Arquitetura empática, cognição e consumo: aplicações projetuais em loja da Arquitetura do Sono

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Arquitetura empática, cognição e consumo: aplicações projetuais em loja da Arquitetura do Sono Arq. Yasmin Luana Fischer yasminfischer.arq@gmail.com

Master em Arquitetura Comercial Instituto de Pós Graduação IPOG Florianópolis, SC, 20 de Julho de 2022

O presente artigo traz o estudo pertinente à arquitetura enquanto estratégia de experiência de marca, partindo da hipótese de que a arquitetura e o espaço construído exercem grande impacto sobre a experiência ao cliente através da sua influência na cognição humana, atuando diretamente sobre o valor percebido da marca e produtos/serviços. Dessa forma, o objetivo que se busca é elucidar a influência dos aspectos cognitivos da arquitetura na experiência e percepção de marca e identificar e qualificar os fatores espaciais decisivos para a criação de uma arquitetura empática que colabore na atração do público-alvo pretendido em lojas especializadas. Essa análise foi feita a partir de levantamento bibliográfico e estudo de caso real em um ponto de venda da Arquitetura do Sono, analisando a lógica do consumo aos conceitos de Visual Merchandising e princípios do Design Emocional, de modo a identificar soluções e aplicações projetuais que conectaram cliente e marca, criaram experiência além do ato de compra e o seu impacto nas vendas e tempo de permanência na loja. : Arquitetura comercial. Neuroarquitetura. Lojas especializadas. Design emocional. Visual Merchandising. 1. Introdução O ato de consumir vai muito além da ação de comprar. O que nos motiva a optar por um determinado produto em detrimento de outro concorrente semelhante? O que realmente atrai a mente humana e instiga o processo de consumo? Através dos estudos mais recentes entende se que esse ato é emocional: em um mercado cada vez mais competitivo constata-se uma mudança nas estratégias varejistas que voltam seus olhos agora para a criação de experiências, agregando diversas estratégias sensoriais, espaciais e digitais para enriquecer a percepção de valor de seus produtos e serviços. Nesse momento entra em cena um novo tipo de consumidor e um novo papel da loja: o consumidor contemporâneo preza por boas experiências que integram facilidades, simplicidade, personalização, socialização, experiências positivas e conteúdo da marca, além dos fatores sensoriais, como visão, tato, olfato, audição e paladar.

Resumo

Palavras-chave

As lojas se tornaram o mais importante canal para os varejistas se comunicarem com seus consumidores: “como nenhum outro, o ponto-de-venda no varejo representa o momento e o lugar para onde convergem todos os elementos que compõem a venda: o produto, o consumidor e o dinheiro”

(BLESSA, 2003, p. 16). Enquanto espaço físico, a loja representa grande parte da identidade visual de uma marca e também gera muitos estímulos sobre o cliente, tendo esses estímulos visuais ou sensoriais a capacidade de atração ou repulsão do mesmo. Partindo dessa lógica, assim como defende a Psicologia Ambiental, o espaço construído exerce grande influência sobre a experiência do usuário através da sua influência na cognição humana, podendo ter impacto direto sobre o valor percebido da marca e consequentemente de seus produtos e serviços. A partir desse princípio, o objetivo desse estudo de caso é investigar essa relação entre arquitetura, cognição e consumo e pontuar aplicações projetuais que conectem cliente e marca e gerem experiência além do ato de compra.

2. Emoção: a nova lógica do consumo O consumo se dá durante uma série de processos “quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou descartam produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazerem necessidades e desejos.” (SOLOMON, 2016, p. 6). Tudo isso é passível de estudo do comportamento do consumidor.Nolivro

bestseller “A Lógica Do Consumo: verdades e mentiras sobre por que compramos”, Martin Lindstrom (2016) detalha e explica seu longo estudo de três anos sobre Neuromarketing e conclui que na hora de comprar, o ser humano é muito mais emocional do que racional. Isso porque é através das emoções que o cérebro codifica e atribui valor às coisas, o que torna a decisão de compra inconsciente. Ele ainda quantifica: 80% dos nossos atos de consumo são inconscientes.Emparalelo,

2.1 A loja física como um HUB Com essa revolução do varejo, digitalização das vendas, busca pela simplificação dos processos e novas tendências pós-pandemia, hoje a necessidade é que loja física passe de um simples Ponto de Venda (PDV) para ser um Ponto de Experiência (PDX), passando a ter uma identidade de lugar, ou place identity, ou seja, um HUB onde a marca, além da venda física, agrega serviços, experiências, informação, educação, eventos e relacionamento, onde a motivação de compra seja a experiência, e não mais apenas a necessidade e o hedonismo. A loja física como PDX passa a ter novas funções, tais como:

o site WGSN listou as principais tendências para o ano de 2023, a realidade pós pandemia, onde defende “a emoção como subculturas” e também que “o estado emocional dos consumidores será cada vez mais complexo e interligado, gerando uma nova economia criativa baseada em sentimentos comuns específicos” (WGSN, 2022), destacando ainda mais a importância da cativação emocional como estratégia de vendas.

• Expressar valores da marca, comunicar a sua identidade e conectar se ao cliente;

• Ambiente para experiências sociais e sensoriais;

• Centro de distribuição e retirada de mercadorias (no caso do ecommerce);

• Showroom de produtos e oferta de serviços

2.2. Design Emocional O Design Emocional é um conceito criado a partir da compreensão de que ao entrarmos em contato com qualquer produto agregamos sentidos a ele e às suas características de forma inconsciente. Identificam se os seguintes passos:

1. Recepção do estímulo: “isso é para mim? Devo me preocupar com isso?”

• Hub de mídia, educação e entretenimento;

2. Se o contexto fizer sentido, ou seja, o estímulo estiver de acordo com o público alvo ou indivíduo, desencarretará a resposta emocional: “Como me sinto em relação a isso?”

Figura 1 Don Norman’s 3 Levels of Design Appeal Fonte: Blog UxDesign (2022)

3. Resposta física acarretada pela emoção desencadeada pelo estímulo, promovendo a ação. Donald Norman, cientista cognitivo, já realizou estudos para entender o motivo de alguns produtos obterem mais sucesso do que outros. No livro “Design Emocional: Por que Adoramos (ou Detestamos) os Objetos do Dia a dia” o autor relaciona três marcas emocionais que um produto bem projetado precisa atingir para ser bem sucedido: o visceral, comportamental e o reflexivo.

As lojas devem oferecer inspiração, contar uma história e oferecer uma experiência sensorial intensa com um objetivo principal: desencadear uma conexão emocional com o consumidor. É isso que diferencia as lojas como únicas e diferentes do que em qualquer outro canal de venda.

2.2.3 Nível Reflexivo Terceiro nível de resposta. Promove um sentimento duradouro e transformador, como a fidelidade e otimismo. Esse nível faz com que o consumidor reflita sobre como se sente em relação ao produto, relacionado diretamente com o ego, personalidade, senso de representatividade e status social.Aqui fica clara a importância da escolha da emoção certa que se quer despertar, o que significa escolher o estímulo de acordo com o objetivo pretendido e também adequado ao público-alvo e seu arquétipo, ou seja, também há a necessidade de estudar como ele se comporta, quais seus medos e paixões, quais problemas querem resolver, dentre outros aspectos. Nesse ponto é possível ir além da funcionalidade e design do produto: o consumo também pode ser motivado por outros fatores emocionais como o despertar de memórias afetivas, a promoção de identificação e desejo, o senso de pertencimento a necessidade de comprar um determinado produto para se encaixar a um grupo social , status e storytelling encantar se com a história do produto e marca. Dessa forma, os três níveis do Design Emocional teriam sido atingidos.

2.3. Desenhando para todos os sentidos Sobre esse processo cognitivo da decisão de compra, Lindstrom (2016) defende a importância de analisar e afetar todos os sentidos, pois um canal impacta no outro, o que leva à ativação de gatilhos mentais associados ao processo de decisão de compra. “Mas a verdade é que as imagens visuais são muito mais eficazes e memoráveis quando estão associadas a outro sentido como a audição ou o olfato. As empresas estão descobrindo que, para nos cativar emocionalmente de forma plena, seria melhor não apenas nos inundar de logomarcas, mas também borrifar fragrâncias em nossas

2.2.1. Nível Visceral Consiste no primeiro tipo/nível de resposta ao estímulo e é o ponto que desperta o desejo É a verificação sensorial inicial da experiência e está ligado à busca de suprir necessidades básicas e momentâneas, a um nível biológico. Isso faz com que o consumidor seja atraído por formas que lembrem a natureza, pela beleza e ordem e sinta aversão por coisas feias e desorganizadas. O foco é no presente e costuma desencadear uma emoção temporária como, por exemplo, felicidade ou raiva.

2.2.2 Nível Comportamental É o segundo nível de resposta em um comportamento automático e subconsciente que desencadeia um pensamento um pouco mais duradouro como, por exemplo, satisfação, estando relacionado com o prazer e facilidade e uso.

narinas e encher nossos ouvidos de música.” (LINDSTROM, 2016, p.76).

Sobre a experiência sensorial no espaço construído o arquiteto Bruno Zevi defende que “onde quer que exista uma perfeita experiência espacial a viver, nenhuma representação é suficiente, precisamos nós mesmos ir, ser incluídos, tornarmo nos e sentirmo nos parte e medida do conjunto arquitetônico, devemos nós mesmos nos mover. [...] essa hora em que, todos nós, seres físicos, espirituais e sobretudo humanos, vivemos os espaços com uma adesão integral e orgânica. Será esta a hora da arquitetura.” (ZEVI, 2005, p.55) Esses estímulos, segundo Lindstrom (2016), ativam a criação cognitiva do que o autor chama de “Marcadores Somáticos”, que funcionam como atalhos cognitivos criados e fixados na mente humana conforme vivências, rituais e crenças, podendo ser moldados, manipulados e modificados. Eles influenciam no processo de decisão de compra através da criação de um estímulo que desencadeia um estado emocional que leva o consumidor a adotar uma nova percepção que é responsável pela atribuição de valor, fazendo com que o consumidor prefira certo produto ao invés de outro. Quando buscamos estimular esse processo de acordo com os objetivos da marca, passamos a praticar o Design Emocional, que se trata de criar estratégias para impactar e atrair o público alvo pretendido emocionalmente, podendo ser aplicado à arquitetura. No ponto de vista da arquitetura e do design, o que se busca é compreender um público-alvo a ponto de saber o que o motiva e o que o levará a agir, ou seja, transformar informações e estímulos em emoções e depois em ações. O objetivo é criar um vínculo emocional para desencadear a decisão e ação de compra de forma empática. 3. Arquitetura e cognição: projetando espaços com empatia A concepção arquitetônica vai muito além do ato tecnicista e funcional quando se leva em consideração o indivíduo que será inserido nesse contexto e deve atender a todos os sentidos e fundir a autoimagem com as experiências e vivências de mundo, assim como já defendia o arquiteto finlandês Pallasmaa (2005 apud MARTAU, 2007) e Bruno Zevi (2002). Sendo concebido dessa forma, o espaço construído é um grande criador de experiências e marcadores somáticos através dos estímulos que exerce sobre quem o habita, também sendo não apenas geográfico, mas também histórico, cultural e psicológico. Sobre esse processo cognitivo no espaço, Sarah Williams Goldhagen em seu livro “Bem vindo ao seu mundo: como o ambiente construído tem moldado nossa vida” escreve: “o hipocampo é a área do cérebro na qual consolidamos as memórias de longo prazo: ele controla a navegação espacial e contém o que sabemos ser neurônios de reconhecimento de lugar e até mesmo construir neurônios de reconhecimento. O que isso significa é que você não pode desenvolver uma memória de longo prazo que não contenha

4. Análise projetual: Arquitetura do Sono por Progetta Studio Arquitetos: Allan Chierighini e Graziella Oliveira [Progetta Studio] Área: 220m² Ano: Caraterística:2020 loja especializada

algo do lugar em que estava, quando teve essa experiência. Nós navegamos pelo espaço usando algumas das mesmas vias neurais que usamos para desenvolver memórias autobiográficas. Então, o que isso significa? Significa nada menos que essa arquitetura e o ambiente construído são centrais para a formação de nossas identidades.”

Essa relação de vínculo que o ser humano cria com o espaço também pode ser associada e entendida através da teoria de Einfühlung. Einfühlung é uma palavra alemã que traduz se por empatia. A definição de ‘empatia’ trata se como “Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem; qualquer ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a uma cultura; capacidade de interpretar padrões não verbais de comunicação; sentimento que objetos externos provocam em uma pessoa.” (MICHAELIS, 2022).

Sobre essa teoria, Zevi a define como fundamental na história das interpretações arquitetônicas, “segundo a qual a emoção artística consiste na identificação do espectador com as formas, e por isso no fato de a arquitetura transcrever os estados de espírito nas formas da construção, humanizando as e animando as. Olhando as formas arquitetônicas, nós vibramos em simpatia simbólica com elas, porque suscitam reações em nosso corpo e em nosso espírito.” (ZEVI, 1996, p. 161).

Robert Vischer citou em sua tese de doutorado em 1873 pela primeira vez o termo “Einfühlung”, onde define o conceito de interpretar objetos através de experiências coletivas e pessoais e, em concordância, defende que processos empáticos acontecem involuntariamente e que a relação entre indivíduo e objeto se estabeleça de forma íntima ao ponto de criar vínculos afetivos e emocionais.

Ou seja, formas, cores e estímulos sensoriais agradáveis e adequados ao contexto despertam um senso de identificação e empatia no indivíduo que experimenta o espaço, assim como a lógica dos três níveis de design de Donald Norman A dimensão da escala arquitetônica e sua compreensão também se dá através da análise inconsciente do objeto ou do edifício com o corpo e a projeção cognitiva individual no espaço em questão. A arquitetura busca apropriar se desse conceito das artes plásticas para desencadear emoções a partir de formas tridimensionais, cores, texturas, odores, dentre outros estímulos. Esses são harmonicamente combinados de modo a configurar uma atmosfera que transmita ao usuário sensações exclusivas e, de modo geral, agradáveis e empáticas, de forma que a arquitetura emocione e cative seu usuário empaticamente, desempenhando um papel fundamental no sucesso da marca e empreendimento.

O projeto foi idealizado e executado pelos arquitetos Allan Chierighini e Graziella Oliveira, responsáveis técnicos e sócios proprietários do Progetta Studio. Segundo os arquitetos, o projeto partiu de um edifício já existente. O local já havia sediado os mais diversos empreendimentos e por isso percebeu-se a

Mix de produtos: camas, colchões, roupas de cama de luxo, aromatizadores, acessórios de bem estar Fotos: Lio Simas Foto Fachada Arquitetura do Sono Mauro Ramos Fonte: Lio Simas (2020) 4.1. Marca, necessidades e desafios De acordo com informações obtidas através do Manual da Marca Arquitetura do Sono, trata-se de uma empresa conceito que tem como premissa o atendimento personalizado e focado no cliente. Suas personas identificam, além do consumidor final, a persona arquiteto, que também tem importante papel nas vendas e indicação dos produtos. O arquétipo do consumidor é estabelecido como ‘O Sábio’, pessoas que buscam o aprendizado e vêem uma compra como uma transação racional e, por isso, demandam conhecimento a respeito da qualidade do produto, tomando decisões com base nas informações de que Aindadispõe.de

acordo com o Manual a marca se baseia na Inovação, foco no cliente, diligência e responsabilidade social e não vende apenas produtos, mas sim saúde e qualidade de sono: “Descobrimos a relação direta entre um sono de qualidade e a saúde. Hoje as pessoas não buscam mais simplesmente um colchão bom para alinhar a coluna, elas procuram felicidade, bem estar e um dia melhor.”

Figura 2 Recorte do Zoneamento Urbanístico de Florianópolis. Fonte: Geoprocessamento de Florianópolis, 2022.

necessidade de requalificar a memória do ponto. A área de 220m² despertou a necessidade de adaptação de layout, para comportar o novo programa de necessidades: realização de coquetéis e eventos, contemplar estoque, copa, cozinha e, claro, o espaço de vendas 4.2. Análise do ponto O ponto de venda estudado localiza se na Av. Mauro Ramos, próximo a importantes e movimentadas avenidas na Beiramar Norte em Florianópolis/SC, estando inserido em uma centralidade que mescla zona residencial e de serviços, como mostra o recorte do Zoneamento Urbanístico abaixo:

Acessibilidade: uma das localidades mais valorizadas da Ilha de Santa Catarina. O estabelecimento, por normas, é acessível. Fachada ampla e bem iluminada, com vagas de estacionamento acessadas por avenidas de grande fluxo e conexão com o Centro e Av. Beira mar Norte, também muito bem suprida por inúmeras linhas do sistema de transporte público.

Visibilidade: Possui movimento frequente e proximidade com o fluxo e movimento do Beiramar Shopping e Patio Milano, além de diversos outros serviços, o que é um grande ponto positivo do local

Foto Vista da avenida. Fonte: Google Maps (2022)

Perfil demográfico da região: contraste entre classes sociais, bairro variado. Existência e proximidade de serviços e lojas das quais pode beneficiar-se por compartilhar do mesmo público alvo/perfil de consumo/poder aquisitivo. Distribuição geográfica da concorrência: proximidade com serviços diversos em uma região movimentada e conhecida. Se tratando de lojas concorrentes, a região tem na proximidade a loja Exclusiva Colchões

Figura 3 Estabelecimentos e serviços nas proximidades. Fonte: Google Maps (2022)

Figura 5 Lógica de organização de loja

Também existem na proximidade lojas complementares e que dividem mesmo público alvo, como por exemplo a Bontempo Florianópolis, o que é mais uma vantagem do local como atração e compartilhamento de público.

4.3. Aplicação do Visual Merchandising Segundo Regina Blessa, merchandising “é qualquer técnica, ação ou material promocional usado no ponto de venda que proporcione informação e melhor visibilidade a produtos, marcas ou serviços, com o propósito de motivar e influenciar as decisões de compra dos consumidores”. (BLESSA, 2003, p. 18)

O visual merchandising é uma importante ferramenta de vendas, trata se de uma estratégia para envolver consumidores em uma experiência de compra capaz de fidelizar. Sua aplicação em lojas físicas é capaz de gerar mais vendas e ampliar o reconhecimento e percepção da marca. Está diretamente ligado ao processo projetual, no momento de organização do layout e concepção da comunicação visual, posicionamento de pontos de ancoragem e criação da lógica de fluxos no ambiente, além de criar destaques visuais e cenários para os produtos.

Figura 4 complementar na proximidade: Bontempo Florianópolis. Fonte: Google Maps (2022).

Fonte: ACI Campinas (2022)

Zonas Frias – Prata e Bronze

Devem alocar produtos de primeira necessidade, produtos de destino para incentivar a circulação por todo o estabelecimento. A Zona Prata é um local onde ocorre uma maior análise das informações, indicada para produtos atemporais ou premium, e a Zona Bronze contando com produtos destino da marca e outras demandas da loja, como balcões e café.

Zonas Quentes Platina e Ouro Zonas destinadas à promoções exclusivas e consumo imediatista ou por impulso. A Zona Platina é a área cognitiva onde o consumidor identifica a loja e busca por pontos de ancoragem (pontos focais) que respondam à sua demanda pessoal e que guiarão seu fluxo. Ao passar à Zona Ouro, ocorre o reconhecimento da loja e do espaço, é a área de maior percentual de vendas por metro quadrado, sendo local propício para compras de impulso, novidades e demandas imediatistas.

Para facilitar que o consumidor percorra todo o espaço da loja é indicado que o layout se organize sem criar dificuldades ao consumidor e divida se em Zonas Quentes e Zonas Frias, de acordo com a entrada e saída do ambiente, de forma que para chegar às Zonas Frias, onde provavelmente suas demandas principais estarão, o cliente percorra antes as Zonas Quentes, com produtos diferenciados, de forma a aumentar o tempo de permanência em loja e a exposição à maior quantidade e variedade de mercadorias.

Seguindo a lógica do visual merchandising, existem diferentes zonas no espaço de vendas. A Zona de Descompressão consiste no espaço que varia entre 1 a 3 metros e corresponde à área necessária para adaptação do usuário à atmosfera da loja após adentrá la, ou seja, o corpo e mente vão se adaptando aos novos estímulos: temperatura do ambiente, música, aromas, entre outros. Por conta disso, essa área deve estar livre de exposição de produtos ou estímulos exagerados, de forma que torne a entrada mais confortável e atrativa.

Figura 6 Identificação das zonas de merchandising e pontos focais no ponto de venda estudado (pavimento térreo) Fonte: desenvolvido pela autora (2022) No ponto de venda estudado, a setorização das mercadorias foi feita de forma que os produtos de desejo e de maior valor agregado fossem estrategicamente posicionados em destaque na zona Platina, através da criação de um microambiente cenográfico logo no primeiro contato do cliente com o ambiente interno da loja ao lado do eixo do fluxo principal de passagem do cliente, associados com produtos de luxo roupas de cama de seda e itens de compra por impulso e com apelo sensorial como os aromatizadores de ambientes, por exemplo. Essa zona da loja em si recebeu um tratamento visual diferenciado para diferenciar tais produtos dos demais: os expositores são de vidro e os materiais do painel da TV têm apelo sensorial do tato, trazendo um revestimento que lembra o macio do tecido. Foto Zona Quente da Loja Foto: Lio Simas (2020)

Fica clara a intenção de estabelecer um fluxo principal único, da entrada até o fundo da loja, guiado e ordenado visualmente pelo eixo central de iluminação em pendente de LED. A ausência de barreiras visuais no espaço permite a percepção integrada do todo, principalmente na altura dos olhos. A combinação de luzes faz parte da estratégia de estimular o fluxo de compradores, trabalhando em prol do direcionamento visual aos pontos focais e estimular seu deslocamento por todo o espaço, associando com a possibilidade de experimentar e testar as camas ao longo do percurso.

Fonte: desenvolvido pela autora (2022) 4.4 Cognição e empatia Segundo Michael Solomon (2016), a experiência é resultado da aquisição e processamento de estímulos ao longo do tempo Nesse ponto é possível analisar o projeto sob os quesitos vigilância perceptiva, defesa perceptiva, adaptação, contraste, tamanho, cor, intensidade, posição e novidades, que são fatores cognitivos que determinam a quantidade e/ou o tempo de exposição a cada estímulo que uma pessoa consegue aceitar, o que faz um determinado ambiente gerar um efeito de atração ou repulsão do usuário. No caso de um ponto de venda, o objetivo principal é fazer com que o cliente se sinta confortável e atraído a adentrar o espaço da loja e estimulado a interagir com a marca e seus produtos.Seguindo esses quesitos e o que diz a Teoria da Empatia, no projeto em questão percebe se o uso de formas ortogonais e linhas retas que impõem direcionamento, ritmo e foco, transmitindo uma sensação cognitiva de linguagem direta, simplificada e tecnológica e o controle sobre o percurso e olhar do usuário, o que se mostra de acordo com a proposta de atendimento personalizado e guiado na loja. O contraste entre preto e branco e a sobreposição entre o claro e escuro na iluminação criam destaque e foco para os produtos expostos. A curiosidade é incentivada pelas linhas de profundidade, com pendentes em perfis de LED O contraste também entre o exterior escuro faz com que a vitrine e interior iluminado da loja se destaquem e chamem a atenção e despertem a curiosidade de adentrar a loja, enquanto a fachada em cores escuras contrasta com o banho de luz no interior do espaço A proporção e ritmo também se encontra na posição dos colchões e camas e entre a modulação das estantes, além dos quadrados fechados dos perfis de led no teto. A cor verde institucional comunica e remete à leveza e saúde e é utilizada de maneira pontual no projeto, elementos visuais que foram colocados de acordo com a proposta de comunicação visual da marca. O processo de adaptação entre o ambiente exterior e interior, porém, pode ser um tanto quanto impactante, visto como objetivo do projeto, uma vez que opõe a luminosidade e estímulos do dia e

Figura 7 Fluxos e microambientes (pavimento térreo)

No que diz respeito ao estímulo sensorial, além da visão, é possível citar principalmente o tato no macio dos colchões, no MDF texturizao como tecido e experimentação da cadeira de massagem , e olfato nos aromatizadores de ambientes.

Figura 8 Ergonomia nos expositores Fonte: MALHOTRA, Naresh (2013)

Os expositores são modulares, seguem os princípios ergonômicos e foram estrategicamente posicionados nas laterais, fazendo com que o foco do olhar se mova para os produtos em destaque desejados camas e colchões. O mobiliário segue a tendência atual para PDVs, apresentando se em estruturas modulares e flexíveis e fabricados em materiais leves e resistentes.

cotidiano com o interior intenso, porém silencioso e calmo, um fator um tanto inesperado. Estantes de madeira e estrutura metálica deram um toque industrial e racional, intencionalmente criadas para fácil adaptação e replicação em outras futuras lojas da franquia.

Foto Loja Arquitetura do Sono Mauro Ramos Fonte: Progetta Studio (2020)

Foto Loja Arquitetura do Sono Mauro Ramos Fonte: Progetta Studio (2020)

Fonte: Progetta Studio (2020)

• Identidade bem definida Conclui se que um bom projeto de loja tem como premissa layout e ambientação adequados e de qualidade, conforto ambiental e acessibilidade, explorar e estimular todos os sentidos, despertar curiosidade e gerar experiência, explorar a empatia na arquitetura através da psicologia das cores e formas e proporção entre espaço livre e espaço de exposição transmitindo sensação de organização.

6. Conclusão

• Satisfação do cliente

Foto Loja Arquitetura do Sono Mauro Ramos

No quesito de aplicação do Visual Merchandising, uma loja que trabalha bem a exposição dos produtos também capta mais atenção para eles e ajuda o cliente a encontrar e avaliar aquilo que ele procura e, dentre as demais estratégias arquitetônicas e comerciais, ajudam a agregar valor e identidade à marca, sendo peça chave do marketing e branding de uma empresa. No geral, o conjunto dessas práticas gera uma avaliação positiva:

• Reconhecimento de marca

É importante levar em conta esses fatores no projeto, pensando sempre em como determinado público, cada qual com suas características específicas e

A partir desse estudo, percebe se a importância do design adequado e pensado estrategicamente em paralelo à marca e/ou aos objetivos pretendidos, uma arquitetura que se relacione afetivamente, sensorialmente e empaticamente com o cliente e que assim crie vínculos emocionais. Fatores espaciais e subjetivos se relacionam no processo de decisão de compra e devem ser associados no processo projetual em arquitetura. Também fica evidente o papel desses fatores cognitivos nas novas tendências e necessidades de consumo, cada vez mais voltadas à experiência e a transformação do PDV em PDX.

O projeto realiza e cumpre seus objetivos iniciais: transmitir o conceito de tecnologia dos produtos, diferenciando os da concorrência e envolvendo a atenção do cliente de forma personalizada e experiencial.

intrínsecas percebe um lugar ou espaço: o que espera dele, como reage, o que valoriza. Dessa forma, devemos adequar nossos traços a isso, enquanto criadores e concretizadores dessas interpretações subjetivas. Quanto ao projeto da loja da Arquitetura do Sono, o desafio era fazer com que a loja se destacasse no seu setor, enquanto loja especializada, enfatizando o diferencial e tecnologia dos seus produtos e promovendo o ideal da marca vender conforto e saúde - e, além disso, tornando-a um ponto de convivência, trocas sociais e experiência sensorial. Isso foi traduzido projetualmente através de soluções e aplicações para conectar cliente e marca emocionalmente e uma vivência pessoal além do simples ato de compra, considerando seu público-alvo e seu comportamento de consumo: produtos modernos, luxuosos e de tecnologia de ponta. Para aproximar esse público desejado, adicionaram se características de outros espaços que são referências para a persona, e esses insights foram alinhados com o posicionamento adotado pela empresa e com o programa de necessidades da loja Os traços se materializam com o objetivo de criar uma loja fora do convencional e do esperado para uma loja do setor, trazendo as camas e o descanso como protagonistas. Para isso foi tirado partido do design contemporâneo inovador e visualmente impactante, através de contrastes e linguagem tecnológica e racional.

ARCHDAILY. Como a arquitetura afeta seu cérebro: A ligação entre a neurociência e o ambiente construído. Disponível em https://www.archdaily.com.br/br/907599/como

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Regina. Merchandising no ponto-de-venda. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2003. 206p. IPUF. Geoprocessamento de Florianópolis. Disponível em http://geo.pmf.sc.gov.br/.

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