Tabagismo

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O tabaco é uma planta da família da Solanaceae, mais conhecida como Nicotiana. Tem a sua origem no continente americano e foi introduzido na Europa no Séc. XVI. O tabaco foi tendo utilizações diversas: em rituais mágico religiosos, para fins medicinais e mais tarde, nos começos do Séc. XX, é que o hábito de fumar se popularizou e passou a ser consumido recreativamente. Foi na década de 60 que surgiram os primeiros estudos científicos que demonstraram a relação entre o tabaco e o aparecimento de determinadas doenças nos fumadores. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo do tabaco generalizou-se por todo o mundo devido ao seu baixo preço, às formas agressivas de comercialização, à pouca consciência das populações acerca dos malefícios que lhe estão associados e à incoerência das políticas públicas contra o seu consumo. De acordo com o inquérito Eurobarómetro “Atitudes dos europeus face ao tabaco”, realizado em 2005 e publicado pela Comissão Europeia em 2006, 23 % dos portugueses são fumadores e a maioria fuma cigarros (79 %). A média de pessoas que fumam nos países membros da União Europeia está nos 29 %. O mesmo estudo indica que em Portugal (PT) 2

há mais fumadores homens (PT 30 %/UE 35 %) do que mulheres (PT 17 %/UE 25 %) e que o maior número de fumadores se situa na faixa etária dos 40 – 54 anos (PT 35 %/UE 35 %), em segundo lugar na dos 25 – 39 anos (PT 32 %/UE 37 %) e em seguida na dos 15 – 24 anos (PT 22 %/UE 35 %). A planta do tabaco é cultivada à semelhança de outros produtos agrícolas, existindo várias espécies. Entre os seus componentes, encontram-se diversos químicos naturais, como a nicotina, a clorofila, água, açúcares e minerais. A nicotina, responsável pela dependência relativamente ao tabaco, tem na sua composição átomos de carbono, hidrogénio e nitrogénio (C10H14N2).


Dois terços da produção mundial da planta do tabaco têm origem nos cinco primeiros países produtores: China, Índia, Brasil, Estados Unidos e Turquia. Anualmente são manufacturados mais de cinco triliões de cigarros, sendo os principais fabricantes a China e os Estados Unidos. A indústria do tabaco é dominada por um conjunto de companhias multinacionais que detêm uma fatia importante deste mercado e geram receitas de biliões de US $. Depois de colhida, a folha do tabaco é sujeita a um processo de secagem e em seguida cortada. É então que os cigarros são preparados e é adicionado o papel e filtro. Pode-se dizer que o cigarro consiste num dispositivo que administra uma determinada quantidade de nicotina. Mas na sua manufatura, a composição do cigarro é manipulada, sendo incorporados aditivos suscetíveis de alterar o gosto, o aroma e os efeitos da nicotina para tornar o cigarro mais agradável e atrativo, aumentando a satisfação e influenciado os comportamentos tabágicos do fumador no que se refere à dependência e consumo.

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Durante a combustão do tabaco verifica-se uma reação química, com o oxigénio e o calor gerado que modifica a sua composição química (quando fumado o cigarro pode atingir uma temperatura superior a 900 C). Existem mais de 2 500 químicos no tabaco e, durante a combustão, estes transformam-se em mais de 4 000 químicos, dos quais mais de 50 são cancerígenos: acetona, alcatrão, amoníaco, arsénico, benzopireno, butano, DDT, fenol, formol, mercúrio, monóxido de carbono, nicotina, pireno, polónio… Uma parte da nicotina e outros químicos tóxicos são assim transferidos para o fumo e absorvidos pelo fumador. O tabaco é nocivo para a saúde, afetando quase todos os órgãos do corpo. Quando o fumo inalado chega aos pulmões, as substâncias tóxicas passam de seguida para a corrente sanguínea e distribuem-se pelo corpo por ação do coração, atuando sobre o organismo.

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Em apenas alguns segundos, a nicotina desencadeia várias reações fisiológicas, entre as quais: • Aumento do ritmo cardíaco e da pressão arterial; • contração dos vasos sanguíneos; • alteração das ondas cerebrais e relaxamento muscular. A nicotina, um dos principais componentes do tabaco, é uma droga psicoativa fortemente viciante na medida em que causa alterações químicas ao nível do cérebro, gera sensações de prazer e provoca um consumo compulsivo. Com o passar do tempo, o fumador tende a necessitar de mais nicotina para conseguir os mesmos efeitos. Segundo a OMS, o consumo do tabaco é um factor de risco para seis das oito principais causas de morte no mundo. A epidemia do tabagismo mata anualmente mais de 5 milhões de pessoas por cancro de pulmão, cardiopatias e outras doenças. Se esta tendência actual se mantiver, em 2030 o número de vítimas poderá ultrapassar os 8 milhões anuais. Em Portugal verificam-se todos os anos mais de 8 000 mortes provocadas pelo tabaco. Na UE são mais de 500 000 as mortes prematuras com origem no tabagismo.


Vários fatores fazem aumentar os riscos: a precocidade do início do consumo, a duração dos hábitos tabágicos, o número de cigarros fumados por dia e o tipo de tabaco utilizado (teor de alcatrão e nicotina), a profundidade da inalação… Mesmo para os chamados “pequenos fumadores” aqueles perigos estão presentes. Cada cigarro fumado provoca danos no seu corpo que se vão acumulando ao longo do tempo, com o consumo continuado. As consequências devem pois ser consideradas no presente e estas incluem: • diminuição do paladar e do olfato; • pressão arterial e colesterol elevados; • diferentes formas de cancro incluindo o cancro do pulmão; • doenças respiratórias; • enfarte, acidente vascular cerebral (AVC) e outros problemas cardiovasculares; • problemas de infertilidade/impotência; • diminuição da performance física e intelectual; • envelhecimento/morte prematura.

Os cigarros tipo “light” ou “mild”, com um teor mais baixo de alcatrão e nicotina, não são menos nocivos do que os cigarros de teor regular. Para além da quantidade real de substâncias presentes no tabaco, há que ter em conta o modo de fumar, bem como o nível de dependência do fumador. Por sua vez, o tabaco à base de ervas é igualmente prejudicial para a saúde. Embora a nicotina apenas esteja presente na planta do tabaco, em todas se encontram químicos e quando se dá a combustão de um cigarro aqueles modificam-se e dão origem a novos químicos muitos dos quais são tóxicos. Recorde-se que fumar durante o período de gravidez comporta sérios riscos tanto para a mulher como para o feto. Os químicos nocivos para a saúde são transmitidos ao feto através da placenta. Além do risco de ocorrerem complicações na gravidez, o tabaco tem efeitos nefas5


tos para a saúde e desenvolvimento do feto e, após o seu nascimento, na criança. Uma mãe fumadora que amamenta o seu bebé transmite através do leite materno as mesmas substâncias. Além de poder ser incomodativo, os não fumadores que permanecem em ambientes com fumo do tabaco são igualmente afetados pelos seus efeitos nocivos. Se nos adultos o tabagismo passivo pode causar cancro do pulmão, doenças cardiovasculares e problemas respiratórios, no caso das crianças estas estão expostas a riscos acrescidos. Assim, os filhos de pais fumadores estão mais sujeitos a desenvolverem doenças respiratórias e a sofrer outras consequências para a sua saúde e crescimento. Além de os proteger, não fumar pode ainda constituir um bom exemplo para os seus filhos e para outros jovens.

Sejam quais forem os motivos que o levaram a fumar, há boas razões para deixar de o fazer. Lembre se que fumar prejudica seriamente a sua saúde, pode causar doenças graves e a morte prematura. Deixar de fumar traz múltiplos benefícios a qualquer tipo de fumador: • Em 8 h o nível de monóxido de carbono no organismo desce para metade e o oxigénio retoma os níveis normais. • Em 24 h o corpo liberta-se do monóxido de carbono e nicotina e passadas 72 h a capacidade pulmonar começa a aumentar, tornando mais fácil a respiração. • Em 48 h o paladar e o olfato voltam ao normal.

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• Entre 3 e 9 meses a tosse diminui. • Entre 2 semanas e 3 meses a circulação melhora e a sensação de cansaço via-se tornando menor. • Vê melhorar a sua saúde oral. • Após 48 h o risco de um enfarte começa a reduzir, passado 1 ano esse risco diminui para metade e em 15 anos o risco de morte por enfarte é igual ao de uma pessoa que nunca fumou, bem como o risco de um AVC. • Em 10 anos o risco de morte por cancro do pulmão desce para metade. O risco de outros cancros também diminui. • Se está grávida ou deseja engravidar, deixar de fumar previamente ou no 1º trimestre anula os riscos para o bebé decorrentes do consumo. • Os ex-fumadores conseguem mais saúde, vitalidade e melhoram o seu aspeto físico. Além disso, ganham auto confiança e auto estima. • O dinheiro que poupa ao deixar de fumar e o que poderá fazer com ele, constitui outra boa razão. • Passa a usufruir de um ambiente limpo em sua casa, no carro e em outros locais fechados onde costumava fumar.

Deixar de fumar em qualquer idade aumenta a expectativa de vida, obtendo-se mais benefícios quando se deixa numa idade mais jovem. O tabagismo é considerada uma doença, mas é possível tratar e vencer a dependência. Nos primeiros dias, os sintomas de abstinência podem dificultar a tentativa para deixar de fumar, sendo importante uma preparação prévia para lidar depois com a privação do tabaco. Estes sintomas fazem se sentir com mais intensidade durante a primeira semana e vão diminuindo de forma gradual, embora a vontade de fumar possa persistir por bastante mais tempo. Determinadas circunstâncias podem ainda agravar o desejo de fumar como sejam as situações de stress.

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Os sintomas de abstinência característicos são: • desejo de fumar; • dores de cabeça; • ansiedade, frustração e irritabilidade; • sentir-se “em baixo”; • dificuldades de concentração e em adormecer; • aumento de apetite/peso; • outros efeitos secundários, como a tosse, indicam que o organismo se está a regenerar, libertando-se dos tóxicos do fumo do tabaco. Porém, nem todas as pessoas que deixam de fumar enfrentam os mesmos sintomas de abstinência ou com igual intensidade. Um passo que pode contribuir decisivamente para deixar de fumar é precisamente encontrar as formas mais adequadas para lidar com esta fase inicial.

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O que fazer? • Deixar de fumar implica uma mudança positiva na sua vida. Nada justifica protelar indefinidamente uma decisão e continuar a expor-se aos riscos do consumo do tabaco. • É importante dispor de um plano de acção desde o princípio. Analise os motivos que o levaram a fumar, avalie quais são os seus hábitos tabágicos. Os cigarros que mais tem vontade de fumar durante o dia são os que vai sentir mais falta, parando de consumir (ex: depois das refeições, no convívio com amigos, durante eventos sociais, quando vê televisão, em situações de stress, etc). Conhecer e registar o seu comportamento como consumidor é importante para introduzir mudanças, evitar tentações e contrariar os acessos de vontade de fumar. • Considere os benefícios e vantagens em libertar se do tabaco e anote-as (em qualquer altura pode consultar a lista para o ajudar a lembrar porque quer deixar de fumar). Uma vez tomada a decisão, escolha a data com alguma antecedência e marque a no seu calendário (uma data com significado especial, por exemplo). É este o seu compromisso.


• Algum tempo antes procure alterar os seus hábitos tabágicos e limitar o consumo de tabaco. • Assegure-se que a data escolhida para começar a deixar de fumar seja um dia tranquilo e não guarde consigo qualquer tabaco e objetos relacionados com o hábito de fumar. • Dê a conhecer às pessoas mais próximas o que se está a passar de forma a poder contar com a sua compreensão e apoio (familiares, amigos, colegas de trabalho…). Se conhecer alguém que tencione também deixar de fumar poderão ajudar-se mutuamente. • Previna-se para a eventualidade de surgirem sintomas de abstinência, preparando-se para lidar com esse desconforto. Ao parar de fumar é natural que sinta alterações ao nível físico, emocional e psicológico. • Seja tolerante consigo próprio durante esta fase (ex: ajuste o ritmo de trabalho, arranje tempo livre para si, descubra novos interesses e atividades). • Evite locais, pessoas e situações que possam levá-lo a recomeçar a fumar.

• É enganador pensar que o tabaco pode ajudar a relaxar e a gerir situações de stress. Um fumador obtém um impacto da nicotina e sente uma subida rápida de adrenalina que lhe transmite uma sensação de prazer cada vez que fuma. Como a nicotina é altamente viciante, após um certo tempo o fumador pode começar a sentir sintomas da privação, como irritação e aumento de tensão no corpo, que interpreta como stress. Para atenuar esses sintomas acende então outro cigarro, vai repetindo este gesto e mantém um círculo vicioso. • Lembre-se que deixar de fumar requer esforço e persistência. Os acessos de vontade de fumar passam em alguns minutos. Procure distrair-se da vontade de fumar, mantenha-se ocupado… (tenha à mão pastilhas elásticas, rebuçados ou snacks saudáveis, coma fruta fresca, beba bastante água, respire lenta e profundamente e pratique alguns exercícios de relaxamento, telefone a um amigo, consulte a internet, faça uma caminhada ou dê um passeio de bicicleta, etc). Ceder à tentação de fumar nem que seja um cigarro apenas ou considerar a hipótese de fumar de vez em quando, não constitui solução para eventuais dificuldades e pode comprometer os esforços feitos até ao momento.

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Pense em si como um não fumador e sinta orgulho naquilo que está a conseguir. Com o passar do tempo o desejo de fumar torna-se cada vez mais fraco. • Pratique uma atividade física regular, faça uma alimentação saudável e respeite os períodos de descanso. O exercício físico contribui para reduzir a vontade de fumar, diminuir o stress, melhorar a sua condição física, equilibrar o humor e reforçar a auto confiança. Além disso, o exercício físico juntamente com uma dieta saudável ajudam a controlar o peso. Não se esqueça de limitar o consumo de café e bebidas alcoólicas. • Utilize o dinheiro que poupar, recompensando-se pelo progresso que for alcançando. • Algumas pessoas optam por parar de fumar totalmente de imediato, outras preferem deixar gradualmente e depois param completamente. Seja qual for o método, pode procurar ajuda através de consultas de cessação tabágica (ver links úteis). Pode ainda considerar a possibilidade de recorrer aos substitutos terapêuticos da nicotina que são de venda livre (sob a forma de adesivos, pastilhas de mascar ou para chupar, comprimidos para colocar debaixo da língua e inaladores) ou a medica10

ção (a bupropriona ou a vareniclina). Os primeiros fornecem ao fumador uma quantidade de nicotina, de forma mais lenta e menos satisfatória, mas evitando grande parte dos sintomas da abstinência e sem o expor aos outros componentes do tabaco). No caso da medicação, a bupropriona e a vareniclina atuam sobre o cérebro, ajudando a gerir o desejo de fumar e os sintomas de abstinência. Um e outro são vendidos sob prescrição médica. • Se contar com um destes suportes aumentará as possibilidades de deixar de fumar e mais ainda se utilizar uma combinação de ambos (substituto terapêutico da nicotina e medicação). • Dispõe também de suportes online, linhas telefónicas de ajuda e materiais informativos de auto ajuda. • Existem ainda as terapias alternativas para deixar de fumar como é o caso da acupunctura. • O sucesso é alcançado gradualmente, passo a passo, dia após dia, até conseguir uma vida sem tabaco.


Como agir se tiver uma recaída: • Se tiver uma recaída reaja e comece novamente. • Se comprou tabaco deite-o fora. • Tenha presente as razões porque quer deixar de fumar. • Avalie as causas da recaída e como se sentiu. • Reveja a estratégia que traçou para deixar de fumar. • Não se sinta culpado, aprenda com o que aconteceu e não deixe que esse percalço o desmotive e leve a desistir. • Mantenha-se fixado no seu objetivo.

• Procure uma ajuda profissional. Dificuldades na vida pessoal e profissional, situações de stress ou conflito, a ansiedade e depressão fazem aumentar os riscos de recaídas, pelo que requerem particular atenção. • Muitas pessoas fizeram mais do que uma tentativa para deixar de fumar. Se já tentou antes, mas não foi bem sucedido insista outra vez. Para muitos fumadores deixar de fumar constitui um desafio grande. Esta é, no entanto, a melhor escolha que podem fazer para melhorar a sua saúde e qualidade de vida. Muito ex-fumadores acham mesmo que deviam ter deixado de fumar mais cedo ou nunca ter começado. Nunca é tarde para parar de fumar!

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LINKS ÚTEIS: Linha SOS “Deixar de Fumar” 808 20 88 88

Ministério da Saúde – Portal da Saúde • Consultas para deixar de fumar (locais, horários e contactos); • Dicas para deixar de fumar. URL: http://www.portaldasaude.pt/ portal/conteudos/informacoes+uteis/ deixar+de+fumar/deixardefumar.htm

Help-EU – Por uma vida sem tabaco: o sítio Web antitabagismo da UE ajuda as pessoas que querem deixar de fumar e contém informação sobre os perigos do tabaco URL: http://pt-pt.help-eu.com/pages/index-17.html

Health Canada - Quit 4 Life URL: http://www.quit4life.com/index_e.asp

WHO - Framework Convention on Tobacco Control URL: http://www.who.int/fctc/en/

The Tobacco Atlas (WHO) URL: http://www.who.int/tobacco/statistics/ tobacco_atlas/en/

World No Tobacco Day (WHO) URL: http://www.who.int/tobacco/en/

Health - EU – Tobacco URL: http://ec.europa.eu/health-eu/my_lifestyle/tobacco/index_en.htm

Stop-tabac.ch - Arrêter de fumer URL: http://www.stop-tabac.ch/fra/

US Smokefree.gov URL: http://www.smokefree.gov/

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GPS 2012


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