Tec 90 completa

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GESTÃO

José A. Lerosa de Siqueira

Quer inovar?

Aprenda antes a fazer projetos disciplinados

E

stá fun­cio­nan­do? Não mexa. O primeiro a di­ zer isto foi Henry Ford, quando lançou o Ford Modelo T, primeiro automóvel verdadeira­ mente popular do mundo. Era uma época em que as pes­soas ainda não estavam ha­bi­tua­das a comprar caixas pretas e con­f iar que elas fun­cio­ na­riam por anos sem mais cuidados que a manu­ tenção pe­rió­di­ca feita por um mecânico habilitado. Agora imagine o am­b ien­te de uma empresa, cheio de operações calibradas, desenvolvidas ao longo de anos. Não soa arriscado demais introduzir mudanças nos processos? Pode ocorrer que aciden­ talmente a calibração seja perdida. Certamente os donos da empresa não irão gostar se isso acontecer. Há um nome específico para o conjunto de pro­ cessos que garantem a sobrevivência da empresa no presente: máquina de desempenho. É ela que gera a receita que paga as contas no final do mês. Portan­ to, não permita que alguém mexa com ela. O bom fun­cio­na­men­to da máquina de desempenho é o que garante o presente da empresa. De repente, surge a discussão em torno da ino­ vação. Consultores, professores, economistas, cien­ tis­tas sociais, o próprio governo, os órgãos de classe, todos eles insistem que para sobreviver a empre­ sa precisa inovar, nos processos, nos produtos, na forma de lidar com os clien­tes e fornecedores, na maneira como cobra o clien­te, nos canais de distri­ buição, nos insumos utilizados. Talvez exista pelo menos uma unanimidade no mundo dos ne­gó­cios: inovar é fundamental para uma organização se man­ ter viva e em pé. Empresa que não inova, mais cedo ou mais tarde some do mercado. Afinal, devo impedir que brinquem com o nosso ganha-​­pão ou permitir a introdução de inovações na minha empresa? Devo preservar a unhas e dentes a integridade das operações ou abraçar a inovação?

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VOL. III  2014

A boa notícia é que, no fundo, esse conflito es­ tratégico não existe. Uma forma de entender o mo­ tivo é ler um artigo de Vijay Govindarajan, professor da Tuck ­School of Business, de Dartmouth. Resu­ midamente ele propõe um modelo em que tudo que acontece numa organização pertence a uma de três caixas: ◆◆ Caixa 1: O que se re­la­cio­na com preservar o presente — a máquina de desempenho ◆◆ Caixa 2: O que pode auxiliar a destruir o passado, de maneira seletiva — as atividades estratégicas que ajudam a repensar a organização ◆◆ Caixa 3: O que é feito para c ­ riar o futuro da empresa — os projetos de inovação. Govindarajan ainda comenta que dos 330 mi­ lhões de deuses reconhecidos pelo hin­duís­mo, os três mais importantes são Vishnu, o deus da pre­ servação; Shiva, o deus da destruição; e Brahma, o deus da cria­ção. A correspondência entre as três caixas e os três deuses hindus é clara: ◆◆ Vishnu/Caixa 1 = preservar ou ge­ren­ciar o presente ◆◆ Shiva/Caixa 2 = destruir ou seletivamente abandonar o passado ◆◆ Brahma/Caixa 3 = c ­ riar o futuro. (Ex­traí­do de http://www.tuck.dartmouth.edu/ people/vg/blog-​­archive/2009/08/the_economic_ times_thinking_in.htm) A Caixa 1 refere-​­s e à capacidade de geração de receita no presente; as Caixas 2 e 3 falam de inovação e crescimento no futuro. Logo, a má­ quina de desempenho, que é o coração da Caixa 1, está totalmente protegida contra a ação de al­ gum inovador desavisado, que só irá fazer seu tra­ balho de funilaria nas Caixas 2 e 3. Essa é a boa


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