Revista 21 - Edição 23 - Jan/Fev 16

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LANÇAMENTO E MERCADO EDITORIAL

Meu livro mais recente é “Portugal, Minha Saudade”, um projeto já de algum tempo, onde reúno crônicas escritas quando das minhas visitas à terrinha. É claro que não são só crônicas sobre Portugal. Aproveitei para colocar nesse livro, também, crônicas sobre a minha terra, Corupá, para ficar claro que meu amor pela terra lusitana não invalida o amor pelo lugar em que nasci. São crônicas pessoais, diferentes dos artigos sobre arte, cultura, literatura e cotidiano que publico em jornais brasileiros e de países de língua portuguesa. Então selecionei entre tudo que publiquei nos anos mais recentes, escrevi algumas de última hora e mandei para o crítico José Fernandes avaliar e fazer um prefácio. E aí está o livro. Mas vejo que o mercado editorial em Santa Catarina está meio tímido, talvez por causa da crise econômica. O público leitor tem um pouquinho de culpa, pois não valoriza muito os escritores da terra e vai direto aos best-sellers da hora. Sem contar que o escritor também deveria trabalhar mais para conseguir visibilidade e para ser lido, indo às escolas, por exemplo, onde estão os leitores e a formação.

DE LEITURA E LITERATURA

As políticas públicas para a leitura e literatura quase não existem neste nosso país. Primeiro, a educação está sucateada, mas não é pelos professores, não, pelo contrário. É o próprio governo, que deveria usar o dinheiro público para melhorar o ensino, que o tem desconstruído, fazendo modificações desastrosas no conteúdo programático do primeiro e segundo graus, não pagando bem os professores, não equipando as escolas para que os professores possam trabalhar, não cuidando da qualificação dos professores e não fazendo

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DO ESCREVER LÁ FORA

Minha experiência com literatura no exterior começou com uma amiga brasileira que mora nos Estados Unidos, há várias décadas. Ela é professora e presidente da Associação Internacional de Escritores e Artistas (IWA) e começamos um intercâmbio lá pelos anos 1980. Então ela publicou trabalhos meus em antologias de lá, que eram distribuídas para todo o mundo, depois publicou um livro meu em português por lá e mais tarde, lá pelos anos 90, foi publicado “A Cor do Sol”, em inglês, parceria da IWA com as Edições A ILHA. Mais tarde, “A Cor do Sol” teve também versões para o espanhol, para o francês e para o italiano, e surgiu a edição do livro em cinco idiomas, que levo para salões internacionais do livro da Suíça, da Suécia, Londres etc. É muito gratificante, particularmente, você chegar em lugares distantes como a Suíça, e ser acolhido e aceito por leitores de língua portuguesa, que os há por todo o mundo, mas parece que mais naquele país, onde há muitos portugueses, caboverdianos, brasileiros, moçambicanos etc. Decidi oferecer minha poesia em outros idiomas, pois os leitores de outras línguas têm interesse em conhecer novas obras de outros autores, além dos já conhecidos lá fora, como Jorge Amado, Drummond etc.

a manutenção das escolas públicas. Com tudo isso, como esperar que o brasileiro leia mais? Acho que ainda lê pouco, e o advento dos aparelhos eletrônicos de comunicação, em vez de ajudar, parece que está distanciando as pessoas da leitura e da boa escrita. Infelizmente – por que a internet disponibiliza muitas opções de boa leitura, de graça.

ção”, estou falando também de ensino, de cultura, pois isso faz parte do significado daquela palavra, conforme o Aurélio. Precisamos exigir o resgate da educação, do respeito e da valorização dos nossos professores, para que tenhamos gerações melhores no futuro. O que me deixa indignado é a corrupção e a impunidade neste país.

O QUE INSPIRA E O QUE ABORRECE

DE PREDILEÇÕES E CABECEIRA

Aprendo muito, sempre, com as crianças, com os animais, com tudo que a Mãe Natureza nos dá. Olhe para uma encosta, para uma mata, e veja as manchas vermelhas do jacatirão nativo vicejando. Existe coisa mais grandiosa? Existe, sim, diria eu: o ipê vestido de luz, o jacarandá vestido de céu. Procure por manchas azuis no meio do verde, o flamboyant encarnado, a paineira... O que mais me aborrece é a falta de atenção do governo brasileiro à educação do cidadão. E quando falo “educa-

Gosto muito de Mario Quintana, Fernando Pessoa, Cora Coralina, Urda Alice Klueger, Júlio de Queiroz, Zola, Tchecov, Miguel Torga e muitos outros. Eu poderia recomendar “A Quinta Essência de Quintana” e todos os outros do Poeta Passarinho; todos de Fernando Pessoa; todos de Coralina; “Verde Vale” e “Cruzeiros do Sul“, de Urda; “Germinal” de Zola, atual ainda hoje; “Encontros de Abismos”, “Em Companhia da Solidão”, "Sementes do Tempo”, “Amor e Morte”, de Júlio de Queiroz.

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