Revista Vetores & Pragas - Edição 57

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EXPEDIENTE Vetores&Pragas é uma publicação quadrimestral da Associação Brasileira de Controle de Vetores e Pragas - ABCVP Av. Pastor Martin Luther King Jr, 126 Torre 3000 - 14º andar - sala 1.504 Office Nova América - Del Castilho - RJ Tels: (21) 2577-6433 / 3435-2477 abcvp@abcvp.com.br / www.abcvp.com.br DIRETORIA RUBEN BARAT Presidente da ABVCP MARCOS MORAES Vice-presidente da ABVCP CLAUDIO MELLO Diretor administrativo da ABVCP MARCELO CUNHA FREITAS Biólogo, especialista no controle de Vetores e Pragas e Diretor Técnico da ABCVP FERNANDO MARQUES Diretor financeiro da ABCVP CONSELHO EDITORIAL MARCELO CUNHA FREITAS Biólogo, especialista no controle de Vetores e Pragas e Diretor Técnico da ABCVP

ISSN 1982 - 4262 Ano XXIII | Nº 57 | Abril de 2021

NINGUÉM É TÃO ADMIRÁVEL OU IMBATÍVEL, QUANTO TODOS NÓS JUNTOS A Covid-19 trouxe inúmeras consequências negativas, mas ao menos uma foi positiva: o fortalecimento do associativismo. De acordo com o IBGE, o associativismo tem participação oficial de 1,4% na formação do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o que representa uma contribuição de R$ 32 bilhões. Com a ABCVP não foi diferente. Nossa expertise e união têm gerado conhecimento técnico e suporte às empresas controladoras de pragas que estão no barco, assumindo papel de relevância em prol do benefício coletivo. A pandemia não nos parou. Ao contrário, estamos sempre alinhavando parcerias para fomentar o aperfeiçoamento técnico e profissional:

UIARA CAROMANO TREVISO Bióloga e Membro da Comissão Técnica da ABCVP

(cursos, treinamentos e atividades técnicas tão essenciais ao desenvol-

HENRIQUE G. CORTEZ Engenheiro agrônomo e Membro da Comissão Técnica da ABCVP

presas), além de buscar a interlocução com os poderes públicos cons-

SILVIA REGINA RODRIGUES DA ROCHA Química e Membro da Comissão Técnica da ABCVP CONSELHO CONSULTIVO ANA EUGÊNIA DE CARVALHO CAMPOS Bióloga – Doutora em Zoologia e Assessora da Presidência do Instituto Biológico – SP CLAUDIO MAURÍCIO VIEIRA DE SOUZA Aracnologista – Laboratório de Artrópodos, Instituto Vital Brazil

vimento da atividade de controle de pragas e, também de nossas emtituídos, com ações objetivas para o setor. Apesar de alguns insistirem em questionar o “custo do associativismo”, a possibilidade de interação, compartilhamento de ideias e aprendizado que toda essa rede de network proporciona não tem preço, tem valor… assim diz nosso amigo Paulo Henrique Costa que assina o artigo “10 Princípios da Economia no Controle de Pragas Urbanas”. E por falar em preço, está imperdível a matéria do Gabriel Locatelli sobre precificação, o “calcanhar de Aquiles” dos empresários do ramo de controle de pragas. A união dos nossos esforços para fortalecer o coletivo trouxe cresci-

LUIZ ROBERTO FONTES Doutor em Zoologia (entomólogo) pelo Instituto de Biociências da USP e Consultor

mento, desenvolvimento e aprimoramento para o setor. Afinal, somente

MÁRIO CARLOS DE FILIPI Zootecnista, especialista em Entomologia Urbana

tivos, e até validar se estamos no caminho certo ou não. Temos sonhos,

como associados temos como estabelecer parâmetros individuais e cole-

JAIR ROSA DUARTE (In Memoriam)

problemas e interesses comuns, e juntos ganhamos nova identidade,

Editora e Jornalista Responsável ELETÍCIA QUINTÃO – Reg. Prof. 26.069 MTB

com voz ativa, credibilidade e representatividade: uma essência admirá-

Comercialização / Publicidade FERNANDO MARQUES Tels.: (21) 2577-6433 e (21) 3435-2477 abcvp@abcvp.com.br Assinatura: Telefone para (21) 2577-6433 / 3879-5516 ou envie e-mail para abcvp@abcvp.com.br

vel e uma força imbatível! A diretoria

Tiragem: 5.000 exemplares Vetores & Pragas Online www.abcvp.com.br/revistasonline.html © Os textos assinados são de responsabilidade de seus autores. Para entrar em contato com algum deles envie um e-mail para a ABCVP. É vedada a reprodução dos artigos e reportagens, em quaisquer meios, sem autorização prévia da Associação e, mesmo quando autorizada, será obrigatória a citação da fonte.

Fundamentos geradores de “valor x preço”. Um estudo que vai facilitar o gerenciamento diário das empresas controladoras de pragas.

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Sumário

05 FRITZ MÜLLER, patrono da Ecologia. Leia no Espaço Jair Rosa Duarte

09

10 PRINCÍPIOS que norteiam a economia de controle de pragas urbanas.

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DENGUE: controle ou erradicação do vetor?

35 “MADEIRA DE LEI” não dá cupim. Será?

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ESPAÇO JAIR ROSA DUARTE

Fritz Müller, patrono da Ecologia Por Luiz Roberto Fontes

Ecologia é o ramo da ciência que estuda

de existência às quais todo organismo deve

as interações das populações de organis-

se adaptar incluem, em primeiro lugar, as

mos, entre si e com o ambiente.

propriedades físicas e químicas de seu local

O termo (derivado do grego oikos = casa

de residência, o clima (luz, calor, umidade e

e logos = estudo) foi criado pelo zoólo-

condições do ar da atmosfera), os alimentos

go alemão Ernst Haeckel (1834-1919) em

inorgânicos, a natureza da água e o solo etc.”

1866, no livro Morfologia geral dos organis-

O conceito de disciplina veio em 1895,

mos: princípios gerais da ciência das formas

na obra do botânico dinamarquês Eugen

orgânicas, fundamentados mecanicamente

Warming (1841-1924), Ecologia das plan-

pela teoria da descendência reformada por

tas, mostrando como espécies diferentes

Charles Darwin, em dois volumes e assim

em várias regiões do mundo respondem

definido (vol. 2, pág. 286): “Por ecologia,

de maneira similar em ambientes equiva-

entendemos toda a ciência das relações do

lentes. O livro foi traduzido para o alemão

organismo com o mundo externo circun-

em 1896, para o polonês em 1900, para o

dante, com a qual podemos relacionar todas

russo independentemente em 1901 e 1903,

as “condições de existência” em um senti-

e para o inglês em 1909, disseminando-

do mais amplo.” Ele criou a ecologia como

-se assim o conceito moderno de ecologia

subdivisão da fisiologia (vol., 1, pág. 237),

e incitando o progresso dessa disciplina,

relativa às “relações do organismo com o

em anos vindouros, com novos conceitos

mundo exterior” e diferenciada da fisio-

como sucessão ecológica, ecossistema e

logia interna, que se relaciona à “conser-

outros. Warming viveu de 1863 a 1866 em

vação ou autopreservação” e às “relações

Lagoa Santa/MG, como auxiliar do natu-

entre as partes individuais do organismo”.

ralista dinamarquês Peter Wilhelm Lund

Não era um conceito de disciplina, e sim

(1801-1880), pai da paleontologia e da ar-

de morfologia adaptativa às condições de

queologia no Brasil, e lá ganhou experi-

existência, as quais “são parcialmente or-

ência estudando a enorme diversidade de

gânicas, parcialmente inorgânicas por na-

plantas no ambiente do cerrado brasileiro.

tureza; ... são da maior importância para a

Um fato importante, porém, passou

forma dos organismos, porque os obrigam a

despercebido na história da ecologia. Tra-

se conformar a elas. As condições inorgânicas

ta-se do estudo “Ituna e Thyridia.

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glês Charles Darwin (1809-1882) para a sua Teoria da Evolução das Espécies. Mas a publicação de Fritz Müller também apresenta outras duas inovações. A primeira é a demonstração matemática da vantagem do novo tipo de mimetismo para a espécie com população menor, que sofre menor perda com o mimetismo. Esse é o primeiro modelo matemático de dinâmica populacional, apresentado ao mundo (Figura 3). A segunda novidade, e que embasa o modelo matemático, é a proposta de que o predador aprende a reconhecer as presas nas caçadas, rejeitando as de sabor desagradável e depois buscando apenas as apetitosas. Para esse aprendizado, ocorre a eventual morte da presa impalatável, que foi ferida na caçada. Esse artigo foi tão sensacional para o entomólogo inglês Raphael Meldola (1849-1915), que ele o apresentou na reunião da Sociedade Entomológica de Londres de 4 de junho de 1879, presidida pelo próprio Henry Bates, que era um dos três vice-presidentes da Sociedade. Mas o júbilo do jovem entoFigura 1. Fritz Müller, em 1877.

mólogo não encontrou eco na assembleia de cientistas. Talvez irresignado, ele traduziu o artigo para o inglês, sendo publicado no mesmo ano nos Proce-

Um exemplo notável de mimetismo em borbole-

edings da Sociedade (1979, pág. XX-XXIX), com as

tas”, realizado em Santa Catarina pelo naturalista

objeções apresentadas por dois naturalistas.

teuto-brasileiro Fritz Müller (1822-1897; Figura 1) e publicado em 1879 no periódico alemão Kosmos. Nesse artigo, o autor apresenta o fenômeno que, mais tarde e em sua homenagem, seria conhecido por mimetismo mülleriano: duas espécies de borboletas se assemelham e ambas são impalatáveis pelo sabor desagradável, sendo rejeitadas pelo predador (Figura 2). Esse tipo de mimetismo difere da forma clássica, descrita pelo naturalista inglês Henry Walter Bates (1825-1892) em 1862 para borboletas amazônicas, em que espécies palatáveis se assemelham a borboletas de sabor desagradável e, assim, não serão caçadas. As duas formas de mimetismo, o batesiano e o mülleriano, demonstram uma adaptação aperfeiçoada pelo mecanismo da seleção natural, e apoiam essa proposição do naturalista in-

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Figura 2. Asas de borboletas miméticas, no artigo de 1879.


Figura 3. Modelo matemático de dinâmica populacional, no artigo de 1879.

O motivo do esquecimento do estudo pioneiro

John Jenner Weir (1822-1894), que descreveu

de Fritz Müller pode estar, justamente, nas duas

a sua experiência pessoal no assunto, pois “dia

teses originais, que eram muito avançadas para a

após dia ele jogava no aviário várias larvas [de in-

época. Ocorre que a matemática não encontrava

setos], aquelas que eram comestíveis eram comidas

aplicação em estudos de zoologia ou história na-

imediatamente; as que não eram comestíveis não

tural, e a análise numérica restou incompreendi-

eram mais notadas do que se uma pedra tivesse sido

da e sequer foi discutida na reunião. Também, não

atirada aos pássaros ... a experiência dos pássaros a

se aceitava que o predador aprendesse por expe-

esse respeito havia se tornado hereditária na espé-

rimentação; o que se admitia era o instinto ina-

cie e não era o resultado da experiência de pássaros

to, ou seja, ele caça por instinto e não tem nada a

individuais, mas deveria ser considerada um ato de

aprender, pois esse conhecimento é herdado dos

‘atividade cerebral inconsciente’.”

pais. Este último tema motivava discussões, cujos

Ainda, um terceiro motivo é que, sendo o novo

defensores eram rechaçados por falta de evidên-

mimetismo descrito para apenas duas espécies de

cias acerca do aprendizado, e foi o que ocorreu

borboletas, isso poderia não merecer o crédito do

com a proposição do Fritz, descartada como im-

experiente Henry Bates, que havia comprovado

própria pelo entomólogo e ornitólogo britânico

fato diverso e para várias espécies.

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Ele simplesmente desconsiderou a experiência taxonômica do Fritz e, diante da complexidade do problema do mimetismo, afirmou que “ocorreram casos em que variedades intermediárias ainda existiam, e o estudo deles deu-lhe, quando esteve na América do Sul [1848-1859], a pista para uma explicação que, no entanto, não abrange todo o problema”. Pouco depois, no artigo “Casos notáveis de semelhança adquirida em borboletas”, também publicado no periódico alemão Kosmos em 1881, Fritz Müller traz novos casos de mimetismo em borboletas catarinenses, tanto no padrão batesiano como naquele por ele definido em 1879, assim consolidando o novo modelo mimético por ele descrito (Figura 4). O modelo matemático de dinâmica populacional de Fritz Müller é pioneiro no mundo científico, mas o autor não usou o termo “ecologia” e, a par da acolhida de Raphael Meldola e sua tradução para o idioma inglês, ficou esquecido. Mais tarde, a matemática finalmente se associou com a ecologia na extensa obra do “pai da ecologia moderna”, o zoólogo britânico e professor nos EUA, George Evelyn HutFigura 4. Asas de borboletas miméticas, nos padrões batesiano (6 e 7) e mülleriano (as demais), no artigo de 1881.

chinson (1903-1991). Eugen Warming é o fundador da Ecologia e estabeleceu conceitos que levaram ao progresso desse ramo da ciência, até a complexidade que atualmente conhecemos. Fritz Müller, no conjunto de sua magnífica obra zoológica e botânica que contribuiu para consolidar a evolução das espécies nos moldes propostos por Charles Darwin, também inaugurou em 1879 a ecologia de populações e merece o título de Patrono da Ecologia mundial.

Luiz Roberto Fontes é biólogo (entomólogo) e consultor.

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TÚNEL DO TEMPO

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Princípios da Economia no Controle de Pragas Urbanas Por Paulo Henrique Costa

De forma geral, o economista estuda a forma pela

e os valores (interesses) variam de indivíduo para in-

qual as sociedades se organizam. Na nossa sociedade

divíduo, de grupo para grupo e de papel para papel -

a responsabilidade desta organização é pulverizada

quanto menos unânime mais caloroso ficará.

entre milhões de “indivíduos” (governo, empresas, famílias e indivíduos). No mercado de controle de pragas não poderia

Felizmente, embora nosso estudo e debate da economia do controle de pragas tenha muitas facetas, poderíamos agrupá-los em algumas ideias centrais.

ser diferente. Afinal, fazemos parte desta mesma realidade, somos milhares no Brasil: Ministério da

I - Como decidimos

Saúde, empresas prestadoras de serviço, distri-

II - Como interagimos

buidores, fabricantes, famílias dos controladores

III - Como funciona a economia

de praga e os indivíduos propriamente ditos - sócios, gerentes, operadores, vendedores... (baratas, ratos, cupins e etc).

Desta forma podemos tornar nossos debates cada vez mais calorosos (pois somos brasileiros e gos-

É natural então que o nosso debate econômico seja

tamos de futebol) e produtivos, para que com eles

parecido com as discussões entre as torcidas do Corin-

possamos consolidar nossos objetivos, estratégias e

thians e Palmeiras, do Flamengo e do Vasco, do Atléti-

ações para melhorias das nossas empresas e do mer-

co e do Cruzeiro, e de todos os clássicos do Brasileirão.

cado e do nosso padrão de vida. E os ratos, baratas e

Sempre calorosas, pois os pressupostos, as hipóteses

cupins? Bem, vamos por partes!

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Grupo I : Como decidimos

PRINCÍPIO Qual o melhor método para se controlar as pragas?

PRINCÍPIO Quanto custa deixarmos nossas empresas e nos dedicarmos à associação?

PRINCÍPIO O que vale no longo prazo é a tendência da população de baratas = 0?

Há o custo do transporte, da ali-

Nós pensamos e agimos segun-

mentação e os custos indiretos por

do o ganho a mais que teremos no

estarmos ali, como salário, plano de

controle de baratas com uma téc-

No negócio de controle de

saúde, etc. uma outra forma de ver

nica nova, com um treinamento

pragas, tanto os controladores

este custo é fazer a conta pela análise

novo, etc. Nosso objetivo principal

profissionais de pragas quanto

do custo de oportunidade. Esta aná-

é o crescimento. Que método, es-

os consumidores dos serviços de

lise diz que o custo de nos dedicar-

tratégia ou ferramenta nos pode

controle de pragas têm mais de

mos à associação não é o custo direto

trazer um ganho de produtividade

uma alternativa a escolher, mais

e indireto, e sim o custo das oportu-

maior que o atual?

de uma opção para alcançar seus

nidades que deixamos de aproveitar

Esta ansiedade é compartilhada

objetivos. Em princípio pode pa-

enquanto estamos nos dedicando à

por todos nós no mercado de con-

recer lógico. E o é! É lógico que

associação. O custo de oportunida-

trole de pragas. Acordamos e pen-

o consumidor final pode querer

de seria no caso a oportunidade da

samos: “O que devo fazer hoje para

fazer o controle de pragas por

qual estamos abrindo mão, de man-

ser melhor que ontem?”

conta própria. É claro que, ainda

ter um cliente-contrato, abrir um

Acredite, nós e nossos clien-

olhando do ponto de vista do con-

novo cliente, supervisionar um fun-

tes pensamos da mesma maneira,

sumidor final, ele pode querer fa-

cionário para mantê-lo motivado.

talvez esta seja uma dica para me-

zer uma cotação com 10 empresas

E o benefício? Eu ousaria dizer que

lhorarmos nossa argumentação de

no mercado ao mesmo tempo. Do

é muito maior. Não só a experiên-

vendas. Deixarmos a partir de agora

ponto de vista do PCO, também

cia que se adquire por trabalhar em

o apelo do ganho de preço em favor

é lógico que ele pode usar vários

grupo, mas também se ganha muito

do ganho de segurança, do horário,

métodos e chegar a um mesmo

dinheiro (a médio prazo).

do pronto atendimento. Pessoas racionais pensam nas margens.

nível de controle de determinada

Existe uma lei econômica que diz

praga. O PCO pode também deci-

assim: se o crescimento econômico

dir qual o meio de comunicação

for menor que o aumento da pro-

utilizar e qual o produto que ele

dutividade, os preços começam a se

estará oferecendo. Em suma, tal-

achatar, as margens também e os

vez seja óbvio que não existe uma

mercados e as empresas se enfra-

verdade absoluta para se alcan-

quecem. Qual o benefício de se dedi-

çar os objetivos. Não existe só um

car à associação neste caso? Manter

Estou desconfiado que todos os

caminho. O ponto central é reco-

o mercado em crescimento através

grandes economistas já tiveram

nhecermos quais as opções exis-

das ações de uma associação forte,

uma empresa controladora de pra-

tentes, suas limitações e pontos

com programas e projetos de curto,

gas. Eles colocaram nos livros este

fortes e fracos, etc. Sendo assim,

médio e longo prazo, faz com que o

fenômeno que acabo de descrever.

os economistas constataram que

tamanho do bolo aumente para to-

“Fala a verdade, nós controladores

nós, como indivíduos ou empre-

dos. Daqui podemos afirmar que o

de pragas somos 10!” Quando im-

sas, temos sempre várias alterna-

custo de alguma coisa é o custo do

plementamos uma política de con-

tivas para fazer uma mesma coisa.

que você desiste para obtê-la.

trolar as baratas, elas reagem às

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PRINCÍPIO As Baratas tornam-se resistentes ao usarmos um só tipo de inseticida


nossas políticas, ou como dizem os

dução, e outro na área adminis-

e, por conseguinte, o distribuidor

economistas, aos nossos incentivos.

trativa, na verdade todos estão

avisa aos fornecedores que estes

Fazemos com que elas percebam

ganhando.

já não valem tanto. Daí então o

que o benefício de continuar vivas

E no mercado controlador de

PCO, o distribuidor e o fornece-

requer um custo, alteração dos seus

pragas receber o dinheiro do nosso

dor têm que aumentar o volume

hábitos. Ou seja, elas analisaram a

cliente, significa que ele está ga-

em função da diminuição de pre-

relação custo-benefício e se dispu-

nhando com o nosso serviço. Ele

ço. É assim no mercado de carros,

seram a alterar seu comportamento

precisa de nós, assim como nós

eletroeletrônicos, papel e celu-

(lindo!). Como somos mais espertos,

precisamos deles. É uma troca. O

lose e no controle de pragas, por

entendemos como elas reagem aos

bom dessa história toda é que, se

que não?

incentivos e implementamos a téc-

trabalharmos em conjunto, é pro-

É isto aí, ninguém agiu em grupo,

nica da rotação do princípio ativo.

vável que tenhamos para todos

mas a tendência prevaleceu, pois ela

mais do que teríamos se trabalhás-

era natural. O que precisamos fazer

semos isoladamente.

é criar outra tendência natural que

É assim mesmo, os nossos clientes se adaptam, quando percebem que o custo de contratar um profissional

O cliente, por 120 reais, pode fi-

gere valor no mercado, que aumente

(risco de roubo, serviço mal feito, su-

car vendo o jogo na TV, pode brin-

o benefício dos consumidores para

jeira no local, atrasos) está próximo

car com o filho sem se preocupar

que estes percebam mais valor. Isto

de outras alternativas, ou melhor: que

em matar as baratas, e talvez por

vai ser conseguido com pesquisa,

o benefício de viver com saúde, man-

1500 reais possa ter o valor do seu

alinhamento, compromisso, moral e

ter o valor do seu imóvel, ter tempo

apartamento assegurado através

ética entre os membros do mercado,

para ler um jornal no final de semana,

do controle dos cupins (não vamos

além de muito trabalho em grupo

diminuem o custo de investir em um

amedrontar nossos clientes: “Se o

(nas empresas e associações). Talvez

profissional qualificado.

senhor não controlar esses cupins

neste caso só tenhamos uma opção,

concorrentes?

o prédio vai cair”; “Olha, a infes-

aumentar a percepção do consumi-

Quando guerreamos em preço, o

tação de mosquito está alta, se não

dor final quanto ao valor dos ser-

que vocês acham que eles farão?

controlar alguém pode morrer!” O

viços prestados pelas empresas em

Se as baratas se adaptam, porque

comércio pode melhorar a situa-

relação ao convívio com insetos ou

nossos concorrentes não? Pessoas

ção de todos.

com o risco de contaminação.

E

os

nossos

respondem a incentivos.

Grupo II : Como interagimos

Além dos fatores que listei aci-

PRINCÍPIO O que une o cliente final, o PCO, o distribuidor e o fabricante?

ma, outro importante não pode ser esquecido: o tempo. Cada dia a mais de trabalho separado, desalinhado, etc, será um dia a mais

PRINCÍPIO A trofalaxia nos cupins melhora a situação de todos na colônia

O preço. O preço é uma “mão

e dependeremos dos outros mer-

invisível” (Adam Smith, 1776)

cados para crescer. O mercado faz

que orienta as decisões de to-

a sua parte, mas nós precisamos

dos nós. Quando o cliente final

Quando os operários trocam

fazer a nossa. Por isto os econo-

não vê qualidades no controla-

com

mistas acreditam que os merca-

dor de pragas, a mão invisível

os soldados, todos ganham. Da

dos são, em geral, uma boa forma

está orientando o controlador de

mesma forma, quando em uma

de organizar a atividade econô-

pragas, neste caso, a ir ao distri-

família temos um irmão na área

mica (isso não significa que deve-

buidor e mostrar para ele que ele

de vendas, outro na área de pro-

mos delegar para o mercado nos-

também passou a ter menos valor

sa responsabilidade).

alimento

por

segurança

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PRINCÍPIO O governo pode às vezes melhorar os resultados do mercado

rata come, mas ela se reproduz e

mercados; precisam produzir mais

por aí vai. Não adianta também só

trabalho por homem-hora para se-

sermos consumistas. Precisamos

rem competitivas e ter acesso a uma

também poupar e investir para se-

renda melhor (salários, lucros, etc).

É isto aí! Talvez possa parecer mui-

guir a tendência de crescimento.

to simplória, mas esta afirmação vem de um economista da Universidade de Harvard (autor do artigo que deu origem a este texto). Precisamos nos organizar, ninguém ganha do governo! O governo é nosso aliado. Se pensamos que podemos trabalhar sozinhos, melhor nem pensar. No mínimo, nós desalinhados com os governos (federal, estadual e municipal) estaremos nos atrapalhando, teremos que cumprir leis que talvez tenham sido feitas sem o conhecimento prático da nossa realidade ou que tenham sido formuladas por outros grupos de interesse. É preciso que nos organizemos (que tenhamos unidade), que entendamos a regra do jogo e mãos à obra. O jogo é este , “o governo é o distribuidor da sociedade como um todo”. É ele quem direciona as ansiedades dos grupos de interesse e zela pelos interesses não só do nosso mercado, mas dos outros mercados também.

Grupo III : Como funciona a economia

PRINCÍPIO Nossa renda (padrão de vida) depende do que produzimos

Quanto

compramos

as baratas, que aumentam o consumo e lá adiante, quando se di-

PRINCÍPIO O monopólio da moeda é do governo

minui o potencial biótico do ambiente, elas têm que diminuir.

Precisamos rever nossos preços e a

Precisamos investir em pes-

política salarial todos os anos devido à

quisa, treinamento, infraestrutu-

inflação. Quando gastamos mais que

ra, em produtividade para manter

ganhamos o que acontece com nossas

o potencial biótico que as baratas

empresas? Na verdade pegamos em-

não conseguem. Aumentando nossa

prestado e pagamos mais juros.

produtividade estaremos aumen-

O que acontece quando o governo

tando nossa competitividade com

gasta mais que arrecada? Com certeza

os produtos de pronto uso e, con-

não pede “emprestado” para os ratos,

sequentemente, estaremos aumen-

baratas e cupins. Pede a nós. Quando

tando nosso mercado. A economia

é de forma direta, através da emissão

como um todo é responsável, e é da

de títulos, a inflação fica parada (o que

soma das ações responsáveis dos

ocorre hoje), mas quando pede através

vários segmentos que a renda da

da emissão de mais dinheiro, o que ele

nossa sociedade aumentará.

gera é inflação. Eles tiram dinheiro de

“ O que devo fazer hoje

nós controladores de pragas através

para ser melhor que ontem?

da sua desvalorização. Isto significa que no mês seguinte 100 reais não dá para comprar dois litros de inseticida, ou melhor, precisaremos de 120 reais para comprar os mesmos dois litros. O

As vendas no mercado profissio-

aumento da sofisticação dos produtos

nal de controle de pragas nos Esta-

também aumenta o preço, mas este

dos Unidos são de 15% do mercado

não é o tema central deste princípio,

total. Os fabricantes vendem, só de

nós o vimos no conceito três.

produtos, mas de 1,5 bilhão de dólares. E por aqui? Acredito que não alcancemos 1% do mercado potencial. E como ficam as outras áreas

10º

PRINCÍPIO Se é fácil de explicar porque não resolvem de uma vez?

e

do eixo São Paulo-Rio? O que per-

vendemos, mais a economia cres-

cebemos é que nestas áreas este

ce, mais as pessoas que estão nela

abismo de mercado é maior ainda.

Existem algumas questões que o

vivem bem.

Quanto mais comi-

O que significa que as empresas

governo tem que enfrentar. Há uma

da tem no ambiente, mas a ba-

têm que ser mais eficientes nestes

teoria de que para o governo diminuir

12

mais

Não adianta pensarmos só como


a inflação, em curto prazo, as despe-

tes conceitos são unanimidade

No sistema democrático preci-

sas dele vão cair (vão contratar menos

entre os “economistas/controla-

samos nos organizar, aprender a

descupinização, vão comprar menos

dores de pragas”.

regra do jogo e influenciar as decisões que impactam o mercado con-

inseticida ou não vão controlar bara-

Existem alternativas de ação,

tas em colégios), isto é, alguns cortes

precisamos aproveitar as oportu-

serão feitos e haverá recessão. Como

nidades, acreditamos que a me-

Acredito que quando finalizar-

consequência, teremos que demitir

lhoria nos coloca em uma área de

mos a implementação destes con-

alguns funcionários.

maior segurança e nossas ações

ceitos nosso mercado dará um salto

Em um sistema democráti-

fazem que outros tenham que se

qualitativo muito grande.

co, decisões difíceis e conflitos

adaptar a nós e vice-versa. Por ou-

de interesse tomam mais tempo

tro lado, trocar é bom para todos. O

para se chegar a um consenso.

mercado coordena os interesses e o

Esta é a crise. Às vezes o con-

governo pode nos ajudar.

senso leva alguns dias, meses ou anos para se estabelecer.

A responsabilidade do nosso padrão de vida depende de nós tra-

Independente dos interesses

balharmos em grupo. Um governo

ou da fundamentação científica

de má qualidade faz com que todos

que levam em consideração, es-

nós percamos através da inflação.

trolador de pragas.

Paulo Henrique Costa Engenheiro agrônomo, gerente-sócio da PHC Foco Consultoria. O artigo foi escrito a partir de uma matéria do Prof. N. Gregory Mankiw, da Universidade de Harvard, traduzida pela professora Maria José C. Monteiro, da UFRJ. phcfoco@terra.com.br

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PREVENÇÃO

Controle ou erradicação do vetor da dengue? Por Horacio Manuel Santana Teles

A doença e o vetor

da ampla distribuição e ocorrência do Aedes aegypti, espécie dos mosquitos

Os primeiros registros da ocorrência de

vetores que é responsável pela trans-

dengue concebidos cientificamente datam

missão da doença. Amplamente difun-

mais de 200 anos, no fim do século 18. Essa

dida e domiciliada, com reprodução

doença se manifesta sob duas formas, a

assegurada nos mais diferentes tipos

chamada clássica, de evolução benigna, e

de criadouros disponíveis nas cidades,

a outra hemorrágica, com diversas com-

a espécie é dominante, em contraste

plicações e, eventualmente, chegando a

com Aedes albopictus, espécie envolvi-

óbito. Quatro agentes distintos, (vírus tipo

da na transmissão da doença em ou-

I, II, III e IV) do grupo dos arbovírus, isto

tras partes do mundo.

é, transmitidos por vetores artrópodes

Mais recentemente, a presença

(“arthropodborne virus”), respondem pela

do Aedes aegypti ganhou mais proje-

doença, que é transmitida por mosquitos

ção e importância com a associação

(dípteros culicídeos) do gênero Aedes. Os

da espécie e a transmissão das vi-

vírus do tipo I promovem a dengue clás-

roses Zica e Chikungunya. De sinto-

sica e, por razões ainda não bem conheci-

mas iniciais semelhantes à dengue,

das, quase sempre as epidemias de dengue

com desfechos severos, felizmente

clássica antecedem as de dengue hemor-

os casos dessas duas doenças ainda

rágica. Na atualidade, a doença espalhou-

não atingiu as dimensões da den-

-se por quase todos os países localizados

gue. A dengue muitas vezes passa

na região Neotropical, e nos continentes

despercebida ou confundida com um

asiático e africano. Aqui no Brasil já existe

resfriado forte, o que contribui para

o registro dos quatro tipos de vírus e das

a subnotificação de casos. As pesso-

duas formas da dengue.

as que contraem a doença adquirem

Apesar da provável existência da doen-

imunidade, porém a imunidade não

ça em períodos anteriores, a disseminação

é cruzada para os quatro sorotipos

da dengue ganhou projeção nacional após a

virais, ou seja, existe a possibilidade

descoberta de casos em Boa Vista, Roraima,

de adoecer quatro vezes. Ainda por

no ano de 1982. Com quase 8 milhões de

razões não bem conhecidas, a recor-

casos registrados desde então, com predo-

rência de infecções por sorotipos di-

minância da forma clássica, a virose segue

ferentes coincide com o aumento dos

causando enormes transtornos à população

casos da dengue hemorrágica, forma

de todos os estados brasileiros, em razão

da doença mais grave que a clássica.

14


O ressurgimento da dengue como problema mundial aconteceu em de-

considerando os limites do possível, em detrimento do desejável.

corrência da intensificação das trocas

A par da complexidade do assunto, a

comerciais estabelecidas com o in-

consulta das fontes de informação e di-

cremento do intercâmbio de pessoas

vulgação disponíveis demonstra o contro-

e mercadorias em aviões, navios e

le como objetivo comum através de ações

outros equipamentos de transporte,

e práticas direcionadas para a redução das

ou seja, o encurtamento das distân-

densidades das populações dos mosqui-

cias e o estreitamento das relações

tos, mediante eliminação de criadouros ou

entre os países propiciou o espalha-

aplicação de inseticidas.

mento e a intensificação da doença, fatos que mais recentemente tam-

Controle ou erradicação?

bém estiveram intimamente ligados à

Fêmea de Aedes aegypti. Do livro de Cesar Pinto, 1930. Tratado de parasitologia. IV. Arthrópodes parasitos e transmissores de doenças. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 845 p.

disseminação do coronavírus, agente

Um dos exemplos bem conhecidos da

patogênico da COVID-19. Chama a

erradicação do Aedes aegypti aconteceu no

atenção o fato de que a introdução

Rio de Janeiro. Assolada pela febre amare-

dessas doenças receba impulso com

la no início do século passado, a partir de

a circulação mundial de pessoas de

uma campanha capitaneada por Oswaldo

categorias mais favorecidas social

Cruz e com apoio governamental, a des-

e economicamente, e o que se vê na

peito dos custos de milhões de dólares,

sequência é que a proliferação dos

de rebeliões populares contra a vacina e

mosquitos e dos vírus encontra me-

contra os agentes de saúde que coletavam

lhores condições de transmissão em

amostras de fígados das vítimas da doen-

áreas onde predominam as más con-

ça, que terminaram associados à figura

dições de vida e moradia.

mitológica dos “papa-figos”, a campanha

De certa maneira, as peculiarida-

garantiu a preservação de milhares de vi-

des da transmissão da dengue de-

das, o reconhecimento internacional da

correntes dos excepcionais níveis de

excelência científica da saúde pública bra-

adaptação dos mosquitos vetores às

sileira e o reconhecimento do presidente

mais diversas condições ambientais

Rodrigues Alves como estadista. O reco-

e a necessidade de mudanças dos pa-

nhecimento da erradicação do mosquito e

drões de ocupação do solo, são ques-

da doença foi em 1955.

tões que dificultam a elaboração dos

Embora sem o envolvimento de veto-

programas únicos de enfrentamen-

res, outro bom exemplo é o da erradica-

to desses problemas. Em especial,

ção do vírus da varíola. O caso do vírus da

o assunto emperra quando se trata

varíola é registro único da extinção de um

das ações e operações direcionadas

ser vivo da natureza ocasionado pelo ho-

contra os mosquitos vetores. Embora

mem. Para a eliminação da varíola foi fun-

pareça simples, a definição de objeti-

damental a disponibilidade de uma vaci-

vos dos programas, entre o controle

na 100% eficaz, de proteção duradoura, e

e a erradicação, não é simples. Me-

a atuação global e simultânea de todos os

nos por questões de fulcro biológico,

países. A totalização dos custos financei-

a impressão é que a escolha acontece

ros das ações desenvolvidas é imensurá-

15


vel, já os benefícios da inexistência de casos ou óbi-

domésticas de inseticidas. Os adeptos do controle

tos por décadas são inquestionáveis. A erradicação

admitem a necessidade de melhorias da qualidade

da varíola possibilitou a exclusão da obrigatorieda-

das habitações e do atendimento à saúde, enquanto

de da vacinação, condição que certamente possibi-

os da erradicação, no geral, consideram esses de-

lita a economia de recursos financeiros considerá-

terminantes secundários. Da parte do controle, o

veis para os sistemas da saúde mundiais.

postulado é a convivência com o problema em ní-

No que diz respeito à erradicação da febre amarela e do Aedes aegypti a partir da campanha

veis suportáveis, e da erradicação, a ideia central é a expectativa de eliminação do problema.

de Oswaldo Cruz, a par da confortabilidade pro-

À parte de um ou de outro objetivo, no que tan-

piciada por anos, os registros da descoberta de

ge aos mosquitos e à doença, embora seja possível a

criadouros desse mosquito nos estados do Pará

enumeração de detalhes e mais detalhes a respeito

e Maranhão em 1969, nas cidades de Salvador

da viabilidade de uma ou outra proposta, existe a

em 1976, Rio de Janeiro em 1977, e durante todo

possibilidade da elaboração de programas flexíveis

o tempo no estado de Roraima e em países vizi-

que agreguem a disponibilidade de uma série de co-

nhos, não consumam efetivamente a erradicação.

nhecimentos sobre as diversas metodologias e tec-

A perda regular do interesse pelo assunto talvez

nologias disponíveis, seja para o desencadeamento

seja um fator relevante para reflexão. Ao longo

de ações e atividades saneadoras que respeitem as

dos anos, o Brasil perdeu entomólogos e outros

distintas realidades situacionais e epidemiológicas,

especialistas capacitados para a continuidade dos

com mais eficiência na redução do problema em

estudos e pesquisas com o assunto, o que preju-

curto e médio prazo, seja com atividades profiláti-

dicou muito a vigilância e a capacidade de respos-

cas ininterruptas mas que considerem os estágios e

ta para a contenção das ressurgências do vetor.

a evolução dos indicadores de saúde e ambientais,

Também perdeu o tempo para a obtenção de co-

que contem com o apoio de políticas duradouras de

nhecimentos prévios sobre os múltiplos aspectos

incentivo à educação, de melhoria das condições de

biológicos com que os mosquitos driblam as ad-

habitação e de recuperação da dignidade social e

versidades, como a capacidade de resistência aos

econômica da população.

inseticidas e dos ovos à dessecação, entre outros,

Como terceira via, serão desejáveis mudan-

conhecimentos imperativos para a confecção de

ças do panorama político brasileiro e o aporte

programas de controle. Depois do reaparecimen-

de recursos pessoais e financeiros por parte dos

to em massa do Aedes aegypti, predominaram as

municípios, estados e federação, respeitando as

discussões sobre a verticalidade ou horizontali-

responsabilidades hierárquicas de cada um des-

dade dos programas; durante muito tempo após

ses entes político-administrativos, que possi-

a redescoberta de casos da dengue, as discussões

bilitem, por exemplo, ações em consórcios de

acaloradas sobre temas subjacentes dominaram o

municípios para a execução dos programas, uma

cenário científico e político.

vez que os vetores não respeitam as artificiais

De volta à questão. Quais seriam as principais diferenças de um programa de controle e um de erradicação?

divisões administrativas. As análises de resultados também dependerão de comitês gestores

Em síntese, o controle pressupõe a adoção de

que reúnam representantes dessas instâncias,

um conjunto de medidas saneadoras que inclui

para a transposição de estágios do controle, e o

aplicações de inseticidas, de medidas de vigilância

apoio de instituições que abriguem especialistas

e notificação de focos do mosquito e dos casos para

de diferentes campos do conhecimento, como,

a redução de criadouros, enquanto os programas de

biólogos, engenheiros, médicos, geógrafos, so-

erradicação, priorizam as aspersões ambientais e

ciólogos, entre outros.

16


Embora o momento político do país não pare-

A situação da dengue e das doenças veiculadas por

ça propício à adoção dessas posturas, a assunção

vetores escancara a vocação democrática de quem go-

do fato que a dengue é uma doença que ainda não

verna, ou não. Impõe coordenação política, um modelo

dispõe de vacina ou tratamento específico, e cujo

de gerenciamento com responsabilidades comparti-

combate exige montante de recursos indisponíveis

lhadas, de respeito à crítica e de abertura para a par-

para a grande maioria dos municípios, o momento

ticipação organizada da sociedade. A dengue derruba a

pede a união de esforços e a colocação de diferenças

redoma que normalmente isola os debates no âmbito

políticas em segundo plano.

científico e de governo. Sem sair do isolamento institucional e dos programas uniformizados e pré-esta-

Prioridades de ação

belecidos, as chances de sucesso no enfrentamento da situação são remotas e sujeitas a mudanças dos nomes

Independentemente dos objetivos para o enfren-

e humores de governantes. Consequentemente, é che-

tamento da dengue, se feito da maneira atual, seguirá

gada a hora de abandonar as posições rígidas de cada

demandando recursos financeiros que não temos, de-

parte, em benefício da sociedade.

pendentes do favorecimento de governos, o que temos

Passando pela reparação de instituições e ins-

de sobra, em detrimento das políticas públicas coletivas.

tâncias públicas desmanteladas, pela adoção de

O enfrentamento da dengue também passa pelo

práticas que proporcionem o compartilhamento de

investimento e recuperação de instituições que

recursos, instrumentos e insumos, como insetici-

historicamente atuam no combate às doenças en-

das, máquinas, veículos, pessoal e outros equipa-

dêmicas, e do interesse acadêmico na formação e

mentos, os avanços nunca serão definitivos e dura-

capacitação de profissionais com habilidades de

douros, independente da necessidade da vacina, de

campo e laboratório, para o acompanhamento de

tratamento e do desenvolvimento de produtos.

resultados, realização de testes e experimentos

O elo frágil da dengue é a preferência do Ae-

em áreas do conhecimento tidas como tradicionais

des aegypti para a reprodução em criadouros dos

(como a sistemática ou taxonomia), e para a iden-

ambientes urbanos, condição que exige a con-

tificação precisa de espécies e determinantes am-

centração dos esforços em ações coordenadas e

bientais que favorecem ou dificultam a proliferação

simultâneas em regiões bem delimitadas por ca-

dos mosquitos. Também é importante o desenvol-

racterísticas biológicas e similaridades urbanas

vimento do planejamento urbano para a promoção

estabelecidas independentemente dos limites po-

da habitabilidade ordenada dos espaços citadinos,

lítico-administrativos. Considerando esses dita-

assunto que há muito pede o interesse dos políticos.

mes, a municipalização radical das responsabili-

O ponto é que não cabem mais perdas de tempo em

dades com a saúde também fica em cheque, seja

discussões sobre aspectos extrínsecos ao problema,

em função da dengue, como pelos estragos causa-

pois a ampla disseminação do Aedes aegypti, além do

dos pela pandemia da COVID-19.

risco associado à dengue, agora incorpora a possibilidade de retorno da febre amarela urbana, flagelo que foi objeto da campanha de Oswaldo Cruz. A ameaça da febre amarela silvestre já rondou os municípios da região da Grande São Paulo, pois o surto desencadeado a partir de 2017 durou 2 anos e causou 657 casos, com 215 vítimas fatais. A presença do vetor da dengue na região trouxe de volta o perigo da transmissão do vírus da febre amarela no meio urbano.

Horacio Manuel Santana Teles é biólogo e Pesquisador Científico da SUCEN/Superintendência de Controle de Endemias, de São Paulo.

17


LEGISLAÇÃO

Superintendência de Controle de Endemias/SUCEN Por Luiz Roberto Fontes

Não posso deixar passar o muito oportuno artigo sobre mosquitos, de Horacio Teles, sem comentar o recente Projeto de Lei nº 529 de 2020, aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo com a diferença de um único voto a mais a favor, e vertido na Lei nº 17.293, de 15 de outubro de 2020. Em seu artigo 2°, essa Lei dá por extinta a Superintendência de Controle de Endemias/SUCEN, entidade autárquica subordinada à Secretaria da Saúde estadual e criada pelo Decreto-Lei nº 232, de 17 de abril de 1970. Essa mesma Lei recente, em seu artigo 1°, propõe a extinção da Fundação Parque Zoológico, e em seu artigo 64°, extingue

tratamento de doentes. Com um ordenamento ao

o Instituto Florestal e unifica o Instituto

estilo militar, as bem-sucedidas ações levaram o

de Botânica ao Instituto Geológico, todos

então Serviço de Profilaxia da Malária (organi-

eles unidades administrativas da Secreta-

zado em 1938, em substituição ao IPI) a estender

ria de Infraestrutura e Meio Ambiente.

suas atividades também para o controle dos tria-

As raízes históricas da SUCEN, entre-

tomíneos, em 1960, e passando a se denominar

tanto, antecedem o decreto-lei de 1970

Serviço de Erradicação da Malária e Profilaxia

e remontam à criação da primeira or-

da Doença de Chagas. Em 1968, esse serviço foi

ganização governamental destinada ao

transformado em Divisão de Combate a Vetores,

combate da malária no Serviço Sanitário

e em autarquia em 1970, inicialmente no escopo

do Estado, a Inspetoria de Profilaxia do

da Superintendência de Saneamento Ambiental/

Impaludismo/IPI, em 1933. Destinava-se

SUSAM e, como órgão independente e totalmente

o novo órgão a promover ações coorde-

devotado às endemias, nas alterações promovidas

nadas de combate a esse flagelo sanitário

pela Lei n° 1804, de 18 de outubro de 1978. Assim,

que limitava o crescimento econômico do

em sua configuração atual, a SUCEN reúne 50 anos

Estado e impunha enormes gastos com o

de experiência em assessoria a municípios e ações

18


diretas no controle de mosquitos transmissores de

posso afirmar, pois a extinção foi um ato político-

dengue, febre amarela e malária, mosquitos-pa-

-administrativo do atual governo, que indepen-

lha vetores de leishmanioses, barbeiros que vei-

deu dos quadros técnico-científicos da instituição

culam a doença de Chagas, moluscos hospedeiros

e nada tem a ver com uma desejável competência

intermediários de esquistossomose, e carrapatos

científico-administrativa em prol da saúde pública.

veiculadores de febre maculosa.

O conjunto de mudanças organizacionais no

Eu fui pesquisador científico da SUCEN por 8

Estado desconsidera o relevante papel histórico

anos (1994-2002). Quando ingressei, uma agradá-

da SUCEN em benefício da saúde pública do Es-

vel surpresa foi conhecer a estrutura administrati-

tado de São Paulo, em atribuições que jamais fo-

va que abarcava a sede e 10 serviços regionais, com

ram interrompidas e sempre foram aplicadas com

corpo de pesquisadores e de técnicos que presta-

maestria nos seus 50 anos de existência e 87 anos

vam assistência a todos os municípios paulistas nas

de história desde os tempos do antigo IPI, e pros-

questões da saúde pública, acerca do controle de

seguem, ou prosseguiam, até o presente e não

vetores biológicos e também de animais incômodos

encontrarão substituto na Secretaria de Saúde. O

e peçonhentos, como ratos, escorpiões, carrapatos

risco da perda de um quadro de servidores técni-

e demais. Nesse período, entre outras ações, atuei

co-científicos e operacionais, forjado no campo

em programas educativos para controle do mos-

prático e muitos com sólida formação acadêmica,

quito transmissor da dengue, executei ações diretas

habilitado para assessorar municípios nos pro-

de combate a escorpiões e colaborei na implantação

gramas de controle das endemias, para o desen-

de programas municipais de controle dessa praga,

volvimento de atividades de campo e laboratório,

e coordenei ações de combate a carrapatos em área

é uma situação lamentável.

de transmissão de febre maculosa. De relevante,

Da mesma forma, as demais instituições cien-

também atuei com Horacio Teles no diagnóstico

tíficas mencionadas acima, abolidas por simples

da introdução do caracol gigante africano (Achati-

extinção ou por fusão e consequente fim de sua

na fulica, atualmente classificado como Lissachatina

existência, também se destacam pelos relevan-

fulica) no Brasil e iniciamos a campanha de combate

tes serviços devotados em suas respectivas áreas

a essa praga agrícola e dos cultivos de subsistência,

de atuação. Parece que se tenta não apenas apagar

que também transmite verminoses aos humanos.

um momento importante da memória paulista, e

Foram 8 anos de aprendizado e ações contínuas de

por extensão do país, e derrogar definitivamente o

interesse à saúde pública, embora algumas tenham

inestimável papel que, à margem de todas as difi-

sido incompreendidas ou erroneamente interpre-

culdades havidas no campo financeiro ou adminis-

tadas por determinados setores administrativos da

trativo, elas sempre desempenharam em benefício

própria instituição.

da ciência e da tecnologia brasileiras.

Rememorando os tempos lá trabalhados, creio

“Um povo sem memória é um povo sem história. E

que conheci, nos primeiros anos, o apogeu da ins-

um povo sem história está fadado a cometer, no pre-

tituição. Entretanto, depois de algumas reformas

sente e no futuro, os mesmos erros do passado.” His-

administrativas que separaram a ação operacional

toriadora Emília Viotti da Costa (1928-2017).

de atenção direta às necessidades dos municípios daquelas realizadas nos laboratórios de pesquisa científica, também acompanhei o seu gradual declínio e é certo que o descaso governamental e talvez essas intervenções administrativas tenham contribuído para a sua atual extinção. Isso eu não

Luiz Roberto Fontes é biólogo e ex-Pesquisador Científico da SUCEN (1994-2002).

19


CONSULTORIA

Licenciamento Ambiental O procedimento é obrigatório mas não precisa ser um imbróglio Por Leonardo Souza

Assim como quando estamos doentes procura-

de meio ambiente, fauna, flora, legislação ambiental

mos os médicos, quando existem os problemas de

(Lei 9605/99). Em diversos debates já foi citada até

infestações de pragas o correto é buscar ajuda com

a possibilidade de aumentar o rigor sobre essas em-

uma empresa devidamente registrada e legalizada

presas, através de fiscalizações nos laboratórios e até

nos órgãos governamentais, ambientais, sanitá-

mesmo nos clientes, para se avaliar o impacto am-

rios, etc. Do mesmo modo, quando se trata de lega-

biental e a eficácia dos serviços.

lização de empresas, e da busca pela indispensável

Por isso é urgente que as empresas que realmente

Licença Ambiental, devemos procurar os verdadei-

desejam continuar operando com controle de veto-

ros especialistas na área do Direito Ambiental.

res e pragas, no Estado do Rio de Janeiro, busquem

Da forma como ocorre no Brasil o licenciamen-

profissionalização através de ISOs, cursos de atuali-

to ambiental pode ser considerado único no mundo.

zação; que tenham técnicos responsáveis trabalhan-

Aqui são agregadas três tipos de licença (licença pré-

do efetivamente nas empresas, que elaborem EIA,

via, licença de instalação e licença de operação) que

RIMA, e emitam laudos, entre outros tantos requisi-

cobrem desde o planejamento até a execução da ati-

tos exigidos. É justamente por tudo isso que o profis-

vidade regulada, englobando aspectos, tanto do am-

sional do Direito Ambiental se torna imprescindível,

biente natural (meio físico e meio biótico), como do

porque além de atuar em todas as exigências solici-

ambiente humano (meio social e meio econômico).

tadas às empresas, também aplica seu conhecimen-

Motivo que, não raro, leva os empresários en-

to para peticionar aos órgãos públicos a celeridade

contrarem inúmeras dificuldades na hora de lega-

dos processos, abreviando sobremaneira o tempo

lizar suas empresas controladoras de pragas. A luta

para obter a tão sonhada licença de operação.

vai desde a peregrinação, com idas e vindas aos ór-

Portanto empresário, fica a dica: não tente rea-

gãos públicos, até as execuções indevidas de obras,

lizar o trabalho do médico, do biólogo ou do advo-

documentação incorreta, etc.

gado... contrate um escritório especializado.

Para eliminar tais dificuldades, e também os riscos que elas trazem, é fundamental contratar uma empresa ou escritório que possua uma equipe multidisciplinar composta por biólogos, advogados especialistas, engenheiro agrônomo, etc. Perceba que a atividade de controle de pragas é muito mais complexa do que se imagina em matéria

20

Leonardo David Moreira de Souza Advogado, sócio do Escritório Souza Drable Advogados OAB/RJ 155.295


21


22


23


CAPA

Desenvolvimento de Valores e

PRECIFICAÇÃO No Controle de Pragas Por Gabriel Locatelli Marques da Silva

Este artigo foi confeccionado no intuito de esclarecer fundamentos geradores de “valor x preço”. A intenção é formatar uma ideia sobre a formação de preços para serviços relacionados ao controle de pragas, evitando o esquecimento de itens importantes que devem fazer parte do seu custo. O estudo soma conhecimentos científicos adquiridos ao longo dos anos acadêmicos estudando administração de empresas, empreendedorismo e gestão ambiental, além da experiência na prática com minha própria empresa.

24


Para facilitar o dia a dia no gerenciamento de preços formulei uma planilha bem pessoal e particular, que pode e deve ser editada para adaptar os conceitos de acordo com a realidade de cada empresa. Uma atenção especial deve ser direcionada para as variáveis que vão orbitar nos valores, e é sobre isso que vamos abordar nesse artigo.

É fato que precificação é a maior dificuldade

to, raramente encontramos os elos de confiança,

dos empresários do ramo de controle de pragas,

qualidade ou até amizade, passarem por cima do

porque além de perder tempo, também se perde

danado do preço. Não se precipitem, não estou di-

muito dinheiro ao precificar errado, seja pra mais,

zendo que as outras coisas não são importantes,

seja pra menos. Alguns dirão que suas dores são

nem dizendo que o menor preço sempre vence. O

outras, e a esses dou os parabéns, pois soluciona-

ponto que quero chegar é que o preço deve ser cal-

ram os problemas com preços, mas saber precifi-

culado justo, de acordo com os valores que você,

car vai muito além do que os olhos podem ver. O

como prestador de serviço, entregará ao final do

preço é o principal elo entre fornecedor e cliente,

contrato. Ficou difícil entender? Exatamente como

isso porque quando o assunto é desenvolvimen-

pensei! Então vamos explorar mais o tema.

25


6

os

1

Pilares da

Precificação

Custo Fixo (CF):

4

Hora Técnica (HT):

O custo fixo, resumidamente, engloba todos os

Hora técnica, como o próprio nome já diz, representa

custos imutáveis e essenciais (em média 6 a 12 meses

a quantidade de tempo que leva para realizar tal tipo de

sem ou com pouca alteração) de existência da empre-

serviço, em tal condição. Em um orçamento, a principal

sa. São exemplos de custo fixo: aluguel, água, luz, in-

informação absorvida pelo técnico em sua visita é a de

ternet, contador, taxas fixas, etc.

quanto tempo vai levar para realizar aquela ação. Pois

2

certamente são as horas técnicas que mais vão afetar o

Custo Operacional (CO):

orçamento previsto. Vale salientar que as HTs são subdivididas em duas categorias a saber: HTO (Hora Técnica Operacional) e HTA (Hora Técnica Administrativa). As

Esse é relacionado aos custos de execução técnica do

HTAs não podem ser deixadas de lado, já que em muitos

serviço, dentre esses itens podemos identificar facilmen-

trabalhos necessitamos da elaboração de documentos

te alguns como: combustível, produtos, equipamentos,

como laudos, certificados, relatório CIP, atendimento

acessórios, alimentação, funcionários extra, etc.

ao cliente, entre outras demandas.

3

5

Custo Variável (CV):

Aqui está um dos itens mais esquecidos no momento da precificação, pois embutir as variáveis em um orçamento é difícil. Leva tempo até a mensuração, precisa de conhecimentos e ferramentas administrativas para entender o desenho financeiro de sua empresa, seus gastos e investimentos, e os cálculos devem ser feitos a partir de projeção anual, em seguida divididos por 12 meses, e assim por diante, até chegar ao custo médio diário, ou até por hora, para que sejam acrescentados a sua precificação. Para facilitar o entendimento vou descrever alguns exemplos de CV: uniforme, comunicação visual, marketing, gráfica, papelaria, manutenção, etc.

26

Lucro e Margens

O lucro e as margens devem ser calculados na sequ-

ência correta, para que não haja interferência de forma incorreta de um sob o outro. Ao obter a somatória dos 4 primeiros pilares acrescenta-se a margem de segurança, que pode ser entre 5% e 15%, geralmente varia de acordo com a dificuldade do serviço, probabilidades de retorno, investimento em novos equipamentos e etc... Logo após a margem de segurança, temos que acrescentar o lucro, que é a melhor parte, é aqui que o empresário define qual será sua fatia do bolo. Eu trabalho meu lucro em torno de 40%, que ao final da equação, me trará, de forma liquida, um retorno próximo dos 35% (isso é uma particularidade dentro


da minha realidade). Após somar o percentual de lu-

e CV. As técnicas de venda e de negociação são tema

cro, acrescento a margem de negociação, que também

para um outro artigo, porém entendo que precificar

pode variar de 5% a 15%. A margem de negociação, já

também é vender, então não se esqueça de que fazer

é uma ferramenta das técnicas de negociação ameri-

os clientes aceitarem seu preço, significa mostrar a

cana, que permite que você tenha jogo de cintura, ou

ele seus valores, na pré e pós-venda principalmente.

seja, flexibilidade, para poder negociar com seu clien-

E para isso é necessário aprender técnicas de vendas

te, cedendo a ele parte do seu preço, a fim de mostrar

apuradas, além de dominar o assunto sempre.

como ele é importante pra você. Importante lembrar que quando você cede seu preço para agradar o cliente, deve saber exatamente qual sua margem de negociação para não ultrapassá-la, além de reforçar seus

6

Impostos

Por último e não menos importante, estão os im-

argumentos explicando seus valores, inclusos nesse

postos. Esse item também é muito particular e vai va-

preço, como exemplo da pontualidade, honestidade,

riar de acordo com município e estado onde se encontra

tempo de mercado, experiência, qualidade técnica,

a empresa prestadora e o cliente. Entre 2% e 25% em

entre outros valores que sua empresa pode usar como

média. Esse custo também deve ser calculado somente

formador de preço embutido nas HTOs, HTAs, Lucro

para clientes que necessitem da emissão de nota fiscal.

27


Conclusão

Precificação no final das contas é fácil, mas tam-

pé. E, se eu pudesse te dar uma dica, não use seu

bém bastante complexo. Ainda bem que nossos

preço para fazer marketing. O último assunto des-

serviços são bem lucrativos e, em muitas cidades,

se artigo, para encerramos nosso tema com chave

ainda são bem valorizados. Dificilmente levamos

de ouro, é sobre precificação em licitações. Vemos

prejuízo. Mas prejuízo financeiro em 1° grau é uma

hoje em dia um método de precificação para órgãos

coisa, quando você cobra R$ 1.000,00 para fazer um

públicos por m², o que na minha opinião é ridícu-

trabalho, e gasta R$ 1.200,00 para executar. Ou-

lo! Impossível mensurar um trabalho de qualida-

tra coisa é o prejuízo em 2° grau, onde você cobra

de pensando apenas em metros quadrados, já que

dia após dia, valores que não cobrem seus custos.

nosso trabalho é ambiental. Fora que isso permi-

Ou, ainda mais profundamente, você não preci-

te que empresas sem conhecimento aprofundado

fica pensando no crescimento e desenvolvimento

de precificação calcule valores muito baixos, que

da empresa. No mundo do empreendedorismo se

não pagam nem as despesas operacionais. En-

você não está crescendo, está morrendo. Por isso

tão fiquem ligados em precificação por M², se não

é tão importante cobrar não somente para sobre-

souber calcular, fuja imediatamente disso, os pre-

viver, mas para crescer cada vez mais. Ser flexível

juízos podem ser enormes e levar sua empresa à

com seu preço é essencial na maioria das negocia-

falência. Além disso, te coloca em uma situação de

ções, mas flexibilidade tem limites. Nunca ultra-

prestação de serviço público de baixa qualidade,

passe seu limite, por mais atraente que o cliente

diminuindo sua importância para o setor e preju-

seja. Se em sua estratégia de marketing você pre-

dicando outras empresas que praticam preços jus-

tende reduzir preço saiba de algo muito impor-

tos. Espero ter colaborado, um forte abraço a todos.

tante: seu preço é reflexo de seus valores. Se você diz para seu cliente que seu trabalho é “de graça”, quais valores você acha que seu cliente vai absorver? Então, para fazer isso, você deve usar técnicas de marketing de fixação de marca, preparar bem sua equipe e estrutura operacional e, principalmente, vai precisar de capital para não dar um tiro no

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Gabriel Locatelli Marques da Silva Empresário, gestor ambiental, 18 anos no controle de vetores e pragas em São Paulo. Desenvolveu metodologia inovadora na formação de preços no ramo do controle de pragas.


ASSOCIATIVISMO

ABCVP Uma história de sucesso que é referência para o país A Associação Brasileira de Vetores & Pragas

À frente da ABCVP desde novembro de 2015, Ruben

(ABCVP) foi criada em outubro de 1990. Nesses

Barat, reforça que hoje a entidade tem expressão po-

quase 31 anos de trajetória tornou-se referência

lítica, social, ambiental e econômica, graças à união e

para as empresas controladoras de pragas do país,

cooperação dos associados, em especial àqueles que

por sua luta incansável em busca de crescimento e

abdicaram tempo voluntário para servi-la.

desenvolvimento para o setor.

“Essa união em busca de interesses comuns

Braço forte do empresariado na busca por so-

nos fortaleceu e nos levou muitas vezes à vitória,

luções que afligiam a muitos, e que eram funda-

mas nem sempre foi fácil. Somos todos empre-

mentais para o desenvolvimento coletivo, a enti-

sários com milhares de problemas para resolver,

dade conquistou lutas importantes, até mesmo em

todos os dias, ainda assim trabalhamos incansa-

tempos de pandemia (Lei Estadual Nº 8.839/2020).

velmente para manter tudo em ordem e agregar

Mas falar de conquistas sem citar o trabalho fei-

valor à entidade. Estamos orgulhosos do dever

to pela atual gestão seria até inglório. Nos últimos

cumprido e com a certeza de que deixamos a nos-

cinco anos a imagem e o fortalecimento da ABCVP

sa contribuição”, comentou Barat.

foram muito amplificados. De degrau em degrau,

Profissionalizar o setor sempre foi uma das

de conquista em conquista, uma Associação forte

maiores preocupações da atual diretoria, por isso,

foi sendo forjada, alcançando representatividade

cursos a preços populares foram implementados

nas esferas municipal, estadual e federal.

logo nos primeiros anos de mandato.

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Em parceria com o CRBio (Conselho Regional de

bilidade e do trabalho que tem pela frente. Pois re-

Biologia) foram oferecidos cursos de capacitação a

conhece que o desafio maior é dar continuidade ao

R$ 50, nivelando a qualidade dos serviços prestados

bom trabalho que foi feito por todos os diretores da

pelas empresas controladoras de pragas.

entidade; uma soma de esforços. Afinal, associati-

Ainda no que diz respeito à qualidade dos serviços, a associação se aproximou dos Conselhos

vismo é isso: desenvolvimento e capacitação para o crescimento empresarial.

(CRBio, CRMV, CRQ e CRF) e obteve aprovação da

“Estamos felizes com cada conquista. Em tem-

Lei Estadual nº 7806, de 12 de dezembro de 2017.

pos tão difíceis, expandimos, nossas negociações

Tal lei regulamentou a aprovação de questões téc-

de acordos e diálogos coletivos, nos aproximamos

nicas para o devido funcionamento das empresas

das entidades e instituições, tanto da iniciativa pri-

controladoras de pragas urbanas. Um marco para o

vada, como do setor público, e isso só foi possível

nosso Estado e exemplo a ser seguido no país.

com responsabilidade, muito trabalho e talento. No

Em abril de 2018 buscou uma aproximação maior

entanto, apesar de nos sentirmos muito honrados

com a VISA (Vigilância Sanitária), dando início a um

e gratos pela confiança, já estamos na função por

grupo de trabalho técnico-científico, cujo objetivo

dois mandatos e a renovação se faz necessária”, ar-

era alinhar e resolver os entraves políticos e admi-

gumentou o atual presidente, Ruben Barat.

nistrativos do setor.

Em setembro haverá nova eleição. É importante

Não se pode negar que desde 2015 o trabalho foi

que os associados se organizem, formem chapas,

duro para construir uma história e continuar conso-

elaborem propostas e concorram ao novo pleito.

lidando a ABCVP como uma das maiores associações

Afinal, as boas disputas, além de vitais, revelam os

do país. Quem assume a diretoria sabe da responsa-

verdadeiros líderes.

Conteúdos de extrema importância: Responsável Técnico e Precificação foram transformados em cursos online para capacitar o associado. Em outubro um novo escritório jurídico passará a atender as solicitações dos associados.

CONQUISTAS ABCVP DE 2015 A 2021

A diretoria do presidente Ruben Barat toma posse em 11 de novembro.

2015

Parceria com os Conselhos (CRBio, CRMV, CRQ e CRF) e aprovação da Lei nº 7806/2017.

2019 2018

2016

2017

São implementados os cursos populares a R$ 50,00 e a associação ganha nova sede no Shopping Nova América.

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Cria Comissões de trabalho envolvendo algumas empresas associadas.

Começa a divulgar a nova lei e o nome da ABCVP nas rádios; Cria um grupo de trabalho com a VISA e remodela o Congresso ECOPRAG (realizado nos dias 17 e 18 de Maio).

2021 2020 O mundo declara situação de pandemia e a ABCVP é a primeira Associação no Brasil a oferecer curso de sanitização. A Pré-ECOPRAG acontece na modalidade online e uma nova lei é aprovada em benefício do setor: (Lei Nº 8.839).


BOAS PRÁTICAS

Vem cá. Vamos falar sobre desin? Por Uiara Treviso

Com o progressivo aumento do custo de produ-

Perceba que ao conhecer a biologia do animal

tos químicos, da mão de obra e da crescente pre-

alvo em questão, e também o tipo de material e lo-

ocupação com a poluição ambiental e a saúde das

cal onde o mesmo se encontra, as aplicações do ma-

pessoas, vemos uma necessidade de procedimen-

nejo integrado de pragas começam a fazer sentido.

tos e equipamentos adequados à maior proteção

A aplicação torna-se mais localizada. Há menos

do nosso trabalho, principalmente quando há a

perda de produto e o serviço acontecerá de maneira

aplicação de inseticidas/aracnicidas e também da

segura para o aplicador e para o cliente. A fixação

procura, cada vez maior dos profissionais, em co-

pouco exata do alvo leva a perdas de grandes pro-

nhecer as características dos principais produtos

porções, pois o produto é também aplicado sobre

do mercado, bem como a tecnologia de aplicação

locais que não têm relação direta com o controle

destes domissanitários. O produto utilizado deve exercer a sua ação sobre

Formulações domissanitárias

um determinado organismo que se deseja controlar. Qualquer quantidade do produto químico que não

Não é possível discorrer sobre o tema sem fazer

atinja o alvo biológico, não terá qualquer eficácia e

menção às formulações, pois são assuntos que se

será uma forma de perda. Por isso, deve-se conhecer

complementam.

o hábito do alvo biológico, seu modo de vida, para que

O tipo de formulação aplicada em determina-

assim a aplicação seja localizada diretamente onde o

do ambiente será um dos fatores que influencia-

mesmo costuma permanecer/caminhar. Além disso,

rão no sucesso, ou não, do seu trabalho. Conhe-

deve-se levar em conta o tipo de substrato onde ha-

cer como cada tipo de formulação se comporta no

verá a aplicação, visto que cada grupo químico e cada

ambiente, na praga e no substrato é um dos fa-

formulação, se comportará de maneira diferente em

tores determinantes para dimensionar e calcular

determinado ambiente e material onde será aplicado.

as ações necessárias em seu cliente. Cada formu-

Exemplificando o que está acima, imagine uma

lação apresenta residuais diferentes dependendo

desinsetização para Blatella germanica no interior

do local aplicado, bem como poderá haver maior

de um armário de cozinha feito de madeira. O alvo

ou menor contato da praga com o domissanitário

a ser atingido poderá ser eleito entre os seguintes:

dependendo desse substrato. Além disso, algumas formulações são mais seguras do que outras

a) a Blatella

quando falamos do local aplicado e da presença

b) o interior do armário de cozinha

de pessoas e animais. Um exemplo, uma formu-

c) a cozinha

lação apresentada como concentrado emulsio-

d) a casa

nável apresenta, em sua maioria, um odor mais

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forte quando em comparação com um produ-

Lembrando que esse tempo varia de acordo com

to, cuja formulação seja suspensão concentrada.

o ambiente, substrato e condições de temperatura,

Isso se dá porque as formulações CE apresentam

luminosidade, umidade e higienização do local.

o seu ingrediente ativo dissolvido em um solven-

Também podemos classificar os grupos químicos

te apropriado. Além disso, são formulações com

quanto ao seu efeito no tratamento, onde temos os

características “knockdown” (que acabam agindo

de efeito residual, em que o ingrediente ativo apli-

mais rapidamente no alvo), menor persistência

cado permanece em doses letais para um organismo

no ambiente e com maior absorção em determi-

alvo por um tempo prolongado e os de efeito “kno-

nados substratos como por exemplo, a madeira.

ckdown”, como citado anteriormente, onde o produto aplicado possui efeito imediato sobre o organismo. Ainda há a classificação com relação a sua to-

CLASSIFICAÇÃO DOS INSETICIDAS/ARACNICIDAS

xicidade em referentes aos mamíferos e animais aquáticos, além da sua ação em animais não alvos, como por exemplo as abelhas.

São conhecidas algumas principais vias de absorção de um inseticida/aracnicida pela praga-alvo, sendo eles:

Modo de ação O modo de ação refere-se ao processo bioquímico pelo qual uma molécula inseticida interage

CONTATO: resultante da absorção pelo tegumento do organismo alvo em aplicações residuais ou espaciais; INGESTÃO: o praguicida age e penetra no organismo alvo através da via oral; FUMIGANTE: alcança o organismo alvo na forma de vapor, através de suas vias respiratórias. Além disso, também podemos classificá-los quanto a sua meia vida, ou seja, o tempo necessário após aplicado, para que tenha sua eficácia reduzida à metade, onde podem ser: CURTO: até 90 dias; MÉDIO: de 91 a 180 dias; LONGO: maior que 180 dias.

com o seu alvo, causando alterações em processos fisiológicos normais da praga que se expressam na forma de toxicidade e inabilidade de sobrevivência. Atualmente as principais classificações que temos são: Neurotóxicos: atuam em alvos específicos no sistema nervoso (grande maioria). Reguladores de crescimento: atuam no processo bioquímico de síntese de quitina e no sistema endócrino. Muscular: atuam no sistema muscular da praga. Outros: inseticidas e acaricidas que interferem no metabolismo energético e respiratório, além de outros atuando no sistema digestório.

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Cada grupo químico poderá atuar de maneira

Para definir o que aplicar, antes deve-se fa-

específica em algum processo, dependendo de seu

zer uma análise correta do problema a contro-

mecanismo de ação e também poderão atuar de

lar, do ambiente onde esse problema está, dos

forma semelhante. Por isso é importante conhe-

hábitos de higienização do local e quais as in-

cer qual a forma de ação que cada grupo utilizado

fluências ambientais ou na saúde das pessoas

possui, pois isso poderá influenciar no sucesso do

que esse problema poderá causar, se não for de-

seu controle químico.

vidamente controlado. Uma vez planejada as ações, é necessário colo-

Tamanho de gota e equipamento a ser utilizado

cá-las em prática. É necessário bom planejamento antes de qualquer tipo de tratamento químico, para que

O tamanho da gota, a uniformidade da apli-

tudo possa ser executado de forma correta. O su-

cação e os equipamentos a serem utilizados so-

cesso depende principalmente de sua capacidade

frerão variações devido a fatores como: caracte-

operacional.

rísticas da solução, viscosidade, tipo de bico de

Uso Inadequado de inseticidas/aracnicidas

pulverização, pressão de ar se estiver utilizando bicos atomizadores, praga alvo, substrato, entre outras características.

O uso excessivo ou errôneo de praguicidas

pode levar a um resultado contrário do esperado, bem como aplicações com doses elevadas ou abaixo daquelas orientadas pelo fabricante. Até mesmo a utilização constante ou demasiada de produtos com o mesmo modo de ação, pode causar verdadeiros transtornos. Um fenômeno conhecido é a resistência das pragas ou a tolerância destas aos praguicidas utilizados.

Portanto.... Imagem 1. Pulverizações com diferentes tamanhos de gota sobre papel hidrossensível. Fonte: Adaptado de WOLF, T. Agricultureand Agri-food Canada Research Center.

Aplicação dos inseticidas/aracnicidas

Chegamos a conclusão que o conhecimento técnico acerca dos produtos químicos e técnicas de aplicação são fatores determinantes para o sucesso de um tratamento químico, entretanto muitos profissionais os deixam de lado.

De maneira geral, antes de qualquer tomada

O manejo integrado de pragas em área urbana

de decisão, devemos responder algumas questões

é mais do que a aplicação de medidas preventivas

básicas. Qual a qualidade de produto que espero?

em conjunto com medidas curativas é, na verdade,

De que maneira devo realizar a aplicação? Aonde

a integração de todos os conhecimentos adquiri-

vou realizar essa desin?

dos e colocados em prática.

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Imagem 2. Obtenção de insetos resistentes a inseticidas. Fonte: Encontro Técnico – Fundação MT. Autor:Fábio Maximiano de Andrade Silva.

Por tudo que falamos o responsável técnico da empresa controladora de pragas tem o papel fundamental para essa integração. Pois afetará não apenas na eficácia do controle químico, mas também em toda a imagem da empresa e em seu finan-

Imagem 3. Base de conhecimento do MIP. Fonte: Google Imagens

ceiro, visto que dentro de uma empresa do setor, o departamento operacional é seu coração. Por isso, é necessário que o mesmo se encontre sempre presente, orientando os profissionais que irão realizar as atividades da empresa e em constante atualização. Um profissional engessado acaba também por engessar o sucesso do local em que atua.

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Uiara Caromano Treviso Engenheira Agrônoma e Bióloga Especialista em Sistemas de Gestão Integrados; Especialista em Doenças Infecciosas e Parasitárias e membro do Conselho Técnico da ABCVP.


BIOLOGIA

Essa é “madeira de lei” e, portanto, não dá cupim...Será? Por Eder Rede

Não é raro, no cotidiano do controle de pragas, ouvirmos frases como “isso é madeira de lei, nunca dará cupim” ou, “isto é madeira amarga, o cupim não gosta”. Mas, até que ponto isto é verdade? O que são madeiras de lei? O que é uma madeira amarga? Elas são ou não atacadas por cupins ou por brocas? Para respondermos a estas perguntas é necessário um pouco de história e, também, um pouco de conhecimento de química da madeira e da anatomia básica do tronco de uma árvore.

História O termo madeira de lei remonta a época do Brasil Colônia, quando Portugal, com o objetivo de regular a exploração do pau-brasil, decretou que esta madeira só poderia ser extraída mediante a autorização da Coroa, fazendo desta a primeira madeira de lei. Posteriormente, frente a abundância de nossas florestas, que forneciam excelentes madeiras de interesse comercial, cerca de duas dezenas de novas espécies foram adicionadas à lista; como o mogno, o cedro, a peroba-rosa, o ipê. Assim, esta expressão passou a ter a conota-

Tronco de conífera.

ção de madeiras de boa qualidade, madeiras duras ou madeiras resistentes. Como veremos, tais qualidades não garantem que todas as chamadas madeiras de lei sejam imunes ao ataque de organismos xilófagos (organismos que se alimentam de madeira – cupins, brocas, fungos, etc.).

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Anatomia e química dos troncos Para compreendermos porque determinadas madeiras são resistentes ao ataque de insetos xilófagos precisamos conhecer um pouco da anatomia macro das árvores e de alguns processos que ocorrem durante o seu crescimento. Se considerarmos que, só no mercado brasileiro, existem 300 ou 400 espécies que são empregadas para fins comerciais, (mobiliário, embalagens e

Anel outonal Anel primaveril

construção civil, etc.) é aparentemente impossível a um controlador de pragas mediano apreender informações sobre todas as madeiras de modo a saber quais aquelas que são naturalmente imunes aos xilófagos. Portanto, é necessário simplificar esta lista. Das várias divisões (em botânica usa-se “divisão” ao invés de filo) do reino vegetal – Plantae – as árvores são agrupadas em duas: Gimnosperma e Angiosperma ou como são conhecidas popularmente, coníferas e folho-

Viga de conífera atacada por cupins.

sas, respectivamente.

Coníferas Neste grupo temos os pinos, os pinhos, o cipreste e o pinho-do-paraná (Araucária angustifólia - a única conífera nativa do Brasil), e todas as demais árvores que crescem em forma de tronco de cone, que são, geralmente, árvores de regiões de clima temperado. Tronco de folhosa.

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Alburno de angelim-pedra, completamente atacado por Coleópteros xilófagos.

Quando visto de topo, o tronco de uma

conífera

apresenta

sucessivos

anéis que se alternam entre claros e escuros. Os anéis claros são chamados de anéis primaveris o crescimento da árvore durante a primavera e o verão, quando há abundância de luz e água e, então, a árvore se desenvolve de modo mais rápido. Os anéis escuros, conhecidos como anéis outonais mostram o crescimento durante o outono e o inverno, quando o ciclo vegetativo diminui em razão da pouca luz solar e, principalmente, da pouca umidade do solo e, em algumas regiões, da neve.

Alburno de eucalipto atacado por cupim-de-madeira-seca

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são atacadas por insetos xilófagos, que se alimentam dos anéis primaveris deixando intactos os outonais. Como a quantidade de madeira dos anéis primaveris é muito maior que as dos anéis outonais, quando ocorre um ataque, a peça é completamente degradada.

Folhosas: Generalizando, no grupo das folhosas temos todas as árvores que crescem em florestas tropicais, ipê, peroba-rosa, mogno, cedro, jatobá, angelim, cedrinho, etc. Viga de peroba-rosa atacada por cupins-de-madeira-seca. Nesta imagem percebe-se que os insetos comeram a porção de alburno, porém, não atacaram o cerne.

O tronco das folhosas é dividido em duas seções de colorações distintas; a parte periférica mais clara é chamada de alburno ou brancal. Na árvore viva, esta parte do tronco é responsável pela condução da seiva bruta. Quando a árvore é abatida a água que compõe a seiva evapora e açucares ficam absorvidos nas paredes celulares. São estes açúcares que os insetos, principalmente os Coleópteros, buscam para sua alimentação. Por isso que, quando observamos um ataque por brocas em uma madeira de folhosa, vemos que ele ocorre, predominantemente, nas partes mais claras das peças, ou seja, no alburno. Assim peças de madeira desta porção do tronco, independentemente da espécie, não têm resis-

Exemplo de ataque de cupins-de-madeira-seca em cerne de folhosa, neste caso a madeira é um cedro.

Os anéis primaveris são constituídos de células com lumens maiores por onde se percolam a maior parte da seiva. A madeira destes anéis é menos densa e mais “mole”, e facilmente atacada por xilófagos. Os anéis outonais, ao contrário, são densos e compactos e mais resistentes aos decompositores biológicos. Assim, TODAS as madeiras de coníferas

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tência natural e são atacadas por cupins e brocas. A porção mais interna, de coloração mais escura é chamada cerne. Em algumas espécies, não em todas, as madeiras desta parte do tronco são naturalmente resistentes aos insetos. Isso ocorre porque o cerne é constituído por células mortas, cujos lumens são obturados por substâncias químicas, produzidas na fotossíntese. Esses compostos chamados de extrativos, conferem uma série de propriedades à madeira, tais como cor cheiro gosto, e, alguns desses – frequente-


mente compostos fenólicos –são tóxicas aos xilófagos e agem como preservantes naturais, proporcionando imunidade à algumas madeiras, como o ipê, a aroeira, a itaúba, o cumarú, a peroba-rosa, etc. Saber distinguir entre madeira de cerne e madeira de alburno permite compreender a dinâmica do ataque de insetos e ajuda no momento de planejar e executar um tratamento. Portanto, mesmo que se esteja diante de uma madeira considerada resistente a insetos é importante que o controlador de pragas faça uma boa inspeção e certifique-se se

Bibliografia LELIS, A.T. (Coord) – Biodeterioração de madeiras em edificações, São Paulo, IPT, 2001. LEPAGE, E.S. (Coord.) – Manual de preservação de madeiras. São Paulo, IPT, 1986. MANIERI, C.; CHIMELO, J.P. – Fichas das características das madeiras brasileiras. São Paulo, IPT, 1989 NAHUZ, A.R. (Coord) – Catalogo de madeiras brasileiras para construção civil. São Paulo, IPT, 2013. SALIS, G.A.; LEPAGE, E.S. – Atualização em preservação de madeira. São Paulo, Editora, 2015

está diante de peças de puro cerne, ou, como é mais comum, peças de cerne e alburno, que, eventualmente, podem ser atacadas. Então, respondendo à pergunta inicial: madeira de lei é atacada por cupins e brocas? Resposta: Sim, é possível ocorrer ataque nas porções de alburno.

Eder Rede Biólogo (entomólogo)

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