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Um mestre da gravura 3
2 Última Ceia, Rio de Janeiro, RJ, gravura em metal (água‑tinta e água-forte), 40 × 62 cm, 1923 3 Pedra da Gávea, RJ, gravura em metal gravada em Petrópolis (água‑forte, água‑tinta e ponta‑seca aquarelada), 27,30 × 20 cm, 1925 4 Cristo Redentor (reprodução fotográfica de desenho feito por Carlos Oswald como ideia inicial para o principal monumento do Rio de Janeiro, inaugurado em 1931). 20 × 18 cm, s/d.
omo outros artistas estrangei ros que escolheram o Brasil para viver, Carlos Oswald, nascido em 1882 em Florença (Itália), const ruiu aqui sua carreira de criador e mestre. Na verdade, Oswald sempre foi brasileiro. Seu pai, o pianista, compositor e maestro ca rioca Henrique Oswald estudou e trabalhava na Europa, com bolsa do imperador Dom Pedro II, quando casou-se com a ital iana Laudomia Gasperini. Ao nascer o filho, registrou Carlos no Consulado do Brasil. O músico, embora bem sucedido, jamais esqueceu sua terra natal. Carlos Oswald, morando na Europa, teve dois trabalhos premiados na importante Expo sição Geral da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, com Menção Honrosa (1904) e Medalha de Prata (1906). Os quadros foram env iados pelo pai, que sempre apostou no seu talento para a pintura, embora tenha ensina do-l he música. Carlos, formado em Florença — estudou Matemática e Física no Instituto Ga lileu, Arte na Escola de Belas Artes e no ateliê de Edoardo Gelli, onde também trabalhou —, veio ao Brasil pela segunda vez em 1913, para mostrar seus quadros. Com a 1ª‒ Guerra Mun dial, a família não retornou à Europa. Henrique Oswald, convidado para assumir a direção do Instituto Nacional de Música do Rio de Janei ro, percebeu que era a hora de ficar no Brasil. No início dos anos 1900, os Oswald se radica ram aqui, com Henrique se tornando professor de piano, além de seguir compondo e regendo. O pioneiro
Seu filho Carlos — que na Europa havia tido a inf luênc ia do artista norte-a mericano Carl Strauss, filho de alemães — já fazia águas-fortes e gravuras. Com o domínio das chapas de co bre, buris, tintas, vernizes e até mesmo de uma prensa elétrica, não foi difícil montar a sua pri
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meira “oficina” no Brasil. Pouco tempo depois lec ionava gravura, técnica não apenas desco nhecida naqueles tempos, como muito difícil. Carlos gostava de desaf ios. A busca da perfei ção, fundamentada em estudos técnicos per manentes e respeito à estética, que aprendeu na arte clássica italiana, impulsionaram seu inegá vel talento para um pioneir ismo comprometido com qualidade e beleza na arte de gravar. Inte grado à efervescente vida cultural do Rio de Ja neiro, em 1914 inaugurou e dirigiu a Oficina de Gravura do Liceu de Artes e Ofícios. Nessa época, percebe-se na obra do artista grande cuidado com forma, estilo e linguagem. Em seus trabalhos está um traço firme que faz surgir volumes em contrastes de claro e escuro, valorizando, de maneira sutil embora intensa, a expressão pretendida nas figuras humanas ou de animais, nas paisagens e cenas do coti diano. Nessa fase, está a importância que Car los Oswald tem para um significativo momento da arte no Brasil. Além de uma presença mar cante do simbolismo, também havia uma bus ca de soluções acadêmicas como forma de não permitir a suposta morte do clássico. Perce be-se isso na tela a óleo de Carlos, Boi com Carro Vermelho (1918), e em algumas paisagens como a fachada da casa do pintor em Petrópo lis (RJ), produzidas no início dos anos 1920 — todas simbolistas. Por outro lado, em grandes murais para edif ícios e também em obras de cunho rel ig ioso, retratos e gravuras mais for tes, está o vigor acadêmico mesmo sob visível, embora contida, emoção. O desenho e a gravura, nos anos 1940, to maram grande impulso no Brasil. Nessa altu ra, respeitado como pioneiro e mestre, Carlos 4