revista 29HORAS - ed. 41 - março 2013

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humor

Polêmico, ácido, um humorista que faz piadas fortes e mexe com o que não é politicamente correto? Seriam essas as palavras que definiriam Danilo Gentili, libriano de 33 anos que gosta de criar polêmica e tem mais de 4.154.142 de seguidores no Twitter, além de fãs no Brasil inteiro? Não é o que ele demonstra ao ser entrevistado. E, veja bem, essa matéria – como o entrevistado – tem história. Começou a ser feita em agosto de 2011 na última apresentação de seu stand up no Teatro Frei Caneca, em São Paulo. E foi finalizada só agora, em janeiro de 2013, na véspera de sua viagem para a Austrália, país que ele escolheu para “se internar” durante as férias e aprender inglês. Detalhe: em nenhuma das duas vezes ele se atrasou ou se portou como quem vive de fazer piadas. Sério, compenetrado e workaholic confesso, enquanto respondia às perguntas, ele postava textos no seu Twitter (@DaniloGentili) e na sua página do Facebook (Danilo. Gentili.Oficial). Sim, Danilo Gentili Júnior é um dos personagens que se destacam nessa era digital, bem diferente do menino que cresceu observando o trabalho de seu pai, de quem herdou o nome, um homem que trabalhava como técnico de uma empresa que consertava máquinas de escrever. Quando Danilo tinha 18 anos, a família já enfrentava dificuldades para pagar o aluguel da casa de um único quarto em que morava, em um bairro de Santo André, na Grande São Paulo. Alguns anos antes, as máquinas tinham sido substituídas pelos computadores, não havia mais trabalho e Danilo pai foi mandado embora. A mãe, Guiomar, montou na garagem uma copiadora e sustentava a família dessa maneira. Angustiado, o pai sofreu um ataque cardíaco e morreu nos braços do filho. Seis meses depois sua única irmã, Karina, sofreu um acidente de carro e também se foi. “Ficamos somente eu e minha mãe, com quem tenho ótimo relacionamento. O que nos segurou foi a religião – frequentávamos a igreja batista. Como válvula de escape, passei a criar histórias em quadrinhos e a contar piadas para os amigos. Foi o início de tudo”, relembra. Danilo formou-se em publicidade na UniABC, mas nunca exerceu a profissão. Empilhava caixas em uma loja de um shopping e passou em um concurso público para auxiliar administrativo em um departamento de lixo municipal. Não deu muito certo. “Eu gostava do formato stand up e comecei, nos finais de semana, a contar piadas em vários bares da capital paulistana. Depois, procurei o Clube da Comédia Stand Up e foi daí que surgiu o convite para fazer um teste no CQC”, diz ele. Danilo deveria interpretar um repórter inexperiente e entrevistar o cantor – e, então, vereador, Agnaldo Timóteo. “Não era interpretação, era eu mesmo. Nunca tinha entrevistado ninguém! E o Agnaldo ficou tão indignado com a

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Banquinho e microfone: no stand up, o humorista se apresenta de cara limpa

pergunta que eu fiz sobre uma música que Roberto Carlos lhe deu para cantar, que pôs fim à entrevista. O resultado foi tão bom, que eu entrei para o programa”, conta. Foram quatro anos de trabalho, com reportagens polêmicas feitas com políticos e personalidades de todo o país. Em muitas delas, Danilo apanhou de seguranças e dos próprios deputados e vereadores. O trabalho no CQC ocupava a semana inteira do moço, que só tinha as sextas-feiras livres. Às 23h59 das sextas ele começou a apresentar, no Teatro Frei Caneca, o stand up Danilo Gentili – Volume 1, que logo se transformou em um hit paulistano, sempre lotado. Em uma das primeiras apresentações, que eu assisti, no final ele conversava com a plateia, quando foi surpreendido por uma proposta: duas mulheres o convidaram a fazer um ménage à trois. Danilo ficou sem resposta e logo procurou com o olhar quem estava armando para cima dele. Descobriu na fileira do meio o apresentador Otávio Mesquita e o publicitário Roberto Justus, e soube que o programa estava sendo gravado e entraria na madrugada da Band. O tempo que passou no CQC rendeu a ele fama e um novo contrato com a emissora para fazer o Agora é tarde. Além das tiradas sarcásticas no início do programa, Danilo inovou na linguagem televisiva. Ele e sua equipe montaram quadros de sucesso como Passou na TV e Mesa vermelha, e o programa comemora seis pontos no Ibope, que fizeram a Band pular


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