A Folha #5

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A FOLHA

www.construction-chanvre.asso.fr Fotos: Alexandre de Meneses

“Há que tomar drogas com elegância, a ânsia não é elegante.”

Esquerda: Antonio Escohotado dando a sua palestra Cima: Panorâmica do recinto onde se realizaram as Conferências.

Antonio Escohotado

As Conferências Para além das exposições o ponto alto da Expocannabis reside no seu conjunto de conferências ligadas à canábis nas vertentes cientifica e médica, de cultivo, legalidade e acção social. Na sexta-feira Luis Hidalgo, um dos fundadores da primeira casa de sementes espanhola e especialista em canábis narcótico, abriu o jogo com uma palestra que visou as variedades autoflorescentes com as quais tem vindo a trabalhar (na Autofem Seeds), que se tornou numa agradável conversa, com os, infelizmente, poucos assistentes, sobre os mais variados tópicos relacionados com o cultivo de canábis. Mesmo assim teve oportunidade de contar a história destas variedades, que começa com a famosa Lowryder, e aprofundar o método para a sua obtenção que envolve um cruzamento equilibrado entre ruderalis de altas latitudes (> 40º) que têm a desejada característica de autoflorescência e variedades híbridas, sativa ou indica de teor psicotrópico superior. Para além da possibilidade de florirem em qualquer época do ano em exterior, há outras vantagens nestas variedades, como o seu pequeno porte. Quando questionado, não se absteve de divulgar o calcanhar de Aquiles das autoflorescentes: características indesejáveis vindas das ruderalis que, no entanto, podem ser evitadas com bons métodos de cruzamento e selecção. Seguiu-se o conhecido Dr. Grow, Massimiliano Salami com as “Patologias associadas ao cultivo em vaso”, palestra durante a qual deu importantes dicas para os principiantes, tal como não usar vasos brancos pois deixam passar luz permitindo o crescimento de algas no substrato. Lembrou também, em referência aos substratos comerciais, que “estéril quer dizer que facilmente se pode contaminar.” e indicou como escolher o melhor substrato. Foi, no entanto

mais além, direccionando parte do discurso aos mais experientes, ao falar da patologia conhecida por necrose laranja, que consiste no alaranjar das folhas e morte da planta que ocorre estranhamente sempre à sexta semana de cultivo em interior. Salami descobriu que esta é causada pela rega consistente das plantas com uma solução de pH 5,5, algo praticado por diversos cultivadores e que é facilmente corrigido passando para os aconselhados 6,2-6,5. Sábado as conferências começaram com “Apreensões de canábis em domicílios”, por Héctor Brotons, o advogado da F.A.C. (Federación de Asociaciones Cannábicas). Seguiu-se o respeitado catedrático de Bioquímica e Biología Molecular, secretário da Sociedad Española da mesma ciência (SEBBM) e da Sociedad Española de Investigación sobre Cannabinoides (SEIC), Manuel Guzmán, com “Como actua a canábis no nosso cérebro?”. Quais os compostos activos do canábis e a forma como actuam e contribuem actualmente para o tratamento de diversas patologias (em particular o cancro e as doenças neurodegenerativas – ver A Folha 3). Guzmán terminou uma agradável e bem ilustrada conferência com o antagonista Rimonabant, sobre o qual podemos ler um artigo presente nesta edição escrito pelo nosso colaborador residente Dr. Pedraza Valiente. O terceiro conferencista do dia foi Alejo Alberdi, um dos mais respeitados activistas do país vizinho, além de músico, erudito e escriba, apresentando “Como não debater sobre a legalização da canábis”. Pelas 16h, José Carlos Bouso falou das “Linhas actuais de investigação em canábis”. Apresentou os receptores canabinoides presentes no cérebro, CB1 e CB2, que regulam funções do sistema nervoso e do sistema imunitário, respectivamente. Bouso afirmou que o canabidiol (CBD) será muito provavelmente o fármaco canabinoide do futuro pelos seus efeitos antipsicóticos, antidepressivos, ansiolíticos e neuro-

protectores. Um facto curioso desta molécula é que anula os efeitos psicóticos provocados pelo THC. Este facto corrobora a ideia que um bom espécime de canábis para consumo recreativo e, principalmente, medicinal deve produzir uma quantidade substancial de CBD. Recentemente esta ideia tem guiado o desenvolvimento de algumas variedades pelas casas de sementes, depois de, durante décadas, se terem focado exclusivamente no aumento das concentrações de THC. José Carlos Bouso, psicólogo clinico, foi o primeiro investigador do mundo a obter autorização para estudar clinicamente o MDMA [como forma de tratamento do stress pós-traumático em mulheres vítimas de violência sexual] e actualmente trabalha no Centro de Investigación de Medicamentos do Hospital Sant Pau de Barcelona. A finalizar o dia tivemos “As drogas ontem e hoje”, por Antonio Escohotado, professor, filósofo, historiador e poeta, autor de “Historia General de las Drogas”. Foi uma verdadeira palestra, dada para uma plateia apinhada do que pareciam os mais atentos alunos absorvendo cada palavra enunciada pelo professor. Tratou-se, aliás, da conferência mais concorrida, onde se viam pessoas de todas as idades, dos 18 aos 80, incluindo várias personalidades da cultura e academia espanhola. De carácter filosófico, foi uma conversa inspiradora de onde se pode destacar a frase: “há que tomar drogas com elegância, a ânsia não é elegante.” Domingo as conferências resumiram-se ao tema “Porquê legalizar a canábis em Espanha agora?” por Carlos M. Cardenas, sócio fundador da NORML España. Indivíduo polido com quem já haviamos dialogado no seu stand no dia anterior. Por isso utilizámos o domingo para interagir enormemente prolongando-se o exercício quase até ao voo de regresso. Vemo-nos na Spannabis, em Barcelona. Gracias: Lucky, Montse, Lola y todos los compañeros de A.M.E.C.


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