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Feminismo em Ação Feminismo Pop: feminismo, fenômeno de massa?

“Depois de longa temporada em baixa, o Feminismo volta à moda desfilado pela Chanel em seu Boulevard primavera/verão 2014 durante a Paris Fashion Week.” fundamental no debate feminista atual, muitas vezes polarizando com concepções liberais no seio do movimento feminista, dado o caráter intrinsecamente anticapitalista e antineoliberal da luta anti racista no Brasil. MEU CORPO É UM CAMPO DE BATALHA Não somente como dimensão simbólica, mas física, o corpo é território privilegiado de disputa para as feministas contemporâneas em sua pluralidade de formas e trajetórias, e múltiplas orientações do desejo. O Transfeminismo conquista terreno e reforça a noção de interseccionalidade no feminismo: as mulheres são várias como suas lutas e não podem ser reduzidas a um “universal” que apague suas especificidades e desigualdades. A insígnia “meu corpo, minhas regras” sintetiza um conjunto de lutas por autonomia, em defesa de direitos sexuais e reprodutivos. As mulheres brasileiras saem às ruas em contraofensiva à cultura de estupro, seja de forma organizada, como no caso das “Marchas das

Vadias” (que ganham edições anuais não somente em capitais, com distintas composições), dos atos públicos pela condenação de acusados de estupro ou ações jurídicas pela derrubada de sites de apologia ao estupro; seja em protestos espontâneos contra vazamentos de vídeos íntimos e assédio sexual como os que têm ocorrido em pequenas cidades do interior do país. A maternidade entra na pauta feminista como direito das mulheres, ligada a campanhas e projetos de lei contra a violência obstétrica e pela humanização do parto através do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao mesmo tempo, resistimos às investidas contra o aborto legal (no Brasil, aplicável somente a gravidez resultante de estupro, risco à vida da gestante e anencefalia do feto), e contra tentativas de retroceder em direitos sexuais elementares, como a simples garantia de atendimento integral, multidisciplinar e de urgência às mulheres vítimas de violência sexual nos aparelhos públicos de saúde, que a bancada religiosa no Congresso busca restringir.

A luta por autonomia é também cultural e identitária, encampada pelos movimentos de mulheres negras no resgate da simbologia do uso dos turbantes; o orgulho dos cabelos cacheados e crespos, em oposição às pressões da indústria da beleza; a denúncia do uso do blackfacing na dramaturgia, como recurso racista e misógino. Particularmente nos debates sobre sexualidade, o Feminismo Negro contribui com uma leitura menos moral e mais estrutural das relações, apresentando questionamentos importantes, a exemplo das ponderações à tentativa de ressignificação positiva do termo “vadia”. O movimento tem protagonizado importantes atos de rua, como a Marcha Nacional das Mulheres Negras, marcada para novembro deste ano, construída por todo o país, articulando ações regionais e nacionalizadas desde o final de 2014. O direito ao prazer, a ocupação do espaço público e fim do assédio, o enfrentamento à objetificação e mercantilização dos corpos, a autoestima estão na ordem do dia e trazem à baila

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