MCMXCII

Page 1

A Eternidade não é para nós, Amigo. Ela é reservada a quem tem estômago e coração. E pulmões. E músculos. E nervos – de titânio. A Eternidade é um lugar eternamente claro, calmo, agradável. Hiperbóreo – se o termo cabe aqui, Camarada. Ela é a morada dos Imortais. Nós, de carne e osso, não temos direito a esse repouso. Ao morrermos, retornaremos ao Grande Nada. Ao Nada Absoluto. A Eternidade é o ponto mais distante de que se tem notícia. Ela não se parece com nada do que conhecemos. Os Criadores a observam de sua morada, próxima da Eternidade. Além do que os olhos podem ver. A Eternidade é Vida que flui em corrente sem fim. Agora, se me permitir, meu Amigo, dir-te-ei sobre um dia 27 de março, quase eterno, que esteve em minha vida, 27 anos atrás, numa sexta-feira. Ele passou para a Eternidade. Nele eu reencontrara, por acidente, A Falecida. Nos demos as mãos e passeamos próximos à sua Casa (o Nº 1643). A gente ficara junto novamente. Eu era apaixonado por ela. Mas sobre o que tenho realmente a dizer... fica para amanhã, dia 28. O dia em que adentrei A Casa – pela primeiríssima e derradeira vez. Dezesseis anos antes de redigir a forma embrionária do "Nº 1643": o conto "Vivendo na Casa dA Falecida". Há muito tempo amanhã.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.