Agave tequilana Weber var. Azul: Tecnologias de plantio e aproveitamento industrial e energético

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Agave tequilana Weber var. Azul TECNOLOGIAS DE PLANTIO E APROVEITAMENTO AGROINDÚSTRIA E ENERGÉTICO

VICENTE DE PAULA QUEIROGA

Editor Técnico


AGAVE TEQUILANA WEBER VAR. AZUL TECNOLOGIAS DE PLANTIO E APROVEITAMENTO INDUSTRIAL E ENERGÉTICO


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO

LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Francisco de Assis Cardoso Almeida Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Niédja Marizze Cézar Alves Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA ORGANIZADOR

AGAVE TEQUILANA WEBER VAR. AZUL TECNOLOGIAS DE PLANTIO E APROVEITAMENTO INDUSTRIAL E ENERGÉTICO

1ª EDIÇÃO

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2017


©Copyright 2017 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA Capa FLÁVIO TORRÊS DE MOURA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação CRISLANE SANTOS DE MACÊDO, SARAH ELISABETH SANTOS CUPERTINO, JONATHAS FARIAS DE CARVALHO, ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE

O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 20-01-2017

Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Q3a

Queiroga, Vicente de Paula. Agave tequilana Weber var. Azul: Tecnologias de plantio e aproveitamento industrial e energético. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga. – Campina Grande: AREPB, 2017. 302 f. : il. color. ISBN 978-85-67494-19-7 1. Agave tequilana. 2. Sistema de produção. 3. Tequila. 4. Destilaria. 5. Produção de Etanol. 6. Pinha de agave. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Título. CDU 633.9

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB

Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


ORGANIZADOR

Vicente de Paula Queiroga Pós-Doutor pela Universidad Politécnica de Madrid, Doutor em Tecnologia de Sementes pela Universidad Politécnica de Madrid, Mestrado em Tecnologia de Sementes pela Universidade Federal do Ceará, Graduação em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba, Pesquisador III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão). Linha atual de pesquisa: tecnologia de sementes, armazenamento, qualidade fisiológica, beneficiamento e sistema de produção.


APRESENTAÇÃO Nos últimos anos, a industrialização da tequila tem adquirido importância no mercado principalmente pela crescente demanda internacional, sendo a atividade de campo um componente importante e decisivo para o abastecimento da matéria-prima, pois se trata de uma bebida que se processa a partir do Agave tequilana. Seu cultivo desempenha um papel extraordinário na economia mexicana, principalmente nas regiões produtoras. De acordo com a Secretária de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento Rural, Pesca e Alimentação (Sagarpa), a indústria tequilera gera mais de 70 mil empregos diretos. Em 2014, exportou-se 134 milhões de litros de tequila, o que representou 55% da produção nacional. Estima-se que seu cultivo esteja em mais de 80 mil ha, sendo que um hectare de cultivo se tem aproximadamente de 2.500 a 2800 plantas que depende do clima para alcançar sua maturação no período de seis a dez anos. Por outro lado, o México tem o uso exclusivo da palavra “tequila”, a qual se utiliza para nominar as bebidas alcoólicas que são produzidas com o Agave tequilana Weber variedade Azul, crescendo exclusivamente na zona delimitada geograficamente de Denominação de Origem de Tequila (D.O.T.) que se estabeleceu com base na Normativa vigente. Além de ser uma monocotiledônea, a espécie Agave tequilana é uma planta xerófita que cresce em regiões áridas e quente, de folhas de coloração azul-verdoso, delgadas e quase planas, medindo aproximadamente 1,25 m de comprimento e 10 cm de largura e tem um espinho apical de 2 cm. Contudo, para alcançar os objetivos com relação à exploração do agave azul no Brasil, é necessário resgatar os conhecimentos tradicionais adotados pelos produtores mexicanos com relação aos procedimentos pré-estabelecidos por protocolos de caracterização botânica, produção de mudas, sistema de produção (clima, preparo do solo, plantio, tratos culturais, pragas e doenças, colheita das pinhas, transporte etc), comercialização da pinha e seu aproveitamento industrial e energético. Esta obra é uma referência obrigatória para quem está interessado em conhecer o tema de tequila, principalmente para o produtor que pretenda introduzir o agave azul no Brasil, de maneira similar ao referido material que foi introduzido na Austrália para produção de etanol (segundo capítulo), desde que conte com a anuência do Conselho Regulador de Tequila (C.R.T.). Portanto, a finalidade deste livro é servir como parâmetro, para as regiões serranas brasileiras e de acordo com a realidade local, adequadas para o melhor estabelecimento do Agave tequilana, de modo a obter maiores ganhos de produção de pinhas com alta concentração de açúcares.

Vicente de Paula Queiroga


SUMÁRIO

CAPÍTULO 1. SISTEMA PRODUTIVO DO AGAVE TEQUILANA – Vicente de Paula Queiroga, Ana Guadalupe Valenzuela Zapata .................................................... 10 CAPÍTULO 2. APROVEITAMENTO INDUSTRIAL E ENERGÉTICO DO AGAVE TEQUILANA VAR. AZUL – Vicente de Paula Queiroga .......................... 216


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Capítulo I

SISTEMA PRODUTIVO DO AGAVE TEQUILANA

(Autores)

Vicente de Paula Queiroga Ana Guadalupe Valenzuela Zapata


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INTRODUÇÃO O cultivo do agave (Agave tequilana Weber var. ‘Azul’) tem grande importância econômica no México, em razão da extensa superfície plantada que envolve o estado de Jalisco e partes dos estados de Nayarit, Michoacán, Guanajuato e Tamaulipas, a qual foi declarada a zona de Denominação de Origem de Tequila (D.O.T.), mediante decreto do Diário Oficial da Federação, em outubro de 1974, e principalmente no aspecto social, em virtude das famílias dependerem da geração de empregos tanto em campo como no processo de industrialização, resultando assim no montante de divisas arrecadado com as exportações da bebida tequila (ESPINO et al., 2013). Há algumas décadas, a tequila era conhecida apenas como uma bebida típica do México e pouco consumida fora dessa região. A partir da década de 1980, houve um aumento na demanda de tequila devido a sua crescente popularidade, quando passou a ser mais exportada. Esse aumento na demanda de produção da tequila fez com que os produtores procurassem meios de aumentar a colheita de agave azul utilizando a monocultura intensiva, principalmente através de métodos de reprodução vegetativa, produzindo uma grande quantidade de plantas geneticamente semelhantes (clones) e em áreas extensas. A área plantada passou de 16.000 hectares para 50.000 hectares em menos de uma década. Essas produções de plantas sem variação genética já preocupavam os melhoristas, que alertaram os agricultores sobre os problemas que poderiam ocorrer devido à produção de plantas sem variabilidade (MOURA NETO, 2011). Durante séculos a tequila vem sendo fabricada nas fazendas das zonas rurais mexicanas a partir da receita de uma bebida fermentada fabricada pelo povo Asteca a base do agave azul (Agave tequilana; Figura 1). É importante destacar que o agave azul é uma planta suculenta da família Agavaceae e comum na região de Jalisco, no México, região conhecida por ser a maior fabricante de tequila no mundo. A pinha do agave tequilero é a matéria-prima para a elaboração de tequila. Cada pinha tem um peso entre 30 e 70 kg, mas é possível atingir até 150 kg. A concentração de açúcares da pinha se encontra entre 16 a 28%, dependendo da idade da planta (SOTO et al., 2011).


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Figura 1. Plantas de Agave tequilana Weber no México, variedade Azul. Foto: Arquivo da internet. No final da década de 1980 e novamente no final da década de 1990, as plantações do agave azul começaram a ser devastadas por doenças causadas por bactérias e fungos. Como todos os indivíduos da população do agave azul nas fazendas eram geneticamente semelhantes, houve uma destruição em massa dessas plantas e sem a possibilidade de substituição, uma vez que outros indivíduos plantados tinham a mesma constituição genética. Nessas fazendas de monoculturas de agave azul, os produtores cortam as inflorescências das plantas para aumentar a produção de açúcar, importante para a fabricação da tequila. Além disso, o corte dessas inflorescências impedia a polinização cruzada dessas plantas, o que comprometia o aumento da variabilidade genética (MOURA NETO, 2011). Uma das vantagens da reprodução sexuada é a manutenção da variabilidade genética. No caso das plantas, esse tipo de reprodução ocorre através da polinização cruzada, na qual o pólen de uma planta fecunda o óvulo de outra. Muitas plantas utilizam animais como agentes polinizadores, ou seja, aqueles que carregam o pólen de uma planta para outra e esse tipo de síndrome de polinização realizada por animais é chamada zoofilia. No caso do agave azul, o transporte do pólen é realizado principalmente por espécies de morcegos-de-nariz-comprido, pertencentes ao gênero Leptonycteris (MOURA NETO, 2011).


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Por outro lado, Wesche (2000) relata que algumas espécies de plantas, incluindo o agave, têm como reserva carboidratos de polímeros de frutose (frutanos), em lugar de glicose, tal como a inulina, que são menores do que as moléculas de amido e mais solúvel em água. A inulina é um polímero linear e é composto por cadeias de 25 a 35 resíduos de frutose unidos por ligações glicosídicas ß e termina com uma molécula de sacarose. Alguns frutanos são ramificados. As inulinas são mais frequentemente armazenadas em raízes e tubérculos (ou pinhas) ao invés de seções aéreas das plantas. Nas análises realizadas nas pinhas do Agave tequilana Weber, observaram-se que as mesmas contêm cerca de 75% de carboidratos, os quais têm sido identificados a glicose, dextrina, amido e principalmente inulina. O agave Azul é a variedade que contém a maior quantidade de inulina (20-24%), em comparação com outras variedades como Carpintero, Pata de Mula, Bermejo, Zopilochino, Sihuin e Chato (14,3 a 19,8%) (ARRAZOLA, 1969; JUSTO, 2001). Portanto, o cultivo do agave azul é um exemplo de agricultura comercial, relacionado com o mercado globalizado. É interessante analisar o sistema de produção de agave azul que vem se evoluindo em relação à demanda de mercado, com a perspectiva de que a tequila permaneça no gosto dos consumidores nacionais e estrangeiros e, consequentemente, seguirá em expansão nas áreas plantadas das regiões de Denominação de Origem de Tequila (D.O.T.) e inclusive fora dela. Nas últimas décadas, tem-se intensificado o uso de insumos externos (adubação, inseticidas e herbicidas), assim como o incremento de plantas por superfície exigiu o uso de mais tecnologia. As novas técnicas de produção diferem da abordagem sustentável, pois ao mudar os sistemas de produção também são mudadas, de maneira desfavorável, as relações sociais de produção, e no mesmo sentido os efeitos sobre o meio ambiente, valorizando assim o ganho econômico acima de tudo (GERRITSEN et al., 2011). Nessa cadeia de produção, são descritos os principais passos tecnológicos realizados pelos produtores do Agave tequilana, principalmente do estado de Jalisco, México, enfatizando o clima e o preparo do solo, o plantio, os tratos culturais, as doenças, a colheita das pinhas, a comercialização da pinha e seu aproveitamento industrial e energético. O atual sistema de produção se constitui em um instrumento de grande dimensão social e econômica, relativo às ações no campo e na indústria, para um grande contingente de pessoas que dependem, direta ou indiretamente, dessa cultura. De acordo


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com a Secretária de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento Rural, Pesca e Alimentação (Sagarpa), a indústria tequilera gera mais de 70 mil empregos diretos. Em 2014, exportouse 134 milhões de litros de tequila, o que representou 55% da produção nacional. IMPORTÂNCIA DO AGAVE AZUL O agave azul é uma planta perene de zonas áridas. Fisicamente a planta é formada por folhas delgadas, quase planas. Seus elementos mais importantes são fibras, açúcares, sais minerais e água. Em torno da pinha do agave, encontram-se as folhas, que correspondem os talos das folhas. No centro ou miolo da pinha se acumula o suco natural, o qual possui altos teores de frutose e outras propriedades vitamínicas, além de partículas de graxas que lhe conferem seu característico sabor e cheiro. Em condições ótimas de maturação da planta, tem-se um alto teor de açúcar na pinha (Figura 2), o qual representa o ingrediente básico para a produção de tequila (HERNÁNDEZ, 2013).

Figura 2. Pinhas de agave azul que foram recém-colhidas e aguardam o processo de cozimento na destilaria. Foto: José Hernandez.

A exploração e uso do agave se pode generalizar a partir de duas formas principais atualmente praticadas em Jalisco, México: a obtenção de fibras para a produção de diferentes artigos e a produção de bebidas alcoólicas. Este último é mais importante do que o primeiro, por levar em consideração o fluxo econômico gerado no estado.

O agave azul é comercializado principalmente para a obtenção de tequila. Mesmo assim, também é utilizado para fabricar o mel e a inulina.


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Tequila: A bebida tequila leva o nome da cidade mexicana de Tequila, onde foi destilada em primeiro lugar. Atualmente, desde 1974 tem sido reconhecida oficialmente a originalidade da tequila a nível internacional. Para que a bebida destilada produzida a partir de agave azul possa ser chamada tequila, a mesma terá que ser produzida em uma zona delimitada geograficamente, tal como champanhe e conhaque, ou seja, deverá ser produzida exclusivamente nas regiões mexicanas de Jalisco, Nayarit, Michoacán e Guanajuato (GUZMAN, 1997). De acordo com a Normativa de Tequila em vigor, a tequila é uma bebida alcoólica mexicana obtida por destilação de mostos, preparados diretamente do material extraído, nas instalações da fábrica de um produtor autorizado pelo Ministério de Agricultura, a qual deve estar localizada no território especificado na declaração, derivados das pinhas da espécie Agave tequilana Weber variedade Azul, previamente ou posteriormente hidrolisados ou cozidos, e submetidos à fermentação alcoólica com leveduras, cultivadas ou não, sendo os mostos susceptíveis de serem enriquecidos e misturados conjuntamente na formulação com outros açúcares em uma proporção não superior a 49% de açúcares redutores totais expressos em unidades de massa, nos termos estabelecidos na presente norma e inteligência de que não são permitidos misturas frias. A tequila é um líquido que pode obter cor, desde que seja envelhecida, adoçada ou por adição de uma cor específica (Figura 3).

Figura 3. Os distintos tipos de tequila que são produzidos pelas destilarias instaladas na zona de Denominação de Origem de Tequila (D.O.T.), México. Foto: Arquivo da internet.

Na França, a cervejaria Fischer d'Alsace (Heinken) inovou na fabricação de uma nova bebida, ao lançar a cerveja “Desperados” com graduação alcoólica de 5,9%, a qual


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é considerada a primeira cerveja do mundo com sabor de tequila (Figura 4). Uma combinação única entre a cor dourada e o sabor encorpado de uma cerveja com um toque de tequila, que resultou numa cerveja equilibrada, com um sabor distinto, suave amargo e refrescantes notas cítricas. Outra cerveja francesa é a “Tequiero” com 5,6 de graduação alcoólica.

Figura 4. As cervejas francesas do grupo especial com toque de tequila são: Cerveja Desperados (Tequila Beer – 330 ml) e Cerveja Tequieros com 5,6 % de álcool. Foto: Arquivo da internet.

Inulina: A inulina é um ingrediente alimentício de grandes benefícios para a saúde e graças à biotecnologia pode ser extraída da pinha do Agave tequilana Weber variedade Azul (Figura 5), sendo mais recomendável ser utilizada como ingrediente em produtos alimentícios enriquecidos com fibra. Além de seu efeito prebiótico e baixo teor calórico entre 1 a 2 Kcal/g, a inulina estimula as defesas naturais da flora intestinal, aumento na absorção de cálcio, reduz colesterol, previne o câncer de cólon e ajuda a regular o índice de glicêmico (baixos níveis de açúcares no sangue). A inulina é extraída do agave azul por método de difusão ou moendas. Uma vez extraída, a seiva líquida é clarificada por ultrafiltração, até obter uma calda clara sem sólido em suspensão. Em seguida, a calda é concentrada a 62 ºBrix por evaporação para, finalmente, ser secada num secador tipo nebulização ou spray drying e o pó branco ou bege resultante, é envasado em sacos de 25 kg.


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Figura 5. Embalagem comercial da inulina em pó extraída da pinha do agave azul. Foto: José Hernandez, 2013.

Segundo Fuentes (2012), o método de obtenção da inulina, adotado em laboratório, seguiu a seguinte metodologia: 1). As pinhas de agave azul foram cortadas em pequenos pedaços e depois submetidas à moagem para reduzir o tamanho das particulas; 2). O bagaço moido foi colocado numa chaleira com água e aqueceu-se a 80 ºC com agitação constante durante 10 minutos; 3). Realizou-se uma separação física, obtendo-se assim um extrato líquido; O extrato líquido foi préfiltrado com um sistema de filtro sob pressão (Millipore* 142 mm Hazardous Waste Pressure Filter System; Figura 6) usando papel de filtro com diâmetro de poro de 5 μm. A amostra préfiltrada foi desmineralizada mediante uma coluna de intercâmbio de iônica (coluna aniônica e catiônica). Em seguida, a amostra desmineralizada foi submetida ao processo de ultrafitração, usando sucessivamente membranas de 0.65 μm, 0.22 μm e por último uma membrana de 50 KDa. O líquido obtido foi passado posteriormente por um equipamento de filtração (Millipore Cogent M1 Tagential Flow Filtration System) com membrana de 3 KDa, resultando na obtenção de frações de frutanos retidas pela membrana com peso molecular maior que 3 Kda e outra fração permeável de frutanos com peso molecular menor que 3 Kda. A fração obtida foi liofilizada (Liofilizador Labconco; Figura 7), deixando como produto um pó fino.


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Figura 6. Equipamento de filtração (Millipore Cogent M1 Tagential Flow Filtration System), membrana com corte de 3 kDa. Foto: Alejandra González Fuentes

Figura 7. Liofilizador de bancada FreeZone 4,5L do fabricante Labconco. Foto: Arquivo da Labconco.

Mel de agave: O mel natural é uma calda adoçante orgânico que se cria a partir da seiva líquida que se obtém do interior da pinha do agave azul, do qual também se obtém a tequila, que deve ser submetido a baixas temperaturas, menos de 40ºC para conservar suas propriedades. Essa calda é ideal para pessoas que desejam substituir o açúcar comum por opções mais saudáveis nas diversas preparações (Figura 8). Possui sabor neutro similar ao do açúcar comum (sacarose), vem pronta para consumo e é ideal para adoçar qualquer alimento ou bebida (MORALES; HENRÍQUEZ, 2014). O mercado já está comercializando alguns produtos como granola, pão de forma, bolacha que receberam na sua preparação um toque do mel de agave (Figura 9).


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Figura 8. Produto mel de agave azul do fabricante brasileiro Jasmine. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Figura 9. Granola light e pão integral light que são preparados com um toque da calda de agave azul. Fotos: Arquivo Molino D'Oro.

De acordo com Morales e Henríquez (2014), a obtenção do mel é realizada da seguinte maneira: a). Obtenção da pinha de agave azul; b). Corta-se a pinha em pequenos pedaços; c). Os pequenos pedaços de pinha são espalhados separadamente numa bandeja de alumínio; d). Leva a bandeja ao forno durante 40 a 72 horas a uma temperatura de 47,77 a 71,11ºC, até que os pedaços da pinha adquiram a coloração oxidada (Figura 10); e). Nas primeiras 3 horas de cozimento no forno, remover o líquido ou néctar amargo que escorreu dos pedaços de agave; f). Após o cozimento no tempo de 40 a 72 horas, colocar as pinhas em um lugar para sejam esfriadas e recolher o néctar na bandeja para outro


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recipiente; g). Triturar no processador os pedaços e, em seguida, será espremido e extraído as substâncias da pinha; h). Uma vez obtida à mistura no processador, colocá-la num coador de pano fino e pressionar com a colher para extrair o néctar; i). Passar o néctar por uma peneira com uma malha que retenha as partículas grandes e apenas deixe passar o néctar; j). Repetir o processo até obter o mel esperado; e k). Envasar o produto (mel).

Figura 10. Pinha (miolo) de agave azul e pequenos pedaços de pinha com coloração oxidada espalhados na bandeja de alumínio após o aquecimento no forno. Fotos: MORALES; HENRÍQUEZ, 2014.

Os adoçantes naturais vêm ganhando importância dentro da dieta de algumas pessoas, pelo fato de aportar uma energia de maior qualidade que os açúcares refinados ou os adoçantes industriais. Segundo Morales e Henríquez (2014), a calda de mel de origem do agave azul oferece os seguintes benefícios: 1. Por apresenta baixa calorias, recomenda usá-la em dietas para controle de peso; 2. Diminui os níveis de colesterol e triglicerídeos, melhorando a metabolização de toxinas no corpo; 3. Inibe o crescimento de bacterias patogênicas (E. coli, Listeria, Shigella, Salmonella), porque contém as bifidobactérias; 4. Contém vitaminas (A, B, B2, C), ferro, fósforo, proteína e niacina, que permitem limpar, drenar e desintoxicar as veias e artérias; 5. Aumenta a absorção de cálcio e de magnésio, sendo um auxílio na prevenção da osteoporose; 6. É tolerado por pessoas com diabetes e ideal para os hipoglucêmicos, sendo benéfico para ambos porque tende a regular os níveis de insulina; 7. Previne a formação de cárie dentária, devido ao ligofrutose não ser meio de cultura para as bactérias; 8. Está livre de glúten, porque é um


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adoçante adequado para pessoas com doença celíaca; 9. Estimula o crescimento da flora intestinal (probiótico), o que ajuda as pessoas com gastrite, prisão de ventre e diarréia; 10. Contém Fructooligosacáridos (fibra dietética solúvel) que melhoram a capacidade de eliminar a gordura e toxinas, bem como a prevenção de doenças do cólon.

Bagaço: O bagaço do agave tequilana é utilizado como material de enchimento em móveis, como fabricação de tijolos para passagem molhada, como adubos, entre outros. Uma vez desfibrado (Figura 11), as fibras do bagaço poderão ser aproveitadas como matéria-prima na confecção de forros ou assoalhos de automóvel (Figura 12). O fabricante Ford de automóveis pretende usar o bioplástico para prender a fiação, no sistema de ar-condicionado e também nos porta-objetos. O desenvolvimento do composto sustentável pode reduzir o peso e o consumo de combustível, ao mesmo tempo em que diminui o impacto ambiental do uso de petroquímicos.

Figura 11. Peneira rotativa manual do bagaço do agave que separa as fibras curtas (bucha) da sua mucilagem. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.


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Figura 12. Fibras curtas (bucha) do Agave tequilana que poderão ser aproveitadas pelos fabricantes de automóvel. Foto: Arquivo da Ford.

Aspectos gerais: Desde os tempos pré-hispânicos, a planta de agave tem sido usada em mais de 100 formas diferentes, sendo que as mais comuns são: alimentação, construção de moradias, cercas vivas e na elaboração de produtos medicinais. Porém, as fibras são usadas na obtenção corda, redes e outros objetos, principalmente no caso de espécies como o "Henequen" (Agave fourcroides) e o Agave sisalana (GENTRY, 1982). Outros produtos derivados da planta agave, graças ao alto teor de frutose, são: calda ou mel, inulina, doce, concentrados, alimentos cozidos e adereços para frutas, cada um dos quais se elabora com as diferentes partes da planta de agave (folhas, pinhas e escapo floral, etc). Por sua importância ecomômica destaca o uso da planta de agave na elaboração de distintos tipos de bebida, a partir de sua seiva, por exemplo, o aguamel, o pulque e os destilados, principalmente o mezcal e a tequila. Vale frisar que na indústria de tequila apenas se utiliza a pinha do agave, a qual representa 54% da planta em peso úmido. Da parte resultante da pinha, utilizam-se os açúcares na fabricação da tequila e a fibra (32%) para a produão de papel (IDARRAGA et al., 1999) e plásticos biodegradáveis (ALVA; RILEY, 2008).

Tudo indica que o essencial do agave azul não é só fazer boa tequila. Em estudo realizado pelo Centro de Tecnologia e Design de Jalisco (CIATEJ), verificou-se que suas


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fibras podem ser úteis no tratamento de pessoas com problemas de obesidade e diabetes. A pinha crua do agave azul tem em sua composição fibras solúveis chamadas de frutanos, dependendo de sua natureza, podem ter diferentes benefícios para a saúde. Com a separação das fibras em frutanos de cadeia curta e comprida, é possível reduzir os níveis de trigricéridos e de glicose em pacientes com obesidade. Durante a pesquisa induziu a obesidade a um animal com uma dieta alta em graxa. Com base nos resultados obtidos, descobriu-se que os frutanos de cadeia curta diminuem o ganho de peso, a graxa acumulada e a glicose no sangue. Por sua vez, os frutanos de cadeia comprida resultaram ser úteis para baixar os níveis de triglicéridos. Agora os pesquisadores vão provar os efeitos dos frutanos em humanos. Além dos valores nutricionais existentes no agave, pretende-se desenvolver compostos de origem natural chamados de nutracéticos que beneficiem à saúde (LORDMÉNDEZ, 2015).

HISTORIA Agave é não só uma planta; também representa uma cultura e tradição e envolve uma forma de vida e, em tempos pré-hispânicos, uma forma de sobrevivência. Nas regiões da Mesoamérica e Aridoamérica têm sido cenário da origem e evolução do Agave spp. Em ambas as regiões, essa planta tem sido utilizada, desde os primeiros colonos até os dias atuais, para satisfazer e complementar uma seria de necessidades básicas como alimento, forragem, medicamentos e construção, entres outros (GRANADOS, 1993). Uma das espécies com registro arqueológico mais antigo de uso é o maguey pulquero da atual espécie Agave salmiana, cuja importância era tal que foi endeusado pelos mexicas como a deusa Mayahuel (Figura 13) ou deusa do maguey, por todos os benefícios que ela lhes proporcionava e está representado em pinturas, murais e manuscritos dos mexicas e de outras culturas indígenas do centro de México (MENDOZA, 2004). Segundo os manuscritos mexicas, os Aztecas, durante sua migração ao Vale de México, extraíram o aguamel e elaboraram o pulque entre 1.172 e 1.291 D.C., embora evidências arqueológicas mostrem que os povos que habitavam esse lugar, antes da chegada dos Aztecas, haviam usado o maguey anteriormente por milhares de anos (GENTRY, 1982). Sabe-se que os mexicas expandiram o cultivo do maguey e seus produtos; também se conhece que novas variedades podem ter sido introduzidas de fontes silvestres, por meio de seleção das melhores plantas. Os mexicas conheciam o maguey com o nome genérico de Metl e foi dado a conhecer à ciência por Linneo, em 1753, ao classificá-la como do


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género Agave. A palavra Agave provém da raiz grega que significa "nobre" ou “admirável” e Linneo descreve não apenas pela sua estranha aparência, mas também seu tamanho e sua floração, que ocorre apenas uma vez no ciclo de vida da planta para depois morrer. As culturas pré-hispânicas utilizaram os magueyes de maneira integral desde as raízes até as sementes, recebendo cada órgão um nome especial.

Figura 13. A deusa Mayahuel. Tal fato do passado permite afirmar que as plantas do gênero Agave são originarias da América, onde existem 273 espécies descritas, desde o norte de Dakota, EUA, até Bolívia e Paraguai, enquanto México conta com 205 espécies, das quais 151 são endémicas (GENTRY, 1982). Vale acrescentar que durante a época pré-hispânica, os colonos do altiplano da América Septentrional reverenciavam ao maguey pelos grandes benefícios que a bebida lhes proporcionava. O agave que representava a Mayahuel, deusa da fertilidade que são as quatrocentas folhas da planta que alimentam o homem com seu leite branco ou pulque, em razão disso acreditava-se que a planta possui poderes especiais.

SISTEMA DE PRODUÇÃO Em razão da grande demanda do produto tequila no mercado, nos últimos anos os tequileiros passaram a adotar novo sistema de produçãodo Agave tequilana, o que resultou em maior ganho de produtividade com redução de custo, devido ao uso de tecnologias de ponta mais apropriadas em lugar de tecnologias mais tradicionais adotadas na zona de denominação de origem. Algumas tecnologias compreendem os estudos das condições de solos, seleção e produção de mudas sadias, adubação química, herbicidas,


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podas, controle de pragas e doenças, ponto de colheita, além das etapas de pós-colheita das pinhas.

SOLOS As condições de solos ideais para o cultivo do agave, de acordo com a classificação científica estabelecida pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), são agrupadas em: luvissolos férricos, cambissolos crômicos, vertissolos pélicos e litossolos, e entre as principais características são sua coloração variando do marrom ao avermelhado (Figuras 14, 15 e 16), de textura franco argilosa, drenagem eficiente ou conservando melhor a umidade das chuvas sem encharcálo, pH com tendência à acidez (pH 5,1 a 7,5), geralmente baixo em teor de matéria orgânica. Mesmo tendo certa tolerância à acidez do solo, o agave tem maior preferência pela neutralização dos solos (pH 7). Também são ideais os solos com certa profundidade (um mínimo de 40 cm) que não apresentem camadas endurecidas (VALENZUELA, 2003).

Figura 14. Solos luvissolos caracterizam por ser rico em nutrientes (Ca2+, Mg2+, K+), com reação variando de moderadamente ácida a neutra. Aqueles mais profundos podem ser irrigados. Fotos: Arquivo da Embrapa Solos.


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Figura 15. Solos cambissolos com boa reserva de nutrientes e capacidade dearmazenamento de água. Fotos: Arquivo da Embrapa Solos.

Figura 16. Cultivo do agave azul em solos com variação de coloração do marrom ao avermelhado.

De acordo com o levantado realizado pelo Conselho Regulador da Tequila em 1997, o cultivo do agave azul foi registrado em 58,65% de solos mecanizados (planos),


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em 35,01% de terrenos inclinados e 6,25% de solos litossolos. Além disso, a pesquisa assinala que o Agave tequilana não deve ser plantado em solos arenosos, argilosos, cinzentos, escuros, salinos, muito rasos e com lençóis freáticos pouco profundos. Também se devem evitar solos pedregosos com inclinação bastante pronunciada (ideal seria de 0 a 45%), a menos que o agave seja utilizado como práticas de conservação e recuperação de áreas degradadas. CLIMA O clima requerido pelo agave azul é semiquente, subúmido e temperado de acordo Köppen e a precipitação pluvial média anual é de 931,51 mm. A família Agavaceae é originária da América do Norte (GENTRY, 1982). Encontra-se distribuída entre 5 e 25 graus de latitude norte e se adapta às regiões subtropicais, semiáridas e sub-úmidas, com os regimes térmicos: temperado, semiquente e quente, os quais se referem a uma temperatura média anual entre 5 e 18 °C, entre 18 e 22 °C e superior a 22 °C, respectivamente (RUIZ et al., 1997; MEDINA et al., 1998; LOPEZ et al., 2005). Ao contrário, quando se trata de locais baixos (ou vales) favoráveis as condições de temperatura e umidade, suas folhas basais envelhecem prematuramente, propriciando assim um produto de baixa qualidade.

O Agave tequilana é um cultivo temporal por suportar a falta de chuvas por quase meio ano, considerando a umidade retida no solo, além dos benefícios proporcionados à planta pelo orvalho da noite das áreas serranas. No entanto, tem sido observado no México estresse hídrico em plantações onde a precipitação pluviométrica é inferior a 600 mm e em solos pouco profundos com deficiências em matéria orgânica. Em climas quentes, observou-se que a floração do agave se torna mais precoce, no período de 6 a7 anos, mas em tais condições o rendimento de açúcares é limitado. Por outro lado, a planta, quando cultivada nos climas mais amenos, favorece a concentração de açúcares, mas sua floração é prolongada até a idade de 8 a 9 anos. As plantações efetuadas em altitudes compreendidas entre 1.000 e 1.800 sobre o nível do mar são consideradas oportunas para a obtenção de um produto de melhor qualidade, sempre em baixas condições de exposição total ao sol, ou seja, existam nublados favoráveis entre 65 a 100 dias do ano.


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É importante destacar que o agave é uma planta semiperene e seu metabolismo fotossintético pertence a plantas MAC (metabolismo do ácido crassuláceo), permitindo assim que a temperatura noturna se converta em uma variável chave para a adaptação e produtividade desta espécie (PIMIENTA et al., 1999; RUIZ et al., 2002) e para identificação de áreas potenciais para seu cultivo (VARGAS, 2004).

ALTITUDE Embora a planta do A. tequilana se adapta a uma ampla gama de altitude, mas tudo indica que ela é mais promissora no intervalo que vai de 1.000 a 2.200 metros (RUIZ et al., 1999). Em altitudes inferiores a 1.000 m, o desenvolvimento inicial da cultura é rápido e promissor, assim em locais com essas características têm o potencial para a produção de plantas, mas não para a produção de "pinha" de alta qualidade, uma vez que esse fruto, embora possa adquirir um volume considerável, normalmente sob um manejo convencional, mesmo assim não consegue adquirir as características desejáveis e requeridas pela indústria de tequila, em virtude da redução de sua concentração de açúcares. Em altitudes superiores a 2.200 metros, a velocidade de desenvolvimento do cultivo é significativamente reduzida e o risco de danos por temperaturas baixas e/ou geadas aumenta de maneira significativa (RUIZ et al., 2003a; VARGAS, 2004). PRECIPITAÇÃO, UMIDADE AMBIENTAL E DO SOLO O agave prospera sob um regime de precipitação anual de 700 a 1.000 mm e com variação de atmosfera de seca a moderadamente seca na maior parte do ano (RUIZ et al., 1999). Entretanto, Vargas (2004) assinala um intervalo ótimo de chuva acumulada anual de 600 a 1.800 mm. As regiões produtores de agave azul mais importantes, localizadas no estado de Jalisco, do México apresentam uma precipitação anual que vai de 700 a 1.100 mm (RUIZ et al., 1997b; RUIZ et al., 1998; FLORES et al., 2003; RUIZ et al., 2003b).

O Agave tequilana mantém um ganho de carbono durante o inverno, mas é necessário que nesse período a umidade do solo seja normalmente baixa. Os ganhos de carbono durante o período seco em plantas MAC, como o agave azul, são atribuídos a suculência de seus órgãos fotossintéticos, os quais permitem manter turgente o tecido fotossintético durante períodos de baixa disponibilidade de água (GIBSON; NOBEL, 1986; NOBEL, 1994; PIMIENTA et al., 2000).


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TEMPERATURA O Agave tequilana é uma planta que apresenta pouca tolerância as baixas temperaturas, em comparação com a maioria das espécies da família Agavaceae (NOBEL; SMITH, 1983; NOBEL, 1988). A absorção celular se reduz pela metade quando as temperaturas descendem em nível de -6 ºC. Em razão disso, não se recomenda cultivar o Agave tequilana em regiões que apresentem temperaturas de -7 °C ou inferiores, mesmo que elas ocorram ocasionalmente por pouco tempo. Ao contrário, a folha do agave azul pode tolerar temperatura de até 55 ºC (NOBEL et al., 1998). Ou seja, a planta requer temperatura constante de clima semiseco que oscile em torno de 20 ºC.

Por se tratar de uma planta MAC, o agave é muito sensível as temperaturas noturnas. A assimilação de CO2 pela planta é favorecida com temperaturas diurnonoturnas de baixas a moderadas, mas diminui drasticamente em ambientes onde as temperaturas noturnas são elevadas. Nessa última condição, há incremento da respiração (NOBEL et al., 1998; PIMIENTA et al., 2000).

De acordo com Nobel et al. (1998), observou-se experimentalmente que a assimilação líquida diária de CO2 (em períodos de 24 h) foi maior em ambientes com temperaturas diurnas e noturnas de 15 ºC e de 5 ºC, respectivamente, diminuindo esta taxa em 10% com temperaturas de 25 ºC /15 ºC e de 72% com as temperaturas de 35 ºC/25 ºC. Segundo os mesmos autores, o Agave tequilana apresenta um Q10 (incremento fracionário da respiração por cada aumento de 10 ºC na temperatura do ar) médio de 2,17 ao passar de 5 a 15 ºC, de 2,55 ao passar de 15 a 25ºC e de 2,67 ao passar de 25 a 35ºC. Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que uma assimilação liquida positiva no Agave tequilana Weber tem lugar quando a temperatura noturna se encontra entre -1 e 28 ºC.

ÁREAS POTENCIAIS DE CULTIVO DO AGAVE AZUL NO BRASIL A tequila tem adquirido importância tanto no México como em outros países, devido a que nos últimos anos seu consumo tem obtido um expressivo aumento, que resultou numa grande demanda da matéria-prima para sua produção que é o Agave tequilana, var. Azul. Em 2006, na zona de Denominação de Origem da Tequila (D.O.T.),


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nos municípios dos estados de Jalisco, Guanajuato, Michoacán, Nayarit e Tamaulipas, tinham-se 40.000 ha plantados com cerca de 107 milhões de plantas e, mesmo assim, seria necessário buscar por novas áreas para seu cultivo, que deveriam reunir as características favoráveis para o desenvolvimento da planta e cujos produtos colhidos sejam de boa qualidade para a indústria de fabricação da tequila (CORRAL, 2007).

A identificação de regiões com potencial para estabelecer um cultivo de agave azul implica comparar as disponibilidades ambientais de uma determinada região com os requerimentos ou necessidades agroecológicas da cultura (RUIZ et al., 2005). De acordo com a FAO (1996), a identificação de áreas com potencial ou o zoneamento agroecológico de cultivos, pode se realizar considerando as características do solo, fisiografia e clima, que são definidos em função dos requisitos agroecológicos dos cultivos a zonear, sob os sistemas de manejo em que deverão ser desenvolvidos.

Na Tabela 1, descreve-se uma estratificação térmica para identificar zonas potenciais para o agave, a qual se concentra na prevenção de riscos ligados à ocorrência de geadas e a localização de zonas com temperaturas diurnas e norturnas amenas (frescas) que favorecam a fotossíntese da planta do Agave tequilana. Também são incluidas outras variáveis de importância para diagnosticar áreas potenciais de agave, como a chuva, a altitude e a inclinação do solo (CORRAL, 2007).

Tabela 1. Intervalos de variáveis ambientais para identificar potencial agroecológico para o cultivo de Agave tequilana. Variável

POTENCIAL AGROECOLÓGICO CONDIÇÃO ÓTIMO SUBÓTIMA MARGINAL Temperatura noturna (ºC) 11 a 21 -1 a 11 e 21 a 28 <-1 e >28 Probabilidade de geladas <0,10 >0,10 Altitude (metro) 1.000 a 2.200 600 a 1.000 e 2.200 a 2.500 <600 e >2.500 Pendente do solo (%) 2a8 1 a 2 e 8 a 45 <1 e >45 Chuva anual (mm) 600 a 1.500 1.500 a 1.800 <600 e > 1.800 Fonte: Jose Ariel Ruiz Corral (2007).

Com base nos resultados obtidos da Tabela 1, determinaram-se as áreas ótimas ao cultivo do agave no México e em particular para delimitar as zonas de Denominação de Origem de Tequila. No caso do Brasil (desde que seja autorizado pelo Conselho Regulador de Tequila – C.R.T.), as áreas com aptidão climática para o cultivo de agave,


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destinado à produção de tequila, poderiam se enquadrar facilmente na condição subótima definida por Corral (2007; Figura 17), a qual estabelece os intervalos das necessidades agroecológicas do agave relacionadas com altitude, precipitação temperatura e pendente do solo. No caso particular desta última, utilizou-se um intervalo subótima de 1 a 2% e 8 a 45%, em consonância com os critérios estabelecidos pela indústria tequilera para a seleção de terrenos e implantação de novas plantações de agave.

Figura 17. Pequeno matrizeiro de agave azul introduzido no Brasil.

O segmento de cachaça de alambique do Brasil poderia servir como referência para definir as regiões serranas de produção do Agave tequilana com foco na fabricação da tequila e para o estabelecimento das áreas zoneadas de Denominação de Origem de Tequila Brasileira (D.O.T.-BR), cujo controle dos registros dos campos de produção seria da competência técnica do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Alguns municípios serranos do Nordeste do Brasil poderiam ser incorporados ao programa de produção de tequila por atenderem aos critérios da condição subótima adotada por Corral (2007), principalmente no tocante a variável altitude de 600 metros acima do nível do mar. Segundo Gonçalves et al. (2008), as principais regiões (ou municípios) por estado seriam as seguintes: Ceará (Chapada de Araripe, Maciço de Baturité, Serra de Ibiapaba etc,), Paraíba (região do brejo paraibano), Pernambuco (Triunfo, Taquaritinga do Norte, etc), Minas Gerais (Salinas, Rio Pardo de Minas,


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Novorizonte, etc), Bahia (Chapada de Diamantina, etc) e Piauí (Inhuma, Barro Duro, José de Freitas e Castelo do Piauí).

Outra possibilidade de exploração do agave azul na região Nordeste do Brasil seria o programa de produção de etanol, visando assim atender os critérios da condição marginal definida por Corral (2007), pois assim envolveriam as regiões com altitude abaixo de 600 metros que provavelmente produziriam pinhas com peso de massa inferior a 20 kg. Apesar de sua alta pluviosidade, a região do agreste dos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte poderia ser incorporada no programa para produção de etanol a partir do Agave tequilana, mesmo que as demais condições ambientais agroecológicas não sejam favoráveis para produzir um produto de alta qualidade, em termos das características dos seus açúcares. Nesse caso de condição marginal para a referida planta (Tabela 1), toda produção obtida no agreste nordestino com o agave seria destinada exclusivamente à produção de etanol.

METABOLISMO DO AGAVE TEQUILERO A maioria das plantas fixa o bióxido de carbono durante a fotossíntese na presença de luz solar. Sob estas condições, os estômatos se encontram abertos e apresentam uma grande perda de umidade. Algumas plantas, que evoluíram em condições de pouca umidade, modificaram seu metabolismo com a finalidade de economizar água. Este tipo de metabolismo se encontrou pela primeira vez em plantas da família Crassuláceas e, portanto, se chamou metabolismo ácido crassuláceo, e as plantas que o apresentam se denomina CAM (VALENZUELA, 2003). O metabolismo ácido das crassuláceas (CAM, do inglês Crassuláceo Ácido Metabolismo) é um dos três tipos (outras vias estão às plantas C3 e C4) possíveis de assimilação do carbono atmosférico (CO2) via fotossíntese, o qual está presente em certas espécies de plantas, especialmente plantas suculentas como o agave. As plantas CAM têm sua eficiência no uso da água aumentada, especialmente as suculentas, constituindo uma importante adaptação fisiológica a condições áridas. Em síntese, as plantas CAM abrem os seus estomas durante a noite, absorvendo dióxido de carbono durante este período, e armazenando-o nos vacúolos das células sob a forma de ácido málico. Ou seja, elas fixam o carbono em ácidos orgânicos, principalmente o málico. Durante o dia, com a incidência de luz solar, o ácido málico sofre reações no ciclo de Calvin e é transformado em moléculas de glicose (Figura 18).


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Figura 18. Ciclo das plantas CAM, no caso do Agave tequilana que abre seus estomas durante a noite e fecham durante o dia. Fotos: Djalma Santos e Adriana Tourinho Salamoni. A vantagem do mecanismo de CAM é que a planta, durante as horas quentes, mantém os seus estomas fechados, portanto, reduz significativamente a perda de água pela transpiração e ainda permite que uma quantidade suficiente de dióxido de carbono seja utilizada no ciclo de Calvin. Este tipo de metabolismo é verificado unicamente em tecidos que contêm clorofila. O Agave tequilana Weber apresenta esse metabolismo ácido das crassuláceas (CAM) igualmente que outros agaves. Estima-se que cerca de 87% da fixação do CO2 ocorre na noite e é acompanhada por um incremento na acidificação dos tecidos. A máxima acumulação ácida noturna se dá quando as temperaturas dia/noite flutuam entre 25ºC/15ºC aproximadamente. Também existe um incremento na acidez noturna quando há incremento na atividade fotossintética das folhas, podendo atingir até 90% de acidez. Por outro lado, o estresse hídrico, com duração de 7 dias, reduz a acumulação ácida em 50% e de até 90%, se sua duração for de 30 dias. Essa espécie tem pouca tolerância às baixas temperaturas e limitada capacidade de aclimatação a essas temperaturas frias (BARRIOS et al., 2007). MELHORAMENTO Os produtores de agave azul do século XIX selecionaram essa variedade por seu menor ciclo de maduração, suas melhores características industriais e sua maior produção de caules ou pinhas (PÉREZ, 1887; BLANCO, 1906-1907). A seleção do Agave tequilana Weber destinado a produção da tequila foi iniciada há pelo menos cem anos.


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Somente a partir de 1972, a sua utilização como bebida foi regulamentada na Norma Oficial Mexicana de Tequila pelo governo mexicano, mas as outras espécies, subespécies ou variedades foram relegadas ao descaso ao invés de serem estudadas. Nessa época, as variedades mais populares encontradas no município de Tequila (México) foram "Azul", "Mão Longa", "Sihuín", "Chato", "Pé de Mula", "Moralote", "Vermelhão" e "Abutre", das quais sete ainda se conservam em pequenas coleções (SANDOVAL, 1983) das noves variedades registradas por Pérez (1887). Mesmo assim, ainda fica para ser investigado o paradeiro das cultivares “Mezcal Chino” e “Mano Larga ou Mão Longa”. Na Tabela 2, encontram-se os resultados atualizados da investigação botânica desde 1985 até 2002.

Tabela 2. Levantamento da nova nomenclatura dos agaves tequileros, segundo Valenzuela e Nablhan (2002). Antes 1.

Atualmente

Agave tequilana Weber (Mus. Nat.

A. angustifólia Haw. ssp tequilana cv. azul

D’Hist. Nat Bull. 8: 220, 1902)

A. angustifóliassp. tequilana cv. azul listrado

A. pes-mulae Trelease Contr. U.

A. angustifólia ssp. tequilana cv. siguin

S. Nat. Herb. 23: 116, 1920.

A. angustifólia ssp. rubescens cv. pes-mulae

3.

“Moraleño” (no prelo)

A. angustifólia cv. gentryii

4.

“Vermelho” – “Chino vermelho”

A. vivíparaL. cv. bermejo

2.

(no prelo) A. cantala, Roxb. Hort. Beng. 25, 1814. 5.

A. subtilis Trelease Ibid p. 116

A. americana L. cv. subtilis

6.

“Zopilote” (no prelo)

A. aff. angustifóliacv. zopilote

Fonte: Ana G. Valenzuela (2003)

Nos últimos anos, melhoristas mexicanos fizeram uma expedição em todo território dos agaves tequileros, visando coletar os espécimes tão completos como possível, o qual resultaria simples, caso se tratasse de plantas com menor ciclo para florescer. A pureza varietal exigida pela norma oficial de tequila tem ocasionado à homogeneidade de plantações e, em razão disso, a busca de variedades tem sido bastante demandada (VALENZUELA, 2003). Também, resulta indispensável manter algumas plantas sob controle para que sua floração seja alcançada e assim obter os espécimes de herbário (material de pesquisa).


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Os principais obstáculos para os melhoristas dos agaves tequileros têm ocorridos nos campos cultivados, devido ao longo ciclo da planta para atingir seu florescimentoe, em contrapartida, os projetos de pesquisa são pouco favorecidos em apoio econômico. Por casualidade, nos campos dos produtores de agave no município de Tequila têm sido identificadas algumas plantas de antigas cultivares, tais como “Abutre” (ou Zopilote em espanhol; Figura 19) e “Pata de Mula”, as quais escaparam da poda do pedúnculo floral e essas cultivares eram consideradas como perdidas pelos melhoristas.

Figura 19. Variedade conhecida como ‘Zopilote’ (ou Abutre), Agave aff. angustifóliada coleção de plantas vivas del Centro Universitario de Ciencias Biológicas y Agropecuarias de la Universidad de Guadalajara, cuja presença em plantações é rara e sua flor é até agora desconhecida.

Os agaves tequileros são facilmente propagáveis pelos rebentos que crescem ao redor da planta, os quais são gerados de estolões ou caules modificados (rizomas). Com duas formas de reprodução assexuada: rebentos e bulbilhos do escapo floral, mas na prática o agave não é reproduzido por sementes, pois sua capacidade sexual é perdida quando os agaves são oriundos de rebentos (Figura 20). Geralmente, suas sementes são inférteis quando chegam a se formar (VALENZUELA, 2003).


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Figura 20. Alternativas de obtenção de plântulas de agave para nova área de plantação: a) provenientes de rizomas (rebentos) de planta mãe; b) geradas de sementes de fruto; e c) produzidas de bulbilhos de inflorescência.

Ao mesmo tempo, um produtor de mudas de agave pode cultivar e padronizar o material vegetativamente, o que significa dizer que se algumas plantas poderão desenvolver características distintas, de forma que sua descendência, quando é bem conduzida em campo, dará na seguinte geração rebentos superiores ao material de origem, mesmo que a genética em si não tenha sido modificada.

Nesste sentido, o conhecimento e o aproveitamento da rara frutificação e produção de sementes de forma natural ou artificial (trabalhos de cruzamentos) da espécie Agave tequilana constitui recurso essencial para desenvolvimento de genótipos promissores, que possam ser utilizados pelo melhoramento genético visando resistência a pragas e déficit hídrico, rusticidade e facilidade de cultivo [baixo número de rebentões (filhotes) e muitas folhas sem espinhos marginais]. Entretanto, o emprego das sementes apresenta grande importância para os programas de melhoramento genético do Agave tequilana. Embora se verifique crescimento inicial mais lento de plantas originadas sexuadamente, comparando-se com mudas de bulbilhos, esse método de propagação pode aumentar a sanidade e vigor das plantas (tratamento de sementes visando eliminar fungos causadores da podridão do tronco do agave) e ainda aumentar a variabilidade genética esperada, que em seleção ou hibridações pudessem permitir a identificação de genótipos agronomicamente superiores (GONDIM; SOUZA, 2009).

No processo de domesticação, talvez de mil anos, essas plantas perderam sua capacidade de retrocruzamento, portanto, para que exista o melhoramento genético é necessário que seja mantido um matrizeiro de plantas de parentesco muito próximo. Por meio desse processo natural de miscigenação, espera-se que as plantas possam alcançar novamente o vigor híbrido. Em seu estudo sobre citogenética de agaves, Granados (1985)


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recomenda a conservação dos progenitores silvestres e outros parentes cultivados com a finalidade de contribuir aos trabalhos de melhoramento. Essa preocupação de conservar o germoplasma de todas as espécies de agave é um objetivo que merece a atenção dos produtores, industriais, técnicos e pesquisadores.

Outro aspecto de grande importância é que a poda do pedúnculo floral inibe a floração da planta, quando se usa o agave para produzir tequila. Os dois fatores antes mencionados têm induzido a reprodução assexual (clonal) do agave azul, tendo o mesmo problema sucedido com variedades das espécies Agave fourcroydes L. em. (Henequém) e Agave salmiana (Pulquero).

Pelo fato do agave azul guardar uma semelhança morfológica e uma estreita relação genética com as variedades “sihuín” e “pé de mula”, Valenzuela (2003) considera favorável realizar cruzamento entre si para criar novas linhagens com melhores condições para produção agrícola e qualidade da tequila. Ou seja, mesmo não havendo sucesso na identificação de nenhum indivíduo excepcional no material estudado, deve-se insistir na seleção individual a partir da descendência sexual, em populações derivadas de diversas regiões do México, com vistas a explorar a diversidade encontrada no agave. Vale destacar que as plantações com baixa variabilidade genética são altamente vulneráveis a pragas e doenças, principalmente para o sistema contínuo de sucessão como predomina a monocultura do agave.

Nos trabalhos de melhoramento realizados com duas espécies de agave (A. tequilana e A. americana), as plântulas obtidas de cruzamentos intra e interespecíficos, autofecundações e polinização aberta, têm sido desenvolvidas em condiciones de casa de vegetação por aproximadamente 3 anos. Em geral, as plantas obtidas por autofecundações são menores e menos vigorosas comparadas com as obtidas por polinização aberta ou por cruzamentos. As plantas precedentes de sementes de polinização aberta e desenvolvidas em casa de vegetação apresentaram dois fenótipos bem marcantes: um fenótipo que é próprio do A. tequilana, onde as folhas são lanceoladas (compridas e delgadas) de cor verde azulada, com espinhos pequenos torcidos (dirigidos para a base), enquanto o outro mostra um fenótipo do A. americana e, assim, são formadas as sementes híbridas naturalmente. Igualmente como outras espécies de Agave, o A. tequilana combina


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hibridação e reprodução assexuada como estratégias evolutivas e de adaptação (GUZMÁN, 2009).

Além disso, Guzmán (2009) considera que todas as plantas obtidas de cruzamentos intraespecíficos, apresentam o fenótipo característico do A. tequilana (At), onde as folhas são lanceoladas de cor verde azulada. Ao contrário, todas as plantas provenientes de cruzamentos interespecíficos apresentaram traços fenotípicos característicos do A. americana (Aa), mesmo incluindo os cruzamentos interespecíficos, onde At é o progenitor materno, o que confirma que se podem obter sementes híbridas do cruzamento de At com Aa (Figura 21).

Figura 21. Plantas de Agave tequilana com três anos de idade desenvolvidas de sementes de plantas polinizadas por diferentes tratamentos. A) Plantas mostrando os seguintes fenótipos: 1. Planta de A. tequilana que obtida por autopolinização. 2. Planta de A. tequilana obtida por polinização aberta. 3. Cruzamento interespecífica entre A. tequilana × A. americana. 4. Cruzamento intraespecífica entre A. tequilana × A. tequilana. B). Detalhamento do tratamento 3 (A), mostrando as folhas largas e o espinho terminal robusto que caracteriza o A. americana; Tt, espinho terminal (GUZMÁN, 2009). É importante salientar que o Agave tequilana apresenta certa resistência a pragas e doenças, devido principalmente às características como: cutícula grossa e cerosa em suas folhas e pela sua porcentagem de fibra. Uma vez que as condições ambientais não sejam adequadas para o seu cultivo, Quezada (2000) admite que a grande quantidade de açúcares armazenados na pinha propicia como um atrativo para a proliferação de patógenos. As principais enfermidades que afetam o agave azul são: o murchamento causado por Fusarium oxysporum que afeta tanto a folhas, escapo floral e pinha, podridão do escapo floral cujo agente causal é a bactéria Erwinia carotovora, mancha anular causada pelo fungo Didymosphaeria sp. que lesiona as folhas, reduzido a atividade fotossintética e o crescimento da planta e a antracnose causada pelo fungo Colletotricum sp. que provoca manchas profundas e cancros que secam as folhas.


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Recentemente foi divulgado que o fungo Thielaviopsis paradoxa causa murchamento e morte em mais de 23% de plantas do A. tequilana no estado de Jalisco, podendo atacar principalmente as raízes e talos.

BOTÂNICA, MORFOLOGIA E FISIOLOGIA -Aspecto Botânico O gênero Agave faz parte da família de plantas agaváceas o agavaceae (por seu nome científico) e pertence à classe das monocotiledóneas. Ainda não há um consenso sobre a sua delimitação taxonômica, no entanto, os especialistas listram em mais de 200 espécies que fazem parte desse gênero, entre as quais se encontra o Agave tequilana Weber. Por sua ampla diversidade, a família Agavaceae está integrada por oito gêneros, entre os quais se encontra o gênero Agave (GARCÍA, 2007). Mesmo assim, essa delimitação do gênero da referida família e seu reconhecimento tem mudado através do tempo. Atualmente a circunscrição familiar mais aceitável é a proposta apresentada por Dahlgren et al. (1985), que considera nove gêneros em lugar de oito, por haver acrescentando mais um gênero (Hesperoyucca), segregado de Yucca.

A família Agavaceae é endêmica da América por se encontrar distribuídas em diversos habitats desde o sul do Canadá até a Bolívia, incluindo as ilhas do Caribe (MENDOZA, 2004). Esta família é definida citologicamente com 5 cromossomos compridos e vinte e quatro curtos e sua classificação taxonômica é a seguinte:

Reino: Plantae Divisão: Antophyta Classe: Liliopsida Subclasse: Liliidae Ordem: Liliales Família: Agavaceae Subfamília: Agavoideae Gênero: Agave Subgênero: Agave Espécie: Agave tequilana F.A.C. Weber Variedade: Azul


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O gênero Agave, segundo o seu tipo de inflorescência, se divide em dois subgêneros. Exite um subgênero Agave que tem uma inflorescência em panícula, no qual se encontram as espécies de importância econômica, tais como: Agave tequilana, Agave fourcroydes e Agave angustifolia, e o outro subgênero Littaea que apresenta uma inflorescência em forma de espiga (IRISH; IRISH, 2000). -Aspecto Morfológico Planta: Os agaves são plantas perenes que geralmente assumem a forma de rosetas pela disposição circular de suas folhas que crescem em forma de espiral. As folhas são regularmente suculentas e se caracterizam por serem grossas, achatadas, fibrosas, de consistência dura e com terminação afilada no ápice, quase sempre de margens espinhosos (Figura 22). Por se tratar de uma planta monocárpica, ela floresce uma só vez durante o ciclo vegetativo, morrendo posteriormente. Por outro lado, o agave azul (A. tequilana) é uma das quase 300 espécies conhecidas de agave no mundo, das quais 75% destas plantas desenvolvem no México, que se reproduz principalmente por rebentos (em espanhol denomina-se de hijuelos) e são tirados da planta, quando alcançam uma altura de 50 cm. Uma planta madre produz entre um a dois rebentos por ano e na fase adulta chega a crescer entre 1,2 e 1,8 m de altura (Figura 23). A reprodução do agave azul pode ser por semente e por bulbilho, os quais, em razão de se tratar de produção industrial, não são utilizados. Também o agave é conhecido por seu metabolismo especial chamado de Metabolismo Ácido das Crassuláceas com sua sigla, MAC, que muitas plantas desérticas o utilizam para economizar água, pois sua função é fechar os estômatos durante o dia, evitando a transpiração diurna. Além disso, estas plantas contam com uma camada cerosa que ajuda, entre outras coisas, a proteger o tecido foliar da desidratação e permite que a água de chuva ou orvalho escorra para o talo, cedendo e acumulando a umidade na zona radicular (COTA, 2011).


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Figura 22. a) Planta do agave azul com destaque para: raiz, rizoma, rebento, roseta formada por folhas (pencas), escapo floral com flores, umbela e bulbilhos e b) planta de agave azul plantada no vaso com as folhas lançadas do talo ou pinha.

Figura 23. Medição da planta adulta do Agave tequilana, variedade azul, com mais de 1,70 m de altura.

Folha: A planta do agave possui folhas grandes que estão dispostas em roseta ou em espiral a partir do escapo floral (meristema apical, Figura 24), com bainha, sésseis (sem pecíolo), lanceoladas, acuminadas, de fibras firmes, estriadas, côncavas, mais ou menos carnosas ou suculentas e acomodadas de forma ascendente a horizontal, de 90 a


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120 cm de comprimento e largura de 8 a 12 cm. Essa forma de disposição permite-lhe captar a luz solar em ambas as faces da folha, assim como capturar a água da chuva ou de orvalho e levar a água para o centro da planta e, em seguida, ser acumulada na zona radicular (Figura 25). Na metade da folha se encontra a parte mais larga, sendo mais grossa e estreita na sua base (Figura 26). Geralmente, as folhas são de coloração verde azulada com sua superfície cerosa reta a ondulada. Esta aparência azulada é adquirida pela cutícula cerosa que as envolve, formando uma capa contínua na superfície das folhas. A espessura da cutícula, e a sua capacidade para reter água na planta, é fortemente influenciada pelo ambiente. Os espinhos nas suas bordas têm tamanho homogêneo, de 3 a 6 mm de comprimento, com bases piramidais e ápices agudos e flexionados (Figuras 27 e 28). Além disso, são regularmente espaçados, com separação de 1 a 2 cm, e são de color marrom variando de claro a obscuro (Figura 26). Já o espinho terminal da folha é curto, de 1 a 2 cm de comprimento (raramente é mais comprido) e aplainado ou com incisão em feixe.

Figura 24. Folhas dispostas em roseta a partir do escapo floral da planta do Agave tequilana. Foto: Arquivo de Kynny via Getty Images.


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Figura 25. Folha de agave com gotas de água da chuva ou orvalho que deslizam para o centro da planta e vão se acumular na zona da radícula.

Figura 26. a) Folhas distintas emitidas do talo da planta: superiores, médias e básicas; e b) as particularidades das folhas: espinho, ápice, bordas, dentes, colo e a parte superior e inferior da folha. Fotos: Ana G. Valenzuela Zapata.


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Figura 27. Folhas com espinhos de agave emitidas do talo ou pinha.

Figura 28. Detalhe dos espinhos retorcidos das folhas do agave azul.

Talo ou Pinha: O talo é o órgão onde estão aderidas as folhas, as mais jovens se localizam na parte apical e as mais velhas na parte basal, aparentemente acaule (Figura 29). A planta possui um talo grosso, curto e alcança uma altura de 30 a 50 cm quando atinge seu amadurecimento (Figura 30). Após colheita ou corte das folhas, as bases das


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folhas deixam de ser inseridas ao talo. Esse talo de forma oblonga ou esférica se denomina de pinha ou cabeça e sua definição botânica é “cormo”. Além de apoiar a planta, o talo funciona no armazenamento de açúcares não estruturais, nutrientes e água.

Figura 29. Detalhes do talo do agave: base do escapo floral, base das folhas, raízes e rizoma que se modifica em rebentos. Foto: Ana G. Valenzuela Zapata.

Figura 30. A) Folhas sésseis aderidas ao talo; B;C) Pinhas ou cabeças com as folhas cortadas com a ferramenta coa.

Raiz: Apesar de serem pouco profundas, aproximadamente de 20 a 30 cm, as raízes fibrosas da planta do agave se desenvolvem a partir dos primórdios radiculares localizadas na parte inferior dos nódulos da base do caule. Sua forma oblíqua e radial permite suportar a planta. As raízes, que se encontram perto da superfície, vão se


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aproveitar da água de uma chuva incipiente e as que são profundas poderão se abastecer da água contida em perfis do solo mais baixos, quando o período de chuvas temporais tenha terminado. Portanto, a raiz é considerada um dos órgãos mais importante por influir no desenvolvimento inicial da planta do agave.

Rizomas (Rebentos): Os rizomas são talos subterrâneos que crescem geralmente em um plano horizontal, paralelo à superfície do terreno. Com a diferença das raízes, os rizomas possuem gemas na face superior de onde se originam folhas e partes aéreas que formam uma nova planta e pela face inferior geram raízes adventícias (Figura 31). A cada ano os rizomas emitem gemas que originam novos órgãos aéreos. Por outro lado, a propagação por rizomas é a mais utilizada em agaves, não só porque conserva as características genéticas da planta madre, mas é devido ao desenvolvimento das plantas ser mais rápido e vigoroso que os bulbilhos. Quando de se trata de planta mãe jovem, os rizomas se estendem radialmente e têm diferentes comprimentos, o que ajuda à dispersão dos rebentos, enquanto que em plantas adultas de cinco anos, os rizomas são curtos e os rebentos nascem sombreados pela própria planta mãe. Os rebentos de plantas velhas são geralmente deformados (deforme), devido a pouca luz que recebem ao crescer na base da planta mãe (VALENZUELA, 2003).

Figura 31. Raízes originadas dos rebentos do Agave tequilana. Foto: Velitchka B. Nikolaeva (2007).

Inflorescência: A inflorescência é uma panícula de 5 a 6 m de altura, densamente ramifica ao longo do seu comprimento, com 20 a 25 umbelas compridas e repletas de flores verdes e estames rosados. O pedúnculo floral cresce apresentando folhas atrofiadas, ou brácteas justapostas, semelhantes a “escamas, estreitas, com ápice provido de


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espinhos, exibindo uma coloração verde quando jovem (SUINAGA et al., 2006). É na metade superior do pedúnculo que se apresenta as ramificações tricotômicas com flores que às vezes formam frutos (Figura 32).

Figura 32. Planta do Agave tequilana com destaque para a inflorescência com suas brácteas, bulbilhos e numerosas umbelas com flores tubulares verticais. Fotos: Diego Antonio Nóbrega e Rocio Elizabeth Escobar Guzmán

Na fase de floração, após cerca de oito a dez anos do plantio, a planta emite uma inflorescência denominada tecnicamente de escapo floral ou, popularmente, “poste” ou “pendão de agave” (Figura 33). Nesse estádio, são produzidos flores, frutos e sementes, ou apenas bulbilhos, enquanto vai ocorrendo a morte do agave (LOCK, 1962).


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Figura 33. Planta de agave no estádio de floração produz flores, frutos, sementes e bulbilhos. Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim.

Flores: A flor é hermafrodita, sendo encontrada agrupada em cachos situados no final de cada ramo da panícula. Cada flor possui seis estames que estão inseridos na base da corola, sendo os estames constituídos por anteras trilobadas. O gineceu é constituído por um estilo que sustenta um estigma trilobado, com ovário ínfero triloculado. As flores medem de 68 a 75 mm de comprimento em pequenos pedicelos bracteolados de 3 a 8 mm de comprimento. O ovário mede de 32 a 38 mm de comprimento, é cilíndrico com pescoço curto sem constrições, terminando quase numa ponta sobre a base (pedicelo; Figura 34). O tubo floral mede 10 mm de profundidade, por 12 mm de largura, tem forma de funil, com estrias. As sépalas são desiguais e medem de 25 a 28 mm de comprimento, por 4 mm de largura. Também são eretos e lineares, porém com a abertura das flores se murcham rapidamente, adquirindo uma tonalidade marrom. Já os filamentos medem de 40 a 50 mm de comprimento. São inclinados para dentro contra pistilo e apresentam inserções de 5 a 7 mm perto da base do tubo, enquanto as antenas medem 25 mm de comprimento.


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Figura 34. Flor do Agave tequilana formada por: pistilo, anteras, ovário, bractéola e pedicelo. Foto: Ana G. Valenzuela Zapata.

Floração: A floração se inicia com a mudança da estrutura foliar da roseta, que se estende para captar mais luz e, por consequência, diminui a turgidez pela perda de umidade. No estádio de floração, o agave consegue sua reprodução sexuada e a formação de bulbilhos. O escapo floral tem um crescimento médio semanal de 3,5 cm que dura em torno de quatro meses. Ao terminar o crescimento do eixo floral, tem lugar o desenvolvimento da inflorescência que é uma panícula, cujo pedúnculo floral é de coloração verde quando jovem, cresce apresentando folhas atrofiadas, ou brácteas justapostas, semelhantes a “escamas”, estreitas, com ápice provido de espinhos, atingindo de 5 a 7 metros de altura (SUINAGA et al., 2006). A metade superior do pedúnculo apresenta-se com 22 a 40 ramos em ramificações tricotômicas com flores que às vezes formam frutos. A flor é hermafrodita, sendo encontrada agrupada em cachos situados no final de cada ramo da panícula. Cada flor possui seis estames que estão inseridos na base da corola, sendo os estames constituídos por anteras trilobadas. O gineceu é constituído por um estilo que sustenta um estigma trilobado, com ovário ínfero triloculado.

Bulbilho: Após a queda das flores, desenvolvem-se novas plantas chamadas "bulbilhos" sobre a panícula, originadas de gemas que se encontram logo abaixo da linha de inserção das flores. Os bulbilhos são formados por tecido meristemático. Cada bulbilho alcança um tamanho máximo de 6 a 7 cm e 6 a 8 folhas e pequenas raízes adventícias que caem da planta, após três meses, e servem como órgão de propagação de novas plantas.


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No campo, têm-se observado plantas que não chegam a produzir frutos, isto é, que todas suas flores caem sem fertilizar. Contudo, se existe maior quantidade de plantas florescendo e pólen estranho, um maior número de flores consegue se converter em frutos. Por outro lado, sob condições de baixa fertilização floral, os bulbilhos emergem apenas nas partes baixas do eixo floral, porque foram as primeiras flores que lograram a antese. A diferenciação dos botões florais demora em torno de um mês, que corresponde o tempo que dura a abertura de suas flores (antese; VALENZUELA, 2003).

Fruto: O fruto é uma cápsula ovalada com um ligeiro afunilamento na sua extremidade (Figura 35). A frutificação do agave tem sido atribuída a elevadas altitudes (superiores a 1000 m de altitude) e ou a ocorrência de baixas temperaturas noturnas (LOCK,1962). Mesmo sob estas condições excepcionais, os frutos não são formados facilmente. Como forma de indução da frutificação, associada a essas condições, Lock (1962) e Silva et al. (1999) mencionam que é possível a formação de frutos e sementes com a decapitação do pedúnculo floral quando está no estádio intermediário, antes de algum ramo florífero ter se desenvolvido e somente se as flores, em vez de bulbilhos, forem produzidas por um dos brotos do pendão cortado, nos ramos originados das gemas situadas na parte inferior da inflorescência (MEDINA, 1954).

Figura 35. a) Frutos do Agave tequilana têm por característica sua extremidade superior afunilada e são triloculados com duas colunas de sementes por lóculo e b) Corte transversal de fruto com sementes de forma semicircular preenchendo os lóculos circularovalado do fruto. Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim.


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O fruto é uma cápsula trilocular (três lóculos por fruto), simples, seco e deiscente, medindo de 3 cm a 4 cm de comprimento e de 2 cm a 3 cm de diâmetro e massa fresca com cerca de 12 g (LOCK, 1962). Quando seco, a variação maior dessas características é observada na massa, que fica com cerca de 3 g. O fruto é verde e de consistência carnosa, nos estádios iniciais de crescimento, tornando-se castanho quando maduro e de coloração preta, bege ou “palha” e fibroso, quando seco.

Semente: As sementes do agave azul, contidas no interior dos lóculos da cápsula, são delgadas, de coloração preta brilhante, distribuídas em duas colunas por lóculo. Apresentam-se de forma redondo-triangular ou semiorbicular e com o hilo subventral (MOREIRA et al., 1999; Figura 36).

Figura 36. a) Frutos e sementes do Agave tequilana; b) Arranjo de sementes no fruto em corte longitudinal; c) sementes de cor preta (férteis) e branca (estéreis). Fotos: Rocio Elizabeth Escobar Guzmán e Tarcísio Marcos de Souza Gondim.

-Aspecto Fisiológico Germinação: A germinação de uma semente de agave inicia com a emergência da radícula de cor branca, em um dos lados (Figura 37A) e, depois, o único cotilédone (classe monocotiledônea), emerge e torna-se verde. A emissão da radícula da semente de agave pode ocorrer ainda no interior da cápsula, porém com pouca viabilidade na formação de muda. Em teste de germinação, utilizando-se sementes de A. sisalana embebidas em água destilada por seis horas, em substrato de papel germitest, previamente umedecido com água destilada na proporção de 2,5 vezes a massa fresca do papel, em germinador com temperatura de 30oC, Gondim e Souza (2009) verificaram uma percentual de germinação da ordem de 66% nos dez primeiros dias da semeadura, sendo que o processo de germinação ocorre a partir do sexto dia após a semeadura, podendo


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prolongar-se por mais de 90 dias. Para Lock (1962), na germinação, o cotilédone não é utilizado somente como reserva do endosperma, mas ele funciona como órgão fotossintético, além de envolver e proteger a plúmula e a primeira folha. Devido à testa dura, ou revestimento da semente, não há visível inchaço da semente durante o processo de embebição. Durante a emergência, o cotilédone se alonga e normalmente conduz a testa preta na ponta. Na Figura 37B, observam-se plântulas de agave apresentando raiz e primeira folha com proteção da testa em sua extremidade.

Figura 37. Germinação de semente de agave. A- Emissãoda radícula de coloração branca; B- Plântulas de agave apresentando raiz e primeira folha com a proteção da testa no ápice. Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim.

POLINIZAÇÃO DO AGAVE As histórias dos agaves e os morcegos estão intimamente interligados. Para se reproduzir, essa planta depende da atuação de um polinizador e, ao mesmo tempo, ela serve de alimento para esse mamífero. Além de poder percorrer grande distancia e visitar muitas plantas a cada noite, o morcego consegue realizar a polinização efetiva do agave, por ser capaz de carregar uma alta quantidade de pólen. O néctar e pólen dos agaves contêm uma grande quantidade de proteínas e aminoácidos essenciais para os morcegos, permitindo-lhes que se habituem, com exclusivamente, desse alimento fornecido pelo agave (CASANUEVA, 2015; Figura 38).


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Figura 38. Visita noturna das flores da planta do agave pelos morcegos polinizadores. Mas esse precioso néctar não é um tesouro exclusivo dos morcegos. Para algumas espécies de agave, em que as plantas que não têm ramificações na sua flor, os principais polinizadores são alguns visitantes diurnos, tais como insetos, colibrís, e não os mamíferos voadores (Figura 39).

Figura 39. Visita diúrna de insetos (besouro, borboleta e abelha) e beija-floràs flores da planta do agave. Fotos: Uribe e Granados, 1993.


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FENOLOGIA O agave é propagado vegetativamente por bulbilhos e por rebentos. Os bulbilhos são produzidos no escapo floral, após a queda das flores, enquanto os rebentos se originam de rizomas subterrâneos emitidos pela planta-mãe (SILVA et al., 1999). São plantas perenes que alcançam seu ciclo produtivo entre 7 a 12 anos (VALENZUELA, 2003), e apresentam características das plantas xerófitas; sua anatomia e metabolismo estão adaptados para utilizar eficientemente a água e, portanto, estão capacitadas para viver em condições áridas e semiáridas. Além disso, suportam as condições de estresse impostas pelo ambiente, como déficit hídrico, alta temperatura, salinidade e deficiências nutricionais.

A presença de uma cutícula grossa na epiderme da folha, a acumulação de cera na superfície e, conta com estomas de natureza complexa, que são características distintas dessas plantas, que as protegem da transpiração excessiva nos períodos de sequia. Por seu tipo de fotossíntese, os agaves pertencem às plantas MAC (metabolismo do ácido crassuláceo), as quais apresentam transpiração noturna, já que abrem seus estomas na parte da noite e fixam o carbono em ácidos orgânicos, principalmente o málico.

A floração do agave ocorre com a emissão do escapo floral, o qual indica o final do seu ciclo de crescimento por se tratar de uma espécie de crescimento determinado e um só ponto de emissão de folhas. Quando se cultiva o agave para produção de tequila, normalmente se elimina o escapo floral, quando seu crescimento é iniciado, para evitar que a planta consuma os açúcares acumulados no talo ou pinha. O ciclo fenológico do Agave tequilana pode ser dividido em 5 fases principais (Figuras 40 a 44), como descrito na Tabela 3.


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Tabela 3. Descrição das principais características relativas às fases de desenvolvimento da planta do agave azul. Ciclo fenólógico

Características

Etapa da Planta

Fase 0 (zero)

Plantio no seco e estabelecimento da muda no inicio das chuvas (1 mês transcorre para emissão das raízes adventícias apenas utilizando a umidade do rebento). Foto: Clone de agave azul de Mario Abbud Chávez (Figura 40).

Fase 1

Ciclo

de

desenvolvimento

vegetativo sucede até o quinto ano (Figura 41).

Fase 2

Emissão

do

escapo

floral

geralmente ocorre no quinto ou sexto ano e sua poda é efetuada ao alcançar 50 cm de altura para produzir tequila (Figura 42).

Fase 3

No sexto ou sétimo ano, realiza-se uma poda drástica das folhas da planta para induzir sua maturação (figura 43).

Fase 4

No sétimo ou oitavo ano, quando a planta

alcança

a

maturação

(colheita), que coincide com a floração do escapo floral (Figura 44).

Com respeito à duração dos eventos fenológicos da planta do agave azul, o seu estádio vegetativo é terminado no período de aproximadamente 5 anos, para as condições edafoclimáticas do México, a partir desse ponto a traslocação da produção de seiva passa a ocorrer das folhas para o talo. Essa mudança representa o seu estádio reprodutivo, o


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qual tem por característica iniciar a formação do talo floral na parte central da planta. Sua formação é iniciada na primeira quinzena do mês de fevereiro, enquanto o desenvolvimento do talo floral pode demorar 55 dias. Ao terminar sua formação (talo) na segunda quinzena de abril, sucede igualmente a formação das gemas forais. Posteriormente, a frutificação será efetuada nos primeiros quinze dias de maio. Contudo, quando ocorrem precipitações antecipadas, todo o processo anterior é acelerado (GRANADOS, 1993; AGAMA 2003).

PROPAGAÇÃO DO AGAVE TEQUILERO A reprodução é uma característica notória no agave, porque essa planta apresenta três formas de propagação: por via sexual em forma de sementes, por rebentos de rizoma e por bulbilhos da inflorescência, sendo as duas últimas consideras vias assexuadas. É importante destacar que o método mais utilizado comercialmente é por meio de rizomas subterrâneos modificados, que quando se emergem a superfície se diferenciam em novos rebentos. A coleta dos rebentos é feita em plantações estabelecidas de três a cinco anos de rebentos selecionados com altos padrões sanitários e vigorosos, mas, antes de plantálos, são classificados por tamanho (Figura 45). Apesar de não ser comercial, o método de propagação por meio de bulbilhos se desenvolve na inflorescência da planta (MEDINA, 1963; RENDÓN et al., 2009).

Figura 45. Brotação de rebento com alto padrão sanitário e vigoroso no meio de plantações de agave azul estabelecidas com 3 a 4 anos de idade.

A reprodução sexual é a obtida por meio de sementes, as quais foram polinizadas e desenvolveram a partir de flores, mas tudo se sucede no escapo floral da planta do agave,


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mas na prática são poucos viáveis. Enquanto a reprodução in vitro ou agave micropropagado é considerado um método moderno capaz de produzir rebentos com altos padrões sanitários e bem desenvolvidos. Atualmente, seu elevado custo é considerado o fator limitante, pois o mesmo pode exceder de oito a dez vezes sobre o valor de um rebento de agave normal de boas caractísticas. Reprodução sexual Na via sexual, a propagação do agave é realizada por semente. Nesse caso, seus gametas masculinos e femininos se unem, somando assim suas características, dando assim origem a um novo indivíduo. Portanto, na reprodução por sementes pode surgir variação genética para produzir uma nova cultivar estável ou segregação entre as plantas descendentes, ou seja, as plântulas resultantes são muitas heterogêneas para o cultivo em campo.

Para o agave tequilero não é costume o produtor utilizar a reprodução via sexual como método de propagação para a instalação de sua área de cultivo (Figura 46). As verdadeiras sementes têm uma baixa percentagem de germinação e também requer um longo período, quase três anos, para se transformar em plântulas de tamanho adequado para o plantio definitivo em campo. Os estudos sobre propagação por sementes do agave foram pouco pesquisados e implica em problemas por variação genética a que está sujeito a polinização cruzada e por dificuldades de manter um abastecimento regular de mudas, devido ao longo ciclo de crescimento da planta, a qual leva de 6 a 8 anos para alcançar a etapa de floração e produção de sementes. Vale salientar que alguns trabalhos realizados com sementes têm mostrado uma baixa variabilidade do método via sexual.

Figura 46. Produção de mudas obtidas a partir de sementes (sexual) de agave, isentas de lesões, enraizadas em crostas ou torrões de terra e livres de patógenos, proposta


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tecnológica ofertada pelo Centro de Propagación de Agave del Estado de Guanajuato (CEPAEG) e as mudas de agave azul sendo plantadas em campo com quase 3 anos. Fotos: Luis A. Parra Negrete.

Reprodução assexual A produção assexual é aquela que não envolve o processo sexual, sendo que a reprodução vegetativa de vários tipos de plantas ocorre por meio de folhas, caules e raízes. Com maior frequência, os resultados positivos são obtidos com os caules. De modo que os indivíduos gerados mediante este tipo de reprodução constituem os clones, exceção de mutações, geneticamente idênticos à planta-madre. Entre as diferentes formas de reprodução assexuada vegetal existente, no caso do Agave tequilana, os métodos de propagação são os seguintes: bulbilhos, rebentos (rizomas) e os de propagação massiva de plantas realizada em laboratório de cultura de tecidos.

1.Bulbilhos: São plântulas produzidas a partir de meristemas da planta-mãe, as quais são clones da mesma, que ao completar seu desenvolvimento caem al solo, onde as raízes desenvolvem e crescem como plantas independentes. Esse fenômeno é apresentado em alguns agaves, inclusive o agave azul, que desenvolvem bulbilhos a partir dos meristemas axilares da inflorescência, na base das flores (Figura 47). Algumas vezes caem ao solo e terminam apodrecendo. Esse método de propagação tem desvantagens por ocorrer depois da floração, após o ciclo completo de produção do agave de 8 a 10 anos. Esse tipo de propagação por bulbilhos faz aumentar o risco da disseminação de doenças quando já existe na planta-mãe. Em razão disso, não é um método utilizado com frequência pelo produtor.

Figura 47. Bulbilhos do agave azul com 50 unidades por cacho. Fotos: Raul B. Fernandes (2010) e Iván Saldaña e Tomas Estes.


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2.Rebentos (Rizomas): Os rebentos são talos subterrâneos que crescem geralmente no plano horizontal, paralelo à superfície do terreno. A característica marcante que diferencia o rizoma da raiz é a presença de gemas (botões vegetativos), na face superior de onde se originam folhas e partes aéreas que compõem uma nova planta e na parte inferior, vão gerar raízes adventícias. A cada ano, os rizomas emitem brotos e vão originar novos órgãos aéreos ou rebentos.

3.Cultivo in vitro ou micropropagação: A propagação convencional do Agave tequilana ocorre principalmente por bulbilhos produzidos na inflorescência, o que se converte em um problema devido a lentidão do processo de floração que ocorrem depois de 8 a 10 anos de cultivos em solo e raramente produz sementes férteis. Em vista da importância econômica dessa planta e da lenta propagação convencional da mesma, torna-se necessário o desenvolvimento de pesquisas que estabeleçam protocolos para realizar propagação rápida e maciça, ampliando a técnica de cultura de tecidos in vitro. Para propagação in vitro de agaváceas, tem-se aplicado diferentes técnicas; utilizando segmentos caulinares e foliares, bulbilhos, sementes, calos, meristemas, gemas e embriões zigóticos. A maioria destas técnicas enfoca a multiplicação massiva através de brotos adventícios e axilares (segmentos nodais) e a produção de embriões somáticos (CARVALHO et al., 2006).

Por outro lado, a organogênese é o processo pelo qual há a formação ou multiplicação de brotos ou órgãos vegetais onde antes não existiam, através da indução de gemas já existentes ou recém-formadas, também chamadas de gemas adventícias. Esse processo pode ser classificado em direto ou indireto, quando analisada a origem da mesma. Quando ocorre o aparecimento direto de gemas mediante tecidos que expressem algum valor morfogenético, como gemas apicais, laterais ou mesmo axilares, está se referido a organogênese direta. Já na indireta ocorre a formação de calos no processo de regeneração de gemas (GRATTAPAGLIA; MACHADO, 1998).

Na metodologia do processo de micropropagação executada por Espino et al. (2012), utilizaram-se os rebentos de agave azul como material biológico, cujo tamanho oscilou entre os 4 e 8 cm, vigorosos e sem danos por fitopatógenos, procedentes de plantas de dois a três anos de idade. O experimento foi realizado no Laboratório de Cultivos de Tecidos Vegetais da Universidade de Guadalajara. Os rebentos, provenientes de


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propriedades comerciais das zonas produtoras de agave do município de Tequila, estado de Jalisco, foram lavados em água corrente para eliminar as folhas exteriores, deixando somente as que rodeavam a gema. Em seguida, os meristemas foram colocados numa solução de álcool etílico a 70% por um minuto e posteriormente numa solução de hipoclorito de sódio a 3% por 20 minutos e deu-se a correta lavagem, desinfecção e enxágüe na câmara de fluxo laminar. Os explantes foram cultivados em meio Murashige e Skoog (1962), suplementado com 24,6 μM de auxina AIB (ácido indolil-3-butírico) combinada com 46,46 μM de cinetina, 30 g.L-1 de sacarosa e 8 g.L-1 de agar para sua solidificação. Foram utilizados frascos com capacidade para 100 mL com 25 mL de meio de cultura e um explante por frasco, os quais haviam sido esterilizados por 15 minutos a 121ºC. Todos os frascos foram colocados na câmara de crescimento a 27ºC com 16 horas de luz. A indução dos brotos ocorreu a partir da quarta semana após seu cultivo. Para facilitar a multiplicação dos brotos obtidos, os mesmos foram transferidos para o meio Murashige e Skoog (MS) suplementado com 0,1 mg L-1de AIB e 46,46 μM cinetina. O desenvolvimento das plântulas foi obtido na quarta semana após o início da indução dos brotos. A micropropagação de plântulas de agave, a partir de gemas axilares ou apicais (Figuras 48, 49 e 50), foi concluída no período de 10 semanas a partir do cultivo dos meristemas.

Figura 48. Processos morfogênicos utilizados no cultivo in vitro de Agave tequilana Weber cultivar Azul. A) Proliferação de gemas laterais. B) Organogênese. C) Embriogênese somática. D) Plântula gerada a partir de um embião somático. Fotos: Fernando Santacruz Ruvalcaba.


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Figura 49. Processo de micropropagacão em Agave tequilana Weber cultivar Azul. A). Seleção de rebentos em campo. B) Obtenção da gema apical. C) Corte do explante para seu estabelecimento. D) Multiplicação de brotos in vitro. E) Etapa de adaptação em casa de vegetação. F) Plantas de oito semanas de adaptação em casa de vegetação.

Figura 50. Manejo intensivo de plantas micropropagadas de Agave tequilana Weber cultivar Azul. A) Adaptação em casa de vegetação. B) Estabelecimento em viveiro. C) Plantação definitiva com dois anos de idade. Foto: Fernando Santacruz Ruvalcaba.

Para o trabalho de regeneração de plantas do agave híbrido 11648 cultivadas nos campos experimentais da Embrapa Algodão, Silva (2012) utilizou as combinações de reguladores de crescimento BAP (6-benzilaminopurine) e 2,4D (ácido 2,4diclorofenoxiacético) na micropropagação de rebentos e a auxina AIB (ácido indolil-3butírico) para indução a rizogênese. A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Cultura de Tecidos, da Embrapa Algodão, em 2011. Para o estudo das combinações dos reguladores de crescimento foi feita a inoculação dos explantes em meio MS,


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suplementado com 3% de glicose, 0,62% de Gelrite e pH ajustado para 5,7, com diferentes concentrações de hormônios. Os frascos foram armazenados em câmara de crescimento a 25±2ºC sob o fotoperíodo de 16 h de luz e intensidade luminosa de 30 μmol m-2s-1. Os explantes foram diferenciados em tipo 1 e tipo 2 (gemas apicais e gemas laterais, respectivamente; Figuras 51 e 52) e avaliados após 45 dias, considerando-se a presença de broto, o número de brotos, o tamanho do broto e se houve um superbrotamento. Na rizogênese foram testadas três concentrações diferentes da auxina 4-indol-3-butírico (AIB) visando observar a resposta que estas apresentavam na formação de raízes. Depois de transferidos para o meio de enraizamento os brotos foram avaliados após 15 e 30 dias, observando duas variáveis: número de raízes e tamanho do broto. Com base nos resultados estatísticos, concluiu-se que todas as concentrações da auxina utilizada responderam igualmente a contento no desenvolvimento do sistema radicular.

Figura 51. Estágios de desenvolvimento de explantes tipo 1 (gemas apicais) de rebento de agave em meio MS, suplementado com diferentes concentrações de BAP, combinado com 2,4D e visualizados sob 3 períodos diferentes. Foto: Julita Maria Frota Chagas Carvalho.

Figura 52. Estágios de desenvolvimento de explantes tipo 2 (gemas laterais) de rebento de agave em meio MS suplementado com diferentes concentrações de BAP combinado com 2,4D e visualizados sob 3 períodos diferentes. Foto: Julita Maria Frota Chagas Carvalho.


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SISTEMA DE PROPAGAÇÃO DO AGAVE AZUL POR REBENTOS A propagação por rebentos é mais utilizada para os agaves em geral, não só porque mantém as características genéticas da planta-mãe, mas porque o desenvolvimento da planta é mais rápido e vigoroso do que por bulbilhos. Além disso, a tecnificação do cultivo de agave segue um padrão rígido que visa à homogeneidade das plantações, que atualmente pode ser controlada apenas com a seleção do tamanho da cabeça ou bulbo do rebento. Por outro lado, o manejo comum da propagação do agave azul utilizado na zona de Denominação de Origem da Tequila (D.O.T.) corresponde a um protocolo tradicional, baseado no conhecimento empírico aplicado para otimizar a produção de rebentos e consiste nas seguintes práticas: 1- Preparação e produção de rebentos; 2- Eleição de plantas-mãe; 3- Seleção de rebentos; 4- Transporte de rebentos. 1. Preparação e produção de rebentos. Os trabalhos intensos de preparação dos solos para o plantio do Agave tequilana são realizados com máquinas agrícolas em fazendas ou em áreas não muito acidentadas, visando melhorar a estrutura do solo de forma que aumente sua captação e armazenamento de umidade, facilitando assim o crescimento de rizomas e a brotação de rebentos para a superfície do solo. Alguns produtores têm por tradição efetuar a prática de subsolagem antes da época de chuvas com a finalidade de produzir mais rebentos. Se o objetivo é desenvolver mudas de boa qualidade (peso e volume), recomenda-se suspender os trabalhos de solo quando os rebentos emergem. Por outro lado, havendo uma tendência declinante de demanda por rebentos, os produtores destroem mecanicamente as plântulas ou mudas em qualquer idade da plantação, pois não convém deixá-las competir com a planta-mãe. Vale salientar que a melhor idade das plantas para gerar rebentos é entre 3 a 5 anos, quando se obtêm rebentos mais viáveis para as novas plantações (VALENZUELA, 2003; RAMÍREZ; LABORDE, 2007).

2. Eleição das plantas-mães A eleição das plantas-mães tem-se que considerar:


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a-Idade da planta-mãe: É necessário que a planta tenha sido estabelecida no campo entre 3 a 5 anos, etapa na qual a planta-mãe está em plena atividade vegetativa e em melhores condições de poder nutrir os rebentos que emergem. Uma plantação velha e não zelada produzirá rebentos deformes no seu bulbo e folhas, com pouco vigor e com alta probabilidade de serem atacados por fusarium. Recomenda-se iniciar a primeira seleção do material vegetativo ou rebento na propriedade plantada com agave azul para verificar a idade da planta-mãe e avaliar se ela é planta vigorosa de primeiro arranque.

b-O estado sanitário da planta-mãe: a planta eleita deve mostrar aparência visual saudável, vigorosa e sem a presença de insetos nocivos tanto na folhagem, como na raiz e na pinha.

c-Quantidade e qualidade dos rebentos: Em razão dos rebentos se formarem dos rizomas emergidos em distintas épocas, consequentemente o tamanho dos rebentos ao redor da planta-mãe é variável. Este aspecto é determinante ao decidir qual é o destino dos rebentos, se são para plantações comerciais ou para viveiro ou replantes. Também é importante conhecer a quantidade disponível de cada tipo, assim como a qualidade dos mesmos, resultante das condições ambientais, como geada ou sequias. Outros aspectos que devem ser avaliados são: os danos físicos como queimas; danos por insetos e doenças; danos mecânicos e as condições de manejo do terreno sob as quais os rebentos têm crescidos.

Destacando novamente que o método usado para reproduzir o agave é assexual, tecnicamente chamado apomixia, que consistem na selecção de rizomas ou estolões. O agave pode produzir rizomas a partir do terceiro ano de vida, no entanto, é no quarto ano, quando os mesmos têm qualidade satisfatória para serem transplantados. Essa qualidade se avalia medindo seu peso que deve ser, em média, de 2 a 2,5 kg. Não é recomendável usar os rizomas de plantas que já estão próximo da etapa de colheita, isto é, seis anos em diante, porque tem pouca qualidade para sua reprodução, igualmente aos rebentos colhidos de plantas jovens (2 anos). Os materiais sem qualidade são mais susceptíveis de ser afectados por pragas e doenças ou por fenômenos climatológicos.


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3. Seleção de rebentos A seleção de rebentos é uma das etapas mais importantes para o estabelecimento da plantação, porque irá depender em grande parte da qualidade da mesma. Na seleção dos rebentos são várias etapas que devem ser cumpridas:

a-Arranque e preparação do rebento: Antes de iniciar o arranque dos rebentos, é importante conhecer as condições em que se encontra o terreno onde será realizado tal operação, porque é importante avaliar previamente as dificuldades da prática e tempo de arranque para definir a quantidade de trabalhadores que deverão ser contratados (Figura 53). Além disso, devem-se considerar os seguintes aspectos: topografia planta ou de ladeira, solos soltos ou compactos, com pedras na superfície do terreno ou na sua parte interna, presença de plantas daninhas ou sem sua infestação, alta ou baixa densidade de plantio da planta adulta. A alta densidade de plantação tem como efeito diminuir a quantidade de rebentos produzidos e dificulta a operação de arranque (VALENZUELA, 2003).

Figura 53. Arranque de rebentos da planta-mãe com ajuda do instrumento cavador.

O arranque dos rebentos deve ser realizado com um instrumento manual conhecido como cavador (Figuras 54 e 55), que é uma chapa de metal que serve para cortar o rizoma, o qual se une ao rebento com a planta-mãe. Esse corte deve ser efetuado de um só golpe, de maneira precisa e transversal ao rizoma, evitando danos aos rebentos por cortes acentuados. Caso contrário, poderá provocar problemas na sobrevivência e falhas na plantação.


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Figura 54. a) O arranque manual de rebentos feito com ajuda do instrumento cavador e b) as principais ferramentas de trabalho manuais usadas pelos agricultores mexicanos para o agave azul: a) Cavador tipo trincha bicuda para enterrar fertilizante, b) foice para poda de rebentos, c) foice de roçadeira de capim, d) cavador para arrancar rebentos, e) enxada pequena ou enxadeco para plantar ou abrir covas, f) facão para podar as folhas, g) coa de corte das folhas para colheita da pinha e h) estrovenga para limpar as plantas daninhas. Foto: Ana G. Valenzuela Zapata.

Figura 55. Resultado da operação de arranque de rebentos em campo de plantas-mães (agave azul) com 4 anos de idade e coleta dos rebentos com ajuda de um cesto.


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Uma vez liberado o rebento, as raízes são cortadas transversamente, deixando um pedaço de 3 a 4 cm do rizoma, e suas folhas basais são eliminadas para deixar descoberto em 75% a cabeça ou bulbo, facilitando assim sua posterior plantação, e deixando somente de 3 a 5 folhas na base do escapo floral ou roseta central. Em seguida, as folhas posicionadas na parte superior da cabeça, são podadas apenas suas pontas, com a finalidade de facilitar o manejo e evitar acidentes aos plantadores. Essa atividade é realizada para que o rebento perca peso e seu desenvolvimento seja mais rápido, mas o momento ideal dessa operação é antes da época de chuva. Após a operação de corte e limpeza, recomenda-se deixar os rebentos sob meia sombra (sombrite com 50% de cobertura ou debaixo de uma árvore) durante 10 a 21 dias (Figura 56), com o propósito de dar tempo para que cicatrizem das lesões e evitar problemas de podridão e perda de planta.

Figura 56. Rebentos selecionados são mantidos à sombra de uma árvore por mais de 10 dias para cicatrizarem das lesões ocorridas nas operações de corte e limpeza.

O produtor é acostumado a cortar ou podar a parte remanescente do rizoma dos rebentos, deixando apenas uma porção de 2 cm, mas os resultados evidenciam que tal prática tem um efeito negativo quando sua eliminação é total por retardar o crescimento do rebento em comparação a testemunha, que não se submeteu à poda do rizoma. Mesmo assim, a poda parcial do rizoma do rebento resulta ser vantajosa para identificar e eliminar a muda atacada pelo Fusarium sp., antes de ser plantada (VALENZUELA, 2003; Figura 57).


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Figura 57. Com o corte da parte remanescente do rizoma do rebento, identifica-se o ataque do Fusarium no bulbo.

b-Seleção dos rebentos: A não seleção de rebentos poderá comprometer a qualidade da plantação e, por conseguinte, a produção da matéria-prima destinada para industrialização da tequila, em razão da falta do benefício econômico obtido a partir da colheita uniforme. Essa seleção deve ser realizada por um técnico ou agricultor já que tal atividade depende o êxito ou o fracasso das plantações. Os rebentos devem ser selecionados quanto à idade, tamanho e diâmetro do bulbo.

Os rebentos podem ser provenientes de uma plantação comercial ou de viveiros. As características desejadas para a seleção de rebentos são: plântulas que procedam de uma planta-mãe jovem de 2 a 4 anos, preferencialmente de primeiro arranque. Devido a melhor atividade reprodutiva da planta-mãe ser entre 3 a 4 anos, mas no caso de ocorrer uma grande demanda por rebentos se utilizam as plantações de 5 anos de idade. Devem ser rebentos provenientes de uma plantação mãe livre de pragas e enfermidades. Os rebentos têm que apresentar as seguintes características: uma boa estrutura de cabeça (bulbo) e foliar, tamanho de cabeça entre 9 a 10 cm de diâmetro, elevado peso, vigoroso, de cor azul intenso e aqueles rebentos desenvolvidos mais isolados da planta-mãe. Vale destacar que um operário treinado é capaz de arrancar em média 300 rebentos por dia numa jornada de trabalho de 8 horas.

Uma planta de agave azul pode produzir durante sua vida até 15 rebentos de diferentes qualidades. Numa bem-sucedidaplantação agrícola de 4 anos, pode-se obter, em média, um total de nove rebentos por planta mãe, sendotrêsde primeira categoria, (1,5 a 3 kg) e seis desegunda (0,5 a 1,5 kg). Deve-se verificar o estado de maturidade da


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plantamãe, pois, caso a mesma esteja emitindo o pendãofloral, deve-se descartar seus rebentos, já queestes terão menor longevidade.

c-Classificação dos rebentos: A classificação dos rebentos no México é feita com base nos seguintes pontos: -

Verificar que a planta-mãe é da variedade azul;

-

Verificar que a plantação esteja dentro da área de Denominação de Origem da Tequila (DOT).

- Verificar que a plantação esteja registrada junto ao Conselho Regulador de Tequila (C.R.T.). - Verificar que os rebentos provenham de plantas-mães da mesma idade. -Conhecer o histórico de manejo e da origem do material da plantação original. - Determinar o tamanho dos rebentos e que sejam uniformes. Para medir esta característica, o agricultor se baseia no tamanho das folhas, que pode variar de 0,40 a 0,85 cm. Para classificar o tamanho do bulbo ou cabeça, uma bancada é levada ao campo e na sua parte superior estão fixados vários blocos de metal, espaçados entre si, nas seguintes distancias: 9, 10, 12 e 14 cm (Figuras 58, 59 e 60). Ou seja, todos os rebentos passam pela bancada de classificação, de modo que mudas são jogadas separadamente em lotes, dependendo da avaliação de cada tamanho.


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Figura 58. Na bancada de classificação, todos os rebentos são selecionados nos intervalos espaçados de 9, 10, 12 e 14 cm (separados por blocos de metal fixos) por quatro técnicos habilitados e posicionados em volta da mesa.


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Figura 59. Lote de rebentos de agave azul com tamanho do bulbo e das folhas padronizadas.

Figura 60. Plantio de rebentos de tamanho uniforme por parcela. Foto: Santiago Medina.


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d-Desinfeção de rebentos arrancados e das ferramentas: Alguns produtores desinfetam os rebentos para evitar a ação de patógenos. Recomenda-se realizar essa operação nos rebentos arrancados e nas ferramentas da seguinte forma:

a) Após serem podados e antes de sua classificação, os rebentos devem ser tratados com uma solução de 10% de hipoclorito de sódio aplicada em pulverização manual sobre as áreas de corte na base da plântula (muda) e nas folhas. b) Todas as ferramentas utilizadas para as operações de arranque e a preparação dos

rebentos (coas, cavadores e facões) devem ser desinfetadas com uma solução de 10% de Cloralex (0,6 % de cloreto ativo). Após o arranque dos rebentos, deve-se repetir tal operação quando se muda a área de trabalho, principalmente quando o produtor está trabalhado em plantações de duvidosa sanidade, pois existe a possibilidade de transferir fonte de inoculo (bactérias, fungos e nematoides). c) As mudas devem ser tratadas no local de origem ou no matrizeiro da planta-mãe, pois a norma mexicana admite o uso de produtos químicos para o tratamento dos rebentos, tais como: benzotiazol, Mancozeb e Tiabendazol, entre outros. Outra opção para o tratamento das mudas é a calda bordalesa, que é considerada efetiva e econômica. Sua composição é a base de cal, cobre, sabão e água nas respectivas proporções: 0,5: 0,5: 0,5: 200 litros, banhando os bulbos e folhas com um pulverizador manual e, empilhando-as em forma de pirâmides, para que o jato líquido atinja todas as mudas. Nunca empilhar os rebentos por muitos dias, pois o material pode esquentar e acaba apodrecendo, isso tudo vai depender principalmente do clima do lugar.

É recomendável utilizar rebentos de plantas saudável, que não apresentam problemas de enfermidades como a podridão-do-tronco, murchamento do agave, murcha de fusarium (clavo del agave em espanhol) e outras doenças. Os rebentos de plantações jovens (3 a 5 anos) e com 1,5 a 3,0 kg de peso são as melhores mudas, sendo que os rebentos maiores se desenvolvem mais rápido, consequentemente sua maturação é alcançada em menos tempo. As plantações de cada parcela devem ser estabelecidas com rebentos de tamanhos uniformes (padronizado), visando obter uma maturação das pinhas a mais uniforme possível, o que facilita a colheita no mesmo ano ou quando muito em dois anos.


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4.Transporte de rebentos

É necessário evitar danos nos rebentos durante o seu transporte entre o campo de arranque das mudas, a instalação temporária de armazenamento e a nova área de plantação do agave (Figura 61). Algumas medidas preventivas de controle devem ser seguidas: a) O veículo que irá transportar as plântulas ao local de plantação definitiva deverá ser pulverizado com uma solução semelhante à que foram utilizadas nas plântulas, mas deverá evitar usar o Sulfato de Cobre, por ser um produto corrosivo e pode deteriorar o metal do caminhão. Desinfetar a corroceria do caminhão e pneus antes e depois de cada carga de rebentos, aplicando uma pulverização a base de solução de 10% de hipoclorito de sódio (ou antes, e depois de entrar na plantação de agave). b) Evitar pisotear os rebentos já carregados no caminhão, porque rompe com facilidade o meristema apical ou folear. c) Não provocar lesões nos rebentos. d) Caso ocorra lesão no rebento originada da poda ou insetos, não se recomenda submetê-lo à aplicação de herbicida glifosato, uma vez estabelecido na nova plantação.

Figura 61. Transporte dos rebentos de agave azul para o campo em caminhão engradado. Foto: Francisco Cota (2011).


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VARIEDADES

No início de sua exploração, a tequila foi obtida das variedades de agave conhecidas como: Azul Raiado, Siggüín, Crioulo, Pata de Mula, Moraleño, Chato, Mão Larga (Mano Larga), Vermelho, Zahuayo e Zopilote. De acordo com a contribuição dada por Weber, todo o produto tequilero é derivado de variedades de Agave tequilana Weber Azul. A variedade Mano Larga é considerada como uma “Planta Premium” da que se obtém mais rendimento de açúcares e maior lucratividade, mas também é conhecida como variedade do munícipio de Arandas, estado de Jalisco, México. Ou seja, os nomes são diversos e se aplicam conforme a zona de cultivo. Por exemplo, internacionalmente ela é conhecida como agave tequilero ou como mezcal, embora a palavra agave inclua todas magueyes. Enquanto em Jalisco, não se utiliza da tal denominação, pois se tem o conceito de que maguey é usada apenas para obtenção da bebida pulque e não tequila.

O Agave tequilana Weber variedade Azul é uma planta suculenta de dimensões aproximadas de 1,5 metros de altura por 1,5 metros de diâmetro (Figura 62). Uma vez que a planta está estabelecida em campo, suas necessidadesde de água são moderadas, inclusive requer plena exposição ao sol. A reprodução é por rizomas a partir do quarto ano e em sua maturação emite um comprido meristema em forma de espiga, que ao florecer e produzir sementes, a planta morre. As flores são brancas amareladas, em forma de panícula piramidal que aparecem na extremidade do escapo floral. O fruto é uma cápsula triangular com numerosas sementes (VALENZUELA, 2003).


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Figura 62. Planta do Agave tequilana Weber variedade Azulé usada unicamente para a produção de tequila.

PRODUÇÃO DE REBENTOS EM VIVEIRO E TRANSPLANTE Desde o início do seu cultivo, os produtores têm preferido a reprodução do agave azul através da extração de rebentos gerados de rizomas modificados das plantas adultas. De acordo com seu desenvolvimento (bulbo do tamanho de um limão) podem ser transplantados a um viveiro, os quais irão receber um manejo técnico adequado (Figura 63). Para facilitar o manejo no viveiro de agave, é necessário organizar o seu plantio obedecendo às seguintes distâncias: a) plantio em faixa com 1,20 m de largura, contendo 4 fileiras de rebentos; b) Espaçamento entre faixas ou parcelas de 80 cm; e c) Espaçamento entre fileiras de rebentos com 0,30 cm e entre rebentos com 0,20 cm (Figura 64).


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Figura 63. Para o estabelecimento no viveiro, rebentos de agave azul com bulbo do tamanho de um limão são plantados no espaçamento de 0,50 cm entre fileiras e 0,30 cm entre rebentos.

Figura 64. Mudas de agave plantadas em faixa com 4 fileiras de rebentos para facilitar a circulação dentro do viveiro.

Os primeiros rebentos selecionados são arrancados da planta-mãe, quando o bulbo alcançou o tamanho de uma laranja. Em seguida, são transportados ao local onde serão plantados e permanecerão até sua maturação. Segundo os produtores tequileros, esse tamanho é que permite o rebento contar com água necessária para se sustentar por si


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mesmo durante a etapa de plantio, pois suas raizes estão ainda em fase de formação. Além disso, as plantas são expostas aos efeitos de variações climáticas e de agentes causadores das doencas. Portanto, os resultados experimentais revelaram que na implantação do agave azul é necessário replantá-lo de 3 a 5%. As plantas eliminadas devem ser substituídas por elementos da mesma idade antes de começar a estação das chuvas. Recomenda-se que os rizomas ou rebentos, que são obtidos de plantas de agave em seu terceiro ano de crescimento, devem permanecer no viveiro para seu desenvolvimento controlado. Posteriormente, durante o início de inverno, quando têm alcançado um peso de 750 g, os mesmos são levados às plantações comerciais, onde são plantados em fileiras. Por outro lado, quando o agave é transplantado, exige que a área em torno da planta seja mantida muita limpa, sem a competição de plantas daninhas. Efetua-se o controle de plantas daninhas com aplicação de herbicida seletivo ou por meio de capina manual. Quando se tem a oportunidade de utilizar plantas produzidas em viveiro, para o estabelecimento em campo, o produtor terá inúmeros benefícios como redução de custos e tempo para produzir maior quantidade de rebentos. Além disso, permitirá ampliar a área plantada de agave azul, apesar de que tal operação demande mais mão-de-obra para o transplante das mudas na época de chuvas. Outro benefício proporcionado pela utilização do viveiro é a seleção de rebentos mais vigorosos e isentos de pragas e doenças. Por último, a muda de agave produzida em viveiro, uma vez atingindo a altura de 20 cm, está em condições de ser transplantada para o terreno definitivo. Atualmente, o mecanismo estratégico de incentivar a implantação de viveiros para produção de mudas de agave azul na região tequilera mexicana é considerado uma resposta à falta de rebentos de boa qualidade para o estabelecimento de novas plantações. Os objetivos do viveiro estão relacionados com a aceleração do crescimento de rebentos por meio de cultivo intensivo a base do uso de irrigação, adubação e herbicidas. As plântulas permanecem no viveiro por dois anos até alcançar os bulbos 15 cm de diâmetro. Em seguida, os rebentos são utilizados em plantações comerciais (VALENZUELA, 2003). Os bulbilhos são rebentos pequenos que emergem do escapo floral da planta adulta com idade ente 8 a 10 anos, junto com as flores não fecundadas que caem posteriormente sem formar frutos. Esses bulbilhos não se utilizam mais na propagação de material


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vegetativo para plantação do agave azul, porque a planta velha está mais exposta as enfermidades. Quando o agricultor optar pelo plantio por bulbilhos, deverá levar em consideração os seguintes aspectos: • Será preciso fazer um viveiro em terreno fértil, de boa drenagem e em condições de irrigação, devendo-se situar o mais próximo possível da área do plantio definitivo; os bulbilhos selecionados deverão ter tamanho superior a 10 cm e, de preferência, serem tratados com produtos químicos. • Deve-se proceder à escolha dos bulbilhos, levando-se em consideração a produtividade, o porte, o vigor e o desenvolvimento do pendão floral da planta-mãe. • O plantio em viveiro deverá ser feito no espaçamento de 20 cm entre plantas e de 50 cm entre linhas, devendo a planta permanecer nesse local até atingir a altura de 40 a 50 cm, quando então será transportada para o local definitivo.

ANÁLISE DE SOLO E CALAGEM A amostragem é considerada a fase mais crítica de um programa de recomendação de correção e adubação, quando baseado em análise química de terra. O objetivo da amostragem é caracterizar a fertilidade de uma área ou gleba de grande dimensão, por meio da determinação das quantidades de nutrientes e outros elementos presentes, através de uma pequena fração de terra. Com relação à habilidade do operador que vai retirar a amostra, o ideal é que ele seja capaz de tomar pequenos, suficientes e iguais volumes de solo em cada ponto de amostragem. A pá de corte ou trado deve ser de aço inoxidável, para evitar contaminações principalmente de micronutrientes. Cada amostra composta representará as características químicas de cada talhão, portanto deve-se ter o cuidado de coletar as amostras simples, procurando cobrir a totalidade do talhão. Recomenda-se fazer a coleta caminhando em ziguezague. Para a amostragem de solo são necessários os seguintes materiais: trado ou pá reta ou enxadão, balde plástico e saco plástico (Figura 65). Dos trados utilizados, os tipos mais comuns são o holandês, de rosca e tubo.


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Figura 65. Materiais utilizados para coleta de amostras de solo: a) trado holandês, b) trado de rosca, c) trado de meia-lua, d) marreta, e) trado tubular, f) pá reta, g) enxadão, h) balde, i) saco plástico virgem.

A pesquisa já demonstrou que quanto maior o número de amostras simples tomadas para compor uma amostra composta, maior é a possibilidade de se ter uma amostra representativa (Figura 66). O número no qual o erro amostral é bastante reduzido é de 20 amostras simples compondo uma amostra composta. Essas subamostras devem ser armazenadas em balde plástico e, ao final da coleta, serem homogeneizadas, gerando uma única amostra de um quilo. Em seguida, deve-se secar o solo, armazená-lo em saco plástico ou caixa de papelão, identificar corretamente a embalagem e enviá-la para laboratório de confiança.

Figura 66. a) Abertura da cova em forma de V; b) Corte de uma lâmina de solos de 2 a 3 cm; e c) Disposição dos pontos de amostragem de solos em forma de ziguezague.


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No caso de área homogênea, tomam-se amostras em 10 a 12 pontos bem distribuídos, limpando-se em cada local a superfície do terreno, retirando-se as folhagens, resíduos orgânicos, etc, sem, contudo, raspar a terra. As amostras simples deverão ser reunidas em um balde limpo e bem misturadas, formando uma amostra composta. Retirar aproximadamente 500 g de terra, transferir para saco plástico sem uso, identificar pelo número correspondente da área (talhão) e especificar informações complementares (profundidade, entrelinha, etc). Devem-se separar as amostras coletadas das partes altas, médias e baixas do terreno. O tamanho da gleba homogênea não deve ser muito grande em geral de 3 a 5 hectares.

Objetivando averiguar o ambiente radicular no subsolo, recomenda-se detectar a existência ou não de um gradiente de fertilidade, tornando-se assim necessário executar uma amostragem mais estratificada: 0-20, 20-40 e 40-60 cm. Ou seja, é denominada de amostra estratificada porque serve para determinar variáveis que podem existir em cada perfil do solo. As amostras das três profundidades devem ser colocadas em recipientes (baldes) diferentes. Portanto a cada 10 a 12 pontos, teremos uma amostra composta (mistura dos pontos) de cada profundidade. O mesmo ponto utilizado para a amostragem mais superficial será usado para as amostragens mais profundas.

A análise de solo é uma ferramenta básica para recomendações de calagem. Sua aplicação tem sido reconhecida como uma das principais técnicas na agricultura para controlar a acidez dos solos, reduzir os níveis de Al+3 e atuar como fonte de Ca+2 e Mg+2 para as culturas agrícolas. É importante ressaltar que a pesquisa orienta que a aplicação do calcário, se for necessária, deverá ser feita dois meses antes do plantio, para que o calcário tenha produzido a correção pretendida ou a disponibilização de Ca e Mg na quantidade esperada. Contudo, mesmo que não dê para aplicar calcário com a antecedência recomendada, apurando-se a necessidade de calagem através da análise de solo, deve-se fazer a calagem a qualquer tempo (Figura 67), pois os efeitos benéficos da calagem serão alcançados no decorrer do desenvolvimento da cultura.


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Figura 67. Aplicação de calcário no cultivo de agave azul com idade de mais de 2 anos.

Quando a dosagem de corretivo recomendada for superior a 2 t/ha, a calagem deve ser dividida em duas aplicações, sendo a primeira antes da aração, e a segunda, após a primeira gradagem. Quando o solo apresentar pH acima de 5,0, a correção é complementar e o corretivo pode ser aplicado de uma só vez e incorporado. A calagem incorporada tem sido utilizada principalmente na conversão de áreas agrícolas com o objetivo de potencializar a reação do produto no solo, uma vez que o mesmo possui baixa solubilidade. Recomenda-se que para o agave azul, deve-se dar preferência para a incorporação profunda, com arado de aiveca, para garantir o máximo aprofundamento do sistema radicular (Figura 68).

Figura 68. A calagem deve ser feita no preparo do solo para garantir uma boa incorporação e homogeneização com o solo.

Na implantação da lavoura do agave, a calagem pode ser realizada em área total, aplicando-se 50% antes da aração e os outros 50% após a aração e antes da gradagem. Este procedimento tem a finalidade de uniformizar a distribuição do calcário (pontos


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brancos na figura) na camada arada do terreno para um crescimento mais abundante das raízes das plantas cultivadas (Figura 69).

Calcário total + aração

½ Calcário + aração

½ Calcário + gradeação Figura 69. Distribuição do calcário no perfil do solo conforme o tipo de incorporação.

O produtor pode também realizar uma calagem na cova de plantio. O calcário na cova de plantio tem efeito localizado e contribui de forma mais significativa para o crescimento radicular em profundidade. É uma aplicação opcional e não deve ser entendida como substituta da calagem em área total. Sua utilização baseia-se em critérios agronômicos bem consolidados e não deve ser feita sem prévia análisede solo.

É importante frisar que as doses de calagem poucas vezes são determinadas pelos produtores de agave azul, embora que não é costume aplicar doses maiores do que uma tonelada por hectare de cal viva. Estudando os efeitos da calagem, aplicado no primeiro ano de crescimento de plantações iniciais e de dois anos de cultivo do agave, Valenzuela (2003) observou que em ambos os tratamentos houve incremento na produção de folhas e na altura da planta. Além disso, constatou que o solo de 5,3 de pH teve melhor resposta em crescimento com a aplicação de duas toneladas por hectares antes da plantação. Aos dois anos de cultivo e solo de pH de 4,79, a melhor resposta foi 01 kg por planta, equivalente a quase 2,5 toneladas por hectare de material de calcário. Vale lembrar que a falta ou excesso de calcário podem prejudicar a nutrição das plantas.

ESCOLHA DA ÁREA Na seleção do terreno, deve-se verificar a presença ou não de camadas compactas. Com base nos dados obtidos da análise de laboratório, é possível determinar as


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características do solo junto com seus fatores limitantes ou não, físicas e químicas. As principais características que devem apresentar o terreno são: - O solo deverá ter pelo menos 50 cm de profundidade, ante de encontrar a camada impermeável; - Que o solo seco não vá rachar, já que pode romper as raízes. Portanto, recomenda-se evitar os solos argilosos expandidos que podem apresentar essa característica; - Escolher terreno bem drenado, que não seja alagado ou encharcado, pois evita que a planta tenha problemas de fungos; - Que a pendente do terreno não seja muita inclinada. No caso de inclinação elevada, estabelecer o cultivo em terraços ou curvas de nível, para evitar as perdas de solo e nutrientes por erosão. Em resumo, é importante alertar que o agave azul não tolera áreas compactadas nem encharcadas, pois dificultam o seu pleno desenvolvimento; portanto, deve-se optar por áreas de elevações suaves com exposição Leste-Oeste, de forma a proporcionar maior luminosidade (fator preponderante para o seu desenvolvimento) (SILVA; BELTRÃO, 1999; SILVA et. al., 2008). Na região de Jalisco do México, as plantações de agave azul são realizadas preferencialmente em solos pedregosos. É importante assinalar que nos primeiros cultivos feitos em solos pedregosos com agave azul, a planta cresceu vigorosamente e com maior quantidade de açúcares em comparação aos solos planos. Os municípios apropriados no Brasil para o cultivo de agave são aqueles que detêm o tipo de solos avermelhados e, ao mesmo tempo, os que servem para destilação da tequila do agave azul, tradicionalmente são as microrregiões onde estão instalados os engenhos artesanais de produção de cachaça da cana de açúcar.

PROCESSO DE CULTIVO DO AGAVE O manejo do cultivo do agave azul obedece a uma série de técnicas tradicionais que quase sempre têm fundamentos muito importantes sobre o impacto produtivo da pinha da planta, pois é uma combinação de novos recursos tecnológicos como o uso de fertilizantes, herbicidas, inseticidas, máquinas agrícolas e tecnologia tradicional.


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PREPARO DO SOLO O preparo convencional do solo tem por objetivo intervir e revolver uma camada profunda do solo, destruir e incorporar restos vegetais, expor pragas de solo à insolação (para seu controle), destorroar e nivelar o terreno. Com relação aos aspectos ambientais, um preparo do solo inadequado, isto é, realizado sem a consideração das características pedológicas, físicas e topográficas, pode levar a problemas como a compactação, que é o adensamento de uma camada subsuperficial do solo devido ao trânsito de tratores e outros veículos na superfície, assim como a erosão, que é a perda das camadas superficiais do solo pela ação do vento ou das chuvas. Pelo fato do cultivo do agave apresentar um ciclo prolongado de 7 anos, é necessário realizar melhorias ao solo com práticas mecânicas que permitam obter um maior volume de solo para a planta desenvolver suas raízes, consequentemente elas irão captar mais água e ar. Ou seja, o manejo do solo visa melhorar a estrutura do solo e eliminar as ervas daninhas, cuja atividade é efetuada com maquinaria ou animais.

Portanto, o preparo do solo refere-se ao conjunto de operações realizadas com a finalidade de dar ao terreno condições de receber os rebentos de agave. As práticas mais comuns utilizadas no México são:

Desbravamento: O sistema de plantio do agave envolve a limpeza do terreno para, posteriormente, proceder-se ao preparo do solo propriamente dito. Caso o terreno contenha vegetação arbustiva, recomenda-se a destoca ou roço, que poderá ser manual ou tratorizada. Porém, quando o solo apresenta vegetação natural (matas, capoeiras, campos nativos), torna-se necessária a remoção desses obstáculos para a instalação do agave consorciado com outras culturas, dependendo da inclinação do terreno. Às operações então requeridas são chamadas operações de preparo inicial do solo, as quais são: corte de plantas nativas, retirada da madeira, destocamento, encoivaramento e queimada. Recomenda-se deixar algumas árvores dentro da plantação para servir de abrigo aos trabalhadores, além de ajudar a preservar o meio ambiente. Subsolagem: Antes de se iniciar a operação de preparo do solo, deve-se verificar a presença ou não de camadas compactadas. A presença e a profundidade dessas camadas compactadas são detectadas por sondagens com penetrômetros ou pela abertura de


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trincheiras. Deve-se também coletar amostras de solo para análise química. Algumas plantações de agave têm sido frustradas pela falta da subsolagem. Além de facilitar o crescimento radicular em profundidade, a subsolagem serve para tornar soltas as camadas compactadas, sem, entretanto, causar inversão das camadas de solo, devendo ser efetuada a uma profundidade mínima de 50 cm em forma cruzada, sendo considerado o intervalo de 0,60 m a 1,00 m a profundidade ideal. Não se recomenda usar o subsolador em solo com bastante umidade, em razão de que cada haste do equipamento subsolador irá limitar sua área de rompimento de solo. É importante frisar que na extremidade inferior da haste existe uma ponteira que pode ter diversos formatos, de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (GADANHA JÚNIOR et al., 1991; ALOISI et al., 1992; Figura 70).

Figura 70. Formato de hastes do subsolador: a) reta, b) curva, c) parabólica, d) ação da subsolagem no solo.

A subsolagem deve ser feita com baixa umidade do solo, para ter ação lateral de quebra da camada adensada. No entanto, no solo muito seco pode ocorrer a formação de grandes torrões, dificultando as demais operações de preparo de solo e o plantio. Para implantação do cultivo agave azul, a subsolagem em solo seco tem sido mais usual, em virtude da falta de uma irrigação da camada superficial antes de tal operação. Após a subsolagem, apenas deve completar o destorroamento com a gradagem niveladora, porém não é recomendável a prática de aração.

Quando se trata de terreno compactado, a operação deverá ser executada com trator de esteira ou trator de rodas (Figura 71). O solo deverá está seco, mas em alguns casos, as hastes do subsolador não chegam a penetrar devido à dureza do solo, exigindo assim que o mesmo seja um pouco umedecido por irrigação até permitir a entrada das


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hastes. Outra situação que poderia suceder é que a dureza do solo não permitiu a subsolagem por falta de irrigação, entretanto, com a chegada das chuvas e mesmo depois da plantação dos rebentos se poderiam passar duas hastes do subsolador no solo úmido (em volta da linha de plantio dos rebentos) para romper sua estrutura, propiciando assim um melhor desenvolvimento radicular.

Figura 71. a) Preparo de subsolagem, em forma cruzada e com 60 cm de profundidade, para a descompatação do terreno destinado ao plantio do agave azul. Foto: José Hernandez, J.

Os trabalhos intensos de preparação dos solos para o plantio do Agave tequilana são realizados com máquinas agrícolas em propriedades empresariais ou em áreas não muito acidentadas, visando melhorar a estrutura do solo de forma que aumente sua captação e armazenamento de umidade, facilitando assim o crescimento de rizomas e a brotação de rebentos para a superfície do solo. Alguns produtores têm por tradição efetuar a prática de subsolagem antes da época de chuvas, principalmente com a intenção de produzir bastantes rebentos. Quando o objetivo é gerar rebentos de boa qualidade (peso e volume), as atividades complentares no solo são suspensas até que esses rebentos sejam emergidos. Por outro lado, se há na região baixa demanda por rebentos para ser plantado,


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então os produtores destroem mecanicamente as plântulas ou rebentos em qualquer idade da plantação.

Arado: A aração deve ser realizada na maior profundidade possível, obedecendo sempre o sentido do nível do terreno. Não deve ser feita com o solo muito úmido nem muito seco. Há um ponto de umidade em que o solo não adere ao implemento e nem faz nuvem de poeira. É o ponto em que o solo se desmancha com alguma facilidade à pressão dos dedos. Quando a camada compactada estiver a menos de 30 cm de profundidade, ela pode ser rompida com arado de aivecas ou arado escarificador (Figura 72), atuando nessa profundidade (CASTRO; LOMBARDI NETO, 1992). O arado de aiveca corta, eleva, inverte e esboroa parcial ou totalmente as leivas, que ficam dispostas lado a lado. Quando o serviço de aração com aivecas é bem feito, há enterrio total dos restos de cultura. O arado de aiveca produz uma inversão do solo melhor que a do arado de discos, mas apresenta restrições ao uso em solos com obstáculos, tais como pedras e tocos, caso não haja mecanismos de segurança, com desarme automático. O arado de discos é menos vulnerável a estas obstruções, pois, o movimento giratório dos discos faz com que eles girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os (GADANHA JÚNIOR et al., 1991). Em geral, o preparo do solo é feito, geralmente, com uma aração, utilizando-se o arado de discos, nos dois sentidos, complementado com uma gradagem com grade leve (Figura 73). Além disso, a exposição de larvas do solo por ação do arado não chega a ser significativa.

Figura 72. Preparo do terreno com arado de aiveca (a) ou arado escarificador (b), em forma cruzada e com 30 cm de profundidade, para a descompatação do terreno destinado ao plantio do agave azul.


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Figura 73. Preparo do terreno com arado de disco, em forma cruzada e com 30 cm de profundidade, para a descompatação do terreno destinado ao plantio do agave azul.

Gradagem: É uma técnica secundária, cuja função principal é romper torrões de terra ocasionada por uma operação prévia de aração ou subsolagem, e nivelar o terreno, facilitando assim a semeadura e a implantação do cultivo do agave (Figura 74). É importante ter o solo destorroado, principalmente quando se planeja aplicar herbicidas pré-emergentes.

Figura 74. Operação de gradagem do solo para nivelar o terreno e facilitar o plantio do agave azul. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Sulcador: Quando se trata de terreno plano com risco de encharcamento, adota-se a tecnologia de sulco e camalhão com superfície retangular ou abaulada, a qual é preparada através do implemento sulcador adaptado (lâmina sobre os discos sulcadores), o que tem permitido alcançar o estabelecimento de populações adequadas de plântulas em pouco


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espaço de tempo (Figuras 75 e 76). Vale destacar também que, após as precipitações, parte da umidade é retida pelo solo e o excesso de água é drenado pelos sulcos (FONAIAP, 1988; Figura 77).

Figura 75. Em terreno plano, adota-se a formação de sulco e camalhões retangulares preparados com o sulcador adaptado para o plantio do agave, após as operações de aração a 30 cm de profundidade e de gradagem superficial do solo.

Figura 76. Em terreno plano, a formação de camalhões abaulados preparados com o sulcador adaptado, destinados ao plantio de rebentos de agave azul.


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Figura 77. Operação com implemento sulcador, para fazer o sulco de drenagem e limpeza entre fileiras de plantas de agave azul com quase 2 anos de idade, efetuado em terreno plano sujeito ao encharcamento, evitando assim a proliferação de fungos na planta.

PREPARO DO SOLO EM TERRENO ACIDENTADO

A conservação do solo é a utilização de métodos adequados de manejo e uso do solo, que permitem mantê-lo produtivo de geração a geração, por evitar o seu esgotamento ou deterioração, provocado por fatores naturais, principalmente no primeiro ano de instalação da cultura. Também as condições topográficas e texturais do solo são fatores imprescindíveis na escolha dos equipamentos e no manejo do solo.

Dentre as práticas simples de conservação do solo que apresentam fácil execução e baixo custo, existe o traçado das curvas em nível por se trata de uma técnica para plantio em terrenos acidentados. Ou seja, é uma linha traçada na superfície do solo, unindo os pontos de mesma altura, seguindo-se o nível do terreno em sentido contrário ao caminho das águas da chuva. Os principais instrumentos utilizados para traçar as curvas de nível são: teodolito, nível de luneta, nível de mangueira ou de pedreiro e pé-de-galinha; os de manuseio mais simples são o nível de mangueira e o pé-de-galinha (Figura 78).


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Figura 78. Instrumento pé-de-galinha usado para determinar as traçadas em curvas de nível para terreno inclinado, dispondo as covas ou sulcos em curva de nível.

É importante frisar que a preparação do solo em terreno inclinado depende de um conjunto de operações que se fazem antes da semeadura, com o objetivo de deixar o solo nas melhores condições para o plantio, favorecendo a criação de uma estrutura que aumente a captação e o armazenamento de umidade. Porém, é bom lembrar que a legislação ambiental brasileira proíbe o desmate e plantio em terrenos com declividade maior que 45° por se tratar de Áreas de Preservação Permanente (APP) devido à alta tendência a erosão. Em terreno pouco acidentado, recomenda-se efetuar o preparo mínimo do solo para o plantio de rebentos de agave azul, o qual pode ser realizado passando o arado de tração animal ou trator, apenas nas linhas de cultivo (Figuras 79 e 80), demarcadas com piquetes posicionados em vários pontos dessas linhas. Uma vez determinada à primeira linha de plantio (linha mestre) em curva de nível, a operação de aração poderá ser repetida na mesma linha por mais duas vezes para ampliar a largura da faixa de plantio em mais de 01 metro. Certamente, um eficiente preparo do solo, mesmo que seja num terreno inclinado, poderá contribuir no aumento do tamanho do talo da planta do agave azul, consequentemente irá influi diretamente na sua acumulação de açúcares.


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Figura 79. No terreno em declive, o preparo mínimo contínuo feito em curva de nível pelo aradode aiveca de tração animal (usar apenas um animal). Fontes: Arquivo FOMENTA

Figura 80. Em terrenos com declive, o preparo de solo a tração mecânica segue os traçados das curvas de nível.


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Quando o terreno é bastante acidentado, recomenda-se realizar o plantio direto, apenas abrindo as covas com auxílio de enxada (dimensão ideal de cada buraco: 1 m x 1m x 1m) ou perfurador de solo (Figura 81), sem a necessidade de preparo do solo com imprementos agrícolas que é considerado uma prática sustentável por conservar o meio ambiente e possibilitar o crescimento econômico da cultura. O plantio direto tem como princípio promover a cobertura do solo durante todo ano com plantas em desenvolvimento e raizes vivas, responsáveis pelos efeitos benéficos e manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, inclusive reduz a necessidade de mecanização e favorece a redução de custos de produção.

Figura 81. Moto-cova a gasolina para abertura de covas em terreno acidentado e no sistema de plantio direto. Fotos: Arquivo da Alibaba.

MARCAÇÃO DE PLANTAÇÃO Para conseguir uma boa plantação, deve-se iniciar a preparação do terreno no mês anterior ao período das chuvas. Os trabalhos de preparação mais comuns são de aração cruzada, a uma profundidade de 25-50 cm, e a gradagem superficial para provocar a pulverização dos torrões grandes e finalmente realiza a marcação do plantio. Essas atividades se realizam para o estabelecimento da plantação do agave azul e depende das condições do terreno, o grau de mecanização e o sistema de produção adotado, entre outros.

A topografia do terreno pode variar, de plana a ondulada, contanto que, em áreas planas não haja problema de encharcamento, o qual é prejudicial para o cultivo


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(enfermidades), e nas onduladas ou acidentadas, práticas de conservação sejam observadas e adotadas para evitar erosão do solo, efetuando assim o plantio das fileiras no sentido contrário ao do escorrimento superficial da água das chuvas. O agave azul pode se desenvolver em terrenos altamente acidentados, com drenagens superficiais eficientes e considerados não aptos para a agricultura tradicional. Pelo fato de ser frequente no México cultivar o Agave tequilana em terrenos de ladeira, é conveniente não plantar em terreno de ladeira norte, sobretudo em regiões onde as geadas de tipo massa fria são comuns.

Quando o terreno apresenta com declive uniforme pode-se utilizar linhas retas paralelas às linhas de nível (cortando as águas) (Figura 82). No caso anterior a demarcação das covas é utilizada com o auxílio de linhas intermediárias, distanciadas 40 metros umas das outras.

Figura 82. Alinhamento em retas paralelas a linha de nível. (Adaptado de De NEGRI; STUCHI; BLASCO, 2005).

Em terrenos com declive acentuado recomenda-se a utilização de uma nivelada básica fazendo o primeiro sulco com trator e sulcador de solo. Os outros sulcos poderão ser feitos a partir do primeiro sulco com o uso de uma vara, ou bambu, com o espaçamento determinado nas entrelinhas, com dois bambus, de maneira que o primeiro homem caminhe sobre o sulco já aberto e o segundo paralelamente. O trator seguirá as pegadas do segundo homem abrindo os sulcos (Figura 83).


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Figura 83. Demarcação de sulcos paralelos à nivelada básica. (Adaptado de De NEGRI; STUCHI; BLASCO, 2005).

Por outro lado, a plantação no sentido norte-sul permitirá uma maior incidência de sol à planta em desenvolvimento, mas resulta ser mais importante cuidar do solo do que a disposição das folhas da planta, porque o agave é capaz de captar a luz solar mesmo que esteja plantado em condições desfavoráveis. Portanto, é fundamental que seja realizado um adequado planejamento da marcação de terreno que será destinado ao seu plantio. Uma vez determinada à primeira fileira de plantio no terreno (linha mestre, que deve ser em nível, em terreno declivoso), os operários em cada extremidade do campo devem marcar com piquetes suas cabeceiras, usando varas do tamanho de 2,80 m, visando à marcação das demais fileiras paralelas de plantio do campo (Figura 84). Em seguida, os operários se posicionam em cada linha riscada do terreno (extremidades do campo) e colocam os piquetes para esticar a corda marcada com a fita adesiva no espaçamento (1,00 m entre plantas) exigido para a espécie Agave tequilana Weber variedade Azul. A segunda fileira e as demais fileiras são demarcadas paralelamente, aproveitando-se da colocação dos piquetes nas suas cabeceiras. Uma vez esticada a corda entre os dois piquetes posicionados nas suas cabeceiras, previamente marcada com auxílio de uma trena (Figura 85), providenciam-se a marcação das covas e sua respectiva abertura com uma enxada ou cavador.


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Figura 84. Utilização de varas retilíneas (2,80 m) nas cabeceiras do campo para auxiliar a marcação do espaçamento entre fileiras de plantas, sendo que entre plantas usa-se uma corda previamente marcada de 1,00 m. Foto: Ana G. Valenzuela Zapata.

Figura 85. Corda de nylon marcada no espaçamento de 2,90 m por fitas adesivas em duas cores (durex) para facilitar a abertura das covas. Foto: Vicente de Paula Queiroga


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ÉPOCA DE PLANTIO A observância da época de plantio adequada oferece maior possibilidade de êxito para o produtor dentro das variações de clima a que está sujeita os cultivos em várias microrregiões serranas do Nordeste do Brasil, tendo em vista a grande influência do tempo sobre o estabelecimento das plantas do agave azul. Recomenda-se iniciar o plantio um mês antes do período das chuvas, pois as raízes dos rebentos já estão desenvolvidas o suficiente para aproveitar a umidade do solo (Figura 86). Após o desprendimento da planta-mãe, o rebento imitirá uma boa quantidade de raízes no transcurso de um mês e estará preparado para receber água e nutrientes no início das chuvas. Em muitos casos, o fator limitante pode ser a dureza do solo seco em não permitir o preparo pelo trator.

Figura 86. No início das chuvas, as raízes dos rebentos estão desenvolvidas para o aproveitamento da umidade do solo.

Entretanto, se o cultivo for estabelecido quando a chuva tenha começado o rebento não irá aproveitar a umidade do solo por falta de raízes, além de aumentar o risco de apodrecer. É importante mencionar que ao se realizar o plantio tardio (uma vez iniciadas as precipitações), a disponibilidade de água que terá os rebentos será menor, porém aumentará o período de estiagem e, consequentemente, haverá um retraso no desenvolvimento da lavoura.

ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO Após o preparo do terreno, procede-se à marcação da área para o plantio das mudas, que deve sempre acompanhar as curvas de nível do terreno. Em terrenos planos,


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recomenda-se que as linhas de plantio sejam orientadas no sentido norte-sul, para se evitar o sombreamento entre as plantas. Quando se trata de plantio adensado, é aconselhável dividir a área em talhões de aproximadamente 2 ha, com o objetivo de facilitar a operação de colheita e o transporte da produção.

Uma vez separados os rebentos da planta-mãe (ideal: 4 anos de idade), procedese o seu estabelecimento, precisamente antes do período de chuva. No plantio, a muda deve ser colocada em perfeito alinhamento com a fileira, na posição vertical, e mantida em profundidade adequada, de forma a enterrar parcialmente o bulbo (enterrando-se ¾ ou 75% do bulbo), deixando a parte de inserção das folhas do colo fora da terra (Figura 87 e 88). Com o fim de oferecer maior sustentação, deve-se comprimir, com os pés, a terra à sua volta e, neste período, deve-se fazer vigilância permanente da lavoura, que por efeito do vento ou da chuva pode provocar o tombamento ou mesmo o arranquio das mudas (Figura 89).

Figura 87. Plantio manual de rebentos de agave azul com 75% do seu bulbo enterrado ao solo, devendo ser bem fixado para evitar sua queda.

Figura 88. Plantio manual do rebento ao solo, usando uma chibanca ou enxada para abertura das covas.


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Figura 89. Plantio superficial do rebento ao solo, o que ocasiona seu tombamento em poucos dias.

Para o plantio definitivo, o produtor deverá proceder à abertura de sulcos, com sulcador tratorizado, em solos que permitam o tráfico de máquinas, ou em covas, com a enxada ou enxadão, em terrenos com topografia acidentada. O plantio do agave azul no México é praticamente realizado manualmente, abrindo-se as covas de um só golpe com a enxada. É importante destacar que seu plantio deve ser realizado por quadras, separando-se os rebentos quanto à idade, tamanho e diâmetro do bulbo. A não observação das recomendações dos rebentos padronizados poderá implicar na formação de agavais desuniformes quanto ao tamanho das plantas, à época de corte, à produção e à maturidade das pinhas produzidas (Figura 90). A distribuição dos rebentos em cada linha de plantio é feita por meio de um reboque ou por operários (Figura 91). Nessa ocasião, recomendase efetuar uma adubação, aplicando-se uma dose de 200 gramas por rebento.

Figura 90. Não se recomenda instalar plantações com mudas desuniformes de agave azul de distintos tamanhos, porque dificulta identificar a maturação exata das plantas.


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Figura 91. Uso de reboque para distribuição dos rebentos selecionados em cada fileira de plantio.

CONFIGURAÇÃO E DENSIDADE DE PLANTIO Um dos aspectos mais discutidos do cultivo do Agave tequilana é o espaçamento, em razão da falta de resultados experimentais convincentes. Segundo Valenzuela (2003), a determinação da população de plantas por hectare pode divergir bastante entre lavouras de agave, dependendo principalmente do sistema de cultivo. Os sistemas podem ser de monocultivo com altas e baixas densidades ou complementando-se com cultivos consorciados e pastoreios controlados. Além disso, essa espécie pode ser plantada em terrenos planos ou com inclinação acentuada. Quando se utiliza o espaçamento adensado em terreno plano é possível obter uma população de 4 mil plantas por hectare, enquanto o espaçamento pouco adensado com densidade de 3 mil plantas, que atualmente tem sido a prática mais difundida no estado de Jalisco, México. Mas quando se trata de terreno com inclinação pronunciada, recomenda-se colocar apenas 400 plantas por hectare (plantio direto), permitindo assim maior proteção do solo, por parte da plantação nativa, quanto aos efeitos da erosão. No estado de Tamaulipas (México) é comum observar uma grande diversidade de configurações e populações nas plantações do agave azul, encontrando-se variações entre 2.222 e 6.250 plantas por hectare. Podem-se encontrar fileiras largas, com uma separação entre fileiras de 3 metros e 1,50 m entre plantas. Também fileiras estreitas, de 2,00 m e 0,80 m entre plantas. Para um terreno mecanizável, recomenda-se estabelecer plantações com fileiras simples e utilizar a distância entre fileiras de 2,80 m e de 1,10 m entre plantas, que mantém uma densidade de 3.247 plantas/ha, além de permitir que algumas operações sejam mecanizadas, como o roço e o transporte das pinhas (Figura 92).


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Figura 92. Plantio de agave azul em fileiras simples no espaçamento de 1,1 mx 2,8 m = 3.247 plantas/ha.

Quando o terreno não pode ser mecanizado por apresentar problemas de topografia, pedregosidade ou alguma outra circunstância recomenda-se reduzir a distância entre linhas de 2,30 m e entre plantas de 1,15 m, o que equivale a estabelecer uma densidade de 3.780 plantas/ha. Na Tabela 4, estão os espaçamentos mais recomendáveis para o plantio do agave azul. Tabela 4. Distintas configurações e densidades de plantio do agave azul. CONFIGURAÇÃO Fileira simples Fileira dupla Alta densidade

ESPAÇAMENTO

DENSIDADE (Plantas/ha)

1,10 m x 2,80 m

3.247

1,00 m x 1,00 m x 2,80 m

5.995

1,00 m x 1,00 m

7.400

Em zonas quentes, uma alta densidade de plantio, aliada a baixa ventilação, produzirá um aumento de calor dentro da plantação que é desfavorável para o agave, podendo ocasionar uma rápida mudança das folhas da planta, devido à ausência de temperaturas frias, e desenvolvendo um tronco, acima da superfície do solo, ou pinha carente de açúcares no momento da sua colheita (Figura 93).


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Figura 93. Pinhas de plantas de agave azul desenvolvidas acima do solo, fenômeno provocado pelo calor do espaçamento adensado, quando cultivado em zona quente, e seu efeito na mudança rápida das folhas. Foto: Arquivo da Can Stock Photo.

O plantio do agave azul em fileiras duplas oferece maior número de plantas por hectare, permitindo uma melhor proteção do solo quanto aos efeitos de eroção (Figura 94). Mas, também tem como desvantagem a redução da luminosidade e da aeração, pois essa alta densidade entre plantas gera um microclima úmido, que favorece as enfermidades e dificulta o corte dos rebentos.


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Figura 94. Plantio de agave azul em fileiras duplas no espaçamento de 1.0 m x 1.0 m x 2.8 m = 5,995 plantas/ha. Fotos: Arquivo da Yeturu Farms.

Outro sistema de plantio de alta densidade populacional experimentado para o agave azul tem sido em triângulo equilátero ou quincôncio (Figuras 95 e 96), sendo que quatro plantas permanecem equidistantes de uma colocada no centro, com melhor aproveitamento da área, permitindo um acréscimo de 15% de plantas na área de plantio e sendo o mais preferido para terreno que apresenta declividade entre 5 e 12% (COUTINHO et al., 2009).


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Figura 95. Desenho esquemático da marcação de plantio de mudas de agave azul em quincôncio.

Figura 96. Alta densidade de plantio do agave azul no sistema em quincôncio, usando o espaçamento de 1 m x 1m = 7.400 plantas por hectare.

Por outro lado, as vantagens do monocultivo do agave azul é não ter a competição com outros cultivos, facilidade de tratos culturais como aplicação de fertilizante, inseticidas, capina com cultivador entre as fileiras, corte de rebentos, maior exposição solar da planta e arejamento, sendo a maior desvantagem de expor o solo a erosão. Além do tipo de solo e da região, a densidade de plantio depende do gradiente de inclinação do terreno, de modo que ao realiza o plantio dos rebentos é necessário seguir as traçadas de curvas de nível (Figura 97).


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Figura 97. Monocultivo do agave azul plantado em curvas de nível. Foto: Mario Abbud Chávez.

PLANTIO MECANIZADO DE MUDAS DE AGAVE AZUL A plantadeira de mudas de abacaxi (PMA-1.800) do fabricante Motoagro foi desenvolvida para realizar adubação e pulverizar (faz tratamento da muda no ato do plantio, aplicando inseticida e fungicida) durante o plantio da muda (Figura 98). O custo do plantio mecanizado se resume às diárias de três operadores, pois permite o plantio de 25 a 30 mil mudas de abacaxi em uma jornada de trabalho de oito horas diária. No plantio manual, para que se consiga a mesma produção, são necessários dez trabalhadores, sem contar à dificuldade de mão de obra no campo.


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Figura 98. Plantadeira de mudas de abacaxi que pode ser adaptada para o plantio mecanizado do Agave tequilana. Fotos: Arquivo da Motoagro. Essa máquina é acoplada a um trator de no mínimo 90 cv com tração 4×4, tendo também a grande vantagem de proporcionar a rapidez e uniformidade do plantio (espaçamento e profundidade) e, principalmente, a redução do custo operacional da lavoura. Além disso, é capaz de fazer o sulco, colocar a muda e firmar no solo, tanto em fileiras simples como em fileiras duplas. Para realizar o plantio mecanizado de rebentos de agave azul, a plantadeira terá que ser adaptada para o espaçamento de 1,00 metro entre plantas. Ou seja, em vez de operar com o total de 6 tubos de alimentação das mudas, os quais estão programados ao plantio no espaçamento de 33 cm entre covas, a máquina passaria a usar apenas dois tubos em posições opostas. Assim procedendo, a mesma já ficaria ajustada ao espaçamento de 1,00 m entre covas. Com a adoção dessa prática mecanizada há uma redução do custo de mão de obra e também da logística de distribuição das mudas, pois a plantadeira é dotada de um


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depósito de armazenamento de rebentos e seu abastecimento poderá ser feito mecanicamente com o auxílio de uma garra hidráulica (Figura 99). Este último equipamento serve para colocar as mudas na plantadeira de mudas - PMA1.800, as quais são recolhidas lentamente pelos operários na parte inferior do depósito para alimentar os tubos rotativos de plantio (introduz manualmente uma muda de cada vez no tubo). Segundo a Motoagro, a aquisição dessa plantadeira é viável, no valor de mercado de 60 mil reais, quando for para atender, no mínimo, 10 hectares de abacaxi.

Figura 99. Distribuição de rebentos feita mecanicamente do carroção para o depósito de armazenamento da plantadeira de mudas, com ajuda de uma garra hidráulica.

CULTURAS INTERCALADAS Existem diversas formas de cultivo do Agave tequilana Weber, variedade Azul, entretanto a mais utilizada é o monocultivo (Figura 100), mesmo assim alguns produtores intercalam outros cultivos durante os primeiros 4 anos de idade da planta. Após tal período, fica impraticável realizar alguma atividade entre as fileiras. Além de propiciar a manutenção do agave no limpo, a cultura intercalar não deve exercer competição drástica com a cultura perene, a ponto de prejudicar seu desenvolvimento e sua produção. Em algumas configurações mais adensadas, tem-se observado concorrência entre as culturas; portanto, é necessário verificar o espaçamento adequado para evitar a competição por luz, água e nutrientes.


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Figura 100. Monocultivo do Agave tequilana Weber, variedade Azul, no México.

É importante esclarecer que o agave tem sido, até então, plantado isoladamente, principalmente pela falta de resultados de pesquisa que indiquem opções técnicas e econômicas viáveis. Considerando-se os altos custos de produção da cultura industrial, o plantio intercalar com culturas alimentícias pode ser uma alternativa interessante e capaz de proporcionar ao produtor uma renda extra no período improdutivo do agave azul, além de minimizar os custos das capinas e insumos, exigidos pelas culturas envolvidas. O consórcio do Agave tequilana com culturas de ciclo temporário pode ser usado com sucesso, mas a maioria dos agaveicultores opina que a introdução de cultivos na plantação como o milho significa uma maior competição entre plantas por água e nutrientes (Figura 101). Enquanto o consórcio envolvendo as culturas de feijão (Figura 102) e amendoim, é considerada vantajosa por não causar prejuízo de competição a cultura principal (agave). Alguns detalhes de consorciação com culturas alimentares e forrageiras podem ser observados na Tabela 5.


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Figura 101. Consórcio do Agave sisalana, usando três linhas de plantio com a cultura do milho e para o Agave tequilana, o ideal seria manter a linha de plantio livre de plantas daninhas, numa faixa de 80 cm de cada lado da fileira.

Figura 102. Altamente vantajoso o consórcio do Agave tequilana com a cultura do feijãovigna, sendo necessário deixar no mínimo 50 cm de distância da linha de plantio da cultura perene.

Tabela 5. As principais vantagens e desvantagens do uso do monocultivo e do plantio consorciado com culturas alimentares. Tipo de Cultivo

Vantagens

Desvantagens

- Não existe competição com outros

Monocultivo

cultivos

Maior risco de erosão

- Facilita o manejo cultural, controle

do solo

e prevenção de pragas e doenças - Maior umidade - Menor ventilação e luz Fileiras doble em monocultivo

- Mais plantas por ha

- Favorece a aparição de doenças


C a p í t u l o I | 110 - Dificulta o corte dos rebentos -

Dificuldade

para

aplicação agroquímicos e

Milho

realizar

os

tratos

- Proporciona maior renda extra

culturais

- Reduz a erosão do solo

- Reduz a incidência da radiação solar - Maior umidade

Consorciado

- Favorece a aparição de

com

enfermidades Feijão

Palma

-Dificuldade

para

- Maior rendimento econômico

aplicação agroquímicos

- Reduz a erosão do solo

e

- Aporta nitrogênio ao solo

culturais

- Diversidade de produção

- Maior risco de erosão

- Maior rendimento econômico

do solo

realizar

os

tratos

O plantio intercalar de forrageiras entre as fileiras é outra possibilidade de exploração do agave, visando o fornecimento de alimento aos animais nas épocas de maior escassez (Figura 103). Neste sentido, já foi experimentado a palma forrageira, consorciada com o agave azul (Agave tequilana), mas ainda pode ser testado com o capim buffel.

Figura 103. Consórcio do Agave sisalana, usando três linhas de plantio com a cultura da palma forrageira e para o Agave tequilana, o ideal seria uma linha de plantio no centro das fileiras, e o agave azul com plantas daninhas (nativas) de baixo porte.


C a p í t u l o I | 111

No município de Tequila, estado de Jalisco, os produtores tradicionais de agave ainda utilizam o espaçamento mais largo entre fileiras, como 4,5 mx 1,3 m, o que possibilita a implantação de consórcio entre agaves da mesma espécie, cultivados em épocas espaçadas no tempo. Esse plantio escalonado no tempo, em intervalo de 2 anos, permite aumentar o período de colheita do agave azul por mais de 4 anos, mas antes de implementar tal tecnologia teria que avaliar com profunidade a questão sanitária das plantas numa pequena área experimental (Figura 104).

Figura 104. Plantio escalanado do agave azul, em intervalo de 2 anos, quando se adota nos dois primeiros anos o espaçamento largo de 4,5 m x 1,3 m e, depois, introduz uma nova linha de plantio entre as fileiras de plantas.

INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA Os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) consistem na diversificação das atividades na propriedade rural. Em tais modelos de produção estão integrados às explorações de cultivos agrícolas, as forrageiras e os animais que realizam o pastejo (DUBOC et al., 2013). Também é denominado de sistema de produção agropastoril devido à combinação da agricultura com a criação de animais domésticos numa mesma unidade de produção.

Outra forma de redução dos custos de produção do agave e que é usado pelos agaveicultores mexicanos, é a integração entre agave e bovinos, através do pastoreio direto do animal no campo de agave, como aproveitamento do pasto natural e das folhas dos rebentos menores de agave, como alimento. Ou seja, trata-se de um sistema de plantação agrícola que utiliza a estratégica de controle de plantas daninhas, sem nenhum tipo de custos para o produtor de agave.


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Com relação à pecuária de corte, poderá ser adotado o sistema de recria ou engorda utilizado apenas novilhas de gado, na proporção média de 1:1 cabeça/ha na pastagem nas entrelinhas (Figura 105). Esse tipo de integração é realizado a partir do terceiro ano, época em que o agave está completamente formado, mas é necessário proporcionar um espaçamento mais largo para circulação dos animais. O espaçamento mais recomendado é o de 3 m x 1,8 m, com densidade de 1.850 plantas/ha, o que permite a ampla circulação dos animais em volta das plantas, para o pastejo, além de a planta ficar mais livre. Outra modalidade de integração lavoura-animais de pequeno porte é aquela feita com caprinos e ovinos. Na prática, observou-se que o caprino danifica as folhas do agave, principalmente as mais tenras, enquanto o ovino, por ser um animal mais seletivo, permite interagir a partir do primeiro ano, sem dano à cultura.

Figura 105. Produtores que consorciam o agave azul com a pecuária bovina no espaçamento de 2,8 m x 1,1 m (3.247 plantas/ha).

IRRIGAÇÃO A partir de 1986, quando se atingiu o auge dos preços do agave azul, alguns produtores passaram a instalar sistemas de irrigação para promover o seu cultivo e poucos foram aqueles que se aventuraram em utilizar a tecnologia de irrigação. No entanto, essas plantações não mostraram nenhum ganho na redução do seu ciclo e sua qualidade não foi satisfatória, de forma que houve um incremento produtivo insignificante com perdas econômicas. Apesar de tudo, poderiam-se analizar outros aspectos econômicos que beneficiaram os produtores irrigados, no caso da consorciação de outros cultivos e o pastoreio. Ou seja, a partir deste ponto de vista, a irrigação não favoreceu diretamente a cultura perene do agave, mas permitiu obter um sistema de produção mais diversificado


C a p í t u l o I | 113

com bons rendimentos em curto prazo para o produtor (VALENZUELA, 1994). A autora não mencionou se o agave irrigado recebeu adubação química. No experimento do agave azul com irrigação, realizado em Tamaulipas por Estrada (2013), obteve-se uma produção de 155 toneladas por hectárea, com 27,7% de azúcares redutores nas pinhas, características de qualidade demandadas pela indústria de tequila (Figura 106). Essa produtividade foi conseguida porque as plantas receberam água e fertilidade, duas vezes por semana, desde o estabelecimento do campo até a colheita, o que propiciou uma colheita do agave a partir dos quatros anos e cinco meses. Para atender as demandas das destilarias, os produtores de agave azul que possuem disponibilidade de água podem fazer irrigação de salvação na área cultivada para obter uma produtividade satisfatória. O referido autor admite que a falta de água induz que a planta tarde mais tempo para completar sua maturação e o excesso reduz o teor de açúcares.

Figura 106. Campo de Agave tequilana conduzido por irrigação: a) sistema de gotejamento e b) irrigação por gravidade ou sulco.

O Agave tequilana no estado de Tamaulipas comecou a se establecer no ano 2000, com a tecnologia de produção gerada no estado de Jalisco. Estima-se que no sul do referido estado, estão plantados 12.585 ha, sendo que a superfície total (80%) é de sequeiro e o resto (20%) é de irrigação por sulco ou gotejemento (OIEDRUS, 2012; Figura 107). A rentabilidade do cultivo em condições de sequeiro se avaliou considerando as principais atividades realizadas na maioria da superfície de agave estabelecida no estado Tamaulipas, enquanto para estimar a rentabilidade em condições de irrigação se utilizou da informação gerada pelo INIFAP (Tabela 6).


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Figura 107. Campo de agave azul cultivado com fertirrigação (irrigação por gotejamento). Foto: Estrada, L. Z. (2013).

Tabela 6. Rentabilidade do cultivo do agave azul em Tamaulipas, México. Discriminação

Plantas Peso por pinha Rendimento obtido Preço esperado Receita esperada Encargos de 10% Receita total esperada Custo de produção Preparação do solo Material vegetativo (mudas) e plantação Trabalhos de cultivo mecanizados Fertilizantes (610N-231P-785K) Produtos químicos (fungicidas, bactericidas e inseticidas) Mão-de-obra (arranquio de rebentos e aplicação de produtos químicos Sistema de irrigação, diesel e diárias Colheita (corte) e transporte Custo de kg para corte da planta Produção líquida por quilogramo Produção líquida por planta Produção líquida por hectare Relação B/C Fontes: INIFAP e Estrada, L. Z. (2013).

Unidades

Ha Kg Ton/ha Peso$/kg Peso$ Peso$ Peso$ Peso$ Peso$/ha Peso$/ha Peso$/ha Peso$/ha Peso$

Condições de Umidade Sequeiro Irrigação Tecnificada 3.300 3.300 14,1 76,4 46,53 252,12 3,0 3,0 139.590,00 756.360,00 13.959,00 75.636,00 125.631,00 680.724,00 81.893,50 310.245,00 1.400,00 1.400,00 32.190,00 32.190,00 7.200,00 7.200,00 0,0 58.281,00 17.858,00 17.858,00

Peso$/ha

6.960,00

22.800,00

Peso$/ha 0,35 peso$/ton Peso$/kg Peso$/kg Peso$/planta Peso$/ha Peso$

0,0 16.285,5 1,8 0,9 13,3 43.737,50 1,5

82.304,00 88.242,00 1,2 1,5 112,3 370.479,00 2,2

No estudo de fertirrigação do agave azul, conduzido por técnicos do Instituto Nacional de Investigaciones Forestales Agrícolas y Pecuarias (INIFAP), observou-se que a maturidade fisiológica da planta foi registrada em cerca de seis anos e cinco meses, após


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seu estabelecimento em campo, havendo produzido 491 toneladas de biomassa (folhas e pinhas) por hectare, mas só de pinha foi produzido 252,1 mil toneladas, com teor de 30,4% de açúcares redutores. Essa produção de pinha foi superior 5,4 vezes à registrada, no mesmo período, para as plantações desenvolvidas em condições de sequeiro nas zonas produtoras do agave, as quais chegaram a produzir em média 46,5 toneladas de pinhas por hectare (Tabela 5). Também os técnicos do INIPAP destacaram que no sistema de produção intensiva com uso de fertirrigação, o custo de produção por quilogramo de pinha cortada foi de 1,2 de pesos ($) mexicano, em comparação ao custo de 1,8 pesos$ para as plantas desenvolvidas em condições de sequeiro e sem fertilização. Assim, a tecnologia de produção intensiva reduz o custo por tonelada de agave em 33%, em comparação com o sistema tradicional (ESTRADA, 2013). Os resultados de incremento produtivo do agave azul em parte podem ser explicados por seu tipo de fotossíntese (ESTRADA, 2013). Os agaves pertencem às plantas MAC (metabolismo do ácido crassuláceo), as quais apresentam transpiração noturna, já que abrem seus estomas na parte da noite e fixam o carbono em ácidos orgânicos, principalmente o málico. O tipo de fotossíntese MAC permite a planta obter ganhos líquidos de carbono com perdidas mínimas de água. Em condiciones de irrigação, estas plantas elevam sua produtividade, ao abrir os estomas durante o dia e consegue alcançar uma maior atividade fotossintética, sem se importar com a quantidade de água transpirada, uma vez que sob esta condição a água deixa de ser um fator limitante (BIDWELL, 1987). O sistema de raiz dos agaves é superficial, o qual facilita a absorção de água de chuva, geralmente escassa, que somente umedece a superfície do solo. Estas características dos agaves representam uma eficiência de uso da água até seis vezes maior que a das plantas com metabolismo C3, como o trigo (BORLAND et al., 2009).

FERTILIDADE A nutrição vegetal do agave deve ter a finalidade de melhorar seu rendimento e qualidade, buscando incluir o enfoque da sustentabilidade econômica e a harmonia com o meio ambiente. A melhora em rendimento e qualidade requer um processo de incrementos sistemáticos através de um manejo integrado do cultivo, específico para cada condição de solo e clima, pois as diferencias em desenvolvimento das plantações de agave se manifestam essencialmente como resultado dessa interação. Assim, na nutrição da planta de agave, o objetivo é compreender que fatores estão associados com ela, os quais limitam o desenvolvimento do cultivo, mas é necessário tentar corrigi-los e estabilizar os


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rendimentos no tempo e no espaço, isto é, para que a produção de uma safra a outra, em todas e cada uma das zonas, não vá variar drasticamente.

A fertilidade natural do solo permite produzir altos rendimentos dos cultivos agrícolas. Praticamente no existem tais condições de solo, o que se torna indispensável recorrer à adubação, visando obter um maior beneficio econômico. Quando se trata de reduzir custos, em algum caso o produtor decide amostra somente à camada superficial do solo de 0-30 cm, não percebendo que o conhecimento das condições do subsolo é útil para determinar se é conveniente realizar uma subsolagem mais intensa e profunda (RULFO et al., 2007). Também existem situações de que a subsolagem e aração não sejam necessárias para um determinado terreno, podendo ser o mesmo preparado apenas com gradagem.

Tradicionalmente no México, a cada ano o agave azul é adubado em três ocasiões, sendo duas aplicações de adubos orgânicos (cada adubação é de até 1 quilo de esterco de gado ou galinha por planta) realizados no período seco, e a terceira com adubos químicos, no período das chuvas. Por outro lado, muitos produtores mexicanos utilizam a adubação sem nenhum tipo de conhecimento técnico, pois acreditam que tal prática agrícola poderá acelerar a maturação da planta. Em alguns casos, produtores inovadores aplicam adubação foliar com a finalidade de nutrir com eficiência a planta de agave e assegurar o êxito da sua produção.

A adubação química é feita manualmente, e recomendam-se espalhar a dose correspondente à base da planta. Essa dose de adubação é bastante variável. Dependendo do tipo de fertilizante, aplica-se no início 80 g/planta, e se vai reduzindo, de acordo com sua idade, até a quantidade mínima de 20 g/planta. A maioria dos produtores de agave utiliza a adubação nitrogenada em todo o ciclo de cultivo. Porém, em alguma região mexicana, a aplicação dos adubos fósforo e potássio são iniciados a partir do terceiro ano de estabelecimento da referida lavoura, enquanto em outra região aplicam-se a adubação apenas entre os períodos de 0-2 anos de vida da planta.

Além disso, a melhor vantagem econômica se obtém quando as necessidades nutricionais das plantas cultivadas do agave azul são conhecidas em suas diferentes etapas de desenvolvimento, incluído a capacidade do solo que irá nutri-las. Com base na análise


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do solo é que se determinam racionalmente as fontes de adubos, as fórmulas, as doses, a época e a técnica de aplicação (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007). Geralmente, são determinadas as seguintes características físicas do solo como: a densidade aparente, porosidade, matéria orgânica, condutividade hidráulica ou permeabilidade e outras características. Enquanto as análises de fertilidade compreendem as seguintes determinações: pH, nitrogênio (nítrico), fósforo disponível, potássio, cálcio, magnésio e sódio intercambiáveis, assim como a disponibilidade de micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn e Zn). Uma vez com os resultados da análise de solo, os dados são avaliados e interpretados por técnicos, a fim de ordenar as alternativas mais apropriadas para se obter os melhores rendimentos de produtos de boa qualidade na elaboração da tequila. Dependendo das condições financeiras do produtor de agave, as principais maneiras de adubação da plantação do agave são: química, orgânica e adubo verde.

Adubo químico: A planta do agave tem como característica grande exportação de nutrientes do solo, necessitando de adequada aplicação de corretivos e fertilizantes para alcançar altas produtividades. O elevado preço dos adubos exige que esses insumos sejam usados de forma mais econômica e eficiente. Assim, para uma adequada recomendação de adubação química, é necessário identificar quais são os nutrientes limitantes para a obtenção de altas produtividades do agave; além de obter outros benefícios proporcionados pela adequada nutrição das plantas, como a melhoria da qualidade química do solo e a resistência da planta ao ataque de pragas e doenças. Essa identificação, normalmente é feita por meio da análise do solo.

Dependendo das densidades de plantio por hectare, aplicam-se as quantidades de adubos químicos necessários para o agave. Para todo o ciclo de cultivo, os técnicos mexicanos recomendam as seguintes quantidades: 266 kg de nitrogênio, 101 kg de fósforo, 575 kg de potássio, 731 kg de cálcio e 84 kg de magnêsio numa plantação com densidade de 3 mil plantas/ha e na suposição de que o solo é pobre em tais elementos. A quantidade do elemento nitrogênio (úreia) será fracionada em quatro partes para serem aplicadas no primeiro, segundo, terceiro e quarto ano. Para o adubo potássio, a quantidade será fracionada em três partes para serem utilizadas no primeiro, segundo e terceiro ano. Enquanto para o fósforo, recomenda-se que toda quantidade seja aplicada na adubação de fundação. Por outro lado, o cálcio e magnêsio deverão ser aplicados de forma independente (três meses antes do plantio), visando corregir o pH do solo durante a


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operação de calagem (calcário dolomítico que é rico em macronutrientes secundários), sem necessidade de mesclar com os demais fertilizantes. Estes dados preliminares obtidos de adubação são mais apropriados para as condições de solo da região de agave mexicano e para a nossa região do Brasil, aconselha-se realizar uma amostragem de solo para análise em laborátório (COTA, 2011). A seguir, algumas funções específicas e essenciais dos macronutrientes no metabolismo das plantas de agave:

Cálcio: Além de ajudar a reduzir a acidez do solo, o cálcio é um elemento essencial e fundamental para o desenvolvimento do agave. Tal elemento participa na formação, a nível intercelular, de lâminas delgadas de pectato de cálcio, as quais ajudam a proteger a parede celular ao ataque de doença, como a Cercospora. O cálcio representa um fator importante de melhoramento da estrutura do solo, que geralmente vem acompanhado de magnêsio.

Nitrogênio: É o elemento mineral utilizado adundantemente pela planta para ativar as enzimas ligadas à fotossíntese, já que se relaciona com a formação de clorofila, além de ser um constituinte das vitaminas. Geralmente deve ser acompanhada pelo fósforo para cumprir com suas funções, mas em caso de falta do nitrogênio na planta irá desenvolver os sintomas de deficiência, ficando assim suscetível às doenças.

Fósforo: É considerado um elemento essencial para o desenvolvimento das plantas já que está envolvido no armazenamento de energia e a translocação de açúcares dentro da planta, mas também este elemento está presente na fotossintese, divisões celulares e respiração. Além disso, ajuda no desenvolvimento das raízes faz mais eficiente o uso da água e ajuda a resistir melhor às baixas temperaturas. A falta de fósforo no início do desenvolvimento da planta restringe o crescimento, tornado-a mais suscetível às doenças.

Potássio: É altamente utilizado nos processos de respiração e fotossíntese. Portanto, na ausência do elemento K, a planta não produz boa quantidade de açúcares (COTA, 2011).

Adubo orgânico: A matéria orgânica na cova/sulco de plantio tem duas finalidades principais. A primeira é a de servir como fonte de nutrientes de disponibilidade lenta às plantas. Devido a este fato, a maior parte dos nutrientes liberados durante sua


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decomposição, é assimilada pelas raízes das plantas, havendo pouca perda por lixiviação e por processos erosivos. A segunda é a de constituir-se em condicionador do solo, sendo responsável por melhor agregação das suas partículas, facilitando a infiltração de água; aumentar a CTC, ou seja, aumento das cargas negativas do solo, contribuindo para maior retenção dos elementos nutrientes aplicados através dos fertilizantes; complexar o alumínio com redução das formas tóxicas no solo; aumentar a retenção de umidade, etc. que provocam melhorias generalizadas no solo, levando a uma condição muito mais favorável ao crescimento e produção das plantas cultivadas. Apesar de todas estas virtudes, a adubação orgânica não deve ser realizada de forma exclusiva, mas sim, de forma a complementar a adubação mineral e contribuir para potencializar a eficiência desta última.

Adubo verde: A adubação verde consiste em prática de se incorporar ao solo a massa vegetal não decomposta, de plantas cultivadas no próprio local ou importadas, com a finalidade de preservar e/ou restaurar a produtividade das terras. As leguminosas são as plantas preferentemente utilizadas, pelas suas características de grandes produtoras de massa verde, sistema radicular bem ramificado e profundo, ricas em compostos orgânicos nitrogenados e capazes de fixar o nitrogênio atmosférico através da simbiose com as bactérias do gênero Rhizobium. Essas plantas em geral apresentam satisfatório crescimento e produção de biomassa em solos de baixa fertilidade. A adubação verde tem pelo menos duas importantes finalidades. A primeira é a de cobrir o solo e protegê-lo contra os efeitos danosos da erosão. Neste particular, a cobertura do solo com plantas, é o fator isolado de maior importância no controle da erosão hídrica das terras agrícolas, principalmente em terreno declivoso. A segunda é a de melhorar algumas característicasquímicas, físicas e biológicas do solo, a fim de melhorar sua capacidade produtiva e garantir maior aproveitamento dos fertilizantes aplicados. O adubo mineral aplicado juntamente com a adubação verde, pode potencializar a capacidade produtiva tanto do solo como da planta com possibilidades de reduzir a utilização dos fertilizantes minerais, diminuindo o custo da prática da adubação (CHAVES, 1994). A massa vegetal, ao se decompor na superfície do terreno, libera gradativamente os nutrientes que ficam prontamente disponíveis para as plantas de agave. Além disso, os compostos orgânicos ajudam na agregação do solo, tornando-o mais poroso com melhor capacidade de infiltração e retenção de água (CHAVES et al., 1997); aumenta a atividade e diversidade


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dos microrganismos do solo, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, fixação biológica, de nitrogênio, etc.

A utilização de adubo verde anualmente nos sistemas de plantio tradicionais, com espaçamento de 3,9 a 4,5 m na entre linha do agave azul, é muito importante com o objetivo de manter o solo coberto e, portanto, protegido, no período de maior ocorrência de chuvas. Com isto consegue-se reduzir drasticamente os danos provocados pela erosão. Por outro lado, o manejo (corte) dos adubos verdes deve ser realizado por ocasião do florescimento pleno, com exceção da leucena que é um adubo verde perene, devendo ser manejado sempre que a altura atingir entre 1,8 a 2,0 m. Por ser perene, a leucena exige de 3 a 4 podas por ano, de modo que toda massa vegetal seja deixada na superfície do solo, onde sofrerá decomposição.

SINTOMAS DE DEFICIÊNCIAS E TOXICIDADES NUTRICIONAIS Os sintomas de deficiências e toxicidades nutricionais resultam de um desequilibro metabólico, associado com a função de um determinado nutriente (Tabela 7), o qual tem sido perturbado por diversos factores. Tabela 7. Sintomatologia visual de deficiências nutricionais de acordo com o Diagnóstico Diferencial Integrado (DDI). TIPO DE FOLHA

CARACTERÍSTICAS RELEVANTES

Sintoma

NUTRIENTE

Descoloração verde pálido

Nitrogênio

Tonalidades púrpuras

Fósforo

Clorose marginal

Potássio

Clorose Intervenal

Magnésio

generalizado

Velha ou inferior

Sintoma Localizado Gema terminal

Cálcio

morta

Boro

Jovem ou superior Folhas Gema terminal viva

Clorose e necrose

Magnésio

Clorose

Ferro

jovens

não murchas

necrose

sem

Enxofre


C a p í t u l o I | 121 Folhas

jovens

Cobre

murchas

Velha e/ou jovem

Geralmente folha jovem

Molibdênio

Geralmente folha jovem

Zinco

Fonte: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez (2007).

A localização do sintoma está intimamente relacionada com a mobilidade dos nutrientes na planta, das folhas velhas para as jovens ou pontos de crescimento. O diagnóstico visual se inicia com o reconhecimento do campo, e deve cobrir três aspectos fundamentais: a) o padrão de campo, que consiste em localizar a distribuição homogênea ou heterogênea dos sintomas de deficiência ou dano; b) padrão da planta, que consiste em localizar em que parte se encontra o sintoma; e c) padrão diferencial, que envolve espécies ou variedades, datas de plantio, densidades de população e arranjo topológico, estádios de desenvolvimento e órgãos, etc. para estabelecer tanto o padrão de campo como o padrão da planta, inclusive a localização dos sintomas visuais (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

O sintoma mais característico de uma deficiência nutricional ou fisiológica é a clorose, a qual se define como: a inibição ou incapacidade vegetal para as sínteses de clorofila por fatores de natureza genética, parasitária, nutricional ou fisiológica que se manifestam visualmente com a perda da color verde como primeiro sintoma de enfermidade.

Os principais sintomas de deficiências e de toxidade nutricional e suas possíveis causas são:

Nitrogênio Deficiência: As plantas afetadas são de cor verde pálido (7,5 GY 5/3) em contraste com o verde azulado (5 BG 6/2) de plantas saudáveis. As folhas velhas tornam-se amarelas da ponta para a base (Figura 108). Não se encarquilham ou enrugam. As plantas param de crescer. As causas prováveis são: baixo teor de nitrogênio no solo; fraco desenvolvimento ou dano de raízes; desequilíbrios nutricionais; drenagem deficiente ou falta de umidade (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).


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Figura 108. Deficiência foliar de nitrogênio em Agave tequilana Weber (a) sintomas foliares em folhas velhas; (b) uma amostra da face ventral de folhas com diferentes níveis de deficiência de nitrogênio, a primeira folha, da esquerda para a direita, mostra seu estado saudável; (c) vista da face dorsal das mesmas folhas (b). Fotos: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez, 2007. Toxidade: Nas margens das folhas mais velhas ocorrem necroses da ponta para a base e elas curvam para baixo. A planta apresenta alta taxa de clorofila, acabando assim retardando sua floração. Há incremento na síntese de putrescina e aumenta a suscetibilidade da planta a danos causados por pragas, doenças e baixas temperaturas.

Fósforo Deficiência: As plantas de agave desenvolvem uma cor verde acinzentado que avança a tonalidades violetas (5 GV 6/2) na zona de folhas velhas. O dorso das folhas velhas é completamente amarelo. As folhas são pequenas e delgadas, que se necrosam no ápice e se enrugam quando o dano é muito severo (Figura 109). A produção de raízes é muito débil e retarda a floração. O tamanho da pinha é pequeno (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Figura 109. Deficiência foliar de fósforo em Agave tequilana Weber (a) sintomas foliares; (b) uma amostra da face ventral de folhas com diferentes níveis de deficiência de fósforo, a primeira folha, da esquerda para a direita, mostra seu estado saudável; (c) vista da face dorsal das mesmas folhas (b). Fotos: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez, 2007.


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As causas prováveis são: baixo teor de fósforo no solo; indisponibilidade de fósforo por precipitação com alumínio em solos ácidos, ou com cálcio em solos alcalinos; compactação do solo; baixa temperatura no mesmo.

Toxicidade. Não se conhecem sintomas por excesso de fósforo, apenas que induz deficiência de outros nutrientes como o zinco.

Potássio Deficiência: As plantas de agave afetadas por deficiências de potássio desenvolvem clorose marginal que progride rapidamente à necrose da ponta para a base das folhas velhas. Um sintoma geral e característico é a nítida delimitação que mantém as áreas amarelas ou necróticas, e o tecido foliar saudável. As folhas se enrugam de forma similar ao dano por herbicida (Figura 110). Sua manifestação é maior em anos de seca ou em repentinos períodos de aridez do que em períodos chuvosos. As causas prováveis são: baixo nível de potássio no solo; compactação do mesmo; antagonismo iônico com excessos de amônio, cálcio e magnésio (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Figura 110. Deficiência foliar de potássio em Agave tequilana Weber (a) sintomas foliares; (b) uma amostra da face ventral de folhas com diferentes níveis de deficiência de potássio, a primeira folha, da esquerda para a direita, mostra seu estado saudável; (c) vista da face dorsal das mesmas folhas (b). Fotos: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez.

Toxicidade: Não há registro de sintomas de toxicidade por excesso de potássio no agave. Mesmo assim, é possível mencionar que se na planta pode haver um consumo em excesso, isto significa que ela não está isenta de provocar desequilíbrios nutricionais.


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Magnésio Deficiência:

A

disponibilidade

de

magnésio

em

solos

com

plantações

agave é de suficiente a alta, e inclusive excessivo. Portanto, não tem sido ainda desenvolvido sintomas de deficiência de Mg. Por outro lado, houve registro com clorose intervenal nas folhas mais velhas.

Toxicidade: Não há relatado sobre sintomas de toxicidade. Igualmente ao que sucede com o fósforo, seu excesso induz deficiência de outros nutrientes, nesse caso de potássio ou cálcio por antagonismo iônico (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Enxofre Deficiência: Por longo tempo, as plantações de agave foram fertilizadas com sulfato de amônia para o fornecimento de nitrogênio, inclusive houve um aporte indireto de enxofre que é suficiente para satisfazer a sua demanda. A aplicação de sulfato de potássio, superfosfato de cálcio e de micronutrientes em forma de sulfatos fornece indiretamente o enxofre. Na ausência de enxofre se manifesta clorose sem necrose, em folhas jovens não murchas e com a gema terminal viva.

Toxicidade: As

experiências sobre toxicidade

por enxofre nas

plantações

agrícolas indicam que nas monocotiledôneas que são afetadas a porção apical das folhas fotossinteticamente ativas. O agave azul é monocotiledôneo, e a parte afetada é precisamente a porção apical das folhas intermédias, consideradas as mais ativas na fotossíntese da planta (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Cálcio-Boro Deficiência: No agave, a deficiência de cálcio é vista associada com a carência nutricional de boro (Figura 111). Inicia-se com a presença de exsudados que escorrem a partir da base das bainhas das folhas jovens, onde está localizada uma glândula de secreção. Em caso de carência extrema, observa-se a secreção de um xarope marrom avermelhado na base das bainhas de folhas muito jovens ainda embrulhadas no escapo floral. Também tem sido popularmente caracterizada como "anel vermelho". A base do escapo floral apodrece e atinge o interior da pinha, onde se encontra o meristema apical ou ponto de crescimento, o que leva a sua morte. As plantas param de crescer, em alguns casos as folhas são pequenas, robustas e ovaladas, e é observado o desenvolvimento de


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um ou vários escapos florais, pela perda da dominância apical (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Figura 111. Deficiência de Cálcio-Boro em Agave tequilana Weber, var. Azul. Foto: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez Toxicidade: Em condições de acidez extrema e baixa concentração de sais solúveis na solução do solo, dificilmente desenvolvem sintomas de toxicidade naturamente, em qualquer caso, poderia ser induzida por práticas de fertilização excessivas com esses nutrientes.

Cobre Deficiência: Na deficiência de cobre no agave também estão presentes exsudados a partir da base da bainha, de um xarope marrom avermelhado, mas bastante gomoso. As folhas mais próximas do escapo floral são enroladas e adquirem uma coloração cinza-roxo, ou seja, há sintomas de murchamento. A gema de crescimento se mantém viva, mas o crescimento da planta é restrito (Figura 112).

Figura 112. Parte apical de folhas jovens de agave tequilero com deficiência de cobre. Foto: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez


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Toxicidade: Por natureza, os solos com plantações de agave nos estados de Jalisco, Nayarit e Michoacan são pobres em cobre. A toxicidade pode ser induzida pelo uso indiscriminado de fungicidas ou fertilizantes ricos nesse micronutriente (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Ferro-Molibdeno Deficiência: Mesmo apresentado alto teor de ferro, sua disponibilidade para a planta pode ser limitada por múltiplos fatores, entre eles destacam o pH nos solos alcalinos ou o pH ácido em solos salinos. A falta de ferro e molibdênio se detacta por uma clorose sem necrose, em folhas jovens não murchas. Os elementos ferro e molibdénio são parte da estrutura funcional da enzima nitrato-redutase, portanto, em plantas doentes podem ocorrer à acumulação de nitratos.

Toxicidade: Não foram observados sintomas de toxicidade, pois não há condições extremas de pH <3,5 para o caso do ferro. O molibdênio pode alcançar um consumo excessivo, mesmo assim a planta não vai apresentar sintomas de toxidade (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Manganês Deficiência: Com o pH ácido do solo, a disponibilidade de manganês é de medianamente baixa a baixa, exceto em solos alcalinos, onde o nível de manganês no solo é deficiente. A deficiência nutricional de manganês desenvolve manchas cloróticas e necróticas (Figura 113), principalmente em folhas intermédias, que muitas vezes podem ser confundidos com o dano por doenças. As folhas afetadas não se murcham, e a gema de crescimento se mantém viva. Mesmo assim, a planta não deixa de crescer (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).


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Figura 113. Deficiência de Mn em Agave tequilana Weber, var. Azul. Foto: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez Toxicidade: O teor alto de manganês disponível provoca toxidade em pH < 5,5, mas esse efeito é reduzido consideravelmente com a prática de calagem. Todavia, ainda não tem sido registrada toxicidade por manganês.

Zinco Deficiência: o zinco é importante nutriente para a planta do agave, especialmente em solos com pH alcalino. Sua deficiência geralmente ocorre nas folhas mais velhas, associada com deficiência de potássio. As folhas sofrem clorose que rapidamente passa a necrose e avança uniformemente da ponta da folha para a base (Figura 114). Na deficiência de potássio, a clorose progride pelas margens da folha, sendo mais intensa a deficiência associada de potássio-zinco em plantações maduras de agave (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007).

Figura 114. Folhas de agave mostram diferentes níveis de deficiência de zinco, a primeira da esquerda para a direita, mostra seu estado saudável. Foto: Jaime Xavier Uvalle Bueno e Cecilia Vélez Gutiérrez.


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Toxicidade: Os níveis de zinco no solo são baixos, apenas o excesso de zinco pela aplicação de fertilizantes poderia gerar toxicidade.

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS O controle preventivo de plantas daninhas consiste do uso de práticas que visem prevenir à introdução, o estabelecimento, a reinfestação e a disseminação de determinadas espécies para novas áreas de plantio do agave, sendo o elemento humano a chave do controle preventivo. As principais medidas preventivas são a aquisição de mudas em substratos livres da contaminação com plantas daninhas; a escolha de local para a área de plantio, evitando áreas infestadas com plantas daninhas, principalmente aquelas perenes e/ou que se propagam vegetativamente.

A competição por plantas daninhas é grande na plantação do agave azul, porque as raízes absorventes do agave crescem superficialmente no solo, onde a maioria das raízes das plantas daninhas ocorre. A presença de plantas daninhas durante as fases iniciais de crescimento atrasa o estabelecimento e o tempo para que a cultura atinja o estádio reprodutivo, além de reduzir a sua capacidade produtiva. A competição, principalmente por luz, é grande em lavouras em formação, pois as plantas de agave ainda jovens deixam grande área de solo livre, favorecendo, dessa forma, a infestação e o crescimento das espécies infestantes. Durante a fase de enraizamento do agave, o controle de plantas daninhas pode ser realizado de forma mecânica ou com herbicida. Este último é mais utilizado por sua rentabilidade. A dificuldade do controle mecânico nas plantas daninhas se deve a abundante umidade do solo (VALENZUELA, 1994). Em algumas propriedades, a prática da "amontoa", cuidadosamente realizada três semanas após o transplantio de rebentos, constitui-se numa operação indireta de controle de plantas daninhas, uma vez que coincide com o período crítico de competição. Ou seja, o agave é bastante sensível à concorrência das ervas daninhas, especialmente nos dois primeiros anos. Alguns autores, como Medina (1954), Serra; Silva (1952) e Lock (1969), com experiência na condução de campos de produção, recomendam duas a três capinas no primeiro ano, dependendo da incidência das invasoras, e uma ou duas capinas no segundo ano, podendo ser uma logo após o início da estação chuvosa e outra ao final.


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O controle de plantas daninhas é imprescindível após plantio, já que as mesmas podem competir pelos mesmos recursos naturais com as plantas de agave azul, ademais de que aumentam os riscos de incêndios, geadas e prodridão das folhas basais. Atualmente, são utilizados dois procedimentos de controle de plantas daninhas, o primeiro mediante aplicação de herbicidas e o segundo por capina manual com as seguintes ferramentas: coa e enxada (VALENZUELA, 1994).

Os principais métodos de controle das plantas daninhas são:

Consórcio: De uma maneira indireta, o uso tradicional do cultivo intercalado ou consorciado de gramíneas e leguminosas elimina a primeira geração de plantas daninhas, o que favorece o estabelecimento do agave. Uma vez realizado a preparação do terreno para plantio e depois o uso de herbicida pré-emergente para gramíneas e leguminosas, se mantém um controle inicial das plantas daninhas para ambos os cultivos. Por esse motivo muitos produtores acreditam ser benéfico o consórcio agave-gramínea-leguminosa no primeiro ano. Em razão disso, recomenda-se plantá-lo com feijão ou amendoim no período das chuvas.

Controle biológico: Consiste no uso de insetos ou outros organismos inimigos naturais para o controle de determinada planta daninha. São específicos para atuar apenas sobre a planta daninha hospedeira. Caso contrário, eles podem se converter em praga das culturas. Na atualidade, os novos estudos estão dando ênfasis ao efeito inibidor da alelopatia entre plantas, como uma forma para conseguir o controle de certas populações de plantas daninhas.

Herbicidas: Nas situações em que o período crítico de prevenção da interferência de plantas daninhas é muito longo, a principal medida de controle para minimizar as perdas de produtividade é o uso de herbicidas aplicados em área total, uma vez que o controle mecânico exigiria elevada frequência de operações, o que aumentaria o custo de produção, além de aumentar os riscos da infecção por doenças (HERNÁNDEZ et al., 2007). Como a utilização dos métodos mecânicos de controle de plantas daninhas, seja por meio de capina manual ou pelo uso de cultivador, pode prejudicar as raízes superficiais e o caule do agave, e considerando-se os custos elevados da mão de obra para


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as capinas e a necessidade de melhor controlar as plantas daninhas na linha de plantio, os herbicidas são uma importante ferramenta nas lavouras de agave mais tecnificadas.

Por outro lado, com a rotação de culturas, a dinâmica das plantas daninhas se altera, e com ela se alteram também os métodos de controle e, sobretudo, os herbicidas com diferentes espectros de ação. Para que se obtenha sucesso com o sistema de rotação de culturas, é necessário conhecer detalhadamente o histórico da área cultivada, qual a espécie de planta daninha dominante e principalmente sobre os herbicidas utilizados na cultura anterior, suas doses e efeitos residuais no solo, a fim de que a lavoura em sucessão não seja intoxicada por herbicidas ainda presentes no solo.

O conhecimento do tipo de solo e dos teores de matéria orgânica e de argila é, portanto, imprescindível para se definir a dose do herbicida a ser aplicada, (KLINGMAN; ASHTON, 1975; OLIVEIRA JR., 1998). Além disso, as aplicações não devem ser feitas em condições de umidade relativa inferior a 60% (SOUZA et al., 1976), uma vez que a baixa umidade relativa do ar durante e logo após a aplicação dos produtos causa a desidratação da cutícula, que pode afetar a penetração de herbicidas hidrofílicos, além de aumentar a evaporação da gotícula de água e deixar o herbicida cristalizado na superfície foliar, sem condições de ser absorvido. A temperatura influencia a maior atividade metabólica das plantas, a evaporação de gotículas da calda pulverizada e, também, a volatilização de alguns herbicidas, em detrimento da absorção destes. Dessa forma, a pulverização deve ser feita nas horas mais frescas do dia, ou seja, pela manhã, sem risco iminente de ocorrência de chuvas.

Atualmente, nas plantações de agave estão utilizando tanto herbicidas préemergentes como pós-emergentes, apesar do uso do primeiro em terreno muito inclinada pode provocar problemas de escorrimentos ao deixar desnudo o solo e exposto à erosão. Na aplicação em pré-emergência, o teor de umidade no solo relaciona-se com a eficiência de praticamente todos os herbicidas, e isso significa que a maioria deles não será eficiente se aplicados em solo seco, permanecendo nessa condição por vários dias.

Os herbicidas aplicados em pós-emergência das plantas daninhas têm sido largamente usados no controle não-seletivo de mono e dicotiledôneas que infestam as entrelinhas da lavoura de agave nessa fase (Figura 115). São herbicidas de ação sistêmica


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ou de contato, cuja eficiência de controle depende da espécie daninha e do seu estádio de desenvolvimento e da sua condição metabólica, da dose e das condições climáticas antes, durante e depois da aplicação. Se usados em plantas daninhas que estão sob déficit hídrico prolongado, tornam-se pouco eficientes (baixa absorção e/ ou translocação). Também a ocorrência de chuva em intervalo de tempo menor que seis horas após a aplicação pode reduzir substancialmente a absorção e a eficiência do herbicida sistêmico mais empregado na cultura agave (glifosato).

Figura 115. Aplicação dirigida de herbicida em pós-emergência entre as fileiras do agave azul e barra de pulverização com protetor de deriva que pode ser adaptado para o espaçamento do agave. Foto: Rui Manuel Pereira Nobre O uso de herbicidas aplicados em pós-emergência proporciona fatores positivos à cultura, principalmente naquelas plantadas em solos de topografia acidentada, sujeitos à erosão. Após as aplicações, as plantas daninhas permanecem mortas na superfície, formando uma cobertura que contribui para o aumento do teor de matéria orgânica do solo e evita o aquecimento excessivo deste, diminuindo o impacto das gotas de chuva, o escorrimento superficial e, consequentemente, os danos causados pela erosão. Ainda, com a morte e decomposição do sistema radicular das plantas daninhas, são formados pequenos canais no perfil do solo, que aumentam a infiltração de água e a aeração e melhoram a estrutura edáfica.

Deve-se ter o cuidado de fazer a rotação de herbicidas que apresentem mecanismos de ação diferentes, usados em pós ou em pré-emergência, e também a rotação de métodos de controle, a fim de evitar o aparecimento de plantas daninhas resistentes ou tolerantes (VARGAS et al., 1999). Também, e indispensável que se façam a regulagem e


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a calibração do pulverizador para que se aplique a dose correta, pois doses abaixo e acima da recomendada podem proporcionar controle insuficiente ou intoxicação da lavoura, respectivamente.

Para aplicações em pré-emergência, e preciso conhecer algumas características físico-químicas do solo (pH, teor de matéria orgânica, capacidade de troca de cátions (CTC) e textura) que serão necessárias à definição das doses. Esses herbicidas são geralmente muito usados antes ou após o transplantio das mudas, aplicados no solo limpo, úmido, apenas na linha de plantio (evitando-se que a calda atinja o ápice das plantas) ou também entre as linhas (RONCHI et al., 1999a, 1999b). Um dos grandes problemas da aplicação dirigida de herbicidas não seletivos, como o glifosato, próximo ao caule na linha de plantio do agave jovem e a intoxicação das plantas provocada pela deriva das gotas pulverizadas.

Logo após a gradagem do solo, estando o solo úmido, podem-se fazer aplicações de herbicidas de longo efeito residual no solo, em pré-emergência das plantas daninhas, visando garantir com isso a baixa infestação na lavoura, pelo menos nos primeiros meses da estação "das aguas". Geralmente são usadas associações de herbicidas, com o objetivo de se obter maior espectro de ação sobre as plantas daninhas, dando preferência àqueles eficientes no controle de gramíneas, pois essas são as espécies mais comuns e competitivas nessa época. A relação dos herbicidas mais usados nessas fases e em outras fases de desenvolvimento da planta do agave encontra-se na Tabela 8.

Tabela 8. Principais herbicidas para o controle das ervas daninhas em plantações de agave azul na zona de denominação de origem. Igrediente ativo Glifosato

Formulação

Doses

AS 41% e CS

2 a 8 L/ha

54%

Uso Herbicida sistêmico, para o controle de anuais e perenes de folha larga e estreita. Pós-emergência. Aplicar quando a erva daninha tenha 15 a 20 cm de altura.

Glufosinato de amônia

AS 14%

1,5 a 2,5 L/ha

Herbicida de contato, para o controle de folha larga e estreita. Pós-emergência. A dose alta é para parcela muito infestada. A partir de o terceiro ano reduzir a dose e


C a p í t u l o I | 133 não aplicar em plantação com mais de 3 anos. Fluazifop p-butil

CE 13%

0,75 a 2,5

Herbicida sistêmico, para o controle de

L/ha

gramíneas anuais e perenes. Pósemergência.

Bromacil

GD 80%

2 a 3 kg/ha

+Diuron

Herbicida sistêmico por raiz e de contato por folhagem. Controla gramínea anual e folha larga. De ação pré-emergente e pósemergente na fase inicial da plantação. Não pulverizar a parte média superior da planta.

Tebuthiuron

SC 44%

1,5 a 2,5 L/ha

Herbicida sistémico por raíz. Para o controle de gramíneas anuais e folha larga. Aplicação em seco e em pré-emergência. A dose alta é para parcelas muito infestadas. A partir de o terceiro ano reduzir a dose. Não pulverizar a folhagem do agave porque pode retrasar o seu crescimento. Não o aplicar em plantações com mais de três anos.

Amicarbazone

GD 70%

2 a 3 kg/ha

Para o controle de gramíneas anuais e folha larga. Aplicação em seco e úmido. De ação pré e pós-emergentes na fase inicial da plantação.

Fonte: COFEPRIS, 2008. Onde: G, granulado. CE, Concentração emulsionável. AS, Solução aquosa. CS, Concentração solúvel. SC, Suspensão concentrada. GD, Granulos dispersivel. PM, Pó molhável. LS, líquido solúvel.

Mesmo que se trate da realidade da região mexicana, no cultivo do agave azul geralmente os produtores utilizam herbicidas em pré-emergência, ou seja, os produtos que se aplicam antes que a erva daninha emerge a superfície. O produtor planta os rebentos de agave em terreno seco (um mês antes do início das chuvas) e em seguida pode ser aplicado o herbicida Combine (i.a. Tebuthiuron) o Krovar (i.a. Bromacil+Diuron) que funciona, enquanto chegam às chuvas. Mas, qualquer outro herbicida só deve ser aplicado em solo úmido. Para obter melhor resultado, recomenda-se que, ao plantar em seco os rebentos, deve aplicar o herbicida depois da primeira chuva para que essa pulverização seja mais eficiente. Além disso, deve-se combinar o controle mecânico com a aplicação dirigida à planta daninha na dose de 3 litros por hectare, usando o herbicida Glifosato ou


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Glufosinato de amônia. No controle residual das ervas daninhas de folha estreita e gramíneas, aplica-se o herbicida Tebuthiuron com a dose de 3 litros por hectare ou o Amicarbazone na mesma dosagem (3 L/ha). No caso da planta daninha se encontrar estabelecida, recomenda-se realizar a mistura de glufosinato de amônia e amicarbazone para obter um eficiente efeito residual e assim alcançar um resultado satisfatório no controle das ervas daninhas. Vale lembrar que o uso de herbicida deve seguir as instruções técnicas,

baseadas em resultados de pesquisa, buscando também atender nos seguintes requisitos: seguridade ao operador de campo e ao cultivo, efetividade no controle de plantas daninhas, baixo impacto ao ambiente e na econômia do produto.

O controle químico de plantas daninhas apresenta ainda baixo custo/área, rapidez na operação e eficiência, sendo essas as razões principais de seu uso generalizado. O herbicida também reduz ou elimina os riscos de danos ao sistema radicular e as plantas novas, além de assegurar maior facilidade na colheita e pode ainda ser utilizado como meio de controle da erosão em áreas-problema. Contudo, apresenta a desvantagem de necessitar de mão-de-obra especializada, pois, se mal-usado, pode prejudicar o agave e o meio ambiente. Logo, para seu uso correto, são necessários conhecimentos sobre plantas invasoras, sobre manejo de herbicidas e equipamentos e sobre as características do solo e do ambiente. A eficiência de controle das plantas daninhas pelos herbicidas usados em pré-emergência depende das características físico-químicas do solo.

Alguns produtores fazem uso de aplicações dirigidas à linha de plantio; de herbicidas não-seletivos. Contudo essa prática não tem muita aceitabilidade, pois, quando a empregam, os produtores o fazem com precária tecnologia de aplicação, intoxicam a lavoura e abandonam essa técnica, retomando as dispendiosas capina manual. Usando-se tecnologia de aplicação adequada, é possível obter alto rendimento operacional nas capinas, com custo baixo, preservando a seletividade da cultura. Tratando-se de lavouras jovens, o objetivo principal é manter a linha de plantio livre de plantas daninhas, numa faixa de 50 a 80 cm de cada lado da fileira, o que pode ser conseguido empregando-se herbicidas seletivos aplicados em pré ou pós-emergência das plantas daninhas ou por meio de herbicidas não-seletivos aplicados em jato dirigido na linha de plantio, sob a folhagem das plantas de agave, evitando-se sua deriva. O produtor deve estar consciente de que não existem herbicidas completamente seletivos para o agave, porém é importante


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que selecione uma estratégia e produtos para o agave que estejam em sintonia a sua escala de produção, o seu solo e seguridade da plantação (VALENZUELA, 2003).

No entanto, para obter sucesso na aplicação desses herbicidas em pós-emergência das plantas daninhas, na linha de plantio do agave, ou mesmo em área total, as aplicações deverão ser feitas com as plantas daninhas no estádio inicial de desenvolvimento, ou seja, gramíneas até o segundo perfilho e as de folha larga (dicotiledôneas) até a terceira folha verdadeira, estando o solo úmido, a temperatura amena e a umidade relativa do ar maior que 60%.

Controle mecânico: A escarificação mecânica é muito importante para a oxigenação do solo, em razão de as plantas de agave azul são sensíveis as altas concentrações de dióxido de carbono. A função do escarificador é melhorar a permeabilidade do solo, provocando uma aeração das camadas e mantendo, assim, os canais abertos de oxigenação das raízes. A passagem em demasia de implementos mecanizados, como o arado escarificador, nas entrelinhas pode causar compactação na zona próxima à planta, correndo o risco de prejudicar seu desenvolvimento (Figura 116).

Figura 116. Cultivador escarificador hidráulico usado na aeração do solo para facilitar a respiração das raízes das plantas do agave no primeiro ano de plantio.

O controle mecânico de plantas daninhas ainda jovens, na entrelinha de plantio, pode ser feito com cultivadores acoplados a microtratores, visto que estes se adequam ao espaçamento da cultura, ou utilizando-se de carpideiras de tração animal. Esse equipamento é mais eficiente no controle de espécies daninhas anuais e em condições de calor e solo seco, porém apresenta como desvantagem principal a incapacidade de controlar plantas daninhas na linha de plantio. Além disso, as limpas podem ser feitas


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com o cultivador a tração animal (Figuras 117 e 118) ou, então, tratorizadas com uma grade leve, quando o espaçamento entre fileiras o permitir. Em ambos os casos, recomenda-se a limpa manual com enxada ou enxadão, entre as plantas de agave, como complemento das operações anteriores.

Figura 118. No México, ainda é tradição usar o cultivador para capinar as entrelinhas do agave azul.

Figura 119. Controle de plantas daninhas realizado pelo cultivador tração animal entre as fileiras do agave azul.

O agave adulto tem sistema radicular em forma de cabeleira, que se expande horizontalmente e cuja maior densidade está nos primeiros 20 a 40 cm da camada superficial do solo, razão pela qual, a partir do terceiro ano, recomenda-se o roço manual ou tratorizado, uma ou duas vezes ao ano. Caso se proceda ao roço uma vez por ano, esse deverá ser ao final da estação chuvosa e, se for duas vezes ao ano, deverão ser realizados uma vez em meados da estação chuvosa e o outro ao final. Quando as operações de limpeza forem realizadas com o trator (Figura 120), deve-se guardar uma distância de aproximadamente 80 cm da planta, para evitar danos às raízes e folhas.


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Figura 120. Roço com roçadeira tratorizada entre as fileiras do sisal e para o Agave tequilana, recomenda-se deixar uma distância de 80 cm da linha de plantio. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.

Controle manual: Um método antigo, porém eficaz para o controle de plantas daninhas tem sido a capina manual e/ou o uso de cultivador. No entanto, essas atividades manuais deixaram de ser executadas, por causa do seu alto custo no México. Por outro lado, os cultivadores atualmente têm sido considerados uma ajuda favorável para o controle de plantas daninhas. Em muitos dos campos de agave, as máquinas agrícolas para tal finalidade deixaram de ser uma prática usual, uma vez que o solo úmido da chuva impede a entrada do trator dentro da área cultivada. Entretanto, em ocasiões que existam períodos de ausência de chuvas, o produtor pode capinar sem problema o terreno, apesar de que essa condição favorável estará condicionada pelo estado do clima (MARCICO, 1980; URZÚA, 2000).

Cobertura morta: O revestimento de todo o terreno com uma camada de palha triturada (exemplo: bagana de carnaúba ou outros restos vegetais; Figura 121), após o plantio dos rebentos de agave azul, desde que esse material seja abundante na região de plantio. Para torná-la eficiente como cobertura morta, tal revestimento do solo terá que ser repetido por mais de duas vezes apenas no período de inverno dos dois primeiros anos, em razão da palha triturada com 3 cm de comprimento apresentar maior facilidade ao processo de decomposição do que as palhas adultas inteiras (GOMES, 1945). No caso de não haver grande disponibilidade de bagana ao alcance do produtor, recomenda-se distribuí-la apenas sobre as linhas de plantio do agave (Figura 122), a qual deverá ser plantado os rebentos de agave no espaçamento de 3,0 m x 1,1 m, deixando a carroça seguir a


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distribuição de piquetes, usando-os como guia ao longo de cada linha de plantio. Outra situação seria usar o espalhamento das folhas trituradas num raio de 0,5 m ao redor da muda de agave, de modo a manter essa área do coroamento sempre revestida com bagana, principalmente nos meses de chuva. Este manejo simples com a cobertura morta dispensa a capina manual (enxada) no controle das plantas daninhas, o que implica menos custos de mão-de-obra em tratos culturais no agaval.

Figura 121. A cobertura morta do terreno com bagana de carnaúba para controlar a incidência de ervas daninhas na área cultivada com rebentos de agave.

Figura 122. Espalhamento da bagana triturada de carnaúba apenas na linha de plantio das mudas de agave com auxilio da carroça.


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PRAGAS DO AGAVE O cultivo do agave é afetado por diferentes pragas que ocasionam danos consideráveis. O sistema de monocultivo que domina a região do agave é um dos aspectos mais críticos que tem sido registrado nos últimos 50 anos em Jalisco, México. Atualmente, sua paisagem rural é cultivada completamente com o agave azul, o que tem ocasionado problemas de pragas e doenças, principalmente, devido ao abondono de plantações e juntamente pela escassa variabilidade genética do material (multiplicação assexuada). Sabe-se que quando estabelece repetidamente uma única cultura no mesmo lugar, as pragas têm a oportunidade de estabelecer, colonizar regularmente no cultivo e adquirir resistência aos pesticidas. Portanto, é indispensável equilíbrio entre a diversidade de culturas e vegetação no ambiente do agavero, pois essa é a fórmula ideal para a agricultura sustentável. Os limites para a produção agrícola e pecuária, conservação do bioma florestal, bem como o uso racional de agrotóxicos e de avaliação da qualidade de lençóis freáticos, são parte das políticas que deverão ser bem planejadas no manejo do ambiente do agavero (VALENZUELA, 2003; DOMÍNGUEZ; CORTÉS, 2007; CESAVEG, 2008). Os produtores de agave terão que levar em consideração as seguintes recomendações para diminuir o efeito da monocultura: a) Planejar a plantação e fazer uma seleção satisfatória de rebentos e áreas para o agave; b) Pesquisa, avaliar e aplicar adequadamente os insumos agrícolas; c) Realizar atividades coletivas por meio de associações de produtores para obter assessoria especializada por um preço mais acessível; d) Promover a cultura de prevenção de pragas e doenças entre associações de produtores; e) Pesquisar a via de controle biológico; f) Promover a rotação e a alternação de cultivos; g) Avaliar a agricultura sustentável no agave tequilero.

Recomenda-se aos produtores de agave que sejam feitas amostragens periódicas no campo com o objetivo de que possam detectar oportunamente a presença de pragas e enfermidades que poderão afetar o seu cultivo. Os produtores envolvidos com o cultivo


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de agave devem ser capacitados por técnico especializado em temas, tais como: detecção, prevenção e manejo de pragas e doenças, sistema de plantação, controle de plantas daninhas com herbicidas, preparação de compostagem ou adubação orgânica, recomendações de fertilizantes químicos, calibração dos equipamentos de pulverização e uso de equipamentos de proteção individual. A adoção do manejo integrado de pragas (MIP) envolve atividades de amostragem em campo, assim como o uso racional do controle legal, genético, cultural, químico e biológico. O controle legal refere-se à aplicação de normas oficiais adotadas para o cultivo e suas disposições fitossanitárias. O controle genético é o uso de rebentos com tolerância a pragas. O controle cultural está relacionado com o manejo agronômico do cultivo. O controle químico deve ser usado somente se a praga está presente e o biológico é como uma ferramenta adicional, realizando aplicações ou liberação de insetos entomófagos (predadores e parasitoides) e microrganismos entomopatogênicos (entomopatógenos). No MIP é necessário definir qual é a praga principal do cultivo para esquematizar as estratégias de manejo integrado de pragas (DOMÍNGUEZ; CORTÉS, 2007; CESAVEG, 2008). As principais pragas da raiz, pinha e folhas do agave são:

PRAGAS DA RAIZ Bicho-bolo ou Corós: As espécies do gênero Phyllophaga são do tipo escarabiforme com tendência a se enrolar e medem de 8 até 28 mm de comprimento e são de coloração marrom-avermelhada brilhante, com mandíbulas fortes e patas torácicas bem desenvolvidas (RÍOS, 1986). Os besouros de Cyclocephala são menores, medindo cerca de 15 milímetros, e são de coloração marrom-amarelada. Os besouros de todas as espécies, normalmente em grande número são facilmente percebidos à noite, próximos a fontes de luz. As fêmeas fazem postura no solo. Depois de uma semana eclodem as larvas que se alimentam do sistema radicular das plantas. As larvas, conhecidas como bichobolo ou corós, são muito semelhantes quanto ao aspecto geral, com o corpo de coloração branco-amarelada, em forma de C e com cabeça marrom (Figura 123). A ponta do abdômen é brilhante e transparente. Dentro de um mesmo estádio de desenvolvimento, as larvas de cada espécie podem ser separadas pelo tamanho e pela disposição dos pêlos e espinhos na região ventral do último segmento abdominal. Suas larvas passam por três instares, mas a duração dos dois primeiros estádios é de aproximadamente 40 a 45 dias. O terceiro instar pode durar de 45 a 90 dias, pois é nesse período que as larvas causam


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maiores danos à planta ao se alimentar ativamente de raízes tenras, podendo ser porta de entrada do fungo fitopatógeno Fusarium oxysporum. Essa praga afeta plantações de agave entre 1 a 3 anos de idade.

(DOMÍNGUEZ; CORTÉS, 2007; CESAVEG, 2008).

Estratégias de manejo: O controle da praga bicho bolo é difícil devido à falta de identificação precisa da espécie causante do dano. Em razão dos seus hábitos subterrâneos, sazonalidade e padrão de ataque, que regularmente apresenta em reboleiras, os danos causados ao cultivo são detectados, na maioria dos casos, quando o ataque já sucedeu. Recomenda-se a aplicação de inseticida ao solo (DOMÍNGUEZ; CORTÉS, 2007; GONZALEZ et al., 2007).

Figura 123. A larva e o adulto do bicho bolo (Phyllophaga sp) e a planta do agave azul atacada. Fotos: CESAVEG, 2008.

Larvas de diabrótica (Diabrotica ssp) e nematoides: São larvas que causam danos às raízes, mas também existem casos de ataques de nematódeos. Tais danos são frequentes em plantações recém-estabelecidas, cujas raízes são suculentas. Os sintomas mais evidentes de seu ataque são uma debilidade geral da planta e a mudança de cor azul do agave para tonalidades avermelhadas e roxas. O crescimento da planta é parado e não se desenvolvem as folhas do meristema foliar, enquanto as plantas sem raízes podem ser arrancadas com facilidade. Estratégias de manejo: Um controle preventivo seria o preparo de solos no período de inverno que ajudaria a reduzir a população de pragas do solo. Recomenda-se a utilização de inseticidas granulados em faixa de solos. Também pode recorrer a inimigos naturais de tais pragas que são muito conhecidos em outros cultivos (VALENZUELA, 2003).


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PRAGAS DA PINHA Broca-da-pinha ou Besouro rinocerante: O adulto de Strategus aloeus (Coleoptera: Scarabaeidae) é um besouro castanho-escuro, de hábito noturno, medindo em torno de 3,1 x 6,1 cm de comprimento (Figura 124). O macho difere da fêmea por possuir três chifres protorácicos recurvados. Não foi avaliado o seu impacto sobre plantações de agave tequilero, no entanto, foram detectadas infestações moderadas, principalmente nas margens das plantações. É capaz de causar uma grande perda às plantas. O adulto cava uma galeria no solo, próximo aos agaves novos, onde permanece durante o dia e perfura uma galeria a nível médio da pinha da planta jovem, para se alimentar durante a noite, o que pode afetar seu crescimento ou morte. Geralmente é atraído por fontes luminosas. As larvas completam o seu desenvolvimento em dois anos. A mesma mede aproximadamente 5,0 a 6,0 cm de comprimento, tem cabeça marrom e corpo esbranquiçado com três pares de pernas no tórax e parte posterior do abdômen abaulada e transparente, e desenvolvese normalmente em madeiras em processo de decomposição (GONZALEZ et al., 2007).

Estratégias de manejo. É conveniente realizar seu monitoramento com armadilhas luminosas desde o final de abril a junho que coincide no México com a chegada dos adultos no campo de agave. Uma vez detectado o ataque nas plantas das margens do campo, recomenda-se a aplicação de inseticida granulado no meristema foliar se a planta é ainda pequena ou na raiz, se é grande. Quando ocorre a presença de adultos, significa que, na maioria dos casos, houve uma infestação de um campo para o outro. Alternativas são: a) limpeza do campo, b) coveando em volta da planta (tipo bacia) e sua inundação com água e c) pulverização com cal hidratada (20 L + 5 kg) nas plantas infestadas. Aplicação de cepas de Metarhizium anisopliae contras as larvas nos primeiros estádios (instares) e no primeiro ano de cultivo (CESAVEG, 2008).

Figura 124. A larva e o adulto da broca da pinha (Strategus aloeus). Fotos: Arquivo da ANCUPA e JohnSka (C).


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Bicudo do agave: Suas larvas são de cor branca cremosa, em forma de um "C" sem patas, com corpo segmentado e estriado; medem de 1 a 2 cm de comprimento, com cabeça grande e dura; apresentam na sua cauda duas prolongações pequenas. O adulto é preto brilhante, mede 1,5 a 2,5 cm de comprimento, com bico bem desenvolvido e encurvado. Leva 125 dias para completar seu ciclo, passando por 11 estádios larvais. Os adultos são encontrados na base das folhas, assim como dentro das pinhas, geralmente nesse local em processo de decomposição, devido ao ataque de larvas (Figura 125). As larvas do bicudo podem perfurar as pinhas de agaves maduras com mais de 4 anos de idade, mas também podem atacar plantas jovens de 1 a 3 anos. O dano inicial é observado por perfurações e secreções gamosas entre o meristema primário (foliar) e a folha, formando galerias e causando podridão mole. Ou seja, o bicudo provoca danos em todas as etapas fenológicas do agave, causando de maneira direta ou indireta a morte das plantas e, ao mesmo tempo, detrimento na qualidade da pinha, cujas perdas poderão ser superiores a 80%. Estratégias de manejo: Limpeza da área plantada e eliminação de plantas infestadas para que não se desenvolva um foco de infecção especialmente sobre as plantas maduras. Realizar amostragem para a detecção oportuna dos bicudos adultos. Para o controle de adultos, algumas cepas do fungo Beauveria bassiana têm boa efetividade, assim como o inseticida Zeta-Cipermetrina. Uma vez que a larva perfura a pinha ou o adulto passa a colonizar o meristema foliar, então seu controle fica difícil (CESAVEG, 2008).

Figura 125. Bicudo do agave (Scyphophorus acupunctatus) e seu dano na pinha. Fotos: Debra Lee Baldwin e Héctor González Hernández.

Besouro funerário do agave (Acanthoderes funerarius): O adulto é de cor preto com manchas brancas na região dorsal, medido, em média, 2 cm de comprimento. O ovo é de cor branca cremosa e mede 2,5 mm de comprimento. A larva é de cor branca cremosa e


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passa por vários estádios (Figura 126). Pode perfurar a pinha e permanecer se alimentando no seu interior, por até 10 meses, sem conseguir matar a planta, mas o crescimento da mesma é retido (GONZALEZ et al., 2007). Também pode se alimentar da base do talo, consequentemente as raízes são eliminadas e provoca o sintoma de murchamento da planta. Altas populações de adultos aparecem no início da estação chuvosa, embora que os insetos são encontrados em épocas diferentes. Tais insetos raspam a base das folhas para se alimentar e depositam os ovos na face inferior das folhas. A eclosão das larvas pode ocorrer a partir dos quinze dias posteriores à oviposição, mas têm sido encontrados ovos viáveis após 6 meses o período de oviposição (GONZALEZ et al., 2007). Estratégias de manejo: O adulto é muito sensível a qualquer inseticida, portanto a pulverização deve ser direcionada diretamente para a praga. Além disso, é importante monitorar o aparecimento de adultos e aplicar inseticidas ligeiramente tóxicos, de modo a evitar que a fêmea chegue a ovipositar na planta do agave (GONZALEZ et al., 2007). O dano ocasionado pela larva é mais prejudicial do que o adulto. O controle oportuno de plantas daninhas é muito importante para evitar que o inseto praga fique escondido.

Figura 126. A larva e o adulto do besouro funerário do agave (Acanthoderes funerarius) e danos na folha do agave. Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007; CESAVEG, 2008.

PRAGAS DA FOLHAGEM Piolho farinhoso (Pseudococcus sp): São insetos sugadores, seus indivíduos formam colônias numerosas, cobertas por um“algodãozinho”, alimentam-se da seiva das plantas e as deixam debilitadas (GUTIÉRREZ; ARAIZA, 2001; Figura 127). A praga se distribui no campo de maneira uniforme. Seu ciclo biológico é ovo, ninfa e o adulto. O corpo das fêmeas é alargado, ovalado e segmentado, com antenas e patas bem desenvolvidas. Os ovos são colocados nas folhas sobre uma substância cerosa e algodãonosa que é secretada pela fêmea (DALY et al. 1978; BORROR et al.,1989). Em plantação nova é considerada


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uma praga importante, já que pode afetar o crescimento e a capacidade fotossintética da planta. O piolho farinhoso pode atacar a zona radicular, base das folhas e até as folhas do meristema apical (GONZALÉZ et al., 2007). No período de estiagem, tem-se detectado, na base de união entre as folhas e a pinha, a secreção de sucos e a descoloração da pinha, causando a “falsa maturação” da planta (CESAVEG, 2008). Estratégias de manejo: Em população não elevada, recomenda-se aplicação de óleo mineral ou detergente em pó para reduzir suas densidades, o que poderá diminuir seu estabelecimento nos rebentos. É importante não tirar rebentos de áreas infestadas para futuras plantações. Do contrário, sugere-se efetuar um tratamento preventivo, a fim de evitar sua disseminação para outro campo (GONZÁLEZ et al., 2007).

Figura 127. Adulto do piolho farinhoso (Pseudococcus sp). Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007; CESAVEG, 2008 e 2010.

Escama armada (Acutaspis agavis): Sua infestação pode ser parcial o totalmente nas folhas e no meristema apical (Figura 128). Em geral, as folhas atacadas provocam a debilidade da planta e chegam a ocasionar a sua morte, devido ao seu processo de murchamento e secamento prematuro (ARAIZA et al., 2004). As fêmeas são pequenas, de corpo mole e se ocultam sob escamas que usualmente estão separadas do corpo das fêmeas, as quais são usadas apenas como cobertura. A escama protetora é formada por ceras secretadas pelo inseto, junto com as mudas dos primeiros instares. As escamas danificam ambas as faces da folha, sugam a seiva das plantas e excretam sobre as folhas uma grande quantidade de líquidos açucarados, sobre os quais desenvolve o fungo fumagina (Capnodium spp), que também pode afetar a capacidade fotossintética da


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planta. A escama armada é uma praga que tem maior intensidade populacional nos meses mais secos, podendo assim causar danos ao agave tequilero. Estratégia de controle: A utilização de óleos à base de petróleo parafinicos pode ser eficaz no controle de insetos. Além da grande atividade inimiga natural como predadores (Chilocorus cacti) e parasitoides (Aphytis spp.), que respondem aos incrementos de pragas. No caso de infestações severas, recomenda-se aplicar inseticidas de contato (GONZÁLEZ et al., 2007).

Figura 128. Infestações de escamas armadas em estádio de larva (A), jovens e maduras (B) e escamas eclodidas e parasitadas (C). Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez e CESAVEG, 2007 e 2010. Percevejo do agave (Caulatops agavis): O adulto mede cerca de 4,5 m de comprimento (Figura 129). O corpo é de cor amarelo pálido, com as asas de cor marrom claro. As ninfas e adultos sugadores se alimentam de folhas tenras do meristema foliar. Tem sido observado que suas populações aumentam principalmente nos meses mais frio do ano mesmo assim considera estudar e avaliar melhor os danos na planta (GONZÁLEZ et al., 2007). Estratégias de manejo: Por ser pouco conhecido o tipo de dano provocado na folhagem do agave, portanto, ainda não é recomendável efetuar nenhuma ação de controle (GONZÁLEZ et al., 2007).


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Figura 129. Adulto e dano mecânico provocado pelo percevejo na folha do agave (Caulatops agavis). Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007; CESAVEG, 2008.

Gafanhoto (Orthoptera: famílias Acrididae, Tettigoniidae): São caracterizados por apresentar um aparelho bucal mastigador, dois pares de asas, das quais o primeiro par tem consistência apergaminhada e o metatorácico ou o segundo tipo é membranoso. Suas pernas são do tipo andador ou saltador. A maioria deles é capaz de emitir um som estridente ou fazer sons com asas ou pernas. Sua coloração é variável e o seu tamanho varia de 3 a 120 milímetros (Figura 130). Estratégia de controle: Controlar as plantas daninhas dos campos de agave e, em caso de ataque intenso do meristema foliar, aplica-se inseticidas de contato.

Figura 130. Gafanhoto (Orthoptera: famílias Acrididae, Tettigoniidae). Foto: CESAVEG, 2008.

Cortador do meristema foliar: O dano que ocasiona é parecido a um corte feito por um facão na base do meristema foliar ou na ponta das folhas (Figura 131). O dano é causado por um inseto Coleóptero de habitos noturnos, sendo que no primeiro caso causa um


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retardamento do crescimento e desenvolvimento da planta e no segundo, causa apenas um dano mecânico. Estratégia de controle: Geralmente não requer o controle químico, quando o dano ocorre apenas nas plantas marginais do campo. Recomenda-se também aplicação de repelentes de insetos (Allomones) e / ou culturas armadilha (cempazuchilt, girassol, etc.; CESAVEG, 2010).

Figura 131. Corte de folhas do meristema foliar e de folhas das plantas pelo inseto cortador. Fotos: CESAVEG, 2010

Lagarta branca do agave (Aegiale hesperiaris = Acentrocneme hesperiaris): O adulto é uma mariposa de cor entre acinzentado a marrom escuro (Figura 132). Os ovos são de forma cônica e medem 3 mm de diâmetro por 2 mm de altura. Possui a cor branco marfim quando são recém ovipositados. As larvas recém-emergidas são de 3 a 6 mm, enquanto sua cabeça é negra e o resto do corpo de tonalidades claras. As larvas no quarto estádio de desenvolvimento (ínstar) chegam a medir até 70 mm de comprimento por 15 mm de largura. As pupas medem 50 mm de comprimento por 15 mm de largura (GONZÁLEZ et al., 2007). As oviposições são realizadas na face inferior da folha. As larvas começam a fazer galerias do terço superior da folha ao sair para o lado externo e segue fazendo outro número variável de galerias à base da folha. Uma vez bem desenvolvida, a larva se dirige à base das folhas para pulpar, antes é construído um opérculo sedoso (janela) por onde emergirá o adulto. O dano no agave tequilero se manifesta pela redução no crescimento da planta, um murchamento precoce, áreas necrosadas nas folhas e sua morte (GONZÁLEZ et al., 2007). Estratégias de manejo: Devido aos hábitos dessas espécies de Lepidópterosde realizar galerias, o manejo deverá ser direcionado para controlar as larvas do primeiro estádio, as


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quais exigem algum tempo para caminhar sobre a folhagem e introduzir no seu interior (GONZÁLEZ et al., 2007).

Figura 132. A larva, a pupa e o adulto (mariposa) da lagarta branca do agave (Aegiale hesperiaris). Fotos: CESAVEG, 2008.

Cochonilha (Dactylopius sp.): Por se tratar de uma praga sugadora da seiva da folha, a mesma chega a causar dano a planta. Sua colônia pode ser detectada quando se abre o meristema foliar (Figura 133). Essas colônias são mais abundantes que as do piolho farinhoso e ao serem exportas liberam um líquido avermelhado. Estratégias de manejo: Abrir o meristema foliar, varrer os meristemas foliar para romper as colônias e realizar aplicações foliares de óleo mineral a 1% ou cal viva micronizada a 1,5%.

Figura 133. Colônias de cochonilha na folha do agave azul. Foto: CESAVEG, 2010.

Roedores: É uma praga que geralmente ocorre nos campos mantonhosos e próximo a época de maturação da planta, em razão dos açúcares estarem formados e pela ausência de alimento aos ratos, aumentam os danos ao agave azul (Figura 134).


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Estratégias de manejo: recomenda utilizar armadilha industrial para captura dos roedores e não o uso dos cebos envenenados que podem afetar a fauna benéfica. Na Tabela 9, encontram-se alguns inseticidas recomendados para o controle de pragas.

Figura 134. Dano severo no meristema foliar do agave provocado pelos roedores. Foto: CESAVEG, 2010 Tabela 9. Alguns inseticidas químicos usados no controle das principais pragas do agave azul. Pragas

Inseticida

Ingrediente ativo

Doses por ha

Momento de aplicação

Bicho-bolo

Brigadier 0,3%

Bifentrina

12 kg

Crusier 5 TS

Thiamethoxam

250 mL

Besouro rinocerante

Semevin 350 S Furadán 350

Thiodicarb Carbofurán

2L 2L

Piolho farinhoso

Arrivo 200 EM Mustang max 4S Disparo

Cipermetrina Z cypermetrina

200 mL 250 mL

Ao plantar, uma segunda pulverização nos rebentos com mais de duas larvas. Impregnar os rebentos antes do plantio Pulverizar com 200 L a raiz e a parte inferior da pinha ao iniciar o plantio Observar a intensidade de infestação na metade superior da folha com 40%. Pulverizar quando as folhas da metade superior da planta com 40% de infestação

Escama armada

Chlorpyrifos 750 mL etyl Marshall 300 L Carbosulfan 250 mL Fonte: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007.

DOENÇAS DO AGAVE As doenças causadas por fungos se manifestam como podridões semi-secos, inodoras que se encontram geralmente em folhas, pinha e raiz. Enquanto que as causadas por bactérias são podridões úmidas com odor, que geralmente ocorrem no meristema foliar (broto) e folhas. Os fungos têm a capacidade de penetrar na planta por seus próprios


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meios e as bactérias aproveitam as feridas. Como qualquer organismo vivo, as doenças apresentam um ciclo biológico, que compreende seis etapas: a inoculação, penetração, infecção, invasão, crescimento, reprodução e disseminação. O dano é mais evidente em etapas avançadas de cultivo, daí a importância da prevenção (HERNÁNDEZ, 2003). As principais doenças do agave azul são:

Podridão do meristema foliar ou broto (Erwinia sp.): O dano é causado por bactérias. Os sintomas iniciam no espinho apical da folha ou espinhos laterais e avançam até o seu centro, causando uma podridão descendente até a pinha com a perda do meristema foliar, contaminando e retrasando a planta (Figura 135). A doença é favorecida pela umidade das folhas internas do meristema foliar e pela falta de oxigênio. Pode ser transmitida por insetos que causam feridas (por exemplo: bicudo). Na murcha-bacteriana, a podridão afeta as folhas. Estratégias de manejo: Abrir o meristema foliar e poda sanitária (Figura 136). Pulverizar com bactericidas as folhas. Eliminar as plantas afetadas. Replantar (CORTÉS, 2007; CESAVEG, 2008).

Figura 135. Danos no meristema foliar ou broto e danos na folhagem. Fotos: CESAVEG, 2008 e José Luis Martínez Ramírez.


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Figura 136 . Poda sanitária e abertura do meristema foliar da planta do agave azul. Fotos: José Luis Martínez Ramírez.

Varíola ou negrinha (Asterina mexicana): O dano é causado por um fungo. A infestação inicial pode ser vista pela presença de pequenas áreas escuras parecidas à mancha de um marcador (Figura 137). Geralmente afeta as folhas baixas, mas quando o dano é severo chega a necrosar a folha. Quando o fungo está presente no rebento recém-plantado, o dano é severo. Estratégias de manejo: Tratamento do rebento com fungicida de contato. Aplicação foliar de fungicidas preventivos.

Figura 137. Infestação (A) e invasão (B) do fungo Asterina mexicana (varíola). Fotos: CESAVEG, 2008.

Anel vermelho: Nas lesões da planta têm sido encontrados os fungos Fusarium sp. e Phytophthora sp. As folhas apresentam uma faixa de cor vermelha bem definida que pode


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penetrar e afetar o meristema foliar (Figura 138). A crosta provoca obstrução dos tecidos e perda da atividade fotossintética da área foliar, dando como resultado plantas pequenas com fraco crescimento e desenvolvimento. Estratégias de manejo: As recomendações são: abrir o meristema foliar ou broto, efetuar pulverização foliar com fungicida sistêmico, não rebaixar o rebento em excesso, eliminação de plantas infectadas e não abastecer as plantações com rebento contaminado (CESAVEG, 2008).

Figura 138. Infecção (A) e invasão (B) dos fungos Fusarium sp. e Phytophthora sp. (anel vermelho). Fotos: CESAVEG, 2008.

Tição (Cercospora agavicola): A doença é provocada pelos fungos Cercospora, Fusarium oxysporum, Chalara sp e outros. O sintoma inicial começa por clorose e logo o meristema foliar tende a se inclinar e, posteriormente, aparece ligeira podridão na parte média das folhas e do meristema foliar, finalmente a infecção avança formando grandes áreas de coloração cinza azulado (Figura 139). Sua infestação é mais nas plantas-mães com 3 a 4 anos de idade, inclusive os seus rebentos. Na lesão formada, as bactérias podem proliferar, causando um falso diagnóstico da doença. Estratégias de manejo: Nas etapas iniciais: poda e aplicação foliar de fungicidas sistêmicos, enquanto nas etapas finais: queima e eliminação da planta-mãe e rebentos, com a desinfestação do solo com cal comum (CESAVEG, 2008).


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Figura 139. Sintomas inicial e final na planta (A,B), danos na pinha e poda de sanidade para controle da doença tição. Fotos: CESAVEG, 2007, 2008, 2010 e Alberto J. Valencia Botín. Ponta seca (Fusarium sp e Alternaria sp.): Na lesão tem sido encontrado Fusarium sp e Alternaria sp. O dano inicial se observa pelo amarelecimento no ápice (ponta) das folhas novas, posteriormente ocorre a senescência e finalmente se formam anéis irregulares na folha (Figura 140). O uso contínuo de herbicidas e a presença de geadas propiciam o surgimento da ponta seca. Estratégias de manejo: Poda e aplicação de fungicidas de contato (CESAVEG, 2007).

Figura 140. Planta de agave atacada pela ponta seca. Fotos: Gil Virgen Calleros e CESAVEG, 2007.

Sarna (Elsinoe sp.): Na lesão tem sido encontrado o fungo Elsinoe sp. Os sintomas iniciais são perdas de turgência e descolorização das folhas. Posteriormente aparecem estrias ou enrugamentos que podem chegar a formar rachaduras (Figura 141). Em geral, a planta fica debilitada e reduz sua atividade fotossintética. É comum encontrar sua infestação em tempo seco. Estratégia de manejo: Restabelecer a umidade do solo e aplicação de fungicidas de contato (CESAVEG, 2007).


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Figura 141. Folha de agave com a doença de sarna. Fotos: CESAVEG, 2007.

Mancha marginal ou mucha foliar (Phoma sp, Alternaria (Elsinoe sp.) sp e Erwinia sp): Nas lesões têm sido encontrados fungos Phoma sp, Alternaria sp e Erwinia sp. Nas áreas danificadas podem ver pequenas áreas enegrecidas de ambas as faces das folhas rodeadas por uma borda amarelenta. Quando a infecção progride se formam manchas muito regulares nas bordas ou na parte média das folhas, que chegam a dobrar e partir a folha (Figura 142). A área infectada é uma fonte de podridão semi-seca, com a perda da capacidade fotossintética e área foliar. Seu surgimento é mais evidente na época de chuvas onde a lesão se torna aquosa com secreções avermelhadas. Geralmente as folhas velhas são as mais afetadas. Estratégias de manejo: Poda e aplicação de fungicidas de contato (CESAVEG, 2007).

Figura 142. Sintomas de marcha marginal ou murcha foliar do agave. Fotos: CESAVEG, 2007.

Cravo do rebento (Fusarium sp. e F. oxysporum): Na lesão tem sido encontrado o fungo Fusarium oxysporum. Ao separar os rebentos da planta-mãe e aparar o rizoma (corte da raiz), nota-se uma crosta de cor avermelhada (Figura 143).


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Estratégias de manejo: Quando o dano é leve, recomenda-se cortar a parte afetada e tratar o rebento com fungicidas sistémicos, mesmo assim é necessário identificá-lo e marcá-lo em campo. No caso de dano severo é melhor queimar e eliminar o rebento para evitar que a doença seja disseminada. Quando o rebento é barato é mais simples replantar do que tratá-lo (CESAVEG, 2007).

Figura 143. Sintomas de cravo no bulbo do rebento. Fotos: CESAVEG, 2007.

Antracnose (Colletotrichum sp, Botryodiplodia sp, Diplodia sp e Diplodinia sp.): Na lesão tem sido encontrado os fungos Colletotrichum sp, Botryodiplodia sp, Diplodia sp e Diplodinia sp. Sua manifestação ocorre na forma de manchas afundadas, círculos concêntricos e regulares (Figura 144). Produz cancros e morte descendentes. Quando o ataque é severo, a folha pode secar por completo, dando como resultado um tecido desgastado. Geralmente sua incidência ocorre nas folhas externas da planta. Para infestar exige condições de umidade no ambiente e dano mecânico. Estratégias de manejo: Evitar os danos mecânicos. Poda e aplicação de fungicidas de contato.

Figura 144. Danos da antracnose no rebento do agave (A) e esporulação do fungo (B). Fotos: CESAVEG, 2008.


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Mancha anular (Didymosphaeria sp e Nectria sp): Nas lesões têm sido encontrados fungos Didymosphaeria sp e Nectria sp. Esses fungos formam uma série de anéis concêntricos de cor avermelhado muito regulares. À medida que vão amadurecendo se tornam marrons (Figura 145). A doença afeta as folhas baixas e velhas e depois invade a folha saudável e a planta por completo. Para sua infestação requer condições de umidade. Estratégias de manejo: Poda e aplicação foliar de fungicidas de contato (CESAVEG, 2008).

Figura 145. Danos na folha do agave causado pela doença mancha anular. Fotos: CESAVEG, 2008.

Sintomas fisiológicos (Fatores abióticos e bióticos): Existem lesões causadas por estresse devido ao calor, umidade e nutrição etc., onde podem aparecer faixas de cores diferentes ou podridões secas com possível presença de microrganismos saprófitos, causando assim um falso diagnóstico (Figura 146). Estratégias de manejo: Tentar eliminar o estresse da planta. Nutrição do solo e foliar. Adicionar o cálcio à planta na forma de mistura bordalesa ou hidróxido de cálcio micronizado (CESAVEG, 2008). Na Tabela 10, encontram-se alguns fungicidas e bactericidas recomendados para o controle de doenças.

Figura 146. Danos na folha do agave causados pela doença mancha anular (A) e danos causados por geada (B). Fotos: CESAVEG, 2008 e Ramón Rubio Cortés (2007).


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Tabela 10. Alguns fungicidas e bactericidas usados no controle das principais doenças do agave azul. Ingrediente Ativo TCMTB +MTC

Formulação CE 20%

Iodo

PH 2%

0,8 a 1,2 kg/ha

Uso Contra a podridão do meristema foliar e podridão radical causada por Erwinia sp. Contra a podridão radical por F. sp. e podridão causada por Erwinia sp. Contra a podridão suave causada por Erwinia sp. Contra a podridão suave causada por Erwinia sp.

LS 2%

0,5 a 1,5 L/ha

Contra a podridão suave causada por Erwinia sp.

L 2%

Sulfato de cobre Sulfato gentamicina cloridrato oxitetraciclina Kasugamicina

SA 47% de + de

Doses 1,5 a 2 L/ha 1,5 L/200 L água 3 L/ha

Fonte: CESAVEG, 2008.

PODA DAS FOLHAS DO AGAVE A poda no agave é uma prática que consiste no corte do ápice das folhas e tem os seguintes objetivos: - Facilitar a manipulação dos rebentos; - Obter espaço entre fileiras para as manobras agrícolas, quando a densidade de plantio é alta; - Cortar seletivamente as folhas do agave que são atacadas por uma larva; - Eliminar tecidos mortos causados por fortes geadas, incêndios, início de enfermidades, queimaduras ocasionadas pelo uso de herbicidas ou por mordeduras do gado, a fim de evitar problemas de podridão.

Além de ser uma prática antiga e anual no México, o manejo constante de uma plantação de agave com seus espinhos obriga efetuar a poda para evitar que os trabalhadores sejam acidentados (VALENZUELA, 2003). Recomenda-se realizá-la com um facão bem afiado nos meses de junho e julho no município de Tequila, México (Figura 147). As ferramentas usadas na poda das folhas do agave azul devem ser desinfetadas com uma solução de cloro e água para evitar a não contaminação das plantas, principalmente quando as mesmas foram utilizadas em plantações doentes.


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Figura 147. Poda manual da planta do agave azul com auxílio de um facão.

De acordo com a idade da plantação e de suas condições, a prática da poda do agave recebe as seguintes denominações:

Poda de rebentos: Consiste em cortar as folhas basais dos rebentos, deixando descoberto o bulbo em 75%, visando facilitar sua posterior plantação e favorecendo sua manipulação. Cortam-se os ápices das folhas e algumas vezes até a ponta do escapo floral (Figura 148). A poda é realizada imediatamente após o arranque de rebentos, pois os produtores têm observado seus efeitos fisiológicos para o enraizamento (VALENZUELA, 2003).

Figura 148. Poda de rebentos nas folhas basais do bulbo e nas pontas das folhas apicais restantes.

Poda de acesso ou leve nas folhas: Quando a maior parte dos tratos culturais em benefício do agave era feito manualmente pelos operários de campo, então era necessário ter um espaço sobre a área de trânsito entre as fileiras. Ou seja, as capinas manuais nas culturas consorciadas eram facilitadas podando o agave. Atualmente, a operação de poda é necessária em plantações com altas densidades, em espaçamento entre fileiras de menos


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de dois metros, para que não fechem a passagem dos trabalhadores, devendo ser executada a partir do 3 ano (Figura 149). No caso de não efetuar tal prática, tornam inacessíveis com a idade das plantas. No campo com baixa densidade, usando o espaçamento acima de 3 metros, a poda pode ser dispensada, desde que não dificulte o arranque de rebentos e o acesso às máquinas agrícolas (VALENZUELA, 2003).

Figura 149. Poda de acesso para facilitar a movimentação de máquinas entre as fileiras do agave azul.

Podas fitossanitárias ou de eliminação de pragas: Durante muito tempo, as lagartas de broca (Agathymus rethon) foram uma praga muito frequente nas plantações de agave tequilero, principalmente nos campos em estado semiabandonados, sem um controle eficaz de plantas daninhas (Figura 150). O controle manual dessa praga é feito por meio de uma poda denominada de eliminadora de pragas, que consiste em cortar seletivamente apenas as folhas atacadas pela larva (VALENZUELA, 2003).

Figura 150. Campo semiabandonado de agave azul com folhas atacadas pelas lagartas da broca.


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Poda de recuperação: É realizada para eliminar tecidos mortos nas folhas e evitar problemas de podridão. Também essa poda ajuda a eliminar partes secas causadas por fortes geadas, incêndios, início de doenças, queimaduras químicas provocadas por herbicidas e danos de mordeduras do gado em pastoreio (VALENZUELA, 2003).

Poda de formação: São podas mais intensas, pois se corta uma maior área foliar e, dependendo da ocasião, até o escapo floral (VALENZUELA, 2003). Recomenda-se efetuá-la quando a planta está próxima de sua maturação. O objetivo é dar uma nova forma a planta para que ela venha receber maior quantidade de luz (Figura 151). Tais práticas são conhecidas por podas de farol, as quais realizam quando a planta tem de quatro a seis anos e quando houver um desenvolvimento excepcional do agave.

Figura 151. Poda de formação ou tipo farol (forma de buquê) realizada nas plantas de agave azul.

Podas de maturação: Trata-se de uma poda bem severa, a qual é realizada cortando as folhas pela metade, deixando-as de tamanho uniforme (Figura 152). Também é possível fazer a poda tipo farol, que consiste em cortar a parte superior das folhas, sendo maior nas folhas das extremidades e mais leve em direção as folhas internas ou superiores (LUNA, 1996). Uma vez realizada a atividade da poda (Tabela 11), alguns produtores usam um selador para cobrir sua ferida, utilizando-se a solução de sulfato de cobre pentahidratado para evitar infecções das folhas por fungos e bactérias. A poda de maturação do agave é efetuada um ano antes da sua colheita, quando a planta tem entre 6 a 8 anos de idade, de modo que essa atividade cultural irá promover o desenvolvimento


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do agave, principalmente concentrado a maior quantidade de açúcares na pinha (VALENZUELA, 2003).

Tabela 11. Diferente poda especialmente usada no Agave tequilana em função de sua intensidade e idade de cultivo. Diferentes podas Arranque dos rebentos da

Corte

Idade de cultivo

Eliminação das folhas basais e parte

3 a 5 anos

planta-mãe Poda dos rebentos

Poda de acesso as atividades

inferior do bulbo Folhas superiores para facilitar a

Rebentos usados para

manipulação dos rebentos

plantar

Corte nas pontas das folhas laterais da

Mais de 3 anos

agrícolas Poda fitossanitária

fileira Corte acentuado em todos os estratos

Mais de 2 anos

de folhas Poda de formação tipo farol

Na ponta leve nas folhas superiores e

Mais de 4 anos

mais acentuado nas folhas laterais da planta Poda de maturação

Muito acentuado na metade superior

Mais de 6 anos

da planta Fonte: Ana G. Valenzuela Zapata, 2003.

Figura 152. Na primeira planta do agave azul à direita, observa-se a poda severa realizada aos 6 anos de idade e, na segunda à esquerda, a poda do tipo farol que é drástica nas folhas das extremidades e leve nas folhas internas ou superiores.

No México considera que os benefícios produzidos pelo uso da poda no agave azul ainda não estão devidamente elucidados (PÉREZ, 1887). Alguns produtores admitem que a poda drástica no final do ciclo da planta seja viável, pois a planta adulta


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não podada, em estádio de maturação, tem a sua floração prolongada por mais tempo, em virtude de que suas folhas mudam de ângulo e vão competir por luz. Ao contrário, as plantas podadas drasticamente têm maior atividade fotossintética porque recebem mais luz (VALENZUELA, 1987). A poda severa não assegura que o peso da pinha e a sua quantidade de açúcares vão ser incrementados por planta, mas, certamente, o que acelera todo processo é a atividade fotossintética com complementação talvez da maturação. É importante alcançar essa maturação da pinha pelo fato de ser um atributo fisiológico obrigatório que vai refletir na qualidade do agave azul utilizado para produção de tequila (VALENZUELA, 2003).

DECEPAMENTO DO ESCAPO FLORAL OU INIBIÇÃO DA FLORAÇÃO Ao final do ciclo se reduz o desprendimento de folhas novas e o crescimento do tamanho da planta em geral. No talo se concentra a maior quantidade de matéria seca e frutanas. Mesmo no término do ciclo vegetativo do agave, o então surgimento de seu estádio reprodutivo, representado pelas etapas de floração, maturação e colheita, não vai ocorrer ao mesmo tempo em todas as plantas, em razão da heterogeneidade de tamanho de rebentos usados na plantação, que por sua vez influi na variação da floração (VALENZUELA, 2003).

O corte do escapo floral ou inflorescência é realizado somente em plantas adultas que começam a florescer, aproximadamente aos cinco anos de idade e quando alcança uma altura de 50 cm (Figura 153). Essa operação é também chamada de capação, a qual irá provocar a concentração de açúcares na pinha do agave. A planta sem escapo floral permanece em repouso durante vários meses, entre 12 a 24 meses, antes de iniciar a colheita ou jima da pinha. No caso de não efetuar a capação, a planta utiliza suas reservas na formação da inflorescência e quando ocorre sua floração, o agave morre (HERNÁNDEZ, 1997).


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Figura 153. Operação de corte do escapo floral realizada no México, em fevereiro e março, com a finalidade de evitar a perda de açúcares da planta do agave azul com 5 anos de idade. Foto: Ana G. Valenzuela Zapata, 2003.

Em épocas de maior oferta de rebentos de boa qualidade e tamanho, devem-se efetuar uma melhor seleção dos materiais que vão ser usados no plantio para que todas as plantas venham a florescer ao mesmo tempo, ou seja, no mesmo ano. Por outro lado, quando se instala uma plantação com várias plantas mescladas, oriundas de rebentos de diferentes tamanhos, procedências e idade de plantas-mães, o resultado final será uma alta variabilidade em desenvolvimento e tempo de colheita, além de influenciar no alongamento do ciclo de cultivo (VALENZUELA, 2003).

A pinha representa o rendimento agronômico no cultivo do agave azul e pode ser perdido se a planta consegue florescer, deixando de ser útil para a produção de tequila. Portanto, é importante inibir a sua floração, decepando o escapo floral desde sua base para que não rebrote, evitando assim que a planta use sua reserva de açúcares em flores e frutos (Figura 154). O corte se faz manualmente com as ferramentas coa (de cortar a pinha) e facão. O processo de maturação da planta, sem escapo floral, pode durar um ano, mas este período pode variar dependendo da região em que se encontra o cultivo, como: em zona quente, a maturação da pinha ocorre com menos de sete meses, mas se o clima é moderadamente frio, é necessário mais um ano para alcançar a maturação desejada (VALENZUELA, 2003).


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Figura 154. Detalhe do ponto de inserção do escapo floral na parte interna da pinha do Agave tequilana.

Vale frisar que os escapos florais tenros podem ser comidos como verdura, pois seu sabor é parecido a jícama (tubérculo mexicano). Também podem ser assados ou cozidos em forno quando são mais maduros e então têm um sabor doce. Por se tratar de um costume ancestral no México, portanto, nos campos de agave existem os cortadores furtivos. Outro fato de destaque é que alguns produtores tequileros conseguem controlar as plantas daninhas durante os primeiros quatro anos, sendo que depois desta data, os campos, com plantas adultas com mais de cinco anos de idade, ficam semiabandonados (sem capina; VALENZUELA, 2003).

DETERMINAÇÃO DA MATURAÇÃO: PONTO DE CORTE Quando se aproxima da época de colheita, as plantas de agave de distintas espécies apresentam umas séries de manifestações de carácter fenológico, as quais são notórias pela simple visualizações. Os principais indicadores ou sintomas são:

1. A floração do agave é indício de que o ciclo da planta está por terminar, sendo considerado o primeiro sintoma de sua maturação. Além disso, ocorrem algumas mudanças visuais importantes que poderão definir o ponto de corte ou colheita. Ou seja, em razão da área plantada em cada parcelão ter sido originada por rebentos de mesmo tamanho e idade de arranque, por exemplo, de 4 anos, então na prática a planta adulta do agave azul irá atingir a sua maturação no melhor dos casos aos 7 ou 8 anos. Portanto, alguns produtores de agave não procedem ao corte do escapo floral de algumas plantas em cada parcelão uniforme, as quais vão entrar em floração e serão usadas como


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referências ao processo de maturação para definir o ponto do corte das demais plantas que tiveram o seu escapo floral decepado (VALENZUELA, 2003; Figura 155).

Figura 155. A manutenção de algumas plantas em estádio de floração (sem cortar o seu escapo floral) serve como indicativo do ponto de maturação do agave azul e, consequentemente, do início da colheita da pinha das demais plantas decepadas.

2. Uma vez alcançada à maturação nos meses secos, a planta apresenta uma característica marcante por começar a reduzir o tamanho de suas folhas no escapo floral ou centro, tornando-as menores e numerosas pelo crescimento de uma inflorescência chamada eixo floral (CASTILLO, 2006; Figura 156). Esse escapo floral cresce rapidamente e consome todos os açúcares que se acumularam durante anos, portanto, recomenda-se que o mesmo seja cortado, chamando tal operação de decepamento do escapo floral.

Figura 156. Meristema foliar ou apical do agave azul no centro da folhagem, também denominada de roseta, onde o escapo floral é emitido geralmente a partir do quinto ano.


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3. Outra característica indicadora da maturação do agave é observada pela mudança das folhas que deixa de ficar em posição de ângulo agudo, em relação ao talo, e passam a assumir um ângulo reto. Esta condição é mencionada pelo produtor, que normalmente assegura que sua plantação está baixando, pois, as folhas ao se inclinarem dar a impressão de uma planta menor (RAYA, 2003; Figura 157). Em outras ocasiões, o meristema foliar ou roseta é reduzido a um mínimo, isto é, se fecha em torno do eixo floral. Isso faz com que todas as reservas se acumulam nas folhas, inchando-as e agrupando-se entre si, adquirindo assim a cor de marrom avermelhado. Outro sinal é que pode aparecer mel sobre a superfície das folhas.

Figura 157. Folhas em posição de ângulo agudo em relação ao talo da planta (A) e folhas rebaixadas, quando a pinha atinge sua maturação (B). Foto: M. Pio Corrêa.

4. Ao alcançar a plantação do agave os sete anos de idade iniciam-se a prática de colheita das plantas que amadurecem mais rapidamente, mas somente no oitavo ano é que quase 95% das plantas estão plenamente amadurecidas para a colheita. Uma vez finalizada toda colheita, em questão de alguns meses, de imediato ocorre à entrada das máquinas agrícolas para preparar novamente o campo para a seguinte temporada de cultivo (RAYA, 2003).

5. Outro fenômeno importante é quando o agave lança o seu escapo floral que também é um sintoma de maturação e está estabelecido que, após os dozes meses de sua eliminação (decepação do escapo floral ocorre aos 5 anos), a planta reúne as melhores condições para


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produzir tequila. Algumas empresas de destilaria utilizam de imediato a pinha da planta, logo após o processo de decepamento do escapo floral, para obter um produto com sabor diferenciado e característico de sua marca (RAYA, 2003).

MATURAÇÃO IDEAL PARA A INDÚSTRIA DE TEQUILA Para a espécie Agave tequilana a maturação fisiológica da planta não é a mesma que a maduração ideal para a indústria de tequila. Durante o processo de maturação se concentram na pinha do agave reservas de umidade e açúcares que estavam destinadas ao estádio de floração (decepamento do escapo floral), então é desencadeado um processo de ruptura das grandes moléculas de açúcares (polissacarídeos) acumuladas na pinha. A maturação ideal é um conceito que varia segundo as destilarias de tequila e, consequentemente, os produtores da matéria prima. Teoricamente, a maturação ótima seria aquela com a qual se obtém a melhor qualidade na tequila, de maneira que suas características organoléticas sejam mantidas em elevado grau ao atingir o estádio de maturação da pinha do agave (VALENZUELA, 2003).

Tradicionalmente, as características que mais prevalecem para identificar a maturação levam em conta que o agave deveria estar inchado na base das folhas, com amarelecimentos e manchas avermelhadas. As mudanças de coloração devem ser de uma maturação real e não provocadas por pragas e doenças. Essas mudanças somente aparecem em plantas em que os escapos florais foram decepados. O agave de qualidade deve passar ao menos seis meses em campo, depois do corte do seu escapo floral (VALENZUELA, 2003).

PLANTAS ÉSTERES (SEM ESCAPO FLORAL) E SUA MATURAÇÃO Para as plantas de agave que não florescem, isto é, que não emitem os escapos florais são conhecidas no México com o nome popular de novilhos. Na atualidade ainda não foi totalmente esclarecido que essa característica se deve aos fatores ambientais, os quais são definidos principalmente por clima e solo, ou se é uma variabilidade genética que determina a esterilidade. Além de dispensar o corte do escapo floral, os agaves novilhos não apresentam perdas de açúcares, pois seu processo de maturação é continuo e rápido. Na planta novilha, a parte relacionada ao meristema floral ou roseta apresenta uma depressão ou afundamento, sendo que tal anomalia impede o crescimento do escapo floral. Também ocorrem mudanças de coloração da pinha. Ao realizar um corte na


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pequena roseta do agave novilho, observa-se a forma de uma estrela nos tecidos foliares. A presença desse sinal é considerada como um ponto de maturação adequada para o agave azul novilho (VALENZUELA, 2003).

ERRADICAÇÃO DOS REBENTOS Os rebentos desenvolvem-se por meio da assimilação de substâncias nutritivas elaboradas pela planta-mãe. Para evitar o carreamento dessas substâncias em atividades não produtivas, é necessária a erradicação sistemática dos rebentos, que deve ocorrer sempre após o quinto ano de idade do agave azul. Esta prática é importante porque o crescimento desordenado dos rebentos acarreta problemas na lavoura, dificultando a circulação dos trabalhadores nas operações de capinas e colheita.

A erradicação é feita através do roço manual ou por meio do enxadão ou roçadeira mecânica acoplada ao trator. O roço, que consiste no corte do rebento próximo ao solo, permite o seu rebrotamento após algum tempo.

COLHEITA DA PINHA OU CORTE DA PLANTA A colheita do agave consiste em cortar a planta e suas folhas dando forma a um corpo ovoide que é a pinha ou “cabeça”. “O processo da colheita do agave se denomina ‘jima”, que inicia ao separar a planta de agave de sua raiz ao nível do colo de seu talo. A pinha é o rendimento agronômico do cultivo e é composta por um talo e bainha das folhas. A ‘jima” é realizada nas primeiras horas da manhã e não existe uma época adequada para esse trabalho, podendo ser feito durante todo o ano (VALENZUELA, 2003).

A partir do sexto ano, recomenda-se a colheita do agave, dependendo dos cuidados que tenha recebido a lavoura, o tipo de solo, clima e tamanho dos rebentos quando foi estabelecido etc. Ao mesmo tempo, algumas características das plantas já começam a aparecer, como a emissão de folhas menores a partir do meristema foliar, engrossamento ou inchamento da base das folhas e as folhas se tornam um pouco amareladas. Em seguida, começam a emitir sua inflorescência, que é o sinal de que o agave está maduro e pronto para ser colhido. Ao atingir a maturação, o agave está pronto para ser colhido, mesmo assim a planta deverá ser monitorada por meio de um refratômetro de avaliação do teor de açúcares de algumas plantas cultivadas e assim poder estimar melhor a quantidade de plantas agroindustialmente viáveis (COTA, 2011).


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A colheita é determinada pela maturidade da agaveicultura, a qual pode ser iniciada a partir dos 6 a 7 anos de idade da planta e pode durar quase 4 anos. Em virtude das plantas não amadurecem uniformemente, durante o primeiro ano de colheita se extrai apenas 15% da totalidade da plantação em condições de maturação e, por se tratar de uma colheita parcial, é denominada de seletiva. No segundo e terceiro, calcula-se que a colheita pode chegar a 65% e o último ano é colhido os 20% restante. Essa colheita no quarto ano é chamada de arraste. Em geral, estima-se que o ciclo de vida do campo de agave apresenta uma duração de 7 a 10 anos ou no máximo 14 anos. O fato de existir um ciclo bastante variável não significa dizer que seja influência de diferentes regiões, mas tal situação pode suceder dentro da mesma plantação. Para a região de Tequila, México, o início da colheita pode ser de 6 ou 7 anos e sua duração pode levar até 4 anos. Ou seja, quando as colheitas são iniciadas no sexto e sétimo ano, então os ciclos totais do agave são 9 e 10 anos, respectivamente (RAYA, 2003; VALENZUELA, 2003).

A colheita é realizada com menor frequência na temporada de chuvas, pois a água absorvida pela planta provoca uma redução de açúcares nas pinhas e são rejeitadas pela indústria por não alcançar o teor mínimo estabelecido para seu processamento e quando chega a aceitar tal produto, é por um baixo preço. Por outro lado, os produtores de agave acreditam que o aumento do peso das pinhas (em razão da planta absorver mais água) representa uma vantagem na sua comercialização, apesar de que a redução de açúcares nas pinhas não seja conveniente para a produção de tequila (RAYA, 2003).

A operação de colheita é efetivada por uma equipe experiente de cortadores de agave ou ‘jimadores”. O número de trabalhadores que integram as equipes é bastante variável, sendo entre 20 a 30 pessoas (Figura 158). As equipes são formadas por transportadores, carregadores e cortadores ou jimadores. Seus conhecimentos práticos sobre o agave azul são herdados e passados de pais para filhos, inclusive em algumas plantações no México, na época de colheita, se reúnem até três gerações de jimadores de uma mesma família. Um cortador ou jimador de agave poderá colher de 3 a 3,5 ton, dentro de uma jornada de trabalho. Estima-se que uma equipe de jimadores (20) pode colher 40 ou 50 toneladas de pinhas por dia. Para o agricultor mexicano, nesse tipo de atividade é cobrado um valor não muito expressivo, quando se trata de plantação com espaçamento amplo, pois se trabalha de forma mais confortável, o trabalho é mais reduzido e a colheita


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ou jima é feita de forma mais eficiente. (RAYA, 2003; VALENZUELA, 2003; COTA, 2011).

Figura 158. Na plantação do agave azul, a equipe de cortadores o jimadores procura, em primeiro lugar, identificar as plantas amadurecidas para executar sua colheita.

Colheita manual: A operação de corte do agave azul (jima) no México é realizada por meio de uma ferramenta semicircular de ferro de 15 a 20 cm de diâmetro, a qual é chamada de coa, e que tem um cabo de madeira. Sua lâmina semicircular é totalmente afiada, além de ser constantemente amolada com um triângulo metálico, para cortar e separar a parte da planta da sua raiz e para eliminar as folhas da pinha, visando deixá-la totalmente livre (Figura 159). O operário que realiza esse processo é chamado de jimador ou cortador (RAYA, 2003; VALENZUELA, 2003; COTA, 2011; Figura 160).


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Figura 159. A ferramenta coa sendo amolada e usada pelo cortador ou jimador na colheita do agave azul.

Figura 160. Um jimador ou cortador de agave azul que transfere a tradição para as novas gerações no México.

Mediante o uso da prática de poda, inicialmente as folhas são cortadas pela metade para eliminar os espinhos e, ao mesmo tempo, abre-se um pequeno espaço livre de folhas no talo (Figura 161). Posteriormente, o jimador com o pé fica pressionando a parte do talo desfolhada e também fica golpeando o colo da planta com a ferramenta coa, pois, as tais ações conjuntas permitem separar a raiz do talo e derrubar o agave (Figura 162). Uma vez a planta derrubada, o jimador procede ao corte com a ferramenta coa de cada uma das folhas pela base de inserção no talo, deixando descoberta uma bola formada de tecidos fibrosos, estruturalmente muito fortes (Figura 163), a qual contém uma grande quantidade de água e açúcares, sendo denominada de pinha (RAYA, 2003).


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Figura 161. Inicialmente, o cortador introduz, no meio da planta de agave, a ferramenta coa para poda algumas folhas pela metade, tentando assim se livrar dos espinhos e evitar acidentes de trabalho durante a colheita.

Figura 162. Uma vez abrindo um pequeno espaço livre de folhas no talo, o cortador de agave com um pÊ, tendo uma perna protegida por perneira, pressiona na parte desfolhada do talo para separar a raiz do talo da planta de agave azul.


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Figura 163. Na colheita do agave azul, o cortador arranca o agave com auxílio da ferramenta coa, golpeando o colo da planta e, ao mesmo tempo, faz pressão com o pé no espaço livre do talo. Com a pinha totalmente desprovida de folhas, termina praticamente a operação de colheita (RAYA, 2003; Figuras 164 e 165). Nessa fase final de ciclo do agave terá que levar em consideração outras atividades de trabalho, como a de carregamento das pinhas ao caminhão e seu transporte, além do frete, para à destilaria. A elaboração da tequila se realiza unicamente da parte central (pinha) da planta do agave azul, onde se concentra a maior quantidade de açúcares.

Figura 164. Cada folha da pinha do agave azul é eliminada na base de inserção do talo para deixá-la no final totalmente desprovida de folhas.


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Figura 165. Pinhas do agave azul desprovidas de folhas e prontas para serem transportadas à destilaria. Foto: E.D.H., 2015

Colheita mecanizada: O baixo nível tecnológico adotado na colheita do Agave tequilana tem restringido a capacidade de produção de qualquer empresa industrial. Atualmente, sua colheita manual requer ainda a utilização de uma ferramenta rudimentar, denominada de coa, a qual demanda bastante mão-de-obra humana qualificada (20 a 30 cortadores) para que os processos de colheita e transporte sejam efetivados com eficiência em poucas horas ou dentro de uma jornada de trabalho. Para solucionar tal problema, idealizou-se um protótipo patenteado de colheita mecanizada do agave por Robles et al. (2012), visando reduzir os custos de produção.

O protótipo da máquina colhedora de agave é composto por três componentes principais: um mecanismo forçador ou forquilha que levanta e corta a planta em suas raizes, um transportador inclinado com ganchos, e um cilindro contendo lâminas para cortar as folhas. Estes componentes podem ser acionados a um trator convencional ou um veículo automotriz (Figura 166). O tambor rotatório facilita e agiliza os processos de corte da planta e eliminação das folhas. A invenção também torna os processos de colheita ou "jima" mais eficiente, por permitir que a máquina realize a operação de forma contínua e mais rápida ao longo das fileiras de agave em campo.


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Figura 166. Protótipo de uma colheitadeira mecanizada para o Agave tequilana quando a planta atinge sua maturação. Foto: Noé Saldaña Robles et al., 2012.

Entretanto, para desenvolver um protótipo de uma máquina colhedora é indispensável obter alguns informações sobre as propriedades físicas da planta de agave, como tamanho, peso, densidade de plantio, forças e velocidades necessárias para realizar satisfatoriamente as operações de corte, extração, separação, fatiamento etc,. Uma vez com todos os dados obtidos, é possível determinar a dimensão da máquina e das demais estruturais requeridas, assim como estimar a potência necessária para seu acionamento. Também seria importante a abertura de valetas entre as fileiras com implemento sulcador (Figura 167), a qual é uma prática tradicionalmente usada na lavoura de agave, para facilitar que a forquilha da colhedora penetre no solo para cortar a raiz da planta.

Figura 167. Abertura de valetas entre as fileiras de agave com o implemento sulcador para facilitar a penetração da forquilha da colhetadeira mecanizada.


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Outra forma de colheita mecanizada do agave poderia ser realizada em duas etapas. Na primeira etapa usaria um trator que tem um implemento de garra hidráulica para prender e arrancar a planta inteira e, ao mesmo tempo, um outro implemento frontal da máquina seria empurrado para cortar a raiz junto ao solo (Figura 168). Por não possui uma raiz muito profunda (Figura 169), a execução de tal operação não requeria bastante força do trator. Na segunda etapa, a planta livre, deixada no campo, iria ser atracada e arrastada para o interior de um tambor rotatório, onde as folhas seriam cortadas por meio de lâminas móveis e fixas. Outra alternativa seria a própria garra hidráulica pegar a planta inteira sem raiz e alimentar diretamente o tambor rotatório. A estrutura do tambor pode inclina-se de 15 a 45 º com relação à posição horizontal (Figura 170). O ângulo (ou inclinação) proporcionado definiria o tempo de permanência do agave no interior do tambor e, como resultado esperado, obteria o pleno processo de corte das folhas. Esse mecanismo do tambor seria acionado pela tomada de força do trator.

Figura 168. Trator que possui garra hidráulica para prende a planta e no implemento frontal poderia ser adaptado uma lâmina cortadora para atingir a raiz da planta.


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Figura 169. Detalhe do pequeno tamanho da raiz do agave e uma demonstração de que a planta inteira pode ser arrancada pelo trator. Fotos: Alberto Saldaña Robles et al., 2012.

Figura 170. Acionado pelo trator, a planta é arrastada e introduzida no tambor rotatório para cortar as folhas e liberar a pinha. Foto: Adaptação de Sérgio Cobel e Arquivo do CIATEJ, Jalisco México.

TRANSPORTE As pinhas são transportadas até o veículo, que comumente é um trator com carroção pela dificuldade de acesso ao terreno em que o agave foi plantado (Figura 171). São acomodados no carroção pelos carregadores sem se importar com seu tamanho, pois são bastante grandes e resistentes para suportar qualquer peso. As pinhas colhidas são transportadas por lombo de animais ou camionetas ou caminhões até as fábricas de destilaria (Figura 172). Os trabalhos de carga e descarga são feitos manualmente. Também tem a opção de a matéria-prima ser carregada diretamente para uma pá


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carregadora tratorizada (Figura 173), a qual irá descarga as pinhas com maior rapidez no caminhão que fica posicionado na parte externa da plantação de agave.

Figura 171. Pinhas colhidas que são carregadas para um carroção atrelado ao trator e depois são descarregadas e apilhadas no caminhão, que fica posicionado na parte externa do campo de agave. Foto: Maria Dolores García Suárez e Héctor Serrano (2012)

Figura 172. Pinhas de agave sendo transportadas em lombo de animal.


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Figura 173. Carregamento manual de pinhas de agave diretamente para uma pá carregadora acoplada ao trator que são descarregas manualmente no caminhão estacionado na parte externa do campo.

Para a indústria é primordial que, além de contar com ajuda de um fornecedor de agave que seja capaz de atender sufientemente sua demanda, tenha um serviço eficiente de transporte na zona produtora, juntamente com a infraestrutura rodoviária criada pelo governo, necessários para acessar e extrair o produto em qualquer época do ano. Praticamente, a colheita de pinha do agave azul fica encerrada na época de chuvas, devido à dificuldade de acesso as áreas plantadas. Dependendo do desenvolvimento da planta de agave, uma tonelada de agave corresponde entre 30 e 50 pinhas, enquando um caminhão pode transportar 18 ton. ou mais (Figura 174). O teor de açúcares da pinha é o único fator limitante que existe no momento da recepção pela indústria tequilana. Pois, no México foi estabelecido que a quantidade normal seja no mínimo de 25% da massa da pinha em açúcares de redutores totais. Vale destacar que durante o inverno o teor de açúcares fica reduzido na pinha, sendo mais concentrado no período de estiagem.

Figura 174. Caminhão caçamba transportando pinhas de agave para a indústria de destilaria, por permitir espalhar lentamente as pinhas na quadra cimentada próxima as autoclaves.


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Recomenda-se não cortar o agave imaturo, mesmo assim alguns produtores o fazem nessa fase, pois as pinhas ainda apresentam baixo teor de açúcares e, por consequência, pode gerar altas concentrações de metanol no processo de destilação, afetando as características organoléticas da bebida tequila. Por outro lado, a empresa produtora de agave, e ao mesmo tempo dono da destilaria, executa o corte de plantas, de forma planejada, com base na quantidade de pinhas que seja proporcional com a capacidade das autoclaves (Figura 175). Uma vez transportadas para a destilaria, às pinhas deverão ser descarregadas nas proximidades das autoclaves sobre uma superfície limpa (quadra cimentada) e livre de resíduos (Figura 176). Além disso, as pinhas não poderão permanecer mais do que 24 h na quadra cimentada após sua colheita, para evitar sua exposição a agentes contaminantes ou pode iniciar o desenvolvimento de fungos e outros microrganismos que vão afetar sua qualidade. Ou seja, após terminar o corte das plantas numa jornada de trabalho por 20 jimadores ou cortadores, logo no outro dia todas as pinhas já deverão ser cozidas nas autoclaves.

Figura 175. Uma vez colhidas numa só jornada de trabalho, as pinhas são transportadas imediatamente para a destilaria e sua quantidade deverá ser proporcional a capacidade das autoclaves.


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Figura 176. Próximo ao forno ou autoclave, a quadra de cimento está bastante limpa para receber as pinhas provenientes do campo.

Na colheita, alguns produtores mantêm a pinha inteira até a destilaria, mas a maioria vai cortá-la com machado em duas ou quatro bandas para depositá-las no interior das autoclaves ou fornos (Figura 177). Com suas bandas cortadas, verifica-se internamente o ponto de inserção do escapo floral, o qual é considerado o topo da pinha por ser a zona periférica do meristema apical. Também é a zona do meristema foliar ou roseta, onde se formam as folhas (Figura 178). A parte da roseta é muito cerosa e, portanto, pode ocasionar um sabor muito amargo para o produto destilado.


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Figura 177. Alimentação por esteira e arrumação da autoclave com bandas de pinhas sem deixar espaços. Foto: Mona Mattei.


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Figura 178. Detalhes do meristema apical ou roseta do agave (A) e ponto de inserção do escapo floral (parte amarelada) na parte interna da pinha do Agave tequilana (B; C; D).

ROTAÇÃO DE CULTURAS A recomendação tradicional de manejo dos campos de agave azul, após a última colheita de arraste das pinhas, é deixar descançar a área por um intervalo de um ano ou realizar a rotação de culturas. Caso contrário, quando a mesma área esgotada é utilizada de imediato para ser plantada com agave azul pode haver sérios problemas de fertilidade dos solos e de frequente infestação de pragas. Por outro lado, o destroncamento consiste em desenterrar os talos subterrâneos, o qual é efetuado depois da colheita, pois é importante seu aranquio quando se pretende plantar novamente as áreas empresáriais recém-colhidas (VALENZUELA, 2O03).

NORMATIZAÇÃO DO MÉXICO: RASTREABIBIDADE DA PRODUÇÃO DE TEQUILA O agave, destinado à produção de tequila, é uma das poucas espécies com denominação de origem que conta o México. Foi necessário criar uma norma específica de que a bebida tequila deve ser elaborada apenas do Agave tequilana Weber, variedade


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Azul, que seu cultivo seja efetuado dentro da área zoneada e autorizada para tal fim, que a pinha da planta esteja totalmente madura na época de sua colheita e que o campo de produção esteja registrado oficialmente.

O órgão encarregado pelo cumprimento das normas é o Conselho Regulador da Tequila (C.R.T.), que conta com um fiscal para atender por cada empresa (total 139). Como nem toda empresa de destilaria opera no mesmo período, então o número de fiscais não é igual ao das destilarias existentes. Ademais, algumas empresas trabalham somente três meses ao ano, e a maioria suspende por um mês todo funcionamento da empresa para efetuar manutenção dos equipamentos.

Para evitar qualquer bebida adulterada, é de suma importância que o fiscal seja mantido na indústria para poder fiscalizar in situ e determinar a autenticidade do produto final. Além disso, cabe ao fiscal verificar o balancete ou fluxo de material, controle de qualidade, registros etc. Esse controle de informação deve coincidir com os dados de campo, ou seja, se uma carga com 300 pinhas chega à indústria, então na base de dados da planilha do fiscal deve constar essa quantidade como existente de plantas de agave madura para sua industrialização. Uma vez identificada, tal quantidade deve ser deduzida e atualizada em sua planilha.

Há caso em que o fiscal tem o número de plantas de agave existentes nas áreas cultivadas pela empresa e também de seus cooperados registrados, porém o mesmo não dispõe de informações quanto ao seu período de colheita. Para manter o controle da situação, sua única saída é consultar os arquivos dos registros obrigatórios dos campos desde seu plantio. Por outro lado, deve-se evitar a autorização de plantio do agave azul fora do programa de zoneamento ecológico, de modo que o Agave tequilana seja estabelecido apenas nas zonas consideradas como seu habitat natural.

O Conselho Regulador da Tequila (C.R.T.) também utiliza de imagens de satélite para localização de terra sob cultivo do agave, quantificação de sua superfície, estimação do número de plantas etc. Estes dados gerados se baseiam em imagens de satélite, mapas, fotografias aéreas, e um software específico para o tratamento de imagem, além de um processo de interpretação para identificar e selecionar melhor as propriedades. Com as áreas delineadas por cada empresa, calcula-se a área ocupada pelo agave.


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O objetivo do CRT é comparar, atualizar e aperfeiçoar as informações coletadas das imagens geradas por satélite com as de campo, no intervalo de cada seis meses. Ao mesmo tempo, essas imagens de satélites são confrontadas com quaisquer variações ocorridas na superfície ocupada com o referido cultivo. Com base no cadastro geral é feito uma revisão do cultivo do agave por empresa, para conseguir registrar todas as idades das plantas e também a existência de cada intervalo de idade. Assim é criado um banco de dados controlados pelo conselho, contendo a seguinte informação geral de cada empresa: nome do proprietário, nome da empresa, números de plantas cultivadas e dos cooperados registrados, área plantada (com declive ou plana), ano de plantação, idade, desenvolvimento satisfatório da cultura, estimativa de produção, pacote tecnológico utilizado, se usa fertilizante ou adubo orgânico etc, sendo tal conjunto de informações obtido diretamente em campo. Além disso, toda informação gerada pelo CRT é armazenada num cartão magnético codificado para o acesso de cada produtor ou industrial. É importante destacar que o registro na base de dados é atualizado a cada 24 horas, após sofrer, por exemplo, qualquer alteração durante a colheita do agave.

Problemas no sistema do produto agave As crises no sistema do produto agave tequila podem ocorrer quando há escassez da planta tequilera, como sucedeu no período de 1960 a 1980 nas regiões produtoras mexicanas, inclusive algumas fábricas foram fechadas e, em tais condições, as indústrias ainda controlam o mercado do agave. A partir de 1980, incrementou-se o cultivo sem nenhum ordenamento dos plantios e cadastros junto ao Conselho Regulador de Tequila (CRT), por não considerar a demanda por parte da indústria, o que provocou um excesso de produção em 1995. Essas produções descontroladas causaram fortes repercussões econômicas e sociais no sistema do agave tequila, provocando também desestímulo no seu cultivo, em conjunto com a presença inusitada de fenômenos naturais como: nevada, geada e incêndios, o que resultou novamente na mais recente crise registrada entre o período de 2000 a 2005. Uma das respostas locais à crise de preço das pinhas de agave tem sido o aumento no estabelecimento de destilarias. Por outro lado, com base no cadastro do agave tequilero registrado no Conselho Regulador de Tequila (CRT) no que se refere ao ano de colheita, a capacidade instalada da indústria tequilera, o tamanho da empresa tequilera, a capacidade de produção e a eficiência de uso do agave tequilero, é possível determinar a quantidade de plantas requeridas e ano de plantação para cada tamanho de empresa produtora de tequila (GERRITSEN et al., 2011). Mesmo assim, um


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dos maiores problemas enfrentados pelos produtores mexicanos de agave é a venda da sua produção de pinha para as indústrias, as quais estabelecem seu valor de compra numa relação bastante ríspida, caracterizando assim uma estrutura de oligopsônio, ou seja, o maior poder de mercado está no comprador (MACÍAS; VALENZUELA, 2009). Os agricultores agaveros associados ou independentes estabelecem seu plantio sem existir praticamente nenhuma relação ou união prévia com os industriais, mas, em alguns casos, eles poderão estar relacionados com a empresa, ou com o representante da filial da empresa ou por amizade entre as famílias de tequilero. Através do Conselho Regulador de Tequila (C.R.T.) de cada estado produtor do agave azul do México poderia ser estabelecido o cálculo do preço da pinha com base na produção esperada da área cultivada da região e na sua qualidade determinada pelos teores de açúcares redutores totais. Portanto, as classificações do tamanho das empresas tequileras mexicanas são distribuidas em percentuais, conforme suas demandas pela matéria-prima, tais como: 40% são grandes empresas com base na produção total da tequila; 25% medianas; 25% pequenas e 10% microempresas (GERRITSEN et al., 2011). Nos sistemas de produção particular no México existem agricultores que se vinculam diretamente com as empresas tequileras, mediante contratos de arrendamento. As vantagens proporcionadas pelo contrato são: o benefício do mercado e a segurança econômica, especialmente para os agricultores que não contam com capital suficiente para investir no plantio do agave azul. Ou seja, o preço do agave pode ser muito variável, enquanto os contratos representam um tipo de seguro contra essa volatizacão de mercado. O outro aspecto importante é que essa modalidade de contrato se baseia na transferência de pacotes de tecnologia, os quais deverão ser apropriados pelos agricultores (BOWEN; GERRITSEN, 2007; GERRITSEN et al., 2011). Atualmente, o contrato da empresa tequilera oferece uma renda anual ao agricultor arrendante o equivalente ao valor de duas toneladas de milho por ano (preço mínimo de 1.300 pesos por tonelada) por hectare plantado com agave azul e também dá ao agricultor uma participação da colheita total de um máximo de até 3% na época do corte da planta de agave (GERRITSEN; MARTINEZ, 2010).

CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO DE PINHAS O organismo que controla e regula a produção de tequila no México é denominado de Conselho Regulador de Tequila (C.R.T.). Cabe ao CRT conceder aos produtores de


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agave os certificados para que possam ser cooperados e fornecedores da indústria de tequila. Também sua missão é supervisionar as indústrias para que sejam cumpridas às normas estabelecidas na produção de tequila. Por outro lado, os canais de comercialização das pinhas de agave na maioria dos casos são controlados pelos industriais ou pelos intermediários, os quais celebram diversos acordos com os produtores. O modelo mais usual encontrado no México é o do industrial possui cultivos próprios, mesmo assim requer a produção de fornecedores externos para atender toda sua demanda. De acordo com suas necessidades, as indústrias mexicanas calculam uma quantidade mínima de abastecimento externo que deve ser assegurada mediante a compra adiantada de plantações que se encontram em avançado estádio de desenvolvimento ou firmam contratos com os produtores para que sejam seus fornecedores. A compra de plantações efetuada pelos industriais geralmente se realiza com a planta ainda em pé, ou seja, o empresário oferece um valor pela colheita da pinha do agave azul de acordo com o preço praticado pelo mercado. Uma vez que a negociação é consolidada entre ambos, as operações de extração das plantas vão sucedendo no campo conforme as pinhas alcançam sua maturação (GARCÍA, 1997; CRT, 1999).

Outra forma de comercialização é através de intermediários, os quais compram de diferentes produtores as pinhas de agave que alcançaram sua maturação e as revendem na indústria. Esse esquema está muito difundido no México devido à falta de interesse dos produtores de agave em se inscreverem junto ao Conselho Regulador de Tequila (C.R.T.). Na produção do agave é muito comum a criação de parcerias, pois tal esquema estabelece que o produtor vá aportar a terra e a mão-de-obra, enquanto o industrial ou o intermediário irá prover os recursos necessários para o bom desenvolvimento da plantação. No caso dos rebentos de quatro anos de vida da plantação, geralmente são de propriedade do industrial para usá-los no plantio de seus novos terrenos, além disso, é uma forma de recuperar parte do seu investimento feito na plantação arrendada. Os rebentos que brotam nos anos seguintes são do proprietário da terra. Há caso de variação no valor da percentagem durante a negociação entre produtor e industrial, a distribuição do agave que atinge a maturação poderá ser de 30% para o industrial e o resto para o produtor (70%). Também a porcentagem poderá variar em função das condições do terreno, que são as características determinantes para o bom desenvolvimento e produtividade do agave, tais como: topografia (relevo), orientação da plantação, qualidade do solo, profundidade,


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textura, permeabilidade, quantidade de afloramento de pedras no terreno, etc (GARCÍA, 1997; CRT, 1999).

RELAÇÃO ENTRE PRODUÇÃO DE TEQUILA X CONSUMO DA MATÉRIAPRIMA Existem dois tipos de tequila: tequila 100% e tequila mista (até 51% de tequila). No primeiro caso, todo o açúcar que é utilizado para produzir a bebida é de agave e, no segundo caso, a quantidade de 51% do açúcar é de agave e o resto pode ser qualquer outro açúcar. A tequila 100% não tem a permissão para ser exportado a granel (apenas engarrafada), enquanto que a tequila 51% tem a permissão para ser exportado a granel e ser engarrafado no local de destino da exportação. Sua produção tem conservado uma tendência de crescimento no mercado nacional mexicano e de exportação, embora tenha apresentado amplas oscilações a partir da década de oitenta. Do total de tequila exportada em 2005, o 88% foi para os Estados Unidos, o 9% se distribuiu em países europeus e Canadá e o 3% no resto do mundo. De acordo com o Conselho Regulador de Tequila de México (2006), a agroindústria mexicana de tequila, durante o período compreendido de janeiro a dezembro de 2005, produziu o equivalente a 71,3 milhões de litros de tequila, para o qual foram necessárias 250 mil toneladas de pinhas de agave como matéria-prima, sendo que a quantidade total de 54% da tequila produzida foi exportada. Dentro das exportações mexicanas da indústria de bebidas alcoólicas, a tequila se destaca por sua taxa média de crescimento anual (TMCA), que está acima da cerveja, devido ser um produto altamente demandado no mercado internacional (SÁNCHEZ, 1999). Nas Figuras referentes de produção e exportação de tequila, assim como na de consumo do agave azul (Figuras 179, 180 e 181), são notórios os ciclos flutuantes da indústria tequilera, os quais foram influenciados pelas temporadas de escassez e de alta na oferta da matéria-prima (Agave tequilana), como resultado da falta de planejamento dos cultivos, assim como de problemas de pragas e doenças, inclusive potenciados pela escassa variabilidade genética presente no cultivo. Verificam-se tais comportamentos na Figura 3, onde o incremento dos volumes de produção de agave nos últimos anos ocorreu em função da popularidade que atingiu esse cultivo, depois dos graves problemas de perda por doenças que ocorreram entre os anos de 1995 e 2000. Entretanto, devido à tradição no cultivo de Agave tequilana, observou-se uma elevada oferta de agave na safra de 2005 (DALTON, 2005).


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Figura 179. Produção de tequila em México, expressado em milhões de litros. Fonte: Conselho Regulador de Tequila, 2006 (tequila 100% e tequila mista de até 51%). Fonte: Conselho Regulador de Tequila, 2006.

Figura 180. Consumo de mil toneladas de Agave tequilana em México para a produção de tequila. Fonte: Conselho Regulador de Tequila, 2006.


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Figura 181. Exportação de tequila 100% (puro) e tequila mista em México, expressado em milhões de litros. Fonte: Conselho Regulador de Tequila, 2006.

PRODUÇÃO DE TEQUILA E EXPORTAÇÃO A bebida tequila vem ganhando cada vez mais interesse entre os consumidores em todo o mundo. Ao mesmo tempo, sua demanda global vem aumentando e as exportações de tequila do México têm crescido nos últimos cinco anos (2009-2013) a elevadas taxas (Figura 182). Por outro lado, o agave, a matéria-prima que é utilizada para a fabricação de tequila, deverá enfrentar uma grave escassez no futuro bem próximo. Confirmadas tais projeções, espera-se que o preço do agave venha sofrer um aumento significativo de mais de 100% até 2018, em comparação com os níveis praticados atualmente (Figura 183), pois sua demanda deverá aumentar ainda mais com a exportação para a China. Até 2012, os Estados Unidos foram considerados os maiores importadores de tequila, representando cerca de 75% do mercado de exportação do México. Estima-se que a China deverá crescer para se tornar o segundo maior importador até o final de 2018, com a importação de mais de 10 milhões litros (NAGARAJAN, 2014).


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Figura 182. Total de tequila exportado pelo México em milhões de litros. Foto: NAGARAJAN, S. 2014.

Figura 183. Preços de agave azul e preço minímo da destilaria. Foto: NAGARAJAN, S. 2014.

Mesmo assim, os novos dados relacionados ao aumento da demanda pela bebida tequila já são esperados pelos empresários, cujos acréscimos produtivos vão exigir que as destilarias trabalhem com sua capacidade máxima, mas tal efeito do mercado terá comportamento distinto dependendo do tamanho da destilaria:


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Grandes destilarias: As grandes destilarias têm o seu fornecimento de agave garantido através de contrato agrícola que representa 80% do seu negócio, então o efeito da elevação do preço da matéria-prima sobre os industriais deve ser mínimo (Figura 184). Essas destilarias, geralmente adquirirem apenas 20% de seu agave por ano de agricultores independentes (NAGARAJAN, 2014).

Figura 184. A matéria-prima para as grandes destilarias é fornecida por meio de contrato agrícola com produtores (80%) e de produtores independentes (20%). Fotos: NAGARAJAN, S. 2014.

Médias destilarias: As médias destilarias possuem o potencial para suportar o elevado aumento dos custos de matérias-primas (Figura 185). A sua capacidade de competir com as grandes destilarias em tais cenários de alto custo poderá ser fracassada, pois as grandes destilarias têm maior poder de barganha em adquirir a produção de agricultores independentes e transformá-los de imediato em fornecedor com contrato agrícola para mitigar o risco de alta de preços. Portanto, essas médias destilarias serão forçadas, em situação atípica de mercado, a pagar preços elevados aos agricultores independentes nos próximos três a quatro anos (NAGARAJAN, 2014).


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Figura 185. A matéria-prima para pequenas e médias destilarias é fornecida exclusivamente por produtores independentes (100%). Fotos: NAGARAJAN, S. 2014.

Destilarias pequenas: São esperados para as pequenas destilarias os piores efeitos da escassez de agave nos próximos anos. Essas destilarias não dispor de recursos suficientes para a prática de contrato agrícola no cenário atual. Para evitar sua paralização, a única estratégia usada pelas pequenas destilarias é produzir mais tequila 51% (mista), incorrendo assim em um custo relativamente baixo de matérias-primas. Em 2000, o Departamento de Comércio do México, com a Câmara Nacional da Indústria de Tequila e o Instituto Mexicano da Propriedade Intelectual sugeriram um regulamento de emergência para reduzir o nível mínimo de inclusão de agave em tequila. O nível mínimo de inclusão de 51% deveria ser reduzido a 30%, permitindo assim que destilarias menores permanecessem no negócio para atender apenas o mercado nacional por consumir menores quantidades de matérias-primas caras (NAGARAJAN, 2014). Um comparativo com a cachaça produzidapelo processo artesanal na região polarizada por Salinas em Minas Gerais (Brasil), atualmente sua produção anual é 5 milhões de litros, apesar de ser considerada a terceira bebida destilada mais consumida no mundo, perdendo apenas para a “vodca russa” e o “soju coreano”. No entanto, o consumo da cachaça é pouco expressivo no mercado externo, concentrando-se mais no próprio Brasil. O Brasil apresenta um consumo médio per capita de 12 litros de cachaça (considerando apenas a população adulta brasileira), caracterizando-se como um dos melhores mercados mundiais de bebidas destiladas. A cachaça é classificada no exterior como um spirit drink, destilado de alto teor alcoólico. Fora do Brasil, a cachaça é consumida quase que exclusivamente como ingrediente da caipirinha; por isso, há maior demanda pela cachaça branca tradicional. Na Organização Mundial do Comércio (OMC) tramita o pedido de reconhecimento da cachaça como denominação exclusiva do destilado de cana-de-açúcar


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produzido no Brasil. O processo de certificação de origem confere especificidade ao produto e, consequentemente, agregação de valor (FURIGO JUNIOR et al, 2007).

DESAFIOS PARA OS AGRICULTORES AGRÍCOLAS DE AGAVE AZUL Mesmo com a extensa área de agave azul que compreende a zona de Denominação de Origem da Tequila (DOT), que abrange cinco estados do México: Jalisco, Guanajuato, Michoacán, Tamaulipas e Nayarit, aumenta a competição interna pela matéria-prima. Na estrutura da sua oferta se observa uma concentração em duas áreas: um número relativamente alto de propriedades agrícolas que exploram o agave e sua grande dispersão pelo território. Enquanto na estrutura de demanda da matéria-prima (indústrias) há uma alta concentração, principalmente no estado de Jalisco (VALENZUELA, 2003).

O mais importante para o produtor de agave é conseguir uma relação comercial satisfatória com a indústria. Os agricultores independentes mexicanos com pequenas ou grandes quantidades de agave, mas com plantas cultivadas de uma só idade, dificilmente conseguem vender sua produção diretamente para a indústria. Por falta de planejamento, é muito difícil que um só fornecedor ou agricultor mantenha um fluxo continuo de abastecimento, a menos que o mesmo conte com uma grande área de agave cultivado de todas as idades (por exemplo: plantar a cada ano 5 ha ao longo de 7 anos; Figura 186). Entretanto, um produtor de grande escala ou atravessador ou associação de produtores de agave pode oferece um entrega de pinha segura por mês às grandes indústrias (VALENZUELA, 2003).


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Figura 186. Vista aérea de uma propriedade cultivada com Agave tequilana, tendo as subáreas cultivadas separadamente de todas as idades.

A alta competição entre agricultores dentro do setor comercial e a grande dimensão do território de origem, faz diminuir o interesse na gestão empresarial por parte das associações dos produtores em razão de ser um produto com demanda restrita por um só setor da indústria tequilera, ocasionando assim um baixo poder de negociação por parte dos agricultores. A diversificação de produtos de agave tem sido proposta principalmente para a produção de mel de frutose desde os anos setenta, cujo novo produto se elabora a partir da polifructosana em forma de inulina (uma forma de amido) do agave tequilero. Outra fonte de arrecadação para o produtor vem da venda dos rebentos produzidos nos campos de agave azul, que em abril de 2002, no município de Amatitán, estado de Jalisco


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(México) variava entre $ 8,00 a $ 10,00 pesos e que reduziu em julho do mesmo ano a $ 4,50 pesos (VALENZUELA, 2003). Por outro lado, destaca-se o manejo agrícola do agave que está dividido em três grandes etapas: a primeira, que consiste em preparar e desenvolver a plantação; a segunda, que corresponde à manutenção anual até o início da maturação, e a terceira, que compreende simultaneamente a manutenção da plantação e sua colheita. As diferentes práticas agrícolas realizadas pelos agricultores no campo de agave azul ao longo do seu ciclo (9 anos) estão detalhadas na Tabela 12. Tabela 12. Manejo agrícola realizado pelos agricultores nos campos de Agave tequilanaao longo do seu ciclo. Ano base de plantação Subsolagem cruzada Gradagem Transporte de rebentos Plantio Capina manual Aplicação de inseticidas e fungicidas Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Proteção de incêndios nas margens 1º ano de cultivo Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Capina manual

2º ano de cultivo Aplicação de herbicidas Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva)

3º ano de cultivo Aplicação de herbicidas Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Arranque e preparação de rebentos 4º ano de cultivo Aplicação de herbicidas Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Arranque e preparação de rebentos Poda de acesso Fonte: Ana G. Valenzuela Zapata (2003).

5º ano de cultivo Aplicação de herbicidas Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Arranque e preparação de rebentos Decepamento do escapo floral 6º ano de cultivo Aplicação de herbicidas Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Poda de acesso Decepamento do escapo floral 7º ano de cultivo Aplicação de herbicidas Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Colheita Poda de Acesso Decepamento do escapo floral 8º ano de cultivo Aplicação de herbicidas Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Arado sulcador entre fileiras (terreno plano) Aplicação de herbicidas (protetor de deriva) Colheita Poda de acesso 9º ano de cultivo Aplicação de fertilizantes Aplicação de inseticidas e fungicidas Colheita


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Atualmente, os principais desafios tecnológicos da tequila em evidência no México são 1) o desenvolvimento de novas variedades de agave resistente às pragas ou a ambientes extremadamente secos, com maior teor em inulina e baixo teor de cera; 2) mecanização do cultivo e colheita do agave (que atualmente é feito manualmente); 3) optimização das etapas de cozimento e fermentação para melhorar rendimentos e reduzir a quantidade de resíduo; 4) a seleção de cepa de leveduras e melhoramento dos mostos fermentados; e 5) alternativas de baixo custo para o tratamento de resíduos, principalmente do bagaço.

ESTIMATIVA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO E DA RENTABILIDADE DO AGAVE AZUL O agave azul pode ser considerado no futuro uma cultura estratégica para o Brasil, em função da demanda crescente de seu produto pelo mercado consumidor mundial que poderá enfrentar uma crise de escassez no fornecimento de matéria-prima com produção exclusiva da zona de Denominação de Origem de Tequila (D.O.T.), em México. Nos próximos anos, sua área de produção deverá ser ampliada dentro e fora da zona de DOT, e possivelmente em outros países como Austrália e Brasil, desde que seja autorizado pelo Conselho Regulador de Tequila (CRT). Para isto, é fundamental conhecer os custos de produção (Tabelas 13 e 14) e sua rentabilidade econômica para dar respaldo técnico tanto aos produtores quanto aos industriais, apesar dos escassos dados técnicos atualizados, dificultando assim análises e previsões de investimentos nesse setor. Além de sua exploração como bebida destilada, sua matéria prima poderá fortalecer o Plano Nacional de Agroenergia.

Tabela 13. Custo de produção do Agave tequilana por hectare. Descriminação/ Anos 1. Preparação do solo Insumos Cal (kg) Maquinaria (trator) Subsolagem Gradagem Arado Aplicação de calagem 2. Plantação Insumos Planta (rebentos) Mão-de-obra Carregar e tirar rebentos Plantio Deslocamento 3. Fertilização Fertilizante Mão-de-obra Aplicação de fertilizantes 4. Controle de pragas e doenças

Ano-0 4.200

Ano1 2.050

Ano2 2.050

1.000

1.000

1.000

350 700

350 700

1.500 700 700 300 4.642

Ano3 0

Ano4 0

Ano5 0

Ano6 0

Ano7 0

Total 8.300 3.000

494,2

1.500 1.400 2.100 300 5.136,2

1.642

164,2

1.806,2

1.500 1.200 300 1.473,2 1.323,2

150 150 30 1.473,2 1.323,2

1.473,2 1.323,2

1.473,2 1.323,2

1.473,2 1.323,2

1.473,2 1.323,2

1.473,2 1.323,2

1.650 1.350 330 10.312,4 9.262,4

150 2.570

150 2.570

150 2.570

150 2.570

150 2.570

150 2.570

150 2.570

1.050 17.990


C a p í t u l o I | 199 Mão-de-obra Aplicação de agroquímicos Insumos Agroquímicos 5. Controle de ervas daninhas Controle manual Foice de roçadeira de capim Controle Químico Herbicidas Mão-de-obra (aplicação) 6. Tratos culturais Mão-de-obra Arranquio de rebentos Capação do escapo floral Poda de folhas 7. Gastos Diversos Insumos Combustíveis e lubrificantes 8. Arrendamento Aluguel de terreno 9. Serviço técnicos Serviço técnicos 10. Administração Gastos de administração 11. Gastos de Colheita

600

600

600

600

600

600

600

1.960 2.000

1.960 2.000

1.960 2.000

1.960 2.000

1.960 2.000

1.960 2.000

1.960 2.000

600

600

600

600

600

600

600

1.100 300

1.100 300

1.100 300

1.100 300

1.100 300

1.100 300

1.100 300

300 300

450 300 150 300 300 600 600 150 150 100 100

300

300

300

300

450 300 150 300

300 600 600 150 150 100 100

300 600 600 150 150 100 100

300 600 600 150 150 100 100

300 600 600 150 150 100 100

300 600 600 150 150 100 100

150 300

150 300

300 600 600 150 150 100 100 11.189,3

300 600 600 150 150 100 100 3.717, 2 1.552, 2 2.165

2.400 4.800 4.800 1.200 1.200 800 800 14.906,5

6.417, 2

83.945,1

6.495,0 9.243,2

7.793,2

8.093,2

8.093,2

4.200

1.200 900 600 2.400

Fretes e deslocamentos 9.737,4

13.790 15.400

8.800 2.400

4.694,3

16.035,2

1.400

1.100 300

Corte da planta (jima)

Totais

4.200

18.532,4

6.246,5 8.660,0

Fonte: Consejo Regulador del Tequila (2009) e Comité Técnico Estatal de Evaluación; valores do orçamento com base em peso mexicano de 2009.

Tabela 14. Análise financeira da produção do agave. Discriminação Com arrendamento Sem arrendamento Produção média por ha (ton) 109,3 109,3 Custos por hectare ($) 83.945 79.145 Custos por tonelada ($) 767,9 724,0 Preço por tonelada ($) 1.800 1.800 Superfície cultivada (ha) 10 10 Vendas por hectare 196.763 196.763 Vendas por empresa 1.967.634 1.967.634 Relação Benefício/ custo (%) 134 149 Taxa interna de retorno (%) 21 27 Preço mínimo (cobrir custos e gastos - $) 1.105 1.061 Porcentagem de variação (%) 61 59 Rendimento unitário (cobrir custos e gastos) 67,1 64,4 Fonte: Consejo Regulador del Tequila (2009) e Comité Técnico Estatal de Evaluación; valores do orçamento com base em peso mexicano de 2009.


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Capítulo II

APROVEITAMENTO INDUSTRIAL E ENERGÉTICO DO AGAVE TEQUILANA VAR. AZUL

(Autor)

Vicente de Paula Queiroga


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INTRODUÇÃO: A tequila 100% de agave é uma bebida destilada originária do México. Elaborase a base da calda extraída do Agave tequilana Weber, variedade Azul, com denominação de origem aprovado em 13 de outubro de 1977, que é um sistema figurativo de proteção, amparado por lei, segundo a qual somente pode denomina-se tequila à bebida elaborada nos lugares designados. O território de Denominação de Origem da Tequila (D.O.T.) compreende 181 municípios, os quais estão distribuídos nos cinco Estados do país: todos os 125 municípios do estado de Jalisco, apenas 07 municípios dos Estados de Guanajuato, apenas 30 municípios de Michoacán, apenas 11 municípios de Tamaulipas e apenas 08 municípios de Nayarit (Figura 1). É importante frisar que a cidade de Tequila, a 65 quilômetros de Guadalajara, está na região de Jalisco, a qual responde pela produção de 60% da bebida no país. Essas áreas geográficas delimitadas de produção do agave permitem uma maior fiscalização das empresas de destilação e também asseguram que o produto final satisfaça a certos padrões de qualidade. Por conseguinte, é quiçá a bebida mais conhecida e representativa do México no mundo (VALENZUELA, 2003).

Figura 1. Território no México com Denominação de Origem da Tequila (D.O.T.)


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Com base na regulamentação da norma oficial (NOM-006-SCFI-1994), a bebida deve ser elaborada com 100% de caldas de agave e ser elaborada no México para ser chamada de tequila 100%. Também, segue chamando tequila a bebida que é considerada um mix por conter no mínimo de 51% dos açúcares provenientes do agave azul, mesmo que o percentual restante seja mesclado com álcool proveniente da fermentação da sacarose de cana-de-açúcar, podendo ainda adicionar a garapa de agave, que é um substancia caramelizada que agrega sabor a tal bebida, a qual se denomina de tequila mista. Além disso, de acordo com a Normativa Geral de Proteção da Denominação de Origem da Tequila (D.O.T.) e a NOM de Tequila, a citada variedade de agave deve cumprir com outros requisitos para que possa ser utilizada como matéria prima na fabricação da tequila, isto é: 1) seu cultivo deve ser realizado dentro da zona geográfica delimitada pela normativa geral de denominação de origem, e 2) deve ser registrado no organismo de certificação da tequila. O cultivo do Agave tequilana desempenha um importante papel na economia do México, principalmente nas regiões produtoras. De acordo com a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento Rural, Pesca e Alimentação (SAGARPA), a indústria tequileira gera mais de 70 mil empregos diretos. Em 2014, exportou-se 134 milhões de litros de tequila, o que representou 55% da produção nacional. Nos últimos anos, em razão da grande demanda do produto no mercado, que por sua vez ocasionou aumento nos preços, em contrapartida houve pressão de alguns setores da indústria para reduzir o teor de agave estabelecido pela norma oficial de fabricação das tequilas mistas, cuja estratégica é manter seus volumes de produção, seu preço e sua presença no mercado nacional e internacional. Esta alteração no teor alcoólico não foi acatada pelo organismo regulador do México, pois tal medida afetaria a imagem do produto no mercado, já que o fundamental é manter a Dominação de Origem de Tequila (D.O.T.) e o posicionamento do produto. A elaboração da tequila inicia com a operação de colheita do agave, chamada de gemedor, (ou “jimador” em espanhol) que consiste em cortar todas as folhas não aproveitáveis e o resultado é a obtenção da pinha, a qual tem em média 65 quilos quando produzida nas condições ambientais satisfatórias de Jalisco, México e, principalmente, quando a planta tenha alcançado a maturação adequada para sua industrialização. Por questão de curiosidade, o nome “jimador” é devido ao som da ferramenta cortando a


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planta, que lembra uma pessoa gemendo. Essa ferramenta bem amolada, denominada coa, é utilizada no corte dos agaves para liberar a pinha de suas folhas (Figura 2).

Figura 2. a) Ferramenta coa usada na colheita do agave e B) distintas ferramentas utilizadas pelo produtor de agave azul no México. Fotos: Lusmila Herrera Perez.

O tempo médio requerido pela planta para alcançar sua maturação é de 7 anos. Com esta idade, o agave alcança a acumulação máxima dos carboidratos. O principal carboidrato é a inulina, que é um polímero de alto peso molecular formado por aproximadamente 43 monómeros de frutose, o qual possui na sua extremidade uma molécula de glucose. É importante destacar que a pinha com massa de 65 kg é capaz de produz aproximadamente 10 litros de tequila, pois é onde se encontram armazenados os carboidratos utilizados para sua elaboração. De acordo com Valenzuela (2003), o processo de maturação do agave dura entre 7 e 9 anos e inicia com a plantação do Agave tequilana Weber variedade Azul, que constitui a matéria prima utilizada para a elaboração da bebida tequila (Figura 3). Uma vez eliminadas suas folhas no campo, as pinhas são levadas para as instalações de uma fábrica registrada ou autorizada pelo organismo regulador mexicano, a qual deve estar localizada no território mexicano delimitado para produzir a tequila 100% do agave. Antes do dobre processo de destilação, há uma prévia hidrolização das pinhas, as quais são divididas em duas metades ou quatros pedaços para melhor acomodá-las dentro dos fornos de alvenaria ou autoclaves. Em seguida, sua trituração (material cozido) numa máquina trituradora e a passagem da massa triturada por uma sequência de 4 a 5 moendas, sob adição de um jato de água pressurizado, para elevar a eficiência de extração dos


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açúcares, denominado de mostos frescos, ou um posterior cozimento dos mostos e, na continuação, são submetidos à fermentação alcoólica com levedura, cultivada ou não, podendo os mostos serem enriquecidos e mesclados conjuntamente na formulação com outros açúcares até uma proporção não maior de 49% de açúcares redutores totais expressados em unidade de massa, conforme as normas estabelecidas no México (não é permitido a mistura à frio dos álcoois da cana-de-açúcar com o do agave). Na destilação, o mosto fermentado é convertido num alambique, no qual é aquecido por meio de vapor. Como resultado dessa primeira destilação, um produto chamado "Ordinário" é obtido, com uma concentração de álcool de 25 a 30%. De imediato, esse "ordinário" é convertido em outro alambique para novamente ser destilado e obter uma porcentagem de concentração de álcohol de até 55%. Esse último produto é chamado “Retificado”, que pode ser considerado como o final, já que é a bebida que se vende a granel. Antes de ser envazado, o produto é diluido em água desionizada para obter níveis de álcool de uns 35 a 45%. Matéria

Cozimento

Moenda

Fermentação

Destilação

Agave

Forno de

Moenda

Tinas de

Alambique de

tequilana var.

alvenaria

mecânica

ácido

cobre ou ácido

inoxidável

inoxidável/

Prima

Azul

dobre destilação Figura 3. Processo de fabricação da tequila desde a utilização da matéria prima específica até a destilação do mosto liquido extraído do Agave tequilana var. Azul.

No último procedimento, a tequila é armazenada em barris ou tonéis para sua maturação. Dependendo da característica que se deseja dar ao produto final, a tequila elaborada pode ser de uma determinada madeira de carvalho ou outro tipo de madeira apropriada ou ser o barril “queimado internamente” com lança chama. Pois, a tequila é um liquido parecido a cachaça (Tequila Branco ou Silver) que pode ter distintas cores, dependendo do tempo de maturação (Tequila Ouro com aromatizantes, corantes e


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adoçante; Tequila Repousado; Tequila Envelhecida e Tequila Extra Envelhecida), permitidos pela Secretária de Saúde mexicana, com objetivo de proporcionar ou intensificar sua cor, aroma e/ou sabor (VALENZUELA, 2003; Figura 4).

Figura 4. Uma amostra de bebida das classes: Tequila Branco, Tequila Repousado, Tequila Ouro e Tequila Envelhecida. Para os futuros produtores de tequila artesanal nas várias microrregiões apropriadas do Brasil, principalmente os atuais produtores de cachaça da cana-de açúcar, poderão produzir toda matéria prima do agave azul que necessitam, enquanto as empresas industriais podem adquirir parte da matéria prima de terceiro. Pelo fato do México somente admitir a fabricação da tequila 100% de agave no território delimitado como Denominação de Origem da Tequila (D.O.T.), que envolvem 181 municípios distribuídos em cinco Estados do seu país, mas não impede que a tequila mista seja fabricada com o teor de até 51% de agave (mínimo) em outras regiões fora da zona geográfica da tequila, inclusive no exterior.

Com base no teor alcoólico mesclado, as destilarias do Brasil poderiam produzir a tequila 99% de agave azul em mistura com apenas 1% dos açúcares produzidos pela cana-de açúcar para gerar uma tequila mista (seria denominada Tequilana 99% de Agave, já que é proibido usar o nome tequila, quando a bebida é elaborada fora do D.O.T.), que praticamente será quase uma tequila pura ou nobre (similar a 100% de agave) e, ao mesmo tempo, não está descumprindo as leis estabelecidas e regulamentadas pelo organismo oficial mexicano.


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ESQUEMA RESUMIDO DA INDUSTIALIZAÇÃO DA TEQUILA O processo de fabricação da tequila tem basicamente os mesmos estágios da fabricação do etanol a partir da cana-de-açúcar com exceção da primeira etapa que é o cozimento do agave para a realização da hidrólise da inulina.

Algumas destilarias no México ainda têm sistemas de produção bastante rudimentares e artesanais, mas as maiores e mais modernas utilizam equipamentos relativamente atualizados com ênfase na qualidade do produto final e menos na extração e eficiência geral do processo. Em linhas gerais (Figura 5), o fluxo do processo de fabricação da tequila é o seguinte:

Figura 5. Processo industrial de fabricação da tequila na empresa de destilaria moderna. Foto: Sérgio Cobel.

Nas futuras microrregiões do Brasil de exploração do Agave tequila Weber, variedade Azul, as indústrias de destilação devem ser adequadas conforme normas sanitárias e higiênicas aprovadas pelo MAPA. As dornas de fermentação deverão ser de


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aço inoxidável, as salas de fermentação deverão ser fechadas e parcialmente revestidas com azulejo.

A produção de tequila é considerada um processo muito tradicional, em razão da qual a qualidade pode variar, dependendo do tamanho da destilaria. A fabricação da tequila envolve as seguintes etapas: 1.Colheita das Pinhas O ciclo da planta do Agave tequilana Weber, variedade Azul, é de aproximadamente de 7 a 10 anos, período no qual alcança sua plena maturação, isto é, quando ela é capaz de produzir os melhores açúcares e se encontra no seu ponto de colheita (VALENZUELA, 2003). Essa colheita consiste em cortar as folhas da planta ao nível de sua base, deixando assim a pinha livre das folhas do agave (Figura 6).

Figura 6. Colheita do agave com ajuda da ferramenta coa, deixando apenas a pinha livre das folhas.

2. Transporte das Pinhas para Usina de Destilação O agave é transportado do campo até as usinas de destilaria o mais rapidamente possível para evitar perdas de peso já que as empresas de tequila, dependendo da qualidade do produto, pagam o produto por peso e não pelo teor de inulina. As inulinas são polissacarídeos que ocorrem naturalmente produzidos por diversos tipos de plantas, entre elas o agave. Elas pertencem à classe de fibras conhecidas como frutanas.


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No caso da produção de tequila, apenas as pinhas ou cabeças do agave são transportadas para a destilaria, pois as folhas contêm substancias que alteram o sabor da tequila para um sabor mais amargo e, portanto, são removidas no campo durante a colheita e deixadas lá para serem incorporadas ao solo como nutrientes após a decomposição. Isto ocorre na produção da tequila, mesmo que as folhas ainda contenham teores de açúcares solúveis da ordem de 20% (p/p) e cerca de 36% de fibras.

As pinhas desprovidas das folhas são transportadas por um trator com pá carregadora para carregar o caminhão. Comumente esse veículo fica estacionado fora da área, sendo essas pinhas acomodadas de toda forma na sua carroceria gradeada sem se importar com seu tamanho (Figuras 7 e 8). Além disso, são demasiadamente grandes e resistentes para suportar qualquer peso. É costume também carregar as pinhas de agave por camionetas e por animal. Vale lembrar que as estradas rurais devem ser acessíveis na época de colheita dos campos de agave da variedade azul, principalmente para os pequenos produtores cooperados de agave e registrados que entregam sua produção diretamente nas usinas de destilaria.

Figura 7. Após colheita no campo, caminhão sendo carregado com pinhas com ajuda de um trator com pá carregadora.


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Figura 8. Transporte de pinhas de agave por meio de animal, camionetas e trator com carroção para carregar o caminhão.

3. Recepção e Armazenamento Temporário nos Fornos Depois da colheita, as pinhas são transportadas em caminhões às indústrias (Figura 9). Antes de adquiri-las, os técnicos realizam uma amostragem de cada carga para determinar a quantidade de açúcares redutores (frutose e glicose) contidas nessas pinhas, mediante o qual se estabelece o preço. Caso apresente um teor de açúcares muito baixo, o produto é reclassificado e a comercialização é feita por quilo de agave. Nessa situação, o seu valor de compra é baixo. É importante informar que a qualidade das pinhas é alta quando apresentam de 25 a 30% em peso de açúcares (GRANADOS, 1993; TÉLLEZ, 1998). O peso das pinhas pode oscilar entre 25 e 45 kg (NOBEL, 1998). Entretanto, se o agave azul é produzido sob condições edafoclimáticas favoráveis, similar ao Estado de Jalisco no México, haverá incremento no seu peso que pode variar de 45 a 65 kg (ou mais de 70 kg).

Figura 9. Pinhas de agave provenientes do campo sendo descarregadas no pátio da indústria de destilaria.

As pinhas do Agave tequila Weber, variedade azul, são recebidas e comercializadas na usina de destilaria. Em seguida, uma a uma são cortadas em dois ou 4 pedaços com uma serra elétrica ou um machado (Figura 10), dependendo do tamanho, a fim de facilitar o manuseio de arrumação dos pedaços dentro do forno de alvenaria ou autoclave.


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Figura 10. Corta-se com machado em duas ou quatro partes cada pinha antes do processo de cozimento.

4. Cozimento das Pinhas Considerando que o principal carboidrato que contém o agave é a inulina, a qual é um polímero de frutose e glucose, e que este composto não é susceptível de ser fermentado pelas leveduras, então é necessário realizar a hidrólises para obter açúcares simples (principalmente frutose). Para que ocorra tal processo, utiliza-se principalmente um procedimento térmico ou enzimático, ou a combinação de ambos. Também na etapa de hidrólises da inulina se formam muitos compostos que são determinantes no perfil organoléptico do produto final. Esse processo de hidrólises é realizado em fornos de alvenarias ou autoclaves e em ambos os casos se empregam vapor a uma temperatura entre 100 e 110°C. Com base nos tipos de fornos, existem os grandes recipientes de autoclaves que são cilíndricos e feitos de chapa de ácido inoxidável, que conta com 4 manômetros com os quais medemse a pressão de entrada de vapor em diferentes configurações e conta também com termômetros digital e bimetálico (Figuras 11 e 12). Porém, os fornos feitos de alvenarias são mais comuns e tradicionais (Figura 13).

Figura 11. As autoclaves sendo carregadas com pinhas de agave com ajuda do trator com pá carregadora para o processo de cozimento.


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Figura 12. Detalhe de autoclaves feito chapa de ácido inoxidável, sendo carregadas as pinhas por uma pá carregadora da empilhadeira que alimenta a esteira transportadora.

Figura 13. Pinhas cozidas de agave nos fornos de alvenaria (A;B), lado de carregar o forno com pinhas partidas (C) e outro lado de descarregar as pinhas cozidas sobre uma esteira (D) transportadora para alimentar, na sequência, a máquina trituradora e as 4 ou 5 moendas. Fotos: Raul B. Fernández.


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O cozimento das pinhas de agave se realiza através de vapor de água. Ao introduzir as pinhas nos fornos, o vapor é injetado a pressão de 1,2 kg/cm 2 por 6 horas, mas a duração do processo é em torno de 48 horas para os fornos de alvenaria (Figura 14) e de 12 horas para as autoclaves. Depois tem um período de repouso e de esfriamento. O propósito do cozimento é o de conseguir a solubilidade e hidrolisar os açúcares do agave, já que a inulina é pouco solúvel em água e não é fermentável em forma direta.

Figura 14. A,B) No interior do forno de alvenaria, as pinhas de agave são agrupadas sobre várias grades móveis de aço inoxidável, montadas sobre as colunas separadas de cimento, para facilitar o escorrimento do “mel de cozimento” liberado pela ação do vapor quente; C) Interior do forno de autoclave com piso revestido de grade de ácido inoxidável para a mesma finalidade. Foto A: Heike, V.

Conforme estudo realizado no Estado de Jalisco, México por Fernandes (2010), o mesmo constatou que no cozimento, primeira etapa do processo, é necessário ter o controle da acidez, mantendo o pH na faixa de 4 a 5 (ideal é 4,5) e a temperatura sempre elevada e constante (varia entre 100 a 110°C), visando assim hidrolisar a inulina e outros componentes da planta. Caso a temperatura seja mais baixa que a necessária para rompimento da inulina e não permitindo uma degradação eficiente, a matéria prima não poderá ser utilizada pela levedura para produzir etanol.

Outro fator da importância do cozimento no forno de alvenaria, é que o agave cozido adquire uma consistência mais mole e facilita o processo seguinte da moagem. Com o forno cheio de pinhas partidas, para não deixar espaço vazio no seu interior, o


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vapor é injetado por 36 – 48 horas para que se obtenham temperaturas uniformes de 100ºC. Após este período, o vapor é desligado e o agave cozido é deixado no forno por mais dois dias a fim de completar o processo de cozimento. Após os dois dias de finalização do processo, os fornos são abertos para permitir o esfriamento das pinhas cozidas. Em seguida, elas são transportadas através de esteiras para a moenda, mas antes as pinhas são trituradas em pequenos pedaços (fibras). Ao final do cozimento da pinha, a sua polpa fica de cor marrom ou alaranjado escuro, destacando também um doce sabor (Figura 15).

Figura 15. Pinhas cozidas de agave nos fornos de autoclaves com cor marrom. Foto: Raul B. Fernández.


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Por outro lado, a presença de reação de Maillard ou caramelização pode representar uma grande perda de açúcares redutores, reduzindo assimo rendimento em etanol e induzindo à formação de compostos de degradação como os enóis, furfural e hidroximetilfurfural, os quais podem alterar a eficiência da fermentação. Para se calcular o rendimento e a eficiência desta etapa, a quantidade de “mel de cozimento” e o seu teor de açúcares redutores são medidos. A principal diferença entre cozimento em fornos e o cozimento em autoclaves, é que esse último exige um controle mais rígido do tempo de cozimento, temperaturas e pressão do vapor, a fim de evitar que ocorra o supercozimento ou mesmo queima do agave. Um cozimento em excesso dá a tequila um sabor de queimado, aumenta a concentração de furfural no produto final e reduz o rendimento em etanol, devido à caramelização de parte dos açúcares fermentescíveis (FERNANDES, 2010).

Nos estudos realizados para avaliar a influência do cozimento no aparecimento do metanol e de produtos da caramelização, empregando temperatura de 121ºC, Téllez (1998) observou que durante a etapa de cozimento do agave azul foi gerado metanol, devido principalmente a desmetilação das pectinas do agave pelas temperaturas altas e os pH ácidos. A presença de metanol é um problema para os produtores de tequila 100% de agave, em razão de que os valores obtidos no final do processo, geralmente essa bebida está com uma taxa entre 270 e 280 mg/100 mL de álcool anidro, portanto, se encontra muito próximo ao limite superior da normatização da tequila. Durante a etapa de hidrolização, um líquido doce denominado “mel de cozimento” é coletado e usado posteriormente como fonte de açúcares livres, principalmente frutose. Também durante este processo, parte dos açúcares é caramelizado; e alguns dos compostos que dão significante aroma e sabor na formulação do mosto são devidos ao alto teor de açúcares fermentescíveis (>10% p/v).

Na maior parte das destilarias do México, os fornos de tijolos têm sido substituídos por autoclaves de aço inoxidável. As autoclaves têm uma eficiência muito superior e permitem melhor controle da pressão e temperaturas, efetuando um cozimento homogêneo e mais eficiente. Numa operação típica de cozimento em autoclaves, o vapor é injetado por 1 hora para que o vapor condensado lave o agave. Esse líquido condensado


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é conhecido como “mel amargo” e é descartado porque contém ceras da cutícula da pinha do agave e tem baixo teor de açúcar (<1% p/p). Novamente, o vapor é então injetado no equipamento autoclave por 6 horas a uma pressão de 1,2 Kg/cm2 e a uma temperatura de 121ºC. No final desta operação, o agave permanece dentro da autoclave por mais 6 horas sem vapor adicional, cozinhando lentamente no calor residual (total de 12 horas). Esta etapa produz um xarope com alto teor de açúcar (>10% em peso) que é utilizado posteriormente para compor o mosto para a fermentação (FERNANDES, 2010).

Para extrair os açúcares é necessária a conversão dos polissacarídeos da pinha em moléculas de açúcares mais simples que podem ser metabolizadas pelas leveduras durante o processo de fermentação. É importante entender que ao hidrolizar esses carboidratos de cadeias complexas, com distintos tamanhos e alguns mais ramificados do que outros, é possível ocasionar problemas drásticos para os compostos de cadeias simples, podendo assim ocasionar a caramelizacão das cadeias complexas. A caramelização de açúcares em si representa perdas ao processo, porque essa reação clássica de caramelização (mudança de cor) pode gerar os compostos que são inibidores da fermentação.

Mesmo que seja feito uma hidrolização excessiva, isto pode gerar problemas com o metanol que se produz por desmetilação das pectinas presentes nas fibras de agave. Ao contrário, uma hidrolização deficiente significa perda de açúcares por aplicar uma hidrolização parcial dos carboidratos. É importante destacar que o metanol forma enlaces com o etanol, provocando essa reação o surgimento de outra molécula. Em razão disso, fica difícil separar o metanol do etanol, mesmo considerando elementos com propriedades físicas diferentes e que teoricamente resultaria fácil separá-los durante a destilação, situação que na prática não ocorre. Isto se explica os problemas que podem ocasionar com o aparecimento do metanol na tequila final.

Outro fato especial que pode suceder durante a hidrolização é a formação de glicoproteínas (união de glicose a uma proteína), algumas das quais são responsáveis por aportar sabores e aromas característicos na bebida tequila, porém por outra parte representam perdas ao processo.

Os caldos ou garapas que saem da autoclave, quando termina o processo de cozimento das pinhas, são escorridos por meio de tubulação de aço inoxidável para uma


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tina de armazenamento do mesmo material (Figura 16), que também pode receber os caldos provenientes das moendas mecânicas.

Figura 16. Tina de aço inoxidável para receber as descargas dos caldos produzidos pelas autoclaves e moendas mecânicas. Foto: Arquivo da Hacienda Zacapendo.

A caldeira, movida à lenha ou com bagaço de agave (Figura 17), responde pela oferta de vapor necessário ao processo industrial de fabricação de tequila. O vapor é utilizado, especialmente, no cozimento das pinhas nos fornos de alvenarias ou nas autoclaves, e nos destiladores. Essa caldeira consome água da piscina para os processos de formação de vapor. Muitos produtores de tequila utilizam fogo direto (fornalha) nos fornos de alvenaria e alambiques. Um dos fatores que contribuem para a resistência do produtor em substituir a lenha por bagaço de agave é o fato de a utilização do bagaço demandar maior volume de mão de obra, pois queima muito rápido nas fornalhas, requerendo reposição continua. Para utilizar o bagaço como fonte de energia, os produtores terão que substituir as fornalhas por caldeiras, que são equipamentos caros (GONÇALVES et al., 2008).


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Figura 17. Caldeira movida à lenha ou bagaço de agave para gerar vapor ao processo industrial de cozimento das pinhas nos fornos de alvenarias ou nas autoclaves e nos destiladores. Foto: Vicente de Paula Queiroga 5.Trituração da Pinha Cozida O agave cozido em pedaços é transportado por uma esteira rotativa para alimentar uma máquina trituradora (Figura 18), visando assim diminuir o seu volume. A passagem no equipamento triturador permite que as pinhas cozidas em pedaços grandes sejam trituradas em pequenos pedaços de alguns centímetros, obtendo assim a forma de um volumoso fibroso (Figura 19). De imediato, o material fibroso triturado é descarregado sobre outra esteira transportadora, posicionada lateralmente, a qual passa a transportar o volumoso triturado de fibra para ser comprimido por um conjunto de moinhos (prensas de 4 ou 5 ternos de rolos), com a adição de água pressurizada antes e depois de cada moagem (ou rolo) para aumentar a eficiência do processo de extração dos açúcares destinados a fabricação da tequila. Desse processo, são gerados dois produtos: a essência de tequila e um resíduo denominado de bagaço, que deixa de ser útil na elaboração da tequila. O bagaço do agave tequilero é composto por fibras longas de 10 a 12 cm, as quais são constituídas por celulose, hemicelulose e lignina.


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Figura 18. Pedaços de pinhas cozidas de agave (A, B; C) sendo transportadas por esteira desde a autoclave para alimentar a máquina trituradora (D; E; F).

Figura 19. Pinhas cozidas e trituradas de agave sendo transportadas por esteira para alimentar os moinhos de 3 a 5 massas, visando extrair o mosto liquido para produção de tequila.


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6.Moendas de Extração do Mosto Líquido -Moenda de pedra circular tipo manjarra Antigamente no México, a extração dos açúcares do Agave tequilana era efetuada pelo processo de moagem de grande pedra circular de quase 4 toneladas de peso com um eixo central e movida por animal, a qual passava várias vezes em cima das pinhas cozidas que ficam distribuídas na parte interna da zona de moagem em pequenos pedaços (Figura 20).

Figura 20. Moenda de pedra circular, tipo manjarra e movida por animal, para extração do mosto liquido do agave azul.

-Moenda de pedra circular com acionamento mecânico Os pedaços de pinhas cozidas de agave são distribuídos manualmente na parte interna circular de alvenaria destinada para moer. O processo de moagem das pinhas cozidas é feito com auxílio de uma pedra circular de até 4 toneladas com acionamento mecânico (Figura 21), permitindo assim passar em círculo várias vezes sobre o agave cozido para extração do mosto líquido.

Figura 21. Moenda de pedra circular com acionamento mecânico para extração do mosto líquido do agave azul.


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-Moenda grande tipo cilindro compressor de movimento linear Outra modalidade de moenda, desenvolvida no México e denominada de Frankenstein, permite também passar linearmente várias vezes sobre o agave cozido para extração do mosto (Figura 22). A potência do motor de um cavalo move-se lentamente para frente e para trás sobre as pinhas de agave cozidas, que são espalhadas em pequenos pedaços dentro da área de moer. Devido ao adicionamento da água, o teor de brix terá que ser constantemente avaliado. Nesse processo, as fibras, depois de moídas, também são descartadas.

Figura 22. Moenda grande tipo cilindro compressor com movimento linear para extração do mosto líquido do agave azul. Foto: Felipe Camarena

- Monitoramento de açúcares presentes nas amostras É importante efetuar a análise de açúcares do agave azul, porque o álcool obtido na fermentação depende da quantidade de açúcares redutores (JUSTO et al., 2001). Nas indústrias de tequila, são realizados dois tipos de análises: 1- Medição de Grau Brix (ºBx). 2- Determinação de açúcares redutores, que utiliza o método de Fehling.

GRAUS BRIX: Os graus Brix representam uma escala arbitrária para medir densidades de soluções de açucares e equivale a porcentagem em peso de sólido solúvel de uma amostra, que principalmente são os açúcares. Ou seja, um grau Brix (1°Bx) é igual a 1g de açúcar por 100 g de solução. Sua determinação é realizada por meio do equipamento refratômetro ou com um hidrômetro (CONSIDINE; CONSIDINE, 1982; BADUÍ, 1988; POTER, 1995; JUSTO et al., 2001; Figura 23).


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Figura 23. Medição de Brix numa amostra de agave azul. Foto: Valdes Hernández Juan Francisco, 2011.

Com o refratômetro se determina o índice de refracção de um feixe de luz que atravessa o meio em que são depositados os açúcares (Figura 24). O hidrômetro utilizado para determinar o grau Brix (ºBx) é chamado de Sacarímetro e sua utilização, segundo Pomeranz (1982), baseia-se no princípio de que um corpo desloca o líquido igual ao seu peso, no qual esse flutua. O peso do líquido deslocado é igual ao produto de seu volume e densidade.

Figura 24. Refratômetro para determinar o teor de açúcar.

AÇÚCARES REDUTORES: Algumas espécies de plantas, inclusive o agave, têm como reserva de carboidratos polímeros de frutose (frutanos) em vez de glicose, tal como a inulina, que são menores do que as moléculas de amido e mais solúveis em água. A inulina é uma cadeia de polímero linear e é composto de 25 a 35 resíduos de frutose unidas por ligações glicosídicas β (2→1) e terminam com uma molécula de sacarose. Alguns


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frutanos são ramificados. A inulina é armazenada com mais frequência em raízes e tubérculos em lugar de seções aéreas das plantas (JUSTO et al., 2001).

- Conjunto de moendas mecânicas O processo de moagem das pinhas cozidas também é feito por uma sequência de pequenas moendas de 5 massas (prensas com cinco ternos de rolos), dotadas de três cilindros cada conjunto (ou engrenagem em formato de triângulo) com ranhuras na superfície e de 50,8 cm de largura (20 polegadas; Figura 25). Durante a moagem em cada prensa de ternos de rolos se aplica água pressurizada sobre o agave triturado, no momento da compressão pelos três cilindros, com o propósito de facilitar a extração da maior quantidade possível dos açúcares que se encontram na fibra (Figuras 26, 27 e 28). No final desta operação, os açúcares são separados para continuar o processo industrial, enquanto o bagaço esmagado e com pouca umidade é descartado. Valenzuela (2003) avaliou que para produzir um litro de tequila são necessários 7 quilos de pinhas, pois os tipos de tequila elaborados dependem de cada empresa de destilaria (100% de agave ou mistos com 51% de agave e no máximo 49% de outros açúcares).

Figura 25. Detalhe da prensa ou moenda: três rolos cada conjunto com ranhuras na superfície e com 50,8 cm de largura.


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Figura 26. Interior da destilaria de tequila, destacando uma sequência de pequenas moendas de 4 e 5 massas (prensas com 4 e 5 ternos de rolos) para extração do mosto de agave azul. Fotos: Raul B. Fernandes e Arquivo da empresa Hacienda Los Huajes.


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Figura 27. Vista geral da destilaria operando com dois conjuntos de pequenas prensas com 4 ternos de rolos para extração do mosto fresco do agave azul (A) e um conjunto de pequenas moendas de 5 ternos de rolos (B). Fotos: Arquivo das Fábricas Centinela e Tequila Ocho.


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Figura 28. Esquema de um conjunto de prensas de três ternos de rolos. Antes de passar nas moendas, os pedaços cozidos das pinhas são triturados, formando uma massa de agave que é umedecida no momento da compressão das moendas e as caldas resultantes são recuperadas numa tina por meio de uma tubulação, após sua decantação. Fotos: Arquivo da Fundación Produce de Guerrero. Apesar de o moinho ser o método mais comum para extrair o mosto do agave, há no mercado uma variedade de diferentes equipamentos (moinhos de esmagamento) que poderão sendo usados na produção da tequila. A maioria das destilarias usa cilindros com ranhuras para espremer o agave, enquanto outros usam moinho de pedra para pressionar cuidadosamente o agave. Com ambos os tipos de moinho, a água é adicionada junto com o agave que está sendo esmagado (Figura 29). No moinho de pedra de 3-4 toneladas, o processo de esmagamento pode levar oito horas, enquanto no moinho de cilindros com ranhuras demanda apenas alguns minutos. Esse último equipamento constitui num método mais rápido e eficiente, pelo fato de conseguir extrair até 85% do teor de açúcares existentes no agave


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Figura 29. Eficiente moinho com ranhuras na superfície dos rolos para facilitar a extração do mosto líquido de agave azul e seu armazenamento ocorre no tanque abaixo da prensa depois de atravessar a tela inclinada de filtragem.

Na moagem, assim como em todas as etapas do processo de fabricação da tequila, um balanço de açúcar é computado para determinar o rendimento. Se o rendimento cai, regulam-se as moendas alterando-se pressões, regulagens e jato de água para aumentar a extração (FERNANDES, 2010). Geralmente no final da moagem realizada no conjunto de moendas se obtém caldas acima de 10°brix e o bagaço residual é colocado em caminhões e transportado (Figura 30) para seu tratamento ou uso posterior em outros processos (geração de energia).

Figura 30. Bagaço residual do agave proveniente dos moinhos sendo descarregado no caminhão para ser transportado.


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7. Formulação De acordo com a Norma Oficial Mexicana da Bebida Tequila, o fabricante pode elaborar duas categorias de tequila, as quais são: tequila 100% de agave e tequila mista, respectivamente. Na sequência do processo de industrialização, os açúcares do agave diluídos no mosto fresco ou caldo são acumulados em depósitos de inox e transportados por tubulações de inox para encher os tanques ou cubas de aço inox de formulação ou de fermentação, dependendo do produto que se deseja elaborar. Já a elaboração da tequila 100% é realizada a partir dos açúcares extraídos exclusivamente do agave e, portanto, a formulação pode consistir unicamente do envio do mosto líquido as cubas de fermentação, mas também da adição de leveduras, ajuste do pH óptimo para as leveduras e ajuste da temperatura adequada. Com resultado, o mosto fresco está pronto para iniciar o processo de fermentação.

A fabricação da categoria de bebida tequila mista deve ser elaborada com a participação de até 49% de açúcares provenientes de fonte distinta ao agave. Em tal caso, a formulação consiste na mescla dos açúcares extraídos do agave com o mínimo de 51% de açúcares de Agave tequilana variedade Azul e outras fontes, sempre e quando a participação dessa última não seja maior que 49% de açúcares redutores totais, expressados em unidadesde massa. Além disso, é necessário a adição de leveduras, ajuste do pH óptimo para as leveduras e ajuste da temperatura adequada. Com resultado, o mosto fresco está pronto para iniciar o processo de fermentação. Ou seja, a etapa de formulação da tequila mista é destinada aos açúcares de agave que se pretendem mesclar com o preparado de outros açúcares, especialmente de cana de açúcar, para posteriormente ser fermentado.

Para a produção de 100% tequila, apenas agave pode ser utilizado e a concentração inicial de açúcar varia de 4% até 10% (p/v), dependendo do volume de embibição durante o processo de moagem. Quando outros açúcares são utilizados na composição do mosto a ser fermentado, como o melaço de cana-de-açúcar, estes são previamente dissolvidos e misturados ao caldo do agave para se obter uma concentração inicial entre 8% e 16%, dependendo da tolerância ao teor de açúcar pela cepa de levedura utilizada (FERNANDES, 2010).


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A formulação do mosto na maioria das destilarias é baseada apenas na experiência previa acumulada. Algumas destilarias baseiam suas formulações do mosto na composição das matérias-primas e requerimentos nutricionais para o crescimento e fermentação da levedura. Para suprir eventuais deficiências nutricionais do caldo de agave e outros açúcares empregados nas etapas de crescimento e fermentação, ureia, sulfato de amônia, fosfato de amônia ou sulfato de magnésio podem ser adicionados. Quando o pH do caldo de agave é em média 4.5, não existe necessidade de ajuste e a mesma composição de mosto é utilizada tanto para inoculação de crescimento quanto de fermentação (FERNANDES, 2010).

Algumas companhias não inoculam uma cepa especifica da levedura S. cerevisiae e, ao contrário, permitem que uma fermentação natural venha acontecer no mosto. Outras indústrias inoculam o fermento fresco de padaria no mosto ou uma levedura seca comercial, para a obtenção de populações iniciais da ordem de 20 – 50x 10⁶ células/ml. Objetivando conseguir eficiências mais altas e manter a alta qualidade da tequila, algumas destilarias têm utilizado cepas de leveduras isoladas da fermentação natural do caldo do agave cozido (FERNANDES, 2010).

Os nutrientes são adicionados de acordo com os parâmetros de concentração de açúcar e temperaturas. Essas cepas selecionadas estão depositadas na coleção nacional de culturas microbiológicas, sendo o mais importante deles o CINVESTAV-JPN (Coleção de Culturas do Departamento de Biotecnologia e Bioengenharia), na cidade do México. Quando um inoculador é utilizado, o crescimento é feito em laboratório a partir de uma cultura pura de cepa da S. cerevisiae. O inoculador é induzido à multiplicação com aeração continua a fim de produzir um volume suficiente para inocular os fermentadores a 10% do volume final (Figura 31). Populações de 200 – 300 x 10⁶ células/ml são normalmente atingidas. Uma assepsia total nessa etapa é fundamental para garantir um reduzido risco de infecção bacteriológica. Se, eventualmente, uma contaminação é detectada, antibióticos ou bifluoreto de amônia são utilizados como agentes antimicrobióticos. Com o inoculador desenvolvido, é mantido com a mistura de 10% do volume de uma cultura ativa com o caldo de agave e nutrientes (FERNANDES, 2010).


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Figura 31. Tanque de aço inoxidável para armazenamento de leveduras com capacidade de 32 mil litros.

8. Fermentação A fermentação pode ser espontânea sem agregar nenhum inoculo ou ser processada em tinas de fermentação, que contenham o mosto que se ajusta entre 10 e 12 ºBx, seja enriquecida com nitrogênio (ureia ou sulfato de amônia) e se inocula uma cepa da levedura do gênero Saccharomyces, sendo S. cerevisiae a espécie comumente utilizada, a qual é a responsável pela transformação dos açúcares em álcool e gás carbono. Essa operação dura de 2 a 7 dias com a temperatura de 25 a 30ºC e todo processo é concluído quando se têm esgotado os açúcares. Esse tempo de fermentação varia de acordo com a temperatura ambiente, mas a fermentação se prolonga por mais 24 horas no inverno quando as baixas temperaturas são predominantes (RICO, 1995; GUZMÁN, 1997).

O processo de fermentação tem um incremento similar ao desenvolvimento de qualquer microrganismo, a princípio apresenta um crescimento exponencial, uma segunda fase é linear e um último estádio é de desaceleração do processo. Ou seja, em pleno processo de fermentação, o mosto é efervescente e esse movimento cessa quando as leveduras terminam seu trabalho. Ao final da fermentação fica estabelecido um ponto de equilibro entre a quantidade de levedura que se tem desenvolvido, o teor de açúcar e a produção de álcool. A solução obtida é chamada de mosto morto (RICO, 1995; GUZMÁN, 1997; VALENZUELA, 2003).


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O substrato presente no agave, que é utilizado pela levedura para produzir a tequila é a inulina. A inulina (C6H10O5)n.H2O é um composto parecido ao amido formado por unidades de frutose e constitui uma das matérias primas de reserva das pinhas do agave que não é diretamente fermentável, mas que se transforma em frutose e glicose por hidrolização ácida durante o cozimento (MORALES, 1997; QUIRÓZ; GÓMES, 1999).

Durante a fermentação alcoólica, a ação de leveduras provoca o desdobramento dos açúcares presentes nos mostos com formação de álcool etílico e dióxido de carbono, e outros produtos em menores proporções. Nessa etapa, também são formados outros compostos que irão contribuir nas características sensoriais finais da bebida tequila. A fermentação obedece fundamentalmente à seguinte equação:

C6H12O6 ------- 2C2H5OH + 2 CO2+ ATP + 17,015 CAL 180,16 g de glicose--------- 2 x 46,07 = 92,1400 g de etanol

Os fatores críticos que se devem controlar nessa fase são: manter a temperatura do mosto entre 32 a 35°C, o pH entre 4-5, nutrientes e evitar a contaminação por organismos que representam uma competição para as leveduras. Vale destacar que a temperatura deve ser controlada, pois sua oscilação pode variar entre 30 a 42°C. Outros fatores, que afetam negativamente a fermentação, devem ser controlados, os quais são a presença de cálcio, enxofre, floculação das leveduras e espuma. Ou seja, o cálcio provoca a floculação das leveduras, e esse processo representa perdas, por comprometer a fermentação total dos açúcares. O elemento enxofre, proveniente como contaminantes de outros açúcares, inibe a fermentação. A espuma que se forma durante o processo de fermentação pode ocasionar derrame das cubas e, portanto, são perdas. Algumas empresas utilizam antiespumante para evitar esse problema. Para ter uma fermentação adequada é necessário contar com boas condições de anaerobiose, substrato suficiente para a levedura, utilizar sempre as mesmas cepas de levedura adequadas para a produção e evitar as contaminações por outros microrganismos que podem produzir substâncias não desejadas. Também é necessário controlar durante o processo de fermentação as condições ótimas de temperatura e tempo para obter a maior quantidade de etanol. O caminho do metabolismo aeróbico e anaeróbico é crucial e se deve ter um especial cuidado em eliminar o ar dos fermentadores. Pode haver problemas


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na fermentação quando a concentração de açúcares no mosto é insuficiente, e se tem baixa concentração de álcool ou quando existe contaminação por outras leveduras e bactérias. Esta última situação é muito importante no processo de fermentação de tequila, principalmente quando se utiliza de tinas abertas, pois o pó que cai no caldo de fermentação pode conter organismos contaminantes (VALENZUELA, 2003; FURIGO JUNIOR et. al., 2006). A garapa depois de coada é decantada e, em seguida, transferida para um tanque de preparação do mosto. Para melhorar a eficiência da fermentação, é necessário que o mosto tenha uma concentração de açúcares entre 15 e 18º brix. Quando a concentração do mosto é superior a esse valor, deve ser diluído para garantir um bom trabalho de fermentação e a estabilidade do fermento. Além disso, elevados teores de açúcares provocam uma fermentação mais lenta e geralmente incompleta, o que acarretaria o aumento de furfural no produto final, produzindo uma tequila de aroma e gosto desagradável. Por outro lado, teores baixos de açúcar aceleram a fermentação, porém acarretam perdas de rendimento na destilação.

Os depósitos de fermentação vão desde 12.000 litros para os tanques pequenos, até 150.000 litros para os maiores, e são construídos de aço inoxidável para resistir ao baixo pH do mosto (Figura 32). Em tais tanques, adicionam-se água, leveduras e nutrientes para fermentação. As cepas de leveduras são preparadas previamente e crescidas sob condições controladas para depois multiplicá-las em grandes volumes. A produção de etanol é detectada logo no início, e uma queda no pH de 4,5 para 3,9 é característico da fermentação. O teor de etanol ao final da fermentação varia desde 4% até 9% (v/v) dependendo da concentração inicial de açúcar. Perdas de etanol são consideráveis porque muitas tinas são abertas, sem sistemas de recuperação do álcool evaporado juntamente com o CO2 produzido.


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Figura 32. Após a operação de extração nas moendas, o mosto líquido resultante das pinhas cozidas é bombeado para o setor de fermentação e, uma vez completado 72 horas, se converte em álcool etílico. Foto: Raul B. Fernandes

Os tanques de fermentação de pequenas destilarias tradicionais no México são feitos com madeira de pinho (Figura 33). As dornas abertas permitem obter levedura no ar e bactérias para misturar livremente com o suco. A fermentação dura entre 4-5 dias.

Figura 33. Tanques feitos com madeira de pinho (dornas) das pequenas destilarias no México.


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9. Destilação A operação de destilação é um dos pontos determinantes da qualidade do produto final. Essa destilação é realizada em alambiques que geralmente são de cobre (Figura 34), aquecido por caldeiras ou fogo direto (fornalha). As caldeiras são mais comuns nas destilarias possuidoras de alambiques de aço inoxidável (Figura 35) ou em torres de destilação continua. Os alambiques comuns constam de três partes: Uma caldeira em forma de globo, onde é depositado o mosto para seu aquecimento; uma coluna prolongada que recolhe e conduz os vapores (condensador); e a serpentina, situado em um recipiente refrigerado por água (VALENZUELA, 2003).

Figura 34. Alambiques de destilação de cobre usados para o mosto de agave azul.


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Figura 35. Alambiques de destilação de aço inoxidável usados para o mosto de agave azul. Fotos: Raul B. Fernandes

O princípio da destilação se baseia na diferença entre o ponto de fervura (ebulição) da água (100ºC) e do álcool etílico (78,4°C), permitindo assim separar o álcool. O termo destilação corresponde à separação das substâncias voláteis presentes no líquido, inicialmente transformadas em vapor, e depois condensadas (RIZZON et al., 2004).

Uma vez concluída a fase de fermentação, os mostos contêm quantidades mínimas de açúcares e, por sua vez, contêm quantidades representativas de álcool. Essas quantidades podem variar de 4 a 10% de álcool do volume total. Em seguida, os mostos devem ser levados de imediato para a destilaria, visando à separação dos seus constituintes.

Os pontos de ebulição dos diferentes compostos e os diversos volumes e pressões do alambique ajudam à separação de vapores ou gases, que se condensam em produtos de maior riqueza alcoólica (Figura 36). Na elaboração da tequila são necessárias duas etapas de destilação. A primeira destilação é conhecida por “quebramento ou destroçador” por separar os componentes menos voláteis da mescla líquida, cujo processo requer um par de horas para gerar o “ordinário”. Essa destilação do mosto fermentado tem por objetivo aumentar a graduação alcoólica (concentração de etanol) para 25% 35% por volume. Nesse processo, é também gerado um subproduto denominado vinhaças, as quais contêm todos os sólidos (leveduras mortas, açúcares não fermentáveis, sais nutritivos e minerais) e outros componentes como aldeídos e acetonas. As vinhaças


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são chamadas de lodos de fermentação ou conjunto de componentes não desejáveis, principalmente por serem compostas de leveduras e água (VALENZUELA, 2003).

Figura 36. O processo de destilação permite separar o mosto e aumentar a concentração alcoólica, obtendo assim o subproduto vinhaça e a TEQUILA ORDINARIO, respectivamente.

Como subproduto da destilação, de 7 a 10 litros de vinhaças são produzidas por litro de tequila (55% de etanol). Na produção de tequila, a vinhaça tem sido o maior problema das destilarias que são normalmente instaladas dentro de cidades dos Estados produtores do México e, mesmo quando a usina está próxima dos campos de agave, não se recomenda aplicar a vinhaça como fertirrigação para não afetar as características organolépticas do novo agave que irá ser processado. Esses subprodutos terão que ser levados a um processo de neutralização ou de aproveitamento, segundo as políticas empresariais de cada fábrica (Figura 37).


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Figura 37. Esquema do processo de neutralização de vinhaças geradas na destilação do mosto extraído das pinhas do agave azul pelas pequenas moendas.

Portanto, essa TEQUILA ORDINARIA se retifica na segunda destilação, para obter a TEQUILA RETIFICADA, normalmente conhecida como TEQUILA, que dura entre 3 a 4 horas, a qual tem por finalidade incrementar a riqueza alcoólica e eliminar os produtos indesejáveis, obtendo-se no final um líquido de maior pureza com uma graduação alcoólica em cerca de 50-55%. Nessa etapa, três frações são separadas: cabeça, coração (etanol) e calda. Com a retificação são separados primeiramente os compostos mais voláteis do que o etanol (15-20% do volume inicial da destilação), principalmente o metanol que é prejudicial para os seres humanos. A maior parte do metanol deve ser eliminada por ser um produto letal na dose entre 100 a 250 mL (BADUÍ, 1988), mesmo assim existe um limite máximo tolerável na Norma de Tequila entre 30-300 mg/ 100 mL em referência ao álcool anidro.

Nessa etapa da destilação é muito importante estabelecer o ponto no qual se deve fazer o corte da fração do destilado (cabeça) nos primeiros minutos, pois se tratam de compostos indesejáveis, devido a sua composição química. Em geral, essa primeira fração é rica em compostos de baixo ponto de ebulição, tais como: metanol, 1-propanol, 2-propanol, 1-butanol, e 2-metil propanol, os quais poderiam originar mudanças sensoriais a tequila. Vale destacar também que alguns produtores fazem a bidestilação da parte chamada cabeça, de maneira que essa primeira fração da destilação volta para a


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próxima alambicagem (primeira destilação do mosto morto; Figura 38). Outros acreditam que essa prática prejudica a qualidade da tequila e descartam todo o resíduo já na segunda destilação (cabeça e calda).

Figura 38. Garrafas envasadas com os líquidos: mosto morto, ordinário e tequila.

A segunda fração corresponde à parte nobre da tequila (70-60% do volume), pois o etanol se volatiliza a temperatura de 78,4°C. A calda que é considerada a terceira fração, deve ser eliminada e corresponde a 15-20% do final da destilação. Sua composição pode variar, dependendo dos seguintes fatores: a cepa de levedura utilizada, a composição dos nutrientes do mosto, o tempo de fermentação e a técnica de destilação. Essa fração final contém compostos de alto ponto de ebulição ou peso molecular mais elevado do que o etanol, sendo vários álcoois conhecidos, tais como: álcoolisoamilico, álcool amilico, 2furaldeido e ácido acético, os quais podem alterar o odor e sabor da tequila (FERNANDES, 2010).

Na produção industrial e moderna, a destilação é feita em colunas de aço inoxidável, em que o fluxo de produção é constante. A todo o momento, entra por um lado o mosto fermentado e, do outro, sai à tequila já destilada, o que acelera o processo de obtenção de uma tequila de 45 a 50 ºGL, podendo ser envasada imediatamente como tequila branca ou enviá-las para a fase de repousado (2 meses) em tinas de aço inoxidável. Nesse tipo de tequila, é permitida a adição de açúcares (em espanhol denomina-se de tequila abocado ou adoçado), corantes ou aromatizantes (RICO, 1995; GUZMÁN, 1997).


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Também é importante mencionar que cada destilaria particular utiliza a mesma matéria prima, mas o resultado obtido com a tequila conta com diferenças no sabor e aroma.

Em pequenas destilarias do México, ainda é comum a utilização de fogo direto nos alambiques, o que dificulta o mecanismo operacional de controle da temperatura e pressão no alambique. Geralmente, os produtores legalizados utilizam caldeira (fogo indireto), o que permite manter temperatura constante durante a destilação, condição necessária para que ocorra uma eficiente evaporação e, por conseguinte, uma boa condensação (VALENZUELA, 2003). Vale destacar que na segunda etapa, o líquido obtido na etapa anterior é redestilado em um segundo alambique similar ao primeiro, até que seja obtido um produto com 55% etanol, que é vendido a granel, ou com 40% de etanol com diluição em água desionizada para ser engarrafado.

10. Armazenamento do Produto Destilado Depois de terminar todo o processo da segunda destilação, a tequila retificada é armazenada em tonéis de ácido inoxidável de 16 mil litros cada, onde se procede ao envasamento da tequila branca (Figura 39).

Figura 39. Tonéis de aço inoxidável usado no armazenamento e envasamento da tequila branca. Foto: Arquivo da Hacienda Zacapendo.


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10.Maturação A retificação feita no alambique é para obter um líquido transparente que já pode ser considerado como tequila branca ou seu adoçamento e envasamento como tequila jovem (ouro). Essa tequila também pode ser submetida à maturação para se converter nos seguintes tipos de tequila: repousada, envelhecida ou extra envelhecida e sua posterior filtração e envasamento (VALENZUELA, 2003). A classificação das tequilas é ampla, mas de uma forma geral elas são divididas em 100% agave azul e com pelo menos 51% de tal planta. O restante é preenchido com outros açúcares. Segundo a legislação que regula a fabricação no México é necessário ainda ser destilada duas vezes e ter o mínimo de 35% de álcool. Ou seja, a tequila obtida deve ter uma graduação alcoólica entre 35 e 55%, apesar de a maioria das tequilas comercializadas no mercado apresenta uma graduação alcoólica entre 38 e 40%. Já a maturação da tequila deve ser feita por técnico autorizado no território especificado e que esteja registrado pela destilaria (VALENZUELA, 2003). Por outro lado, Secofi (1997) define maturação da tequila como a transformação lenta que ocorre em tonéis de madeira apropriados, permitindo assim que o produto adquira as características organoléticas desejadas, por processos físico-químicos, que de forma natural, são também eliminados os compostos indesejáveis (Tabela 1). Os tonéis e barris são de carvalho branco, podem ser novos ou já tenham sido utilizados com bebida. Esses barris ou tonéis também podem ser submetidos a um tratamento de queimado com lança chama, com a finalidade de transmitir diferentes características à tequila. Tabela 1. Especificações físico-químicas da tequila, segundo a Norma do México. Produtos % alcoólica a 20ºC Extrato seco (g/l)

Tequila Branco

Tequila Jovem ou Ouro

Tequila Repousado

Mínimo

Mínimo

Mínimo

38,0 Zero

Máximo

Máximo

Tequila Envelhecida Máximo

Mínimo

55,0 38,0 55,0 38,0 55,0 38,0 0,20 Zero 5,0 Zero 5,0 Zero Valores expressados em mg/100 referidos a álcool anidro 400 20 400 20 400 20

Álcoois superiores 20 (em álcool amílico) (1) Metanol (2) 30 300 30 300 30 300 Aldeídos Zero 40 Zero 40 Zero 40 Ésteres 2 270 2 350 2 360 Furfural (3) Zero 1 Zero 1 Zero 1 (1) Com a análise cromatográfica se pode elevar o valor máximo até 550 mg/ 100 mL. (2) O valor mínimo de metanol pode ser reduzido por meio de um processo distinto. (3) A análise, via úmida, pode elevar o valor máximo até 4 mg/ 100 mL.

30 Zero 2 Zero

Máximo

55,0 5,0 400 300 40 360 1


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No Brasil, as espécies de madeira utilizadas na confecção do barril de envelhecimento que fornecem aroma e cor diferente para a cachaça são: bálsamo, umburana, cedro, freijó, jequitibá, cumaru, castanheira, carvalho e louro-canela. Na região de Salinas prevalecem cachaças com alto teor alcoólico e aromas que remetem às especiarias do bálsamo ou ao adocicado da umburana. A cachaça branca daquela região é tão agressiva que o envelhecimento é a etapa fundamental. O conhecimento das técnicas do uso de madeiras nativas tornou a região famosa. Já no interior do Rio Grande do Sul, as cachaças são mais delicadas e apresentam aromas florais provenientes da fermentação por leveduras selecionadas – uma técnica nova e bem difundida no estado.

Após destilada a tequila é armazenada em barris de carvalho. O tempo que fica neles e o tratamento que recebe até ser engarrafada é o que caracteriza as diferentes classes: 

Prata (ou branco ou Silver): é a “branquinha” mexicana. Essa tequila branca ao sair do destilador apresenta paladar agressivo e levemente amargo, por isso fica até 60 dias em enormes barris de inox para serem feitas homogeneizações de seus componentes alcoólicos e correções de sabor, normalmente com água (Figura 40). É a mais indicada para cocktails frutados por ter o puro sabor do agave.

Figura 40. Tequila branco permanece por 60 dias em enormes tanques de ácido inoxidável para homogeneização do líquido, antes do processo de engarrafamento.


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Ouro (ou Jovem): Essencialmente um blend de tequila prata com repousado máximo de 2 meses em tonéis de aço inoxidável. É a categoria mais conhecida e vendida do mundo. Ao contrário do que muita gente pensa não é de má qualidade. Sua diferença está no fato de conter outros açúcares por motivos econômicos. Essa é a tequila original fabricada no México há 450 anos. Podem ter adição de essência de caramelo, extrato de carvalho ou glicerina natural feita a partir de calda de açúcar para padronizar o sabor, já que tem fontes variadas de açúcares.

Repousado: fica pelo menos 2 meses repousando em barris de carvalho para suavizar o álcool. A combinação do contato direto da madeira de carvalho com a tequila de agave dá a esta categoria uma robustez maior de sabor (Figura 41). É a bebida mais consumida no México, tradicionalmente essa tequila repousado é feita com 100% de agave azul. Adapta-se muito bem ao paladar dos mexicanos, pelo fato dos mesmos estarem acostumados com os sabores picantes.

Figura 41. Barris de carvalho branco utilizados para a tequila repousado. Fotos: Arquivo de Maderas Aguirre.


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Envelhecida: segundo a norma reguladora é a tequila que passa no mínimo um e no máximo três anos envelhecendo em tonéis de até 600 litros de carvalho branco (Figura 42). Para o envelhecimento, algumas destilarias usam o barril padrão de Bourbon ou de conhaque com capacidade de 225 litros. Esse processo torna-a mais suave, além disso, proporciona uma coloração âmbar, aroma e sabor mais complexos.

Figura 42. Tonéis ou barris utilizados para o envelhecimento da tequila envelhecida. Fotos: Felipe Jannuzzi e arquivo Hacienda los Huajes. 

Extra envelhecida: tequila com mais de 3 anos de envelhecimento em tonéis de carvalho branco com capacidade máxima de 600 litros. Por passar todo esse tempo recebendo influência da madeira, torna-se muito mais suave, da cor de mogno e com características sensoriais completamente distintas. Sua textura e paladar lembram os melhores whiskies e conhaques, tamanha é a distinção adquirida no envelhecimento. Além da extra envelhecida, há ainda as edições especiais, que podem passar dos 30 anos. Quanto mais tempo nos tonéis, mais propriedades da madeira ficam contidas na bebida. As mais antigas ganham características próximas às do uísque.

Além da temperatura, teor de água, teor de álcool inicial da tequila, tempo e número de reusos de barris serem capaz de afetar a cor, aroma e sabor final da tequila, outras alterações durante a maturação de tequila são principalmente causadas por: (1) Uma diminuição dos álcoois superiores que são absorvidos pelo carbono dos barris, pode induzir o temperado do produto final;


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(2) Por extração de compostos próprios da madeira que fornecem a cor e sabor, particularmente os taninos; (3) Reação entre alguns componentes de tequila, dando lugar ao surgimento de outros novos; e (4) Oxidação dos componentes originais de tequila e os extraídos da madeira. Em parte, essas alterações na tequila podem ser explicadas por Grǖndling et al. (2006), de que o processo de respiração da bebida através da madeira leva a oxidação de seus radicais carboxílicos, estabilizando o potencial hidrogeniônico (pH) da bebida. Durante o envelhecimento, a tequila perde álcool, porém ganha produtos aromáticos secundários, provenientes da reação entre a madeira, o oxigênio e os componentes secundários produzidos na fermentação da bebida. Dessa forma consegue uma bebida macia, com propriedades mais próximas ao carvalho, para uma tequila de excelente qualidade.

11. Filtração Na produção da tequila jovem ou da tequila envelhecida, é necessário que o líquido alcoólico seja diluído com água destilada para obter uma bebida com teor de álcool de 38%. Essa tequila é filtrada e canalizada para um tanque receptor na linha de engarrafamento onde é distribuído em recipientes individuais com um excelente designer. Após a embalagem da tequila (antigamente), obsevava-se com o tempo o aparecimento de sedimentos visíveis que lentamente iam se formando no produto, cuja origem se desconhecia e que essas particulas não eram eliminadas ou removidas durante a etapa de acabamento da tequila. Um sequencia de filtração apropriada foi desenvolvido para prevenir a formação de sedimentos no produto envasado. Recentemente, uma empresa mexicana lançou no mercado um cartucho de filtro Sartorius Sartocool® PS que incorpora uma capa dobrada de Polietersulfona de alto desempenho, capaz de processar 10.000 litros do produto com um fluxo de 500L/hora (Figura 43), obtendo assim um produto com brilho, clareza e propriedades organolépticas que atendem os padrões oficiais exigidos. Deste modo, fica garatido a máxima pureza e a máxima seguridade microbiológica durante o processo de engarrafamento.


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Figura 43. Cartucho de filtro Sartocool usado para eliminar as partículas no produto tequila antes do seu engarrafamento. Fotos: Arquivo do fabricante Sartorius, México.

12. Engarrafamento da Tequila Segundo Nigri et al. (2010), o processo de engarrafamento se divide em quatro etapas. A primeira consiste no processo de lavagem e esterilização das garrafas, que em seguida seguem para a etapa de envasamento, onde acontece o enchimento das garrafas. A terceira etapa é a colocação de rótulo e selo na superfície externa da garrafa, e por último as garrafas são colocadas em caixas para distribuição ou comercialização local.

Nessa etapa, alguns resíduos e efluentes gerados podem ser apontados como aspectos ambientais relevantes. Os efluentes gerados no processo são a água utilizada na


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assepsia dos recipientes e as soluções contendo detergente. Também são gerados, rótulos de papel, tampinhas de garrafa, restos de cola, cacos de vidro, etc (SEBRAE, 2001). A tequila deve ser envasada em recipientes novos, mesmo assim é necessário submetê-los ao processo de esterilização. Atualmente, os materiais permitidos são: vidros, lata de alumínio, caixa de papelão laminado, lata de aço inoxidável e garrafa Pet (Figura 44). A capacidade de cada embalagem não pode ser maior de 5 litros e não é permitido usar embalagem com marcas que não sejam de propriedade do Produtor Autorizado ou ser um envasador aprovado nos términos das normas oficiais.

Figura 44. Garrafões de vidro com tequila branco e de plástico com tequila repousado, ambos com capacidade máxima de 5 litros e com teor alcoólico de 38%.

De acordo com as Normas mexicanas, todas as tequilas 100% de agave azul devem ser engarrafadas em destilarias do México nos lugares definidos pela Denominação de Origem da Tequila (Figura 45). As demais tequilas mistas podem ser transportadas a granel e serem engarrafadas no estrangeiro.


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Figura 45. Sistema semi-automatizado de envasamento das garrafas de vidro com tequila100% de agave azul realizado pelas destilarias mexicanas nos lugares definidos de origem.

A produção de tequila no México é controlada por um rígido sistema governamental de regulação através do C.R.T. – Consejo Regulador del Tequila, sendo a norma NOM-006-S-SCFI-2005 (especificações) a principal, que deve ser seguida por todos os fabricantes a fim de assegurar o padrão de qualidade do produto final em todo o país. Esta regulação determina ainda as indicações geográficas (GIs) que são protegidas como áreas determinadas para a produção do agave para a produção de tequila e que irá garantir a chancela do C.R.T. como sendo produto com Denominação de Origem da Tequila (D.O.T.), assegurando os padrões de qualidade e características exclusivas do produto mexicano. Em 2008, a produção total de tequila foi de aproximadamente 309 milhões de litros, produzidos por cerca de 128 fabricantes registrados e 49% dessa produção foi destinada para o mercado externo (FERNANDES, 2010).


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Por meio do órgão controlador denominado de Direção Geral de Normas (DGN), a NOM estabelece os requisitos de qualidade para a produção de tequila e emite um número identificador para cada produto. Para obter o número NOM, o governo mexicano exige que o produtor seja responsável pelo manejo adequado da fabricação e para evitar, quando o produto for exportado a granel, que ocorra sua adulteração ou usos indevidos. Também é obrigado que o novo engarrafador e produtor firmem um termo de corresponsabilidade.

Segundo a NOM, a tequila pode ser classificada em dois critérios: a composição e a maturação. Para o primeiro critério, existem duas categorias, as quais estão definidas pela porcentagem da calda de agave azul que se emprega na elaboração de uma tequila. Uma categoria é a tequila 100% de agave (Premium) e a outra é tequila mista, a qual deve ser fabricada com menos de 51% de açúcares provenientes do agave, o restante é constituído por outros açúcares, principalmente de cana de açúcar.

Com relação ao critério maturação, pode variar desde um engarrafamento imediato até um armazenamento prolongado para envelhecer a tequila. Ambas as categorias de composição (tequila 100% e tequila mista) são, por sua vez, divididas em quatro diferentes classes de maturação: branco, jovem, repousado e envelhecida ou extra envelhecida. Tais classes são: Branco (Silver) - é uma tequila de tonalidade transparente tequila com um sabor forte e aroma de agave azul (Figura 46). Tradicionalmente, essa tequila é servida pura ou cowboy, sendo engarrafada diretamente após as duas destilações.

Figura 46. Garrafa de tequila branco feita com 100% de Agave tequilana e com teor alcoólico de 40 % (750 mL).


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Jovem (Gold ou Ouro) é uma tequila que tem uma cor dourada devido à adição de corantes, especialmente caramelo (Figura 47). Deixe repousar no máximo dois meses.

Figura 47. Garrafa de 750 mL da tequila Gold com 100% de Agave tequilana e com teor alcoólico de 40%.

Repousado: é uma tequila submetida a uma maturação intermediária com duração entre dois e seis meses (Figura 48). A conservação deve ser feita em barris de carvalho por não alterar o sabor e textura da tequila. Essa bebida tem um sabor profundo com toques à madeira. Geralmente é tomada apenas como aperitivo.

Figura 48. Garrafa de 750 mL da tequila repousado com 100% de Agave tequilana e com teor alcoólico de 40%.


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Envelhecida: a tequila que foi madurecida em tonéis de carvalho branco por mais de um ano (Figura 49). Tem um sabor muito marcado à madeira e sua tonalidade de cor é âmbar. Normalmente, toma-se como digestivo.

Figura 49. Garrafas com 750 mL de tequila envelhecida e extra envelhecida com 100% de Agave tequilana e com teor alcoólico de 38%. Fotos: Arquivos da Gran Orendain e Sauza.

13. Normas de Etiquetagem De acordo com as normas oficiais estabelecidas para a bebida tequila, cada embalagem deve exibir um rótulo legível (Figura 50) que contenha as seguintes informações em língua portuguesa (no caso de ser produzida no Brasil) ou castelhano (México) e que não deixem dúvidas aos consumidores sobre a natureza e as características da tequila: a) A palavra "Tequila"; b) Categoria e classe a que pertence à tequila, de acordo da norma oficial em vigor; c) Efetuar todas as refências à bebida tequila no tocante ao nome de um ou mais sabores e aromas adicionados ou aquele nome que predomine no produto. Também deve declarar o nome da cor, pondendo aparecer ou ser incorporado em qualquer parte do rótulo ou na embalagem. d) Conteúdo líquido expresso em litros ou mililitros; e) O teor alcoólico expresso em por cento em volume de álcool a 20 °C, a qual deve ser abreviada em: "% Alc. Vol. "; f) Nome ou razão social da pessoa física (registrado) ou jurídica onde a tequila é produzida e, quando aplicável, o engarrafador tem que ser registrado; g) Domicílio do Produtor Autorizado o da fábrica onde a tequila é produzida e, em algum caso, do envasador registrado;


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h) Nome da marca ou qualquer outra logomarca distintiva conforme à legislação, normativa e regulamentação aplicáveis no local de comercialização; i) As palavras "Made in Mexico"; "Produto de México"; Elaborado no México ", ou algo semelhante quando se refere a produção no Brasil; j) Segundo a norma oficial, deve ser inserido no rótulo o número de registro do produtor; k) Lote: cada embalagem deve levar gravada ou marcada a identificação do lote a que pertence, como um código. No caso da identificação do lote que é incorporado o produtor autorizado ou o engarrafador registrado não deve ser alterado ou oculto de forma alguma; l) Atender as declarações de aviso estabelecidas na legislação de saúde; e m) Quaisquer outras informações exigidas por outras leis aplicáveis as bebidas alcoólicas.

Figura 50. Etiquetagem manual das garrafas de acordo com as normas oficiais estabelecidas para a bebida tequila.

Em seguida, as garrafas são postas em caixas colocadas sobre um estrado de madeira, passando para um armazém de estocagem do produto com ajuda da empilhadeira, assim o estoque de bebida está pronto para atender a demanda do mercado (Figuras 51 e 52).

Figura 51. No armazenamento, as garrafas de tequilas etiquetas são postas em caixas de papelão para comercialização.


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Figura 52. Marcas especiais nas embalagens: marcas de manipulação e precação, país de origem, destinatário, destino e número da ordem, porto de saída, porto de entrega, nome do exportador, indicador de peso, número de garrafas e tamanho da caixa.

14. Degustação da Tequila Os maiores consumidores da tequila no mundo são os próprios mexicanos. A mesma deve ser degustada sempre bem gelada, em temperatura próxima à da geladeira, dispensando o acompanhamento de sal e limão (Figura 53).

Figura 53. Tequila branco e repousado quando degustado gelado, despensa o sal e limão.

Mesmo assim no México é comum usar pimenta em pó na borda do copo com tequila em lugar do sal. Mas, não precisa usar o tradicional tempero ardente mexicano, pois as pimentas mais fracas agradam mais ao paladar brasileiro. As tequilas mais claras são ideais para fazer drinques, podendo substituir a vodca e ser usada como ingrediente principal na preparação da tradicional “margarita”.


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Quando se pretende degustá-la pura, devem-se seguir outras regras: quanto mais amarela for à tequila, melhor para degusta como um uísque, com pedras de gelo e usando um copo especial da bebida escocesa (onthe rocks). Uma tequila que fica cinco anos envelhecendo no barril tem qualidade potencial para competir de igual para igual com o uísque de 12 anos, segundo os fabricantes.

Para cada tipo de tequila existe um copo para beber (Figura 54). As mais claras necessitam de copos com dose de cerca de 50 ml, os shots. Para as mais escuras, o ideal são copos mais parecidos ao de uísque. No México também se desenvolveu uma nova maneira de degustar a tequila: em taças que lembram as de champagne. Elas são um pouco menores e conseguem preservar melhor as características da bebida por mais tempo.

Figura 54. Dependendo da classe de tequila, distintos copos e taças utilizados na degustação.

15. Difusores: Sistema Moderno de Produção de Tequila Como o vinho, a extração do mosto líquido do agave para produzir a tequila é semelhante em conceito com a prensagem das uvas. Os sucos da primeira e da segunda prensagem são de uma qualidade mais elevada e são utilizadas para vinhos de boutique. Enquanto as uvas com mais prensagem, o seu suco perde em qualidade e se torna amargo. De modo similar, quando o agave passa por várias fases de esmagamento também perde a sua qualidade. Mas, ao contrário de fabricantes de vinho, a maioria dos produtores de tequila não separa a calda das diferentes prensagens. Diante da escassez de matéria prima para a indústria, em virtude da grande demanda do mercado, algumas destilarias tiveram que usar um processo chamado de difusor para extrair os últimos açúcares a partir das fibras de agave já muito secas (ou bagaços).


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Existem dois métodos de difusores utilizados para a produção da tequila. O primeiro método consiste em usar o agave, após o cozimento (hidrolização dos amidos) das pinhas em fornos de alvenaria ou autoclaves, e triturar em seguida. O segundo uso de um difusor é feito sem cozinhar o agave e as pinhas inteiras são colocadas sobre uma esteira transportadora, por um trator com pá carregadora (Figura 55) para alimentar diretamente um grande triturador (Figura 56). Em seguida, a massa triturada recebe um jato de água quente para que possa extrair 99% dos amidos durante o processo de prensagem em várias moendas. Por outro lado, no campo o pedúnculo floral é removido da planta de agave por ser bastante amargo, em razão de ser um material rico em cera.

Figura 55. Sem o cozimento, as pinhas inteiras, depositadas no pátio da indústria, são levadas diretamente para o triturador por um trator com pá carregadeira, visando processá-las no difusor. Fotos: Arquivo da Empresa Sauza.

Figura 56. Triturador mecânico das pinhas inteiras ou partidas de agave azul. Foto: Arquivo da Empresa Sauza.


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Por outro lado, a empresa Sauza no México utiliza a tecnologia do difusor para produção de 100% dos seus produtos. Pois, trata-se de um grande equipamento multifuncional (Figura 57) capaz de extrair em cerca de 4 horas os amidos, ainda não hidrolizáveis, após o processo de trituração das pinhas. Em seguida, esse caldo é submetido ao processo de cozimento em autoclave durante 3 horas sob uma temperatura de 120ºC (248ºF) para converter os amidos em açúcares, resultando num mel cozido (Figura 58). Uma vez que o caldo de agave atinge a destilaria, o único contato humano, o qual é realizado pelo trator com pá carregadora, foi para apanhar as pinhas de agave. Por meio de um sistema todo mecanizado, as pinhas são depositadas sobre uma esteira rotativa e conduzidas para alimentar um triturador, o qual tem a função de triturá-las em pedaços muito finos.

Figura 57. Difusores multifuncionais para produção de tequila a partir de pinhas cozidas e partidas ou pinhas cruas e inteiras do agave azul. Foto: Arquivo da Empresa Sauza, México.


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Figura 58. Mel cozido de agave azul realizado pelas autoclaves invertidas do equipamento difusor. Fotos: Arquivo da Empresa Sauza.

PRODUÇÃO DE ENERGIA USANDO O BAGAÇO RESIDUAL DO AGAVE A produção de um litro de tequila leva em média 7 kg de matéria-prima, chamado pinha de agave, que produz 3-4 kg em fase molhada de um rejeito inicial que é o bagaço do agave, correspondendo a 40% do seu peso total. Também o bagaço do agave tem por característica apresentar fibras longas de 10 -12 cm. Sua composição é aproximadamente 43% celulose, 19 hemicelulose, 15% lignina, 3% nitrogênio, 1% pectina, 10% açúcares residuais e 9% outros componentes (CEDENO CRUZ; ALVAREZ-JACOBS; 1999). Como comparação, o bagaço de cana-de-açúcar é composto de 25% lignina, 25% hemicelulose, 45% a 49% celulose, 1% a 3% outros componentes, inclusive açúcares residuais que variam entre 0,3% - 0,75% (PANDEY et al., 2000).

Algumas pesquisas têm sido realizadas para avaliar a viabilidade do uso do bagaço de agave. Um desses estudos tem sido dirigido para o uso do bagaço na alimentação de ruminantes. O resultado é que os animais foram capazes de digerir apenas uma parte do bagaço, mas tal aplicação permaneceu problemática em razão da presença elevada da lignina associada à fibra. Outra pesquisa sobre o uso de bagaço de agave foi direcionada para a fabricação do papel. Mas o resultado da pesquisa foi desastroso, porque a resistência do papel foi baixa.

Outros usos potenciais do bagaço foram estudados para a fabricação de telhas, tijolos, colchões, móveis e coberturas, como o solo para o cultivo de cogumelos e de compostagem. O resultado dessas pesquisas é conflitante, porque estão produzindo um


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grande volume de bagaço que é pouco demanda por tais fabricantes, em virtude disso a indústria da tequila é ainda obrigada a procurar uma solução alternativa para a exploração do bagaço residual.

Atualmente, a enorme quantidade excedente de bagaço tem gerado um problema de contaminação no México, criando incorporações clandestinas nos terrenos com riscos fitossanitários, de alterações prejudiciais da fertilidade do solo e a contaminação por chorume. Além disso, o teor de açúcares restantes é suficiente para a infestação de fungos, pragas e doenças das plantas.

Portanto, o México é considerado o paraíso das biomassas não aproveitadas ou pouco exploradas, devido à falta de investimento do governo para geração de energias renováveis. É o caso dos resíduos do bagaço de agave, que a cada ano gera a indústria tequileira, ascendem a 644 mil toneladas, os quais não são aproveitáveis para gerar combustíveis naturais ou energia (NOTIMEX, 2015).

Um novo projeto elaborado no México propõe a exploração da produção de bagaço residual de tequila como biomassa para a produção de energia elétrica, pois é a adoção de soluções menos impactantes do ponto de vista ambiental. Este tipo de biomassa para fins energéticos é uma das fontes mais concretas e promissoras e está no rol das alternativas buscadas, em função de ser uma energia limpa, como a proveniente de biomassa do bagaço da tequila (Figura 59). Para seu uso sublinha a enorme quantidade espalhada no território mexicano e a facilidade de uso para atender a primeira usina termelétrica do México a produzir energia a partir da queima do bagaço do agave.

Figura 59. Bagaço residual do agave azul não aproveitado no México para geração de energias renováveis. Fotos: Arquivo da Notimex.


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A inserção do bagaço do agave na matriz energética nacional brasileira tem papel estratégico. Primeiramente, esse subproduto pode ser uma ferramenta de descentralização da produção, permitindo a geração de eletricidade e a produção de biocombustíveis em locais onde a construção de hidrelétricas ou o cultivo de biomassas tradicionais não é possível. Também o bagaço pode virar lenha ecológica, por meio de um processo de compactação que o transforma em briquetes ou péletes, fabricada com material orgânico prensado e seco (Figura 60). O seu objetivo é reverter à matriz energética das principais indústrias, tais como: usar a lenha ecólogica, em substituição a lenha vegetal nativa, para alimentar os fornos das padarias, queijarias e, sobretudo, das fábricas de tijolos, telhas e outras cerâmicas vermelhas.

Figura 60. Dois tipos de usina de briquetes idealizada pela empresa Biomax: silo aéreo e silo subterrâneo e unidade de processamento de briquetes de Assú, RN para baganas de folhas trituradas de carnaúba. Fotos: Arquivo da Biomax e Vicente de Paula Queiroga.


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Uma usina de briquetagem é formada por um conjunto de equipamentos com a função de compactar resíduos de origem vegetal. O equipamento de briquetagem mais simples é constituído de uma briquetadeira e um sistema de alimentação. Para que os resíduos possam passar pelo processo de compactação são necessários que eles estejam com, no máximo, 16% de teor de água (base úmida) e o bagaço residual seja triturado em pedaços de mais ou menos 3 cm de comprimento. No caso do bagaço do agave é necessário reduzir naturalmente o teor de água (ao sol). Em seguida, o material é passado no equipamento picador ou triturador, visando reduzir o tamanho para menos de 3 cm antes de efetivar sua compactação.

Outra situação poderia ocorrer quando a massa sólida do resíduo é compressível, mas o teor de água é superior a 16% impediria a formação do briquete por não conseguir absorver tal compactação. O outro exemplo é compactar resíduos sem passar no picador, como fibras longas do bagaço de agave azul de 10-12 cm, com comprimento bem superior ao ideal de 3 cm, mesmo assim se recomenda fazer um teste preliminar no referido material. Por outro lado, a empresa Sykué Bioenergya Eletricidade é considerada a primeira usina termelétrica do Brasil a produzir eletricidade a partir da queima do capim elefante (Pennisetum purpureum Schum). Essa empresa entrou em funcionamento em 2010, mas para atender seu consumo foi necessário plantar 2,5 mil ha de capim elefante. Com capacidade para gerar 30 mw por hora - quantidade suficiente para atender a uma cidade de 30 mil habitantes. A energia produzida será entregue a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) e em seguida será comercializada. Igualmente como no processo de cana-de-açúcar (Figura 61), o bagaço do Agave tequilana é o subproduto gerado na destilaria para a fabricação da bebida tequila, o qual pode ser usado como fonte direta de energia renovável e também para a produção de lenha ecológica (briquetes), mas antes é necessário que a matéria prima seja secada naturalmente. Em seguida, ela é transportada até a usina de bioenergia elétrica (Figura 62). Por meio de esteiras é conduzido às caldeiras onde é queimado (Figura 63). Aquecido em água tratada, passa do estado líquido para o gasoso e faz girar a turbina que movimenta o gerador. Esse movimento converte o vapor em eletricidade (Figura 64).


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Figura 61. Termelétrica do Brasil movida à biomassa de bagaço de cana-de-açúcar.

Figura 62. Carregamento mecânico de bagaços secos de cana-de-açúcar para os carroções, os quais são destinados para a termelétrica de biomassas.

Figura 63. Esteira por onde o bagaço seco é transportado às caldeiras da termelétrica de biomassa. Fotos: Jackeline Bispo.


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Figura 64. A-Sistema operativo da termélétrica de biomassa de cana-de-açúcar resultante da destilaria: inicialmente ocorre a queima do bagaço na fornalha (1) que aquece a caldeira para transformar a água liquida em vapor (2), o qual movimenta sob pressão a turbina (3), fazendo com que o gerador produza energia elétrica (4) e finalmente o vapor no condensador volta ao estado líquido; B- Substação localizada próxima à usina permite estabilizar a voltagem que sai do gerador. Fotos: Jackeline Bispo

Todos os gases são tratados para sair limpo da usina termelétrica, o mesmo procedimento é realizado com a água utilizada, por isso o empreendimento tem saldo positivo de crédito de carbono.


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PRODUÇÃO DE ETANOL USANDO TODA PLANTA DO AGAVE 1.Introdução Ao mesmo tempo em que uma equipe mexicana busca soluções para o aproveitamento do bagaço residual da tequila, a planta inteira do agave é considerada outra fonte de matéria-prima que pode ser testada na produção do etanol. Para produzir um litro de etanol anidro é requerido 10 quilos da planta inteira para obter maior rendimento.

Apesar do bagaço (base seca) apresentar 43% de celulose, 19% de hemicelulose, 15% de lignina, 10% de açúcares residuais e 9% de outros componentes, estes percentuais de composição do bagaço de agave azul irão sofrer alterações no caso do processamento integral da planta (pinhas+folhas) para a produção de etanol, pois a composição da fibra da folha do agave tem os seguintes componentes e percentuais: celulose com 64,8%, hemicelulose com 5,1%, lignina com 15,9% e extraíveis com 14% (IÑIGUEZ et al., 2001). Além disso, as folhas do agave contêm 36% de fibras e 20% de açúcares solúveis (em base úmida).

O processo de fabricação da tequila tem basicamente os mesmos estágios da fabricação do etanol a partir da cana-de-açúcar com exceção da primeira etapa que é o cozimento do agave para a realização da hidrolização da inulina (Figura 65). Algumas destilarias ainda têm sistemas de produção bastante rudimentarese artesanais, mas as maiores e mais modernas utilizam equipamentos relativamente atualizados com ênfase na qualidade do produto final e menos na extração e eficiência geral do processo. Em linhas gerais o fluxo do processo de fabricação da tequila é o seguinte:

Figura 65. Fluxograma de produção da tequila como etapa para atender a demanda de bioetenol. Fotos: Raul B. Fernández


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No caso da utilização do agave para a produção de etanol, toda a planta será colhida para processamento para a destilaria, a pinha que representa cerca de 56%, as folhas representando cerca de 36% e outras partes que representam 8% da massa úmida da planta. Vale destacar que as folhas ainda apresentam teores de açúcares solúveis da ordem de 20% (p/p) e cerca de 36% de fibras. São mais amargas e, portanto, não servem para a produção de tequila por alterar seu sabor.

2.Etanol de Agave na Austrália Uma empresa australiana denominada de Ausagave vem desenvolvendo um projeto com a cultura do agave para a produção de etanol no seu país, mas também visa a produção de outros produtos a partir do agave, tais como a própria inulina, como fibra alimentar, xarope de frutose como adoçante e biopellets como combustível. As primeiras 50.000 plantas de agave selecionadas foram, em sua maioria, da espécie Agave tequilana Weber, a qual está sendo plantada numa área de 10 ha nos municípios de Atherton e Burdekin no Norte de Queensland, em áreas semiáridas que se assemelham com aquelas em que a variedade azul é cultivada no México.

Para facilitar a adoção da tecnologia de colheita mecanizada, adotou-se o plantio adensado de 5.000 plantas por ha (espaçamento de 2 m x 1 m), diferentemente dos plantios mexicanos que são no máximo 3.500 plantas por hectare para possibilitar a colheita manual do agave (FERNANDES, 2010). A empresa australiana também estabeleceu um ciclo de 5 anos entre o plantio e a colheita como adequados, devido as condições das regiões de baixa pluviosidade (< 500 mm de precipitação anual). Em junho de 2009, foi instalado o primeiro ensaio do A. tequilana numa área irrigada do rio Burdekin, Estado de Kalamia (Figura 66). Recomenda-se uma irrigação de pré-plantio, quando se tratar de áreas sujeitas à baixa umidade do solo durante os primeiros meses de plantio (HOLTUM et al., 2011).


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Figura 66. Área de plantio do Agave tequilana na Austrália para produção de etanol, em sistema de irrigação por gotejamento e com proteção de filme plástico para controlar as ervas daninhas. Fotos: Joseph A. M. Holtum.

As plantas de agaves produzidas in vitro no referido ensaio foram geradas pelo sistema de propagação por cultura de tecidos (Figura 67) de algumas mudas que foram importadas do México, em 2004. Com base no campo de agave da Figura 62, as plantas estão com a idade de 1 ano, as quais sobreviveram satisfatoriamente ao transplantio e também a sua primeira estação chuvosa, permitindo assim apresentar uma acumulação de biomassa e uma aceitável taxa de área foliar (HOLTUM et al., 2011).

Figura 67. Inicialmente desenvolvidas por cultura de tecidos, as pequenas mudas são mantidas nos tubetes por 12 meses antes do transplantio para o campo, apresentando no final um padrão de uniformidade no seu tamanho. Fotos: Joseph A. M. Holtum.


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A empresa Ausagave fez uma estimação comparativa entre a expectativa de produção do etanol a partir do agave com aquele obtido a partir da cana-de-açúcar na Austrália, conforme Tabela 2. Como rendimentos do agave pode variar entre 300 e 500 Mg ha-1, com o peso de uma planta colhida variando de 60 a 120 kg (Tabela 3), será essencial ter uma ceifadora mecânica robusta. A proposta do projeto australiano é usar uma colhedora mecanizada adaptada de cana-de-açúcar, devendo o material triturado pela máquina ser esvaziado em um remoque especial tipo basculante, dotado de uma rodagem dupla e cesto confeccionado em tela e chapa metálica tracionado por um trator de média potência (80 cv; Figura 68). Esse novo protótipo adaptado ainda será validado em campo (HOLTUM et al., 2011).

Tabela 2. Comparação da produção de açúcares e rendimento em etanol entre as culturas de cana-de-açúcar e o Agave tequilana no quinto ano de colheita (espaçamento adensado de 2 m x 1 m). Matéria-Prima

Cana-de-açúcar

Agave tequilana

Açúcares Solúveis Totais - AST

14%

24%

Rendimento em Etanol – L/ha/ano

7.560

10.230

Fontes: Don Chambers (Ausagave, 2010). Cana-de-açúcar com 100 ton/ha.

Tabela 3. Previsão esperada da produção de biomassa, açúcar e fibra por planta e por hectare do Agave tequilana no quinto ano de colheita (plantio adensado). Parte Planta

da

COMPOSIÇÃO POR PLANTA Biomassa

Açúcar

Biomassa

Açúcar

Fibra

(ton)1

(ton)1

(ton)1

26,0

224,0

62,7

58,2

20,0

36,0

144,0

28,8

51,8

6,4

10,0

50,0

32,0

3,2

16,0

80,0

23,7

31,5

400,0

94,7

126,0

1

(%)

Pinha

44,8

28,0

Folhas

28,8

Outras Total

(kg)

Fibra (%)

COMPOSIÇÃO POR HECTARE

Fontes: Don Chambers (Ausagave, 2010). 1Base úmida.


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Figura 68. Colhedora mecânica de cana-de açúcar que será adaptada na Austrália para a colheita da planta inteira do Agave tequilana com 5 anos de idade, visando a produção de etanol.

3.Etanol de Agave no México O bioetanol é um produto de origem biológica que tem provado ser um excelente substituto para os combustíveis fósseis (UNESCO, 2007). No México, houve 56 milhões de litros de bioetanol em 2008, mas o seu consumo nesse ano foi de 164 milhões, sendo o restante obtido de importação (HONTY; GUDYNAS, 2008). Para 2012, o México pretendia produzir 412 milhões de litros de bioetanol, utilizando como matéria-prima, principalmente milho e cana de açúcar, essas duas culturas consideradas na primeira instância como fonte de alimento (SERRA, 2011).

Nos últimos anos, tem havido várias investigações para a utilização da biomassa da planta inteira do Agave tequilana Weber, variedade Azul, como fonte de energia (WHITNEY et al., 2002; GONZÁLEZ, 2008; MADRIGAL, 2009). Os resultados demonstraram que a produção de etanol é viável no aspecto biológico para referida espécie de agave, obtendo-se um maior rendimento significativo do que a cana-de açúcar (Tabela 4). Entretanto, no aspecto econômico seria necessário mecanizar algumas etapas do processo para produção de etanol, as quais reduziriam os custos de produção, principalmente no que se refere à colheita do agave (ROBLES et al., 2012). Estima-se que o preço de toda atividade para a produção da tequila é da ordem de $ 22.550,00 pesos por ha, o que corresponde a 75% dos custos de produção (SERRA, 2011).


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Tabela 4. Comparativo das principais características das culturas do agave (azul) e canade-açúcar para produção de etanol destilado. Produto/processo Matéria-prima necessária para 1 litro de etanol (kg) Rendimento ton/hectare/ano Ano para colher Rendimento ton/litro Etanol Produtividade (ton/hectare) Produção de Biomassaton/hectare/ano Requerimento de água

AGAVE (Pinha; México) 6

CANA DE AÇÚCAR (Brasil) 13,4

75 6 125,0 75 200 (ton de biomassa seca) Nenhum – Muito baixo Mínimo Muito baixo

73,5 1 66,7 73,5 100 Muito alto

Trabalho requerido de campo Alto Impacto Ambiental (Fertilizantes e Alto inseticidas) Valor da terra explorada Muito baixo Muito alto Teor de açúcares 27%-42% 8%-12% Custo do litro do Etanol 0,13 O,47 Fontes: Dados de Madrigal (2009), SAGARPA (2006) e Becerra (2009) 1 Cana--de--açúcar sem irrigação. 2 Cultivar melhorado do Agave angustifóliaHaw. 3 Rendimento do etanol destilado, não incluindo o potencial do etanol de celulose.

Além de realizar o processo de hidrólização dos mostos das plantas após sua extração na usina, seria necessário transformar o processamento de extração dos açúcares, em batelada da indústria tradicional, por um sistema moderno de extração integrada. O processo adotado recentemente por empresas do ramo da tequila para a obtenção dos açúcares das pinhas do agave azul é a tecnologia moderna denominada DIFUSORES (Figura 69), por apresentar uma maior eficiência que os métodos tradicionais de cozimento.

Figura 69. Difusor para extração do caldo da planta inteira do agave azul para produção de etanol. Fotos: Raul B. Fernandes.


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Na produção do etanol, o processo de difusores requer que a matéria-prima (planta de agave) seja previamente preparada, a qual seria submetida a duas etapas bastante distintas, mas em ambas seriam usados os moinhos. A primeira etapa seria encarregada da redução ou trituração das plantas em pequenos pedaços pela máquina de trituração e a segunda realizaria o desfibramento do material triturado por eliminação do bagaço no final do processo de prensagem.

Por outro lado, o projeto de produção de etanol no México, ainda em estudo, tem procurado melhora a eficiência da colhedora mecanizada para aproveitar a planta completa de agave (folha e pinha). A colhedora de agave seria tracionada por um trator e um grande gancho hidráulico prenderia a planta a ser cortada e ainda no campo, iria alimentar o triturador instalado no carroção auxiliar de transporte. Inicialmente, a operação de corte seria executada por uma forquilha resistente ou lâmina adaptada e direcionadas (em substituição aos dois garfos de apoio instalados na parte inferior) a parte basal da planta do agave junto a raiz, sem remoção do solo (Figura 70) ou com remoção do solo, que do ponto de vista técnico, não seria muito recomendável (Figura 71). A tecnologia da máquina colhedora de agave permitiria reduzir o tempo para execução das atividades em campo e os gastos com mão-de-obra da colheita das plantas em campo, enquanto na usina de extração, a redução de custos ocorreria por meio do uso de difusores.


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Figura 70. Gancho hidráulico de agarrar a planta de agave, quando cortada na sua parte basal por uma forquilha adaptada (A; C) ou uma lâmina (B; D), sem remoção do solo. Fotos: Arquivo da Alibaba.

Figura 71. Colheita completa da planta de agave com ajuda da força hidráulica do guincho traseirodo trator que arranca a planta enlaçada por uma fita de lona ou corda, com remoção do solo.


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4.Etanol de Agave no Semiárido do Brasil Segundo a Embrapa Agroenergia, para aumentar a oferta de etanol o importante, fundamental e estratégico, além de óbvio, é diversificar as matérias primas e ampliar as regiões produtoras. O Brasil precisa reforçar as ações para implantar uma política energética inovadora e reguladora com a introdução de alternativas viáveis de matéria prima para a produção do álcool. O etanol poderá vir, também, da região semiárida do nordeste brasileiro, pelo cultivo e utilização tanto do agave azul como, também, do sorgo doce ou sacarino para produção de álcool como opção viável, promovendo a segurança do abastecimento e o equilíbrio do mercado. Culturas de regiões secas e quentes, o agave azul (Agave tequilana) poderá fazer com o sorgo sacarino uma dupla de sucesso para produção de etanol (sistema de plantio consorciado).

De acordo com Madrigal-Lugo e Velázquez-Loera (2012) a produção de bicombustíveis em níveis internacionais corresponde aproximadamente a 85%, mas, ao se tratar do etanol, o Brasil e Estados Unidos representam uma contribuição de 90% em nível mundial. Portanto, a possibilidade de o Agave tequilana, variedade Azul, vir a contribuir no empenho a produção de etanol no semiárido brasileiro é altamente relevante, uma vez que a referida espécie apresenta em sua estrutura física características que se enquadram essa região, especificamente para o caso do Território de Identidade do Sisal da Bahia (Figura 72). Sendo que, o Agave sisaleiro presente nessa territorialidade apresentou em 2010, uma área de colheita correspondente a 264.016 ha, com a Bahia abrigando 95,53% dessa área. Logo, sendo o Agave sisaleiro e o agave azul do mesmo gênero pode haver um aumento absoluto de área colhida, assim poderá lançar o Território de Identidade do Sisal com maior força econômica em comparação aos outros territórios de identidade (VASCONCELLOS, 2012).


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Figura 72. Municípios baianos que constituem o Território do Sisal. Fonte: Brasil, 2007. A produção de etanol a partir do Agave tequilana no território do sisal irá requerer mão de obra para executar tarefas manuais e capacitação profissional dos habitantes presentes na região. Logo, pode vir concretizar no espaço destinado a nova espécie de agave: aquecimento da economia, investimentos em infraestrutura, qualificar a mão de obra no local a fim de melhor atender o mercado consumidor, uma vez que amplia a produção de energia renovável, sem que agrida o meio ambiente. Além disso, o agave azul é uma planta que exige as mesmas condições climáticas do agave sisaleiro, já presente no Território de Identidade do Sisal e poderá vir a diversificar as alternativas de renda na região em consideração, fomentando ainda mais o nível de produção do agave da Bahia em nível nacional (VASCONCELLOS, 2012). O cultivo do agave azul possibilita rendimentos favoráveis de 2.000 m/ha litros de etanol destilado, logo poderá ser um fomento considerável de energia com qualidade. Além disso, o investimento nesse cultivo não exige elevados custos, já que o trabalho de campo é escasso e desenvolve-se bem em qualquer tipo de solo. No entanto, o incentivo à produção do agave azul possibilita vantagens ao sucesso na produção de biocombustíveis e geração de uma extensão lucrativa favorável aos seus investidores (MADRIGAL-LUGO; VELÁZQUEZ-LOERA, 2010).


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É importante ressaltar que pesquisadores da Universidade de Oxford do Reino Unido e Sidney concluíram que o agave azul utilizado para fazer tequila tem potencialidade frente ao milho e à cana de açúcar na produção de etanol. Ainda segundo os estudiosos, essa viabilidade volta-se a regiões secas de difícil cultivo alimentar, pois as características adaptativas dessa espécie se enquadram perfeitamente em ambientes áridos. Um exemplo pertinente sobre esse contexto se aplica as regiões secas da nação australiana, como comprova a revista Energy and Environmental Science fundamentada na comprovação de cientistas britânicos e australianos de que certos tipos de grãos podem ser cultivados na mesma área do agave sem problemas ou adoção de cultivos consorciados (UNIVERSIT OXFORD, 2011). Portanto, medidas já estão sendo tomadas a fim obter resultados para adaptação do agave azul no semiárido da Bahia. Além disso, o empresariado mexicano tem demonstrado interesse favorável a possibilitar investimentos no cultivo desse insumo na Bahia, particularmente na região do sisal. O Seagri/EBDA analisa a possibilidade de introduzir a agave azul e avançar na produção de etanol em zonas do semiárido com altitude acima de 700 metros, a exemplo de regiões como a Chapada Diamantina e algumas áreas da região de Campo Formoso e Irecê, que já possuem tradição de produção de sisal. É importante esta iniciativa do Governo da Bahia em buscar opções sustentáveis visando estruturar o semiárido para conviver com a seca, mantendo o homem no campo com emprego, renda e qualidade de vida. Uma forma de reduzir os custos de implantação do projeto seria o fornecimento de mudas e também a realização de cursos sobre o sistema produtivo do agave para capacitação dos eventuais fornecedores da matéria-prima, vinculados por contratos de fornecimento. Desse modo, o programa obrigatoriamente construiria um cadastro dos produtores parceiros do Território de Identidade do Sisal da Bahia envolvidos no cultivo do Agave tequilana para a produção de etanol (BAHIA, 2009).

Por outro lado, a região do Agreste dos Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte tem clima e solos adequados ao cultivo do agave. Além disso, várias das usinas/destilarias existentes nesses Estados do Nordeste estão situadas em áreas limítrofes com as regiões do Agreste, cujas condições edafoclimáticas são relativamente


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próximas daquelas encontradas nas regiões de produção de agave no México (FERNANDES, 2010). Nesta abordagem anterior, o autor apenas se preocupou nas questões relacionadas da existência de usinas de destilaria e da precipitação pluviométrica satisfatória da região do Agreste, deixando de mencionar outro fator fundamental da altitude mínima (ideal de 700 mm) requerida para que a planta do Agave tequilana possa produzir uma pinha grande e com elevado teor de açúcares solúveis totais, apesar de que a destinação dessa produção da planta inteira seja utilizada na produção de etanol e não de tequila.

Em relação aos investimentos na indústria, no caso da simulação prevista num projeto para o Brasil, dois aspectos devem ser bem avaliados pelos investidores:

1.-FORNOS ou AUTOCLAVES: Para a operação de cozimento do agave, seriam necessários fornos ou autoclaves com capacidade de processar as 1.560 ton/dia de agave previstas para esmagamento. No caso dos sistemas de cozimento utilizados no México para a produção de tequila, o ciclo total da operação de cozimento quando se utiliza fornos é de 36 h e no caso das autoclaves este tempo cai para 13 horas (Figura 73). Esses sistemas de batelada usados na produção da tequila, provavelmente não seriam ideais para o processamento de maiores quantidades de plantas inteiras de agave como são exigidas para a produção de etanol. As destilarias de etanol de milho nos EUA, nas etapas de conversão do amido em açúcares fermentescíveis conhecida como liquefação e sacarificação, empregam o cozimento continuo que é muito mais eficiente e utiliza muito menos mão-de-obra, além do processo ser mais rápido. Esses sistemas de cozimento continuo, conhecidos como “Jet cooking”, possivelmente poderiam ser adaptados para modernizar essa etapa de fabricação no caso da produção do etanol de agave no Brasil. Outro aspecto importante a ser estudado é a questão do desfibramento da planta inteira do agave. Nas destilarias de tequila do México, na maioria das vezes o cozimento é feito simplesmente com as pinhas de agave cortadas em 2 ou 4 partes, o que não garante um maior contato da inulina com o vapor de cozimento, reduzindo a eficiência de conversão. Em outras destilarias mais modernas, as plantas de agave poderiam ser desfibradas antes do cozimento, o que possibilita um cozimento mais uniforme, e posteriormente, o agave desfibrado e cozido segue para as moendas ou difusor (FERNANDES, 2010).


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Figura 73. Instalação de grande autoclave importado do México na parte interna do galpão da usina com ajuda de um grande guindaste, usado no cozimento a vapor das pinhas partidas do agave azul.

b) MOENDAS ou DIFUSOR: No caso das moendas ou difusor, as usinas poderiam utilizar as mesmas moendas destinadas ao esmagamento da cana-de-açúcar para a moagem do agave, mas como aquelas são geralmente de grande porte, este é um ponto que precisaria ser mais bem analisado. Para a moagem prevista nesta simulação, as moendas teriam que ter uma capacidade de 65 TAH com fibra de 31,5%. Isto equivale a uma moagem equivalente a 136,5 TCH, de cana-de-açúcar de 15% de fibra. As moendas atualmente instaladas nas destilarias do Estado são maiores que 54 cm de largura, portanto para moagem superior a 200 TCH é bem maior do que o necessário para a moagem pretendida do agave. Um provável investimento em quatro moendas de pequeno porte seria aconselhável no momento em que houvesse disponibilidade de agave azul para produção de etanol (Figuras 74 e 75). As demais etapas do processo de produção, a fermentação e a destilação, são as mesmas utilizadas para o etanol de cana-de-açúcar e não exigiriam investimentos adicionais na fábrica. Desta forma, no projeto proposto para a região do agreste, os investimentos na área industrial seriam mantidos em níveis mínimos (FERNANDES, 2010).


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Figura 74. Máquina trituradora (extremidade) e, em sequência, o conjunto de pequenas prensas com quatro ternos de rolos para extração do mosto do agave azul (equipamentos na cor amarela).

Figura 75. Moendas de esmagamento do agave triturado, e sob adição de água pressurizada, para extração do mosto fresco destinado a produção de etanol.


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5.Biocombustível do Agave: Etanol Atualmente a indústria tequilera demanda aproximadamente um milhão de toneladas de pinhas de agave, cuja atividade gera uma quantidade similar de folhas que constituem os resíduos agrícolas da cultura, as quais não são ainda aproveitadas pela indústria mexicana (IÑIGUEZ et al., 2001) e essas perdas anuais representam aproximadamente 100 mil toneladas de biomassa (NARVAEZ; SÁNCHEZ, 2009).

É importante destacar que na separação do álcool, utiliza-se o processo de destilação no qual os diferentes pontos de ebulição dos componentes da mistura são responsáveis pela separação. Essa operação é realizada em três etapas: destilação propriamente dita, retificação e desidratação. Em todas elas, o aquecimento é feito a partir do vapor, de forma direta ou indireta.

Fermentação: Na produção de etanol do agave, tem-se o mosto morto como ponto de partida que vem da fermentação (Figura 76), o qual é composto basicamente por componentes em fase líquida, dentre os quais se destacam o álcool (4 a 10 ºGL) e a água (89 a 93%). Os demais componentes líquidos como glicerol, álcoois homólogos superiores, furfural, aldeído acético, ácidos succínico e acético, são encontrados em quantidades bem menores. Já os sólidos são representados por bagacinhos, leveduras e bactérias, açúcares infermentescíveis, sais minerais, matérias albuminóides e outros, e os gasosos, principalmente pelo CO2 e SO2. Sua primeira destilação tem por objetivo separar os componentes menos voláteis da mescla líquida, gerando assim um produto denominado de ordinário (Figura 77). Nesse processo, é também gerado um subproduto denominado vinhaças (teor alcoólico com menos de 0,03 ºGL), as quais contêm todos os sólidos (leveduras mortas, açúcares não fermentáveis, sais nutritivos e minerais) e outros componentes como aldeídos e ésteres.


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Figura 76. O mosto morto do agave azul obtido no processo de fermentação que segue para o processo de primeira destilação para gerar o produto líquido ordinário.

Figura 77. A destilação do mosto fermentado do agave resultará num produto líquido denominado de ordinário. Destilação: Os aparelhos de destilação em usinas de etanol têm a configuração básica como apresentado na Figura 78. A entrada do sistema é realizada com o líquido ordinário do agave proveniente dos processos antecedentes – a fermentação com sua composição alcoólica que gira em torno de 4 a 10º GL2 (unidade de medida para especificar o teor alcoólico em volume), água (aproximadamente 90%) e os demais componentes encontrados em menores quantidades tais como: glicerina, ácidos succínico e acético, leveduras e bactérias, sais minerais, etc., e – a primeira destilação com sua graduação alcoólica aumentada para 25% - 35% por volume e isento de levedura (LINS, 2008).


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Figura 78. Processo químico industrial de produção de etanol destilado e aparelhos de destilação de etanol de grande e pequeno porte. Fotos: Arquivo de André Ribeiro Lins.

O líquido ordinário segue para a segunda destilação, através das colunas de destilação ou similares (Figura 79), onde ocorre a concentração inicial com 40 a 50 ºGL na primeira coluna A, 96 ºGL na segunda coluna B e 99,9 ºGL na terceira C, obtendo-se o etanol ou álcool anidro. Dessa forma, os produtos leves, que têm um ponto de ebulição menor do que o etanol, são separados na primeira coluna (álcool), e na segunda coluna (óleo fusél; Figura 80), sendo que na terceira coluna (álcool anidro) o produto final é medido nos tanques medidores e depois bombeado para os tanques de armazenamento.

Figura 79. O líquido ordinário do agave deve ser submetido às três colunas de destilação para produzir etanol: Destilação (A), Retificação (B) e Desidratação (C). Foto: Arquivo disponível em www.bts.net.ue.


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Figura 80. Colunas A (segunda destilação) e B (retificação) para fabricação do álcool hidratado do agave, sendo a entrada no sistema pelo depósito de líquido ordinário (ou caixa de vinho). Foto: Arquivo de André Ribeiro Lins.

Retificação: Essa etapa de retificação permite concentrar a flegma (vapores com 25 a 35 ºGL) proveniente da destilação de forma a obter um grau alcoólico de 96 ºGL à saída e retirar impurezas como álcoois homólogos superiores, aldeídos, ésteres, aminas, ácidos e bases. Ou seja, a finalidade da coluna B é concentrar a flegma a uma graduação de aproximadamente 96º GL (unidade de medida para especificar o teor alcoólico em volume). A flegma é alimentada nessa coluna, onde é concentrada e purificada, sendo retirada sob a forma de etanol, duas bandejas abaixo do topo da coluna. Os componentes mais voláteis retirados no topo da coluna B passam por uma sequência de condensadores (E, E1 e E2), dos quais retornam para o topo da B sob a forma de condensado (refluxo). Do fundo da coluna B é retirada uma solução aquosa chamada flegmaça que tanto pode ser reciclada no processo ou eliminada (Figuras 81 e 82).


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Figura 81. A coluna 2 (B) retificadora recebe o álcool do agave com teor de 25 a 35 da coluna de destilação 1 (A) para transformar em álcool hidratado com concentração alcoólica de 96 e separar o flegmaça (3). Foto: Arquivo de Elias Martins.

Figura 82. Torres de destilação em uma fábrica e colunas de retificação.

Desidratação: O álcool a 96 ºGL é chamado álcool hidratado. Para a produção de álcool anidro (coluna C; Figura 83), a 99,7 ºGL é preciso utilizar ciclo-hexano como desidratante. Essa necessidade surge do fato de que o álcool hidratado constitui uma mistura azeotrópica. Uma mistura azeotrópica é uma mistura em que os componentes não são separados por um processo de destilação simples. A adição do ciclo-hexano forma uma mistura ternária com a água e o álcool, cujo ponto de ebulição de 63ºC é menor do que o da mistura binária inicial (ponto de ebulição de 78ºC em relação ao do álcool). Após a separação, o desidratante é recuperado e reaproveitado (MARTINS, 2016).


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Figura 83. Coluna C de desidratação para fabricação do álcool anidro do agave. Foto: Arquivo de André Ribeiro Lins.

Há também a destilação extrativa, que é outro processo de desidratação que utiliza a substância mono etileno glicol. Similarmente ao processo anterior, utiliza-se uma coluna de desidratação, onde o mono etileno glicol (MEG) é alimentado no topo desta coluna e o álcool a ser desidratado ocorre a um terço abaixo do topo da coluna. Inversamente ao processo do ciclo-hexano, o MEG absorve e arrasta a água para o fundo da coluna e os vapores de álcool anidro saem pelo topo da coluna, de onde o álcool é condensado e enviado para armazenamento nos tanques. A mistura contendo água, MEG e uma pequena quantidade de álcool, é enviada para uma coluna de recuperação do MEG, o qual retorna ao processo de desidratação. Como o MEG concentra as impurezas retiradas do álcool e se torna mais corrosivo, é necessária à sua purificação pela passagem através de uma coluna de resinas de troca iônica, que retém os sais e reduz a acidez (MARTINS, 2016).

Algumas usinas utilizam um sistema conhecido como peneira molecular para fazer a desidratação, que é uma separação efetuada por membrana. Na desidratação por adsorção, utilizando peneira molecular, o álcool a ser desidratado é inicialmente vaporizado e superaquecido antes de ser enviado para as colunas de desidratação, que contém em seu interior um material constituído basicamente por hidrosilicato de alumínio contendo microporos, denominado zeolita, mais popularmente conhecido como peneira molecular. Essa rede de microporos absorve a água e deixa passar os vapores de álcool que são posteriormente condensados na forma de álcool anidro. Periodicamente é


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realizada a regeneração da zeolita pela passagem sob vácuo de vapores alcóolicos que são posteriormente destilados para recuperação do álcool neles contido (MARTINS, 2016). Armazenamento: Os álcoois produzidos, hidratado e anidro, são quantificados e enviados a tanques de grande volume onde são estocados para posterior comercialização (Figura 84).

Figura 84. Tanques de armazenamento de álcool hidratado de cana de açúcar. Foto: arquivo da Usina Santa Elisa, SP.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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