mover. — Querida. Vamos acabar nos afogando aqui. — Não sou sua querida. E não vou a nenhum lugar com você. — Claro que vai. Para onde mais iria? — De volta para o Brooklyn. Para minha vida. Para longe de você e de suas mentiras. Caleb a segurou firme pelos ombros e a puxou na direção dele. — Nunca menti para você! — Mentiu! — Quando? Que mentira lhe contei? — Você disse... que queria que formássemos uma família. Você, eu e o bebê. — Isso é a mais absoluta verdade! — Você disse... que gostava de mim... — Sim — concordou ele, com voz rouca. — Isso foi uma mentira. Sage começou a virar as costas, mas ele a impediu, segurando-lhe o rosto entre as mãos e a olhando fundo nos olhos. Estava a ponto de fazer a mais importante declaração de sua vida para a pessoa mais importante de sua vida, debaixo de um dilúvio, enquanto os dois corriam o risco de pegar uma pneumonia. Ah, bastava de planejamento e lógica! — Essa foi a maior mentira que disse em toda minha vida, porque não gosto de você, querida, eu a amo. Eu a adoro. Com toda a força do meu coração. E se você me deixar... Sage o encarou com os lábios trêmulos. Droga! Tudo nela tremia. Caleb lhe envolveu o corpo com um dos braços, puxou-a para perto e a guiou até a cafeteria. — Não vou entrar aí — protestou ela, embora sem muita convicção. Caleb abriu a porta. — Ora, essa será a oportunidade de fazer o que tanto queria, lembra-se? Discutir nossa intimidade em uma cafeteria e, se tivermos sorte, receber alguns conselhos da garçonete. Sage ergueu o olhar para encará-lo e soltou uma risada. Muito breve, mas o primeiro sinal positivo desde que saíra correndo do hotel. Porém, ele não queria se animar, porque algo estava muito errado. E, se Sage dissesse que não sentia o mesmo por ele... — Caleb. 104


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) O sussurro de Sage o trouxe de volta à realidade. Todos os clientes presentes e os funcionários da cafeteria os observavam. Caleb limpou a garganta. — Olá — disse ele com voz animada, sorrindo para a garçonete. — Podemos nos sentar a uma mesa? A mulher deu de ombros. — Acho que sim. Caleb a guiou até a mesa, e eles se sentaram de frente um para o outro. — Café? — perguntou a garçonete. — Por favor. Um café e um chá de ervas descafeinado. Minha esposa está grávida e não pode ingerir cafeína. Sage corou. — Não sou — apressou-se em dizer — esposa dele. — Mas ela está grávida — Caleb informou. O que estava acontecendo com ele? Estava dizendo um monte de besteiras... — Ah, diabos! — xingou ele em tom de voz suave quando se deu conta do motivo que levara a mulher que amava a fugir. — Você ouviu minha conversa ao telefone com Addison. — Sage deu de ombros, mas ele não acreditou naquela indiferença. Remontando ao que dissera a Addison, percebeu que aquela conversa poderia ter sido facilmente mal interpretada. — Querida... A garçonete trouxe os pedidos e voltou a se afastar. Caleb se inclinou sobre a mesa. — Sim, com a mulher que está fazendo um documento que você acha que vou assinar lhe passando a custódia do meu bebê — falou Sage. — Nosso bebê. E não. Não quero a custódia. Por que deveria se esse filho será de nós dois? — Pode ser uma filha. — Não estou me importando nem um pouco com o sexo. — Ah, deve se importar. Porque o sexo foi o único motivo para me querer por perto. — Eu a amo — afirmou ele, convicto. — Não me ouviu, droga? Eu a amo! — Não ama. Afirmou acreditar em mim quando eu disse que o filho era seu, mas isso foi outra mentira! Caleb lhe segurou a mão com força. — Ouviu-me dizer a Addison que vamos querer um teste de paternidade depois que o bebê nascer. Sage assentiu com a cabeça, não confiando em sua capacidade de falar. Não era fácil deixar transparecer apenas a raiva, e não a mágoa, na voz. Amava Caleb com toda a força de seu ser, apesar de ele ser um mentiroso. — O exame é para podermos nos livrar do pai de David de uma vez por todas. — Não. Ele não pode estar insistindo... — Em parte por culpa minha. Todos me acham um excelente advogado, mas fiquei tão envolvido em nosso relacionamento que me esqueci de entrar em contato com ele. Thomas Caldwell telefonou para Addison e lhe disse que não aceitará a verdade sem 105


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) uma prova. — Ah, Caleb... — Sage podia sentir a dor lhe abandonando o coração, mas ele ainda tinha uma última explicação a lhe dar. — E eu o ouvi dizer a ela que não era maluco de se casar comigo... — Isso mesmo. Addison pensou que fugimos para nos casar. Devo admitir que a ideia me passou pela cabeça, mas minhas irmãs, e provavelmente Addison, me esfolariam vivo se lhes negasse o prazer de preparar tudo. — Sage o encarou com olhar ilegível. — Querida, sei que cometi muitos erros. O maior deles foi não lhe dizer o quanto a amava logo assim que descobri. Mas queria achar o momento perfeito, o lugar certo. — Como agora — disse Sage, sorrindo. — Diga que me ama também Diga que eu não estava imaginando o que vi em seus olhos e o que provei em seus beijos. — Eu o amo — declarou ela. — Claro que eu o amo. E sempre o amarei, meu cavaleiro destemido. Caleb se ergueu, contornou a mesa e se posicionou ao lado da cadeira que ela ocupava. Em seguida, enfiou a mão no bolso e se ajoelhou naquele chão sujo e molhado. — Sage, querida — começou ele, abrindo a caixa, revelando reflexo de mil sóis. — Quer se casar comigo? Pela única razão que importa, querida: por amor? Chorando e rindo ao mesmo tempo, Sage se inclinou sobre ele, segurou-lhe o rosto com as mãos e pressionou os lábios aos dele. — O que ela quer dizer — interveio a garçonete — é “sim”. Caleb se ergueu e a envolveu em seus braços. A garçonete estava segurando a conta do que eles haviam consumido e sorrindo. Gentilmente, Caleb pousou a nota sobre a mesa. Pegou um punhado de notas do bolso e as colocou na mão da mulher. — Obrigado — disse ele. A garçonete arregalou os olhos e correu atrás deles na direção da porta. — Espere. É uma quantia muito alta, senhor. Caleb girou para encará-la. — Se soubesse, eu a teria levado logo a uma cafeteria e pedido conselhos a uma pessoa como você. Acredite-me, isso é pouco. A chuva havia cessado. Sob as luzes dos postes, o anel de noivado de Sage faiscava. Pegaram o primeiro táxi que passou. Quando chegaram à suíte do hotel, Caleb a beijou. — Uma última coisa — disse ele, segurando-lhe a mão enquanto com a outra discava um número no celular. — Addison, é Caleb, preciso de um favor. Chame Jake para ouvir. Ele está aí? Travis também? Ótimo. Acione o viva-voz. — Tenho uma novidade para vocês... e depois, se puderem comunicar a Em, Jaimie e Lissa... — Escutou por alguns instantes. — Perfeito — disse ele a Sage. — Minhas irmãs e até mesmo o general estão lá passando o fim de semana - disse a Sage. — Caleb, o que está fazendo? — perguntou ela. 106


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Antes de falar ao telefone, ele a beijou. — Estou voltando para casa — disse ele a todos. — Com a mulher que amo. E, sabem de uma coisa? Estamos grávidos. Seguiram-se alguns segundos de silêncio surpreso. Em seguida, ouviram- se vivas e aplausos do outro lado da linha. Mas os dois não estavam escutando. Sage estava chorando. Ele, sorrindo. E ambos se encontravam um nos braços do outro.

FIM

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Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) Próximo Lançamento DUPLO SEGREDO LYNNE GRAHAM

Quando Cristophe Donakis abriu o arquivo sobre o grupo Stanwick Hall Hotel, o qual ele esperava que se tornasse a mais recente aquisição de seu império de hotéis de luxo, ele sofreu um choque inesperado. Ironicamente, era preciso ser algo muito grave para chocar Cristophe. Aos 30 anos, o empresário e bilionário grego já tinha visto de tudo e se decepcionado muitas vezes. E, no que se referia às mulheres, em particular, ele não cultivava nenhuma boa expectativa. Órfão aos 5 anos, ele passou por várias adversidades na vida. Embora amasse os pais adotivos, sentia que não tinham nada em comum Também se ressentia por ter se divorciado, mesmo tendo se casado com a melhor das intenções. Mas o que fez Cristophe levantar-se bruscamente da cadeira e levar o arquivo até a janela para se certificar de que estava enxergando bem foi a imagem de um rosto desconcertantemente familiar em uma fotografia da equipe executiva do grupo Stanwick... Um rosto do passado dele. Erin Turner... Uma pequena Vênus de cabelo claro que brilhava como prata dourada e olhos cor de ametista. De imediato, as belas feições morenas de Cristophe se tornaram ameaçadoras. Erin ocupava um lugar todo especial na memória dele, por ter sido a única mulher a traí-lo e, embora quase três anos tivessem se passado, as lembranças ainda o atormentavam O olhar inteligente e aguçado devorou a fotografia da ex-amante sorrindo ao lado de Sam Morton, o velho proprietário do Stanwick Hall. Vestindo um terninho escuro e com aquele cabelo espetacular preso, ela parecia muito diferente da jovem de visual despojado e casual de que ele se lembrava. O corpo esguio e poderoso de Cristo estava sob repentina tensão, e os olhos negros como a noite adquiriram um brilho de fogo. Foi assim, num estalo, que ele se lembrou das formas graciosas de Erin envoltas em lençóis de seda. E lembrava, com ainda mais precisão, da sensação maravilhosamente suave de tocar aquelas curvas magníficas com mãos exploradoras. A transpiração umedeceu o vigoroso lábio superior dele, e ele respirava fundo e devagar, determinado a dominar aquele impulso instantâneo na virilha. Lamentavelmente, nunca conheceu outra mulher como Erin, MAS ele se casou logo depois e somente nos últimos meses pôde desfrutar da liberdade de ser solteiro de novo. Ele sabia que era de fato muito difícil encontrar uma mulher capaz de acompanhar o apetite sexual e até mesmo ocasionalmente saciar a extraordinária libido dele. Entretanto, ele reconhecia que muito provavelmente fora justamente aquele apetite que a levou a dormir com outro homem Por ser um workaholic contumaz, Cristo a deixou sozinha por semanas enquanto viajava a negócios, o que possivelmente contribuiu para tal desenlace sórdido que pôs fim ao romance, ele admitiu a contragosto. Claro, se ela tivesse aceitado viajar com ele, aquilo nunca teria acontecido, mas, infelizmente, naquele momento, não passara pela 108


Sandra Marton - [Irmãos Wilde 2] - Presente de uma Noite (Paixão 332) cabeça dele que ela poderia ter excelentes, senão execráveis, razões para ficar em Londres.

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