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Um produto educacional em artes visuais: possibilidades de integração curricular no ensino médio integrado

Imagem nº 10: À esquerda: Impressão com tinta guache branca sobre papel preto de uma matriz de madeira recoberta de parafina. No centro e à direita: A imagem anterior foi digitalmente manipulada em duas variantes, recortes, no Photoshop. Brenda Moura, Earte 2020/I. Fonte: Brenda Moura. Durante cada semestre letivo incentivou-se que os discentes produzissem uma pesquisa paralela de imagens manipuladas digitalmente alicerçadas nas gravuras por eles produzidas. O objetivo foi criar um portfólio que fosse ao mesmo tempo uma documentação imagética dos melhores resultados obtidos ao longo do semestre. E também, uma documentação das experimentações com a manipulação digital da imagem com diferentes programas tanto para computadores e laptops como para celulares. As imagens manipuladas e tratadas digitalmente, se transformam em novos suportes binários. No caso, em matrizes virtuais de gravuras. As quais poderão ser impressas em uma gráfica ou na impressora de jato de tinta. As imagens resultantes, por sua vez, poderão ser novamente modificadas com intervenções plásticas manuais, podendo também ser novamente digitalizadas. Resumindo, o ciclo da produção de uma gravura multiplica-se com as novas tecnologias que passam a integrá-la ampliando seu leque de ação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados parciais do trabalho desenvolvido ao longo destes semestres EARTE no DAV/CAR/UFES durante a pandemia mostram que, quando suficientemente motivados, os estudantes superam o insuficiente acesso aos materiais, maquinário e ferramentas específicas da disciplina. Aliás, dificuldades estas que já estavam presentes no ensino presencial. Gostaria de balizar como a resiliência, o anseio pelo conhecimento, o fato de partilhar uma experiência de grupo, mesmo que remotamente, aumenta o diálogo e a criatividade tanto dos discentes

como do docente, possibilitando a superação de obstáculos aparentemente insuperáveis à primeira vista. Resulta interessante balizar que na etapa inicial de implementação do EARTE percebemos certa reticência – talvez preconceito no que diz respeito ao ensino remoto –. Preconceito que não se restringiu apenas aos discentes, mas que poderia ser extensível inclusive aos docentes da nossa área de atuação. O referido entrave foi superado aos poucos com o empenho por parte de todos os implicados no processo educativo com destaque para o trabalho dos monitores do projeto de pesquisa em gravura. Mesmo a dificuldade de acesso a um sinal de internet estável, utilizando os celulares ao invés do computador ou do laptop, foi superada pela dedicação dos discentes, assim como pela alternância de conteúdos síncronos e assíncronos. Destacando que nossas aulas foram todas síncronas nestes semestres. A parte assíncrona foi deixada como dever de casa para que os discentes assistissem individualmente aos vídeos das playlists, lerem os textos em pdf e realizassem os exercícios conforme estipulado nas atividades. As dúvidas foram pontualmente esclarecidas pelos monitores e o professor. Após dois anos de ensino remoto, modalidade EARTE, os resultados obtidos constatam o ensino a distância de disciplinas práticas de laboratório, quer sejam obrigatórias ou optativas da grade curricular, resultam viáveis em tempos de provação que exigem de todos dar o nosso melhor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVAREZ, F. G. Gravura. Vitória: UFES/Sead, 2017.

CHAMBERLAIN, W. The Thames and Hudson Manual of Woodcut Printmaking. London: Thames & Hudson Ltd., 1978.

___________________ The Thames and Hudson Manual of Wood Engraving. London: Thames & Hudson Ltd., 1978.

COLDWELL, P. Printmaking. A contemporary perspective. London: Black Dog Publishing Ltd, 2010.

ROTHENSTEIN, M. Linocuts & woodcuts. Rochester: Studio Books, 1962.

RUSS, S. (Ed.). A complete guide to Printmaking. London: George Rainbird Ltd., 1975.

WALKER, G. A. The woodcut artist’s Handbook. Techniques and tools for relief Printmaking. Ontario: Firefly Books Ltd., 2005.

REFERÊNCIAS VIDEOGRÁFICAS

BULL, D. Wood block printing process. A Japan Journey. http://mokuhankan.com/subscriptions/, Tóquio, 2019. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=M8ma5q9-lA0&list=PLrv6iA4aPsDGlRLREjaelfS7iFdz15La&index=2. Acessado em 20/07/2021.

MOTOMI, T. Mokurito live 53. Foot pressure printing.mp4. Japão, 2019. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=zC33sO7Aw4&list=PLrv6iA4aPsDGGGziO5ZTqYpSwapZAeDR3&index=3&t=8s. Acessado em 26/07/2021.

THE SMITHSONIAN’S MUSEUMS OF ASIAN ART. The Ukiyo-e technique. Traditional Japanese Printmaking with Master Printmaker Keiji Shinohara. Japan, 2017. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=QA7x9PVHtiQ&list=PLrv6iA4aPsDGlRLREjaelfS7iFdz15La&index=6&t=1s. Acessado em 21/07/2021.

NOTAS DE FIM

1. Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. Professora de Arte da Rede Municipal de Ensino de Vitória-ES. http://lattes.cnpq.br/1833632706232255

UM PRODUTO EDUCACIONAL EM ARTES VISUAIS: possibilidades de integração curricular no ensino médio integrado

Kenia Olympia Fontan Ventorim1 Danielle Piontkovsky2

RESUMO

O texto apresenta o processo de construção do produto educacional realizado durante a pesquisa do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica, em curso, elaborado coletivamente entre a professora de Arte e os professores que ministram as disciplinas do núcleo profissionalizante do Curso em Administração Integrado ao Ensino Médio do Ifes. Partindo da problematização do questionamento: Como o ensino da Arte pode contribuir na busca pela efetivação de um currículo integrado?, nos baseamos em estudos nas legislações que regulamentam o ensino médio integrado e em autores que discutem sobre ensino médio integrado, integração curricular, ensino da arte e formação humana integral, conceitos estes relevantes para a fundamentação da nossa proposta. Por meio de encontros virtuais elaboramos o produto educacional, que chamamos de Cartões Postais, com imagens e sugestões de integração entre os conteúdos dessas disciplinas, buscando contribuir com a superação da fragmentação do conhecimento e o fortalecimento do campo da arte no processo de formação humana. Palavras-chave: Ensino da Arte; Produto Educacional; Integração Curricular; Ensino Médio Integrado; Educação Profissional e Tecnológica.

ABSTRACT

The text presents the process of construction of the educational product carried out during the research of the Professional Master's Degree in Professional and Technological Education, in progress, collectively elaborated between the Art teacher and the teachers who teach the subjects of the professionalizing core of the Course in Administration Integrated with Teaching Middle of Ifes. Starting from the questioning of the question: How can art education contribute to the search for the realization of an integrated curriculum?, we base ourselves on studies in the legislation that regulates integrated secondary education and on authors who discuss integrated secondary education, curriculum integration, teaching of art and integral human formation, concepts that are relevant to the foundation of our proposal. Through virtual meetings, we elaborate the educational product, which we call Postcards, with images and suggestions for integration between the contents of these disciplines, seeking to contribute to overcoming the fragmentation of knowledge and strengthening the field of art in the process of human formation. Keywords: Art Teaching; Educational Product; Curriculum Integration; Integrated High School; Professional and Technological Education.

INTRODUÇÃO: PARA COMEÇO DE CONVERSA

É de longa data a necessidade da superação do senso comum que trata tanto a arte como a cultura como temas supérfluos na formação humana, separando-as em uma disciplina que aborda especificamente o assunto, ou seja, fragmentando o conhecimento. É preciso pensar a cultura e concomitantemente a arte, como parte da totalidade construída socialmente e integrante da formação omnilateral3. “A razão explícita dada pelos educadores é que a educação no Brasil tem que ser direcionada no sentido da recuperação de conteúdos e que a arte não tem conteúdo (BARBOSA, 2012, p. 25). Pensando sobre essa realidade e, dialogando com diversos autores que tratam sobre integração curricular e como esse pode encaminhar a uma formação humana integral, Ramos

(2012) afirma que essa formação contribui para que o aluno tenha uma visão que vai além do mercado de trabalho, superando um aprendizado de funções meramente mecânicas para o acesso aos conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-históricos, abrindo caminhos para efetiva participação na sociedade. Com a elaboração desse trabalho, longe de ser o principal viés para a garantia de uma efetiva integração curricular, pretendemos contribuir para reflexões e mudanças de atitudes, saindo da inércia provocada pela disciplinarização e partindo para o diálogo com os interessados em colaborar com a integração. Para isso, é preciso entender que a arte se situa no entrecruzamento de muitos outros saberes, ela é mutante e universal, pois dialoga com diversos campos do conhecimento. “Como a matemática, a história e as ciências, a arte tem um domínio, uma linguagem e uma história. Constitui-se, portanto, num campo de estudos específicos e não apenas uma mera atividade” (BARBOSA, 2012, p. 7). Como também afirma a autora:

A arte, enquanto linguagem, interpretação e representação do mundo, é parte desse movimento. Enquanto forma privilegiada dos processos de representação humana, é instrumento essencial para o desenvolvimento da consciência, pois propicia ao homem contato consigo mesmo e com o universo. Por isso, a Arte é uma forma de o homem entender o contexto ao seu redor e relacionar-se com ele. O conhecimento do meio é básico para a sobrevivência, e representá-lo faz parte do próprio processo pelo qual o ser humano amplia seu saber (BUORO, 2009, p. 20). Nesse contexto, as práticas de ensino da arte vão além do desenvolvimento de habilidades e competências, podendo contribuir significativamente no processo de formação humana integral, uma vez que propiciam, dentre outros aspectos, a interação com o meio sociocultural, a criação estética e a visão crítica do mundo. Assim, trabalhamos com o objetivo de problematizar o ensino da arte reconhecendo-o como potencial para práticas integradoras entre a disciplina de Arte e as disciplinas do núcleo profissionalizante do Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio em prol da efetivação da integração curricular e, consequentemente, da formação humana integral. Para isso há que se compreender primeiro a obrigatoriedade legal, depois o entendimento filosófico dessa proposta de ensino médio integrado e currículo integrado. Esse entendimento ajuda ver além dos espaços escolares, ao romper com a fragmentação teoriaprática, já que ainda é comum o pouco conhecimento dos professores sobre a proposta de integração do ensino médio com a educação profissional e, concomitantemente, com uma perspectiva de formação omnilateral. Para Ciavatta (2012), o exercício da integração supõe ações coletivas de professores dispostos a buscar a inovação, ministrando disciplinas de forma mais adequada a esta integração e considerando a articulação entre arte e ciência como

deflagradora de processos criativos. Nenhuma lei garantirá o exercício da integração se os professores não se dedicarem, de forma coletiva e compartilhada, a torná-la efetiva, acreditando na emancipação humana, política e social.

Existe hoje a busca de um novo paradigma para a Ciência que, por entender o homem como um todo, maior do que a soma das partes, possa recuperar os “Leonardos” cientistas, anatomistas, inventores, criadores, músicos, pintores, seres integrais cujo conhecimento é construído a partir de uma integração com a natureza e com todas as formas de saber, por mais diversificadas que possa parecer (BUORO, 2009, p. 30-31). A integração precisa ser experimentada, nesse contexto, como processo contínuo na trajetória de formação dos educandos, alicerçada nos eixos do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. Conforme explica Moura (2013), são esses eixos que

[...] permitem questionar o sentido das ciências e das tecnologias que estão envolvidas nos estudos e nas práticas realizadas no EMI, contribuindo para avanços significativos nas dimensões epistemológica e ético-política da formação humana. [...] E, dessa forma, [compreender] de que maneira eles contribuem para alterar a forma de viver dos seres humanos em geral e, em particular, da região onde está inserida a escola [...] (MOURA, 2013, p. 139). É nesse sentido de busca por uma integração curricular que defendemos que a arte pode auxiliar no processo de mudança de atitude de um ensino puramente disciplinar, em um espaço e tempo que ainda há prioridade no ensino de técnicas, para um processo interdisciplinar entre os professores dispostos a buscar essa mudança em função da superação da hegemonia dominante e do caminhar em direção à integração de diferentes áreas do conhecimento. Como dito por Barbosa (2012), se pretendemos uma educação humanizadora, a necessidade da arte é crucial para desenvolver a percepção e a imaginação, para entender a realidade e pensar criativamente a modificação dessa realidade. Também afirma que é impossível o desenvolvimento de uma cultura sem o desenvolvimento de formas artísticas, é impossível o desenvolvimento integral da inteligência sem o desenvolvimento do pensamento divergente, do pensamento visual e do “conhecimento presentacional que caracterizam a arte” (BARBOSA, 2012. p. 5). De acordo com Parsons (2010), a integração só acontece quando a aprendizagem faz sentido para os alunos, quando percebem que os conhecimentos são conectados de diferentes formas, inclusive aos seus interesses, experiências de mundo e vida. Gallo corrobora com esse entendimento afirmando que

[...] os alunos não conseguem perceber que todos os conhecimentos vivenciados na escola são perspectivas diferentes de uma mesma e única realidade, parecendo cada um deles autônomo e auto-suficiente, quando na verdade só pode ser compreendido em sua totalidade como parte de um conjunto, peça ímpar de um imenso puzzle que pacientemente montamos ao longo dos séculos e milênios (GALLO, 2016, p. 20).

Por isso essa pesquisa buscou enfatizar que não é possível conceber a ciência sem criação, sem arte, sem conhecimentos. Para Assumpção e Duarte (2016), não se trata de contrapor ciência e arte a partir de concepções dicotômicas que separam razão e emoção, fixando a ciência a uma visão reducionista da razão e a arte a uma visão igualmente reducionista da sensibilidade afetiva. Afirmar que a ciência lida apenas com a racionalidade é negar e unilateralizar a relação sujeito e objeto. Tanto a ciência quanto a arte conclamam os aspectos afetivos e cognitivos dos sujeitos. Aliás, a arte também é uma ciência! Todos esses aspectos fazem parte da construção humana e, nesse contexto, o ensino da arte envolve um conjunto de inúmeros conhecimentos que possibilitam esta integração, estabelecendo relação com diversos conteúdos de outras áreas, cada qual com seus saberes, mas objetivando o reconhecimento dessa complexidade, rompendo com a fragmentação das práticas em prol da formação integral do sujeito. Fazenda (2011) aponta a interdisciplinaridade como um dos caminhos para a efetivação da integração, visto que pressupõe uma mudança de atitude diante da concepção fragmentária do currículo para a unidade do ser humano. E afirma que o conhecimento interdisciplinar “deve ser uma lógica de descoberta, uma abertura recíproca, uma comunicação entre os domínios do saber, uma fecundação mútua e não um formalismo que neutraliza todas as significações, fechando todas as possibilidades” (Idem, 2011, p. 60). Salientamos que não existem “receitas prontas” para a efetivação da integração curricular, o que problematizamos são caminhos possíveis de serem percorridos buscando a superação da fragmentação do saber em disciplinas isoladas, bem como o distanciamento dessas com o contexto de vida do aluno. Entendemos também que para a realização dessas práticas integradoras é preciso que os professores saiam do comodismo de ensinar apenas questões específicas de “suas” disciplinas e sejam pensantes, criativos, renunciando verdades concebidas por anos, buscando nos campos teórico-epistemológico-práticos fundamentações para suas ações, compreendendo que esses campos não se separam. Para o professor do ensino médio integrado implica, nesse sentido, além de entender bem a sua área de atuação, conhecer também outras dimensões de conhecimentos que digam respeito à vida do estudante no seu processo de emancipação.

SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Os mestrados profissionais no Brasil foram instituídos a partir da publicação da normativa nº 17, de 28 de dezembro de 2009. Essa categoria de mestrado profissional exige, para sua conclusão, a elaboração de um produto educacional que seja útil à sociedade,

contribuindo com a tríade ensino, pesquisa e extensão, dentre outros aspectos. Dessa forma, utilizamos uma abordagem qualitativa por se tratar de uma pesquisa que pressupõe a participação dos sujeitos e o contato direto do pesquisador com o espaço investigado e com esses sujeitos. Esse tipo de pesquisa flexibiliza a condução da ação pois o foco está no processo e não no resultado da mesma (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Os significados e observações surgem diante da vivência com o contexto, ou seja, o pesquisar produz os dados a partir da perspectiva dos participantes, que nela estão envolvidos, considerando que todos os pontos de vista são relevantes. Por ser uma abordagem que não segue rígidas estruturas, permite ao pesquisador que sua imaginação e criatividade proponham trabalhos que explorem novos enfoques (GODOY, 1995). Dessa forma, Oliveira (2012) nos alerta sobre os conhecimentos e as relações que são tecidas nos cotidianos entre os sujeitos, sendo relevantes não só para a vida cotidiana, mas para o desenvolvimento de novos conhecimentos que podem contribuir com a emancipação social. E afirma,

[...] o cotidiano é o espaço-tempo no qual e através do qual, além de forjarmos nossas identidades e tecermos nossas redes de subjetividades, em função dos múltiplos conhecimentos, valores e experiências com os quais convivemos nele, tornamo-nos produtores de conhecimentos, mesmo dos chamados conhecimentos científicos (OLIVEIRA, 2003, p. 54). A pesquisa com os cotidianos também foi nosso suporte, visto que entende que a educação acontece no percurso, nas relações entre os sujeitos desses cotidianos, buscando uma aproximação com os conhecimentos criados nesses contextos, da mesma forma em que buscamos a nós mesmos, nossas experiências enquanto professores, constituindo-se como nosso próprio tema de investigação. Garcia (2003) diz que a pesquisa com o cotidiano é ter a incerteza como recurso metodológico, pois são caminhos reais trilhados ao longo do processo, no encontro com pessoas e situações diferentes e imprevistas. Nos percursos da investigação e para a elaboração do produto educacional desta pesquisa, foram utilizados como instrumentos: análise de documentos, questionário, análise de imagens, narrativas e encontros virtuais – esses, que seriam presenciais, foram adaptados à realidade pandêmica da COVID-19 que se instaurou mundialmente desde final de 2019 até a presente data. Nesse processo buscamos proporcionar a interação constante entre o pesquisador e o campo de pesquisa, num permanente diálogo com/entre os sujeitos que praticam esses cotidianos (FERRAÇO, 2004). O lócus da pesquisa foi o Ifes – Campus Venda Nova do Imigrante, com foco no Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio, escolha realizada por fazermos parte

desse grupo de professores e conhecer a realidade local. Iniciamos com uma prática exploratória, buscando uma ampliação dos estudos acerca de integração curricular, ensino médio integrado, trabalho como princípio educativo, omnilateralidade e ensino da arte, além de legislações que regulamentam a educação profissional e média, como a LDB (Lei nº 9.394/96), as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Concomitantemente, analisamos o Projeto Pedagógico do Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio (PPC), a matriz curricular, o ementário e os planos de ensino desse mesmo curso, de modo a conhecer seus objetivos e fazer uma sondagem sobre as possibilidades de integração curricular entre a Arte e os demais componentes curriculares do núcleo profissionalizante. Para Lakatos e Marconi (2010, p. 151), a “análise é a tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores”. Especificamente, para o início do processo de construção da proposta, foi compartilhado com todos os professores que ministram as disciplinas profissionalizantes do referido curso, um formulário on-line para sondagem de práticas integradoras já realizadas por eles, com quais disciplinas e, em especial, com a disciplina de Arte, por ser o foco do nosso trabalho. Para Triviños (1987), quando usamos o questionário de forma semi aberta, enfatizamos a participação dos sujeitos da pesquisa de forma a evidenciar seus comportamentos no cotidiano, buscando pistas para a escrita da pesquisa. Esses mesmos professores foram convidados a participarem de dois Encontros Virtuais, síncronos, com o objetivo de discutir os temas principais da pesquisa e, posteriormente, realizar uma “catarse”4 com imagens legitimadas ou não pelo campo da arte, mas que poderiam trazer possibilidades de integração entre as disciplinas já apresentadas. Nessa vertente, consideramos a obra de arte dotada de significados, construídos na relação direta da obra com o espectador. O leitor (aqui considerado “leitor de imagens” e as imagens consideradas “textos visuais”) constrói percursos profundos de sentidos, pois as imagens são ancoragens que permitem ampliar olhares, num diálogo contínuo com as experiências pessoais. Hernández (2007), ao tratar sobre a Cultura Visual, afirma que a intenção não é a de centrar-se no significado das imagens, mas em “como” significam. Para Freedman (2010), as relações entre as imagens e suas interligações interdisciplinares são inegáveis para o entendimento da arte e de outras formas de cultura visual. Após a realização dos encontros, demos continuidade à pesquisa e, já com muitos dados “em mãos”, traçamos as possibilidades de integração dos conhecimentos, refletindo acerca de como as práticas artísticas se inter-relacionam com os conteúdos abordados nos

encontros virtuais. As narrativas registradas nos encontros serviram de suporte na construção dessa proposta de integração.

O que potencializa a contribuição dessas narrativas – musicais, imagéticas, românticas, contistas, etc. – são as múltiplas realidades constitutivas da sociedade em que vivemos e que elas expressam, possibilidades de subversão daquilo que a modernidade nos ensinou. Precisamos de narrativas que contribuam para a compreensão ampliada do que é e do que pode ser a realidade social na qual estamos vivendo, escamoteada e tornada invisível a “olho nu” pelas normas e regulamentos da cientificidade moderna, da hierarquia que se estabelece entre teoria e prática e dos textos produzidos segundo tais ditames (OLIVEIRA, 2010, p. 23). Materializando o produto educacional produzido colaborativamente e, sendo importante para nós que fosse feito a partir de uma linguagem artística, optamos então por um gênero de arte experimental, chamado de Mail Arte5, Arte Postal ou Cartões Postais. Vale destacar que os cartões postais são conhecidos tradicionalmente pela facilidade de circulação pelos Correios, como também pela necessidade de mostrar a alguém, muito querido, algo que lhe chamou a atenção, na maioria das vezes, pontos turísticos. A partir da Arte Contemporânea, com a utilização de novos suportes para criações artísticas, a Arte Correio, Arte Postal ou Mail Art, entra numa circulação underground/marginal de imagens e mensagens irônicas ou mesmo críticas à realidade social e política, como afirma Lopes (2018). Ray Johnson e seu amigo Ed Plunkett, jovens artistas americanos, objetivavam com a Mail Art ampliar a rede de comunicação entre artistas de todo o mundo, utilizando os recursos que existiam por volta de 1950 (LOPES, 2018). No Brasil, essa manifestação artística foi estimulada pelos protestos contra a Ditadura Militar, a partir de 1968, com a publicação do AI-56, enfatizando uma relação texto/imagem e encurtando a distância entre as pessoas, estimulando uma reflexão crítica. Resumidamente, e como material educativo, os Cartões Postais trazem em sua frente imagens trabalhadas em um dos Encontros Virtuais que despertaram, entre os professores, possibilidades de integração entre a Arte e as disciplinas do núcleo profissionalizante. No seu verso, constam sugestões de integração curricular, listando pontos de interseção, entre as dimensões do conhecimento das disciplinas citadas anteriormente, sempre pensando em efetivar a integração curricular e, consequentemente, buscando a melhoria de práticas integradoras na educação básica, visto ser de fácil acesso e permitir a troca de informações e experiências entre os professores que ministram disciplinas no Ensino Médio Integrado. Como afirma Kaplún (2003), um material educativo é um objeto, é algo que apoia e facilita o desenvolvimento de uma experiência de aprendizado e, mesmo que proporcione só informação, pode ser educativo desde que seja utilizado adequadamente para cumprir essa função.

Os Cartões Postais surgiram de um trabalho de conexões a partir do que os professores disseram nos encontros, das propostas de cada disciplina apresentada no PPC do Curso e dos Planos de Ensino dos professores entregues no início do ano letivo, com nosso conhecimento sobre a área da Arte. Algumas ementas/planos de ensino traziam conteúdos mais específicos, delineados, outros mais objetivos, o que dificultava nosso entendimento sobre qual conteúdo daquela disciplina o professor se referia. Por esse motivo, quando preciso, fazíamos um contato individual com alguns professores para que nos orientassem quanto a essas dúvidas. Para cada imagem apresentada fizemos uma análise e uma busca sobre quais disciplinas e conteúdos poderiam ser trabalhados a partir desta, além da busca de dados sobre a imagem. Foi o momento de maior entrega, pois é com esse material que outros professores podem efetivar movimentos de integração, propostas interdisciplinares, sendo esse o foco principal de toda a pesquisa. Sabíamos que algumas imagens poderiam contemplar mais disciplinas e conteúdos, mas não tivemos a participação de todos os professores do Curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio do Campus, por isso contamos com aqueles que se dispuseram a participar. Também poderíamos repetir alguns conteúdos em várias imagens, mas não pretendíamos sobrecarregar os cartões com tantas informações, de modo a não descaracterizar sua estética original. Dentre todas as imagens apresentadas durante o Encontro Virtual Dois, selecionamos, para o produto, aquelas que permitiram mais possibilidades de interseções entre as disciplinas do curso. É sabido também que as nomenclaturas das disciplinas também podem variar de um campus para outro, em virtude da elaboração da matriz curricular de cada um deles, mas acreditamos que a identificação pelos conteúdos permitirá o trabalho que estamos propondo.

Figura 1 – Cartão Postal 1

Fonte: arquivo pessoal No total, foram elaborados doze cartões que trazem imagens de pinturas, esculturas, filmes, propagandas, reportagens e fotografias, todas relacionadas ao mundo do trabalho, e quando apresentadas aos professores, foram despertando possibilidades de intersecção entre a Arte e as disciplinas do Curso Técnico em Administração integrado ao Ensino Médio. Defendemos que com esse material em mãos, uma infinidade de ações integradoras poderá ser elaborada coletivamente em termos metodológicos, como: projetos de exercício profissional, pesquisa aplicada, avaliações, seminários, estudo de casos, portfólio, entre outros, pois como nos diz Kuenzer e Garcia (2013, p. 71) “a utopia se concretiza a partir de ações coletivas; assim, a integração terá que ser construída pelo trabalho coletivo com direção política”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do questionário aplicado e dos encontros virtuais realizados com os professores participantes, entendemos que a fala desses professores corroboram com muitos autores que apontam sobre a dificuldade do envolvimento nesse tipo de projeto, tendo em vista que a maioria dos profissionais não teve essa experiência durante sua formação, tradicionalmente disciplinar e conteudista, não conseguindo conceber novas atividades. Tauchem e Araújo (2018) ao discorrerem sobre a prática interdisciplinar afirmam que é preciso que o sujeito esteja predisposto ao trabalho coletivo, apostando na construção de respostas para suas inquietudes. Também percebemos que para muitos professores ainda é distante a percepção da Arte como campo de conhecimento com possibilidades de integração

com outras disciplinas. Frisamos, a partir dos resultados obtidos, a necessidade do entendimento de conceitos fundamentais para a educação profissional e o ensino médio integrado, como a interdisciplinaridade e currículo integrado, por acreditarmos que muitas práticas integradoras não acontecem devido a hierarquização dos saberes e a pouca discussão/estudo de temáticas relacionadas. Ao longo da pesquisa foi notória a percepção individual dos professores sobre sua prática, apontando a efetivação de um currículo integrado para que o aluno compreenda o mundo a sua volta a partir dos conceitos de trabalho, tecnologia, ciência e cultura e se desenvolva integralmente. Conforme afirmam Ciavatta e Ramos (2012), o currículo elaborado sobre as bases do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia não pode hierarquizar os conhecimentos nem os respectivos campos das ciências, devendo problematizá-los em suas historicidades, relações e contradições. Se a formação humana integral pressupõe a indissociabilidade entre o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, defendemos que uma dessas dimensões não pode ser pensada sem a outra, e a Arte se apresenta como possibilidade integradora, pois permite aos diferentes sujeitos "experienciar a arte como via de humanização de direito e de fato. [...] E não há como ignorar, contribui para o desenvolvimento da capacidade de raciocínio, de solucionar problemas e enfrentar desafios do pensamento divergente”, facetas exigidas no mundo do trabalho contemporâneo, frente ao atual modelo econômico-político-social (SCHLICHTA, 2009, p. 37). Vale destacar que o processo final da pesquisa se deu com a validação do produto educacional, feita por meio de um formulário de avaliação do produto, que foi enviado através dos Correios, para os professores do Curso Técnico de Administração integrado ao Ensino Médio do Ifes – Campus Centro-Serrano, confirmando a possibilidade dessa integração objetivada com a pesquisa. Essa participação dos professores foi fundamental não somente para a elaboração da versão final do produto, mas para a confirmação sobre a necessidade de ações voltadas para a integração curricular, ou seja, corrobora com a ideia de que uma formação de nível médio integrada só se realiza plenamente à medida que os conhecimentos propedêuticos estejam em consonância com o mundo do trabalho e coloca o professor desse curso como um dos pontos fundamentais para a efetivação dessa perspectiva de trabalho. Ressaltamos novamente a finalidade dessa pesquisa ser somente um condicionante sobre as possibilidades de integração entre a Arte e o núcleo profissionalizante desse curso, de forma mais específica, já que, como afirma Oliveira (2003, p. 82), se referindo as práticas curriculares tecidas nas escolas “suas tonalidades vão depender sempre das possibilidades