Agente da passiva

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Agente da Passiva(?): uma circun(re)flexão W. V. Fochetto Junior1

A experiência de (ser) leitor difere da experiência de (ser) escritor. E esta, por seu turno (e distinção de cunho pessoal, pela qual eu assumo ser um entusiasta mantenedor) difere da experiência de (ser) autor. Longe de findar esta polémica2, tentarei, mais uma vez, explanar a tal distinção. De modo brevíssimo – pois ninguém deve mais suportar-me a tocar neste assunto. Para tanto, consideremos que escritores tem nesse ofício um meio de vida, seu ganha-pão é sua escrita; autores, por outro lado, independentemente do número de livros publicados, podem, de uma hora para outra, resolverem parar sem sofrer com/por isso. Autores têm um compromisso mais com si mesmos, com seu coração, seus anseios, que com qualquer lucro. Autores independem de lucrar com seus livros. Não os publicam, já o dissemos e não custa reiterá-lo, objetivando fazer receita. Importa-me, para não deixar espaço vago a interpretações um tanto especulativas, esclarecer que, uma ver publicado(s) o(s) livro(s) de um autor, convém, como lhe é direito (e mesmo dever), empenhar-se na divulgação desse resultado de seu trabalho, de seus esforços. Claro que, a despeito do prejuízo (vender muito abaixo dos custos que o próprio autor teve de financiar) com as vendas, importa ao autor divulgar seu trabalho, tendo uma remuneração às vezes (no 1

Bacharel em Publicidade e Propaganda (Universidade Braz Cubas, 2001). Licenciado em Letras: Português (Centro Universitário Claretiano, 2007). Especialista em Saberes e Práticas em Língua Portuguesa (AVM, 2014) e Professor de Língua Portuguesa da rede pública de ensino (SP), desde 1998. Autor de diversos livros, dos quais destacam-se Nº 1643 (ficção; Lisboa: Chiado, 2016) e Chocolate Boox (poesia concreta e verbovisual; composta pelos volumes Book do Bréki-Bróko e Blanc Bloc Book; São Paulo: RG, 2016). 2 Eis a grafia lusitana, diversa, como já se deveria ser sabido por todo experiente leitor, da nossa (“polêmica”), notoriamente marcada pelo gráfico acento circunflexo (“circunflexo”: soa como algo meta-linguístico, pois além da Linguística, como sugere o hífen. “Circunflexo”: sim; qual “arco que se flexiona”, dado a cumprir alguma função específica; e cuja diferenciação de sua forma lusitana para por aqui. (o circunflexo acento, necessário à indicação da correta pronúncia da palavra proparoxítona [característica tônica presente ao vocábulo em suas duas formas gráficas: a brasileira e a lusitana], é a única ordem de diferença entre as duas formas vocabulares.


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