Revista Abigraf 277

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legislativo e que a técnica nos dominará e sere­ mos felizes. O presidente será um computador central, mas a única certeza no Brasil é que o vice será do PMDB . . . Antes disso, porém, nos dias de hoje, diz ele, está se crian­do uma certa resistência das pes­soas ao computador e a toda uma cultura cibernética, como uma forma de ser fiel ao livro e à cultura impressa. E ao con­ trário do que se pensava há alguns anos o com­ putador não eliminará o papel nem salvará as florestas, pois além do consumo do papel ter su­ bido, o computador estimula as pes­soas a escre­ verem e permite a qualquer um ser autor, editor, paginador e ilustrador, com uma vontade quase irresistível de passar a obra para o papel. Além disso, desconfia ele, o livro impresso será salvo também em função do supérfluo, pois enquan­ to os computadores não tiverem cheiro sinteti­ zado, nada substituirá o cheiro de papel e tinta nas inimitáveis ca­te­go­r ias de livro novo e livro velho. Por fim, ironiza, o que falta e faltará na cibernética é a . . . lombada. A sobrevida do li­ vro, conclui ele, se dará então pela sua capaci­ dade de decorar in­te­r io­res. Esse Veríssimo . . . No outro dia, outra crônica. Desta vez da Lucia Guimarães com o título de “Morte às ár­ vores”, que, de forma mais documental, refor­ ça algo das ideias de Veríssimo e explica um re­ cente fenômeno que vem ocorrendo nos Estados Unidos: a revitalização das li­v ra­r ias indepen­ dentes em contraposição ao declínio das gran­ des cadeias como a Borders e a Barnes & No­ ble, estas sim sendo dizimadas pela Amazon. O crescimento dessas independentes já atinge 25% desde 2009, com uma subida de vendas de livro em papel, embora com lucros meno­ res. Esse ressurgimento do livro em papel, diz Lucia, é ilustrado por uma reportagem do Washington Post com diversos estudantes uni­ver­ si­tá­r ios, que afirmam que ler em papel dá mais prazer “pois não emite sons e é gostoso de segu­ rar”, segundo um entrevistado, enquanto outro afirma que “seria impossível ler e com­preen­der Tocqueville eletronicamente”. Como reforço a essa argumentação, diz Lu­ cia: “Diversas pesquisas mostram que a gera­ ção norte-​­a mericana de nativos digitais, que não cresceu ha­bi­tua­da ao cheiro de livros ou li­ vros habitados por traças, não abre mão do papel quando se trata do prazer da leitura”. Além dis­ so, ela afirma, cien­tis­tas têm examinado a evo­ lução do cérebro do leitor medindo a retenção da informação na leitura de tablets e de páginas im­ pressas. Os que leem em papel, de forma geral,

se lembram melhor do que leram. Essa ex­pe­riên­ cia foi reforçada pela norueguesa Anne Mangen que distribuiu um conto com elementos pertur­ badores a um grupo de pes­soas, sendo que me­ tade recebeu o conto em um iPad e metade em papel. Os que o leram em papel demonstraram mais imersão, empatia e coe­rên­cia ao falar da narrativa. Por essas coisas é que vão con­ti­nuar morrendo árvores, diz a Lucia. Sem nostalgia. Pois bem, na mesma semana me chega um blog retratando a palestra de um marqueteiro digital nos Estados Unidos de nome Drew Da­ vis, feita no Ap­pli­c a­t ion Forum da POD i em Las Vegas, com um título instigante: “O futuro do digital é a impressão”. Sua tese é ba­sea­da na sua ex ­pe­r iên­cia em trabalhar com mar­ke­t ing de con­teú­do para diferentes empresas — sem dúvida uma importante vertente do mar­ke­ting digital de hoje, pois o con­teú­do relevante gera atratividade. Diz Davis que a disseminação ele­ trônica é rápida, barata, fácil e de longa dura­ ção pois a internet nunca esquece de nada. Mas é isso mesmo, pergunta? Enquanto o con­teú­do permanece na internet e os sistemas de bus­ ca podem encontrar quase tudo, ainda temos que procurar pelas coisas. Há tanto con­teú­do constantemente sendo despejado que as pági­ nas frontais desaparecem em questão de horas ou mesmo de minutos. Da mesma forma, uma imensidão de con­teú­dos despejados a cada se­ gundo são puro lixo, ou seja, vêm fácil, vão fácil. Dessa forma, como você pode ­criar uma maior permanência da sua mensagem ou da mensa­ gem da marca? Bem, diz ele, você compila, edi­ ta e imprime. Pois a impressão tem relevância e permanência e se torna uma maneira de in­ crementar o valor do con­teú­do digital e esten­ der seu tempo de vida. Interessante, digo eu. Em es­pe­cial quando ele recomenda que a grá­ fica se envolva mais no mundo digital até como ajuda ao seu clien­te na estimulação da edição e impressão do con­teú­do relevante. Ao ler isso me lembrei que esse po­si­cio­na­ men­to do Davis vem ao encontro do que vem acontecendo com algumas das grandes redes de varejo norte-​­americanas, como a JCPenney, que já havia passado, há algum tempo, os seus famo­ sos catálogos de compras para o formato digital. Mas eis que, no último Natal, voltou a imprimi-​ ­los por entender que para muitos clien­tes a rela­ ção com o ma­te­r ial impresso é mais duradoura e estimulante. Até mesmo porque deixou o ca­ tálogo mais interativo levando o consumidor a concretizar a compra on-​­line.

51 maio /junho 2015  REVISTA ABIGR AF

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