Matéria Itacaré Mahalo Press 2

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Itacaré

Equipe MAHALO redescobre as ondas, a cultura e as belezas de um dos mais belos lugares do Brasil

Stand up paddle

Em busca de diversão e condicionamento físico, surfistas brasileiros aderem à nova febre das praias

Serginho dá a ideia

Cantor da banda Adão Negro fala sobre o novo disco, carreira e comportamento

Mahalo Press | Ano 1 | #2 | Distribuição gratuita www.mahalo.com.br
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Stand up paddle surf

Remos e pranchões viram febre nas praias brasileiras e atraem cada vez mais adeptos

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Serginho, do Adão Negro

“No começo, tinha uma cena de reggae forte na Bahia, mas não existia um mercado profissional”

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Ulisses Meira testa todas as possibilidades de aéreos na rampa da Prainha, em Itacaré

(Foto: Fabriciano Júnior)

Fala do editor De olho na série Danilo Couto Musa MAHALO Dica do top Palavras salgadas No trilho Fala do mestre Meio ambiente Você tem fome de quê? Skate Conceito MAHALO Mineirinho reina no Rio Sons, filmes e afins Interface 12 16 18 20 22 24 36 38 44 48 50 54 60 64 66
Paraíso das ondas Surfistas da MAHALO aproveitam dias de folga e vão curtir as belezas, as ondas e a energia de Itacaré 26 10
Foto: Stuart Gibson Foto: Stuart Gibson Foto: Zecops
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Foto: Divulgação
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yordanbosco@mahalo.com.br

Mais lenha no vapor

Em uma visita rápida a Salvador, no mês de maio, o big rider Yuri Soledade passou em nosso escritório para rever a galera, trocar umas ideias e resolver alguns assuntos. Ao falar sobre a repercussão da primeira edição da MAHALO PRESS, que tem um perfil seu, ele contou, entre outras coisas, que algumas pessoas em Santa Catarina (onde competiu em um evento de tow in e de onde havia acabado de chegar) o reconheceram e comentaram sobre sua presença na revista.

Muitos leitores manifestaram respeito e admiração pelo baiano, que há 17 anos mora no Hawaii. “Lembro que lá em Jaguaruna uma pessoa me parabenizou pela minha história, que conheceu através da MAHALO PRESS”, contou Soledade. Ele confessou que ficou surpreso e muito feliz, não apenas pelo reconhecimento, mas por encontrar a publicação em um lugar tão distante da sua sede.

A história narrada por Soledade sobre o sucesso da MAHALO PRESS foi mais uma resposta positiva que obtivemos em relação a este projeto tão ousado e inédito entre as empresas do ramo de surfwear e surfshop no Brasil. O sentimento da família MAHALO e de todos que contribuem direta e indiretamente para o sucesso da publicação foi de muito orgulho e de parte do dever muito bem cumprido.

Lógico que este feedback positivo nos deixou felizes, lisonjeados e com o ego cheio. Mas o fato é que a máquina não para e o principal combustível para mantê-la correndo em alta chama-se desafio. Portanto, a responsabilidade de fazer uma segunda edição melhor em todos os aspectos nos motivou a ralar muito atrás de informações, imagens e opiniões.

Se o resultado de toda a correria valeu a pena e conseguimos atingir nosso objetivo, tire suas próprias conclusões ao conferir as páginas a seguir. Esperamos que você curta ao máximo, porque tudo foi produzido com muito empenho e carinho. Mas salientamos que toda essa luta por superação e

A revista MAHALO PRESS é uma publicação bimensal do grupo MAHALO, WAVE BEACH, EDYE e ASA CLASSIC Wear e tem tiragem de 30 mil exemplares. A revista é produzida pelo Departamento de Comunicação das empresas.

conquistas é uma marca muito forte na história de sucesso do Grupo MAHALO.

O lugar – Só quem conhece Itacaré entende porque os comentários acerca do lugar, nos aspectos onda, natureza, aventura, curtição e energia, são tão entusiasmados. Com praias de beleza incomparável, o município, localizado a cerca 300 quilômetros ao sul de Salvador e 60 ao norte de Ilhéus, ainda mantém o mesmo encanto das décadas de 1970 e 1980, quando, isolado do mundo, recebia apenas grupos de surfistas aventureiros.

Mesmo com a visita de cerca de 50 mil turistas por ano e com toda infraestrutura, badalação e mordomia à disposição (principalmente para quem está disposto a gastar ‘unas platas’, claro), Itacaré proporciona sempre a sensação de liberdade e aventura constante. A arquitetura colonial remanescente, a imponente Mata Atlântica, as praias isoladas, de águas verdes e cristalinas, a vida pacata dos moradores nativos, e um monte de gente descolada de toda parte do mundo são ingredientes que fazem a diferença.

Em busca de aventura, ondas perfeitas, um pouco de descanso e da energia contagiante do lugar, nossa equipe de surfistas profissionais, composta pelos baianos Bruno Galini e Bino Lopes e pelo paraibano radicado no Rio Ulisses Meira se mandou para lá no final de abril e passou uma semana. Além de belas imagens, produzidas pelos fotógrafos Fabriciano Júnior e Zecops, trouxemos do paraíso um monte de informações sobre as praias, o povo, a história e a cultura local. Tudo isso pode ser conferido nas páginas 26 a 32.

Nesta edição, mostramos também um perfil muito interessante do cantor da banda de reggae Adão Negro, Serginho Nunes, matérias sobre o stand up paddle surf e educação ambiental, uma entrevista com o skatista Lincoln Ueda, além de seções e colunas sobre gastronomia, contos, reflexões, música, vídeos, entre outros.

Mahalo!

Edição e produção: Yordan Bosco (DRT–BA 2992); Projeto gráfico, diagramação e tratamento de imagens: Alexandre Karr; Revisão: Socorro Araújo; Assessoria comercial: Fabiano Gonçalves; Colunistas: Fábio Tihara, Juliano Bório, Lucius Gaudenzi, Luiz Augusto Pinheiro, Marcos Pellegrino e Tony Almeida; Colaboraram nesta edição: (textos) Fábio Gouveia e Renata Tambon; (fotos) Andrew Kemp, Brian Fick, Bruno Veiga, Daniel Smorigo, Fabriciano Júnior, Fred Pompermayer, James Thisted, Lucios Gaudenzi, Pedro Campos, Stuart Gibson, Tracy Kraft Leboe e Zecops; Ilustração: Rafael Brasileiro; Impressão: Vox Editora.

Os textos assinados reproduzem as opiniões dos seus autores e não necessariamente do veículo e do grupo.

Contatos por e-mail: comunicação@mahalo.com.br redacaomahalo@mahalo.com.br

Telefone: (71) 3443-1546.

Correspondências: Avenida Tancredo Neves, nº 2915 - Loja 75 - Salvador Shopping, Caminho das ÁrvoresSalvador – BA - CEP 40 820 021

Yordan Bosco
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Rumo à redescoberta do paraíso

Itacaré, a cerca de 300 quilômetros ao sul de Salvador e 60 ao norte de Ilhéus, é um lugar de belezas naturais incomparáveis. Em abril, a equipe de surfistas profissionais da MAHALO, formada por Bino Lopes, Ulisses Meira e Bruno Galini, foi sentir de perto a energia contagiante, os encantos e as ondas do lugar. Com uma confortável infraestrutura e características ambientais peculiares na região Nordeste do Brasil, o município possui praias isoladas, cercadas de grandes morros (cobertos por uma exuberante Mata Atlântica), que atraem cerca de 50 mil turistas por ano. Uma legião de novos moradores, das mais variadas origens e tribos, também chega a todo instante no lugar, atraídos pelas perspectivas de prosperidade econômica

Uma chuvarada durante toda a madrugada e a mudança de plano. Após duas longas sessões de surf na praia Tiririca na segunda-feira (25/4), quando toda a equipe finalmente se encontrou em Itacaré, o destino para o dia seguinte seria a Engenhoca pela manhã e, à tarde, um merecido rango no restaurante do Itacarezinho, para, em seguida, mais uma session no final da tarde. Mas, naquelas circunstâncias pluviométricas, não dava. A trilha da Engenhoca é um pouco longa, cerca de meia hora, e tomar água na cabeça em um caminho enlameado, com uma penca de equipamentos fotográficos e de filmagem, não seria bom negócio.

Então, já pelas 9h da manhã, o fotógrafo Fabriciano Júnior deu a pista: Prainha! “Mas lá a gente não consegue entrar. O principal acesso é pelo São José (complexo que abriga o Resort Itacaré Village e o condomínio Villas de São José) e a permissão tem que ser com antecedência. A outra alternativa é a trilha da Ribeira, que é mais longa do que a da Engenhoca”, ponderou o também fotógrafo e videomaker oficial da ‘barca’, Zecops. Então, conversamos com alguns amigos e conhecidos da cidade para pegar dicas sobre quem deveríamos procurar para nos dar a chave do paraíso.

Após uma breve passada pelo Itacarezinho, estávamos na portaria do complexo, já com o céu azulado e aquele vento terral bem suave, característico da região. Paramos

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Por Yordan Bosco Em um ambiente exclusivo para a equipe MAHALO, Bino Lopes sobrevoa a paradisíaca Prainha Foto: Zecops
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Foto: Fabriciano Júnior

os três carros no estacionamento do stand de vendas do Villas de São José. Detalhe: o condomínio é de alto luxo e, entre outras celebridades, Ana Paula Padrão, Marcelo Bonfá (ex-baterista da Legião Urbana) e um dos filhos de Roberto Marinho possuem propriedades no local.

Sabíamos o nome de dois diretores do hotel que, para nossa decepção, tinham acabado de entrar em uma reunião, que não tinha hora para terminar, e não podiam ser interrompidos em hipótese alguma. Mas, graças ao empenho e boa vontade do simpático e prestativo porteiro Fábio, encontramos o caminho das pedras e, finalmente, obtivemos a permissão para entrar. Seguimos cancela adentro. Após uns 10 minutos de carro e mais uns cinco de caminhada, finalmente chegamos ao paraíso.

Uma visão fantástica. Mar verde e transparente, ondas pequenas, porém perfeitinhas, e dois morros nas laterais, cobertos por uma vasta e imponente Mata Atlântica. No meio da praia, um coqueiral escondendo um casarão amarelo, estilo colonial, porém com fortes traços contemporâneos. Estávamos na Fazenda Prainha, nas terras do ‘ômi’, de um dos mais poderosos empresários do mercado de surfwear do mundo.

Fabriciano posicionado no canto direito da enseada, em cima das pedras, Zecops fotografando de dentro d’agua e, no lip up, Bino Lopes, Ulisses Meira, esse jornalista que vos fala e nosso auxiliar, Fábio Cascão. A essa altura, Bruno Galini, que havia passado quatro dias an-

Matriz de São Miguel Arcanjo, pelo jesuíta Luis da Grã. Batizada inicialmente de São Miguel da Barra do Rio de Contas, ganhou o atual nome por volta de 1940.

Itacaré foi descoberta pelos colonizadores portugueses por volta de 1530 e chegou à condição de município em 1720, quando foi construída a Igreja
Ulisses Meira testa a força das ondas da Tiririca Panorâmica do Mirante do Itacarezinho Bino e Ulisses, chegando na Prainha Foto: Zecops Foto: Yordan Bosco
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Foto: Fabriciano Júnior

teriores em Itacaré com Fabriciano, já havia deixado a ‘barca’, pois teve que agilizar, em Ilhéus, sua viagem para competir no Sul do país.

Fizemos uma sessão fantástica, com Ulisses e Bino soltando as rabetas das suas pranchas, voando como loucos e jogando água para tudo que era lado. Mais um detalhe: na maior parte do tempo, apenas a equipe MAHALO e dois funcionários da fazenda, que vendiam água de coco e queijo coalho, desfrutavam daquele pedaço de sonho.

Itacaré tem essas particularidades que talvez nenhum outro badalado destino turístico continental possua no Brasil. Além de dar ondas na maioria absoluta das cerca de 20 praias, o local mantém, graças à geografia privilegiada da região, muitas enseadas intactas, isoladas e inacessíveis para a maioria das pessoas que visitam a região. Além da Prainha, a Engenhoca, o Havaizinho, Jeribucaçu e Siriaco também só podem ser visitadas através de longas trilhas, ou por propriedades particulares.

Um aspecto que chama a atenção é que, apesar de ser frequentado por muitos milionários e famosos, principalmente no Verão, o município tem acomodações e opções de alimentação para as mais diversas classes sociais e culturais. Essa diversidade, composta de ricos, largados, nativos, mauricinhos, imigrantes, caipiras, hippies, entre tantas outras tribos, convive em total harmonia. E isso é uma das coisas que fazem de Itacaré um lugar mágico e diferente.

Em visita a Itacaré pela segunda vez, o paraibano radicado no Rio de Janeiro Ulisses Meira ficou encantado com o lugar. “Estive aqui para competir no ano passado e não tive a oportunidade de viver o lugar como desta vez. É realmente muito mágico. O visual das praias, as ondas, toda essa energia é muito contagiante”, declara. “É um dos lugares que conheço que mais respira surf”, complementa.

Bino e Galini, que conhecem o local desde adolescentes, compartilham da mesma opinião de que a sensação é única a cada visita ao lugar. Se Galini, que mora em Ilhéus e treina constantemente em praias como Engenhoca e Tiririca, diz se encantar a cada

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Bode, surfista local Ulisses, na Prainha Foto: Zecops Foto: Zecops
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Foto: Fabriciano Júnior

caída, Bino, que mora em Salvador, confessa: “Gostaria de vir mais vezes, mas ultimamente a correria me impede. Mas é incrível como a cada chegada na cidade a energia é surpreendente”.

Surfistas abriram portas

De acordo com a secretária de turismo de Itacaré, Diana Quadros, 70% da receita do município vem das atividades turísticas. Ela explica que hoje o turismo de aventura é um dos principais pilares de sustentação do ramo, mas que o surf também tem muita força e foi, na verdade, a grande alavanca da principal atividade econômica na região. Não é folclore a informação de que Itacaré foi redescoberta pelos surfistas. Lógico que a construção da BA-001, estrada que liga a cidade a Ilhéus, em 1998, abriu definitivamente as portas da cidade para o mundo. Mas o fato é que, no início da década de 1970, aventureiros surfistas de Salvador, a exemplo de Ronaldo Fadul, Jaime Corró, Carlão Moraes, Cly Loylie, Manoel Leite, Alde Vieira, entre outros, desbravavam as estradas de terra que davam acesso à pacata vila de pescador.

Eles rompiam estradas de barro pelo vilarejo de Taboquinhas, vindos de Ubaitaba ou de Uruçuca (por Ilhéus), quando a região era completamente isolada do mundo. Se entrosavam com a comunidade e passavam de dois a três meses largados, pegando onda. Por volta de 1980, Ronaldo Fadul e Jaime Corró foram morar em Itacaré.

Após idas e vindas para Salvador, Corró está estabelecido definitivamente em Itacaré desde os anos

MAHALO PRESS

Recomenda em Itacaré

• Restaurante Manga Rosa (73) 3251-3095

• Restaurante do Itacarezinho (73) 9931-1852

• Motor Sushi (73) 8835-6963

• Restaurante Mistura Fina (73) 3251-2289

• Pousada Pedra Torta (73) 3251-3278

• Pousada Terra Boa (73) 3251-3289

Bino, na Praia da Costa Fábio Cascão mostrou serviço durante a Trip
Foto: Zecops
Júnior Foto: Fabriciano Júnior mahalo_revistamahalopress_#2_64pages.indd 29 22/05/11 20:19
Nas pedras da Tiririca Foto: Zecops
Foto: Fabriciano Júnior Foto: Fabriciano

90. Ele já foi secretário municipal, organizou os primeiros eventos de surf na cidade, junto com Cly Loylie, e trabalhou em obras sociais. Hoje vive da agricultura e continua realizando trabalhos socioeducativos e de evangelização com jovens da cidade.

“Eu vim porque vi que Salvador oferecia uma boa condição de vida, mas eu poderia chegar aqui, ter minha terra, minha casa e pegar as ondas que quisesse. Existia uma situação social complicada, com perseguição, grilagem de terra e resolvi ajudar a comunidade a valorizar mais o potencial que ela tem”, acredita.

Na ocasião da chegada dos surfistas, Itacaré vivia um ostracismo econômico. Desde os anos de 1940, quando o ciclo mais produtivo da história do município (que começara por volta de 1890) foi interrompido pelo assoreamento do porto. O fato prejudicou a principal atividade econômica da região, a cultura cacaueira, pela dificuldade de acesso. O município só voltou a experimentar o progresso novamente com a chegada do turismo.

O pescador aposentado Edson, conhecido como Seu Ozinho, de 86 anos, lembra que foi a população quem abriu, no braço, o acesso prin-

cipal da cidade. “Estávamos completamente isolados e todos os moradores da cidade se uniram para abrir um novo caminho, liderados pelo prefeito da época”, lembra. “Passamos por períodos difíceis, mas hoje, graças a Deus, temos todas as facilidades”, comemora o idoso.

Memória do velho Joaquim

Nos anos 80, quando apenas um grupo de proprietários de terras da região visitava seus casarões durante o Verão, surfistas de Salvador e de Ilhéus mostraram a uma boa parte da Bahia e do Brasil que naquela região existia um lugar fantástico que, além de dar altas ondas, possuía características ambientais inimagináveis na Bahia.

E foi a partir da demanda de um público descolado, em busca de ondas, paz, aventura e de um contato mais íntimo com uma natureza selvagem e encantadora, que começaram a surgir as hospedarias e os pequenos restaurantes da cidade. Na época, apesar de preços muito baratos e de todo o potencial da região, as dificuldades de acesso impediam a chegada de um turismo massivo, como é feito nos dias atuais.

Membro da ‘barca’ que participou de uma das primeiras matérias jornalísticas sobre Itacaré, em 1986, para a re-

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Acostumado a treinar na Tiririca, o ilheense Bruno Galini voou à vontade Bino, calibrando o equipamento Fotos: Fabriciano Júnior Foto: Yordan Bosco
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Foto: Zecops

vista Ação, César Batinga explica que a população de Itacaré sempre recebeu bem os surfistas. “Inicialmente, não existiam muitas opções de estada ou mesmo restaurantes. A melhor alternativa era ficar em barraca e organizar o almoço encomendando um peixe na casa de algum morador”, explica Batinga. Da população local, ele destaca o velho Joaquim, que morava em frente à Praia da Costa, entre a Tiririca e a Ribeira. “Ele sempre acolheu e apoiou os que por ali passavam. Era a gentileza em pessoa”, diz.

“A reportagem que tive a oportunidade de participar foi produzida pelo fotógrafo esportivo Roberto Rêgo, sobre a cidade, suas belezas e, claro, as ondas. Junto com outros surfistas, como Fábio Rezende, Guiga e Carlos Fernando, percorremos toda a região. Fomos recepcionados por Ronaldo Fadul”, detalha. “Eu já frequentava Itacaré há alguns anos, quando tive o privilégio de usufruir do lugar ainda pouco explorado”, complementa Batinga.

Morador da cidade, professor de surf e fundador do Clube de Longboard de Itacaré, Alde Vieira também está no grupo dos descobridores das ondas da região. Um dos principais organizadores de eventos esportivos da cidade, ele lembra que por volta de 1975, quando tinha uns 20 anos de idade, foi levado por Ronaldo Fadul. “Era uma coisa de louco, inacreditável, o choque com a beleza e as ondas do lugar. Éramos meninos. Minha ligação com este lugar vem desde aquela época”, comenta Vieira.

Caneta é pioneiro no surf local

Já faz muito tempo. Era lá pelo meado da década de 1970, mas Antônio Eduardo Soledade, conhecido como Caneta, não esquece o dia em que “batia um baba (pelada)” na praia da Tiririca quando percebeu uma pessoa deslizando nas ondas. “Fiquei encantado e logo pedi a prancha emprestada a um cara de Ilhéus, que não lembro o nome”.

Pouco depois desse dia, Caneta, que hoje tem 52 anos e vive da apicultura e do aluguel de imóveis, ganhou uma prancha da turma de Salvador e virou o mascote do grupo. O surf não saiu mais da sua vida. Depois, ele ajudou a influenciar outros jovens da época, como Silu, Elias, Bocais e Luciano. Durante muito tempo, Caneta e seu irmão mais novo, Pierre, foram as principais referências do surf de Itacaré.

“Lembro que as pessoas da cidade, embora gostassem muito da galera do surf que vinha de fora, consideravam o esporte coisa de vagabundo. Lembro da casa do velho Joaquim, que era a base dos surfistas em Itacaré. Todo mundo acampava lá e usava a cozinha dele. Mas teve dona Valdece também, que foi uma das primeiras a hospedar os surfistas. De lá pra cá, muita coisa mudou, mas as mudanças foram boas. Com o desenvolvimento, pudemos ter uma condição de vida melhor.

Confortáveis hospedagens

A secretária de turismo, Diana Quadros, explica que o município possui cerca de 200 hospedarias. Entre resorts, pousadas de alto padrão e de pequeno porte, Itacaré conta com aproximadamente 3 mil leitos, com preços de diárias que variam de R$ 40 a valores acima de R$ 1 mil. Para quem vai com poucos recursos, há também as opções de camping. Entre as pousadas de alto padrão de Itacaré estão a Pedra Torta e a Terra Boa, que ficam bem próximas, no caminho da Pituba para a Praia da Concha. Os dois empreendimentos pertencem à empresária Cida Aguilar, que há dez anos saiu de Teixeira de Freitas, no extremo-sul da Bahia, para investir em Itacaré. Juntas, as duas pousadas oferecem 74 apartamentos extremamente confortáveis.

Ficamos instalados na Pousada Pedra Torta e pudemos desfrutar de toda a mordomia para descansar dos dias intensos de trabalho e de surf. Para repousar o esqueleto e planejar as atividades do dia seguinte, os ‘pobres trabalhadores’ tiveram merecidos cafés da manhã, ricos e deliciosos; quartos confortáveis; serviços cinco estrelas; além de uma piscina com direito a hidromassagem, para os finais de tarde.

De acordo com Cida Aguilar, as pousadas têm uma média anual de 60% de ocupação, com a maioria dos clientes de São Paulo, Minas Gerais e do exterior. A empresária chegou a Itacaré para construir a Pedra Torta sem nenhuma experiência no ramo hoteleiro, mas foi tão bem-sucedida no segmento que, no ano passado, construiu a Terra Boa, que também vai muito bem, obrigado.

Conforto na Pousada Pedra Torta César Batinga e o velho Joaquim, na década de 1980 Lawrence Scrafield conheceu Itacaré nos anos 80 e mora na cidade há mais de 15 anos Foto: Fabriciano Júnior Fotos: Divulgação Foto: Reprodução Revista Ação
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Foto: Yordan Bosco

Mordomia no Itacarezinho

Entre as maravilhas do município de Itacaré está o Itacarezinho. Linda, agradável e com altas ondas, a praia ainda conta com uma infraestrutura confortável, mirante na chegada, estacionamento seguro, salva-vidas e um restaurante de categoria internacional. O local, pertencente à Fazenda Itacarezinho, a 12 quilômetros do centro da cidade, é sede de grandes eventos. Além das festas de Reveillon, já abrigou etapas do circuito baiano de longboard e foi palco, em 2006, de uma prova do SuperSurf, que valia pelo circuito brasileiro de surf profissional na época.

Sócio do mineiro Fernando no restaurante, o baiano Tiago Caldas explica que a maioria dos produtos utilizados na sua cozinha, a exemplo do coco, da banana, do dendê, das hortaliças, das frutas e das verduras, vem da própria fazenda. “Aproveitamos o máximo o que vem puro, da natureza”, explica.

Tiago foi pessoalmente à cozinha supervisionar o rango da nossa faminta e cansada equipe. A comida saiu no capricho e Ulisses e Bino caíram logo pra cima do Peixe na Folha de Banana e do Camarão Engenhoca, respectivamente. “Rapaz, isso aqui é coisa de louco. É uma pena que não posso falar mais com vocês nesse momento”, brincou Bino, no meio do ‘trampo’.

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Fotos: Zecops
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Foto: Fabriciano Júnior

Festival gastronômico pelas ruas

Nas ruas de Itacaré, sobretudo a Pituba, e nas praias, existe um verdadeiro festival gastronômico, tamanha a quantidade e a variedade de restaurantes. Há comida para todos os gostos e bolsos. As opções vão de simples PFs de frango e bife e de restaurantes tradicionais de comida baiana, como o Tia Deth, a restaurantes sofisticados com cozinha italiana, francesa, japonesa, pizzarias, nordestina e churrascarias. Há também excelentes opções de açaís, sorveterias, lanchonetes simples e até a multinacional Subway.

Localizado no coração da Pituba, o Manga Rosa, dos sócios Fred Paiva e Alexandre Xanissani, o Xan, possui uma cozinha diferenciada, com pratos à base de grelhados e frutos do mar e combinações de legumes e verduras. Enfim, uma comida de sabores espetaculares e extremamente saudável. Entre os pratos individuais que experimentamos, os que mais ficaram na memória foram o camarão pistola com polvo ao gengibre e arroz de vegetais e o filé de peixe com banana-da-terra.

Radicado há cerca de 10 anos em Itacaré, Fred e Xan montaram o Manga Rosa na Pousada Papaterra, há uns cinco anos, e há três estão na Pituba. Professor de Educação Física de formação, surfista e ex-nadador de travessias, Fred sempre teve o dom na cozinha, mas mergulhou profissionalmente na atividade há cerca de cinco anos.

“Sou um autodidata da gastronomia. Pesquiso bastante e sempre viajo nas férias, quando pego onda e procuro descobrir novos sabores”. Fred mora em um sítio, onde tem uma horta, e aproveita muita coisa de lá para o restaurante. “Lógico que nos feriados e no Verão a demanda é muito grande e aí temos que comprar dos nossos fornecedores”, explica o empresário.

Motor Sushi

No Motor Sushi, caímos pra dentro de uma barca de um combinado de diversos sushis e sashimis. Feito especialmente para nossa equipe, o prato, com cerca de 30 itens, foi devorado em poucos segundos. De acordo com Daniel Aires Oliveira, o Motor, o prato foi feito com camarão, salmão, atum, agulha branca e ova de peixe. Radicado em Itacaré há 10 anos, o paulista tem vasta experiência em cozinha japonesa e já trabalhou em alguns resorts da região. Há um ano, ele toca o Motor Sushi com a esposa, a simpática itacareense Imara Queiroz.

Fred Paiva do Manga Rosa Fotos: Zecops Daniel Oliveira: Motor Sushi
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A rua da Pituba concentra um grande número de restaurantes
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