Educação, Comunicação e Saúde - Avanços e Desafios na Contemporaneidade

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Educação, Comunicação e Saúde



©2021 Editora Típica Editora Adriana Donini Conselho Editorial Dr. Alexandre Lopes Dra. Aline Luiza Carvalho Me. Ana Maria Antunes de Campos Me. Anisio Batista Pereira Me. Ânderson Rodrigues Marins Dr. Carlos Aceituno Huacani Me. Cássio Joaquim Gomes Me. Claudemir Ramos Me. Danilo de Santana Cardôso Dra. Denise Silva Macedo Dr. Douglas de Abreu Pestana dos Santos Me. Edson Silva de Lima Me. Evaldo de Assis Moreira Me. Eduardo Augusto de Santana Me. Fernanda Maffei Moreira Me. Flávio Pereira de Oliveira Me. Henrique Lopes Dornelas Dr. Hildelano Teodoro Dra. Ione Aparecida Martins Castilho Pereira Me. Jaqueline Nichi Dra. Joice Eloi Guimarães Dra. Júlia Reis Me. Larissa Mundim Me. Leandro Costa Fávaro Me. Luciano Costa Dr. Marcelo Magno Rocha Nascimento Dra. Priscila Chaves Panta Dr. Sérgio Montoro Me. Sidney Lopes Sanchez Júnior Me. Vitor Leandro Lopes Conselho Técnico-Científico Me. Cláudia Lazarotto Riquinho Me. Daniel Ordane da Costa Vale Dra. Diana Gama Me. Eduardo Maia Carneiro Me. Elizabete Cristina Rabelo de Araújo Me. Glauber Fidélis Me. Lara da Silva Cardoso


Educação, Comunicação e Saúde


Pareceristas externos Fernanda Sagrilo Andres Maria Eugênia Porém Sonia Regina Cabestré

Capa: Edil Gomes - Imagens Pixabay

Os textos dos capítulos que compõem esta publicação foram avaliados por membros do Conselho Editorial e pareceristas ad hoc. As alterações solicitadas foram realizadas pelos autores.

DOI 10.29327/538262


SUMÁRIO

Apresentação .........................................................................................................................7 Capítulo 1 Implicações da crise sanitária na atividade dos docentes do curso de Relações Públicas: repercussões na educação, comunicação e saúde individual ................................................................................... 11

Maria Aparecida Ferrari e Karina Ferrara Barros DOI 10.29327/538262.2021-1 Capítulo 2 Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento ................. 29

Fernanda Sagrilo Andres e Valmor Rhoden DOI 10.29327/538262.2021-2 Capítulo 3 A Educação em saúde indígena: uma análise da Comunicação da Secretária Especial de Saúde Indígena nas mídias digitais frente à pandemia da Covid-19 ..........................................................47

José Augusto dos Santos Magalhães e Jessica de Cássia Rossi DOI 10.29327/538262.2021-3 Capítulo 4 O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina ................... 61

Amanda Ferreira Medeiros e Daniela Pereira Bochembuzo DOI 10.29327/538262.2021-4 Capítulo 5 Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na Saúde: desafios e oportunidades .................................................................................................................... 79

Marcelo Pereira da Silva e Júlia Marinelli Antunes DOI 10.29327/538262.2021-5


Capítulo 6 O papel da comunicação na abordagem de candidatos para participação em pesquisa clínica ............................................................................................................................. 95

Alexandre Lopes, Rannier Ferreira Mendes e Guilherme Antonio Moreira de Barros DOI 10.29327/538262.2021-6 Capítulo 7 Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo .........................................107

Adriana Maria Donini DOI 10.29327/538262.2021-7 Sobre os autores .................................................................................................................................. 126


APRESENTAÇÃO Este e-book reúne artigos com diversas abordagens sobre o papel da Educação e Comunicação em questões de Saúde, uma vez que são primordiais para informar, sensibilizar, humanizar, divulgar ciência e combater a desinformação nesse campo. Os estudos apresentam interfaces entre a Educação e Saúde, Comunicação e Saúde e Educomunicação e Saúde. Embora tais interações já sejam ex-

ploradas há algum tempo pela área científica, entendemos que, em razão das vivências da pandemia ocasionadas pela Covid-19, torna-se imprescindível a discussão de iniciativas que envolvem esses saberes. Diversas mudanças ocorreram nessas áreas por conta da crise sanitária, desde alterações nas condições de trabalho de algumas categorias profissionais, entre elas docentes universitários, e que influenciaram na qualidade de vida desses profissionais, passando pela necessidade de educação em saúde de alguns grupos étnicos mais vulneráveis à doença, como os indígenas, até a busca de estratégias de comunicação que possam aquecer a economia de pequenos negócios locais para superar as perdas que as medidas de distanciamento social proporcionaram. Por isso, o livro contém três capítulos que contemplam essa temática e elucidam os desafios.

Dada a complexidade e a riqueza de possíveis abordagens entre a Educação, Comunicação e Saúde, o emprego de novas mídias digitais, como o podcast, também foi foco de um dos artigos desse livro. A obra ainda é composta por outros estudos que discorrem sobre a relevância da comunicação nas interações entre instituições/profissionais de saúde e pacientes, seja tanto por meio da aplicação de estratégias de relações públicas para a promoção da humanização por meio de tecnologias digitais, quanto na análise do tipo de relacionamento promovido por profissionais de saúde com pacientes em uma pesquisa clínica. O campo científico também é contemplado em um dos capítulos que analisa quais foram as

investigações desenvolvidas em Comunicação e Saúde em alguns programas de pós-graduação strictu sensu no Estado de São Paulo. Trata-se de uma área que vem se desenvolvendo e aperfeiçoando os estudos sobre essa interface, a qual entendemos que seja importante destacar neste e-book. Desse modo, no primeiro capítulo, a professora Maria Aparecida Ferrari e a mestranda Karina Ferrara Barros, ambas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), apresentam um importante estudo com professores de cursos de Relações Públicas de universidades de diversas regiões do Brasil sobre a experiência docente durante a crise sanitária. As pesquisadoras

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abordam as repercussões desse problema na Educação, Comunicação e Saúde, tendo por base esse público-alvo. No segundo capítulo, Fernanda Sagrilo Andres e Valmor Rhoden, docentes da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), expõem o projeto “Apoie SB”, que engloba ações desenvolvidas pelo curso de Relações Públicas da Unipampa em mídias sociais e nos meios tradicionais de comunicação de São Borja (RS) e os principais resultados já obtidos. O trabalho envolve a divulgação de produtos e serviços de pequenos negócios e de microempreendedores da cidade; fomento à economia local; publicização das ações sociais desenvolvidas por pessoas e empresas; e também orientação sobre cuidados básicos de higiene e prevenção durante a pandemia de Covid-19. A contribuição social e para a formação dos acadêmicos está entre os enfoques apresentados. No terceiro texto, Jessica de Cássia Rossi, professora do Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado) e da Faculdade Eduvale, e o relações públicas José Augusto dos Santos Magalhães, mostram dados de estudo que visou compreender como ocorre a educação em saúde sobre a Covid-19 promovida pela Secretária Especial de Saúde Indígena com a comunidade indígena em seu canal no Youtube sob a ótica da Comunicação Pública. O estudo também debate como o órgão poderia desenvolver estratégias de comunicação para atrair o interesse desse público em relação aos conteúdos educativos sobre saúde disponibilizados na mídia digital. Na sequência, a jornalista Amanda Ferreira Medeiros, que atua no setor de Comunicação da Unimed Centro-Oeste Paulista, e Daniela Pereira Bochembuzo, professora do Unisagrado, apresentam experiência na produção de um podcast sobre saúde reprodutiva da mulher. Elas incluem referenciais teóricos referentes à saúde reprodutiva feminina e potencial do podcast para abordar a temática por meio da aplicação de técnicas jornalísticas. As autoras também incluem resultados obtidos com estudo de recepção sobre o produto midiático elaborado. Em outra parte do livro, há textos que se dedicam à comunicação e humanização na saúde. Marcelo Pereira da Silva, docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, e a relações públicas Júlia Marinelli Antunes (graduada pela mesma instituição), após expor conceitos ligados às Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais, trazem algumas soluções de inovação, desafios e oportunidades para a atuação do profissional em ambientes ligados ao campo da Saúde e também descrevem ferramentas e tecnologias de comunicação digital que podem ser exploradas para práticas de humanização entre instituições de saúde e seus clientes. No sexto capítulo, Alexandre Lopes, Guilherme Antônio Moreira de Barros e Rannier Ferreira Mendes, pesquisadores vinculados à Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp, discorrem sobre diferentes abordagens realizadas durante pesquisa que visou identificar a incidência de dor crônica pós-operatória (DCPO) em pacientes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da

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Unesp, campus de Botucatu. Os autores relatam como o formato de comunicação estabelecida entre profissional de saúde e paciente influencia no processo de aceitação e participação no estudo. Por fim, Adriana Maria Donini, pesquisadora da área de Comunicação, faz um mapeamento de pesquisas de mestrado e doutorado sobre Comunicação e Saúde defendidas em dois programas de pós-graduação em Comunicação de universidades públicas do Estado de São Paulo. Além de apresentar dados quantitativos, ela aponta os principais referenciais teóricos-metodológicos adotados no corpus analisado. Assim, convidamos à leitura desses estudos e esperamos que este e-book possa incentivar novas reflexões, em uma abordagem transdisciplinar, entre os campos da Educação, Comunicação e Saúde.

Jessica de Cássia Rossi Organizadora

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CAPÍTULO 1 Implicações da crise sanitária na atividade dos docentes do curso de Relações Públicas: repercussões na educação, comunicação e saúde individual Maria Aparecida Ferrari1 Karina Ferrara Barros2

Introdução O capítulo apresenta uma análise da experiência de docentes dos cursos de Relações Públicas do Brasil durante a crise sanitária da Covid-19. A mudança de formato das aulas presenciais para o ensino remoto desde março de 2020 acarretou um número considerável de problemas de ordem física e tecnológica relacionados ao ensino-aprendizagem e também à saúde dos professores, em parte decorrentes das regras impostas pelas Instituições de Ensino Superior (IES). A disseminação do coronavírus na população serviu para escancarar as mazelas da realidade brasileira, como a pobreza e a falta de recursos adequados para a área da saúde, aliadas a um sistema público de educação deficiente, revelando que a Covid-19 atinge a todos, embora os seus efeitos mais danosos afetem aqueles que vivem em condições de maior vulnerabilidade (SANTOS, 2020). Com a quarentena e o isolamento social impostos pelas prefeituras e estados, adotou-se o trabalho remoto virtual, que mudou a rotina de toda a população e, em especial, a dos professores, que tiveram que se adaptar às novas práticas, as quais se mostraram fatigantes na medida em que o trabalho, os afazeres domésticos, o cuidado dos filhos e de outros familiares ocasionaram uma sobreposição de papéis. Não obstante, verificamos, em sondagem realizada com docentes em 2020, que com o passar dos meses, o ensino remoto foi sendo aceito como algo ‘normal’ pelas escolas e IES, o que talvez ______________________ ¹Livre-docente, doutora e mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professora dos Programas de Pós-Graduação e de Graduação da ECA/USP e de universidades latino-americanas. E-mail: maferrar@usp.br ²Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA/ USP). E-mail: karina.barros@usp.br

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tenha sido um dos gatilhos que colaborou tanto para o processo de precarização das condições de trabalho, quanto do adoecimento físico e psicológico dos docentes (PONTES; ROSTAS, 2020). Neste capítulo, trataremos especificamente de docentes dos cursos de Relações Públicas do Brasil. Ferrari (2017), Ferrari, Martins e Theodoro (2019, 2020) e Ferrari, Martins e Barros (2020) já vêm pesquisando, há alguns anos, o perfil de coordenadores e docentes do referido curso tendo, a partir de 2020, iniciado uma série de sondagens para identificar as práticas de ensino-aprendizagem adotadas durante a pandemia, e para investigar o adoecimento como resultado das pressões sofridas pelas IES, do estresse causado pelas condições físicas e tecnológicas, e do isolamento social. Entendemos que, desde março de 2020, as aulas no formato remoto constituíam a única alternativa viável diante da crise sanitária que se alastrou pelo Brasil e pelo mundo; porém, estamos conscientes de que, em um futuro próximo, será necessário revisar as condições vigentes, uma vez que a somatória das dificuldades já identificadas por Ferrari, Martins e Barros (2020), tais como a falta de suporte psicológico a professores, a baixa qualidade no ensino (resultante da falta de planejamento de atividades em “meios digitais”), a sobrecarga de trabalho atribuído aos professores, o descontentamento dos estudantes e o acesso limitado (ou inexistente) dos estudantes às tecnologias necessárias requer uma análise à luz de novas metodologias de ensino-aprendizagem. O presente capítulo está dividido em sete seções: a primeira seção contextualiza o tema do ensino remoto nos cursos de Relações Públicas no Brasil durante a crise sanitária da Covid-19. A segunda seção detalha a adaptação das IES no contexto da pandemia. O mundo do trabalho e a formação em Relações Públicas é o tema da terceira seção, e a precarização do trabalho docente e adoecimento é abordada na quarta seção. A quinta seção explica os procedimentos metodológicos utilizados, seguida da sexta seção, que apresenta os resultados de duas sondagens realizadas durante a pandemia. Por último, as considerações finais expõem os pontos de vista das autoras. A adaptação das IES no contexto da pandemia As mudanças disruptivas já estavam em curso nas IES do Brasil antes mesmo da pandemia, e foram aceleradas no período da crise sanitária da Covid-19 (FERRARI; MARTINS; BARROS, 2020). É sabido que o ensino à distância (EaD) é uma modalidade que tem sido adotada desde a década de 1990, e que pressupõe a combinação de tecnologias convencionais e modernas que possibilitam o estudo individual ou em grupo, nos locais de trabalho ou fora, por meio de métodos de orientação e tutoria à distância, contando com atividades presenciais específicas, como reuniões do grupo para estudo e avaliação (LANDIM, 1097). Entre as possibilidades de ofertar o ensino via plataformas digitais, são comuns tanto os cursos totalmente online quanto os cursos híbridos, nos quais uma parte do ensino é realizado no ambiente virtual e outra, presencialmente (SUN; CHEN, 2016). 12


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Segundo Kaplan e Heanlein (2016), a prática do ensino à distância envolve planejamento e uso de estratégias de gerenciamento específicas, como a oferta de estrutura informacional adequada, o suporte técnico aos professores e estudantes, a elaboração de materiais didáticos adequados e a alocação dos conteúdos no ambiente virtual, aliadas ao apoio pedagógico aos estudantes e o treinamento contínuo dos professores em tecnologia. Ferrari, Martins e Theodoro (2019) argumentam que, sem a capacitação dos professores, espaço físico e equipamentos adequados e treinamento de funcionários para o apoio nas aulas, o ensino à distância se limita a ser uma ‘maquiagem’, e não consegue atingir seus objetivos. No atual contexto, dada a urgência da mudança de formato das aulas imposta pela crise sanitária da Covid-19, observamos que a adoção de procedimentos tomados de forma emergencial, acarretou o comprometimento da qualidade do ensino e a saúde dos docentes. Embora ainda não se possa evidenciar todas as decorrências do ensino remoto, as pesquisas realizadas (PNUD, 2020; UNESCO, 2020) têm revelado algumas implicações, como o baixo desempenho acadêmico dos estudantes e, consequentemente, o aumento da evasão escolar, a demissão de docentes pelas IES, o adoecimento dos professores que estiveram sobrecarregados pelas múltiplas atividades novas e pelos desafios de lidar com a tecnologia a fim de promover o ensino de qualidade. Mundo do trabalho e a formação em Relações Públicas Um exame das práticas de comunicação no mundo do trabalho revela que, inegavelmente, as

tecnologias de informação e comunicação (TICs) se tornaram facilitadoras dos processos de criação de significado para as pessoas (FERRARI; MARTINS; BARROS, 2020). Antes da crise sanitária, o cenário já havia obrigado os cursos de Relações Públicas a adotarem novas metodologias e ferramentas digitais para apoiar práticas pedagógicas diante do novo perfil do discente e da profissão (FERRARI, 2017). Observa-se que, no mundo do trabalho, a atividade de Relações Públicas tem se apropriado da tecnologia, principalmente para refinar instrumentos de inteligência e análise digital para evitar riscos, e com a finalidade de aproveitar oportunidades para organizar suas estratégias em um contexto de diálogo aberto em tempo real com os diferentes stakeholders. Por outro lado, quando observamos a formação do docente, verificamos que, historicamente,

sua formação é forjada em conteúdos oferecidos nos cursos de graduação (FERRARI, 2017), vistos como condição suficiente para que um estudante possa, no futuro, atuar como um professor de ensino superior, desconsiderando saberes pedagógicos como necessários para o exercício dessa função. É essa a realidade nos cursos de Relações Públicas, pois não há disciplinas de formação docente no nível de bacharelado e, na pós-graduação stricto sensu, também não se oferece qualificação específica para a docência, sendo mais valorizadas a pesquisa e a produtividade acadêmica nessa etapa de estudos (FERRARI, 2017). A contratação de bons profissionais para atuação como docentes nas IES não signi-

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Capítulo 1 - Implicações da crise sanitária na atividade dos docentes do curso de Relações Públicas: repercussões na educação, comunicação e saúde

fica que estejam adequadamente qualificados para o processo de ensino-aprendizagem (ZABALZA, 2020). Essa colocação pode ser complementada pela afirmação de Ferrari (2017, p. 131) que reconhece que “a docência sempre aparece como uma segunda atividade, e não como a profissão que confere identidade ao profissional”. Diante deste cenário, observamos que ainda são poucas as IES que promovem capacitação docente por meio de cursos específicos ou compartilhamento de experiências para o uso de práticas pedagógicas diferenciadas em sala de aula (MASETTO, 2018). Essa situação citada pelo autor também foi levantada na pesquisa com os professores de Relações Públicas (FERRARI, 2017). Uma análise do contexto do mundo do trabalho reclama uma reflexão sobre o atual momento, em que as condições de ensino-aprendizagem se veem fragilizadas pelo impacto do ensino remoto. Resultados de pesquisa de Ferrari, Martins e Barros (2020) mostraram que os docentes foram levados a reconfigurar os espaços de aprendizagem e os papéis desempenhados tanto por eles quanto pelos estudantes no contexto do ensino remoto. Sem dúvida, o cenário atual da educação superior pode ser descrito como altamente vulnerável, seja pelos escassos recursos destinados pelo Estado às IES públicas, seja pela inadimplência e desistência de estudantes nas IES privadas, uma vez que a evasão discente se elevou a 31,3% entre os meses de abril e maio de 2020 (SEMESP, 2020). Esta situação poderá culminar na diminuição da qualidade do ensino-aprendizagem, o que gerará, em um futuro não tão distante, uma inadequada formação dos jovens profissionais. Precarização do trabalho docente e adoecimento O distanciamento social e o isolamento têm gerado incertezas, instabilidades sociais e emocionais, alterando, significativamente, a vida do professor. A questão do adoecimento dos docentes pode ser examinada nas suas duas dimensões: a pessoal e a social. Na dimensão pessoal, o isolamento social ocasionou o afastamento de parentes e amigos, das costumeiras reuniões familiares, festas e encontros sociais, aumentando a insegurança, o medo e a solidão (SHOJAEI; MASOUMI, 2020). Na dimensão social, pesquisas demonstram que houve o aumento da violência doméstica contra a mulher e outros grupos fragilizados, uma vez que o isolamento obrigou a permanência da família dentro de casa. Além disso, exacerbou-se a vulnerabilidade das populações anteriormente marginalizadas, de migrantes e de moradores de rua (MARQUES et al., 2020; OKABAYASHI et al., 2020). Nesse contexto, é urgente tratar do tema da saúde física e mental, debilitada pelo isolamento social. Segundo Malvezzi, Hazin e Bizarro (2020, p. 4) para simplificar algo complexo, pode-se entender a saúde como

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a contínua adaptação do organismo ao seu ambiente. Em geral, nas diversas culturas, a saúde é tratada como um predicado, fala-se que o indivíduo tem ou não saúde, mas, na verdade, saúde é um movimento continuo de capacitação e de gestão da adaptação do organismo.

Segundo os autores, as rupturas diariamente manifestadas como decorrência da Covid-19 dificultam a convivência e diversos movimentos necessários ao agir adaptativo, aqui, particularmente, dos docentes. Os autores sugerem que “o isolamento, a perda do emprego, insegurança e particularismos que comprometem a saúde e a adaptação impedem as trocas comunitárias que sempre foram esteios insubstituíveis da sustentabilidade da vida e de seu desenvolvimento” (MALVEZZI; HAZIN; BIZAR-

RO, 2020, p. 4). Uma das consequências observadas é o estresse. Segundo Fidelis, Zille e Rezende (2020) as mudanças atuais ditadas pela crise sanitária da Covid-19 impuseram exigências físicas e mentais às pessoas, tendo como frequente consequência o estresse, que está relacionado aos aspectos fisiológicos, cognitivos, comportamentais e sociais, resultado das interações entre o meio sociocultural as características dos indivíduos. Os principais sintomas de estresse são: ansiedade, fadiga, irritação, pessimismo, alteração de sono, mudança de apetite, alteração do humor, dores na região cervical e ombros, e nervosismo acentuado, sem causa aparente. Esses sintomas são considerados clássicos do quadro de estresse ocupacional.

Procedimentos Metodológicos Em meio à pandemia da Covid-19, realizamos duas sondagens de caráter exploratório e de abordagem quantitativa, via online, junto aos docentes de cursos de Relações Públicas do Brasil. A primeira sondagem foi realizada entre os meses de março e abril de 2020, e teve como objetivos identificar as dificuldades dos docentes na adaptação do ensino presencial para o remoto e identificar as perspectivas para o período pós-pandemia. Para tanto, foi aplicado um questionário, tipo survey, com 22 questões, fechadas e abertas, que abordavam os seguintes temas: as dificuldades encontradas na adaptação das aulas para o ensino remoto, recursos e plataformas digitais utilizados pelos docentes, sentimentos e percepções dos professores sobre o ensino durante a pandemia e a opinião dos docentes em relação ao futuro do ensino. A segunda sondagem foi realizada nos meses de março e abril de 2021, um ano após o surgimento dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil, e teve como objetivo examinar as implicações do ensino remoto na saúde física e mental dos docentes de Relações Públicas durante o período de isolamento social e do ensino remoto. Foi aplicado um questionário online composto por dois blocos de questões: o primeiro bloco continha uma escala sobre a percepção de estresse (COHEN et al., 1983), e

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o segundo bloco contemplava a atuação profissional dos docentes no ambiente residencial, além de aspectos emocionais e físicos da saúde dos professores. Antes da aplicação das duas sondagens, foram realizados pré-testes dos questionários; em seguida, as sondagens foram disponibilizadas na plataforma Google Forms. Para o envio do questionário da primeira sondagem, foi elaborado um mailing com contatos dos docentes dos cursos de Relações Públicas do Brasil. Na segunda sondagem, o mailing anterior foi atualizado antes do envio do questionário. Após a aplicação, os resultados foram analisados com auxílio do software estatístico SPSS e do Microsoft Excel. As perguntas abertas foram categorizadas a partir de categorias definidas pelas pesquisadoras. Participaram da primeira sondagem 121 professores de cursos de Relações Públicas e a segunda contou com a adesão de 152 docentes. Os totais de questionários recebidos na primeira e na segunda sondagens se aproximam, respectivamente, a 40% e 50% do corpo docente de todos os cursos de Relações Públicas do Brasil, dado calculado segundo estimativa da pesquisa de Ferrari (2017).

Resultados e discussão Os participantes das duas sondagens apresentaram perfis parecidos, conforme pode ser visualizado na Tabela 1. Tabela 1 – Perfil dos participantes por sondagem

Sondagem Feminino Masculino Privada Tipos IES Pública Ambos Mínimo Idade Máximo Média Fonte: elaborado pelas autoras. Gênero

1ª Sondagem

2ª Sondagem

(n=121)

(n=152) 69,4% 30,6% 64,5% 35,5% 26 73 47,9

67,1% 32,9% 68,4% 28,3% 3,3% 26 72 46,6

Observamos que os resultados das duas sondagens se mostraram complementares. Por isso, foram analisados conjuntamente, a partir da definição de três eixos: Educação, Comunicação e Saúde. A discussão dos resultados de cada eixo está refletida nos tópicos a seguir. Educação Em meio à urgência do isolamento social necessário para conter a pandemia da Covid-19 e a consequente suspensão das aulas presenciais em março de 2020, as IES e os professores da educação básica ao ensino superior foram levados a organizar uma nova forma de ensino a fim de possibilitar a 16


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continuidade das aulas. Nesse sentido, foi implementado o ensino remoto, caracterizado pela aplicação de tecnologias e uso de ferramentas em tempo real (PIMENTA, 2020). Essa modalidade de ensino se diferencia do ensino à distância, pois este requer o planejamento de um projeto pedagógico, políticas de acesso, acompanhamento e avaliação para estudantes em lugares e tempos diferentes (MORAN, 2015), o que não foi possível com a repentina suspensão das aulas presenciais. Também se diferencia do ensino híbrido (blended learning), que combina momentos presenciais e à distância. Assim, já era esperado que surgissem dificuldades na adaptação das aulas presenciais aos meios digitais na implementação do ensino remoto.

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Entre os docentes dos cursos de Relações Públicas inquiridos, apenas 8% deles demonstraram confiança na adaptação do ensino presencial para o remoto. Esses docentes informaram que já estavam familiarizados com plataformas digitais no ensino antes da pandemia, e com isso se sentiram mais preparados para lidar com as possíveis dificuldades do ensino remoto. A maioria dos professores, 92% da amostra, no entanto, indicou ter dificuldades relacionadas a quatro aspectos, especificamente: o desconhecimento e adaptação ao uso de ferramentas digitais (54%); o desinteresse e posicionamento dos alunos quanto ao ensino remoto (24%); a atuação do docente no ambiente residencial (13%); e a falta de capacitação e/ou orientação dos docentes pelas IES (9%). Apesar das dificuldades com o uso das ferramentas digitais, 81% dos docentes recorreram a plataformas que não utilizavam nas aulas presenciais para o ensino remoto. As ferramentas mais utilizadas foram o Zoom (64,9%) e o Microsoft Teams (60,8%), conforme indica o Gráfico 1. Gráfico 1 – Ferramentas digitais utilizadas nas aulas remotas

Fonte: elaborado pelas autoras

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O resultado apresentado está relacionado ao recurso mais utilizado para as aulas no ensino remoto, uma vez que cerca de 85% dos professores interpelados recorreram às aulas ao vivo no período da pandemia, o que requer a utilização de plataformas digitais como o Zoom, o Microsoft Teams, o Google Meet, entre outras. Também foram utilizados vídeos, exercícios, textos e outros recursos para a continuidade das aulas, conforme apresentado no Gráfico 2. Gráfico 2 – Recursos utilizados nas aulas remotas

Fonte: elaborado pelas autoras.

Resultados da sondagem reforçam a ideia de que as tecnologias colaboram na otimização do ensino, e que cabe ao professor a função de ser o mediador do conhecimento. As tecnologias virtuais são eficazes no processo de ensino aprendizagem, principalmente de estudantes mais jovens (QUINTANILHA, 2017), que têm a vantagem de ser nativos digitais (PRENSKY, 2001). Entretanto, é importante o alerta de Fredric Litto no sentido de que “um erro comum é achar que basta gravar a aula do professor e transmiti-la online para fazer os alunos aprenderem” (IDOETA, 2020). Nesse sentido, foi necessária dedicação dos docentes para adequar seus conteúdos para a modalidade remota.

Docentes comentaram que, por um lado, preparar os materiais para o ensino remoto é interessante e gera satisfação; em contrapartida, a elaboração das aulas demanda tempo, e a qualidade da transmissão de conhecimentos requer esforço. Apesar do empenho dos docentes, o tema da equivalência da qualidade do ensino presencial e do ensino remoto apresentou divergências entre os respondentes. É interessante observar que os resultados da sondagem revelam que uma parcela dos docentes não conta com o ambiente adequado para ministrar aulas com qualidade em suas residências, 12,5% dos professores informaram que nunca ou quase nunca dispõem de infraestrutura adequada para o trabalho, como

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mobiliário, iluminação, ventilação, temperatura e sonoridade necessárias, e 20,4% dos docentes afirmaram que nunca ou quase nunca usufruem de um ambiente propicio para a concentração no trabalho. Em relação aos materiais e equipamentos necessários, como computador, acesso à Internet, impressora, papelaria, etc., 79,5% afirmaram que dispõem de materiais e equipamentos sempre ou quase sempre para a realização do trabalho remoto. Um dos docentes afirmou ter investido em equipamentos para poder atender às necessidades deste formato de aula remota: “tivemos que melhorar o sinal de Internet, adquirir equipamentos e realizar reformas para adequar minimamente o espaço doméstico ao trabalho”. A partir das diferentes vivências dos docentes com o ensino remoto, surgiram diversas preocupações com o futuro da educação, especificamente como decorrência da precarização do ensino e das demissões em massa de professores ocorridas entre 2020 e o momento da segunda sondagem. A adoção dos recursos online durante a pandemia possibilitou a concentração de alunos em uma mesma turma, uma vez que no ambiente digital não há limitações de infraestrutura, e é possível formar turmas com mais de 100 de estudantes por sala. O contraponto tem sido a precarização do ensino e as demissões de professores, como ocorreu no ano de 2020 em pelo menos três universidades da cidade de São Paulo (REIS; SANTIAGO, 2020). Comunicação A suspensão das aulas presenciais rompeu não só com os processos educacionais como também com a comunicação interpessoal entre os diversos indivíduos que vivenciavam e interagiam no ambiente das IES. Dentre as diferentes esferas de comunicação que ocorrem no espaço físico das IES, a sondagem mostrou que a comunicação entre as instâncias administrativas das IES e os docentes dos cursos de Relações Públicas, dos professores de Relações Públicas entre si, e entre docentes e alunos dos cursos de Relações Públicas foi altamente prejudicada. Esta defasagem da comunicação entre as IES e docentes foi associada à falta de capacitação para ministrar as aulas remotas, no âmbito tanto das tecnologias quanto das metodologias de ensinoaprendizagem específicas para essa modalidade. Docentes relataram que, durante a pandemia, o aprendizado do uso das tecnologias para o ensino remoto partiu, em grande parte, da curiosidade e iniciativa dos professores, e que não houve, em muitos casos, apoio das IES. As dificuldades na comunicação também são perceptíveis nos relatos dos docentes no âmbito das constantes mudanças das orientações das coordenações dos cursos, o que pode ser decorrente da ausência de políticas institucionais para o ensino remoto. Os professores apontaram a falta de posicionamentos coerentes das IES, uma vez que, como relatado, muitas das orientações fornecidas, estavam pautadas no modelo presencial. Além disso, os docentes assinalam que é insuficiente a atenção e cuidado por parte das IES, criticando as “comunicações robotizadas”, a pressão pela qualidade das aulas e o foco excessivo nos estudantes, em

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detrimento da saúde mental dos professores. Dentre os relatos, foram encontradas sugestões para a possível mitigação das dificuldades encontradas pelos docentes no ensino remoto e melhoria do relacionamento entre IES e docentes, como a disponibilização de uma equipe da área de Tecnologia da Informação (TI) das IES para apoiar no uso das ferramentas digitais, e a criação de espaços virtuais de convivência entre os docentes. Os espaços virtuais de convivência, conforme sugerido, poderiam contribuir para a troca de informações sobre experiências de fracasso e sucesso com o ensino remoto e também proporcionar um momento de partilha entre os professores. A falta de comunicação entre os docentes foi assinalada por participantes da sondagem como um aspecto negativo do ensino remoto. Como destacado por um docente, “os cafezinhos na entrada das aulas fazem muita falta”, uma vez que o espaço físico das IES propicia a convivência entre os docentes nos diversos ambientes. As reuniões virtuais de docentes também não estão contribuindo para a manutenção do relacionamento entre eles, uma vez que focam em temas de trabalho e não oferecem espaço para um momento para conversas pessoais e informais. Sobre o assunto, um dos docentes comentou que “as reuniões estão muito funcionalistas e pouco interativas”. Docentes também indicaram que “ficar na frente de uma tela, interagindo com outra pessoa é deprimente nesse contexto” e que “alunos e colegas estão muito tristes nos vídeos”. Apesar de todos os desafios da experiência com o ensino remoto, diversos professores demonstraram preocupação com os estudantes. Conforme destacado por um participante, as atividades de docência fazem com que o professor se distraia em meio à pandemia, enquanto os alunos não conseguem se manter motivados com o ensino remoto. A atitude desmotivada dos alunos em relação ao ensino remoto foi a segunda dificuldade mais frequente dentre os relatos dos professores (24%). Um professor destacou que “os alunos também se sentem exauridos. A animação nas aulas já não é mais a mesma. São sempre os mesmos que participam”. Relatos de docentes demonstraram que a ausência do contato com os alunos também constitui uma dificuldade. Conforme aponta um dos professores, “o distanciamento físico dos alunos, o contato olho no olho [...] fazem muita falta”. Outro docente ressaltou um sentimento de responsabilidade em relação aos alunos, afirmando que “apesar das minhas dificuldades, fico muito angustiada com as dificuldades e a ansiedade dos alunos. De certa forma, me sinto corresponsável”. Em especial, os docentes demonstraram preocupação em relação aos alunos ausentes das aulas remotas, e os resultados obtidos na sondagem revelam que 46% dos participantes tiveram conhecimento de estudantes que não tinham acesso à Internet, e que 31% receberam notificações de alunos que não tinham um computador para acompanhar as aulas. Esse resultado evidencia a exclusão digital existente, uma vez que apenas 12% das famílias nos países menos favorecidos têm acesso à Internet em casa (UNESCO, 2020). As diversas preocupações, além do intenso trabalho no ensino remoto, podem ter implicações na saúde física e mental dos docentes. Diante do medo do contágio pelo vírus da Covid-19, dos efeitos

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emocionais do isolamento social e das pressões do trabalho remoto, é urgente discutir o tema da saúde dos professores. Saúde Conforme destacado por Carlotto (2002, p. 21), “no exercício profissional da atividade docente encontram-se presentes diversos estressores psicossociais, alguns relacionados à natureza de suas funções, outros relacionados ao contexto institucional e social onde estas são exercidas”. Nesse sentido, a pandemia da Covid-19 agravou a situação da saúde mental dos docentes. Aguiar (2020, p. 64) afirma que “em um contexto de estresse e esgotamento, qualquer tipo de proposta de inovação didática tem poucas chances de sucesso”, o que explica a tendência da reprodução do ensino presencial no ensino remoto, principalmente por meio das aulas ao vivo. O adoecimento dos docentes dos cursos de Relações Públicas fica patente ao verificarmos que, desde o início da pandemia, 43,4% deles já procuraram algum tipo de atenção médica, psicológica ou psiquiátrica para tratamento de estresse ou ansiedade. Outros 15,2% dos participantes indicaram ter a intenção de buscar a ajuda de um profissional da saúde para tratar problemas de ordem psíquica, mas, por motivos financeiros e/ou pessoais, ainda não o fizeram. Os resultados mostram que mais da metade dos professores de Relações Públicas sentiram a necessidade de procurar apoio profissional para lidar com o esgotamento emocional sentido durante a pandemia, fato que deve ser levado em consideração pelas IES privadas e públicas. Diversos docentes comentaram que sessões de terapia com psicólogos foram extremamente importantes nesse período, inclusive para que pudessem continuar lecionando de forma remota. Um dos relatos demonstra os perigos e consequências do esgotamento: “hoje passei por um psiquiatra, terei que entrar na medição”. A partir da utilização da escala de estresse (COHEN et. al., 1983) para analisar as respostas dos docentes, definimos três níveis de percepção de estresse: alta, moderada e baixa. Para cada um dos níveis estabelecemos os sintomas característicos de percepção de estresse, segundo Zille e Nogueira (2020), sendo assim possível analisar as respostas. A baixa percepção indica que os docentes, na maioria do tempo, admitem não sentir nenhum sintoma fora da normalidade, com rara ocorrência de incidentes fora do controle. A média percepção é caracterizada pelo reconhecimento de sintomas frequentes de ansiedade, fadiga, irritação, pessimismo, dores na região cervical e ombros, nervosismo acentuado, mudança de apetite e de humor, entre outros. A alta percepção inclui as mesmas características da média percepção, porém de forma constante e mais severa, com necessidade de ajuda terapêutica. A sondagem identificou que grande parte dos docentes, 79,6%, indicaram ter uma percepção de estresse moderada. A Tabela 2 apresenta a porcentagem em cada um dos grupos. 21


Capítulo 1 - Implicações da crise sanitária na atividade dos docentes do curso de Relações Públicas: repercussões na educação, comunicação e saúde

Tabela 2 – Percepção de estresse pelos docentes de Relações Públicas Percepção de estresse Percepção de estresse baixa Percepção de estresse moderada Percepção de estresse alta Total

26 121 5 152

17,1% 79,6% 3,3% 100,0%

Fonte: elaborado pelas autoras.

Os resultados apontam que a situação vivida pelos docentes é preocupante. Acreditamos que cabe às IES avaliar o impacto que o ensino remoto tem no adoecimento dos professores, principalmente porque “os riscos criados pela Covid-19 aumentam a insegurança cognitiva e emocional”, conforme explicado por Malvezzi, Hazin e Bizarro (2020, p. 7). Além de alertar sobre as manifestações psicológicas, a sondagem também colheu resultados sobre a situação da saúde física dos professores desde o início da instalação da Covid-19 no Brasil. O ensino remoto gerou um aumento da incidência de problemas físicos causados pelas condições particulares do trabalho nessa modalidade. Verificamos que 44,0% dos professores afirmaram sentir dores constantes no corpo, e 21,1% apontaram sentir quase sempre dores ou desconfortos, o que pode estar associado ao uso de mobiliário inadequado, ou seja, sem características ergométricas, em suas casas. Os sintomas físicos manifestados podem estar relacionados com o tempo excessivo em que os docentes permanecem sentados para exercer as atividades de docência: 69,7% dos docentes afirmaram passar muitas horas do dia sentados no desempenho de seu trabalho remoto. Ou seja, a quantidade de horas sentados na mesma posição tem relação direta com as dores no corpo e problemas na coluna associados com o sedentarismo. Os resultados podem ser vistos na Tabela 3. Tabela 3 – Frequência de respostas sobre horas do dia em posição sentada Frequência de horas do dia em posição sentada no trabalho remoto Às vezes 13 8,6% Quase sempre 33 21,7% Sempre 106 69,7% Total 152 100,0% Fonte: elaborado pelas autoras.

Tanto o sedentarismo quanto o estado de saúde emocional dos professores têm implicação direta sobre o aumento de peso, como foi constatado nos resultados. Do total de professores arguidos, 48,0% registraram aumento do peso durante a pandemia. Um dos docentes relatou que consultou um nutricionista ao longo da pandemia para melhorar a alimentação.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

As inúmeras horas do dia que os docentes passam sentados são explicadas pela dedicação necessária para a elaboração das aulas e para lecionar no formato remoto. Segundo os resultados da sondagem, a preparação das aulas na modalidade de ensino remoto demanda mais tempo do que a preparação das aulas presenciais. Os resultados da primeira sondagem revelam que 61% dos participantes concordaram plenamente com o fato de que trabalhavam mais no desenvolvimento das aulas durante a pandemia do que na elaboração das aulas no ensino presencial. O tema foi abordado também na segunda sondagem, e o resultado obtido mostrou que 85,5% dos docentes estavam sempre ou quase sempre trabalhando mais horas com o ensino remoto durante a pandemia, conforme apresentado na Tabela 4. Tabela 4 – Frequência de respostas sobre o excesso de horas sentados Dedicação para o trabalho remoto em relação ao trabalho presencial Nunca 5 3,3% Quase nunca 5 3,3% Às vezes 12 7,9% Quase sempre 36 23,7% Sempre 94 61,8% Total 152 100,0% Fonte: elaborado pelas autoras.

Os resultados das duas sondagens revelam as dificuldades enfrentadas pelos professores diante da repentina suspensão das aulas presenciais e da introdução sem o planejamento adequado do trabalho remoto em decorrência da pandemia da Covid-19. Entretanto, um ano após a comprovação de casos de adoecimento de docentes de IES no Brasil, ainda não foram introduzidas medidas para reorganizar os processos educacionais no ensino remoto e para promover o desenvolvimento de comunicações mais humanizadas aos docentes e estudantes, nem se verificou a implantação de um sistema de atendimento à saúde física e mental dos professores. Conforme assinalado por um dos participantes: “medidas claras para o presente com vistas ao futuro estão sendo atropeladas”; a referida afirmação mostra que é urgente a atenção das instâncias administrativas superiores das IES junto ao seu capital intelectual mais importante que são os docentes. Considerações Finais A pandemia ainda está em evolução, e não há previsão de extinção. Os impactos sociais são imprevisíveis. Todas as pesquisas realizadas por acadêmicos e organizações sugerem que as atuais mudanças podem levar à perpetuação do ensino remoto na pós-pandemia. Entretanto, conforme as sondagens realizadas evidenciam, o ensino em formato remoto tem se mostrado insustentável a longo pra-

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Capítulo 1 - Implicações da crise sanitária na atividade dos docentes do curso de Relações Públicas: repercussões na educação, comunicação e saúde

zo, tanto do ponto de vista da qualidade do ensino-aprendizagem, quanto do ponto de vista da precariedade das condições de trabalho a que estão expostos os docentes. Neste momento de exceção, vários fatores estressantes continuam a gerar sofrimento, insegurança, ansiedade e medo, que podem desencadear doenças incapacitantes como a Síndrome de Burnout, dentre outras. Portanto, é urgente que as IES repensem o modelo acadêmico e sua gestão, com vistas a oferecer melhores condições de trabalho aos docentes. Paralelamente, é preciso avaliar o ensino em seus formatos remoto, híbrido e presencial no contexto da elaboração dos programas, conteúdos e metodologias de ensino, com o objetivo de formar jovens com espírito crítico. Tememos que, a menos que ocorram mudanças em nível institucional, a situação da saúde mental e física dos professores se agravará, o que, inevitavelmente, levará ao comprometimento do ensinoaprendizagem pós-pandemia. É essencial organizar e reorganizar as práticas de ensino e aprendizagem quantas vezes for preciso, e é necessário respeitar e reconhecer as falhas passadas e presentes, pois, afinal, tudo é um processo. Nesse sentido, proporcionar condições justas de trabalho aos professores é condição indispensável para a renovação e inovação do ensino que, por sua vez, será fundamental para o enfrentamento dos desafios do futuro da educação no Brasil. Os resultados obtidos nas sondagens demonstraram que educação, comunicação e saúde caminham juntas, e que não existe qualidade de ensino sem investimentos em capacitação, interação entre docentes e estudantes e cuidados com a saúde de todos os envolvidos. Concluímos o capítulo com a seguinte mensagem dos autores Malvezzi, Hazin e Bizarro (2020, p. 6): “a Covid-19 tem todos os predicados para seu reconhecimento como um novo reino sem território e sem rei. Analogamente, o controle sobre a revolução da Covid-19 requer a mobilização de toda a sociedade, com todas as suas forças”.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

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CAPÍTULO 2

Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento Fernanda Sagrilo Andres1 Valmor Rhoden2

Aspectos introdutórios O ano de 2020 trouxe muitos desafios, em todas as áreas, em função da emergência do novo coronavírus (Covid-19). Na Unipampa, as aulas, previstas para iniciarem no dia 16 de março daquele ano, não começaram na data originalmente planejada e aconteceram no formato remoto durante o segundo semestre de 2020. Ainda assim, o curso de Relações Públicas encontrou maneiras de se conectar com os seus públicos, em tempos de pandemia, no ano em que celebrou 10 anos de funcionamento. Os desafios continuaram durante o ano de 2021 – com a situação de mais mortes em função da pandemia no país e da ocupação das UTIs e número de infectados com a doença. Partindo da premissa de que “Relações Públicas é uma profissão que trabalha em comunicação, utilizando todos os seus veículos/instrumentos para administrar a relação da empresa com os seus públicos” (CESCA, 2012, p. 14), um grupo de professores do curso de Relações Públicas da Unipampa, do campus São Borja, pensou em um projeto de extensão universitária que pudesse ser aplicado na cidade, localizada na fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul (RS). Para tanto, foram respeitadas as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de demais autoridades da área da saúde. No referido contexto, surgiu a proposta da iniciativa Apoie SB, desenvolvida prioritariamente de modo remoto, com ações nas mídias sociais e nos meios tradicionais de comunicação da cidade. ____________________

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Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

Salienta-se que a sigla “SB”, escolhida para integrar o nome do projeto, é uma contração direta de São Borja, município em que o projeto está sendo realizado. O principal objetivo do projeto é levar informações essenciais para os públics de interesse. Nesse sentido, destacam-se os seguintes propósitos: (1) divulgar os produtos e serviços de pequenos negócios e de microempreendedores da cidade; (2) fomentar e contribuir com a economia local; (3) publicizar as ações sociais desenvolvidas por pessoas e empresas; (4) orientar sobre cuidados básicos de higiene e prevenção durante a pandemia de Covid-19; (5) desenvolver a ação social do curso de Relações Públicas; (6) possibilitar aos alunos uma atividade prática e social. O projeto aqui apresentado se dá de maneira participativa e colaborativa, com o envolvimento de professores e alunos do curso de Relações Públicas da Unipampa, bem como de pessoas da comunidade do município de São Borja. Este texto propõe a apresentação da iniciativa e de suas etapas e da mensuração dos principais resultados, além de uma reflexão sobre o papel da comunicação em tempos tão complexos, como a crise sanitária vivenciada coletivamente em 2020. Para resolver o problema proposto e apresentar o projeto desenvolvido, a metodologia adotada neste texto é a bibliográfica, amparada pelo trabalho com a pesquisa participante, tendo como base as definições teóricas de Brandão (1999) e Gil (2002). Propósitos do projeto O ano de 2020 começou de maneira diferente em todo o mundo, especialmente no que diz respeito à emergência da pandemia do novo coronavírus, ou Covid-19. Essa situação complexa gerou reflexos em todos os ambientes e áreas de atuação, alterou o modo de vida das comunidades e vem revelando diferentes perspectivas no que se refere à sobrevivência humana, bem como à maneira como nos relacionamos e trabalhamos. Em grande parte, isso se deve ao fato de que as vivências passaram a ser baseadas no isolamento social e na distância física. O campo da comunicação, que tem sua ação viabilizada por meio das tecnologias, assume papel primordial nesse cenário. Ocupa a “linha de frente” no combate às fake news relacionadas ao Covid-19, que se avolumam nas redes sociais, e na divulgação de informações sobre o avanço da pandemia. É a partir da comunicação que as medidas de restrição para evitar aglomerações, como a realização da quarentena e a manutenção do distanciamento social, tornaram-se públicas, assim como a disseminação de orientações norteadoras da prevenção, para esclarecimento sobre as formas de contágio da doença. Nesse ínterim, as reflexões acerca da importância da comunicação estratégica em projetos de mobilização social têm propiciado aos profissionais do campo das Relações Públicas desafios instigantes que não se referem apenas aos espaços ocupados na mídia e suas influências. São 30


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

situações que também propõem formas e princípios inovadores, que sejam capazes de contribuir para a formação, a ampliação e o fortalecimento de redes de relacionamento entre os públicos envolvidos e, principalmente, a potencialização de ações coletivas que venham a colaborar para o exercício da cidadania. As assessorias de comunicação podem trazer um auxílio fundamental em diversas situações da sociedade, isto é, “satisfazem necessidades comunicativas” (MARTINEZ, 2010, p. 14). Assim, observa-se a força da comunicação na mobilização social, que desperta, estimula, motiva e, sobretudo, mantém os sujeitos determinados e interessados em preservar o vínculo que os une a determinado projeto ou movimento. Corroborando essa linha de pensamento, o projeto aqui apresentado tem por base a estrutura de um planejamento de Relações Públicas, essencial para um trabalho eficaz na área (KUNSCH, 2016), e considerou a dinamicidade de um período de pandemia. Kunsch (2016, p. 13) ainda reforça que o “planejamento é um exercício com bases científicas e técnicas, não podendo ser visto como algo puramente mecânico ou uma fórmula de preparar planos”. Partimos do pressuposto de que planejar é um processo complexo, que envolve um modo de pensar e, principalmente, de questionar: o que fazer, como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde. Esse movimento gera o estabelecimento de um conjunto de atitudes a serem tomadas por todos os envolvidos e, também, pressupõe a necessidade de um processo decisório que ocorre antes, durante e depois de sua elaboração e implementação. Inicialmente, a equipe do projeto questionou-se sobre o que poderia ser feito para ajudar a sociedade local durante a crise sanitária e política. Tal questionamento gerou o movimento Apoie SB. O projeto nasceu da identificação da necessidade de auxiliar os pequenos negócios e os microempreendedores do município de São Borja a divulgarem seus trabalhos, numa perspectiva de Relações Públicas, “que é uma profissão que trabalha a comunicação, utilizando todos os seus veículos/instrumentos para administrar a relação da empresa com os seus públicos” (CESCA, 2012, p. 14). Com essa mentalidade, o curso de Relações Públicas da Unipampa tinha a expectativa de colaborar com a população, compartilhando informações, conhecimentos e auxílio a um setor da economia local bastante prejudicado em função da realidade do distanciamento social. A solução encontrada para tentar resolver a questão-problema foi divulgar, por meio de mídias digitais e tradicionais, negócios e profissionais da região, conscientizando a população para se engajar na causa. Nesse contexto, observa-se que o planejamento é uma das funções básicas para a prática profissional no gerenciamento da comunicação com os diversos públicos de interesse de organizações, projetos, serviços, entre outros (KUNSCH, 2016). A opção pelo recorte ser direcionado à cena de pequenos negócios e empreendedores está relacionada à necessidade de

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Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

manter a população perto de casa e fortalecer as micro e pequenas empresas, mantendo mais empregos e a economia local em funcionamento. A proposta., assim, encaixa-se no seguinte exposto:

Processos metodológicos A metodologia para a estruturação deste texto é a de pesquisa bibliográfica, que é amparada pela pesquisa participante na práxis do projeto aqui apresentado. Brandão (1999) e Gil (2002) afirmam que construir um projeto dessa natureza não é fácil. Isso porque, quando uma pessoa está inserida no grupo que vai ser investigado, como é o presente caso, certamente poderá enfrentar tantas variáveis que se tornará mais complexo delimitar com precisão o trabalho científico. Afinal, a pesquisa participante é um processo em que a comunidade se envolve na investigação e na análise da

própria realidade, com o objetivo de promover a transformação social. Muito embora tal dificuldade

metodológica

tenha

sido observada, optou-se por esse método, que ofereceu

flexibilidade à execução das ações do Apoie SB e, por conseguinte, oportunizou o alcance de resultados em forma de novas práticas e teorias. É importante também salientar a questão de que o projeto foi executado como uma ação de extensão universitária. Para a Unipampa (2015), a extensão assume o papel de promover a articulação entre a universidade e a sociedade, seja ao levar o conhecimento para além do ambiente de ensino, seja ao realimentar as práticas acadêmicas a partir dessa relação dialógica.

- Criação do conceito de identidade visual Após a reunião de briefing, foram desenvolvidos o naming, a marca e as ações estratégicas de comunicação do projeto. Assim, em um primeiro momento, os estudantes, orientados pelos docentes do Curso de Relações Públicas, criaram o conceito e o propósito da marca, que foi estabelecido a partir de pesquisas em livros, artigos e websites. Com embasamento e interação suficientes, os participantes realizaram a reunião de brainstorming, que possibilitou encontrar indícios para a estratégia criativa da marca, que acompanharia as demais peças de comunicação. Palavras, símbolos, movimentos, cores e atitudes relacionadas ao ato de colaboração foram lembrados. Nesse 32


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

sentido, as terminologias conscientização, sensibilização, mobilização, responsabilidade, adesão, preocupação, cooperação, cidadania, apoio, abraço e conforto foram discutidas pelo grupo. Assim, os signos e os seus significados foram explorados e avaliados e serviram para o esboço dos primeiros traços de criação da marca. Desse modo, o layout assumiu o seguinte conceito: em tempos de isolamento social, é importante cuidar de nós mesmos e das pessoas que estão ao nosso lado. Logo, desenvolveu-se uma marca que representasse o momento de pandemia e comunicasse que, ainda que os sujeitos estivessem em distanciamento social, conforme a orientação da OMS, o propósito do projeto seria o de abraçar a comunidade local. Sabe-se que a percepção visual facilita o entendimento da mensagem, colabora com a fixação dela por parte do consumidor e permite que este a interprete a partir da própria realidade. É um processo que desperta várias possibilidades de sensações e significados, o que pode gerar uma maior aproximação com o conteúdo anunciado. As cores, em tal contexto, são elementos de extrema importância. Nos campos do marketing e da comunicação, o estudo das cores “[...] permite conhecer sua potência psíquica e aplicá-la como poderoso fator de atração e sedução para identificar as mensagens publicitárias sob todas as formas” (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p. 2). Nessa perspectiva, as cores da identidade visual (Figura 1) fazem referência à marca do curso de Relações Públicas da Unipampa: laranja e azul, com a finalidade de gerar uma noção de proximidade com a comunidade local. Para complementar a composição, usou-se a cor roxa. Esta, em sua associação material, indica a aurora e o sonho; no aspecto afetivo, faz referência a elementos como fantasia, mistério, dignidade, justiça e delicadeza. Tal escolha foi pensada de modo que o logotipo do projeto também englobasse valores como segurança, dignidade e esperança. Figura 1 - Logotipo do projeto

Fonte: Apoie SB.

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Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

- Etapas do projeto Com o entendimento da situação, o Apoie SB foi planejado para ser desenvolvido em quatro etapas: (1) conscientização, (2) pesquisa, (3) divulgação e (4) qualificação. A primeira fase, conscientização, explorou mensagens sobre a importância do consumo consciente e da valorização dos pequenos negócios. Nessa etapa, foram empregadas as seguintes estratégias: (a) E-mail para o curso – professores e alunos do curso de Relações Públicas: como a proposta surgiu da coordenação do curso, entendeu-se a importância de saber quais professores e alunos gostariam de participar. Por isso, a ideia inicial foi enviada, e solicitou-se que os interessados pudessem se

manifestar e integrar todo o processo; (b) E-mail para a comunidade da Unipampa, campus São Borja: depois da primeira etapa concluída, foi enviado um e-mail para toda a comunidade acadêmica do campus São Borja da Unipampa (professores, técnicos e alunos) apresentando o projeto e fazendo apelo para que cada um, como consumidor, valorizasse as pessoas e as empresas que faziam parte do projeto; (c) Convite aos embaixadores: esta foi uma estratégia utilizada para estimular e gerar engajamento e repercussão nas estratégias de divulgação. Foram escolhidos alunos do Curso de Relações Públicas, um por turma, além de egressos do curso — bem como alguns jornalistas locais —, que foram convidados de modo personalizado, para que fossem os embaixadores; (d) Releases para as mídias tradicionais: a assessoria de imprensa foi

utilizada com o objetivo de dar mais visibilidade às ações do projeto e, principalmente, de despertar no espectador a importância de ele se tornar um consumidor de produtos e serviços de pessoas e empresas locais, ponto que foi um dos principais argumentos utilizados pelo projeto; (e)Criação de

mídias

digitais:

foram

lançados

perfis

nas

redes

sociais

Facebook3e Instagram4 (Figura 2 e Figura 3), para dar suporte ao alcance dos objetivos propostos. Nessas mídias digitais, divulgaram-se mensagens com tom educativo e de conscientização, com incentivo para que o consumidor local valorizasse os pequenos negócios da cidade; (f) Anúncios de conscientização: nos anúncios em jornais, assim como nas redes sociais, realizou-se compartilhamento de mensagens com tom educativo e de conscientização sobre os

objetivos do projeto.

____________________ Acesso em: https://www.facebook.com/apoiesb. Disponível em 22 de abril de 2021. Acesso em: https://www.instagram.com/apoiesb. Disponível em 22 de abril de 2021.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Figura 2 - Perfil do Facebook

Fonte: Apoie SB.

Figura 3 - Perfil no Instagram

Fonte: Apoie SB.

A segunda etapa da campanha, pesquisa, consistiu no levantamento da lista de pequenos negócios e microempreendedores, com posterior elaboração de um banco de dados com

profissionais e empresas do município. Ao todo, foram inscritos 150 participantes, divididos em 13 segmentos distintos, a partir de um formulário disponibilizado digitalmente (Figura 4). A saber, estas são as categorias: Alimentação, Bebidas, Agricultura, Artesanato, Beleza, Comunicação, Construção e Reforma , Decoração, Madeira e Móveis, Saúde e Bem-estar, Setor Metalmecânico, TelefoniaInternet e Veículos.

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Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

Figura 4 - Formulário para incentivar a participação no projeto

Fonte: Apoie SB.

O formulário ficou disponível durante sete dias, na segunda semana de abril de 2020, e foi aplicado de maneira virtual, a partir da ferramenta Google Forms. Tanto os próprios empresários puderam responder quanto os consumidores tiveram a oportunidade de indicar um negócio ou profissional de quem fossem clientes. Esse é um processo integrante da pesquisa, parte essencial de um projeto de comunicação que se configura como uma atividade multidisciplinar, complexa e multifacetada (LIMA, 2017). A partir das informações coletadas no questionário, deu-se sequência à fase seguinte. Na terceira etapa, divulgação, todas as informações coletadas foram analisadas, editadas e divulgadas nas plataformas do projeto, em grupos de redes sociais e nos meios de comunicação da cidade. A cada dia, três marcas ou pessoas do banco de dados receberam espaço para publicização. Essa divulgação (Figura 5) foi desenvolvida semanalmente, de segunda a sábado. Os domingos

foram reservados a dicas de saúde para empresas, empresários e consumidores.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Figura 5 - Divulgação de inscritos de diferentes segmentos no projeto Apoie SB

Fonte: Apoie SB.

A quarta etapa, qualificação, consistiu em orientações para empresas, com a publicação de dicas sobre saúde, segurança e higiene, comunicação e estratégias de mídias sociais e alternativas para o

momento. Nessa etapa, foram empregadas as

seguintes estratégias: (a) Orientações

personalizadas: aquelas empresas e profissionais que se mostraram interessados receberam, dos professores da Unipampa, orientações quanto à produção de conteúdo digital e e-commerce; (b) Criação de grupo: foi lançado um grupo em aplicativo de mensagens (WhatsApp), com convite para os inscritos (Figura 6), a fim de que houvesse uma troca mais efetiva do projeto com os participantes e estes contassem com um canal de comunicação direto. No final do projeto, os integrantes agradeceram aos organizadores pelo trabalho; (c) Produção de vídeos: foram elaborados vídeos de suporte técnico e conceitual com temáticas que, de alguma forma, fossem de interesse dos inscritos. A temática do novo coronavírus foi tratada durante vários dias, com perguntas dos inscritos respondidas pela coordenadora de Vigilância em Saúde de São Borja, Manoela Malgarim. Além disso, o gestor de marketing Gelson Campos também fez um vídeo orientado para estratégias de vendas e oportunidades de negócios para empresas e empreendedores (Figura 7); (d) Desenvolvimento de

lives: o projeto ainda participou de lives para expor o trabalho desenvolvido e abordar o papel da área de Relações Públicas em tempos de pandemia.

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Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

Figura 6 - Print de agradecimentos recebidos pelo aplicativo WhatsApp

Fonte: Apoie SB.

Figura 7 - Participação do gestor de marketing Gelson Campos em ação do projeto

Fonte: Apoie SB.

O projeto previa seu encerramento, depois de três meses de trabalho, entre abril e junho de 2020, caracterizando-se como uma ação de extensão universitária realizada na comunidade em que o curso de Relações Públicas da Unipampa está inserido, o município de São Borja. No entanto, houve a solicitação do público para que o trabalho não fosse finalizado. Além do mais, o projeto 38


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

recebeu moção de aplausos da Câmara de Vereadores de São Borja e premiado como destaque, na categoria Extensão, no 12º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE 2020), evento itinerante anual promovido pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Com o resultado da premiação, o projeto conquistou uma bolsa discente para dar seguimento aos trabalhos durante o ano de 2021. Portanto, uma continuidade ao projeto por mais um ano. Ações do projeto no ano de 2021 Em 2021 com apenas uma bolsista no projeto – as ações foram redimensionadas. Em termos de mídias – continuam sendo utilizadas as mesmas do ano passado, pois deram resultado muito positivo. Na sequência descrevemos as ações para este ano, algumas já iniciadas: Inscrições para novos profissionais, informais e micro e pequenas empresas Foi possibilitado que novos interessados pudessem se inscrever no projeto e serem beneficiados com as ações do projeto, como mostra a figura abaixo. Figura 8 - Formulário de novos inscritos

Fonte: Apoie SB.

Como resultado, mais 48 inscrições, dos segmentos: artesanato, moda, beleza, produtos e serviços, alimentos, hortifruti, bebidas, vestuário, saúde, assistência técnica e confeitaria.

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Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

Parceria com o curso de Publicidade e Propaganda Os alunos do componente curricular de Projeto Experimental em Publicidade e Propaganda — 8º Semestre, juntamente com os professores Sara Feitosa e João Antônio Gomes Pereira, produziram conteúdo que resultou em postagens nas redes sociais do projeto — com dicas e divulgações voltadas para a comunidade em geral e informações de como utilizar aplicativos para melhorar a qualidade de vida (levando em conta o isolamento social, que as pessoas pudessem fazer isso de casa), bem como alguns de auxílio para os pequenos negócios. Palestras temáticas A ideia é periodicamente trazer palestrantes que possam abordar assuntos de interesse dos inscritos. Esta interação acontece no grupo de Whatsapp com os mesmos. Em abril, foi realizada uma palestra sobre a temática da gestão de redes sociais. A proposta é ter pelo menos uma palestra por mês com especialistas em de áreas que tragam conhecimentos úteis para os inscritos. Figura 9 - Palestra sobre gerenciamento de mídias sociais

Fonte: Apoie SB.

Divulgação A proposta de divulgação deste ano contempla postagens nas mídias digitais com cada inscrito nas redes sociais do projeto, além de grupos do município que têm bastante visibilidade, ancoradas pela assessoria de imprensa com releases e entrevistas em emissoras de rádio. No final do projeto – será também elaborada uma lista geral com divulgação para possibilitar a busca.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Consultorias personalizadas Uma das ações realizadas ainda no mês de abril foi uma parceria do projeto com o SENAC São Borja. Com isso, foi possível ter um trabalho de consultoria dirigido aos inscritos — que vai auxiliar os participantes em demandas específicas, para que possam ter uma eficácia maior. As principais áreas contempladas serão: gerenciamento de mídias sociais e gestão financeira. Por mês, devem ser atendidos, quatro inscritos com este suporte didático e estratégico. Mensuração dos resultados Devido à gravidade da situação da pandemia, é válido aqui recordar a fala de Peruzzo (2007, p.

46), que defende que a “situação desigual e de injustiça social é consequência do modelo de desenvolvimento adotado e das estratégias implementadas para concretizá-las”. Entendendo essa perspectiva, salienta-se que os resultados obtidos e divulgados no presente texto têm a perspectiva de auxiliar um segmento da sociedade fortemente afetado pela pandemia provocada pela Covid-19. Para a síntese do entendimento do projeto, a análise foi separada em diferentes categorias. - Anúncios em jornais impressos Por meio de parceria com os dois únicos jornais da cidade, Folha de São Borja e O Regional, foram negociados espaços semanais de anúncios, durante os meses de abril e julho. Ao todo, foram 17 inserções, totalizando uma mídia gratuita de R$ 9.402,00. - Mídia gratuita nos jornais impressos O trabalho de assessoria de imprensa compreendeu o envio de seis releases do projeto aos meios de comunicação locais. Foram alcançadas quatro publicações, sendo uma na coluna digital (Cidades) do Correio do Povo, jornal de abrangência estadual, e duas nos jornais locais, totalizando um valor de R$ 1.720,00 em mídia gratuita. - Entrevistas em emissoras de rádio O projeto conseguiu entrevistas em diferentes programas e horários nas principais emissoras

de rádio locais. Integrantes do projeto foram ouvidos pelas seguintes redes e suas respectivas atrações: Rádio Butuí FM (Hora 7), Fronteira FM (Atualidades), Cultura AM (Gente é Notícia) e Líder FM (Show da Manhã). Ao total, foram cerca de duas horas de divulgação. Durante o ano de 2021 esta ação também terá continuidade. - Veiculação de spots Foram veiculados spots em três emissoras de rádio locais, sendo duas comerciais e uma comunitária. A saber, foram estas as emissoras: Fronteira FM e Cultura AM, comerciais, e Butuí FM, 41


Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

comunitária. Cada spot teve 30 segundos e contou com assinatura personalizada de apoio das emissoras. Ao todo, foram cerca de seis inserções diárias em cada rádio, totalizando 18 por dia, durante um período de 40 dias, o que equivale a 720 inserções nas emissoras locais, representando cerca de R$ 7.200,00 em mídia gratuita até o momento. - Mídias sociais O projeto teve a criação de perfis em duas redes sociais, Facebook e Instagram. A fanpage, no Facebook, atualmente conta com 1.714 curtidas. Por meio dela, são veiculados todos os cards individuais, dicas, vídeos e informações do projeto. Ao todo, foram feitas 153 publicações até o momento, com alcance muito maior que o Instagram. O resumo das principais informações do público são: 1.714 curtidas, a maioria pessoas de São Borja, entre 25 e 34 anos, sendo 78% de mulheres e 22% de homens. Já o perfil do Instagram alcançou cerca de 600 seguidores. Nessa rede social, são veiculados todos os cards individuais, dicas, vídeos e informações do projeto. Ao todo, foram feitas até o momento 168 publicações. O resumo das principais informações do público são estes: 80% do público é de São Borja, a maioria entre 25 e 34 anos, sendo 76% de mulheres e 24% homens. Todo o material publicado nas redes sociais também foi enviado para a lista de contatos dos dez principais grupos do Facebook da cidade, ampliando o acesso às ações de divulgação do projeto e compartilhado no grupo de Whatsapp dos inscritos. - Outros espaços alcançados Como o Apoie SB foi registrado na Pró-Reitoria de Extensão da Unipampa, assumiu o caráter de um projeto institucional. Em função disso, o site Coronavírus5 veiculou informações da iniciativa. O site institucional da Unipampa6 também veiculou os informes das etapas realizadas, o que também se repetiu nos meios digitais do curso de Relações Públicas da instituição (site7, Facebook8 e Instagram9).

Apontamentos finais O principal resultado obtido, até o momento, foi o incentivo à movimentação de diversos setores da economia local, provocando-os a se reinventar. Para isso, o projeto de extensão

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

universitário aqui apresentado, Apoie SB, mostrou-se como ponto de apoio, com o suporte de docentes e alunos dispostos a dedicar conhecimento e tempo para melhorar o cenário que a pandemia estava gerando na vida de pequenos negócios e microempreendedores. Foi uma proposta pioneira na cidade no período, tornando-se inclusive referência para outras iniciativas complementares de diferentes áreas, desenvolvidas posteriormente. É importante salientar que o projeto foi idealizado e realizado totalmente no formato remoto, ou seja, fazendo uso das tecnologias digitais. Como reforça Dreyer, as Relações Públicas, estão atreladas, no século XXI, “[...] às tecnologias de comunicação; devendo suas estratégias ou seus modelos de comunicação ser elaborados também com base no potencial de uso dessas tecnologias” (2017, p. 152). Nesse sentido, foi uma prática que trouxe, para os acadêmicos que participaram da iniciativa, uma excelente simulação de mercado, sendo totalmente executada no ambiente digital e com resultados tangíveis e importantes para a comunidade. As ações de Relações Públicas são essenciais às estratégias de marcas e produtos, ainda mais em tempos difíceis, como os de uma pandemia. Kunsch (2007, p. 107) reforça que as “relações públicas comunitárias são um trabalho comprometido com os interesses dos segmentos sociais organizados ou com o interesse público”. A ação do profissional da área como incentivador de uma atuação interativa nas comunidades, mais do que simples transmissor de saberes apreendidos na universidade, corrobora a visão Kunsch e Kunsch (2007), para quem as estratégias de Relações Públicas são utilizadas para demandas de uma parcela da comunidade. Kunsch (2007, p. 107) ainda complementa que as “relações públicas comunitárias são um trabalho comprometido com os interesses dos segmentos sociais organizados ou com o interesse público”. Sob essa perspectiva, o projeto se preocupou em atuar em duas frentes na questão da comunicação: compilar conteúdo de todos os inscritos e divulgá-los em diferentes meios e plataformas e trabalhar com o consumidor local, para que este valorizasse a economia da sua região. E justamente um dos grandes desafios do projeto apresentado neste artigo foi mudar a percepção da população, de modo a valorizar o pequeno comércio e os empreendedores de São Borja. Para tanto, ao longo do processo, a ajuda de outros profissionais da Comunicação, aliados aos das Relações Públicas, foi fundamental. Entendemos que a iniciativa se mostrou como uma forma de o curso de Relações Públicas da Unipampa oferecer sua contribuição para a comunidade local num momento difícil. Nesse sentido, o trabalho teve relevância social, corroborando o pensamento de Andrade (2003), para quem as Relações Públicas são como agentes para o bom funcionamento de uma ação ou projeto na busca pela cidadania. Por meio de um projeto de extensão universitária, o curso assim exerceu uma de suas principais funções formadoras, beneficiando uma parcela da comunidade com o

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Capítulo 2 - Apoie SB: Relações Públicas aproximando públicos em tempos de distanciamento

conhecimento e a ação

acadêmica, auxiliando para que o giro financeiro estimulasse e

valorizasse as pessoas e empresas do município de São Borja, sede de um dos campi da instituição de ensino. Ao todo, foram produzidos seis releases, com estes objetivos: (1) apresentar o projeto, (2) chamar a população para inscrições e (3) publicar o resultado de inscritos e estimular os consumidores para o consumo de produtos e serviços locais e apresentar a nova etapa do projeto para 2021. Como resultado, o projeto gerou mais de R$ 20 mil em mídia espontânea/gratuita, impactando mais de 20 mil pessoas, direta e indiretamente, com suas ações e estratégias. Não foi feito um levantamento formal de indicadores de percentual do auxílio, mas,em consulta aos inscritos — por meio do grupo do aplicativo de troca de mensagens —,percebeuse que o projeto teve influência positiva sobre a percepção de vendas dos participantes e também o interesse em continuar participando do segundo ano. Observou-se ainda a melhoria da visibilidade de muitos profissionais que, antes do projeto, sequer usavam redes sociais e, após a iniciativa, começaram a utilizar esses recursos de maneira mais sistemática, como estratégia de divulgação e de negócios, e também a incorporar práticas veiculadas pelas mídias sociais do Apoie SB. O impacto positivo do projeto foi reforçado, ainda, por um reconhecimento externo, vindo do poder público municipal. A Câmara de Vereadores de São Borja aprovou, por unanimidade, uma Moção de Aplausos ao Apoie SB, devido à relevância da iniciativa, q u e d e u suporte a diversos integrantes do comércio local. Além da valorização institucional, tendo recebido o prêmio destaque de projeto de extensão e, com isso, tendo obtido uma bolsa para o desenvolvimento do mesmo durante o ano de 2021. Por fim, conclui-se, a partir dos processos aqui apresentados, que as Relações Públicas são fundamentais em qualquer momento e podem ser o diferencial para empresas e pessoas. Pode-se dizer, inclusive, que este foi o grande destaque do projeto: a participação de professores e alunos, todos de maneira voluntária, impactou a vida de ao menos uma centena de pequenos empreendedores locais, pessoas físicas e jurídicas. Nesse ínterim, resgatamos Peruzzo (2007, p. 57), que afirma: “a sociedade civil também parece assumir seu papel histórico de não apenas esperar que o Estado atenda suas necessidades”. Assim, compreende-se que o projeto Apoie SB tomou a forma de um elo que mostrou as possibilidades que as Relações Públicas podem oferecer à sociedade em momentos de crise, como a pandemia do novo coronavírus.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Referências bibliográficas Almansa Martineza, A. (2020). Assessorias de comunicação. Tradução: Andreia Atahydes. São Caetano do Sul: Difusão Editora. Andrade, C. T. S. (2003). Curso de relações públicas: Relações com os diferentes públicos.(6. ed.). São Paulo: Pioneira. Brandão, C. R. (Org.). (1999). Pesquisa participante. (18. ed.). São Paulo: Brasiliense.Cesca, C. G. G. (2012). Relações públicas para iniciantes. São Paulo: Summus, 2012. Dreyer, B. M. (2017). Relações públicas na contemporaneidade: Contexto, modelos e estratégias. São Paulo: Summus. Farina, M.; Perez, C.; Bastos, D. (2006). Psicodinâmica das cores em comunicação. (5. ed.rev. e ampl.). São Paulo: Edgar Blücher. Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. (4. ed.). São Paulo: Atlas. Kunsch, M. M. K. (2016). Planejamento de relações públicas na comunicação integrada.São Paulo: Summus. Kunsch, M. M. K.; Kunsch; W. L. (Org). (2007). Relações públicas comunitárias: A comunicação em uma perspectiva dialogada e transformadora. São Paulo: Summus. Kunsch; W. L. (2007). Resgate histórico das relações públicas comunitárias no Brasil. In Kunsch, M. M. K.; Kunsch; W. L. (Org.), Relações públicas comunitárias: A comunicação em uma perspectiva dialogada e transformadora. (pp. 107-123). São Paulo: Summus. Lima, A. (2017). Pesquisas de opinião pública: Teoria, práticas e estudos de caso. São Paulo: Novatec Editora. Liss, J. (2010). Gestão de grupos comunitários: As bases da comunicação ecológica. São Paulo: Summus. Peruzzo, C. M. K. (2003). Da observação participante à pesquisa: Ação em comunicação: Pressupostos epistemológicos e metodológicos. Anais do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 26. São Paulo: Intercom. Recuperado de http://www.intercom.org.br/papers/ nacionais/2003/www/pdf/2003_COLOQUIO_peruzzo.pdf Peruzzo, C. M. K. (2007). Cidadania, comunicação e desenvolvimento social. In Kunsch, M. M. K.; Kunsch, W. L. (Org.), Relações públicas comunitárias: A comunicação em uma perspectiva dialogada e transformadora. (p. 45-58). São Paulo: Summus. Unipampa. (2015). Normas para as atividades de extensão e cultura. Resolução nº 104, de 27 de agosto de 2015. Recuperado de https://sites.unipampa.edu.br/proext/files/2015/05/res-104_2015-normas-de-extensao-e-cultura.pdf

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CAPÍTULO 3 A Educação em saúde indígena: uma análise da Comunicação da Secretária Especial de Saúde Indígena nas mídias digitais frente à pandemia da Covid-19 José Augusto dos Santos Magalhães1 Jessica de Cássia Rossi2

Introdução A realização de uma comunicação assertiva tem se tornado fator essencial na esfera pública na contemporaneidade, pois pode promover interações mais equilibradas, abertas e transparentes entre organizações e públicos de interesse. Ela tem o papel de promover ações voltadas para a manutenção da democracia, cidadania e atendimento dos interesses coletivos.

A comunicação pública é “[...] um processo comunicativo que se instaura entre o Estado, o governo e a sociedade com o objetivo de informar para a construção da cidadania” (BRANDÃO, 2012, p. 9). Estabelecer um relacionamento que garanta a educação eficaz frente a seu público tem sido um desafio atualmente. O crescimento acelerado da comunicação nas mídias sociais digitais tem possibilitado proximidade e dinâmica entre as organizações governamentais e os públicos estratégicos. Porém, tal conexão não garante a efetividade de um diálogo que promova a educação e atenda às demandas da população em geral. A agilidade e a quantidade de informações disponíveis favorecem um ambiente superficial de conhecimento, propiciando que seus usuários não tenham interesse em compreender de forma mais

profunda os temas abordados, uma vez que a rapidez diante do acesso aos dados leva o público a se comunicar por diferentes meios digitais. Na esfera pública, o desafio de despertar o interesse em rela______________________ Coordenador Geral de Extensão do Centro Universitário Sagrado Coração – UNISAGRADO de Bauru/ SP. Aluno Especial do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP- Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design - FAAC- Campus de Bauru. E-mail: joseaugustomagalhaes@hotmail.com Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Marília). Docente dos cursos de comunicação do Centro Universitário do Sagrado Coração de Bauru/SP (UNISAGRADO) e da Faculdade Eduvale de Avaré/SP. E-mail: jessicacrossi@yahoo.com.br

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Capítulo 3 - A educação em saúde indígena: uma análise da Comunicação da Secretária Especial de Saúde Indígena nas mídias digitais frente à pandemia da Covid-19

ção à educação de saúde é ainda mais visível, pois existem questões que merecem tratamento e atenção exclusivas da população, por terem impacto em diferentes segmentos sociais. Assim, as questões relacionadas à saúde são fundamentais diante deste contexto, pois tanto a educação na área da saúde quanto tratamentos e orientações dos mais diversos tipos, irão se relacionar e necessitar de uma comunicação que garanta a eficácia nos seus objetivos. A comunicação pública ganha espaço nesse cenário em virtude da atual necessidade de transmitir informações de forma a garantir confiabilidade e efetividade das ações junto à população, as mídias digitais se tornam fundamentais para essa viabilização, porque sua rápida conexão facilita a interação e a troca de informações. Dessa forma, é possível identificar que a comunicação também exerce o importante papel de educar, de forma dialógica e participativa, que promove maior autonomia do indivíduo, favorecendo mudanças benéficas em relação a sua saúde. A atual pandemia da Covid-19 evidenciou e acelerou a necessidade da comunicação estar direcionada, ainda mais, para a educação de seus públicos que precisam das ações realizadas pelo órgão governamental de forma a garantir sua qualidade de vida. A comunidade indígena, em virtude de sua grande distribuição no território nacional, recebe o conteúdo por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), vinculada ao Ministério da Saúde e especialmente pelo seu canal do Youtube, em que são criados e disponibilizados os conteúdos para os indígenas. Nesse sentido, levantou-se o seguinte problema: Como ocorre a educação em saúde acerca da Covid-19 promovida pela SESAI com os indígenas por meio do seu canal no Youtube sob a perspectiva da Comunicação Pública? Para tanto, optamos, pela realização da pesquisa bibliográfica para o levantamento de informações e aportes teóricos que contribuíram para fundamentar o trabalho como a situação da educação em saúde e a comunidade indígena no Brasil. Na sequência, foi realizada pesquisa documental sobre materiais e informações disponíveis no site da SESAI e em seu canal no Youtube sobre a atuação do órgão e as temáticas abordadas na plataforma sobre a saúde da população indígena em relação à pandemia da Covid-19.

Os Indígenas Brasileiros No Brasil, atualmente, de acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a população indígena é a que mais cresceu entre as décadas de 1990 a 2010, consequência de suas várias formas de organização, ampla distribuição geográfica e pluralidade de línguas, o que também dificulta, muitas vezes, sua unidade em torno do território nacional. Diante dessa realidade, é possível identificar que a população indígena, frequentemente, se encontra na necessidade de se adaptar ou se adequar a uma realidade imposta diante de sua cultura ou padrões de comportamento (NASCIMENTO et al., 2018).

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Desde a década de 1980, a atenção e protagonismo relacionados à população indígena vêm se consolidando em relação à exigência e a permanência de maiores direitos, frente às reivindicações sociopolíticas. A população indígena vem se organizando a fim de possuir uma representatividade mais sólida e mudanças em relação às suas necessidades com uma única identidade nacional. Neves (2003) destaca que, desde que as primeiras assembleias indígenas foram realizadas, o seu número vem aumentando, pois a própria população entende a necessidade de maior unidade para eficácia de suas ações. No Brasil, historicamente, sua principal causa sempre foi ligada aos direitos às terras e aos recursos naturais, relacionado a constante defesa de uma maior autonomia perante o Estado. A Constituição de 1988 destaca a proteção dos indígenas e garantia de seus interesses, essencialmente a proteção de suas terras, assegurando a sua utilização bem como pleno desenvolvimento. Em seu artigo 231, a Constituição regulamenta que: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens” (BRASIL, 1988, Art. 231). Assim, com a Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967 (BRASIL, 1967), foi criado um órgão indigenista oficial do governo brasileiro, vinculado ao Ministério da Justiça, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O objetivo do órgão é atuar na proteção dos direitos indígenas de forma a acompanhar suas atividades, bem como zelar pelo pleno desenvolvimento étnico e cultural, incluindo a proteção territorial e demarcação de terras e incentivar um Etnodesenvolvimento , orientando e consolidando suas organizações nas aldeias. Vale destacar o importante papel articulador da FUNAI, pautado na garantia do acesso à educação, aos direitos sociais e de cidadania, por meio de um constante monitoramento das políticas direcionadas à saúde e educação escolar indígena, promovendo e fomentando o apoio à participação social dos povos indígenas. Dessa forma, é importante destacar a influência da instituição no território nacional, como agente articulador entre o órgão federativo e às questões relacionadas à população indígena. Isso porque suas demandas são diversas, como demarcação de território, educação e inclusão, até aspectos direcionados à saúde, como condições de atendimento e suporte básico emergencial. Diante dessa realidade, destaca-se a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), implantada em 2010 e vinculada ao Ministério da Saúde. Pela sua característica e força de origem, as ações em relação à saúde indígena, por parte da SESAI, se direcionam em levar ações de construção, saneamento básico e ambiental para as áreas ______________________ Etnodesenvolvimento: caracteriza-se pelo desenvolvimento sustentável, relacionado ao protagonismo e participação dos povos indígenas, com maior autodeterminação considerando as diferenças culturais existentes.

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Capítulo 3 - A educação em saúde indígena: uma análise da Comunicação da Secretária Especial de Saúde Indígena nas mídias digitais frente à pandemia da Covid-19

indígenas sendo o seu foco a conservação das fontes de água limpa, instalação e manutenção de poços para captação nas comunidades sem água potável, além de controle de poluição de nascentes e gerenciamento da destinação final do lixo gerado. Saúde Indígena Educação e Comunicação Atualmente, as questões relacionadas à saúde indígena, além da organização e articulação por parte da SESAI, encontram ainda a necessidade de maior desenvolvimento e alcance. Isso se deve ao fato de que a grande extensão da população indígena no território nacional e sua plurali-

dade de línguas e culturas são desafiadoras em relação à sensibilização e apoio do próprio povo sobre práticas que garantam maior qualidade de vida no que tange a cuidados coletivos e individuais. De acordo com o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), existem mais de 800 mil indivíduos em todo o território, de forma que sua divisão representa um grande desafio em relação à implementação e acompanhamento da efetividade de políticas públicas. A constituição brasileira assegura igualdade, acesso e garantia às práticas de saúde para toda a comunidade indígena, de forma que não ocorra qualquer tipo de discriminação , de modo que possa existir um alto padrão de qualidade quanto à utilização dos serviços públicos. Wenczenovicz (2018, p.70) afirma que: A sociedade passou a ver o direito à saúde como grupo dotado de direitos e valores a serem respeitados e garantidos. O resultado dessa nova postura trouxe ao Estado a responsabilidade de oferecer condições mínimas de vida e de sobrevivência a todos sem distinção, elevando a responsabilidade do Estado como garantidor de direitos fundamentais, especialmente do direito à saúde.

As políticas públicas relacionadas à saúde da população indígena são também consideradas um direito universal. Foi necessária a criação de órgãos que pudessem auxiliar da garantia de tais direitos, como a Lei nº 9.836/99 de 23 de setembro de 1999 (BRASIL, 1999). O instrumento jurídico instala o Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, de forma a desenvolver uma rede composta por

Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIS) que se comprometem a destinar serviços nas terras indígenas para prestar atendimento à população, tendo como base critérios culturais, demográficos e geográficos. Em sintonia com o Sistema Único de Saúde (SUS), o grande diferencial deste subsistema foi considerar a participação indígena de forma protagonista como um elemento fundamental para o melhor planejamento e controle dos serviços, e consequentemente consolidando a autodeterminação da população indígena.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Nesse sentido, é importante destacar que, para que tais políticas encontrem efetividade em suas ações, a educação em saúde deve estar presente desde a concepção das atividades até sua implementação e realização. A necessidade de que a comunicação seja de forma clara e objetiva se torna cada vez mais fator indispensável na sociedade, já que as mais diversas relações e interações sociais necessitam de um processo constante, o qual garanta que os indivíduos possam estabelecer relacionamentos com seus públicos de forma clara e objetiva, que assegure o sucesso na propagação de informações e das ações educacionais. Vale destacar o rápido desenvolvimento tecnológico associado aos meios de comunicação de massa, criando e oportunizando um dinamismo na sociedade, nesse sentido, a comunicação se torna uma importante ferramenta associada a uma sensibilização em relação aos direitos à educação e saúde. Rocha (2003) destaca que a comunicação relacionada à saúde tem cada vez mais deixado o papel de apenas informar, mas considera os envolvimentos dos públicos neste processo. A educação e sensibilização sobre saúde, diante desse cenário, destacam-se em relação ao interesse público ligado diretamente às ações que contribuem para que as políticas de saúde possam ser desenvolvidas de maneira frequente e eficaz. Sua finalidade é fazer com que o acesso aos serviços públicos ocorra de forma mais prática e fácil, diminuindo os problemas relacionados à saúde pública, contribuindo também para uma maior transparência no que se refere às ações governamentais, fomentando a promoção de direitos e transparência. Vasconcelos (2007) destaca que a educação em saúde equivale à articulação entre o conhecimento e a prática relacionados à saúde e, por meio de seu desenvolvimento, permite-se a criação de ações educativas eficazes e que se relacionem com a vida cotidiana da população. Nesse sentido, por meio da educação em saúde o conhecimento científico produzido pela área é disponibilizado para as práticas cotidianas da população. Ela permite uma maior compreensão dos fatores que influenciam a qualidade de vida e proporciona a adoção de melhores hábitos de saúde. Walsh (2008) destaca que a grande interculturalidade dos povos indígenas favorece a criação de diversas sociedades, relações e estilos de vida. Dessa forma, entender as ações de educação voltadas para a comunidade indígena é compreender em primeiro lugar suas próprias características étnicas, culturais e educacionais. Nesse sentido, a educação em saúde pode contribuir para o esclarecimento das necessidades e dúvidas em saúde que os indígenas têm em suas experiências cotidianas. As ações educativas na área de saúde indígena desenvolvidas pela SESAI durante a pandemia da Covid-19 ganham ainda o sentido da educação para a cidadania, proporcionando a luta por direitos. Promove também um diálogo construtivo entre as diferentes culturas, que garante desenvolvimento e protagonismo da comunidade indígena na sociedade em suas vivências diárias.

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Metodologia: Pesquisa Documental Foi realizada uma pesquisa documental acerca do canal da SESAI na plataforma digital Youtube com o objetivo de identificar a comunicação realizada e a forma de disseminação das informações de caráter público referentes à população indígena. Trata-se de uma análise em que o caráter qualitativo atua como fio condutor, de forma que o levantamento dos dados leve a uma compreensão mais aprofundada, identificação e verificação para um determinado fim, gerando um maior desenvolvimento do tema a partir dos dados encontrados. Moreira (2014, p. 123) destaca esse caráter investigativo essencial, o qual se desenvolve: A partir de semelhanças e diferenças, é uma forma de investigação que consiste em um conjunto de operações intelectuais que têm como objetivo descrever e representar os documentos de maneira unificada e sistemática para facilitar a sua recuperação.

Dessa forma, por meio da análise do canal da SESAI no Youtube, buscou-se organizar, identificar localizar e avaliar, sons, vídeos e imagens, de forma a identificar de maneira abrangente a comunicação realizada e introduzir novas perspectivas. No Brasil, a comunicação diante do contexto da globalização presente nas mídias sociais digitais tem crescido de forma rápida e constante, por meio do seu prático acesso de maneira interativa que estimula sua utilização. Para a população indígena, de acordo com Gallois e Carelli (1995), a expectativa de possuir uma participação na comunidade do caráter global da comunicação existe desde a década de 1990, tendo como base um maior protagonismo, de forma que a pauta indígena (grifo dos autores) possa ser representada de forma igualitária pelos seus próprios membros. O Youtube ganha destaque nesse cenário, afinal 95% dos usuários da internet acessam a plataforma, de acordo com o Global Digital Report da We Are Social (2019), ultrapassando em número de usuários outras mídias sociais como o Facebook. A rede social digital conta ainda com conteúdos inéditos exclusivos que se diferenciam de outros veículos tradicionais como TV ou rádio. Dessa forma, Souza e Kaseker (2020) destacam a presença dos Youtubers Indígenas Brasileiros, identificando 13 criadores de conteúdo indígena e que juntos somam mais de 100 mil seguidores. Trata-se da utilização de uma plataforma por meio de um conteúdo segmentado e direcionado a aspectos políticos e culturais, de forma que a população indígena encontre uma estratégia de comunicação alternativa, influenciando diversos públicos. Os materiais disponibilizados na ferramenta podem oferecer impacto positivo em relação à interatividade, baseado na repercussão de comentários, visualizações e curtidas nas publicações do Youtube. Dessa forma, cria-se uma estratégia de comunicação pública capaz de impactar e se relacionar com a comunidade indígena. (BURGESS; GREEN, 2009)

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A Comunicação da SESAI e o Público Indígena por Meio do Youtube A SESAI está vinculada diretamente ao Ministério da Saúde e, desde a sua concepção, busca coordenar e gerenciar as questões relacionadas à saúde indígena. Para isso, desenvolve a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Levando em conta a quantidade de povos indígenas no país, sua distribuição pelo território nacional e implantação da política nacional à saúde de povos indígenas, conta com 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs). Desse modo, eles possuem autonomia administrativa em relação as suas regionais para que possam garantir atenção, cuidados, ações de educação em saúde e o pleno desenvolvimento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, relaci-

onado com o SUS (SasiSUS), responsável direto por essas ações. O Artigo 40 do Decreto nº 9.795, de 17 de maio de 2019 (BRASIL, 2019) destaca as competências da SESAI, caracterizadas especificamente ao zelo, gestão, avaliação, monitoramento, implementação e acompanhamento da política de saúde indígena do Brasil, de forma a garantir não somente o acesso às políticas, mas também de fortalecer a participação social dos povos indígenas. Ele visa o incentivo a pesquisas ligadas à saúde indígena, disseminando conhecimento sobre as suas especificidades. Dessa forma, para que a comunicação realizada pela SESAI ocorra em relação aos seus públicos e objetivos, ela acontece por meio de diversos canais de comunicação, direcionados em formas de boletins, relatórios e disseminação de informação. Em especial, o canal no Youtube chamado “Saúde

Indígena SESAI”, que conta com 330 inscritos, no qual possui uma variedade de conteúdos produzidos, passando desde depoimentos de lideranças indígenas, orientações em relação a cuidados da saúde e notícias relacionadas aos acontecimentos dos DSEIs. A variedade e quantidade de vídeos no canal, entretanto, não significa uma grande visualização ou aceite pelo público. É possível identificar publicações com apenas uma ou nenhuma visualização. Vale destacar o papel do receptor do conteúdo, o qual, diante do baixo número de visualizações, não possui engajamento com as produções ou uma troca de informações baseada em interação e no retorno acerca do conteúdo disponibilizado pelo emissor da mensagem.

Análise do Canal “Saúde Indígena SESAI” no Youtube Foi realizada uma análise documental acerca da SESAI em seu canal na plataforma chamado “Saúde Indígena SESAI” no Youtube, por meio de vídeos, textos, sons e imagens, a fim de levantar informações referentes a engajamento, desenvolvimento, educação e saúde indígena relacionados à população indígena e profissionais de saúde e de comunicação.

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Capítulo 3 - A educação em saúde indígena: uma análise da Comunicação da Secretária Especial de Saúde Indígena nas mídias digitais frente à pandemia da Covid-19

Figura 1 - Página Inicial do Canal do Youtube da SESAI

Fonte: Saúde Indígena SESAI (2021).

Neste cenário, a comunicação pública está intrínseca, já que se caracteriza pela busca pelo diálogo entre as instituições governamentais com a população, a qual se torna necessária para o equilíbrio da democracia e para o bem-estar social. Os assuntos públicos são de interesse de todos já que podem modificar questões políticas e sociais que afetam a vida da população. Por isso, a comunicação dos ór-

gãos governamentais com seus diversos públicos requer atenção e gerenciamento constante, para que, estrategicamente, estabeleça uma efetiva educação e possibilite a compreensão clara das mensagens, mas também o diálogo entre seus públicos e os assuntos de interesse. Assim, garantir que diversas questões possam ser debatidas, solucionadas ou propostas, depende essencialmente da maneira como os relacionamentos ocorrem no setor público (ANDRADE, 1979). As estratégias de comunicação são desenvolvidas por meio de diferentes instrumentos comunicacionais, a fim de garantir a eficácia e permanência das interações. Para Duarte (2012, p. 61): Comunicação pública coloca a centralidade do processo de comunicação no cidadão, não apenas por meio da garantia do direito à informação e à expressão, mas também do diálogo, do respeito a suas características e necessidades, do estímulo à participação ativa, racional e corresponsável.

É possível identificar um avanço em relação à interação com os públicos, uma vez que, com o advento da tecnologia, surgiram as mídias digitais, as quais, de forma dinâmica, possibilitam que a comunicação ocorra de modo mais fácil. Seu caráter digital permite que o acesso e compartilhamento de informações ocorra além dos limites geográficos, proporcionando a interação entre seus usuários que exercem influência em toda a sociedade atuam como facilitadores da comunicação (TERRA, 2012). 55


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Nesse sentido, quanto à comunicação com seus públicos em seu canal do Youtube, a partir de pesquisa documental, foi possível identificar os seguintes direcionamentos referentes à segmentação de suas playlists relacionadas à comunicação pública: - Operação Covid-19: caracteriza-se por uma coletânea composta por 32 vídeos, em que são transmitidas notícias, fatos e acontecimentos exclusivos e que enfocam a pandemia da Covid-19. Além disso, é a terceira maior coletânea de vídeos de todo o canal. Com participação e depoimentos das diversas comunidades indígenas, essa se relaciona diretamente com o objetivo da realização da comunicação pública em que as informações oficiais possam ser transmitidas de maneira que tragam orientações, confiabilidade e transparência (BRANDÃO, 2012). - Parceiros: a coletânea revela uma composição de apenas 2 vídeos. Por meio deles, é retratada a importância do indígena e sua participação ativa na sociedade, bem como a ação dos apoiadores e atividades do grupo em suporte às comunidades da Terra Indígena Raposa Serra do Sol durante o enfrentamento à Covid-19. A comunicação nesse cenário, de acordo com Peruzzo (2007), se torna importante ferramenta de apoio às questões sociais, de forma a incentivar as organizações em busca de um objetivo em comum e gerar maior articulação e caráter de unidade entre uma determinada comunidade. - Saúde Indígena: trata-se da maior coletânea do canal composta por 47 vídeos publicados, nos quais é possível identificar um mix de assuntos, como informações para a comunidade indígena, notícias em relação as DSEIs, transmissão de reuniões e comunicados oficiais em relação à Secretaria. Identifica-se que devido à grande variedade desses conteúdos, a coletânea atua ainda como uma espécie de prestação de contas informal, em relação às atividades cotidianas e estratégicas ligadas à própria secretaria. Kunsch (2013) destaca para a necessidade de uma comunicação estratégica, em que os conteúdos disponibilizados possam encontrar efetividade junto ao seu público para que atinjam melhor os seus objetivos de maneira organizada, planejada, segmentada e direcionada. - Giro nos DSEI: é a segunda maior coletânea do canal e possui 36 vídeos. Sua atuação é baseada em boletins informativos relacionados aos fatos e acontecimentos dos DSEIs. Evidencia os principais acontecimentos da unidade em relação às responsabilidades federais sanitárias assumidas com aquela determinada terra indígena, de acordo com sua diferente localização e característica. - De parente para parente: trata-se de uma coletânea com vídeos curtos, composta no total por 10 vídeos destinados às aldeias segmentadas, com orientações e informações preparadas por outras equipes compostas por demais indígenas. O objetivo é gerar uma maior interação, troca de informação e notícias. Nessa coletânea, a comunicação tem maior objetivo de fomentar interação, de forma a gerar empatia em relação a outros indígenas que produzem o conteúdo. Promove uma comunicação direcionada com características de sua cultura, como vestimentas e pinturas e incentiva maior identificação e proximidade com o conteúdo por meio de seus emissores (DUARTE, 2012).

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- Sesai, saúde e vida: possui uma coletânea de 5 vídeos e tem a finalidade de divulgar informações e orientações sobre saúde para os indígenas, chamados de “parentes”. Engloba conteúdo prático como medidas de prevenções e educação na área da saúde, instruções de procedimentos corretos e cuidados relacionados também à Covid-19. É possível identificar a semelhança no conteúdo desta coletânea com as demais, de forma que sua organização e conteúdo podem ser confundidos com outros já existentes. De acordo com Gabriel (2010), é importante que, nas plataformas digitais, o conteúdo possua sempre clareza em sua organização para que não confunda e atraia o visitante. Dessa forma, a comunicação pública, mais do que veicular informações, precisa se preocupar com a educação que é transmitida e gerada e, principalmente, sua efetividade perante aos públicos, uma vez que, o seu sucesso ou fracasso, irá interferir diretamente no desenvolvimento e qualidade de vida da população. Vale destacar que apenas a produção do conteúdo não significa a efetividade e alcance de seus objetivos educacionais e melhorias de qualidade de vida. A SESAI e suas ações desenvolvidas via Youtube têm um papel fundamental no cenário da pandemia da Covid-19, já que as questões relacionadas à saúde interferem na educação e no que diz respeito aos aspectos sociais, econômicos e políticos dos povos indígenas. Sua limitação encontra-se em relação à baixa interação dos indígenas na plataforma, evidenciando a necessidade um melhor mapeamento da plataforma utilizada para a disseminação do conteúdo, alcance e retorno por parte da população, uma vez que as políticas de saúde indígena se tornam fundamentais no momento de pandemia. Nesse contexto, a atuação da SESAI no Youtube desenvolve ações que proporcionam uma educação ainda limitada, em que se identifica uma necessidade momentânea e, por meio de seus conteúdos, alternativas de chegar às questões de saúde da população indígena. Dessa forma, é necessário promover a negociação de interesses entre ambas as partes para que os relacionamentos se tornem mais duradouros e transmitam confiabilidade e seriedade em relação às ações de comunicação pública que foram desenvolvidas. Trata-se de um cenário em que a atuação estratégica do profissional de Relações Públicas pode promover ações de comunicação adequadas entre a SESAI e os indígenas. Por isso, esta análise permitiu verificar o desempenho educacional e comunicacional da secretaria em questão no Youtube.

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Conclusões Para que as ações relacionadas à educação da saúde indígena, especialmente durante a pandemia da Covid-19, possam se desenvolver de forma assertiva, é necessário a realização de uma comunicação pública eficiente e estratégica, já que se identifica a necessidade de estabelecer um relacionamento entre a população indígena e os órgãos governamentais no caso da SESAI, para que seja harmônico e bidirecional. É fundamental que a confiabilidade seja inquestionável, porque foi possível identificar que a comunicação pública possui ainda dificuldades de interação e engajamento com seus públicos. Prevalece o caráter passivo da comunidade indígena como apenas receptora de informações, de forma que ela não é considerada como participante ativa de todo processo de educação. Dada a abordagem realizada, é possível considerar-se que em relação ao problema de pesquisa do trabalho, em virtude do conteúdo produzido e o baixo número de visualizações, curtidas e comentários, que o órgão público ainda possui dificuldades de interação especialmente acerca da pandemia da Covid-19, em que a política de saúde indígena precisou acelerar e educação produzida para se consolidar de forma rápida e eficiente. Foi possível atingir o objetivo da pesquisa, uma vez que se observou, analisando o canal do Youtube da SESAI, evidenciando a comunicação pública realizada especialmente no período de pandemia da Covid-19 e sua efetividade perante o público. Ademais, que é necessário maior identificação de informações trocadas pela comunidade indígena no ambiente virtual a fim de estabelecer e direcionar pautas e formas de disseminação estratégicas que sejam mais frequentemente utilizadas e aceitas pelas comunidades indígenas. A SESAI, por sua vez, deve ser mais responsável pela educação de forma estratégica e mais sinérgica, para que isso ocorra, é necessário que se utilize as ferramentas de comunicação mais adequadas frente aos diferentes meios de comunicação em relação ao público indígena. As ações educativas são capazes de gerar sensibilização e informação. A comunicação e a educação devem ser consideradas em todos o processo de planejamento e desenvolvimento, uma vez que, irão se complementar e alcançar uma educação que proporcione a articulação entre a cultura popular e a científica. Poderá fomentar uma reflexão crítica, em que o diálogo permite a construção de uma participação ativa da comunidade, desenvolvendo atitudes essenciais para a vida. Destaca-se, como recomendação de pesquisa, a realização de futuros trabalhos que possam abordar como a SESAI poderiam planejar e gerenciar sua comunicação em seu canal no Youtube para obter maior efetividade nas ações de educação na saúde indígena e participação da comunidade.

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CAPÍTULO 4

O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina Amanda Ferreira Medeiros1 Daniela Pereira Bochembuzo2

Introdução Este artigo é um recorte do trabalho de conclusão de curso “PodMulher: produção de podcast sobre saúde reprodutiva”, apresentado e aprovado em novembro de 2020 como um dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário Sagrado Coração. Neste capítulo, objetiva-se fomentar o debate sobre saúde reprodutiva da mulher por meio da aplicação de técnicas jornalísticas na modalidade radiofônica podcast a partir de dados coletados por meio de pesquisa de natureza exploratória, e avaliados posteriormente através de um estudo de recepção. Neste estudo, a exploração do objeto foi realizada combinando pesquisas documental e bibliográfica que tratam do que é o podcast, como o consumo tem aumentado e seus pontos fortes; a importância de se tratar a saúde reprodutiva como uma temática de atenção ao público feminino; e como a comunicação pode auxiliar na promoção da saúde. A opção pela pesquisa bibliográfica deve-se ao fato desse método aproximar o pesquisador da bibliografia disponível até então sobre determinado assunto, seja com monografias, livros, boletins e meios de comunicação oral e audiovisual (LAKATOS; MARCONI, 2010). O método documental é parecido com a pesquisa bibliográfica, a diferença é que as informações ainda não sofreram tratamento analítico (GIL, 2008), como relatórios, jornais, tabelas e documentos oficiais, sendo adequados à investigação de dados atualizados sobre temas dinâmicos. ______________________ Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado). Auxiliar de Comunicação na Unimed Centro-Oeste Paulista. Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade (GPECOM-Unisagrado). E-mail: amandafmed@hotmail.com Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) e graduada em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). É docente dos cursos de graduação em Comunicação do Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado) e membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade (GPECOM-Unisagrado). E-mail: daniela.bochembuzo@unisagrado.edu.br

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Capítulo 4 - O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina

Com essa junção de metodologias e a aplicação de técnica de entrevista jornalística, que visa à obtenção de informações por meio de uma fonte particular (MEDINA, 2008), tem-se o PodMulher, produto jornalístico em áudio de quatro episódios que aborda os temas menarca, planejamento reprodutivo, parto/puerpério e climatério. Posteriormente, foram realizados dois grupos focais on-line com mulheres de 20 a 35 anos de idade. O método corresponde a um tipo de pesquisa qualitativa e auxilia na percepção de aspectos valorativos atribuídos a um grupo particular (COSTA, 2005). Essa etapa dos estudos serviu para mensurar a recepção do público-alvo perante o conteúdo produzido e ter um panorama do debate gerado, que será apresentado a seguir. O podcast como modalidade em ascensão O podcast erige-se como um modo de distribuição de um programa ou uma série de programas em áudio que são acessados pela internet (PRADO, 2010). O produto pode ser consumido via streaming ou baixado por meio de download para ser escutado posteriormente. Em ambos os casos, o ouvinte tem o controle de quando consumir o conteúdo, diferentemente do rádio transmitido via ondas hertzianas. As mulheres ainda são minoria no consumo de podcast no Brasil, de acordo com a PodPedquisa

(2019), mas esse índice vem aumentando: saltou de 16% para 27% de 2018 para 2019. Isso porque os podcasts vêm se consolidando como uma nova vertente da produção radiofônica, pois apresentam uma “maneira de se produzir algo exclusivo e hiper segmentado, atendendo quem se interessa por temas específicos ou diferentes gêneros e estilos de músicas” (PRADO, 2010, p. 935-936). Outrossim, é inegável sua ligação com o meio de comunicação rádio, uma mídia em áudio que atualmente tem visto sua definição ser reavaliada. Para Ferraretto e Kischinhevsky (2010), a tendência é a de que o rádio seja uma linguagem comunicacional específica, que utiliza das suas características (a voz, a música, os efeitos sonoros, o silêncio) para produzir conteúdo sem necessariamente estar vinculada a um aparato tecnológico específico. Tal linguagem, que acaba por determinar o tipo de mediação

sociotécnica entre emissor e receptor, se faz presente no podcast, razão que o faz ser considerado um “rádio expandido”, na definição de Kischinhevsky (2011, p. 11). Essa transformação no hábito de se informar no Brasil vem demonstrando índices animadores. O consumo de podcasts no país aumentou em 67% em 2019, segundo a plataforma Deezer. “Além disso, 25% dos ouvintes brasileiros consome mais de uma hora de podcasts por dia” (MOGNON, 2019). No entanto, entre os dez podcasts mais ouvidos naquele ano pelos brasileiros, nenhum deles é especificamente sobre saúde (PODPESQUISA, 2019).

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

O rádio foi impactado na virada do século XX para o XXI com a chegada da rede mundial de computadores e da internet, que possibilitaram formas de produção, gravação e consumo de conteúdo nunca vistas. Desse modo, a nova distribuição de conteúdo desafiou e ainda desafia a produção, definições e percepções acerca do Jornalismo radiofônico (FERRARETTO, 2014). Um desses estímulos é a aparição de novas modalidades de rádio, como é o caso do podcast (Ibidem, 2014). Apesar de não ser um formato exclusivamente radiojornalístico, vem ganhando espaço e audiência. Além disso, observam-se entre os seus predicados a substituição da escuta coletiva pela individual, a possibilidade de se consumir conteúdo em momento diverso ao produzido, onde e quando o ouvinte quiser (Ibidem, 2014). Ao produzir e veicular um podcast, “o ator social assume um certo protagonismo no processo de comunicação, borrando as fronteiras entre o que se entendia como emissor e receptor” (KISCHINHEVSKY, 2008, p. 232). Na contemporaneidade, a inauguração de rádios digitais e do sistema de podcasting forçam a reavaliação da flexibilização de conteúdos sonoros e da interação com o ouvinte. Com a concomitante expansão de dispositivos tecnológicos, como smartphones e tablets, Kischinhevsky (2008) nomeia essa era de “cultura de portabilidade”. Uma abordagem comunicacional possível para esta cultura da portabilidade é a investigação do entorno tecnológico, com ênfase nos usos de aparatos portáteis e na sociabilidade entre seus usuários. “Parece haver forte demanda social por “capacidades” proporcionadas por aparelhos portáteis, tais como conectividade e acessibilidade” (KISCHINHEVSKY, 2008, p. 229). A escuta coletiva deu espaço à individual, o que inclui a emissão e recepção de conteúdo em momentos diversos, quantas vezes o público quiser. No sistema de podcasting, o receptor pode emitir conteúdo sem a necessidade de outorgas governamentais. Desmembrando o termo, “pod” deriva da referência ao iPod, da Apple, e “casting” é sinônimo de “transmissão”, em inglês (PRATA, 2012). Nessa modalidade, os arquivos de áudio são disponibilizados em websites e, sobretudo, em plataformas de streaming. Com o isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, os podcasts conquistaram espaço, tanto que seu consumo mais do que dobrou em 2020, segundo o Spotify (BERNARDO, 2020).

Além

disso, no cenário tecnológico, o podcast, ao extrapolar os aparatos tecnológicos, expande o conceito inicial de rádio, pois “proporciona o alcance indeterminado de audiência a possibilidade de consumo assíncrono de conteúdos radiofônicos, engendrando novos hábitos de escuta” (KISCHINHEVSKY, 2011, p. 10). Para Prado (2006), a digitalização da comunicação favorece novas alternativas para a programação radiofônica e o retorno do público força a discussão sobre a expansão do rádio. O ouvinte, ao ter

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acesso a conteúdo que ele mesmo escolhe visando seus gostos e interesses, gera experiências radiofônicas quase que personalizadas. Além disso, surgem diversos elementos que redesenham as definições a respeito do rádio até então: (a) além de uma lógica de oferta, o rádio passa a incluir uma lógica de demanda, presente, por exemplo, na disponibilização via internet de áudios e material já transmitido; (b) ocorrem manifestações não só relacionadas ao modelo de comunicação ponto-massa, o das irradiações em tempo real, mas ponto-ponto, próprio dos conteúdos disponibilizados de forma diferida, por exemplo, por podcasting; (c) multiplicam-se as ações empresariais no sentido de disponibilizar o conteúdo radiofônico nos mais diversos suportes tecnológicos (de computadores desktop a celulares, tablets ou quaisquer outros dispositivos em que isso seja possível); e (d) pode-se identificar uma sinergia do rádio com outros meios dentro de um mesmo grupo empresarial. (FERRARETTO, 2014, p. 17).

Isso posto, para Ferraretto (2014), o podcast pode ser considerado um desdobramento do rádio na era moderna. A produção, apesar de ser influenciada pelo advento da internet e de ser considerada ponto-ponto, não perde sua essência e a linguagem e os recursos utilizados são característicos do rádio tradicional, conforme expõe: Ocorrem manifestações de transição do modelo de comunicação ponto-massa [...] para o ponto-ponto [...] que comprovam por si só a[...]flexibilização no consumo de conteúdos sonoros. O rádio e seus correlatos vão, assim, ao encontro [...] de uma maior interatividade entre o ser humano e a máquina. (FERRARETTO, 2007, p. 6).

Prata (2012) discorda de Ferraretto e Kischinhevsky ao postular que podcast não é rádio, por faltar a ele a essencial emissão no tempo real do ouvinte. “É apenas uma possibilidade audiovisual emergente das novas tecnologias, que tanto pode estar presente no novo rádio, como não” (PRATA, 2012, p. 78). Ferraretto e Kischinhevsky (2010) reconhecem a dificuldade da comunidade científica brasileira de aceitar as webs rádios e o podcasting como modalidades radiofônicas, mas frisam que, por se utilizarem dos mesmos elementos de linguagem do rádio (voz, música, efeitos sonoros e silêncio), o suporte tecnológico pouco importa.

Denis McQuail (2013), pesquisador dos meios de comunicação, reconhece por parte dos teóricos a dificuldade em tipificar ou distinguir canais de mídia a partir da incorporação de novas tecnologias e novos usos. Como forma de solucionar tal questão, o autor sentencia não haver mais uma lógica determinada em operação. Nesse sentido, é possível apontar, a partir do mesmo pesquisador, que a expansão do rádio, tal como se observa em outras mídias, floresce “apesar de previsões recorrentes de que uma mídia predominante iria expulsar as concorrentes mais fracas. Todas encontraram um meio de se adaptar às novas condições e às novas concorrentes. (MCQUAIL, 2013, p. 51).

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Considerando tal observação, estas autoras concordam que o podcast representa o impacto dos avanços tecnológicos na comunicação radiofônica, o que já aconteceu diversas vezes na história social da mídia. “Se o telefone e o telégrafo inauguraram a era da comunicação eletrônica com a introdução do tempo real, a tecnologia do rádio a complementou pela ubiquidade” (MEDITSCH,2001, p. 244). Superado o debate teórico, para 94,2% dos ouvintes o que importa em um podcast é o conteúdo, de acordo com a Associação Brasileira de Podcasters (MATIAS, 2020). Além disso, 79,9% desses indivíduos procuram por informação e o segmento noticioso conta com 35,8% de interesse do público (Ibidem, 2020). Quanto ao formato “reportagem e noticiário”, 24,9% da audiência. Para Ferraretto e Kischinhevsky (2010), os podcasts possuem vantagens e desvantagens. As vantagens são o digital, a multimídia, a interação, a ruptura de sequencialidade, a possibilidade de acúmulo de informação e o fato de serem virtuais. As desvantagens são a saturação da informação, a perda e desorientação, a ausência de hierarquização e a redução de credibilidade (NOCI; AYERDI, 1999 apud PRATA, 2012). Alguns dos chamarizes do podcast e que estão relacionados às vantagens de ser um produto eletrônico são a inegável liberdade de produção do podcaster, uma vez que o indivíduo pode realizar todas as etapas dos processos de produção, desde a elaboração de roteiro até a execução, edição e publicação do produto midiático. Há também inúmeras possibilidades de segmentação de conteúdo se comparadas com uma emissora de rádio. “Em um streaming de áudio lançado na internet, um podcast ou, simplesmente, audiocast, o radialista é produtor, locutor, programador e diretor de si mesmo, podendo ser inteiramente livre para veicular o que acha que merece ser divulgado” (PRADO, 2006, p. 165). No caso da aplicação efetiva da modalidade para a educação, tem-se que a pluralidade de vozes é um terreno fértil para a liberdade expressiva e para o surgimento de antíteses dos valores próprios, o que, por si só, já favorece a ampliação das possibilidades do crescimento educativo (FREIRE, 2013). O autor comenta que: Os podcasts brasileiros atuam como amplificadores de vozes costumeiramente ignoradas. Em grande medida produzidos alheios à lógica do lucro financeiro e atentos aos interesses afetivos/cognitivos, aquelas produções acabam preenchendo um espaço educativo de exposição e discussão de temas pouco veiculados ou inexistentes em outros âmbitos: nos grandes veículos de comunicação, no dia a dia social ou mesmo na escola. Assim, o cenário dos podcasts brasileiros, produzidos em sua maioria fora de contextos escolares, apresenta-se como um espaço educacional cada vez mais significativo, ainda que a escola pouco se atente a isso. (FREIRE, 2013, p. 135).

Munindo-se disso, coloca-se o audiojornalismo à serviço da sociedade, como é exposto a seguir.

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Audiojornalismo O áudio, seja transmitido por ondas hertzianas ou por internet, cria uma relação única e especial com o outro, já que “envolve sentimentos de pertença, da atribuição do papel de companheiro [...] e representa os anseios, os interesses, as necessidades e/ou objetivos de cada ouvinte” (FERRARETTO, 2014, p. 40-41). O Jornalismo inserido nesse formato é responsável pelo registro de acontecimentos de interesse público, pois a informação é fundamental para a vida em sociedade (BAHIA, 1971), ao mesmo tempo em que “utiliza a força da empatia do veículo para se inserir nas funções de companhia, de cenário ambiental, de intimidade intelectual e de convivência individual — de objeto familiar” (BAHIA, 2009, p. 197). A informação é “todo e qualquer comunicado ou notícia que transmita significação, ideia ou valor. Num sentido específico, é jornalismo com todas as suas implicações profissionais, técnicas e artísticas” (Ibidem, 1971, p. 9-10). Com base nisso, a função do Jornalismo é “fornecer informações que definam a realidade e facilitem sua compreensão” (BAHIA, 2009, p. 20), já que se preocupa com a transmissão de informações, fatos ou notícias, com exatidão, clareza e rapidez, conjugando atualidade, pensamento e ação. Na acepção mais profunda da palavra, o “jornalismo” é um intermediário social e tem como essência “apurar, reunir, selecionar e difundir notícias, ideias e acontecimentos com veracidade, exatidão, clareza, de modo a conjugar pensamento e ação. [...] É da natureza do jornalismo levar a comunidade a participar da vida social (BAHIA, 2009, p. 19). Ao unir seu caráter comunicacional com a força da empatia do áudio, o audiojornalismo “se insere nas funções de companhia, de cenário ambiental, de intimidade intelectual e de convivência individual – de objeto familiar” (Ibidem, 2009, p. 197). Ademais, o áudio potencializa a informação ao mesmo tempo em que amplia as responsabilidades do jornalista ao colocá-lo em contato com milhares de pessoas. Dessa forma, a produção jornalística voltada ao áudio, calcada nos elementos da linguagem radiofônica (voz, efeitos sonoros, música e silêncio) (FERRARETTO, 2014) e nos condicionantes da mensagem nesse meio (capacidade auditiva do receptor, linguagem radiofônica, tecnologia disponível, fugacidade, tipo de público e formas de escuta) (Ibidem, 2014), deve estar atenta às tendências comunicacionais e tecnológicas sem ignorar as premissas que regem a prática há anos. Por fim, encaminha-se para a explanação sobre a relação da comunicação, da qual faz parte o jornalismo, com a promoção da saúde. Comunicação e promoção da saúde A Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa (Canadá), em 1986, estabeleceu diversos princípios éticos e políticos que auxiliam a promoção da saúde, dada sua 67


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importância social e sanitária. Entretanto, são “necessárias mudanças profundas dos padrões econômicos no interior dessas sociedades e intensificação de políticas sociais/públicas [...] para que uma sociedade conquiste saúde para todos os seus integrantes, é necessária ação intersetorial” (BUSS, 2010, p. 1). O fato de que os hábitos alimentares e de consumo, a competitividade e o isolamento do homem em grandes cidades interferem na qualidade de vida, muito mais que elementos biológicos, intriga os pesquisadores da área. Eles sugerem que esse é o motivo da consolidação das chamadas “doenças modernas”, como o sedentarismo e o consumo de álcool, por exemplo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Dados analisados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) também mostram que a desigualdade social impacta na saúde e qualidade de vida dos cidadãos. Como resultado, a parcela da população mais rica apresenta melhores indicadores de saúde enquanto os mais pobres possuem os piores índices. A esse respeito o documento expõe que: O alcance da equidade é um dos focos principais da promoção da saúde, ao mirar na redução das diferenças no estado de saúde da população e na garantia de oportunidades e recursos igualitários, a fim de capacitar todas as pessoas a realizar plenamente seu potencial de saúde. (CONASS, 2016, p.1).

Todavia, promover a saúde no Brasil é uma tarefa complexa, uma vez que, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (2013), o país vivencia um período turbulento desde o ano 2000 com a modificação dos padrões de saúde e doenças, a transição epidemiológica, que afeta fatores demográficos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, e o surgimento de endemias. O contexto da pandemia de Covid-2020, a partir de março de 2020, reforçou tais demandas, sobretudo entre as minorias, caso das mulheres. Para o fortalecimento da promoção da saúde no país, é essencial a mobilização de indivíduos de diversos setores da sociedade, inclusive da comunicação (Ibidem, 2003). Cada qual com sua especificidade pode incentivar a difusão de informações oficiais e, de certa forma, o rádio e suas modalidades são meios para essa contribuição, pois enquanto comunicação ponto-ponto, no caso de rádios digitais e podcasting, atrai um público segmentado que consome aquele tipo de conteúdo com prévio interesse, ou seja, as chances de retenção de informação se ampliam. De forma geral, a comunicação e, especialmente o jornalismo, oferecem espaços de fala para que a promoção da saúde seja praticada e para que os cidadãos se informem e tenham mais qualidade de vida. Por isso, a próxima sessão dedica-se à exposição de dados e informações que tratam da saúde reprodutiva da mulher como tema relevante e de extenso debate.

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Saúde reprodutiva da mulher Segundo o artigo 196 da Constituição Federal, a saúde é um direito de todos os cidadãos deste país e é um dever do Estado garantir que essa premissa seja cumprida (BRASIL, 1988). Essa preocupação é evidente para a Organização Mundial da Saúde (OMS), que postula ser a saúde da mulher um tópico que requer cuidados específicos, uma vez que seus corpos perpassam processos biológicos de impacto, como a gravides e o parto ( OPAS/OMS, 2009). Além disso, as condições sociais dessas mulheres interferem diretamente no tempo dedicado à saúde, como a renda e o emprego, tanto que “a longevidade das mulheres não é necessariamente mais saudável” (Ibidem, 2009, p. 11). Dessa forma, se atentar à nutrição desde a infância, por exemplo, promove o desenvolvimento de seu papel reprodutivo, social, físico e emocional no futuro (Ibidem, 2009). Esses papéis dentro do contexto social se convergem e podem ser entendidos como um conjunto de preceitos socialmente determinado que diz respeito ao comportamento esperado de uma pessoa em uma dada situação ou interação social. [...] Tratam-se, portanto, de regras de comportamento que envolvem reciprocidade, assim como expectativas que as pessoas nutrem em relação ao comportamento daqueles com quem interagem. (COSTA, 2010, p. 905).

Outro ponto que reforça a formação desses papéis e assola a população feminina acerca da saúde reprodutiva é que as mulheres assumem a responsabilidade com a contracepção, mesmo que seja

necessário um homem para procriar (OPAS/OMS, 2009). Essa tarefa, transmitida no decorrer dos anos de geração em geração e não compreendida e executada com planejamento, causa 14% das mortes em países de baixa renda (Ibidem, 2009). Em sua maioria, os óbitos são decorrentes de doenças adquiridas via sexo inseguro e que poderiam ser prevenidas. No caso deste estudo, tem-se como proposta um podcast sobre saúde reprodutiva da menina à mulher, considerando que, globalmente, o HIV/AIDS é “a principal causa de óbito entre mulheres em idade reprodutiva” (Ibidem, 2009, p. 12) e que esta e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) poderiam ser evitadas ou minimizadas com o uso de preservativo e com a ampla disseminação

de informação acerca da educação reprodutiva. Ademais, quando se foca em estudos do gênero feminino, também há a aproximação com o debate sobre a saúde reprodutiva e sexual da mulher. Esses conceitos foram definidos com mais assertividade em 1994, na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo, Egito. Uma vez que os direitos reprodutivos estão baseados no reconhecimento de que todos podem decidir livremente sobre o número de filhos que desejam ter, ressalta-se que o acesso à informação e aos meios de contracepção são primordiais para que se alcance a plenitude de direitos sexuais e reprodutivos.

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No Brasil, a Constituição estabelece no artigo 226, parágrafo 7º, o princípio da paternidade responsável e o direito de livre escolha dos indivíduos e/ou casais. A Lei Federal nº 9.263 de 1996, que regulamenta este artigo, estabelece que, o Sistema Único de Saúde (SUS) deve “garantir à mulher, ao homem ou ao casal, em toda a rede de serviços, assistência à concepção e contracepção como parte integrante das ações que compõem a assistência integral à saúde” (Ibidem, 2020, p. 1), visto que: A saúde sexual e reprodutiva é um bom exemplo de continuidade da assistência, onde é possível notar como a introdução de intervenções de promoção e a proteção da saúde dirigidas aos adolescentes contribuem para decidir o momento mais apropriado do início das relações sexuais, fazendo livre de coerção, e para diminuir o risco de contrair uma doença (DST/HIV/AIDS). Melhora o conhecimento e o uso de métodos de contracepção, contribuindo para o respeito ao direito de decidir o momento mais apropriado de engravidar. (OPAS/OMS, 2013, p. 13).

Outrossim, a aplicação dos direitos sexuais e reprodutivos coloca em xeque dois debates que se reforçam como entraves da promoção da saúde: um sobre os campos público-social e íntimo-pessoal, ao implicar uma alteração de paradigmas, e outro referente às condições financeiras dessas mulheres. Essas informações são alarmantes ao considerar que a população brasileira é composta por 51,8% de mulheres e 48,2% de homens (IBGE, 2019). Portanto, é essencial analisar as funções sociais desempenhadas com base no sexo e que possu-

em influência histórica, pois a mulher é considerada como um ser integral e deve ser vista como sujeito autônomo e empoderado (OPAS/OMS, 2013). Caso contrário, certas lacunas começam a ser identificadas, conforme exposto nesta publicação: Relações de poder desiguais, normas e valores de gênero se traduzem em acesso e controle diferenciado sobre os recursos de saúde, dentro e fora das famílias. A iniquidades de gênero na distribuição de recursos, como renda, educação, atenção em saúde, nutrição e voz política, são fortemente associados com saúde precária e diminuição do bem-estar. (OPAS/OMS, 2009, p. 9).

A esse respeito, o planejamento reprodutivo, uma das temáticas mais abordadas nos estudos

sobre saúde reprodutiva e eixo central de um dos episódios do podcast, assume importância coletiva e “deve incluir e valorizar a participação masculina, uma vez que a responsabilidade e os riscos das práticas anticoncepcionais são predominantemente assumidos pelas mulheres” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016, p. 151). A partir de todo esse arcabouço, caminha-se para a descrição do processo de produção que envolve o uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina, a produção denominada PodMulher.

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Capítulo 4 - O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina

Produção do PodMulher Esta sessão trata da pauta, das fontes de informação, do tratamento e da edição que compõem a produção do podcast PodMulher. A pauta representa uma orientação de como iniciar o trabalho jornalístico, dando segurança a quem irá executá-la (FERRARETTO, 2014). Esse documento também é fundamental para que se possa filtrar os dados a serem abordados e definir a angulação com a qual o tema será tratado. Na sequência, alguns aspectos devem ser levados em consideração, conforme comenta Prado (2006, p. 12): Tendo como base os temas definidos na pauta, a pesquisa começa pela procura pelos contatos, os especialistas no assunto, seus desdobramentos, quem já publicou alguma coisa sobre o tema, o que não foi ainda abordado, dados estatísticos, pesquisas de opinião etc.. É a hora de falar com as fontes para colher detalhes e ampliar a pesquisa.

A pauta deve conter diversas informações, como um breve resumo do assunto, questões a serem realizadas para cada entrevistado e informações sobre o entrevistado (nome, cargo, contato, etc.) (FERRARETTO, 2014). Na produção do podcast, foram coletadas informações por meio de pesquisas documental e bibliográfica, e entrevistas: Os jornalistas recorrem às fontes conforme as suas necessidades de produção e a posição delas na sociedade, considerando a proximidade social e geográfica. Para o autor, as fontes não são idênticas nem apresentam igual importância, mas tentam informar o que mais lhes convêm e sob o ângulo pretendido; enquanto os jornalistas, conforme a seção e especialização, cultivam laços mais ou menos fortes na relação e buscam as informações sob ângulos alternativos que, às vezes, as fontes pretendem esconder. (SCHMITZ, 2010, p. 4).

Por isso, o método de entrevista é tão relevante ao jornalismo ao proporcionar interações e quebrar isolamentos sociais. “Também pode servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática de informação (MEDINA, 2008, p. 8). Para a captação das informações pau-

tadas e que serão utilizadas como base para as entrevistas é fundamental o uso de algumas técnicas, como a coleta e o levantamento. A coleta compreende a apuração através de recebimento de comunicados oficiais ou de conversas com fontes (FERRARETTO, 2014). Posterior a isso, foi feito o levantamento, processo para obter dados sobre algo que permanece reservado (Ibidem, 2014). No total, foram contatados 26 indivíduos, sendo que 16 responderam as solicitações de entrevista e participaram efetivamente do podcast. Os contatos foram feitos via e-mail, Instagram e WhatsApp. Todas as entrevistas foram realizadas por WhatsApp.

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Para humanizar o podcast e oferecer diversas perspectivas, todos os episódios contam com mulheres que tiveram experiências agradáveis e desagradáveis com o assunto abordado a fim de ampliar olhares e horizontes. As funções de produtora, repórter e apresentadora ficaram sob responsabilidade da pesquisadora então graduanda e tiveram orientação da pesquisadora docente. Durante o processo de produção foram consultadas 65 referências, entre livros, artigos científicos, matérias jornalísticas, periódicos, etc., com o intuito de oferecer profundidade informacional e interpretativa ao trabalho. Todos os roteiros possuem estrutura textual coerente, razão por que iniciam com dados quantitativos sobre o tema do episódio e que refletem sobre a realidade atual e os comportamentos e conceitos abordados. Assim, o texto que se localiza após a vinheta de abertura funciona como chamariz com o objetivo de que a ouvinte consuma o podcast até o final para descobrir as respostas aos questionamentos levantados. A partir disso, é apresentado o contexto que permeia a temática, servindo de convite para investigar as causas e consequências da menarca, do planejamento reprodutivo, do parto e puerpério, e do climatério. Identifica-se, nesse ponto, a existência de tabus e a necessidade de discutir, além dos aspectos técnicos inerentes ao se tratar de saúde reprodutiva, possíveis interpretações sobre esses assuntos. Isso se consolida ao intercalar as informações trazidas pela pesquisadora com as entrevistas de especialistas e de testemunhas, e ao indicar conteúdo audiovisual, sonoro e literário de terceiros no fim de cada episódio através do quadro “PodIndica”. Com a correção dos roteiros feita, a gravação foi realizada no Laboratório de Rádio do Unisagrado. A inserção das sonoras e efeitos ficou sob responsabilidade do técnico Leandro Zacarim, que na ocasião estava em home office devido aos cuidados exigidos com a pandemia de Covid-19. Em relação a essa etapa de produção, cabe indicar que: Em geral, ao pensar em um produto radiofônico, considera-se a possibilidade de utilizar inserções sonoras dentro de uma estrutura na qual predomina uma descrição e/ou uma narração de um jornalista ou radialista. Essas inserções são normalmente: (1) as ilustrações ou sonoras, que trazem registros com a voz de terceiros; (2) as trilhas, termo genérico utilizado em rádio para indicar qualquer conteúdo musical, à exceção de canções veiculados na íntegra; e (3) os efeitos sonoros, atuando de modo concreto ao evocar sons reais, ou abstratos, criando novos significados sensoriais. Há, ainda, um elemento de pontuação radiofônica que pode utilizar, de modo combinado, todos os anteriores. Trata-se da (4) vinheta. (FERRARETTO, 2014, p.194).

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Capítulo 4 - O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina

Existem duas vinhetas no podcast: abertura/encerramento do PodMulher e abertura do PodIndica, quadro de indicações de conteúdo dentro do episódio. Elas são do tipo sobreposição: enquanto a pessoa está falando tem uma trilha ao fundo. No podcast, assim que a repórter começa a ler a introdução, toca-se uma música, o background, que aos poucos vai ficando inaudível. Fez-se o uso dele para identificar que o produto estava começando, pois, como diz Ferraretto (2014), as trilhas servem para identificar um programa ou alguns trechos dele. Também houve o uso de cortinas, breves trechos musicais que identificam ou separam

determinada

parte

de

um

programa

(FERRARETTO,

2014)

para

segmentar

assuntos dentro do mesmo episódio. Esse recurso foi padrão, sendo a canção de ninar na edição de parto e puerpério uma exceção. Os arquivos de áudio utilizados para a produção das vinhetas e das cortinas foram coletados na Biblioteca de Áudio do YouTube. No total, foram redigidas 35 páginas de roteiro, o equivalente a 1 hora, 12 minutos e 57 segundos de conteúdo, divididos em: 1) Episódio 01 – Menarca: 19’10”; 2) Episódio 02 – Planejamento Reprodutivo: 17”20”; 3) Episódio 03 – Parto e Puerpério: 20’33”;

4) Episódio 04 – Climatério: 15’54”. Com os quatro podcasts finalizados, partiu-se para a disponibilização. A decisão foi por utilizar a plataforma Anchor, que é gratuita e possui vínculo com diversas plataformas de streaming. O link de acesso ao produto está disponível nos apêndices. Em seguida, são apresentadas as singularidades de cada episódio. Episódio 01: Menarca No episódio de estreia enfoca-se, primeiramente, questões históricas, pois as mulheres de sécu-

los atrás tiveram de passar pela menarca, mas eram menos informadas. Esse tabu sobre o assunto está arraigado até hoje na sociedade, conforme explicam as especialistas. Portanto, é interessante realizar o caminho reverso para entender seu surgimento. Há a inserção de exemplos de como isso está presente no dia a dia com utilização de trecho do filme “Para Maiores” e inclusão de medidas governamentais. Ademais, é o único episódio que trata da perspectiva psicológica, pois esse processo ocorre com a criança ou adolescente, que, por vezes, ainda não está preparada para as mudanças que acompanham essa fase.

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Episódio 02: Planejamento Reprodutivo No segundo episódio, sobre planejamento reprodutivo, é exibido o embate crenças populares x ensino, disponibilidade e uso efetivo de métodos contraceptivos. Além disso, são acrescentados aspectos legais referentes aos direitos sexuais e reprodutivos. Nesse ponto, uma fonte especializada entrevistada enfatiza o papel do Estado na prevenção de gravidezes não planejadas, responsabilizando-o caso esse trabalho não seja feito da forma adequada. Tem-se aqui o material que aborda a qualidade de vida e a união da Comunicação com a promoção da saúde de forma mais direta, sem a romantização da gravidez na adolescência e de atitudes

machistas as quais impedem que o homem participe e colabore nesse processo. Episódio 03: Parto e Puerpério O episódio sobre parto e puerpério é o que possibilita o uso mais frequente de efeitos sonoros, como o do ultrassom, do bebê chorando e de canção de ninar. Há o cuidado, ao tratar dos tipos de parto, para que a abordagem de um não desqualificasse o outro. Também é latente a preocupação com a utilização de termos técnicos nos trechos de entrevistas. Por isso, quando aparece uma palavra que não é de uso comum da audiência, há a intervenção da apresentadora para elucidá-la, como é o caso dos termos “vérnix”, “nitrato de prata” e “coqueluche”. Episódio 04: Climatério Por fim, o episódio sobre climatério serve para desmitificar a fase da vida reprodutiva da mulher denominada como climatério, bem como diferenciar o termo da menopausa. Existe um breve retrospecto sobre o que foi abordado nos episódios anteriores, alinhavando-os, de forma a instigar a ouvinte a consumi-los, sem afetar o entendimento do conteúdo atual. Desse modo, acredita-se que é possível ouvir os episódios separadamente e em qualquer ordem, pois, por mais que haja uma linearidade temporal entre os processos na vida real, os conteúdos possuem autonomia.

Tal preocupação se mostra relevante porque os podcasts estão alocados em plataformas de streaming de áudio, em que o consumo sob demanda é regente. Essa característica do rádio expandido oferece liberdade ao ouvinte e à produção, que não possui amarras tão latentes quanto o rádio via ondas hertzianas. Contudo, isso não significa que as preocupações técnicas não conferem estilo aos produtos. Nos roteiros de todos os episódios foram feitas marcações de entrada e saída de vinhetas e de sonoras de entrevistas por meio de minutagem e indicações textuais.

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Capítulo 4 - O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina

O crédito das fontes, comumente inserido antes da sonora, por vezes aparece posteriormente à fala. Os ritmos das músicas de fundo (background), presentes em alguns momentos, foram escolhidos para que se encaixassem com o que está sendo falado e, as cortinas, para segmentar assuntos dentro de um mesmo episódio. Dado todo o percurso de produção do podcast, na sequência são apresentados os resultados obtidos com o grupo focal. Grupo focal: síntese dos resultados

Com o aporte teórico estabelecido e o PodMulher finalizado, parte-se para a última etapa dos estudos, que é a realização do grupo focal, para a verificação do debate fomentado a partir do produto jornalístico. Para tanto, o até então projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética do Unisagrado e pela Plataforma Brasil, sob parecer nº 4.234.679. A ideia inicial era obter uma amostra de dez mulheres com 20 a 35 anos de idade. Contudo, uma delas desmarcou 30 minutos antes de o grupo focal ser iniciado. Mesmo assim, os encontros foram feitos em dois horários com o objetivo de conciliar a agenda de todas, foram executados e gravados via Microsoft Teams para posterior transcrição e análise. As perguntas do roteiro de entrevista eram: “Nome completo e idade”; “Formação acadêmica e profissão”; “Os podcasts apresentaram informações

que você desconhecia até então? Quais?”; “Você considera que a linguagem utilizada é adequada? Por quê?”; “Você gostou ou não dos podcasts? Por quê?”; “A sua percepção sobre sua saúde reprodutiva mudou? Por quê?”; “Você se interessaria mais sobre esse tipo de conteúdo se o encontrasse em uma plataforma de streaming de áudio ou em uma emissora de rádio? Por quê?”; “Você acredita que esse tipo de conteúdo é pertinente a outras mulheres? Ele contribui para a elucidação da temática?”. No geral, o ponto convergente foi o desconhecimento sobre certos termos técnicos, mas isso foi logo suprido, principalmente no primeiro e no quarto episódios (Menarca e Climatério, respectivamente). Além disso, a linguagem, a dicção e a edição foram bem recebidas. Duas entrevistadas comentaram sobre a importância dos efeitos sonoros e das comparações

realizadas no roteiro para a melhor visualização dos dados. Outro elemento crucial para a aceitação dos episódios foi a identificação. Praticamente todas comentaram que passaram pelas situações descritas ou que conheciam alguém da família com experiência similar. As entrevistadas não mudaram de opinião sobre saúde reprodutiva, mas aprofundaram seus conhecimentos. Nesse momento, as participantes mais velhas expuseram questões particulares de suas vidas, como o planejamento de filhos e o medo e a responsabilidade inerentes à maternidade. Quanto à disponibilização do conteúdo, a plataforma de streaming é a mais querida pelas entrevistadas devido à facilidade do consumo: é possível ouvir onde, quando e como quiser e o material está 75


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

disponível para download. Em síntese, PodMulher foi aprovado no estudo de recepção, tanto em relação às questões técnicas quanto conteudísticas. Desse modo, encaminha-se para as considerações finais. Considerações finais Acredita-se que o objetivo do artigo, que é fomentar o debate sobre a saúde reprodutiva da mulher por meio de técnicas jornalísticas aplicadas à modalidade radiofônica podcast, foi atingido quando se consideram o contato do público-alvo com o produto por meio do estudo de recepção, bem como os resultados coletados durante a pesquisa exploratória.

Os relatos das entrevistadas corroboram para o entendimento a respeito da importância da propagação de informações confiáveis e relevantes para a saúde das mulheres, que podem servir de suporte educativo para próximas gerações. As referências bibliográficas e documentais trazidas para este debate evidenciam que os cuidados com o corpo feminino devem ser redobrados, pois, embora os direitos sexuais e reprodutivos sejam garantidos por lei, questões sociais, como o machismo, impedem que exista seu exercício pleno. Nesse sentido, por mais que menarca, planejamento reprodutivo, parto e puerpério, e climatério envolvam e perpassem diversos processos — como as condições de atendimento no Sistema Único de Saúde, relacionamentos afetivos e aspectos financeiros e socioculturais —, é fundamental que o conhecimento

em saúde reprodutiva esteja acessível para que o mínimo de qualidade de vida seja assegurado. Como constatou o estudo de recepção sobre o PodMulher, uma estratégia eficaz de abordagem sobre saúde reprodutiva na modalidade podcast voltada ao público feminino deve utilizar fontes testemunhais com relatos humanizados, explicações didáticas de termos técnicos realizadas por especialistas, teor interpretativo dos acontecimentos e, sobretudo, vozes femininas, seja no relato ou na apresentação. Ademais, por oferecer certa liberdade em termos de produção, o podcast possibilita o exercício de todas as etapas do processo jornalístico (pauta, tratamento de dados, entrevistas, redação de roteiro, auxílio na edição e disponibilização do material), indicando sua aplicabilidade na área

de comunicação e promoção da saúde. Ressalta-se aqui que atualmente não há pesquisa específica, no Brasil, sobre a relação podcast-saúde da mulher, o que reforça a importância, relevância e originalidade desta proposta. Assim, as autoras julgam que este trabalho contribui tanto para o fazer jornalístico quanto para a sociedade ao oferecer pistas acerca da produção de conteúdo em áudio na modalidade podcast e ao empoderar mulheres por meio da informação sobre saúde e bem-estar. Afinal, este é um estudo produzido, orientado, feito com e para mulheres, que merecem produções especialmente desenvolvidas para elas. 75


Capítulo 4 - O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina

Fica o convite para a audição do conteúdo executado, disponível no apêndice, e para que novos podcasts sobre o tema saúde reprodutiva da mulher sejam executados, de forma a ampliar o acesso das brasileiras ao seu direto à saúde. Referências BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo. 5. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. 275 p. BAHIA, Juarez. Jornalismo, informação e comunicação. 1 ed. São Paulo: Martins Editora, 1971. 134 p. BERNARDO, Kaluan. Fala que eu te escuto: por que ouvimos cada vez mais rádios e podcasts?. In: UOL Tab, 16 set. 2020. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/ redacao/2020/09/16/por-que-estamos-ouvindo-cadavez-mais-radios-e-podcasts.htm. Acesso em 16 set. 2020. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em 05 mar. 2020. BUSS, Paulo M.. O conceito de promoção da saúde e os determinantes sociais. In: Agência Fiocruz de Notícias, 09 fev. 2010. Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/o-conceito-de-promoção-da -saúde-e-os-determinantessociais. Acesso em 20 jun. 2020.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

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Capítulo 4 - O uso do podcast para a comunicação e promoção da saúde reprodutiva feminina

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Apêndice A – Links para audição

Link para audição no Anchor FM: https://anchor.fm/amanda-medeiros2 Link para audição no Spotify: https://open.spotify.com/show/6rElwaFzmMHsX6QQrhSYMZ Link para audição no Breaker: https://www.breaker.audio/podmulher Link para audição no Radio Public: https://radiopublic.com/podmulher-Wz9QRv Link para audição no Google Podcasts: https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy8zODk4NjY3OC 9wb2RjYXN0L3Jzcw==

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CAPÍTULO 5

Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

Marcelo Pereira da Silva1 Julia Marinelli Antunes2

Introdução Este artigo é fruto de inquietações sobre o tema da comunicação organizacional, da informação e das Relações Públicas em um contexto no qual surgem, cada vez mais, técnicas, processos, ferramentas e tecnologias que podem ser utilizadas para potencializar a humanização e os relacionamentos entre organizações ligadas à saúde e seu principal público, os usuários dos serviços que oferecem.

Nesse sentido, objetivamos: 1. Explorar e aprofundar, por meio de revisão literária, conceitos ligados às Relações Públicas, humanização, tecnologias digitais; 2. Apresentar algumas soluções de inovação, os desafios e as oportunidades para a atuação das relações em ambientes ligados ao campo da saúde; 3. Descrever as principais ferramentas e tecnologias de comunicação digital que podem ser utilizadas para humanizar a relação entre instituições de saúde e seus clientes. Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007, p.61), a pesquisa bibliográfica “constitui o procedimento básico para os estudos monográficos pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema”. Assim focamos no estado da comunicação, humanização e tecnologias digitais em organizações ligadas à saúde e o lugar que as Relações Públicas ocupam neste complexo cenário. Com

Em parceria com a atividade de Relações Públicas, por meio de educação e sensibilização, as organizações serão capazes de se comunicar com pacientes e outros públicos de modo eficiente, ______________________ Docente do Mestrado Interdisciplinar em Linguagem, Mídia e Arte e do curso de Relações Públicas da PUC-Campinas. Graduada em Relações Públicas pela PUC-Campinas.

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Capítulo 5 - Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

atendimento e os processos comunicativos da instituição, considerando que a situação deficitária de hospitais e organizações da saúde impõem desafios, mas, também, proporcionam muitas oportunidades.

A comunicação e o ato de ouvir De acordo com Marcondes Filho (2018), a comunicação ocorre por meio da existência de outro ser. Baseando-se na teoria de Emmanuel Levinas sobre os três estágios constitutivos de nossa existência: no primeiro existimos, como se fôssemos algo isolado. Na segunda fase, buscamos conhecer, mas ainda não estamos aptos a comunicar. Por fim, temos o confronto com a alteridade, que representa as várias pessoas com as quais construímos contatos, relações e afeições. É através da alteridade que conseguimos nos defrontar com o outro ser. Não buscamos apreender e nem conhecer, mas nos atirar naquele que agirá sobre nós. Neste sentido, a comunicação só é possível por meio da alteridade. Uma alteridade radical que se caracterize não só pela simples presença do outro senão pela eterna fuga do mesmo, que interfira, pela sua comunicabilidade e nos provoque diferentes pensamentos e posicionamentos (MARCONDES FILHO, 2018). Nesta linha conceitual, Wolton (2010) defende que a comunicação só tem sentido por meio da existência do outro e do reconhecimento mútuo, o que a diferencia da informação, menos complexa por três razões: 1. A comunicação é sempre mais difícil, pois impõe a questão da relação com o outro; 2. Os homens passaram mais de meio século tentando atingir um único objetivo: se comunicar; 3. Por fim, não há informação sem um projeto de comunicação, o que mostra que as duas sempre estiveram ligadas. A revolução da informação produz incerteza na comunicação. Para Wolton (2010), o problema não é mais somente o da informação, mas, antes de tudo, o das condições necessárias para que milhões de indivíduos se comuniquem. A informação é a mensagem. A comunicação é a relação, que é muito mais complexa. A consolidação das redes da Internet está aumentando a produção e compartilhamento de informações e conteúdos, o que não significa que haja mais comunicação. A mensagem de informação possui um formato limitante do universo dos sentidos, reduzido a níveis peculiares para cada comunicante. A comunicação compõe a possibilidade de um encontro intersubjetivo e sua eficácia está na qualidade das relações estabelecidas em seu grau de comprometimento e confiança. Não podemos ignorar os aspectos substanciais da comunicação, como “o caráter das relações sociais que ela institui e o lugar que ela constrói para os sujeitos” (PERUZZOLO, 2006, p.23). É neste cenário que as organizações operam, lutam para se manter e cumprir sua missão, acompanhar sua visão e cultivar seus valores. Cabe à comunicação um papel relevante neste contexto social e comunicativo. Na esteira de Wolton (2010), a revolução do século XXI não é da informação nem da

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

mensagem, mas da comunicação e da relação, nas quais estão presentes os receptores da informação que, geralmente, complicam a comunicação, que ocorre por três razões: compartilhar, seduzir e convencer. Ouvir se torna uma condição sine qua non. A necessidade de se ouvir o outro na comunicação Hoje em dia, onde tudo acontece num grande fluxo e numa rápida velocidade, a comunicação é o caminho mais eficiente para a produção de novos conhecimentos, o que decorre da troca entre pessoas que se comunicam. E saber se comunicar não engloba apenas uma boa oralidade ou persuasão, mas estar aberto a aceitar a existência das opiniões do outro. Por isso, saber ouvir é essencial para o

funcionamento e melhoria da comunicação. De acordo com Távola (2017), um dos maiores problemas da comunicação, seja a de massas seja a pessoal, reside em como o receptor recebe e ouve a informação e de que maneira o emissor passa e fala sobre ela. Uma simples frase pode permitir diferentes níveis de entendimento e muitas pessoas não procuram saber o que realmente o outro quer dizer ou está dizendo. Este contratempo pode acontecer de diversas formas, entre elas: o receptor ouve o que quer ou o que gostaria de ouvir; ouve o que confirma ou rejeita o seu próprio pensamento; ouve apenas o que está sentindo; ouve o que imagina que o outro ia falar; ou simplesmente a pessoa não ouve o que o outro fala, apenas ouve da fala aqueles pontos que possam fazer sentido para as ideias e pontos de vista

que no momento a estejam influenciando (TÁVOLA, 2017). Ouvir implica em uma total entrega ao outro, o que gera dificuldades para pessoas consideradas inteligentes. A inteligência que há no hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar interfere como um ruído naquilo que o outro está dizendo, por isso é necessário limpar a mente das interferências do próprio pensamento durante a fala alheia. Além da inteligência, um outro elemento que perturba o ato de ouvir é o mecanismo de defesa. Algumas pessoas se bloqueiam inconscientemente com medo de se perderem de si mesmas. Deixando de ouvir, livram-se da retificação dos próprios pontos de vista e da aceitação de realidades diferentes (TÁVOLA, 2017).

Saber ouvir é importante para todas as pessoas, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Líderes, gestores, comunicadores e tantos outros profissionais precisam ouvir seus públicos para, por meio da escuta ativa, traçar as mais eficientes estratégias para estabelecer comunicação. Os profissionais que têm dificuldades para se comunicar com os demais têm grandes chances de permanecer à margem do mercado de trabalho (BELLO, 2020). Nas organizações, esta habilidade é cada vez mais valorizada em trabalhadores e gestores. Moura (2018) defende que o gestor contemporâneo, além de persuadir os funcionários a aceita-

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Capítulo 5 - Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

rem o seu ponto de vista, deve se abrir para visões diferentes sobre produtos, estratégias e questões administrativas internas. Esta habilidade também se aplica a trabalhadores fora de cargos de gestão, pois com essa destreza pode sempre aprender, melhorar seu desenvolvimento e conviver com/em equipe. Até há pouco tempo, na estrutura de organizações, eram priorizados presidentes, diretores, gerentes, ou seja, os cargos mais altos. Hoje em dia, está se invertendo a pirâmide, de forma que os consumidores e os funcionários (que fazem a interface com os consumidores) fiquem no alto, deixando o presidente na base, cuja missão é carregar “a casa” nas costas e não permanecer sentado em cima dela (GIANGRANDE, 2018, on-line). Com isso, além da importância que o gestor tem de saber ouvir seus funcionários, eles têm ainda a maior responsabilidade de saber ouvir os clientes. De acordo com Corrêa, ouvir o cliente significa buscar entender toda sua experiência com a organização e identificar os pontos frágeis nessa jornada, já que: É preciso dialogar de forma clara para entender até mesmo o que o cliente não fala ou não expressa diretamente, pois é isso o que faz do atendimento humanizado a chave para essa conexão mais profunda com o público e para a construção de um relacionamento sólido e duradouro. (CORRÊA, 2020, S/P).

Desta forma, vemos a necessidade de saber ouvir e se comunicar, principalmente para o eficaz

funcionamento das organizações com seus públicos, inclusive aquelas que atuam no universo da saúde. Também é relevante o papel da atividade de Relações Públicas neste contexto. Relações Públicas e humanização em saúde: oportunidades e desafios A comunicação tem muita relevância nos ambientes organizacionais e torna-se necessário seu uso de modo estratégico, englobando todas as atividades comunicacionais desenvolvidas em qualquer organização e focando na coletividade dos públicos, sejam eles internos, sejam externos. Com base em Nassar (2005), na atualidade, as organizações trabalham com um novo modelo para conseguir acolher a sociedade. A mudança nas relações sociais provocou isso e as organizações

precisam ter consciência de seu papel. É necessária a recuperação do sentido humano em todos os níveis de relacionamento. Para a construção de um novo paradigma de relacionamento com os públicos, através dos valores participativos, a humanização é fundamental e está ligada diretamente à comunicação, dado que ela se coloca como um referencial e é, nesta realidade, que os hospitais e organizações da saúde estão inseridas. De acordo com Figueiredo e Badia (2012), a comunicação está diretamente ligada à humanização, pois esta temática é relevante para o entendimento dos processos culturais e de relacionamento humano, nos quais a comunicação recria seu significado e partilha a intenção de humanizar processos de interação. 83


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Do ponto de vista das organizações, a humanização pode ter significados distintos. Em uma empresa humanizada, é possível encontrar ações internas que promovam a melhoria da qualidade de vida e de trabalho de seus funcionários, que visam à construção de relações mais justas, abrandam as desigualdades e diferenças, sejam elas de raça, sexo e, também, contribuem para o desenvolvimento das pessoas sob os aspectos físico, emocional, intelectual e espiritual (VERGARA e BRANCO, 2001 apud FIGUEIREDO e BADIA, 2012). Nas organizações hospitalares, a humanização ocorre pelo modo como os pacientes são atendidos e da qualidade do ambiente de trabalho. Todos os indivíduos que compõem o cenário da organização hospitalar devem ser valorizados e respeitados na sua especificidade (BACKER, LUNARDI e FILHO, 2006b apud FIGUEIREDO e BADIA, 2012). Embora diversas instituições hospitalares privadas tenham buscado alternativas para melhorias como a implantação de programas de qualidade, terceirização de atividades acessórias e contratos de gestão, ainda existem muitas limitações quanto à sua gestão. Diante disso, os hospitais entenderam a importância de se abrir para os públicos. É imprescindível que os funcionários sejam tratados de forma humana, pois através desta valorização, se poderá reconhecer a importância de sua subjetividade e transferir esse conhecimento ao cuidar dos pacientes, constituindo um processo de humanização. Para que este processo seja efetivo, torna-se crucial estreitar os laços de comunicação na tentativa de desvendar e respeitar a leitura de mundo dos trabalhadores por meio da troca de experiências e conhecimentos. Neste raciocínio, a comunicação não só dá importância às falas tradicionalmente autorizadas, como

(2012), a comunicação, quando se vincula à humanização dos ambientes organizacionais, torna viável o estabelecimento de processos educativos e emancipatórios, pois se refere à possibilidade de o trabalhador expressar-se, emancipando-se como

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Capítulo 5 - Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

sujeito autônomo e desenvolvendo sensibilidade e responsabilidade para lidar com as dificuldades e desafios de um ambiente hospitalar. É de se observar a atuação das Relações Públicas na área da saúde. Dias (2008) afirma que as Relações Públicas nos hospitais já é percebida há algum tempo. Porém são poucos os esforços e literaturas que encontramos nesse campo e poucos os profissionais que atuam nele – em comparação a outras áreas. Neste sentido, entendemos Relações Públicas, de acordo com Costa (2018), como um processo estratégico de comunicação que constrói relações de benefício mútuo entre as organizações e os públicos. As Relações Públicas têm um papel importante para o eficiente funcionamento de uma instituição da saúde e/ou de um hospital, pois é responsável pela elaboração e execução do plano de comunicação, seja a organização pública ou privada. Este plano envolve uma série de estratégias criadas para manter relacionamentos efetivos entre a empresa e seus públicos, que podem incluir: clientes; funcionários; fornecedores; outras empresas parceiras; imprensa e governo. Dias (2008) descreve as principais funções do profissional de Relações Públicas: pesquisa, planejamento, assessoria e consultoria, execução e avaliação, as quais são inerentes às organizações de saúde. Tais funções podem ser desenvolvidas através de algumas atividades. De acordo com o Portal RP (2016, on-line), destacamos: 1. Atendimento aos públicos Recepção Hospitalar – caracteriza-se como fator de humanização em saúde e tem como finalidade prestar o atendimento inicial a pacientes, familiares e acompanhantes, propagandistas, vendedores, agenciadores, estudantes, visitantes, funcionários etc. A importância do trabalho de Relações Públicas é contribuir com um contato mais efetivo entre os diversos públicos, mantendo os públicos bem informados. Programa de Visitas – Um grande ambiente de saúde pode ter uma diversificação de públicos interessados em conhecer a instituição, com isso as Relações Públicas podem recepcionar e acompanhar os visitantes, com programação agendada e preestabelecida. Assessoria de Imprensa – Trabalha com a imprensa gerando elo da Instituição com os jornalistas, algo essencial para cuidar da imagem do hospital em relação aos públicos. Programas Internos – O público interno é considerado prioritário, pois está em contato direto com a coletividade. É importante realizar programas que incentivem os funcionários em saúde, procurando manter a integração e cooperação deste público com a instituição.

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2. Eventos Eventos Socioculturais – As Relações Públicas objetivam planejar e desenvolver atividades sociais, culturais, educativas e de lazer, podendo ser destinadas aos funcionários e/ou pacientes, visando uma maior integração da comunidade envolvida. Eventos executivos (ligados à área da saúde) – São importantes para um hospital, pois atuam na área de formação e aprimoramento de recursos humanos da área de ensino, pesquisa e saúde. Cabe às Relações Públicas o assessoramento para organização e execução de congressos, simpósios, cursos, mesas redondas, reuniões, palestras etc.

3. Atividades específicas de Comunicação - Controle das redes sociais digitais da instituição; - Criação e acompanhamento de campanhas educativas ou ligadas à saúde; - Comunicação visual na área interna do hospital; - Quadros murais; - Pesquisas de opinião. Há, também, a ouvidoria, que se encaixa no conceito de saber ouvir e na humanização. De acordo com Rampinelli (2015), a ouvidoria é um setor da empresa destinado a ouvir o cliente, faz parte de diversos órgãos públicos e é exigida por lei. Nas instituições privadas, sua regulamentação é mais segmentada e muitas empresas criam o canal não porque são legalmente obrigadas, mas para aprimorar os processos e serviços, de forma a não correr o risco de perder um cliente insatisfeito. A ouvidoria não serve para um primeiro contato, pois é a área do negócio que tem seu foco específico na solução dos problemas que não foram resolvidos pelos meios mais tradicionais. Além disso, recebe sugestões, reivindicações e/ou elogios dos clientes (RAMPINELLI, 2015). Destarte: No ponto de vista da comunicação, a ouvidoria é considerada um âmbito de mediação de conflitos, e o ouvidor desempenha, na qualidade de mediador, sua função de ‘’promotor do diálogo’’ com atribuições próprias de sua atividade, e que necessita dominar para assegurar um pleno atendimento. (PINHEIRO, 2015, p.39).

Na perspectiva das Relações Públicas, o profissional acolhe a utilização da ouvidoria como espaço legítimo para assegurar a representação e participação dos cidadãos, contribuindo como comunicador e no fortalecimento do sistema institucional das organizações (PINHEIRO, 2015). Todas as ações de comunicação estratégica de uma instituição com seus públicos são desenvolvidas pelas Relações Públicas e estão envolvidas no processo de humanização da assistência. Segundo Dias (2008), pelo fato das Relações Públicas se envolverem com públicos diferentes e com a opinião pública, é evidente que vão requerer o máximo de cuidados e a sistematização de ações. 85


Capítulo 5 - Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

Analisando as atividades que podem ser realizadas pelas Relações Públicas em uma instituição de saúde e em hospitais, percebe-se que é muito relevante a contribuição para a área, pois é capaz de mudar e aperfeiçoar a reputação. Entretanto, podem surgir alguns desafios no caminho. Um hospital, em seu cotidiano, vive repleto de conflitos. E uma vez que os públicos dos hospitais são ainda mais críticos, por muitas vezes estarem em situações de vulnerabilidade, a instituição se expõe a chances de ter grandes crises de imagem, caso não tenha um eficiente plano de comunicação e não trabalhe visando a humanização da assistência. Além disso, o cotidiano das organizações em geral, incluindo os hospitais, mostra que comunicar não se constitui uma atividade fácil, visto que não se trata apenas de criar espaços para que as informações circulem, mas que os profissionais de Relações Públicas consigam fazer com que essas informações sejam recepcionadas de forma eficiente pelos diversos públicos (NASSAR, 2006). Dias (2008) assevera que mesmo as atividades de Relações Públicas sendo inerentes ao cotidiano hospitalar, os gestores e demais profissionais do serviço de saúde têm uma consciência ainda parcial de que as ações são um conjunto de atividades do processo comunicacional pertinente às Relações Públicas, sem terem realmente a certeza do que são e do que fazem. No cenário das redes digitais, as relações interpessoais se mostram cada vez mais complexas em todas as esferas, desde o relacionamento on-line até o atendimento pessoal ou a imagem que determinada instituição oferece, e as Relações Públicas se tornam cada vez mais indispensáveis, já que atua na construção de uma comunicação assertiva, posicionando e conectando as marcas (MONTEIRO, 2019) em um contexto que impõe desafios e proporciona oportunidades para as atividades de comunicação, em especial as Relações Públicas.

Relações Públicas e tecnologias digitais na saúde: ferramentas e processos Nos dias de hoje, é perceptível a mudança na forma como as pessoas se relacionam, seja entre si, seja com as organizações. Isto ocorre por conta do desenvolvimento das redes digitais, que conside-

ramos como: “Sites na internet que permitem a criação e o compartilhamento de informações e conteúdos pelas pessoas e para as pessoas, nas quais o consumidor é ao mesmo tempo produtor e consumidor da informação” (TORRES, 2009 apud FERREIRA FILHO, NASCIMENTO; SÁ, 2012, S/P). Ainda de acordo com Ferreira Filho, Nascimento e Sá (2012), as empresas necessitam se fazer presentes não apenas para vender seu serviço ou produto, mas também para saber o que o consumidor procura, descobrir qual é a sua opinião sobre a organização/marca e, principalmente, para comunicarse e possibilitar que as pessoas deem sugestões e ideias para o negócio crescer.

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Com o uso das redes digitais, a troca de informações acontece de forma dinâmica e facilita que as organizações tenham um elo maior com os consumidores, concedendo um diferencial positivo em relação às empresas que ainda não se adaptaram a esse cenário. Nesse sentido, As tecnologias da informação e comunicações possibilitam, quase por definição, a crescente comercialização das atividades de serviços, particularmente daquelas que têm sido mais limitadas pela proximidade geográfica, ou cronológica da produção e do consumo. Por apresentar ma dimensão de armazenamento espacial ou temporal, a tecnologia da informação tornará possível a separação entre a produção e o consumo em menor número dessas atividades, aumentando assim sua possível comercialização. (FREEMAN e SOETE, 2008 apud FERREIRA FILHO; NASCIMENTO; SÁ, 2012, S/P).

Utilizar redes, tecnologias e mídias torna-se indispensável para as empresas, visto que oferecem facilidades e eficiência na comunicação com o consumidor e possibilitam a consolidação da comunicação corporativa, deixando visíveis seus valores através de posts interativos e estratégias que ajudam na visibilidade e no relacionamento. Estratégias estas que estão vinculadas diretamente ao marketing e à comunicação. De acordo com o site CM Tecnologia (2016), o marketing hospitalar é um conjunto de estratégias que identifica as necessidades dos pacientes, tais como: necessidades de saúde, conforto, bemestar e qualidade de vida, os satisfazendo através de um atendimento humanizado, criando valor e oportunidades para a organização.

Desta forma: O que diferencia o marketing hospitalar para os outros tipos de marketing é que nele devese atentar para o fato de que o hospital ou clínica não irá criar necessidades desnecessárias em nenhum paciente apenas para fazer com que ele vá à instituição com mais frequência, mas sim trabalhar para criar uma experiência sempre positiva a ele, e caso necessário, ele volte futuramente. (CM TECNOLOGIA, 2016, S/P).

No universo hospitalar, as redes e tecnologias digitais, além de representarem um meio de comunicação e compartilhamento de informações, também podem ser consideradas uma eficiente ferramenta de marketing digital, uma vez que as estratégias de comunicação podem ajudar a organização de saúde e os profissionais que atuam nela a atraírem novos pacientes e a manter uma positiva relação com os atuais. Isso é possível por meio de um atendimento humanizado que leva em conta o potencial das ferramentas de mídias e redes sociais virtuais.

O atendimento humanizado através das tecnologias Digitais em hospitais: ferramentas e processos O eficiente atendimento aos pacientes de instituições clínicas e hospitalares é composto tanto pela empatia dos colaboradores quanto pela eficácia dos procedimentos. Assim, o uso das tecnologias

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Capítulo 5 - Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

digitais deve auxiliar no atendimento humanizado dos pacientes e familiares. De acordo com Rodrigues (2020), com o apoio da tecnologia, o atendimento fica mais funcional e personalizado a partir do momento em que enfermeiros e médicos têm acesso ao registro de saúde dos pacientes: Falhas na recepção e erros médicos podem e devem ser evitados com o auxílio de ferramentas e tecnologias inovadoras que vão desde a recepção digital até a gestão de ficha anestésica (prontuário de paciente mais completo de um hospital). (SANTOS, 2018, S/P).

Para que a adequada comunicação digital ocorra em organizações de saúde, algumas ferramen-

tas podem ser implantadas visando buscar alternativas para a obtenção de um atendimento cada vez mais humanizado, destacando: Recepção Digital: Recepção dos pacientes através do uso de aplicativo em dispositivos móveis. Ainda não é um recurso muito adotado pelos hospitais, porém a ‘’Pixeon’’, empresa de soluções hospitalares, já oferece este serviço. Ao chegar à instituição, basta o usuário apresentar o QR Code fornecido pelo aplicativo e entrar direto para o exame ou consulta, o que ajuda a evitar problemas de filas, erros de agendamento, troca de nomes ou cadastro incorreto (CHAVES, 2018). Telemedicina: Ocorre quando o paciente se comunica com o médico por meio de vídeo chamada, chamada de voz ou mesmo via mensagens e recebe orientações imediatas, podendo ser monitorado de

longe, além de oferecer a emissão de laudos a distância. No Brasil, desde o início da pandemia do coronavírus, o atendimento via aplicativo do Ministério da Saúde já evitou 64% das idas aos serviços de saúde presenciais (GRINBERGAS, 2020). SEO (Search Engine Optimization) ou otimização para mecanismos de busca: é uma técnica de construção de texto que otimiza o conteúdo em relação às buscas on-line para sites, blogs e páginas na Internet. É considerada uma das principais estratégias do marketing digital, facilitando que a empresa seja encontrada e lembrada. Essa ferramenta é utilizada para todos os tipos de organizações, inclusive hospitais. Agendamento on-line: Eficiente ferramenta que contribui com a humanização do hospital, pois tira a

necessidade de o usuário gastar tempo com telefonemas. É uma forma prática que gera benefícios para a instituição, reduzindo custos com call center. PEP - Prontuário Eletrônico do Paciente: Prontuário on-line que registra e armazena informações sobre o paciente e seu tratamento. Também é uma ferramenta que colabora com a humanização, visto que mantém um registro do histórico completo dos usuários e não é preciso fazer perguntas repetitivas para o paciente, principalmente para aqueles em situação de vulnerabilidade. Por mais que o PEP já seja uma realidade em grandes organizações de saúde, ainda não é visto em pequenas e médias, seja por falta de conhecimento do sistema, seja pela percepção equivocada de sua implantação. 89


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Beira-Leito: Aplicativo para dispositivos móveis que permite que os profissionais de saúde controlem em tempo real a situação e dados do paciente, tais como alterações no estado clínico, sinais vitais, horário de medicação, quantidade e qual medicação será aplicada, se foi aplicada ou não etc. O BeiraLeito é importante para evitar eventos adversos como erro de medicação, identificação do paciente ou dosagem. Esta ferramenta otimiza desde a redução de erros na administração da medicação até na individualização do paciente (LOPES; SCHMITT, 2017). Para as organizações que querem investir em aplicativos para prestar seus serviços, é necessário não só adquirir as tecnologias, mas também buscar um aplicativo com a melhor experiência para o usuário e manter-se disponível para ajudá-lo a fazer o uso (CORRÊA, 2020). A utilização de ferramentas e redes digitais é de grande auxílio na atualidade para a eficiência das organizações, incluindo os hospitais. As ferramentas aqui apresentadas possuem um relevante papel tanto em casos extremos, como na necessidade de se comunicar com pacientes isolados ou, em casos mais simples, fazer a comunicação da instituição funcionar, pensando na experiência oferecida ao paciente, na excelência do atendimento e na sua humanização, o que envolve diretamente as Relações Públicas. Desta forma, as Relações Públicas se constituem como área fundamental para as organizações que pretendem crescer no ambiente digital e, também, para aquelas que priorizam um atendimento humanizado que valorize o ouvir, administre a incomunicação e a comunicação, o que é condição para a eficácia e a excelência das instituições que atuam no campo da saúde. Considerações finais Através dos conceitos de comunicação, Relações Públicas, humanização, mídias e tecnologias digitais apresentados, percebemos a relevância dos processos e ferramentas trabalhando juntos para a eficiência e eficácia da comunicação de organizações da saúde. A comunicação se responsabiliza por reconhecer a necessidade de acolher e ampliar todas as vozes, inclusive a da população. E nas organizações hospitalares é necessária a realização de uma comunicação efetiva que engloba o público interno (funcionários, médicos etc.) e externo (pacientes e futuros clientes), em prol de uma saúde digna para todas as pessoas. Com base em Patel (2019), o marketing representa um estudo de mercado para o eficiente aproveitamento das estratégias de uma empresa. Estratégias estas que podem ser traçadas com comunicação, comercialização, distribuição e fidelização, o que se relaciona com o marketing hospitalar, que é um conjunto de táticas que identificam as necessidades dos pacientes, tais como: necessidades de saúde, conforto, bem-estar e qualidade de vida (LUNA, 2012 apud CALDEIRA, 2016). Nassar (2006) aborda que, na atualidade, as organizações trabalham com um novo modelo para conseguir acolher a sociedade. É crucial a recuperação do sentido humano em todos os níveis de rela-

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Capítulo 5 - Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

cionamento. Para isso, é necessário saber ouvir o outro, compreender a pessoa e a mensagem que ela deseja passar (TÁVOLA, 2017). É aí que entra a humanização, visto que está ligada com a escuta social. Ela é fundamental para o entendimento dos processos culturais e de relacionamento humano nos quais a comunicação recria seu significado e partilha a intenção de humanizar a interação. Neste sentido, para Nassar (2006), as relações interpessoais se mostram cada vez mais complexas, desde o relacionamento on-line até o atendimento pessoal. Uma vez que as estratégias de comunicação podem ajudar uma organização de saúde e os profissionais que atuam nela a atraírem novos pacientes e manterem uma relação humanizada. Neste cenário, destacamos as ferramentas tecnológicas que podem ser utilizadas nos ambientes hospitalares: recepção digital, telemedicina, SEO (otimização para mecanismos de busca), agendamento on-line, PEP (prontuário eletrônico do paciente) e Beira-leito, instrumentos que auxiliam as organizações hospitalares não só a terem um atendimento mais rápido, mas, também, a excelência do atendimento, para que seja verdadeiramente humanizado e faça o cliente se sentir acolhido, ouvido e respeitado. Este tipo de atendimento tem sido cada vez mais priorizado pelas instituições de saúde, tendo em vista que as pessoas têm se tornado cada vez mais exigentes e céticas. O uso das mais diversas tecnologias são cruciais na atualidade para todas as organizações, incluindo os hospitais, clínicas e instituições ligadas à saúde. As ferramentas aqui apresentadas possuem relevante papel tanto em casos extremos, como na necessidade de se comunicar com pacientes isolados ou, em casos mais simples, fazer a comunicação organizacional funcionar de modo eficiente e eficaz. De acordo com Dias (2008), foi possível levantar que a atuação das Relações Públicas em hospitais já é percebida há algum tempo, porém são poucos os esforços e literaturas neste campo e escassos os profissionais que atuam nele em comparação com outros campos profissionais. Foi possível notar também que pelo fato das Relações Públicas se envolverem com públicos diferentes, a opinião pública evidencia a necessidade de planejamento, cuidado e sistematização de ações comunicativas. Por isso, surgem desafios e oportunidades pelo caminho, como este artigo aponta. Conforme Nassar (2006), o cotidiano das organizações mostra que comunicar não é uma tarefa fácil, pois as Relações Públicas, além de criarem espaços para que as informações circulem, precisam estar atentas para que estas informações sejam recepcionadas de forma eficiente pelos diversos públicos, quando a comunicação ganha protagonismo (WOLTON, 2006). O risco de uma instituição passar por grandes crises de imagem, caso não tenha um adequado plano de comunicação e não trabalhe com foco na humanização da assistência é uma realidade. Desta forma, se torna um desafio para as Relações Públicas cuidar desta questão, visto que os públicos dos hospitais são ainda mais críticos por muitas vezes estarem em situações de vulnerabilidade e sensibilidade.

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As atividades que as Relações Públicas podem realizar em instituições de saúde são várias: o atendimento direto ao público, englobando a recepção hospitalar, programa de visitas, assessoria de imprensa e programas internos; eventos, planejamento e execução; e atividades específicas de comunicação como: controle das redes sociais digitais, criação e acompanhamento de campanhas educativas ligadas à saúde, comunicação visual interna, quadros murais, pesquisas de opinião e ouvidoria. Essas ações são muito relevantes, pois podem mudar o perfil, a imagem e a reputação da organização. A dinamicidade da atividade aliada à praticidade das ferramentas e processos que a acompanham, resultam em um trabalho calcado na excelência e nos resultados, o que é crucial quando se trata de humanização em ambientes de saúde. É necessário entender o comportamento e preferências de cada sujeito para compreender a instituição como um todo, atendendo de modo adequado as demandas dos públicos. A humanização do atendimento por meio de instrumentos técnicos e tecnológicos, mídias e redes on-line deve ser sempre uma premissa para todos os tipos de negócios, realidades e organizações. Destacamos, também, a necessidade de as organizações da saúde desenvolverem ações educativas que abranjam os públicos de relacionamento, gerando sensibilização, participação e compaixão no binômio organização-cliente. Referências A importância da comunicação Digital em hospitais perante crises, como Covid-19. Disponível em: https://inviron.com.br/2020/04/28/a-importancia-da-comunicacao-digital-perante-crises-comocoronavirus/. Acesso em: 15 de novembro de 2020. BELLO, Lívia. Entenda: a boa comunicação começa em saber ouvir! Terra, 2020. Disponível em: https://www.terra.com.br/economia/vida-de-empresario/blog-the-speaker/entenda-a-boacomunicacao-comeca-em-saber-ouvir,96b1dc86d47916dcdfb4ff3146827f97kqwrrqh4.html. Acesso em: 20 de novembro de 2020. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

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Capítulo 5 - Relações Públicas, humanização e tecnologias digitais na saúde: desafios e oportunidades

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CAPÍTULO 6 O papel da comunicação na abordagem de candidatos para participação em pesquisa clínica Alexandre Lopes1 Rannier Ferreira Mendes2 Guilherme Antonio Moreira de Barros

Introdução Comunicar-se é um ato que requer muito mais do que a fala, remete -se também a ouvir o que outro tem a dizer e partilhar valores, emoções e situações que acometem os interlocutores envolvidos. Essas características proporcionam a construção de um diálogo em que ambas as partes podem se expressar de forma igualitária, sem a imposição de visões e valores por uma das partes envolvidas. Contudo, nem sempre isso ocorre, pois em diferentes tipos de interações, usualmente prevalecem os interesses da parte que tem mais poder ou autoridade na situação. Por exemplo, na relação entre organizações e clientes, governantes e governados, pesquisadores e pesquisados etc. Embora ainda haja relacionamentos impositivos na sociedade contemporânea, ao terem mais acesso à informação e comunicação, as pessoas têm se tornado mais críticas acerca da realidade que as circundam. Desse modo, elas têm reivindicado mais participação e escuta quanto aos seus interesses e preocupações. Por isso, construir relacionamentos com os sujeitos pode se tornar um diferencial nos tipos de interações existentes nas mais diversas áreas. Acredita-se que a valorização da comunicação na pesquisa clínica entre profissionais de saúde e pacientes podem promover interações mais confiáveis e colaborativas para o estudo a ser realizado. Desse modo, o objetivo desse trabalho é analisar os modelos de abordagem e relacionamento praticados por dois pesquisadores em uma investigação realizada em um hospital escola. O escopo original dessa pesquisa foi identificar a incidência de dor crônica pós______________________

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operatória (DCPO) em pacientes daquele hospital, e para que essas informações fossem obtidas, dois pesquisadores, um aluno de medicina no último ano do curso (P1) e um pós graduando (P2), abordaram potenciais pacientes a participar do estudo. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória para se obter mais familiaridade sobre o tema por meio de pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa bibliográfica foi desenvolvida em livros e artigos científicos sobre temas como o relacionamento entre pesquisador e sujeitos pesquisados, dor crônica pós-operatória, política nacional de humanização etc. Em seguida, desenvolveu um estudo de caso sobre os métodos de abordagem de dois pesquisadores (P1 e P2) no recrutamento de indivíduos para uma investigação sobre incidência de dor crônica pós-operatória (DCPO) em pacientes daquele hospital escola. Por meio dessa análise, foi possível identificar os impactos no percentual de aceitação e participação de pacientes . Observou-se que que 88,7% dos pacientes abordados e convidados por P1 consentiram em participar da pesquisa, por sua vez, dos abordados por P2, 98,4% concordaram. Essas informações sugerem que os diferentes modelos de abordagem praticados pelos pesquisadores, interferiram no processo de aceitação e participação no estudo. Sendo assim, esse tipo de análise desperta provocações quanto a relação pesquisador-paciente nas instituições de saúde, ensino e pesquisa. A relação pesquisador-sujeito Quando questionamentos emergem frente a preservação da saúde do ser humano, a pesquisa clínica tem sido o estudo mais recomendado a ser realizado. Esse tipo de estudo envolve metodologia sistemática de avaliação, procedimentos comparativos específicos, grupos de coorte e por vezes, recorte temporal longitudinal (ZUCCHETTI; MORRONE, 2012). Para tal, o estabelecimento de uma relação entre o pesquisador e o pesquisado é inevitável e de suma importância na projeção da pesquisa. No entanto, essa relação torna-se passível frente as características e/ou interesses de ambas as partes. Geralmente, os modelos de pesquisa clínica são realizados por profissionais de saúde como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biólogos dentre outros e em sua maioria tem como sujeitos pesqui-

sados os pacientes ou enfermos. Por este ângulo, pode-se dizer que são estabelecidos dois conjuntos de relacionamento: pesquisador-sujeito e clínico-paciente (EASTER et al, 2006). Apesar de pouco debatido, é comum que esses conjuntos de relacionamentos estejam inseridos naturalmente aos modelos de pesquisa clínica, principalmente associado ao envolvimento do pesquisador principal no estudo. Sendo assim, ao longo dos anos, foram estabelecidas diversas diretrizes e princípios éticos e morais, que buscam proteger os direitos dos pesquisados e estabelecem critérios de responsabilidades aos pesquisadores (EASTER et al., 2006).

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Alguns especialistas discorrem que o envolvimento de pacientes em pesquisas, podem desencadear diferentes caminhos de compreensão sobre o relacionamento interpessoal, entre pesquisado e pesquisador. Porém, para o paciente, alguns desses entendimentos podem gerar sentimentos tortuosos quanto ao escopo da pesquisa, produzindo-lhe de forma involuntária a percepção de tal como parte de seu tratamento clínico (MILLER, 2000). Da mesma forma, existe certa preocupação das organizações reguladoras de pesquisa quanto a condução de estudos clínicos, onde busca-se conhecer se o profissional está conduzindo e/ou atuando na pesquisa somente como pesquisador ou pesquisador e profissional da saúde (CIOMS, 2002). No entanto, essas condições não são obrigatórias tampouco descritas como critérios para o desenvolvimento de estudos. A Dor Crônica Pós-operatória (DCPO) Segundo a International Association for Study of Pain (IASP), a DCPO é a dor presente no indivíduo por mais de três meses após a realização de um procedimento cirúrgico, quando exclusos causas como câncer ou infecção crônica. Dela resultam grandes desconfortos, provocando incapacidade física significativa, alterações do humor e do sono e em alguns casos, depressão. Além disso, o impacto negativo na qualidade de vida dos acometidos ao longo dos anos, tem preocupado as autoridades de saúde

pública, visto que sua incidência aumenta anualmente. (ALIAGA et. al., 2013; RICAURTE, REY e OVALLE, 2012; MCRAE, 2001). Uma parcela considerável de incidência da DCPO ocorre nas cirurgias ortopédicas, que por sua vez, estão associadas a doenças degenerativas do envelhecimento humano. Com o aumento da expectativa de vida das pessoas, a recorrência dessas doenças tem aumentado, elevando o número de cirurgias para seu tratamento, expondo o indivíduo ao desenvolvimento de DCPO (PINTO et al., 2013; KURTZ et al., 2007). Nesse sentido, nos últimos anos ocorreu uma mobilização

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Capítulo 6 - O papel da comunicação na abordagem de candidatos para participação em pesquisa clínica

A Política Nacional de Humanização (PNH) A Política Nacional de Humanização do SUS (PNH) foi criada em 2003 pelo Ministério da Saúde (MS) e com concordância do Conselho Nacional de Saúde e da Comissão Intergestores Tripartite (MORI, OLIVEIRA, 2009). Essa política também é conhecida por “HumanizaSUS” e busca convergir em três objetivos centrais:

(1) enfrentar desafios enunciados pela sociedade brasileira quanto à qualidade e a dig-

nidade nos cuidados a saúde; (2) redesenhar e articular iniciativas de humanização do SUS; (3) enfrentar problemas no campo da organização e da gestão de trabalho em saúde que têm produzido reflexos desfavoráveis tanto na produção como na vida dos trabalhadores. (MINISTÉRIO, 2007, p.1).

A PNH é reconhecida como uma política que firma sua posição no cenário público, identificada com ideais como a universalidade e equidade no acesso e o direito ao cuidado. É referência na problematização dos processos de trabalho em saúde a qual se determina fenômenos presentes no cotidiano da atenção à saúde como: filas desnecessárias, a indiferença frente a dor e ao sofrimento, falta de recursos, descaso diante de situações dramáticas a vida, descontinuidade nos tratamentos, pressupostos éticos no direito à saúde, direito a informação, inclusão de redes sociais nos processos terapêuticos, direito a um tratamento digno e respeitoso (PASCHE et al., 2011). A transversalidade que contempla práticas de saúde e diálogo entre diferentes especialidades é uma das recomendações da PNH. Outro aspecto é a indissociabilidade entre atenção e gestão, na qual é explicitado que profissionais e usuários devem se inteirar sobre o funcionamento dos serviços e ainda que a responsabilidade na assistência à saúde não depende exclusivamente da equipe desse setor, mas que os assistidos e familiares também precisam assumir responsabilidades relacionadas ao tratamento. Esse aspecto evidencia a importância de conhecimento e orientação ao usuário de saúde, possibilitada pela comunicação interpessoal. Sobre o “protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos”, nos princípios do PNH é exposto que: Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se construída com a ampliação da autonomia e vontade das pessoas envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os usuários não são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um. Um SUS humanizado reconhece cada pessoa como legítima cidadã de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde. (BRASIL, 2014, p.1)

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Nesse sentido, a humanização ainda precisa ser ampliada. Na opinião de Silva, Bessa e Lessa (2016, p. 1), a valorização do profissional de saúde contribuiria para essa expansão, conforme expõem: [...] a humanização enquanto política de saúde se constrói diante da inseparabilidade entre atenção, gestão e a transversalidade com diretrizes que fomentam instruções para, assim, humanizar o serviço em saúde. Entretanto, muito se tem a buscar e a se observar, principalmente no que diz à humanização do trabalhador da saúde, pois, ao valorizar este trabalhador e fortalecer sua sensibilidade e competência, possibilitasse humanizar tanto o profissional quanto o usuário e assim, compreender a particularidade de cada indivíduo.

Com o objetivo de expandir a humanização, o Conselho Regional de Medicina do Estado e São Paulo (Cremesp) promoveu, em 2016, a campanha “O calor humano também cura”. A ação teve como objetivo “enaltecer a vocação humanitária do médico e fortalecer a relação entre estes profissionais e seus pacientes, um dos pilares da Medicina” (CREMESP, 2016). Para atingir esta meta, foram utilizados filmes, anúncios e banners com o intuito de demonstrar que o toque, o olhar e uma conversa podem desempenhar papel fundamental na Medicina tanto quanto a evolução tecnológica. Com esses pressupostos, acredita-se que a humanização se inicia nas diferentes situações da saúde pública, seja na prevenção, tratamento ou pesquisa e ensino.

Método Foi realizado um estudo de caso referente aos procedimentos de abordagem de dois investigadores (P1 e P2) na seleção de pacientes assistidos em um hospital escola público. Trata-se de uma abordagem quantitativa e qualitativa, observacional e com análise prospectiva, onde verificou-se a influência da comunicação aplicada por P1 e P2 na interação com os pacientes, para a adesão à pesquisa e possíveis variáveis comportamentais destes. O estudo da performance comunicativa dos pesquisadores ocorreu no contexto da investigação denominada “Avaliação da incidência da Dor Crônica Pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgias para o tratamento de doenças musculoesqueléticas” (DCPO) executado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O estudo principal teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa e seguiu todos os seus preceitos. O HCFMB É um hospital público universitário, que tem sua administração vinculada à Secretaria de Estado de São Paulo e é associado à Faculdade de Medicina de Botucatu -Unesp para fins de ensino, pes99


Capítulo 6 - O papel da comunicação na abordagem de candidatos para participação em pesquisa clínica

quisa e extensão. Ele atende 68 cidades do Estado de São Paulo e integra a Diretoria Regional de Saúde de Bauru — DRS 6. No local, são realizados desde o atendimento médico básico ao mais especializado, execução de exames de imagem e laboratoriais, procedimentos invasivos e cirúrgicos, além da pesquisa científica e promoção da saúde por meio de campanhas de conscientização. No caso de algumas especialidades médicas, ele presta assistência à população de todo o território nacional. (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE BOTUCATU, 2021). A pesquisa de DCPO, que serviu como fundamento deste trabalho, realizada no período de maio de 2015 a maio de 2016, arrolou 339 pacientes nesta instituição, onde P1 e P2 abordaram pacientes na fase inicial de internação, ainda no período pré-operatório, a partir de um conjunto de questionários para a coleta de dados. Os pacientes eram previamente selecionados conforme critérios de inclusão e exclusão daquele estudo, convidados e inseridos na pesquisa após convite e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Utilizou como critério de inclusão pacientes com doenças degenerativas ou traumáticas no quadril, joelho e coluna, maiores de 18 anos, não portadores de doenças metastáticas, submetidos a cirurgias para tratamento musculoesquelético, sem histórico de cirurgia anterior na mesma topografia. Modelos de abordagem Os tipos de abordagem aplicados pelos pesquisadores não foram previamente estabelecidos entre ambos, tampouco seguiu roteiro predefinido para a realização dos convites. No entanto, foi amparado pelas necessidades acadêmicas e investigativas de cada pesquisador. A descrição dos modelos de abordagem e informações pertinentes aquela pesquisa, foram fornecidas pelos próprios pesquisadores. Pesquisador 1 (P1) Estudante de medicina no último ano da graduação e participante de projeto de inicia-

ção científica, com bolsa de estudos. Alguns dados levantados por meio da pesquisa principal, eram utilizados no projeto de iniciação científica, que levaria um ano para ser concluída. Para tal, foi incluído na investigação para realizar os convites aos possíveis participantes e entrevistá -los em caso de concordância. Pesquisador 2 (P2) Aluno de pós-graduação nível doutorado, com bolsa de estudo. O levantamento para o estudo principal fomentara informações utilizadas em sua tese, que levaria três anos para ser

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

concluída. Além disso, produziria dados importantes para realização de artigos e posteriormente, publicação científica. Ambas as populações captadas pelos pesquisadores, seriam acompanhadas por P2 durante o período de um ano, para a conclusão do estudo principal. Apesar de se tratar da contribuição para o mesmo estudo, os pesquisadores tinham objetivos diferentes para o destino e tratamento das informações. Análise estatística

Os dados foram tabulados, integrados, analisados e distribuído em forma de planilhas, onde foi realizado o teste de comparação utilizando proporção normal.

Resultados Os pesquisadores abordaram 339 pacientes que atendiam aos critérios pré-estabelecidos, destes, 313 (92,3%) aceitaram a participar da pesquisa (63% feminino;37% masculino). A mediana de idade dos participantes foi de 72 anos (45 – 99), onde 72% destes estavam acima dos 65 anos. Os pacientes foram abordados nas primeiras horas após admissão hospitalar, no período pré-operatório, ou seja,

antes da realização da cirurgia. O pesquisador 1 abordou 212 pacientes e obteve 88,7% de sucesso das participações. Já o pesquisador 2 abordou 127 pacientes e incluiu 98,4% destes ao estudo.

Discussão As estratégias do tipo de abordagem e comunicação com os pacientes foram escolhidas pelos próprios pesquisadores P1 e P2, segundo o objeto de cada um, sem consenso prévio ou treinamento entre eles. No entanto, foi possível observar certa distinção no modelo praticado por cada um.

Por tratar-se de um estudo unicentro, o pesquisador 1 (P1), na época graduando de medicina, contribuía na inclusão e nas entrevistas dos pacientes inseridos no estudo. Por outro lado, os dados obtidos para o estudo principal também contribuíam para seu estudo de iniciação científica, que visou a identificação de alguns fatores de risco e predisposição para a DCPO. Após abordagem e obtenção das informações, P1 não entraria em contato novamente com o paciente e estaria por encerrado sua participação. Já participação do pesquisador 2 (P2) tinha como escopo alimentar dados para o estudo principal e acompanhar esses pacientes durante um ano, o qual era o recorte temporal daquele 101


Capítulo 6 - O papel da comunicação na abordagem de candidatos para participação em pesquisa clínica

trabalho. Com isso, seria possível obter as mesmas informações de P1 e ainda observar a incidência da doença em pacientes submetidos a cirurgia após a realização do procedimento. Após abordagem e obtenção das informações, P2 entraria em contato com os pacientes após o ato cirúrgico por meio de ligação telefônica em períodos programados previamente. Nesses contatos posteriores, foi possível antecipar consultas ou solicitar reavaliação do caso, quando solicitado pelo paciente, à especialidade responsável pela cirurgia. Nas abordagens realizadas pelo P1 junto aos pacientes, foram debatidos o objetivo da pesquisa, sendo as informações utilizadas para fins meramente acadêmicos e contribuição para a sociedade científica. A atuação de P1 nessa pesquisa de DCPO se deu somente no período préoperatório e em nenhum outro período. Nesse sentido, essa característica sugere indiferença dos pacientes na participação do estudo, observando que das 212 abordagens (62,5%) realizadas por esse pesquisador, 24 pacientes (11,3%) se recusaram participar da pesquisa. Também, o pesquisador relatou, diversas vezes, em reuniões internas certo desinteresse ou impaciência dos participantes que, por vezes, dificultava a obtenção das informações. Durante as abordagens de P2, foi argumentado a meta do estudo para fins acadêmicos, contribuição para a sociedade científica e o acompanhamento do caso do paciente após o ato cirúrgico e sua alta hospitalar, durante o período de um ano (não necessariamente nesta ordem). Nesse caso, das 127 abordagens (37,5%) realizadas, houve apenas 2 pacientes (1,6%) que se recusaram a participar do estudo. Entre os que aceitaram o convite, P2 relatou que eles tinham interesse na participação e envolvimento para responder os questionamentos. Nesse sentido, sugere-se que a percepção desses usuários do serviço de saúde foi de amparo por parte da instituição, intermediada pelo pesquisador. A possibilidade de um relacionamento mais próximo com o serviço, principalmente em hipóteses de complicação cirúrgica após a alta hospitalar, pode ter sido atraente para o participante e lhe proporcionado uma sensação de segurança. Essa percepção dos pacientes converge com as reflexões de Nobre Neto e Sousa (2011), quando abordam a importância de informações de qualidade aos pacientes nos momentos em que mais precisam e que pode contribuir para a promoção da saúde deles. O período pré-operatório, muitas vezes, é um momento de incertezas, medos e inseguranças, o qual o indivíduo se encontra sensibilizado pelas informações trazidas pelos profissionais. Além disso, é um momento de estresse ocasionado por experiências negativas do serviço público e relatos de terceiros. De fato, é um período que a humanização se faz necessária em diferentes instâncias, seja no acolhimento, durante a terapia, na alta, no ensino ou na pesquisa. Na fase pós-operatória da pesquisa de DCPO, estabelecida por P2 por meio de contato telefônico, possível observar interesse dos participantes em fornecer informações referentes a recuperação cirúrgica e para o esclarecimento de dúvidas sobre sintomas. Em alguns casos, os participantes discuti-

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

ram a possibilidade de reavaliação do caso pela especialidade ou antecipar consultas programadas (pacientes que referiram dor persistente após a alta hospitalar). Nesse contexto, a oferta de assistência ao paciente durante o período pós-operatório de DCPO por P2 sugere a criação de um vínculo entre os envolvidos, o qual leva a pessoa se sentir mais aparada e estabeleça uma relação de confiança com o pesquisador. Trata-se de uma interação em que P2 sinaliza aos participantes a abertura para o diálogo, proporcionando a construção de um relacionamento equilibrado entre os envolvidos. Vai além de um modelo de comunicação impositiva em que apenas o pesquisador ou profissional de saúde se expressa e o paciente/pesquisado apenas ouve o outro tem a dizer. Na realidade, a abordagem sugere que o pesquisador/profissional está também disposto a ouvir o que o paciente tem a expressar e a se relacionar com ele. Por isso, o estudo aponta que a abertura para o diálogo/comunicação pode ser um diferencial na realização de pesquisas clínicas.

Considerações Finais A comunicação está presente em diferentes tipos de interação, sejam elas informais, profissionais, comerciais, de cuidado, de ensino e pesquisa, dentre outros. Delas são estabelecidas uma relação entre as partes, emissor e receptor, o qual busca-se alcançar o objetivo a qual motivou esse tipo de contato.

Este tipo de envolvimento também se apresenta no cenário científico nas pesquisas clínicas, o qual deve estabelecer-se uma relação entre o pesquisador e pesquisado, o qual motivou a construção desse trabalho. Por meio das análises do modelo de comunicação executada por dois pesquisadores, foi possível observar que este, pode proporcionar diferentes tipos de percepção do receptor, no caso o pesquisado. Tal conclusão é obtida comparando o percentual de adesão dos participantes de ambos os entrevistadores. Observa-se também que se estabelece um relacionamento mais próximo entre pesquisador 2 e os pesquisados, quando estes compactuam de informações por um maior período de tempo, no caso,

o acompanhamento pós cirúrgico. Mesmo não sendo um escopo terapêutico, subentende-se que há um laço de interesse nesse sentido pelo paciente participante. O presente trabalho contribui de forma singela ao meio científico, no entanto, levanta questionamentos acerca dos modelos de comunicação e relacionamento praticados nas pesquisas de saúde. Que por sua vez, sugere a necessidade de maior sensibilização por parte dos profissionais e/ou ainda, carência do relacionamento das instituições públicas de saúde com seus usuários.

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Capítulo 6 - O papel da comunicação na abordagem de candidatos para participação em pesquisa clínica

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

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CAPÍTULO 7 Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo Adriana Maria Donini1

Introdução A temática saúde está presente de maneira massiva diuturnamente em diversas mídias desde março de 2020. Em decorrência da pandemia do vírus SARS-CoV-2 (causador da COVID-9) e das consequências geradas, esse problema de saúde pública ganhou o destaque principal nos meios de comunicação. Além disso, várias instituições que possuem cursos de Jornalismo ou são da área de ciência e/ou saúde também investiram na produção de vídeos e podcasts com esse assunto. Soma-se a esses aspectos a aposta de diversos profissionais de saúde em mídias sociais digitais para divulgação científica e ações de conscientização. No entanto, a abordagem sobre saúde em seus vários aspectos é assunto que deveria ter protagonismo constante na mídia, tendo em vista seu caráter vital. A desinformação — amplificada com as redes sociais digitais — é outro aspecto que justifica uma comunicação ampla e contínua por veículos de comunicação, instituições e órgãos governamentais como Ministério da Saúde e secretarias estaduais e municipais de Saúde. Cardoso e Araújo (2021) apontam como marco do campo de Comunicação e Saúde, as práticas que ocorreram com a instituição do Serviço de Propaganda e Educação Sanitária, em 1923. A pesquisa sobre a interface entre Comunicação e Saúde no meio acadêmico começou a ganhar corpo a partir da década de 1990 e se intensificou com a criação de eventos voltados exclusivamente a debates e investigações focados na relação dessas duas áreas e publicação de livros sobre o assunto. Este capítulo contempla mapeamento de dissertações e teses que abordam comunicação e saúde e foram concluídas, no período de 2010 a 2020, em programas de pós-graduação em Comunicação sediados em universidades publicadas do estado de São Paulo. _____________________ ¹ Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista “Júalio de Mesquita Filho” (Unesp) e Graduada em Jornalismo pela Universidade do Sagrado Coração. E-mail: dridonini@gmail.com

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Capítulo 7 - Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo

Inicialmente, é conceituada a interação entre Comunicação e Saúde. Na sequência, apresenta-se o surgimento das pesquisas sobre esses campos realizada por pesquisadores da área de Comunicação e a contribuição de eventos científicos para a exposição dos estudos e debates. Em seguida, é exposto o mapeamento realizado com amostra obtida a partir de consulta realizada na página do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e no Banco de Dissertações e Teses da mesma instituição e também no site do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) e no Repositório Institucional da universidade. Identificou-se o formato de comunicação analisado por esses trabalhos estudados, as abordagens contempladas dentro do campo de saúde e a metodologia predominante nas investigações. Comunicação e Saúde – conceitos e práticas pioneiras no Brasil Campo em construção, a Comunicação e Saúde pode ser considerada como uma interação entre essas duas áreas. Araújo (2013, p. 4) apresenta o seguinte ponto de vista sobre essa interface:

Comunicação e Saúde apresenta-se como um campo compósito, formado na interface de dois outros campos, o da Comunicação e o da Saúde. Neste sentido, pode ser considerado um subcampo de cada um, mas, considerando que traz em si todas as características de um campo, ainda que novo, portanto em consolidação [...]

A autora ressalta, no entanto, que este termo se diferencia de outras denominações como comunicação para a saúde, comunicação em saúde e comunicação na saúde. A esse respeito, ela comenta que:

Comunicação e Saúde. O conectivo e, aparentemente inofensivo, produz sentido definitório para o campo em questão. Estabelece a existência de um campo e, assim, diferencia-se de outras designações correntes, como comunicação em saúde, na saúde, para a saúde. Com pequenas variações, estas constituem o sentido de uma prática comunicativa que ocorre em um campo estabelecido, o da Saúde. (2013, p. 3).

Pessoni, Araújo, Gomes e Oliveira (2008) salientam a importância da integralidade dessas áreas em contraponto à fragmentação: 109


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Assim, pensar hoje o campo Comunicação e Saúde não é apenas recortar um e outro e uni-los através de propostas e práticas informacionais e comunicacionais instrumentais para viabilizar a saúde. É buscar refletir sobre os alcances e limites de cada um a partir daquilo que é demandado teoricamente e, principalmente, pela prática informacional e comunicacional [...] A relação entre os campos da Comunicação e da Saúde pode ocorrer de modos variados e com agentes e objetivos diversos. A abordagem midiática é uma das manifestações. Outra possibilidade é a prática comunicacional realizada por instituições para divulgar ações de conscientização ou estudos desenvolvidos por seus docentes, pesquisadores e discentes. Um terceiro segmento é a comunicação

interpessoal entre profissionais de saúde e os pacientes. Cardoso e Araújo (2021) defendem que a instituição do Serviço de Propaganda e Educação Sanitária, em 1923, foi o marco das ações de Comunicação e Saúde no país. Dentro desse contexto de tentativa de orientação sobre saúde por órgãos governamentais, nas décadas seguintes também foram realizadas outras ações. A radiodifusão em sua fase pioneira serviu à exposição de orientações sobre saúde — em especial estímulo a hábitos de higiene. Na instituição do Serviço de Radiodifusão Educativa passou a ser obrigatória a transmissão de, no mínimo, 10 minutos, de conteúdos educativos elaborados pelo Ministério da Educação e Cultura (BRASIL, 1937) Outro exemplo que ocorreu na década de 1970 foi o programa oficial massivo intitulado Proje-

to Minerva, que consistia na educação de adultos por meio do rádio e também incluía conteúdos relacionados à saúde. Algumas ações na área de saúde estimularam maior exploração do aspecto comunicativo. Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio Lei nº 8.080/90, que dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde e a organização e funcionamento dos serviços, a saúde passou a ter um caráter de integralidade e que favoreceu enfoques comunicativos diferenciados. Em 2003, foi instituída a Política Nacional de Humanização (PNH) com o objetivo de efetivar os princípios do SUS nas práticas cotidianas. Com isso, houve um maior estímulo à relação interpessoal na comunicação entre profissionais de saúde e usuários dos serviços. Naquele mesmo ano, foi reali-

zada a 12ª Conferência Nacional de Saúde que contemplou eixo sobre os temas da informação, educação e da comunicação na saúde. As inovações na legislação e políticas públicas lançaram novas possibilidades de práticas comunicacionais com temáticas na área de saúde e que instigaram estudos sistematizados visando compreender esse campo.

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Capítulo 7 - Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo

Pesquisas acadêmicas por instituições da área de Comunicação e papel dos eventos na consolidação do campo A interação das áreas Comunicação e Saúde é composta por uma variedade temática, de agentes e possibilidades teóricas e metodológicas. Rodrigues (1997) observa que, na década de 1960, começa despontar a linha de pesquisa intitulada Comunicação para o Desenvolvimento, da qual Comunicação e Saúde era uma das subdivisões. Sobre esse segmento de estudo, o autor menciona que: Esta é a linha de investigações que alcançou a maior produção entre os estudos brasileiros dos anos 60 e, juntamente com os estudos de radiodifusão, constituía, em 1980, uma das temáticas mais trabalhadas em todos os tempos na América Latina. Note-se que é num contexto de propostas desenvolvimentistas que se dá a emergência de um campo bem definido de investigações e práticas de comunicação em saúde. (1997, p. 19)

Em sua tese de doutorado, Pessoni (2005) apresenta levantamento referente ao período de 1978 a 2004 em relação à produção científica sobre Comunicação e Saúde na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). O resultado obtido foi, que neste ciclo, houve defesa de 18 dissertações e seis teses. Em relação a todos os programas da área de Comunicação (excluída a produção da Umesp), entre 1979 e 2003, ele identificou 80 trabalhos. A primeira dissertação foi finalizada em 1979 na ECAUSP e intitulada “Comunicação, informação e documentação na área da saúde do trabalhador (CESAT) em Santos”. (p. 143) Tendo por base esse estudo de Pessoni (ibid.), se dividirmos por década, nos anos 1980 foram 10 estudos. Na década de 1990, tem-se o registro de 29 trabalhos de pós-graduação na área de Comunicação, e de 2000 a 2003, 30 pesquisas entre teses e dissertações. (p. 144) Quanto a pesquisas que se debruçaram a compreender de maneira mais aprofundada essa interface, Torres (2012) considera como seminal o artigo “Comunicação Social e Saúde: reflexões sobre o conceito e práticas institucionais”, de autoria de Áurea Pitta, e que foi publicado em abril de 1993 pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A dissertação de mestrado dessa mesma autora intitulada “Interrogando os Campos da Saúde e da Comunicação: notas para o debate”, defendida em 1996, também é vista como trabalho pioneiro por Torres (ibid.). Ainda na década de 1990, outros pesquisadores se dedicaram a investigações científicas sobre Comunicação e Saúde. Entre eles, Isaac Epstein, Arquimedes Pessoni, Wilson Bueno. Graça Caldas e Antonio Fausto Neto. Posteriormente, Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes também passou a priorizar a temática em seus estudos. 111


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Quanto a instituições propulsoras, há certo consenso em mencionar a Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), que conta com o grupo de trabalho Comunicação e Saúde, o qual tem integrantes de diversas universidades, e a Umesp — por ter linha voltada a esse campo. A divulgação de estudos, circulação das ideias e debates em torno desse campo ganharam espaço com a instituição de eventos. Em 1998, foi realizada, em São Bernardo do Campo, a primeira edição da Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde (ComSaúde). O tema central do evento foi “Mídia e saúde pública”. Pessoni (2007) destaca a participação de pesquisadores do exterior nessa Conferência. Segundo ele, além de instituições brasileiras, houve apresentação de trabalhos por acadêmicos de países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Espanha, México, Peru, Estados Unidos e Portugal. Ainda de acordo com Pessoni (ibid.), 70% dos trabalhos apresentados foram de autoria de pesquisadores da área de comunicação e 20% dos papers eram de profissionais da área de saúde. (p. 150) Epstein (2005) esclarece que a ComSaúde foi um evento que se originou após participação da Umesp no Proyecto Comsalud, um estudo coletivo financiado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e que teria sido motivador da continuidade das pesquisas em Comunicação e Saúde. Sobre esse aspecto, ele explica que após a finalização dos trabalhos, a OPAS decidiu fazer um estudo comparativo entre os 13 países. No entanto, em sua opinião, os dados de cada país serviriam para as realidades locais e talvez não pudessem ser aplicados em nível macro, aspecto que teria levado o grupo da Umesp a optar por dar continuidade à produção acadêmica e troca de conhecimentos em âmbito nacional. Pessoni (2005, p. 147) cita depoimento concedido pelo professor José Marques de Melo, em 2005, e no qual relembrou a ideia de criação da ComSaúde: Foi justamente a existência desse núcleo de pesquisadores jovens, em nosso campus, que determinou a inclusão de uma Conferência Brasileira sobre Comunicação e Saúde no calendário anual da Cátedra UNESCO/UMESP. Tais eventos, sob a liderança de Isaac Epstein, encorajado pelos doutorandos e mestrandos pesquisando tal recorte investigativo, começam a ganhar legitimidade acadêmica. Eles suscitaram a participação, não só de pesquisadores e profissionais de várias regiões brasileiras, mas também de países latino-americanos.

Ainda neste mesmo depoimento, o professor José Marques destaca como docentes atuantes na fronteira entre Comunicação e Saúde e que estimularam a incluir este evento no calendário da Umesp, os docentes Isaac Epstein, Wilson Bueno, Graça Caldas e Gino Giacomini. Esse encontro passou a figurar na agenda dos encontros anuais da Metodista por mais de uma década. Outra reunião de grande relevância para este campo de pesquisa é o Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Abrasco, que contempla diversas compreensões na 112


Capítulo 7 - Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo

tríade saúde-doença-cuidado sob diferentes perspectivas de pensamentos brasileiros e internacionais. A origem do evento foi o I Encontro de Brasileiro de Ciências Sociais em Saúde, realizado em 1993. Dois anos depois é que se transformou em Congresso, incorporando as Ciências Humanas (ABRASCO, 2021). Já foram realizadas oito edições do Congresso que é organizado pela Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Abrasco. No Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) a temática não conta com um espaço exclusivo e os papers são apresentados em diversas divisões temáticas. Nas edições mais recentes, esse campo está incorporado — de certa forma — no Grupo de Pesquisa “Comunicação, Ciência, Meio Ambiente e Sociedade”. A Conferência do Pensamento Comunicacional (Pensacom), evento que já teve sete edições, até 2018, contou com Grupo de Trabalho específico para apresentação de pesquisas sobre Comunicação e Saúde. Análise da produção científica de duas universidades durante uma década Com o intuito de apresentar um panorama recente de pesquisas sobre Comunicação e Saúde, foi realizado um recorte que contemplou mapeamento de dissertações e teses defendidas no período de 2010 a 2020 em duas universidades públicas do estado de São Paulo. Para tal, foram coletados, no mês de abril, dados dos sites dos programas de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e de Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp, além dos repositórios de teses e dissertações das duas instituições e de verificação no Banco de Teses e Dissertações da Capes . A pesquisa se enquadra no mapeamento do tipo bibliográfico e que contempla fazer um levantamento de produções (teses e dissertações) em um período, área de conhecimento e temática delimitados. Estudo das dissertações e teses defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA – USP Criado em 8 de janeiro de 1972, o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) foi o primeiro a entrar em funcionamento no Brasil. Inicialmente, oferecia apenas o curso de mestrado e, em 1 de agosto de 1980, passou a contar também com o nível de doutorado. Desde 2006, esse Programa possui três áreas de concentração: Teoria e Pesquisa em Comunicação, Estudos dos Meios e da Produção Mediática e Interfaces Sociais da Comunicação. 113


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Para a realização deste estudo, utilizou-se como uma das fontes de pesquisa a página do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Foi acessado o tópico Produção intelectual e o subitem Teses e Dissertações. A partir do título, foram selecionados os estudos que integram a análise realizada neste capítulo. No entanto, havia dados até o ano de 2019. Assim, também se recorreu à Biblioteca de Teses e Dissertações, utilizando como filtros as palavras comunicação e saúde e a unidade Escola de Comunicações e Artes. Com isso, foi possível verificar se havia algum dado que não integrava a

Identificação Título da dissertação ou tese 1

Ano de defesa

Nível

Projeto Maluco Beleza: a comunicação 2011 como dispositivo terapeutizante de (re) significação de sentido de vida, no contexto da reforma psiquiátrica O design como instrumento social na 2012 área de educação em saúde: o caso do Dia Mundial do Diabetes

Doutorado

3

O caráter multidisciplinar da comunica- 2012 ção visual em hospitais

Doutorado

4

Comunicação, alimentação e saúde: di- 2013 retrizes para uma nova abordagem midiática e promoção da cidadania a partir da análise temática do material didático do Projeto Educando com a horta escolar (PEHE) A comunicação nas autarquias de fisca- 2014 lização do exercício profissional: interesse público versus interesses privados

Mestrado

Alimentação ou diversão? A publicidade 2014 contemporânea de alimentos infantis e suas possibilidades de sentidos para as práticas de consumo e hábitos alimentares das crianças Comunicação, promoção da saúde e 2015 espaço social alimentar: um estudo exploratório na ECA-USP

Mestrado

8

Pastoral da Saúde: uma análise do dis- 2018 curso do sujeito coletivo na perspectiva do capital social e do reconhecimento

Doutorado

9

Existe amor em app?: Percepções sobre 2020 a sexualidade, a prevenção e a comunicação do HIV e da aids entre usuários de aplicativos de relacionamento

Mestrado

2

5

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7

Mestrado

Mestrado

Mestrado

página do Programa de Pós-Graduação e incluir a produção acadêmica de 2020. 114


Capítulo 7 - Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo

Por meio das consultadas realizadas, identificamos nove trabalhos concluídos no período de 2010 a 2020. Desse total, seis equivalem a dissertações de mestrado e três a teses de doutorado. Os anos de 2012 e 2014 foram os que tiveram maior número de defesas de pesquisas sobre a temática, com dois trabalhos concluídos em cada ano. Não localizamos nenhum estudo com essa abordagem finalizado em 2010 e 2019. Quanto à temática estudada, alimentação foi o tema predominante, com dois estudos (22,2% da amostra), que se debruçaram sobre o assunto. Outras abordagens constatadas foram saúde mental, diabetes, comunicação visual em hospitais e Pastoral da Saúde. Em relação aos meios de comunicação estudados, a descrição consta no quadro a seguir: Quadro 2 – Tipo de comunicação pesquisado Dissertação/Tese

Formato de comunicação

1

Rádio

2

Design (comunicação verbal e imagética)

3

Comunicação Visual

4

Material didático composto por cartilha e CD-ROM

5

Comunicação organizacional

6

Publicidade

7

Comunicação organizacional

8

Comunicação organizacional

9

Aplicativo de relacionamento

Fonte: elaborado pela autora.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Assim, constata-se uma prevalência por pesquisas no âmbito da comunicação organizacional, que correspondem a 33,3% das teses e dissertações inseridas no campo de Comunicação e Saúde no período analisado. Nota-se a pluralidade de formatos e uma análise de comunicação por meio de material didático – objeto menos contemplado em pesquisas que são realizadas nessa interface. O aspecto visual investigado em dois trabalhos foi outro elemento identificado. Em dissertação mais recente, observa-se estudo de aplicativo, o que condiz com o momento atual. Também foi analisada a metodologia descrita pelos autores como sendo a utilizada na pesquisa. Nesse quesito, constatou-se a aplicação de metodologias diversas. Foram expostos os seguintes referenciais como condutores dos estudos: Metodologia Cartográfica (caso guia); Semiótica (na acepção de Charles Morris); Observação Participante; Pesquisa Bibliográfica; Pesquisa Documental; Análise de Conteúdo (Laurence Bardin); Análise Semiológica e Fenomenológica; Sociologia da Alimentação (Jean Pierre Poulain); Análise do Discurso inglesa; Entrevista em Profundidade; e Questionário. Dessa maneira, alguns dos métodos identificados como predominantes em períodos anteriores ao desse estudo em relação a pesquisas sobre comunicação e saúde também estiveram presentes. Araújo (2008) apontou a predominância de Análise de Conteúdo e Análise do Discurso ao fazer um panorama desse campo de estudos à época. Tendo por base o levantamento realizado, no período de 2010 a 2020, foram concluídas 233 pesquisas de mestrado e 206 em nível de doutorado. Gráfico 1 - Relação entre dissertações e teses defendidas e os estudos sobre Comunicação e Saúde no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA - USP

Fonte: elaborado pela autora.

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Capítulo 7 - Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo

Estudo das dissertações e teses defendidas no Programa de Pós-Graduação Comunicação da FAAC – Unesp O Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da Unesp foi recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em dezembro de 2002. As atividades tiveram início em 2003 e as primeiras defesas de dissertações de mestrado ocorreram em 2005. O curso de doutorado começou a funcionar em 2014, com defesa das teses pioneiras no ano de 2018.

A fim de compreender a produção científica em Comunicação e Saúde, inicialmente foi realizada pesquisa na página do Programa de Pós-graduação em Comunicação da FAAC - Unesp. No banco de dados, há apenas dissertações defendidas até 2017, além disso, existem trabalhos concluídos nos anos disponibilizados para consulta que não constam na referida página. Assim, procedeu-se também consulta no Banco de Dissertações e Teses da Unesp utilizando as palavras-chaves comunicação e saúde. A partir dos resultados gerados, identificou-se qual produção científica era referente à unidade estudada e, após a leitura do resumo, foi verificado se realmente correspondia a objeto relacionado ao foco da investigação apresentada neste capítulo. Com isso, obteve-se como resultado a defesa de sete pesquisas.

Quadro 3 - Descrição da produção científica sobre Comunicação e Saúde da FAAC - Unesp no período de 2010 a 2020

F

117

Identificação

Título da Dissertação Ano de Defesa ou Tese

Nível

1

O diálogo entre trabalhadores em saúde e usuários: análise do processo de comunicação praticado em um hospital público sob a ótica das tensões sociais

2010

Mestrado

2

Comunicação Pública 2011 e participação nos conselhos gestores de políticas públicas – um estudo de caso do Conselho Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul

Mestrado


Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Quadro 3 - Descrição da produção científica sobre Comunicação e Saúde da FAAC - Unesp no período de 2010 a 2020 (continuação) 3

bo-

Da Loucura à Ciência: as imagens e a construção das notícias sobre os transtornos mentais e de comportamento e seus personagens na Folha de S. Paulo

2012

Mestrado

ra

4

A saúde em pauta: análise de enquadramento de matérias sobre saúde pública de dois telejornais

2012

5

O discurso no ensino em Saúde: Processos Comunicacionais e mecanismos de legitimação através de recurso audiovisuais

2017

6

O "milagre" da pílula: os efeitos da mídia na opinião pública sobre o caso da fosfoetanolamina sintética Comunicação, informação e ouvidoria nos websites dos Ambulatórios Médicos de Especialidades – AMES

2019

Mestrado

2019

Mestrado

7

Mestrado

Fonte: Elaborada pela autora.

Conforme já mencionado, o curso de doutorado é mais recente na instituição e todas as pesquisas que relacionam Comunicação e Saúde foram desenvolvidas em nível de mestrado.

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Capítulo 7 - Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo

Sobre os temas investigados, estiveram a relação usuários e profissionais de saúde em unidade hospitalar, políticas públicas, saúde mental, saúde pública, medicamento contra o câncer (fosfoetanolamina) e ouvidoria em ambulatórios médicos de especialidades. Dessa maneira, nota-se pluralidade de enfoques e atualidade das temáticas. Os canais contemplados nas dissertações foram os seguintes: Quadro 4 - Tipo de comunicação pesquisado Identificação da dissertação 1 2 3 4 5 6 7

Formato de comunicação Comunicação interpessoal Comunicação organizacional Jornal Televisão Audiovisual Site Site

Fonte: elaborado pela autora

Observa-se pluralidade nos formatos comunicacionais estudados, com dois estudos sobre websites. Assim, foi contemplado canal de comunicação contemporâneo. Em relação às metodologias adotadas pelos pesquisadores, prevaleceram Pesquisa Documental e Análise de Conteúdo aplicadas em dois estudos. Também foram utilizados

Entrevista, Estudo de

Caso, Enquadramento e Tríplice Mimesis.

Considerações Finais Práticas que envolvem a interface Comunicação e Saúde no Brasil sob diferentes perspectivas não são recentes. Elas foram desenvolvidas de forma institucionalizada desde o começo do século passado. As políticas públicas e legislações favoreceram uma visão mais integrada e humanizada da saúde, aspectos que puderam impulsionar novas dinâmicas, seja em abordagens midiáticas ou interpessoais. Como campo de pesquisa, não há um consenso sobre estudo pioneiro, mas Rodrigues (1997) aponta que na década de 1960 houve aceno favorável a investigações na linha denominada Comunicação para o Desenvolvimento, que tinha como uma das vertentes a Comunicação e Saúde. A primeira Pós-Graduação em Comunicação entrou em funcionamento no ano de 1972, na Universidade de São Paulo (USP). Em levantamento realizado por Pessoni (2005) consta que a primeira dissertação que relaciona Comunicação e Saúde dentro de um Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social foi defendida em 1979.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Na década de 1990, os estudos começaram a ganhar corpo. A Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) foi uma instituição que impulsionou o desenvolvimento desse conhecimento ao dedicar uma linha de pesquisa à Comunicação e Saúde. Vários docentes da instituição passaram a desenvolver estudos e orientar trabalhos sobre essa interface. A participação dessa instituição no Proyecto Comsalud, estudo colaborativo realizado em âmbito internacional e financiado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), segundo relatos expostos por Epstein (2005), estimularam a realização de pesquisas que se debruçassem sobre a realidade nacional. Essa também teria sido a mola propulsora para a criação da Conferência em Comunicação e Saúde (ComSaúde), que foi promovida durante mais de uma década pela Umesp em parceria com outras instituições. Outro evento que foi criado e ainda traz contribuições para a divulgação de estudos e troca de conhecimento de pesquisadores das áreas de Comunicação e Saúde é o Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Abrasco. Com o objetivo de apresentar um panorama mais recente em relação a pesquisas na PósGraduação em Comunicação, realizou-se mapeamento que contemplou dois programas pertencentes a universidades públicas do estado de São Paulo no período de 2010 a 2020. Como resultados principais, identificou-se pequeno número de teses e dissertações se comparado ao total de trabalhos concluídos. No caso da USP, equivale 2,05%. Na Unesp, embora não tenha sido possível identificar a quantidade precisa de teses e dissertações defendidas na unidade no ciclo avaliado, tendo por base a média do número de vagas oferecidas no processo seletivo de cerca de 25 vagas para mestrado e aplicando uma estimativa em relação a possíveis trabalhos concluídos, a produção de dissertações sobre Comunicação e Saúde equivale a apenas 2,8% das pesquisas. Na amostra estudada identificamos prevalência da comunicação organizacional. Quanto às temáticas da área de saúde, as abordagens foram plurais. Se considerarmos o aspecto quantitativo em relação aos dois programas, foram mais estudadas as abordagens alimentação e saúde mental. As metodologias utilizadas também foram múltiplas, com destaque para Análise de Conteúdo e Semiótica. Destaca-se que deveria haver melhor visibilidade das teses e dissertações concluídas nas páginas dos Programas de Pós-Graduação. Os dados estão desatualizados e incompletos. Embora nos últimos anos a produção acadêmica esteja concentrada nos repositórios das universidades e não nos sites das unidades universitárias, esses bancos de pesquisas também carecem de melhor funcionalidade nas buscas, considerando que nem sempre os filtros utilizados proporcionam resultados satisfatórios. É importante a realização de estudos de mapeamento de outras instituições e maior aprofundamento em relação à produção acadêmica mencionada neste trabalho para que se possa compreen-

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Capítulo 7 - Mapeamento da produção científica sobre Comunicação e Saúde em programas de pós-graduação de universidades públicas do Estado de São Paulo

der de maneira mais abrangente as pesquisas em Comunicação e Saúde realizadas em Programas de Pós-Graduação na área de Comunicação. Acredita-se que, em decorrência da Covid-19, estudos sobre Comunicação e Saúde — principalmente com recortes que abordem essa temática — serão abarcados por pesquisas desenvolvidas em Programas de Pós-Graduação da área analisada neste capítulo, tendo em vista a o fato de a atualidade ser um aspecto priorizado em investigações acadêmicas. Um dos objetivos deste mapeamento é a contribuição que pode ter a pesquisadores que pretendem se dedicar a esse campo enfocado, em termos de objetos já estudados e metodologias utilizadas.

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Educação, Comunicação e Saúde: avanços e desafios na contemporaneidade

Referências ARAÚJO, Inezita Soares de. O Campo da Comunicação e Saúde: contornos, interfaces e tensões. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – 36., 2013, Manaus. Anais [...] Manaus: Intercom, 2013. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2013/resumos/R80550-1.pdf. Acesso em: 10 abr. 2021. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA. Congresso Brasileiro de Ciências Humanas e Sociais em Saúde. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/congressos-eventos/ congresso-brasileiro-de-ciencias-sociais-e-humanas-em-saude/. Acesso em 15 abr. 2021. BRASIL. Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937. Presidência da República. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1930-1939/lei-378-13-janeiro-1937-398059publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: fev. 2020. CARDOSO, Janine Miranda; ARAÚJO, Inesita Soares de. Comunicação e Saúde. Disponível em: http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/comsau.html. Acesso em: 10 abril. 2021. EPSTEIN, Isaac. Comsaúde. Depoimento cedido a [Arquimedes Pessoni]. São Bernardo do Campo: Póscom-Metodista, 25 maio 2005. 1 fita cassete. MARQUES DE MELO, José. Comsaúde. Depoimento cedido a [Arquimedes Pessoni]. São Bernardo do Campo: Póscom-Metodista, 22 maio 2005. 1 fita cassete. PESSONI, Arquimedes. Contribuições da COMSAÚDE na construção do conhecimento em Comunicação para a Saúde: resgate histórico e tendências. 2005. Tese (Doutorado em Comunicação Social), Universidade Metodista de São Paulo, São Paulo, 2005. PESSONI, Arquimedes. O Comsaúde como espaço de discussão interdisciplinar. Comunicação & Sociedade, v. 28, n. 47, 2007. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/ index.php/CSO/article/view/740/749. Acesso em 11 abr. 2021. PESSONI, Arquimedes; ARAÚJO, Inesita Soares de; GOMES, Isaltina Maria de Azevedo Mello, OLIVEIRA, Valdir de Castro. Comunicação e Saúde: trajetória, panorama e desafios atuais. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 31., 2008. Natal. Anais [...] Natal: Intercom, 2008. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1391-1.pdf. Acesso em: abr. 2021. TEIXEIRA, Ricardo Rodrigues. Modelos comunicacionais e práticas de saúde. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v.1, n. 1, 1997. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/icse/ v1n1/02.pdf. Acesso em: 15 abril. 2021.

TORRES, Mônica Melo. O campo da Comunicação & Saúde no Brasil - Mapeamento dos espaços de discussão e reflexão acadêmica. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/ icict/6191/1/MONICA%20MELLO%20TORRES%20%20disserta%C3%A7%C3%A3o% 20PDF.pdf. Acesso em: abr. 2021.

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SOBRE OS AUTORES Adriana Maria Donini - Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho “(Unesp), câmpus de Bauru. Graduada em Jornalismo pela Universidade do Sagrado Coração (USC). Autora dos livros “No ar: rádio em Botucatu, anos 1950 a 1970” e “Instituto de Biociências: uma trajetória de lutas e conquistas”. Organizadora da obra “80 anos do Rádio Botucatuense”. Membro do Grupo Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Alexandre Lopes - Doutor em Anestesiologia pela Universidade “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus Botucatu. Especialista em Urgência e Emergência e em Docência do Ensino Superior. Graduado em Enfermagem pela Universidade Paulista (Unip), campus Bauru (Bolsista PROUNI). Supervisor de Qualidade e do Núcleo de Segurança do Paciente do Complexo Hospitalar Unimed de Botucatu. Amanda Ferreira Medeiros - Graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado). Cursando MBA em Marketing pela Universidade de São Paulo (USP). Auxiliar de Comunicação na Unimed Centro-Oeste Paulista. Vencedora das etapas regional e nacional da Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) edição 2020. Daniela Pereira Bochembuzo - Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Graduada em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (1995). Professora do ensino superior há 17 anos. Ministra aulas para os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda e MBA em Marketing Digital do Centro Universitário do Sagrado Coração (Unisagrado). Atuou como jornalista nas redações dos jornais Comércio do Jahu, Diário de Bauru, Folha de São Paulo e Jornal da Cidade, veículo em que exerceu a função de ombudsman e esteve à frente do JC Saúde, suplemento semanal dedicado a saúde e bem-estar. É sócia da Mazs Comunicação, com sede em Bauru – SP. Pesquisadora filiada à Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Fernanda Sagrilo Andres - Doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora Adjunta do curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Pampa - Campus São Borja (RS). É uma das autoras do livro “Ontologia Publicitária: epistemologia, práxis e linguagem - 20 anos do Grupo de Pesquisa de Publicidade e Propaganda da Intercom (2019) e de dezenas de artigos publicados em revistas, livros e eventos científicos. Guilherme Antonio Moreira de Barros - Professor Associado do Departamento de Especialidades Cirúrgicas e Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Unesp. Livre-Docente em Terapia Antálgica e Cuidados Paliativos. É responsável pelo Serviço de Terapia Antálgica e Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (UNESP). Líder do Grupo de Pesquisa "Mecanismos e Tratamento da Dor". Jessica de Cássia Rossi - Doutora em Ciências Sociais, Mestre em Comunicação e Graduada em Comunicação Social - Relações Públicas. Docente dos cursos de comunicação do Centro Universitário do Sagrado Coração (Unisagrado) e da Faculdade Eduvale de Avaré-SP. Coordenadora do Projeto de Extensão DataLab. Professora Conteudista na área de Comunicação. Autora de capítulos de livros e artigos científicos em revistas nacionais e internacionais sobre Comunicação Organizacional, Comunicação Midiática e temas sociais como gênero e sustentabilidade. Suas pesquisas estão direcionadas para os temas: Comunicação e Saúde, Comunicação Organizacional e Relações Públicas e Responsabilidade Social.

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José Augusto dos Santos Magalhães - É Coordenador Geral de Extensão na Pró-Reitoria de Extensão e Pastoral Universitária do Centro Universitário Sagrado Coração (Unisagrado). Membro AdHoc do Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas (CONRERP/2a) na Comissão de Relacionamento Acadêmico Estudantil, além de membro eleito para o Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão e da Comissão Própria de Avaliação do Unisagrado. Graduado em Relações Públicas pelo Unisagrado (2019),possui experiência na área de Comunicação, com ênfase na Comunicação Comunitária. Júlia Marinelli Antunes - Graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Karina Ferrara Barros - Mestranda do programa de pós-graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Graduada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Escola de Comunicações e Artes da mesma instituição. Finalista do prêmio ABRAPCORP de monografias de 2019. Foi bolsista de Iniciação Científica e teve estudo premiado no XXIV Jornadas Jóvenes Investigadores AUGM e indicado à Menção Honrosa pela Comissão de Pesquisa da ECAUSP no 23º SIICUSP. Atua como profissional autônoma na área de Análise de Dados Quantitativos e Resultados junto à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Marcelo Pereira da Silva - Pós-Doutor em Comunicação Midiática pela Unesp, campus de Bauru. Doutor em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo. Mestre e Relações Públicas pela Unesp, campus de Bauru. Foi professor do Mestrado Profissional em Comunicação, do Mestrado Interdisciplinar em Cultura e Sociedade, do Mestrado Acadêmico em Comunicação e do curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Maranhão (2014 a 2020). Foi líder do grupo de pesquisa “Ecologia da Comunicação Organizacional”. Atualmente, é docente do Mestrado Interdisciplinar em Linguagem, Mídia e Arte e do curso de Relações Públicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas ( PUC-Campinas). Maria Aparecida Ferrari - Livre-docente, Doutora e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Professora dos programas de pós-graduação e graduação da Escola de Comunicações e Artes da USP. Fundadora e membro da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp). É professora-visitante de vários programas de pós-graduação em Comunicação de universidades latino-americanas. Autora de obras sobre relações públicas no Brasil e na América Latina, capítulos de livros e artigos científicos em revistas nacionais e internacionais. Suas pesquisas estão dirigidas para os temas: cultura organizacional, gestão da comunicação, comunicação intercultural e diversidades. Rannier Ferreira Mendes - Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp (20132018). Médico residente em Anestesiologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu (2019-2022). Foi bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no ano de 2016 (Processo FAPESP n. 2015/10975-4). Participou da diretoria da Liga de Anestesiologia, Dor e Cuidados Paliativos de Botucatu nos anos de 2015 e 2016. Valmor Rhoden - Pós-Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria. Doutor em Comunicação (PUC/RS), Professor Adjunto do Curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Pampa - Campus São Borja-RS e atual Diretor do Campus. Autor do livro “Manual de cerimonial público e Comunicação” (2014), “Sociedade e Cenários Emergentes” (2016) e “A experiência das assessorias de comunicação do curso de relações públicas da Universidade Federal do Pampa” (2016), além de dezenas de artigos publicados em revistas, livros e eventos científicos.

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