A_Quinet 2007 formigas

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MESA REDONDA XVIII Simpósio de Mirmecologia AS COLEÇÕES DE FORMIGAS DOS PRINCIPAIS BIOMAS DO PAÍS: COLEÇÃO DE FORMIGAS DO LABORATÓRIO DE ENTOMOLOGIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – DOMÍNIO DAS “CAATINGAS” Yves Quinet Universidade Estadual do Ceará, Instituto Superior de Ciências Biomédicas, Laboratório de Entomologia, Av. Paranjana, 1700, CEP 60740-000, Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: yvesq@terra.com.br Com uma superfície de aproximadamente 750.000 km2, a região semi-árida do Nordeste forma o quarto maior domínio morfoclimático e fitogeográfico do Brasil (o domínio das Caatingas), depois do domínio amazônico, atlântico (Mata Atlântica) e do Cerrado ( AB’SÁBER, 2003). Embora a maior parte do seu território seja formada por extensas depressões cristalinas ou sedimentares cobertas por um mosaico de vegetacão lenhosa caducifólia espinhosa (o bioma Caatinga stricto sensu), essa continuidade paisagística é interrompida por platôs sedimentares (chapadas) e pequenas cadeias montanhosas cristalinas residuais (serras) onde outros tipos de fitofisionomias são encontradas (floresta ombrófila ou semideciduais serrana, florestas deciduais). A mais expressiva é a floresta ombrófila densa (mata úmida serrana ou “brejo de altitude”) que é encontrada nas partes mais altas das serras (a partir de + 600 m de altitude) ou nas vertentes expostas a ventos úmidos das chapadas. Essas matas de altitude são de grande valor no contexto da reconstituição evolutiva das florestas úmidas da região neotropical, já que alguns autores as consideram como áreas de disjunção da Mata Atlântica, e de refúgio para uma biota anteriormente ligada a atual Mata Atlântica e talvez à Floresta Amazônica ( ANDRADELIMA, 1982; C OIMBRA-FILHO &C ÂMARA. 1996). As planícies litorâneas e os carnaubais, bem como encraves de cerrado (savana) e carrasco (vegetação arbustiva densa caducifólia não espinhosa) constituem outros tipos de fitofisionomia do domínio das Caatingas (ARAÚJO et al., 2005). As Caatingas representam um dos mais ameaçados (menos de 1 % da sua superfície se encontra em áreas de proteção total) e menos estudados domínios do Brasil, apesar de altas taxas de endemismo observadas nos poucos estudos realizados da sua biota (LEAL et al., 2005). Apenas 10 % dos inventários publicados no país (período 1985-1999) são realizados na região (Nordeste) onde é inserido o domínio das Caatingas, e os táxons de invertebrados (terrestes em particular) reunem o maior nível de incerteza atual (LEWINSOHN & PRADO, 2002). Além do mais, a região Nordeste é uma das regiões do Brasil que mais carece de recursos humanos (especialistas/taxônomos) e materiais (coleções, e instituições com capacidade e vontade de manter coleções) para o estudo da biodiversidade (LEWINSOHN & PRADO, 2002).

No tocante ao estudo da mirmecofauna, a situação não é melhor. Entretanto, alguns estudos vêm sendo realizados desde a década de 1990 no sentido da caracterizar a mirmecofauna do domínio das Caatingas. Fora o estado do Ceará, os estudos mais expressivos foram realizados por BRANDÃO (1995), em 3 áreas de “caatinga” sensu stricto dos estados do Piauí e da Bahia, e por LEAL (1993), em diversas áreas de caatinga dos estados de Alagoas e Sergipe. No Ceará, os inventários de formigas foram iniciados em 2002, por um programa visando a caracterizar a fauna de formigas de solo das principais matas úmidas de altitude do estado. Esse programa foi seguido por outros realizados em diversas fitofisionomias do estado (inclusive áreas de caatinga stricto sensu) e que resultam de uma colaboração entre a equipe do Laboratório de Entomologia da UECE e o Dr. Antonio Alves Tavares, pesquisador da Universidade Federal do Ceará. A coleção de formicídeos do Laboratório de Entomologia da UECE reúne as espécies coletadas nesses diversos levantamentos descritos e resumidos a seguir. O estado do Ceará possui nove formações de mata úmida de altitude, as quais se distinguem umas das outras por sua dimensão, seu grau de isolamento, e a distância que as separa do litoral. Apesar da sua importância ecológica (reservatório de biodiversidade e água), econômica e social (turismo), a diversidade biológica dessas “ilhas verdes” ainda permanece mal conhecida e é fortemente ameaçada já que pelo menos 47 % da superfície original de mata úmida do Estado do Ceará (4.878 km2) foi removida. Um amplo programa visando caracterizar a mirmecofauna de solo das matas úmidas de altitude do Ceará foi iniciado em 2002, em cinco áreas de mata úmida localizadas na Serra de Baturité (04°16’S / 38°56’W), na Serra de Maranguape (03°54’S / 38°43’W), na Serra da Meruoca (03°33’S / 40°28’W), na Chapadas da Ibiapaba (03º52’S / 040º57’W) e na Chapada do Araripe (07º14’S / 039º29’W). Em cada área, quatro transectos de 200 m de comprimento, com 20 pontos amostrais cada, foram estabelecidos (9 transectos na Serra de Baturité). Em cada ponto de amostragem, três métodos de coleta foram usados: o tratamento de 1 m2 de serrapilheira

Biológico, São Paulo, v.69, suplemento 2, p.97-100, 2007

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