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Artigo

TRADIÇÃO OU INVENÇÃO: A RELAÇÃO DOS MARACATUS DE “NAÇÃO” COM OS XANGÔS DE PERNAMBUCO Por Rafael Eiras

O

maracatu denominado de “nação” ou de baque virado é, de acordo com a obra de

Guerra

Peixe(1980),

uma

manifestação da cultura popular pernambucana que tem suas origens no séc. XVII. Ele nasce das cerimônias de coroações dos reis negros no momento em que a Coroa Portuguesa autorizava os negros, escravos ou libertos, a elegerem seus reis e rainhas de acordo com as diferentes etnias africanas trazidas ao Brasil, como forma de comemoração. Estas coroações, que eram um conjunto de atividades, acabam por se manter somente como um cortejo. Este cortejo dá origem ao maracatu, onde uma orquestra formada de elementos de percussão toca “toadas” e dança a coroação do rei de congo. O que a principio parecia ser uma completa dominação cultural dos valores europeus e também uma submissão à fé católica pode ser lido como um ato de resistência cultural.

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G N A R U S | 32 Nos dias de hoje, no Maracatu “nação”, a côrte

pespctiva o Maracatu se torna uma tradição onde

ainda é paramentada com vestimentas que

grande parte de seus elementos principais não

remetem ao estilo da época de Luís XV. Ali se

teriam a origem restrita ao Brasil, mas sim na África.

percebe

muitos

elementos

de

importante

simbologia e singularidade visual. Além do rei e rainha,

existem

ainda

outros

personagens

importantes na côrte como os príncipes e princesas, barões e baronesas, embaixador e embaixatriz, as catirinas, assim como os lanceiros, representando os vassalos que, com seu bailado, circulam a côrte real, protegendo-a.

Os xangôs de Pernambuco, nome dado às manifestações religiosas, que cultua os orixás africanos nesse contexto, tem origem semelhante à do Candomblé baiano, como uma forma de reinvenção desta África mítica por meio de uma suposta “nação”, de uma tradição reinventada e remodelada pelo contexto brasileiro. (OLIVEIRA, 2010) As religiões afrodescendente surgem no

Esses são alguns dos elementos mais tradicionais.

Brasil também como uma adaptação à realidade em

Além destes, existem outros que vêm sendo

que estes indivíduos se encontravam. É uma ideia

introduzidos mais recentemente, como é o caso da

de “África pura” que perpassa todas essas

ala que representa os orixás e da ala ‘afro’ que

manifestações. É uma ideia que pode ser vista tanto

dança passos marcados.

como uma qualidade, como também uma forma de

É importante perceber que foi necessário por parte

desta

escravisada,

comunidade desenvolver

afro-brasileira, alternativas

desvalorização, quando esta almejada pureza não é comprovada.

de

Há ainda outro tipo de maracatu observado por

sobrevivência como indivíduos. A reelaboração de

Guerra Peixe (1980) nas décadas de 1930 e 1940,

suas tradicões étno-culturais foi um esforço de

que é denominado de maracatu de orquestra ou

resistência à situação em que estes viviam. “Tais

baque-solto. Este se diferencia do de “nação” pela

alternativas envolveram processos políticos e

composição do seu conjunto musical, constituído

culturais, que representaram, em seu conjunto, uma

de um terno1 e de instrumentos de sopro. “Além

resistência contínua e que assumiu as formas mais

disso, é emblemática, do maracatu de orquestra, a

díspares, indo desde às adaptações e negociações

presença do caboclo de lança, muito conhecido na

necessárias à sobrevivência até os confrontos

atualidade e tido como um dos símbolos da cultura

diretos” (OLIVEIRA, 2010, p2)

popular pernambucana.” (GUILLEN, 2007, p237).

Todos os sistemas sócio-culturais que orientavam a vida dos africanos e seus grupos de origem ficaram para trás, numa África mítica que sobreviveu apenas nas memórias coletivas. No entanto, diversas outras formas de se notar a relação com a África foram sendo forjardas e posteriormente revigoradas por uma ideia de identidade nacional já na década de 1930. Nesta

Nesta modalidade a cultura indígena ganhava mais visibilidade. “A não-diferenciação entre as manifestações existentes denota que o significado de maracatu era polissêmico, não se referindo exclusivamente a um tipo específico, visto que algumas “troças”, como o Timbu Coroado, formado de esportistas do clube Náutico, designavam-se igualmente como maracatu. Estou denominando de troças esses grupos porque portavam cartazes de crítica, fossem elas sociais ou críticas de costumes. A

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Gonguê de duas campânulas, porca( espécie de cuíca), ganzá e bombo.

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G N A R U S | 33 imprensa recifense do período não fazia a mínima distinção entre os maracatus nação, como o Elefante ou o Leão Coroado, os maracatus de orquestra, como o Pavão Dourado ou o Estrela da Tarde, e as “troças”, como o Timbu Coroado e o Cata Lixo. Todos os três tipos eram tratados como maracatus. GUILLEN, 2007, p237)

são registros sobre o maracatu como folguedo. Estes registros nos permitem chegar a conclusões como as de Katarina Real (1990) que, entre as principais

características

deste

folguedo

carnavalesco, é a de ter uma ligação estreita com os cultos de xangô, especialmente os de influência

Destarte, é percepitivel que a ideia de o que seria

nagô. Peixe (1980) também aponta e realça que os

o maracatu é elaborada com a necessidade de

integrantes do maracatu tradicional – “Nagô”, no

estudos sobre o folclore nacional, e não é um

sentido de “Africano” – é constituída na maioria,

conceito pronto. Surge assim uma percepção de

por iniciados nos xangôs.

que haveria um maracatu mais puro, africanizado, entendido como de “nação”, e o outro relegado a segundo plano, como uma expressão cultural de menor valor, que seria o maracatu de Orquestra.

No entanto, o que parece ser mais marcante nessa concepção de união entre ambas as práticas, seria a situação política do período, onde alguns textos importantes são produzidos acerca do maracatu.

Há nessessariamente nesta construção, de um

Havia nos anos de 1930 a 1950 em Pernambuco,

maracatu puro, uma ligação com os xângos, como

uma imensa repressão aos maracatus e às religiões

se estivessem ligados desde a gênesis. Essa é uma

afrodescendentes. Essa repressão foi desencadeada

linha de raciocínio que é sugerida desde os

pelo governo de Agamenon Magalhães. Foi um

primeiros folcloristas preocupados com a cultura

movimento que relegou aos maracatus de “nação”

nordestina. Autores como Guerra Peixe encontram

o lugar de “coisas de negro”. Mas paradoxalmente

nesta ligação uma ampla forma de perceber um

também havia um movimento intelectual que

conjunto sólido, integro de africanidade.

buscava

“O enfoque destes estudiosos nas roupas festivas, cetros reais, presença de reis e rainhas, dentre outros aspectos, segundo Maccord, gerou a concepção de que praticamente não ocorreram mudanças em aproximadamente cem anos, contribuindo para se firmar a idéia dos Maracatus como ícones da tradição na cultura popular e eles não serem percebidos em sua historicidade. (...) além de esparsa documentação referente aos anos de 1900 a 1930, afirmamos que é necessário levar em conta as constantes adaptações dos maracatuzeiros às transformações da vida cotidiana, sem imobilizar o maracatu em uma tradição na qual as pessoas são desprovidas da capacidade humana de criar e reinventar” (LIMA,2006. P. 4)

elevá-lo

à

condição

de

cultura

autenticamente pernambucana, buscando explicar a identidade nacional por intermédio das singularidades regionais. (GUILLEN, 2007) Podemos dar como exemplo os ideais de Mário de Andrade que, em 1938, mandou para Recife uma missão folclórica. Esse grupo percorreu o Norte e o Nordeste gravando, filmando e fotografando diversas manifestações da cultura popular. Dirigida por Luis Saia, a missão teve enorme dificuldade em conseguir um terreiro para gravar o Xangô devido à repressão política.

A ideia da relação entre os maracatus e os xangôs pode ter sua origem pela falta de documentação ou registro

do

século

XVII

ao

século

XIX

(BRANDÃO,1988) sobre a prática da religiosidade afro-descedente. O que se encontra neste período

“(...)É importante destacar que esse movimento foi perpassado por uma forte tensão social e política entre duas grandes tendências, quais sejam, as que viam na cultura popular as bases para se firmar a identidade regional — e Gilberto Freyre é seu grande representante — e aqueles que, atuando no governo de Agamenon, promoveram a repressão à cultura afro-descendente com o Gnarus Revista de História - VOLUME VIII - Nº 8 - SETEMBRO - 2017


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Oficina de Maracatu - Mestre Walter do Estrela Brilhante de Recife intuito preciso e explícito de lançar as bases para a civilização e modernização da cidade. Tensão social evidentemente também presente entre os populares, aqueles que precisavam tocar para os orixás, que desfilavam no carnaval com seus maracatus e que procuravam se inserir nessa discussão e disputa política, buscando legitimidade e aliados para manter suas práticas e crenças (GUILLEN, 2007, p.241)

Esta tensão criou e reforçou a necessidade de se juntar essas práticas. Servia tanto como proteção, onde os adeptos do xângo pudessem se aproximar dos maracatus como forma de esconder sua prática, como também pela necessidade de através desse conceito de unidade de uma África mítica, se moldar uma resistência baseada numa suposta tradição herdada e quase inalterada. Sob pretexto de que se tratava de casas de maracatus, os macumbeiros podiam ali exercer suas atividades ritualísticas, reunindo grande número de adeptos aos cultos afros.

às sedes dos maracatus e ali, sob os auspícios da Federação Carnavalesca, realizavam matanças e outros sacrifícios em holocausto aos deuses negros, e no dia seguinte, sempre aos domingos, à guisa de ensaio do batuque, promoviam na parte externa um discreto toque para os ‘orixás’. Homens e mulheres da seita tomavam parte na roda e, quando alguém se manifestava, era imediatamente levado para o interior, onde se fazia o despacho do invisível.” (REAL, 2002, p. 33)

Com isso, é possível perceber a existência de fortes indícios de que a relação entre as religiões afrodescendentes e os maracatus “nação” ganhou força com o período de repressão que se sucedeu aos anos da década de 1930. Mesmo que isso não significasse haver elos entre os dois tipos de manifestação

cultura-religiosa,

anteriores

ao

período citado. Tal concepção pode sugerir que esta ligação tenha sido uma “tradição inventada” aos moldes do conceito elaborado por Eric Hobsbawm (1984). Conceito este, que mesmo pensado no decorrer de um contexto histórico específico, da formação dos

“Assim, às vésperas das grandes datas da seita, determinadas figuras do culto africano acorriam Gnarus Revista de História - VOLUME VIII - Nº 8 - SETEMBRO - 2017


G N A R U S | 35 estados nacionais europeus, pode ser de extrema

“velho” e o “novo”, de forma que as rupturas sejam

utilidade.

evitadas.”( GUIMARÃES,1988 p. 7)

Segundo seu ponto de vista, as “tradições

No entanto esta proposta elitista esbarra em um

inventadas” seriam um conjunto de novas práticas

grande problema que é o de como garantir um

de natureza simbólica ou ritual vinculadas à normas

projeto historiográfico num país repleto de

e

inplicando

diversidade e extremas contradições. É no discurso

inevitavelmente numa visão de continuidade com o

de Carl Von Martius (GUIMARÃES,1988) que se dá

passado para serem validadas. Hobsbawm tenta

início à concepção de uma nação elaborada por

explicar como, devido a constante mudanças, as

três raças: a branca, a negra e a indígena. Ideia

sociedades tentam estruturar e organizar as rápidas

fundadora do mito de democracia racial brasileira.

valores

de

comportamentos

dinâmicas sociais advindas do mundo moderno. “Os historiadores ainda não estudaram adequadamente o processo exato pelo qual tais complexos simbólicos e rituais são criados. Ele é ainda em grande parte relativamente desconhecido. (...) Talvez seja mais fácil determinar a origem do processo no caso de cerimoniais oficialmente instituídos e planejados, uma vez que provavelmente eles estarão bem documentados, como, por exemplo, a construção do simbolismo nazista e os comícios do partido em Nuremberg. É mais difícil descobrir essa origem quando as tradições tenham sido em parte inventadas, em parte desenvolvidas em grupos fechados (onde é menos provável que o processo tenha sido registrado em documentos) ou de maneira informal durante um certo período…” (HOBSBAWM, 1984, p13)

O processo da formação de uma nação que se percebe no Brasil, acaba por ser sempre remodelado e reinventado. Havia um projeto de Brasil, como colônia, que foi descartado com o advento do império, que por conseguinte também é remodelado pelos ideais republicanos, que finalmente são redefinidos pelo Estado Novo. Este processo de formação de uma nação está vinculado paradoxalmente com uma permanência de ideias absolutistas ibéricas que fazem do “outro”, do ponto de vista externo, as noções latinas republicanas, e internamente cria uma hierarquia excludente onde a civilização só seria acessível ao branco. Uma curiosa permanência a se observar ao longo da história que é a tentativa de integrar o

É evidente perceber a extrema contradição, em todos

os

momentos

da

formação

desse

conhecimento histórico que adquiriu um sentido garantidor e legitimador para decisões de natureza política. Num momento em que o mundo deixava de lado a monarquia absolutista, o Brasil criava formas de explicá-la; no momento em que a escravidão era abolida, o Brasil criava formas de a manter por mais tempo e num momento em que as ideias liberais ganhavam espaço na prática, o Brasil a remodelava para justificar sua hierarquia social excludente. É nesse cenário, entre a República Velha e o Estado Novo, antecipados pelas ideias modernistas de nacionalidade, que parece surgir um conceito de maracatu como identidade e símbolo nacional, por trás de uma trajetória de repressão policial, que forçou uma assimilação entre as práticas dos xângos como folguedo. Simbiose que não necessariamente era natural, mas que molda uma identidade que apela para características do popular, e também tenta manter a hierarquia social excludente do país, onde o maracatu apesar de ser reconhecido como uma prática que representa o nordestino, também é demarcado como local de culto religioso de “negros”. “Mais interessante, do nosso ponto de vista, é a utilização de elementos antigos na elaboração de Gnarus Revista de História - VOLUME VIII - Nº 8 - SETEMBRO - 2017


G N A R U S | 36 novas tradições inventadas para fins bastante originais. Sempre se pode encontrar, no passado de qualquer sociedade, um amplo repertório destes elementos; e sempre há uma linguagem elaborada, composta de práticas e comunicações simbólicas. As vezes, as novas tradições podiam ser prontamente enxertadas nas velhas; outras vezes, podiam ser inventadas com empréstimos fornecidos pelos depósitos bem supridos do ritual, simbolismo e princípios morais oficiais - religião e pompa principesca, folclore e maçonaria”. (HOBSBAWM, 1984, p14)

existência do próprio maracatu chamado de “nação”. Na obra de Guerra Peixe(1980), maracatu “nação” se constituía no começo, em sua maioria, por iniciados nos xangôs pernambucanos, tanto que ele também já foi chamado de Afox - termo que dá, hoje, nome a um ritmo baiano - também de origem negra dos candomblés e que perpetua o imaginário

O que ocorre com o maracatu parece sequir o

e movimenta o mercado cultural Pernambucano.

padrão que Hobsbawm sugere. O que se percebe é

É possível escutar nos terreiros de santo o ritmo do

uma adaptação necessária, convertendo velhos

maracatu, mesmo que alterado pela diferença

costumes em condições novas, ou usando velhos

entre as potentes alfaias e caixas e os sagrados

modelos para novos fins em pleno século XX,

atabaques tocados por finas baquetas de madeira

distante do momento histórico percorrido pelo

ou pelas mãos. No terreiro se toca num lugar

autor, mas entendido pelo complexo e tardio

fechado, onde os santos dançam ao redor da coroa

processo de ideário de nação ocorrido no Brasil.

do rei Xangô. Enquanto que no maracatu se toca ao

No entanto, por mais que tenha sido criada pala situação política e por uma remodelagem da ideia de nação, as relações dos maracatus com os xangôs em Pernambuco existem no contexto atual. O que se vê hoje é que os maracatuzeiros e os seus maracatus se relacionam com o xangô, mas também existem os que estão ligados à Jurema e à umbanda. “Não podemos ter como ponto de partida o velho jargão que os maracatus-nação são espaços do xangô, ao passo que os maracatus de orquestra constituem manifestações ligadas a

ar livre, bem alto, onde todos acompanham o rei coroado do congo e sua corte. Guerra Peixe(1980) ainda afirma que nos velhos maracatus de recife, onde as tradições negras permanecem bastante evidentes, o canto se denomina “toada” e tem similaridades com a música sagrada dos orixás nos xangôs. Pode-se notar no maracatu traços melódicos característicos da música brasileira de origem negra, principalmente pelo fato da melodia ser interpretada por pessoas habituadas a cantar nos terreiros afro-brasileiros.

Jurema, como se tais relações fossem naturais, e

Em algumas toadas se favorece a ideia de

não historicamente constituídas “. (CANCLINI,

incorporação dos orixás. Como a toada “ôlé-lé-óu”

1998)

que é cantada para louvar os terreiros. Diante de

Mesmo sendo uma construção, este universo africano está como recriação de valores trazidos pelo negro escravisado, onde as idéias de origem, de identidade inseparáveis, entre o maracatu e as religiões afro, podem ser verdades construídas, mas que também passam a ser fundamental para a

qualquer culto afro-recifense constitui ”obrigação” cantá-la em execução excepcionalmente realizada por todos os participantes. Além destas toadas especiais que geram a incorporação, há também algumas consagradas a Exu e geralmente são cantadas ao serem estabelecidas dificuldades à caminhada do cortejo ou ao ser criada alguma confusão. O ritmo destas toadas se chama “Luanda” Gnarus Revista de História - VOLUME VIII - Nº 8 - SETEMBRO - 2017


G N A R U S | 37 e é usada só para saldar Exu e os eguns.

Católica, que no processo histórico também deixou

Diferentemente do ritmo habitual do maracatu: o

fortes marcas no folguedo.

baque virado. Outra evidente ligação são as denominadas

Rafael Eiras é licenciado em História pela Universidade Cândido Mendes

“Calungas”, bonecas usualmente feitas de cera e madeira que representam, nos seus axés, a força

Bibliografia

dos antepassados do grupo, sendo também

CANCLINI, Nestor García. Culturas Híbridas. São Paulo, Edusp, 1998, 2ª edição. CRUZ, Anna tereza de Carvalho. As irmandades religiosas de africanos e afro descendentes. In: Percursos, Florianópolis, V.8, N.1 p.03-17, jan/jun. 2007. GUIMARÃES, M. L. S. Nação e civilização nos tópicos: O

associadas à proteção espiritual. Estas bonecas são carregadas por uma importante figura da corte chamada ‘Dama-do-paço’. Em sua honra são cantadas, ainda dentro da sede, as primeiras loas, quando a Calunga é retirada do altar pela damado-paço e passa às mãos da rainha, que a entrega à baiana mais próxima e assim se sucede. Em canções oferecidas a Calunga Dona Emília, por exemplo, os músicos executam o ritmo de Luanda, o toque para salvar os mortos ou eguns. (PEIXE, 1980) A Calunga "Dom Luís" representa um rei africano, denominado como "Rei do Congo" pelos membros do grupo, numa clara referência aos primórdios do folguedo e coincide com a crença de que os poderes da Calunga estariam ligados aos seus ancestrais africanos. Assim a Calunga é um elemento mágico que protege, e mais do que isso, dá uma unidade de identidade ao grupo. É

relevante

destacar

que

mesmo

como

construção, a ligação entre a religiosidade afrobrasileira e o maracatu, existe. Nota-se também a extrema necessidade de se afirmar o africano puro nas duas tradições. O termo “nação” denota isso, como se o maracatu “nação” fosse naturalmente uma tradição trazida pelos negros da África, sem que quase não houvesse mudança. Temos

também

a

evidência

de

outras

religiosidades ditas menos puras como a Umbanda

Instituto Hitórico e Geográfico e o projeto de uma Historia Nacional. In: Estudos Históricos 1. Caminhos

da Historiografia. Rio de Janeiro: FGV, 1988. (5-27). PEIXE, Guerra. Maracatus do Recife. Recife, Prefeitura da Cidade do Recife/ Irmãos Vitale, 1980, 2ªedição. REAL, Katarina. O folclore no carnaval do Recife. Recife, Ed. Massangana, 1990, 2ª edição. REAL. Katarina. Eudes, o rei negro do maracatu. Recife, Ed. Massangana, 2002. GUILLEN, Isabel Cristina Martins. Guerra Peixe e os

maracatus no Recife: trânsitos entre gêneros musicais (1930–1950). ArtCultura, Uberlândia, v. 9,

n. 14, p. 235-251, jan.-jun. 2007. LIMA, Ivanildo Marciano de França, MARACATUS-

NAÇÃO E RELIGIÕES AFRO- DESCENDENTES: UMA RELAÇÃO MUITO ALÉM DO CARNAVAL. Diálogos -

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NATUREZA E SOCIEDADE: REINVENÇÃO DA ÁFRICA MÍTICA NO BRASIL. II Encontro da

Sociedade Brasileira de Sociologia da Região Norte 13 a 15 de setembro de 2010 - Belém (PA). Em : http://sbsnorte2010.ufpa.br/site/anais/ARQUIVOS/ GT15-358-376-20100831211944.pdf Acesso: 01/20/2016

e a Jurema, que fazem parte deste universo, mas que são deixados de lado por não serem considerados “puros”: É a inegável força da igreja Gnarus Revista de História - VOLUME VIII - Nº 8 - SETEMBRO - 2017


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