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Artigo

SOCIAL-DEMOCRACIA: O PARADIGMA DO “SOCIALISMO PARLAMENTAR” Por Leonardo Mello Silva

Resumo: As condições político-econômicas da Europa, após a derrota da Comuna de Paris, minaram as perspectivas sediciosas de grupos revolucionários que se alinharam na luta parlamentar pautada pela democracia burguesa. Após divergências internas, o pensamento político-partidário social-democrata, inicialmente de cunho socialista, voltou-se, irrestritamente, às disputas por votos; perdendo, portanto, sua identidade com o socialismo e com a classe trabalhadora legitimando e sustentando o progresso capitalista. Palavras-chave: Social-democracia, socialismo, reformismo.

Apresentação

A

subsiste até os dias atuais. O partido nasce com propostas institucionais e de classe apontando

social-democracia apresentara-se em

pautas de cunho socialista na luta política.

meados do último quarto do século XIX,

Poderíamos, inclusive, dizer que os partidos social-

tomando forma definitiva de partido

democratas oitocentistas representaram a entrada

político em seu principal expoente: o Partido

do socialismo na vida parlamentar Europeia. Não

Social-Democrata (SPD) alemão, que tivera grande

obstante, passados mais de cento e quarenta anos,

relevância e influência no cenário político-

as configurações de segmentos políticos que se

partidário europeu.

autodenominam social-democratas (e daqueles

Na Alemanha, após a unificação dos partidos

que seguem plataformas políticas compatíveis à

operários: Associação Geral dos Trabalhadores

social-democracia)

Alemães (ADAV) e o Partido Social-Democrata dos

tomam formas distintas que devem ser estudadas

Trabalhadores (SDAP); configurou-se o que se

junto aos processos históricos políticos e sociais.

tornaria o Partido Social-Democrata alemão, que

transformaram-se

e

hoje


G N A R U S | 74 A

luta

socialista

para a emancipação do proletariado. Para o russo, a

representada por variadas vertentes e sistemas de

única saída se constituía na destruição do Estado e

ideias — mostrara-se como movimento político

isso não seria possível por meio da legalidade

reunindo

dos

burguesa. Uma revolução social só se tornaria

Trabalhadores (AIT), as principais lideranças

possível ao passar por “terríveis e sangrentas lutas”.2

socialistas europeias. As temáticas relativas à

Outro russo, já no século XX, expressara suas

na

dos

Associação

trabalhadores

Internacional

política partidária e ao Estado foram de primordial

críticas

importância nos debates teóricos entre vertentes

chauvinistas”3. Para Lenin, medidas reformistas de

que ali laboravam por perspectivas de emancipação

ordem governamental não alcançariam todo seu

da classe operária. Sem pregar a abstenção da luta

potencial

política por vias legalistas e pela influência da

expropriadores”. Em seu livro: O estado e a

teoria marxiana, a AIT acabou por expulsar as

revolução, o revolucionário discorre severas críticas

vertentes anarquistas. A saída compulsória dos

aos partidários e teóricos da social-democracia,

bakunianos representara, nesse momento, a cisão

principalmente ao que concerne às perspectivas

ideológica

repudiavam

sobre o Estado. Apropriando-se dos escritos de

“participar de eleições e realizar alianças eleitorais

Marx e Engels, O comunista esclarece – de certo

com partidos radicais burgueses” 1

modo concordando com os anarquistas – que “o

com

aqueles

que

As questões referentes à luta política e ao Estado, no SPD, ultrapassaram as barreiras temporais do

aos

que

sem

chamavam

a

de

“expropriação

“social-

dos

Estado é o produto e a manifestação do antagonismo de inconciliável de casses” 4.

século XIX adentrando o século posterior. Destarte, A social-democracia foi desenvolvendo-se e agregando opositores socialistas das mais variadas vertentes político-ideológicas, como por exemplo: Mikhail Bakunin, Karl Marx e Vladmir Ilitch Lenin. Desconstruir as proposições social-democratas tornou-se prioridade, expressando, portanto, sua importância no cenário político e na luta pelo socialismo. Em relação ao Estado, Bakunin criticava a concepção da conquista de direitos políticos pelos trabalhadores como primeira condição para a “libertação econômica dos trabalhadores”. O anarquista não acreditava que direitos como: sufrágio universal, liberdade de imprensa e de

Marx e Engels

associação (entre outros), dessem reais condições

ANDRADE, Joana El-Jaik. As origens da social-democracia alemã e seu processo de unificação. Plural, Revista de Ciências Sociais. São Paulo: USP, v. 14, p.77–102, 2007. Disponível em http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/75462/79006. Acesso em: 30/04/2016, p.14. 1

BAKUNIN, Mikhail. Estatismo e anarquia. São Paulo: Ícone, 2013, p. 73- 233. 3 LENIN. Vladimir Ilitch. O estado e a Revolução. São Paulo: Expressão Popular, 2010, p.41. 4 Ibidem. P. 27. 2


G N A R U S | 75 O que vem a ser a grande divergência entre o marxismo-leninismo e o anarquismo de Bakunin, ante a questão do Estado, é menos a emancipação da classe proletária que a questão do destino Estado. Em 1917, Lenin escreve: “só resta, nos partidos socialistas de hoje, como verdadeira aquisição do pensamento socialista, a fórmula de Marx, segundo a qual o Estado “morre”, contrariamente à doutrina anarquista de abolição do Estado”. 6 Desse modo, o Estado – instrumento da classe dominante –, deveria, necessariamente, se tornar um “Estado proletário” até que se tornasse desnecessário, tomando para si a posse dos meios de produção representando toda a sociedade. O então “Estado proletário” geriria coisas e não pessoas, até seu definhamento, sua “morte”. A negação das proposições social-democratas por segmentos socialistas revolucionários pauta as históricas divergências teóricas e táticas do socialismo e do trabalhismo desde as ultimas Partindo dos princípios teóricos marxistas sobre o Estado, Lenin corroborou para uma sólida crítica aos partidos e partidários da social-democracia. A passagem do sistema capitalista para o socialismo, a partir da legalidade burguesa perpassando por uma transformação lenta e gradual se abstendo de fazer uma revolução por atos revolucionários; parecia, para Lenin, mais que um equívoco teórico, era uma forma de deformar a teoria marxiana em prol da burguesia. Essa é uma das questões centrais de suas críticas à social-democracia: o afastamento das perspectivas revolucionárias que demandariam certo gral de violência. Para Lenin: “A substituição do Estado burguês pelo Estado proletário não é possível sem uma revolução violenta” 5. 5

Ibidem. P. 40. Ibidem. P. 36. 7 Manuscrito, enviado (em 1875) aos “homens de Marx” na Alemanha, que criticava o programa político do partido que surgira da união do SDAP (partido dos homens ligados a Marx) 6

décadas do século XIX. Karl Marx, em sua “crítica ao programa de Gotha”,7 também condenou a teoria do partido que surgia. Para nós, o Programa de Gotha, que fora um primeiro esboço de posteriores sólidos programas políticos, e que recebera as devidas críticas de Marx, não vem apenas cercado de censuras marxianas, mas também, de uma proposição de grande relevância no pensamento marxista: “Cada passo do movimento real é mais importante que uma dúzia de programas”.8 Acompanhemos

agora

os

processos

que

consolidaram a social-democracia como um dos pensamentos político-partidários mais relevantes no século XX e, de certo modo, no início de século XXI.

com o ADAV (de influência lassariana). Sua primeira publicação foi em 1980/1981. CF. MARX, Karl. Crítica do programa de Gotha. São Paulo: Boitempo, 2012 8 MARX, Karl. Carta de Karl Marx a Wilhelm Bracke. In: Crítica do programa de Gotha. São Paulo: Boitempo, 2012, p. 20.


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Surgimento e desenvolvimento

salariais.10 As agitações políticas domésticas nos

Na França, Após as investidas revolucionárias, de

países europeus, a partir da década de 1850, foram

seguimentos do proletariado urbano, a revolução

responsabilidade de “uma classe média liberal e

de 1948 — que destituíra do trono o último rei da

alguns democratas radicais, e eventualmente

França, Luís Felipe, da casa de Orléans — fomentou

mesmo por alguma força recém-emergente do

a ofensiva contrarrevolucionária da burguesia

movimento operário”.11

institucionalizada na segunda república francesa. O

Na Alemanha, o conservador Bismarck se tornara

sobrinho de Napoleão Bonaparte foi eleito

primeiro ministro da Prússia tendo como programa

presidente.

a manutenção da

Luís

Bonaparte,

monarquia e da

posteriormente,

aristocracia

em

tornara-se

detrimento

do

imperador por um

liberalismo e da

nada democrático

democracia.

golpe de Estado.

país

foi,

O enfim,

De acordo com

unificado (sob a

historiador

preponderância

o

marxista

da

Eric

1871)

Hobsbawm, todas as

vitória

pela

características e

a dos

germânicos

França de 1948 tiveram

após

em

esmagadora

revoluções

inspiradas

Prússia

Reunião da fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores em 28 de Setembro de 1864.

desfechos similares: “[...] todas foram vitoriosas e

guerra Prussiana

na

Francoque

derrotara Napoleão III.

derrotadas rapidamente [...]”.9 As revoluções e

Com a frustração das perspectivas radicais, nos

contrarrevoluções de 1848 deixaram de herança à

países industrialmente desenvolvidos da Europa, a

Europa a estabilidade política, o liberalismo

revolução saíra do foco dos partidos da classe

econômico,

o

operária, que nesse momento focavam suas lutas

nacionalismo. Houve um exponencial crescimento

políticas nas organizações partidárias afligindo,

econômico e, parafraseando Hobsbawm: “a era de

assim, as propostas revolucionárias em curto prazo.

ouro do crescimento capitalista” frustrou as

Para a construção das fileiras partidárias, que

expectativas revolucionárias, pois não foram

formariam o SPD alemão, a união de lassallianos e

apenas as classes burguesas que lucraram, o

socialistas fora efetivada no congresso de Gotha em

descontentamento popular foi sedado por altas

1875. A Associação Geral dos Trabalhadores

taxas de emprego e por temporários aumentos

Alemães, partido fundado por Ferdinand Lassalle

a

democracia

burguesa

e

10

HOBSBAM, Eric J. A era do capital. São Paulo: Paz e terra, 2012, p.37. 9

11

Ibidem, p. 62-64. Ibiden, p.119.


G N A R U S | 77 (morto em 1864), tinha em seu programa

Entretanto, a compreensão do surgimento do

reivindicações democratas radicais, pregando a

ideário social-democrata e de todo contexto

união dos trabalhadores em um partido político,

histórico que o cerca é de fundamental importância

visando, principalmente, o sufrágio universal para

para a captação de sua identidade que —

os cargos legislativos. Sobre as propostas estatistas

configurada nas ultimas décadas do século XIX e

de Lassalle, a socióloga Joana El-Jaick Andrade

reconfigurada pelos debates internos, foi ajustada

esclarece que, para ele:

pelas demandas eleitorais da longa trajetória

“[...] a missão histórica da classe operária constituía justamente na eliminação de todos os privilégios e na realização do “Estado moral”, através de sufrágio universal e igualitário. Ao conceber o Estado como uma “unidade dos indivíduos reunindo em um todo moral”, que tem por finalidade “educar o gênero humano para a liberdade” [...] Lassalle, recaíra em um culto ao Estado, que deitava raízes em sua forte admiração pela filosofia hegeliana.”12

desses partidos — supera concepções básicas de

O Partido Social-Democrata dos Trabalhadores

pode causar distorções em exposições teóricas e

Alemães, criado em 1869, por homens ligados a

corroborar para falsos rótulos e estereótipos. Para a

Marx e Engels, expressava-se criticamente sobre a

apreensão dos significativos aspectos de partidos

participação eleitoral dos trabalhadores. E, de forte

políticos

influência

viés

necessário a retomada de suas lutas históricas até o

revolucionário. Em 1875 uniram-se ao partido

recrudescimento do pensamento conservador

lassalliano recebendo, como já foi mencionado,

pautado no neoliberalismo.

marxista,

apontava

um

estrutura político-partidária avançando como um sistema de ideias que se molda a objetividades de determinadas realidades sociais, políticas e econômicas. É conceito chave na compreensão do cenário político dos séculos XXI, XX e fins do XIX. A abrangência do conceito social-democracia

de

corte

social-democrata,

faz-se

críticas de Marx; iniciando, nesse marco, a

Ainda no século XIX, após a Comuna de Paris

reorientação da prática política e dos sistemas de

(1871) a questão da direção revolucionária, frente

ideias da social-democracia13. As ponderações de

ao

Marx ao partido que surgia foram dirigidas às

expectativas sobre o posicionamento do socialismo

inconsistências teóricas e às propostas para prática

na questão do Estado. Em 1872, Marx e Engels

política. Querendo desvincular-se do novo partido,

editaram um novo prefácio para o Manifesto do

Engels, prefaciando uma edição dos manuscritos da

Partido Comunista (o manifesto foi publicado

critica de Marx, quinze anos depois, esclarece que

originalmente em 1848); e tendo como base a

eles estavam mais envolvidos com o movimento

experiência da Comuna, esclareceram: “a classe

operário alemão do que com qualquer outro, mas

operária não pode se contentar em apoderar-se da

que não tinham responsabilidade no conteúdo

máquina do estado tal qual existe e fazê-la

reformista do programa14.

funcionar em benefício próprio”. 15

domínio

do

poder político,

reacendeu

Não queremos, por meio da reconstrução de sua

Dentro das fileiras do SPD alemão, o marxismo foi

historicidade, dispor de sua origem como

rejeitado pelo social-democrata Eduard Bernstein.

explicação para o objeto: social-democracia.

Seu revisionismo, que era crítico à filosofia

12

ANDRADE. op. cit., p. 82. Ibidem, p. 77- 99 14 MARX, Karl. Crítica do programa de Gotha. São Paulo: Boitempo, 2012, p. 18. 13

15

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Escala, 2007, p.18.


G N A R U S | 78 marxiana, propondo uma política conciliatória de

Reafirmando sua influência dentro da ala

classes, foi identificado, por seus opositores, como

reformista do partido, Eduard Bernstein teve

um instrumento na incorporação de elementos

importante participação nas reformas elencadas

burgueses ao movimento socialista. Andrade,

pelo programa escrito em 1891 que pautava

autora de diversos estudos sobre o SPD, atenta para

direitos políticos e sociais. Foi expulso do SPD em

a ambiguidade no projeto social-democrata e para

1916 por sua oposição à Primeira Guerra Mundial e

o grande cisma no partido expondo as críticas de

à política imperialista alemã, voltando ao partido

Rosa Luxemburgo ao reformismo de Bernstein. Para

em 1919.18

a revolucionária, polaco-germana, o SPD não

A fragmentação do partido, que pode ser

deveria se render à ordem capitalista em nome da

percebida desde sua origem, foi acentuada no

democracia

perspectiva

século XX, principalmente no período da Primeira

revolucionária de Rosa Luxemburgo colocava-a em

Guerra Mundial, onde a incompatibilidade entre

conflito não somente com o grupo revisionista, mas

reformistas e revolucionários os levaram às ultimas

também com a direção do partido, adepta de uma

consequências.

burguesa:

tática exclusivamente

“A

parlamentar”.16

A “Rosa

Após o partido, por motivos eleitoreiros, se

Vermelha” escreveu em 1900 seus posicionamentos

alinhar ao imperialismo alemão na empreitada da

no livro Reforma ou Revolução; e, refutando o

Primeira Guerra Mundial, fragmentou-se. Bernstein

reformismo de Bernstein (a quem acusava de ser

e Kaustsk (este, social-democrata fundador e

“um progressista democrata pequeno-burguês”17),

redator da revista Die Neue Zeit, órgão teórico da

colaborou para a crítica da incorporação de

social-democracia) filiaram-se ao Partido Social-

elementos do capitalismo na luta política da social-

Democrata

democracia.

voltando mais tarde ao SPD; enquanto Rosa

Alemão

Independente

(USPD),

Ainda tratando-se da Alemanha, em 1878, a lei

Luxemburgo e Karl Liebknecht (importantes social-

antissocialista proposta por Bismark, e apoiada pela

democratas de tendência revolucionária) formaram

burguesia,

a Liga Spartacus que, de corte comunista, deflagrou

foi

promulgada

(mas

suprimida

posteriormente) pondo o SPD à margem da via

confrontos

legislativa durante doze anos. Após tempos na

revolucionárias em Berlin, no início da república de

clandestinidade

se

Weimar (estabelecida com o apoio do SPD). Rosa

revigorou na sua volta à legalidade pelas eleições

Luxemburgo morreu em 1919 na repressão à causa

de 1890 (obtendo 20% dos votos para o

comunista

parlamento) e em seu Congresso de Erfurt, em

constituída que teve como seu primeiro-ministro

1891.

um membro do SPD19.

16

ANDRADE, Joana El-Jaik. Rosa Luxemburgo e a crítica ao revisionismo da direita no interior da social-democracia.

18

Pelotas: UFPel, v.2, p. 11-37, janeiro/2008. Disponível em: http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/pensamentopl ural/article/viewFile/3749/3037. Acesso em 30/04/2016, p.22. (grifo nosso) 17LUXEMBURGO, Rosa. Reforma ou Revolução. Disponível em:

v. 13, 2006, p.5-34. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/75159/79021. Acesso em: 30/04/2016, p. 5-30. 19 Após a derrubada do Kaiser alemão e do fim do Império, os confrontos entre Spartacistas e Socialistas “parlamentares” tomaram forma de guerra civil. GAY, Peter. A cultura de Weimar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p.27.

a

luta

social-democrata

http://www.consultapopular.org.br/sites/default/files/ Reforma%20ou%20Revolu%C3%A7%C3%A3o_0.pdf. Acesso em: 30/04/2016, p. 34.

armados,

pela

greves

república

e

agitações

parlamentarista

ANDRADE, Joana El-Jaick. Eduard Bernstein e a socialdemocracia. Plural, Revista de Ciências Sociais. São Paulo: USP,


G N A R U S | 79 O SPD alemão serviu de paradigma para partidos

com

força

no

cenário

mundial

com

o

do mesmo segmento, que foram tomando espaço

conservadorismo de Margareth Thatcher na

no cenário político europeu, inclusive, nos anos

Inglaterra e Ronald Reagan nos EUA) apresentando

circundantes às turbulências das duas guerras

suas distintivas características: fundamentalismo de

mundiais. Estes socialistas – que reivindicavam a

mercado,

democracia burguesa como instrumento político

econômico, aceitação da desigualdade, entre

de um “socialismo reformista” – tiveram como

outros.22

governo

mínimo,

individualismo

principal característica de governo, após a Segunda

Após o colapso do comunista em 1989/1991

Guerra Mundial, programas de walfare state. Para

houve uma aproximação de grande parte dos

Anthony Giddens:

partidos social-democratas com algumas posições

“O socialismo no ocidente começou dominado pela social-democracia – socialismo moderado, legislativo – fundamentado na consolidação do walfare state. Na maioria dos países, inclusive na Grã-Bretanha, o walfare state foi uma criação tanto da direita quanto da esquerda, mas no período do pós-guerra os socialistas passaram a reivindica-lo como seu.”20

defendidas pelos neoliberais. Com fim do comunismo no leste europeu, a “nova ordem mundial”, surgida com o término da noção de “mundo bipolar”, demandara novas posturas políticas para os partidos de centro-esquerda, tanto os da “velha esquerda” social-democrata, quanto

Sociólogo

de

importante

influência

no

aos novos programas políticos oriundos da velha

trabalhismo inglês, Antony Giddens também

ordem

diagnosticara a amplitude e ambiguidade do termo

praticamente todos os partidos ocidentais, a

social-democracia, complementando:

votação não mais se encaixa em linhas de classe e

“Eu o utilizo para designar partidos e outros grupos de esquerda reformista, inclusive o Partido Trabalhista britânico. No início do período pós-guerra, social-democratas de muitos países diferentes partilhavam de uma perspectiva basicamente similar é a isso que vou me referir como social-democracia do velho estilo ou clássica.”21

comunista.

Giddens

salienta:

“Em

se passou de uma polarização esquerda/direita para um quadro mais complexo”. Ou seja, considera que os conceitos de esquerda e direita não respondem mais às possibilidades de interpretação da realidade política, e assim, esclarece: “os partidos social-democratas não tem mais um “bloco

Como características próprias desse segmento,

de classe” coerente em quem confiar”.23 Podemos

Giddens destacou o envolvimento do Estado na

concluir que a social-democracia abandona seu viés

vida social e econômica, o internacionalismo, pleno

socialista e as contradições de classe, como campo

emprego, welfare state abrangente, entre outros.

de atuação política, para adotar uma postura de

Os fecundos sistemas de bem-estar social

regulação das relações entre capital-trabalho e

estabelecidos no pós-guerra, por partidos social-

conciliação de classes com propostas politico-

democratas,

ideológicas de “centro-esquerda” que legitimam a

tiveram

amplo

apoio

eleitoral

ancorados no modelo de economia mista Keynesiana.

O

sociólogo

diferencia

reprodução da dominação burguesa.

tais

perspectivas da doutrina neoliberal (que aparece

GIDDENS, Antony. A terceira via. Rio de Janeiro: Record,1999, p. 14. 21 Ibidem, p.16. 20

22 23

Ibidem, p.18. Ibidem, p.33.


G N A R U S | 80

Considerações finais Trouxemos para o campo de análise, não só um aglomerado de partidos políticos socialistas, ou um sistema de ideias pronto e acabado; mas todo um desenvolvimento histórico que encontrou, na democracia burguesa, espaço para a luta política com todas as limitações que a economia capitalista impõe. A social-democracia optou por redirecionar a luta revolucionária

armada

para

a

legalidade,

inicialmente, pensando em atingir o socialismo pela via parlamentar. E, tendo como seu maior expoente partidário o SPD alemão – que, no passado, já tivera em suas fileiras nomes como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht – deu uma guinada à direita. As vias legalistas

percorridas pela social-democracia

acabaram por levar a coaptação de elementos característicos do capitalismo. Portanto, sem nega-

pensamentoplural/article/viewFile/3749/3037. Acesso em 30/04/2015. __________. Eduard Bernstein e a social-democracia. Plural, Revista de Ciências Sociais. São Paulo: USP, v. 13, 2006, p.5-34. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/ 75159/79021. Acesso em: 30/04/2016, p. 5-30. BAKUNIN, Mikhail. Estatismo e anarquia. São Paulo: Ícone, 2013. GAY, Peter. A cultura de Weimar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. GIDDENS, Antony. A terceira via. Rio de Janeiro: Record,1999. HOBSBAM, Eric J. A era do capital. São Paulo: Paz e terra, 2012. MARX, Karl. Crítica do programa de Gotha. São Paulo: Boitempo, 2012. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Escala, 2007. LENIN. Vladimir Ilitch. O estado e a Revolução. São Paulo: Expressão Popular, 2010. LUXEMBURGO, Rosa. Reforma ou Revolução. Disponível em:

http://www.consultapopular.org.br/sites/defau lt/files/Reforma%20ou%20Revolu%C3%A7%C 3%A3o_0.pdf. Acesso em: 30/04/2016.

lo, assumiu as defectividades da luta socialista. Seu reformismo, – ou, para alguns, seu oportunismo – prostrou-se

nas

prerrogativas

legalistas

e

parlamentares de conquista de popularidade e votos, apostando na agenda político-partidária da vitória eleitoral. Leonardo Mello Silva é Licenciado em História (UCAM) e especialista em Docência e Gestão no Ensino Superior (Estácio). leonarquia@hotmail.com

Referências ANDRADE, Joana El-Jaik. As origens da socialdemocracia alemã e seu processo de unificação. Plural, Revista de Ciências Sociais. São Paulo: USP, v. 14, p.77–102, 2007. Disponível em http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/ 75462/79006. Acesso em: 30/04/2016. __________. Rosa Luxemburgo e a crítica ao

revisionismo da direita no interior da socialdemocracia. Pelotas: UFPel, v.2, p. 11-37, janeiro/2008. Disponível em: http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/

Rosa Luxemburgo


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