Passe a Folha - Edição 60 - 11 de novembro de 2020

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 11 de novembro de 2020. ANO 19 . N. 60

Mesmo que em alguns momentos exista a sensação de que o mundo está paralisado, uma importante revolução vem acontecendo globalmente: a luta pela igualdade, representatividade e proteção da população negra. Foto: Ana Luiza Bergamini

O ANO DA ELEIÇÃO DE TODAS AS CORES

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No país que possui a maior população negra fora da escravidão, parece que finalmente a população começa África e que agrega o peso de ter sido o maior territó- a questionar: que papel ocupam os negros na democrario escravista da América e também o último a abolir a cia brasileira?

O despertar do feminismo

Ressignificação

Trânsito do Efapi precisa ser revisto

Cinquenta anos depois da revolução social de maio de 1968, as reivindicações da célebre data seguem ecoando pelo planeta com a força de um tufão (PAG. 2)

Em meio a crise do Coronavírus, alguns setores da economia estão contornando a situação. Um deles é o setor imobiliário. (PAG.3)

Transitar pelas ruas do Bairro Efapi tem sido um grande desafio para pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas no geral. (PAG. 5)

Foto: Ana Lauiza Bergamini

Foto: Reprodução

Foto: Alexandre Madoglio


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EDITORIAL

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Chapecó, 11 novembro de 2020 . ANO 19. N. 60

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PRIMAVERA DAS MULHERES Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 13 de novembro de 2019 . ANO XX . N. 123

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s manifestações de maio de 1968, que começaram com os protestos da classe estudantil de universidades parisienses e culminaram na maior greve geral da França e de toda a Europa, mudaram para sempre o curso da humanidade. A data é tida como o desdobramento de toda uma série de questões já levantadas pela revisão dos costumes feita por lutas políticas, obras filosóficas e a euforia juvenil da época. No centro de todas as reivindicações estavam as mulheres, que saíram às ruas para mostrar ao mundo o descontentamento com o sistema social vigente. Inspiradas em obras de escritoras feministas como Simone de Beauvoir, reivindicavam a liberdade sexual, a igualdade no mercado de trabalho e o fim da ideia de ter como único propósito de vida o lar. O feminismo é um filosofia universal que considera a existência de uma opressão específica a todas as mulheres. Essa opressão se manifesta tanto a nível das estruturas como como as superestruturas - ideologia, cultura e política. Assume formas diversas conforme as classes e camadas sociais nos diferentes grupos étnicos e culturas. Os primeiros argumentos feministas pautavam, principalmente, a injustiça da exclusão de mulheres em algumas atividades centrais e fundamentais, às quais os homens pareciam estar destinados por uma ordem natural. Em 1993, Maria Amélia de Almeida Teles afirmou, em “Breve História do Feminismo no Brasil”, que “o movimento feminista brasileiro atual tem, sem dúvida, características inovadoras e de dimensões ainda difíceis de projetar num futuro próximo”. Ela reiterou, na mesma obra, que “a mulher não é apenas a metade da população e mãe de toda a humanidade. É um ser social, criativo e inovador. Falar de mulher nesses termos é mais do que se deixar envolver pelas mulheres do mundo inteiro. É deixar extravasar a ansiedade, o inconformismo e a ternura de milhares de mulheres. É resgatar a memória que mesmo obscurecida pelos reacionários, iluminará o caminho de todos os que buscam justiça e liberdade.”. Atualmente, o movimento feminista pode ser entendido como um movimento múltiplo, globalmente disperso e culturalO

O movimento feminista entre gerações. Foto: Ana Luíza Bergamini

Uma vertente política e ideológica atenta às transformações estruturais da sociedade e da cultura. Foto: Ana Luíza Bergamini

CINQUENTA ANOS DEPOIS DA REVOLUÇÃO SOCIAL DE MAIO DE 1968, AS REIVINDICAÇÕES DA CÉLEBRE DATA SEGUEM ECOANDO PELO PLANETA COM A FORÇA DE UM TUFÃO mente localizado. Em sua trajetória, é possível perceber que os diferentes momentos e demandas de luta transformaram-no numa vertente política e ideológica atenta às transformações estruturais da sociedade e da cultura. As ondas do feminismo contemplam a interpretação dos cenários e da diversidade do movimento, e assinalam, através de marcos históricos, como ele se reinventou ao longo de suas trajetórias em permanente resposta às problemáticas de cada época. A filósofa Marcia Tiburi, autora do recém-lançado “Feminismo em Comum” afirma que “estamos em um momento em que o feminismo se tornou a grande força de enfrentamento não só do machismo, mas que leva adiante a luta anti-racista e pelos direitos das mais diversas minorias políticas”. Entre os marcos do feminismo atual estão as redes de solidariedade desenvolvidas por mulheres. No último ano, elas denunciaram publicamente homens poderosos em casos de assédios, organizaram manifestações em diferentes países contra o feminicídio, criaram redes de apoio para ajudar vítimas de violência doméstica, de agressões e de estupros, desenvolveram grupos de debate e de apoio mútuo nas redes sociais, discutiram e condenaram o machismo, o racismo e a homofobia e trouxeram força para a nova onda de um movimento que tem mudado mentalidades, comportamentos e relações.

EXPEDIENTE Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó Reitor: Cláudio Alcides Jackoski Pró-reitora de Graduação e Vice-Reitora: Silvana Muraro Wildner Pró-reitor de Pesquisa, Extensão, Inovação e Pós-Graduação: Andreia Leite Marocco Pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Marcio da Paixão Rodrigues Pró-reitor de Administração: José Alexandre de Toni Servidão Anjo da Guarda, nº 295-D, Bairro Efapi - CEP 89809-900 www.unochapeco.edu.br Telefone: (49) 33218002 jornalismo@unochapeco.edu.br instagram.com/jornalismounochapeco Jornal Laboratório do curso de Jornalismo da Unochapecó Elaborado no componente curricular de Planejamento Gráfico em Jornalismo Professor responsável: Alexsandro Stumpf Editor: Ana Luíza Bergamini Redação e diagramação: Alexandre Madoglio, Ana Luíza Bergamini, Emanuele Schardong, Juliana Morgenstern, Thainara De Witte Projeto gráfico: Ana Laura Baldo, Laura Fiori, Mirella Schuch e Natália Souza


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ECONOMIA

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Por Emanuele Schardong

BLACK FRIDAY: O BARATO QUE SAI CARO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 13 de novembro de 2019 . ANO XX . N. 123

Quase uma década após sua chegada em terras brasileiras, a Black Friday, sexta-feira de promoções arrebatadoras já tradicional no comércio americano, se consolida no Brasil como uma importante data para o comércio varejista. Demonizada por uns e adorada por outros, a data acaba colocando o ato de consumir no centro das discussões: até que ponto o consumo barato, mas desenfreado, é realmente vantajoso? Foi somente após a Revolução Industrial e todos os avanços nos meios de produção que as práticas comerciais passaram a ser assombradas por um de seus maiores problemas: estoques acumulados. A solução para que fosse possível absorver, e principalmente vender esse excesso de produção foi estimular o consumo e torná-lo sinônimo de felicidade e sucesso. A professora do curso de Direito da UNOESC, especialista em direito ambiental e acadêmica do Mestrado em Direito das Relações Internacionais e Integração da América Latina Vanessa Lopes da Luz vem estudando a sociedade de consumo sob o viés doimpacto ambiental. Em sua análise, a Black Friday torna-se o retrato de uma geração que, embora sinta-se desapegada dos bens materiais, acaba consumindo apenas para suprir o desejo pela efêmera sensação de felicidade que a aquisição de um novo objeto causa, sem que exista qualquer análise sobre as reais necessidades e os impactos ambientais e sociais decorrentes desse consumo.

QUANTO DESSE INCREMENTO NO CONSUMO REALMENTE FEZ DIFERENÇA NA VIDA DAQUELES QUE CONSUMIRAM? Apesar do tema despertar uma série de questionamentos sobre o modelo de consumo atual, os números apresentados pela pesquisa realizada pela consultoria Ebit/ Nielsen não mentem: durante os principais dias da campanha, a quinta, 28 e sexta-feira, 29, foram realizados mais de 5,33 milhões de pedidos online, caracterizando um aumento de 25% em relação aos mesmo período de 2018. Resta saber quanto desse incremento no consumo realmente fez diferença na vida daqueles que consumiram. Na contramão desse propósito, a psicóloga Denise Wentz Forte foge dos ideais daBlack Friday por acreditar que a sociedade somente avançará com a implementação de outras formas de consumo. “No meu cotidiano busco consumir de forma consciente, pensando no impacto das minhas ações, por isso prefiro comprar de pessoas que conheço e tenham alguma marca, por exemplo. Não concordo com práticas do mercado que fomentem o consumo desenfreado, quero uma sociedade mais bacana, mais empática mais saudável para meu filho. Black Friday pra mim é desnecessária, vejo como uma forma do comércio bater metas de final de

ano, forjando descontos que poderiam refletir de forma geral nos preços o ano todo”, avalia. Vanessa vislumbra que solução para essa realidade de consumo desmedido passa por uma mudança dos projetos econômicos, pois “impulsionar o hiperconsumismo na justificativa de que é só isso que mantém a economia é uma falácia, uma vez que existem formas muito mais modernas, mais inovadoras, de ter uma economia que seja sustentável, com modelos que inclusive já são respaldados pelos economistas, como a economia circular, por exemplo”, observa. A economia circular valoriza o produto, aumentando seu tempo de vida útil. Essa já é uma prática adotada por Denise: “meu filho pequeno usa muito roupas que foram dos primos e depois doamos as roupas deles para outros amiguinhos ou para pessoas que precisem ainda mais”. Sem saber, a psicóloga Denise já faz parte desse modelo econômico, demonstrando que o ideal proposto por Vanessa não é apenas reconhecido, mas possível.

IMPULSIONAR O HIPERCONSUMISMO NA JUSTIFICATIVA DE QUE É SÓ ISSO QUE MANTÉM A ECONOMIA É UMA FALÁCIA.

RESSIGNIFICAR Por Thainara De Witte Em meio a crise do Coronavírus, alguns setores da economia estão contornando a situação. Um deles é o setor imobiliário. Isso porque estar em casa a maioria do tempo tem mudado a percepção das pessoas sobre moradia. Desde o início da pandemia os projetos residenciais tiveram um salto significativo, o que comprova uma mudança de comportamento do consumidor durante a quarentena. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria BRAIN Inteligência Estratégica, das pessoas que pensavam em comprar um imóvel, 22% efetivaram compras em junho. Seis pontos percentuais superior a março, e três pontos percentuais maior que abril, meses iniciais da pandemia. O segmento também apresentou a recuperação nos contextos de crise apresentado nos últimos anos da economia brasileira mundial. Com os números citados acima, fica perceptível que a moradia, a casa, e a família

passa por uma ressignificação imposta pela pandemia da covid-19. Além do distanciamento social, a prática do home office também são parte dessa ressignificação, ampliando assim as funções do imóvel residencial. A pandemia nos mostra a necessidade de adquirir locais mais amplos para convivência familiar e isso favorece a busca da população por casas e terrenos. Assim, justamente o mercado imobiliário - que poucos sequer cogitaram - pode ser o grande responsável por puxar a tomada da economia após a pandemia. Desse modo, a quarentena, importantíssima (mas pouco respeitada) para combater o aumento de casos da covid-19 só ressaltou o que sempre compreendi: a importância de valorizar a nossa família. Vivermos em família, sermos resilientes, entender que nada é no nosso tempo. Que tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo

O MERCADO IMOBILIÁRIO PODE SER O GRANDE RESPONSÁVEL POR PUXAR A TOMADA DA ECONOMIA APÓS A PANDEMIA mas - pelo jeito - a natureza humana não é muito paciente. No comportamento social, há avanços, como demonstrações de solidariedade, maior convívio em família e conscientização sobre a importância de hábitos de higiene. Deixamos claro que não estamos celebrando nada, sabemos que infelizmente tudo isso foi às custas de milhares de mortes, mas precisamos falar sobre esses avanços. Precisamos pensar sobre as lições que se impõe. De tudo um aprendizado. Refletimos juntos, agora. Porque precisamos de uma pandemia para cuidar mais da nossa higiene, dar mais valor a família, ou ter mais empatia pelo próximo?


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OPINIÃO Por Emanuele Schardong Foto: Douglas Magno/ El País

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INDEPENDÊNCIA OU SORTE?

Jovens permanecem na casa dos pais para possibilitar a continuidade da carreira acadêmica.

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De acordo com a mais recente pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho, um em cada seis trabalhadores com menos de 29 anos perdeu o emprego desde o início da pandemia. Se as perspectivas já não eram positivas em 2019, o que será da “geração canguru”, aquela que não sai da casa dos pais, após esse caótico 2020? Água, luz, aluguel, condomínio, alimentação. A conta é grande e o salário, quando existe, é curto. No período do ano em que tanto se usa a palavra independência, o jovem pobre e de classe média parece não conseguir enxergar quando poderá declarar a sua. Enquanto observam alguns poucos jovens comemorando a chegada dos vinte e poucos anos com carros novos, intercâmbio e oportunidades de estudo e crescimento profissional, para grande parte da população jovem esse período tem se apresentado como um momento de incerteza e insegurança. Como manter os custos com educação se não há renda? E como projetar a ascensão social sem educação? Infelizmente os reflexos dessa desigualdade de perspectivas de futuro não se limita apenas a impossibilidade de se buscar a inde-

pendência pessoal, uma vez que acaba refletindo em toda a conjuntura social. As oportunidades desiguais tornam-se o reflexo de um sistema que se desenha em uma equação simples: com menos oportunidades, o jovem de menor renda consegue menos qualificação. E com a qualificação deficitária, acaba sujeitando seu futuro a subempregos, muitas vezes sem qualquer formalidade e garantia de direitos. A desigualdade consolida-se pela própria desigualdade.

COMO MANTER OS CUSTOS COM EDUCAÇÃO SE NÃO HÁ RENDA? E COMO PROJETAR A ASCENSÃO SOCIAL SEM EDUCAÇÃO? A solução para esse problema, apesar de teoricamente simples, parece esquecida pelas políticas públicas brasileiras. Torna-se cada vez mais urgente que se fomente uma melhor conexão entre a oferta de educação qualificada e bons programas de inserção no mercado de trabalho para os jovens re-

cém habilitados. A capacitação técnica dos jovens, que possibilitaria a aceleração do ingresso junto ao mercado de trabalho antes mesmo do início ou da conclusão do ensino superior poderia ser um caminho bastante interessante para a inclusão dessa faixa etária no mercado. Contudo, o que se observou em 2019, de acordo com o Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), foi justamente o caminho inverso: as despesas com o ensino técnico foram reduzidas em 27%. Independência também é futuro. É perspectiva, é crescimento, é oportunidade. Na semana em que se comemora a independência do Brasil enquanto país, é importante voltar o olhar para o futuro que queremos. Uma juventude não valorizada e que não encontra perspectivas para construir sua própria identidade não conseguirá consolidar a identidade do país. Enquanto as oportunidades de construir um futuro menos desigual estiverem limitadas, o Brasil não se desvinculará dessa imagem de país atrasado e dependente. As políticas governamentais precisam urgentemente olhar para o futuro. Nossa verdadeira independência não pode depender unicamente de sorte.


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OPINIÃO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 13 de novembro de 2019 . ANO XX . N. 123

Por Alexandre Madoglio Foto: Alexandre Madoglio

O TRÂNSITO DO EFAPI PRECISA SER REVISTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 13 de novembro de 2019 . ANO XX . N. 123

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transitar pelas ruas do Bairro Efapi tem sido um grande desafio para pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas no geral. Das terras da família Colatto surgiram vias estreitas, esburacadas, de chão batido, com calçadas irregulares e outros contrapontos que há anos estão causando dor de cabeça. A venda dos terrenos da família foi necessária devido aos centenas de trabalhadores que vieram para a região em busca de trabalho nas agroindústrias. Essas pessoas vieram do Noroeste do Rio Grande do Sul e do Oeste Catarinense. Teve início um grande problema de desenvolvimento com a venda de lotes, sem nenhum plano diretor ou qualquer tipo de organização. Esse efeito começou a ser percebido durante o passar dos anos com o crescimento da região da grande Efapi, que em 2010 já tinha mais de 26 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O último censo demográfico do IBGE apontou ainda que existiam 8.046 domicílios no bairro, sendo 7.651 casas, 13 casas de vila ou em condomínio, 350 apartamentos e 32 habitações em casas de cômodos, cortiço ou "cabeça de porco". Nove anos se passaram desde o último censo e a realidade da região mudou. Novas pessoas chegaram e novos domicílios foram construídos. Dá pra dizer que se construiu uma nova cidade, o comércio local se fortaleceu junto com as agroindústrias e a economia girou. No entanto, o impacto disso tudo

é sentido em diversos setores. Um dos que chama mais atenção e tem sido o mais prejudicado é o trânsito. O Efapi possui duas avenidas que além de serem vias de escoamento de toda a produção são locais de acesso aos loteamentos. A Avenida São Pedro termina na BRF e neste ponto começa a Avenida Senador Attílio Fontana que liga o trevo de acesso a SC-283 e a SC-484. Além de ser estreita, a via dá acesso aos cerca de 20 loteamentos do bairro, fora as áreas em situação irregular. Ao transitar pela Atílio Fontana podemos notar a presença de várias faixas de pedestres há cada quadra, o que causa lentidão no trânsito. Talvez, a opção seria construir passarelas, o que aumentaria a segurança dos pedestres e ajudaria na fluidez do trânsito. Um exemplo dessa necessidade é em frente a única lotérica do bairro, local de grande fluxo de pessoas e veículos, devido a mesma e aos estabelecimentos comerciais próximos. A Ernesto José de Marco foi criada com um único objetivo: desafogar o trânsito da recapeada Attílio Fontana e para o escoamento da produção. Quem vem do acesso à cidade e procura os municípios da região das águas termais, acaba desviando por essa via que também dá acesso a loteamentos e comunidades rurais. Um grande problema da Araras, como é chamada, não é notado pela prefeitura, ou é deixado de lado. Ela tem seu começo na Avenida Leopoldo Sander e o trajeto até o trevo de acesso a Unochapecó é

A Avenida Attïlio Fontana é a principal via do Efapi.

em pista simples, o que causa filas devido a via ser utilizada por veículos de carga. O setor da segurança pública acaba prejudicado com o trânsito complicado. Tratado como uma cidade, devido ao crescimento, a grande Efapi conta com um posto do Corpo de Bombeiros, que possui apenas uma ambulância de socorro que trabalha em parceria com o Samu, além de uma base da Polícia Militar com duas viaturas. Em ocorrências de incêndio e acidentes, os caminhões precisam se deslocar do quartel provisório, que fica na Avenida Fernando Machado. A mesma coisa acontece com as situações de emergência da Polícia. O tempo resposta do deslocamento varia muito. Se for em horário de pico é mais complicado. O que dificulta também o trabalho são as lombadas físicas e os semáforos instalados. Mas, principalmente o desrespeito dos motoristas com as equipes de socorro que é impossível descrever. Dificultam a passagem das viaturas e ainda se acham “os donos da razão”. É o famoso “jeitinho brasileiro”. Falta empatia nas pessoas, falta se colocar no lugar dos outros, já pensou ser alguém da tua família precisando de socorro? Vamos pensar mais! Quem depende do transporte coletivo precisa respirar, respirar e respirar. São quase dez linhas de transporte coletivo que passam pelo bairro Efapi: a famosa Tomazelli. Além de poucos horários, a demora é grande principalmente para quem pega a linha Tomazelli - Thiago Vila Páscoa. Os passageiros ficam de 30 a 45 minutos dentro de um ônibus e quase sempre precisam ficar em pé. Lamentável ver todo esse descaso com os usuários que tiveram um dia cansativo de trabalho e ainda sofrem no fim do expediente. Existem duas grandes Universidades na grande Efapi, a Universidade Federal da Fronteira Sul e a Unochapecó. Os estudantes da Federal são os mais afetados. Saindo do terminal urbano eles levam quase uma hora para chegar no destino final. Muitos deles saem de outros bairros, geralmente duas horas antes de casa para chegar no horário oficial. Seri necessário mais linhas, maior o fluxo de veículos. Diante dessa realidade, percebemos a necessidade de duas ações. Uma delas é a mudança de postura dos motoristas. A outra é maior planejamento, como na mobilidade, especialmente na região da grande Efapi. preciso maior qualidade e incentivo ao uso do transporte coletivo, vias devidamente asfaltadas, planejamento dos novos acessos aos loteamentos aprovados e maior fluidez no trânsito. Assim teríamos uma grande mudança.


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POLITÍCA

Por: Emanuele Schardong Fotos: Ana Luiza

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O ANO DA ELEIÇÕES DE TODAS AS CORES Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 13 de novembro de 2019 . ANO XX . N. 123

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bviamente 2020 será lembrado como o ano onde a pandemia de coronavírus modificou de forma significativa nossa e nossas relações pessoais. Porém, mesmo que em alguns momentos exista a sensação de que o mundo está paralisado, uma importante revolução vem acontecendo globalmente: a luta pela igualdade, representatividade e proteção da população negra. Vidas negras importam e não pretendem permanecer silenciadas. Mas este ano também carrega outro importante acontecimento para a realidadebrasileira: as eleições municipais. No país que possui a maior população negra fora da África e que agrega o peso de ter sido o maior território escravista da América e também o último a abolir a escravidão, parece que finalmente a população começa a questionar: que papel ocupam os negros na democracia brasileira? De acordo com dados do IBGE, no Brasil 53,9% da população brasileira é constituída por negros. Contudo, atualmente a composição da Câmara dos Deputados possui mais de 75% de representantes brancos. O racismo estrutural enraizado na cultura brasileira não apenas silencia a população negra, mas impede que suas causas sejam representadas nos espaços de poder. Procurando amenizar essa latente desigualdade, a atual deputada federal Benedita da Silva, primeira mulher negra a ocupar o cargo de Senadora da República, realizou uma consulta ao TSE, buscando, entre outros aspectos, uma divisão mais igualitária dos recursos advindos do fundo eleitoral e do tempo destinado à propaganda política gratuita em rádio e TV.

Não apenas teve a oportunidade de ser ouvida, mas também fez história. Ao ter seu pedido acolhido, Benedita garantiu que a proporcionalidade entre o número de candidatos negros e a aplicação de tempo e dos recursos eleitorais seja rigorosamente respeitada. Ou seja: se 40% das candidaturas lançadas por um partido for composta por candidatos negros, 40% dos recursos recebidos pelos fundos eleitorais também deverão ser obrigatoriamente aplicados a essas candidaturas, assim como o tempo de exibição das propagandas obrigatórias. Em respeito a um dos pilares do regramento eleitoral brasileiro, o chamado princípio da anualidade eleitoral, que determina que mudanças na legislação devem ocorrer com anterioridade mínima de um ano para que possam se aplicar ao pleito em andamento, primeiramente compreendeu-se que

a proporcionalidade de representação negra somente teria aplicabilidade para as eleições de 2022. Mas 2020 não deixaria essa decisão para depois: diante da importância da pauta, o PSOL pleiteou a aplicação imediata da medida, alegando que a regra não caracterizaria uma efetiva mudança no processo eleitoral, e teve seu pedido atenddo pelo ministro Ricardo Lewandowski. A reserva de recursos para candidatos negros não é apenas a concessão de um direito. Não é mera formalidade. Não é apenas uma política de inclusão. É a reparação histórica de um povo que viu sua exploração tornar-se estrutura de uma sociedade injusta e desigual. É a retirada da mordaça e o início da luta por uma sociedade maisgjusta. Vidas negras importam, lutam e transformam a sociedade. Que 2020 também seja lembrado por ter nos alertado sobre isso.


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CULTURA Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 13 de novembro de 2019 . ANO XX . N. 123

Por: Thainara de Witte Fotos: Divulgação

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PORQUE VALE A PENA ASSISTIR O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO

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m filme emocionante, de superação e determinação. Essas são as três palavras chaves do filme que se tornou sucesso no mundo todo. “O menino que descobriu o vento”, produzido pela Netflix, e dirigido por Chiwetel Ejiofor, (premiado ator do filme “12 anos de escravidão”) foi lançado em 2019 e premiado no Festival de Sundance no mesmo ano. Baseado em uma história real, o filme demonstra a realidade de Malawi, um país da África Oriental que contém cerca de 19 milhões de habitantes e passa por situações decadentes, onde a educação é precária e uma crise alimentar toma conta do país. Também é exposto em meio a obra envolvente o drama da seca em terras africanas. No filme, o jovem William Kamkwamba (Maxwell Simba) de 13 anos encontra nos livros a única saída para salvar sua família da fome, que durante a época de colheita, enfrenta uma grande seca. A obra resgata a humanidade nas pessoas, tendo em vista que ela expõe a realidade dos países Africanos, motivo que causou grande impacto para os telespectadores que não conheciam a situação desses países. É impossível assisti-lo e não falar da produção impecável do filme, além de dar destaque a bela atuação de Maxwell Simba e Chiwetel Ejiofor que trouxeram um tom a mais de emoção na obra. Os dois, juntos, trazem a dose certa de superação e humanidade para o filme. Uma verdadeira exibição. Repleto de emoção, superação e para qualquer idade. Assistir uma vez é obrigação, mas duvido que isso seja suficiente para que se possa apreciar cada detalhe da obra, que consegue abordar diversas causas e temas que necessitam de debates em nosso dia-a-dia, como a importância da união, não apenas familiar, mas em geral.

Cena do filme "O menino que descobriu o vento".

A importância dos estudos, da luta contra as opressões, e também do respeito ao próximo. Além disso, a produção é perfeita para ser vista sempre que estivermos em uma situação difícil e acharmos que não tem saída. Extremamente sensível e inspiradora. Bom filme! O grande sucesso de O Menino que descobriu o vento tem um motivo: O filme nos prova a crença de que a dignidade, a prosperidade e o conhecimento são possíveis para a humanidade. Mesmo que tudo ao seu redor pareça indicar que não.


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ESPORTE Por Alexandre Madoglio Foto: Alexandre Madoglio

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Da tragédia ao rebaixamento: Chapecoense Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unochapecó . Quarta-feira, 13 de novembro de 2019 . ANO XX . N. 123

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ma tragédia que colocou um ponto de interrogação a uma história de sucesso. Mortos e feridos. Desespero, lágrimas e angústia. Esses foram alguns dos sentimentos que o mundo viveu na tragédia com a delegação da Associação Chapecoense de Futebol em 29 de novembro de 2016. A ganância do dinhero pode ter provocado tudo isso. Perto de completar três anos dessa tragédia, no dia 28 de novembro de 2019, Chapecó viveu outro momento triste, turbulento e sem explicação. O rebaixamento do clube para a série B do Campeonato Brasileiro. Homenagem às vítimas da tragédia de 2016

PROFETIZARAM O REBAIXAMENTO Com a tragédia, o clube perdeu um grande grupo de atletas e a parte pensante: a diretoria. Diante dessa fatalidade, a Chape teve que recomeçar novamente. Todo recomeço é difícil. Principalmente quando se perde tudo e tem que recomeçar do zero. Vários times ofereceram atletas no primeiro momento. Mas, após me pareceque tiveram um “arrependimento”, em oferecer. Ou, talvez os que foram emprestados não coincidiriam com os planos da nova direção. Logo após o acidente, times brasileiros de grande porte como como São Paulo, Santos, Internacional, Palmeiras e outros enviaram um ofício à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pedindo o não rebaixamento da Chapecoense até 2019 para a ter uma reestruturação completa. Engraçado. Parece que profetizaram o rebaixamento da Chapecoense.

SANDRO PALAORO X MANINHO Plínio David De Nes Filho, o Maninho, teve o desafio de começar tudo novamente. Rejeitado desde seu começo, o presidente teve que lidar com muitas adversidades durante seu tempo na Chapecoense. Um erro principal de Maninho foi a contratação de pessoas que não precisava. Como por exemplo um diretor executivo, o que o clube nunca teve. Veio para Chapecó, o famoso Rui Costa. Conhecido por comandar grandes clubes com folhas salariais de outro nível.

Outro problema de Maninho foi estar cercado de pessoas que não entendiam muito de futebol, principalmente na gestão. A diretoria comandada por Sandro Palaoro que morreu no acidente estava se tornando uma referência no futebol brasileiro e podemos imaginar que seria no mundo também se tivesse conquistado nas quatro linhas o título da tão sonhada Copa Sul-Americana. O motivo de ser referência é a baixa folha salarial que a equipe possuía. Outro fator era das pessoas comprometidas como Palaoro e Cadu Gaúcho. Eles conseguiam revelar jogadores de clubes pequenos que davam certo na Chape. Um exemplo é Thiaguinho. Vindo do Metropolitano que foi descoberto durante o Campeonato Catarinense. Aposta que vinha dando certo, mas foi ceifada por uma tragédia aérea. A aproximação junto aos torcedores era também um grande feito desta gestão que foi um dos melhores momentos da Chape em sua trajetória. Quando a torcida jogava junto com o clube.

O AFASTAMENTO DO SEU TESOURO A Chapecoense desde seus primórdios teve sempre uma torcida ligada ao dia a diado time que teve sua história iniciada em 1973. O afastamento dos torcedores junto ao clube foi um dos pontos principais do rebaixamento da Chape para a segunda divisão do brasileiro. Por cinco anos, a Chape viveu a elite do futebol brasileiro. Os torcedores não con-

tentes com a campanha começaram a se revoltar e questionar as ações da diretoria e o fraco futebol apresentado em 2019. Nesse momento teve o começo de uma grande rejeição que culminou na criação de uma oposição que não soube se superada por Maninho. Nunca, na história da Chape teve uma chapa de oposição. Quando se tem algo contrário não é a mesma coisa. As ideias não conseguem ser concretizadas e cada dia vai despencando mais ainda. Esse é outro ponto que ocasionou o rebaixamento.

SÉRIE B! HORA DE PEGAR FIRME Já tivemos na segunda divisão Campeonato Brasileiro. Mas, nessa época tínhamos um time completo e uma diretoria comprometida com o seu dever. É hora de jogar2019 no lixo e começar a reciclar quem faz parte do atual time. Jogadores e comissão técnica. Precisamos de pessoas com “responsabilidade”, o que não teve nos últimos três anos. Que honrem a camisa como os falecidos faziam. Que joguem por Chapecó e que levem a Chape no seu lugar novamente. Diretoria. Vocês precisam pensar no planejamento das contratações para não acontecer como nesta temporada. O rebaixamento não é o bicho. É apenas o reflexo do futebol apresentado. É a hora de pegar firme. De voltar perto do seu maior tesouro que são os torcedores. Jogadores. É hora de vocês mostrarem força e determinação. Só assim que vão devolver a Chape que todos queremos.


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