[2ED] Mangue Zine

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mangue zine

Edição #002 5 de junho de 2020


Errata são as erratas da construção. digo, quem criou essa ideia de futuro avançado? não estaríamos nós imersos no outro universo que quanto mais se passa mais se retorna? para onde caminhamos então? o relógio tem feito o trabalho inverso, mais para um do que para outros. O futuro chegou, remédios manipulados e não falo de sua composição, prisões benéficas e Estados assassinos. nos é familiar. prisões benéficas. prisões benéficas.. aliás, quando deixamos de conversar sobre nossa superlotação de prisões? aliás, quando deixamos de falar sobre as cores das caras que superlotam nossas prisões? Os povos originários, encobertos culturalmente por um manto europeu da razão. Ora, ninguém descobriu essa terra. encobriu-se. como toda a poeira que colocamos embaixo de nossos tapetes recém pintados por mãos de obras que mantém nosso antigo ideal escravocrata. escravidão moderna. Agora, por cima do lenço, a boiada. Na verdade está por cima de tudo, e por cima de todos. nesse momento me dou conta que de fato nunca se houve um silêncio, estamos agora só mais soterrados de outros mil cortes em verbas, falas, discussões, em vidas. e todos os citados já nos são familiares. até a boiada. o futuro chegou e parecemos já conhecer tudo que ele traz. talvez não tenha chegado, ele veio caminhando, devagar, e nos invadiu. assim como as casas em que devemos ficar sendo violadas por pm’s e militares. o futuro nos violou. aliás, a violação já nos é familiar.



yes, i know that one day i must die. e tenho pensado sobre esse dia. o acúmulo de pequenos rojões na minha cabeça explodindo em fileira. é são joão, meu bem. sendo sincero, tudo parece se misturar: cuidar da casa, de si, do outro, trabalhar. carlinhos fica em casa e o home office o tem estressado. trabalho e casa. tenho adentrado a ideia que agora vasculha a identidade dos que não marcam ne-


nhuma caixa dessa sentença. trabalho e casa. vou pensando na rua que virou paradigma e as pessoas, mesmo diante da situação em que estão, também sendo jogadas na vala do não pensamento. em situação de. estou dissociando da realidade ou a conhecendo de forma genuína? a caixa das horas já nem serve mais. ana me atualiza todos os dias sobre as notícias de mortes que não fazem respirar


a contagem, já tenho visto todos os entretenimentos fajutos para fugir do confronto com essa distopia de fatos íntegros e presentes, para fugir do reconhecimento de que nem o futuro é mais imperativo, ou pretérito perfeito. qualquer coisa. and yes, i know that one day i must die.


ĂŠ difĂ­cil permanecer no presente dos monstros.


DESTAQUE @GEOCENTRISMO Meu nome é Geo, tenho 20 anos, sou alagoana, artista visual e estudante de Artes Visuais na UFRN. Comecei a desenvolver meu trabalho com 14 anos a partir da fotografia, mas a falta de recursos pra investir em equipamentos me limitou bastante, por isso comecei a experimentar outras linguagens como desenho, pintura, colagem e bordado. Acredito que o meu trabalho é um reflexo de como vejo o mundo. Costumo falar sobre minhas dores, solidão, amor, e tudo que faz parte do que sou enquanto mulher, nordestina e lgbt na sociedade.

EDIÇÃO Poster e seleção das artes: Alcino Fernandes Texto biográfico: Geo Texto: Alcino Fernandes e Arthur Carvalho Capa e diagramação: Arthur Carvalho Artes: 1 e 2 Arthur Carvalho, 3 e 4 Alcino Fernandes, 5 e 6 Geocentrismo.

@zinemangue


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