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Aplicativos e softwares inteligentes

ESPECIAL

Cresce o cultivo semihidropônico de morango

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Negócios em alta na 23ª Edição da Hortitec

11° Encontro Brasileiro de Hidroponia mostrará evolução do setor


ESPECIAL

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CRESCE O CULTIVO SEMI HIDROPÔNICO DE MORANGO Os Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo são os principais produtores da fruta

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urante 30 anos, o agricultor Léo Thums, cultivou morango (Fragaria) no solo em sua propriedade na localidade de Roncador, em Feliz, município situado no Vale do Caí, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS). Ele ainda cultiva 30 mil mudas de morango para a indústria, no sistema convencional, mas há sete anos começou a migrar para o semi-hidropônico, que hoje ocupa a maior área. “Eu cultivava o morango no solo, mas as doenças tornaram isso impossível. Era plantar e a muda morria”, lembra. Cauteloso, Thums começou com apenas duas estufas, mas depois foi aumentando o número e hoje conta com 37 dessas estruturas, onde cultiva 120 mil mudas de morango de mesa. As plantas são cultivadas em slabs, em bancadas com cerca de 80 centímetros de altura do chão. O agricultor usa casca de arroz e outros materiais orgânicos como substrato. A adubação é feita por meio da fertirrigação. Thuns comemora os resultados e afirma que está produzindo duas a três vezes mais do que pelo sistema convencional. “O custo de implantação da estufa foi pago antes de completar um ano”, salienta. Como a incidência de doenças é menor, também devido à circulação de ar nas estufas, os tratamentos com fungicidas e agrotóxicos têm uma redução de aproximadamente 80%, segundo ele. “A construção da estufa exige um investimento inicial alto, mas se paga no mesmo ano. O cultivo semi-hidropônico dá mais economia do que no chão”, compara. Além dos benefícios econômicos e em termos de sanidade e qualidade da fruta, o produtor também sente no próprio corpo a diferença entre os plantios. “No semi-hidropônico, o produtor trabalha em pé e o serviço rende muito mais”, salienta Thuns, de 56 anos, que planta suas lavouras com mão de obra estritamente familiar. A produção da família é vendida direto para o consumidor em feiras livres da região e para supermercados da Serra Gaúcha e da Região Metropolitana de Porto Alegre. “Entrego para supermercados de Caxias do Sul, Novo Hamburgo e São Leopoldo”, afirma. Doenças motivaram transição – Thums é dos produtores gaúchos que cultiva morango semi-hidropônico. No Estado, a cultura é desenvolvida, em sua grande maioria, por agricultores familiares em pequenas áreas de cultivo (cerca de 10 hectares). A necessidade da rotação de culturas em plantios sucessivos aliada à maior conscientização do produtor de morangos quanto aos riscos do uso indiscriminado de agrotóxicos, têm motivado os produtores a buscarem novas maneiras de cultivo. O morango é produzido em ambiente protegido e cultivado com o uso de substrato usando um material orgânico (normalmente composto orgânico ou turfa) juntamente com um material inerte (casca de arroz carbonizada, perlita, vermiculita, ou areia) envasado em sacos de plástico especial (slabs), irrigados e fertilizados com uma solução nutritiva completa, que proporciona todos os nutrientes necessários à planta. Esta alternativa, que no Brasil é chamada de cultivo semi-hidropônico, é de grande importância econômica e

social para os produtores, pois assegura a rentabilidade da atividade, reduzindo a demanda de agrotóxicos na cultura. O uso de estufas maximiza o aproveitamento do espaço também protege as plantas contra a ocorrência de chuvas, ventos e geadas. Outra vantagem é que o trabalho pode ser realizado em qualquer condição climática, o que permite aumentar a produtividade no período de entressafra. No início da década de 70, a cultura do morango recebeu um maior impulso comercial e se estabeleceu principalmente no Vale do Caí e Serra Gaúcha, que são as principais áreas produtoras de morangos de mesa do Rio Grande do Sul. Usado na produção de sucos, sorvetes, bolos, geléias e tortas doces, o morango é uma das frutas com maior importância econômica nas regiões da Encosta Superior do Nordeste e da Serra Gaúcha, sendo uma cultura tradicional e já consolidada em municípios como Feliz, Bom Princípio, São Sebastião do Caí, São José do Hortêncio, Linha Nova, Alto Feliz e Farroupilha. No entanto, o cultivo da fruta também vem ganhando importância em Vacaria e Flores da Cunha, entre outros municípios. A região de Pelotas, na Zona Sul do Estado, destaca-se na produção de morangos para indústria. Morango orgânico em substrato – Em Bom Princípio, que é considerada a “Capital Nacional do Morango”, os agricultores usam atualmente quatro sistemas de cultivo: convencional em solo, orgânico em solo, convencional em substrato e orgânico em substrato. O sistema convencional predominava até pouco tempo, mas problemas causados pelo uso intensivo de agrotóxicos, danos ambientais, prejuízos à saúde humana e aos ecossistemas, levaram os produtores e buscarem alternativas de cultivo que minimizassem os impactos negativos ao ambiente e ao homem. “O cultivo do morango no solo estava comprometido até 2007/2008. A principal causa era o fator de sanidade”, diz o técnico agrícola Leneu Blauth, da prefeitura de Bom Princípio. Em 2012, agricultores que produziam morango no sistema de cultivo orgânico em solo, procuraram a Emater-Ascar em busca de auxílio para que o sistema de cultivo convencional em substrato fosse adaptado para o sistema de cultivo orgânico em substrato. Por meio de uma parceria com a Cooperativa de Produtores de Morango Ecológico (Ecomorango), formada por 35 produtores agroecológicos de Bom Princípio, Feliz e Alto Feliz e 16 anos de experiência no cultivo de morangueiro orgânico, iniciaram-se várias pesquisas até conseguirem a adaptação para o sistema de cultivo orgânico em substrato. A transição ocorreu por meio da busca de alternativas em órgãos de pesquisas e universidades, uma delas era o semi-hidropônico. Foram instaladas unidades demonstrativas, realizadas capacitações por meio de visitas, reuniões, palestras, cursos, dias de campo e seminários, conforme Blauth. Os agricultores são estimulados a cultivar a fruta sem o uso de agrotóxicos e adubação química. O experimento foi aprovado pelos produtores, aos quais trouxe vários benefícios, como a melhora nos aspectos ergonômicos da atividade, produção de morangos sem agrotóxicos e menor pressão de pragas e doenças se comparado ao sistema em solo. | 29


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O cultivo semi-hidropônico vem ganhando novas adesões e a área cultivada aumenta a cada ano, de acordo com o técnico agrícola. Nesta safra, os produtores estão cultivando 900 mil mudas de morango, sendo que 650 mil foram plantadas este ano e 250 mil são mudas de segundo ano. Segundo ele, 522 mil mudas são cultivadas no sistema semi-hidropônico e as demais em solo, no sistema convencional. “Anualmente, tem aumentado o número de produtores cultivando neste sistema”, destaca Blauth. A estimativa, segundo ele, é que 72 produtores adotarão a produção de morangos no sistema semi-hidropônico no município. “Temos a estimativa de colher 0,9 quilo por planta, ou seja, um total de 810 mil quilos”, projeta. As mudas importadas do Chile e da Argentina são cultivadas em slabs, com casca de arroz carbonizada e materiais orgânicos. Os nutrientes que a planta necessita são fornecidos sob controle por meio da água. As sacolas ficam em prateleiras, o que permite que os agricultores trabalhem em pé, facilitando o manejo.

A técnica também traz vantagens como a redução do uso de agrotóxicos em até 80% e a eliminação de doenças radiculares, provenientes do solo. Os agricultores são auxiliados pela prefeitura opor meio da Lei de Incentivos. “Eles recebem ajuda com o serviço de máquina, transporte de insumos, terraplanagem e subsídio na aquisição de mudas e na construção das estufas”, aponta Blauth. Subsídio à produção – Em Feliz, que é considerada uma das maiores produtoras do Estado, até cerca de sete anos os agricultores apostavam no plantio feito no solo, sob túneis baixos ou altos. No entanto, a cultura quase desapareceu por causa de fungos no solo e outras doenças. Atualmente, o cultivo de morango envolve 200 famílias e ocupa uma área de aproximadamente 50 hectares, conforme dados da Secretaria Municipal de Agricultura. Muitos dos produtores que cultivavam a fruta de forma convencional migraram para a semi-hidroponia. Em 2013, a estimativa era de que em Feliz fossem cultivadas 1,8 milhões de mudas de morango, sendo 1,4 milhão em cultivo convencional (túneis baixos), o que totaliza 35 hectares neste sistema, e outros 400 mil em cultivo semi-hidropônico, totalizando 5 hectares em estufas. “Hoje, no município são cultivadas cerca de 3 milhões de mudas”, estima o secretário municipal de Agricultura, Gilberto Rauber. Todos adotam o cultivo protegido, sendo que 70% deles produzem em estufas, no sistema semi-hidropônico, explica o secretário. As mudas são produzidas por agricultores da região ou importadas da Argentina e Chile. As variedades mais utilizadas são a Albion, San Andréas, Festival, Camarosa, Portola e Sequóia. Rauber lembra que Feliz foi pioneira no Vale do Caí no cultivo nessa modalidade, a partir de 2007. Para ajudar na implantação desse novo sistema de cultivo, a prefeitura subsidia a construção das estufas por meio do Programa de Desenvolvimento da Agricultura. Em 2015, o Executivo financiou 38 produtores e inves-

Leneu Blauth, técnico agrícola da prefeitura de Bom Princípio (RS)

Gilberto Rauber, secretario de agricultura de Feliz (RS)

Mário Calvino Palombini, produtor de morango de Vacaria (RS)

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ESPECIAL tiu R$ 66 mil. Cada um dos agricultores recebeu uma ajuda de R$ 1.750,00. Neste ano, a prefeitura investirá R$ 50 mil e beneficiará 28 produtores. Cada um receberá R$ 1.785,71. O valor cobre o custo da madeira e da cobertura plástica de uma estufa-modelo de 5 x 40 metros. “O poder público vai ganhar lá na frente, quando o agricultor passa a produzir mais, também recolhe mais imposto para o município”, argumenta Rauber. Controle biológico – O plantio de morango é recente em Vacaria, na Região dos Campos de Cima da Serra, mas o número de produtores vem aumentando nos últimos anos. A estimativa é de que a área plantada seja de 40 hectares, com uma produção de aproximadamente 2 mil toneladas da fruta por ano. O engenheiro agrônomo Mário Calvino Palombini produzia maças - chegou a plantar 30 hectares com a fruta - mas, em 2006 decidiu suspender o cultivo e migrou para o morango semi-hidropônico. Em 2010, Palombini visitou a Universidade de Huelva, na Espanha, pesquisou e começou a aprovar a tecnologia que usaria na Vermelho Natural. Em 2013, voltou à Andaluzia e teve contato com sistemas mais sofisticados, como o NGS (New Growing System), um sistema de recirculação da solução nutritiva que permite controlar em qualquer momento todos os parâmetros, conseguindo reduções significativas em água, fertilizantes e pesticidas. Os espanhóis usam uma fita para manter a umidade sempre perfeita e chamam o sistema de “água facilmente disponível”. O engenheiro agrônomo teve de fazer adaptações às condições brasileiras. Na Europa, como os agricultores produzem no inverno, utilizam só uma solução nutritiva. No Brasil, durante o verão, é preciso usar duas soluções nutritivas, uma para a manhã e outra para a tarde, quando as temperaturas são mais altas. Palombini ainda usa uma terceira solução nutritiva, para a noite. Outra diferença é que, na Europa, os produtores usam o túnel alto espanhol. No Brasil, com as altas temperaturas, precisa abrir bem a abertura lateral. “As nossas estufas são individualizadas, com 50% de plástico e 50% de vão”, explica.

Léo Thums, produtor de morango semi-hidropônico de Feliz (RS)

A Vermelho Natural também inova no controle sanitário, chamado de “resíduo zero”, onde não é utilizado controle químico [com o uso de agrotóxicos], somente produtos biológicos que não são tóxicos e não agridem ao meio ambiente. Conforme Palombini, neste controle é usado um bacilo antagônico que exerce um controle biológico ao oídio, por meio da produção de substâncias antimicobióticas, o Bacillusthuringiensis, que produz proteínas cristalinas tóxicas a larvas [lepidóptero, díptero e coleóptero] e ácaros predadores. Estes habitam plantas daninhas atraídos, possivelmente, por cairomônios. “É muito semelhante ao orgânico, mas utilizando uma tecnologia mais avançada”, diz o engenheiro agrônomo. O espaço da Vermelho Natural é uma área de desenvolvimento de tecnologia, com 18 mil plantas, distribuídas em 12 estufas de 25 x 5 metros. Palombini está reformulando as estufas e terminando os testes com um software próprio que indica qualquer problema no sistema de fertirrigação. “A expectativa é colher de 600 a 700 gramas por planta”, adianta. “Mas ainda é preciso alguns testes para validara tecnologia”, acrescenta.

PRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES

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