Semiótica no paisagismo: Aspectos introdut

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SEMIÓTICA

NO PAISAGISMO

Aspectos introdutórios

ZULMIRA FREIRE

Vamos falar um pouco sobre como a semiótica, ciência que estuda os signos, pode nos ajudar a admirar, entender e planejar paisagens.

Charles Sanders Pierce, criador do estudo semiótico, relacionava as observações das imagens com uma fenomenologia que compreenderia a estética, a ética e a lógica de tudo que nos vem a mente ao entrar em contato com uma sugestãoimagética.

Deste modo o signo (imagem ou palavra)despertaria um conceito significante e uma imagemmental, que lhe dá significado

Por sua vez o interpretante seria a segunda impressão que criamos sobre um signo em relações causais e aleatórias.

Assim teríamos uma escala evolutiva na observação:

1) Primeiridade: pensamentos e sensações livres. Qualitativa.

2) Secundidade: ação/reação, surpresa, dúvidas. Experimental.

3) Terceiridade: reflexão, junção dos momentos anteriores. Racional.

Surge a tricotomia Pierciana em que o signo se relaciona com ele mesmo, com seu objetodinâmico e com seu interpretante

Trazendo ao paisagismo, essa primeiridade pode ser o momento em que o signo, no caso a paisagem, é observado de modo sensorial, em seus sons, cores, texturas...

A paisagem seria então um ícone, enquanto objeto de nossa observação, trazendo uma série de inferências por similaridades que irão nos conduzir às próximas etapas, de acordo com a nossa cultura, gostos pessoais e relações que nos vêm à mente, qualificando-a. Quali-signo.

Para Algirdas Greimas, em sua semiótica discursiva isso nos leva à uma narratividade, em que a paisagem começa a nos contar uma história e a nos gerar interesse (modalização) ou não.

Já a secundidade seria um momento de singularidade eventual, tornando a observação da paisagem única a cada vez que se entra em contato com ela.

A paisagem seria um índice em que o observador faz a junção dos qualisignos que lhe vêm à mente para tornar sua experiência em realidade que lhe faça sentido. Sin-signo.

Essa imersão na observação da paisagem vai gerando interesse e interação em um momento de apropriação e imersão que nos faz sentido e passamos a fazer parte da narratividade em movimento de conjunção eufórica com ela ou, em caso contrário, entraremos em disjunção disfórica, abandonando-a.

A terceiridade então seria o momento em que juntamos nossas impressões dos momentos anteriores para legitimar nossa observação intelectualmente.

Neste ponto a paisagem já passaria a ser então um símbolo raciocinado e convencionado. O interpretante faz um juízo sobre a observação que mostrará e definirá seu argumento. Momento de compreensão que envolve aspectos culturais e sociais.

Legi-signo.

Nesta etapa final da narratividade da paisagem e da imersão do seu observador ocorrerá a sanção favorável em que ele terá sido modalizado a acreditar na beleza como estética de valor ou não.

Nesta percepção podemos notar que há uma decodificação de estímulos que vem de encontro às vivências, de maneira simbiótica, para disputar atenções, em que podemos ser seletivos ou estarmos distraídos.

Para que haja comunicação entre a paisagem e seu observador é preciso que aconteça a compreensão da mensagem e até mesmo uma mudança de estado.

E onde entraria o paisagismo... A semiótica chamaria o paisagista de destinador e o observador de destinatário.

Para a semiótica de Greimas a produção do sentido vem das modalizações, movimentos em direção a acreditar na ideia, pelas quais o observador passa.

Neste processo ocorre a veridcção em que as propostas paisagísticas são aceitas como importantes, verdadeiras e belas, num fazer interpretativo que passará do parecer belo para o realmente ser belo.

A organização da paisagem pode sustentar a questão da narratividade numa sequência de contratos que são estabelecidos levando até as transformação de estados.

Sequências de transformação de estados constituem a narratividade em si, em que há constantes movimentos de conjunção, quando gostamos de algo, ou disjunção, quando não gostamos, acompanhados de moralização ou não.

Surge então o objeto de valor, casa sintática onde os sujeitos depositam seus desejos e aspirações, que, neste caso, seriam encontrados na própria paisagem, nos espaços criados com intervenções humanas, bem como nas prerrogativas e aspectos de relevância que envolvem aquele que observa.

Competênciasseriam os conjuntos de valores modais em que o doador de competência seria o destinador (paisagísta) e o que recebe a competência o destinatário (observador)

Assim a semiótica Greimasiana dirá que toda forma de comunicação é um tipo de manipulação em que o destinador propõe e o destinatário realiza, constituindo um fazer persuasivo.

O paisagísta, carregado de intencionalidades, ao compor a paisagem deverá levar em conta então aquilo que poderá mover os valores modais do observador, pois sem valor modal não acontecerá a mudança de estados e a veridicção que aprovará o contrato persuasivo iniciado e proposto. O olhar do cliente.

Conhecer o destinatário e descobrir suas preferências seriam primordiais para o êxito da composiçãopaisagística, mesmo que haja diferentes propostas a serem sugeridas.

O destinatário (cliente ou observador) fará um movimento em direção a acreditar que o destinador (paisagísta) é confiável e será convencido.

Neste processo ocorrerá a chamada manipulação do sujeito. Quando o que é oferecido não é valoroso para o destinatário a manipulação não se concretizará e não surte efeito, pois ele não passará por mudança de estado e não executará a ação de acreditar. Os valores do destinatário devem ser procurados pelo destinador em suas narrativas nas conversas e nas entrevistas, que trarão os índices para procura do sentido e consequente criação de uma paisagem significativa.

No processo desta prerrogativa o interpretar passará do parecer para o ser. Ocorrerá então a sanção à propostarealizada ou projetada.

Sanção é o momento de verificar se o destinador cumpriu a manipulação efetivamente para o destinatário, recompensando ou punindo, como se fosse uma validação dos trabalhos realizados. Ela pressupões que houve uma ação a ser legitimada, ação essa que, por sua vez, decorre de uma manipulação que será cumprida ou não para ser sancionada positiva ou negativamente. Para não sermos exaustivos não iremos nos aprofundar nestes aspectos no momento.

Por meio desta leitura podemos perceber que a semiótica enquanto ciência interdisciplinar pode ter muito a contribuir para compreender,analisar e elaborar os processos paisagísticos.

Nosso objetivo seria incitar o desejo de aprofundamento no assunto e isso nos leva a crer que este movimento de chegar até o final desta leitura pode ser um índice de que nosso processo de tentativa de modalização do nosso destinatário, você leitor, tenha sido supostamente alcançado. Esperamos que haja mudanças de estados e que a semiótica se torne mais utilizada e conhecida. Que as sanções sejam positivas e que nossos primeiros momentos se tornem em secundidades e terceiridades trazendo significado e sentido para todos.

Bibliografia

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TATIT, Luiz. Abordagem do texto. In: FIORIN, José Luiz. Introdução à Linguística I: Objetos teóricos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

"DIZER QUE A INTENSÃO DETERMINA A POSSIBILIDADE DA EXTENSÃO É DIZER QUE SE PODEM ELABORAR PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO APENAS COM BASE EM SISTEMAS DE SIGNIFICAÇÃO"

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