Vox Objetiva 38

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ARTIGO • PSICOLOGIA

maria angélica falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com

Por que foges de mim? É importante entendermos a diferença entre ter ciúmes e ser possessivo. O ciúme é um sentimento muito singular na natureza humana. É uma tentativa de reter tudo aquilo que nos traz prazer e de ‘proteger’ o objeto amado. A atitude protetiva pode ocorrer em todas as esferas da vida. É natural uma mãe querer proteger seu filho de tudo aquilo que imagina fazer mal a ele; sentir ciúmes pontuais. Mas uma mãe que mantém seu filho numa criação “redoma”, com forte possessividade, fatalmente o conduzirá ao desenvolvimento do transtorno de dependência. Essa condição vai dificultar o trânsito do filho em todas as áreas da vida, pois geralmente o torna imaturo e com intensa dependência do outro.

dando um tiro no próprio pé e ainda perguntam: “por que foges de mim?”. Pessoas assim sentem que o outro pertence integralmente a elas e passam a ter uma confusão patológica no discernimento de espaço e da individualidade das pessoas. O ser humano está sempre em busca de satisfazer seu vazio, sua carência. Isso é a nossa existência, mas não podemos perder o discernimento de que o outro existe e de que seus desejos e as ambições próprias são fundamentais para a construção da autoestima. Pessoas que se anulam nos relacionamentos vivem fragmentadas em suas emoções e nos desejos, sofrem a angústia existencial e vivem num universo fantasioso de que um dia o outro vai mudar e preencher seu vazio. Mas se em algum dia acordar dessa passividade e romper a relação, o dominador dificilmente vai aceitar as mudanças. E infelizmente em muitos casos ocorrem atos extremos e de atrocidade desumana.

“O ciúme é um sentimento muito singular na natureza humana. É uma tentativa de reter tudo aquilo que nos traz prazer e ‘proteger’ o objeto amado”

Sucessivamente percebemos atitudes de ciúme “protetivo” ao nosso redor. O ciúme é considerado entre muitos casais como um tempero da relação. Há quem considere o sentimento uma expressão do gostar. Mas é evidente que todo tempero exagerado estraga o alimento. Assim também acontece nos relacionamentos. Quando um ciúme pontual cede espaço para um controle absoluto; quando uma pessoa passa a agir com o domínio constante da relação e coloca a outra parte numa submissão esmagadora, surgem diversos sintomas físicos e emocionais para ambos. Em resumo, os possessivos são pessoas que passam a ter fantasias constantes de traição, mesmo sem a outra parte dar razão para tal. Nutrem pensamentos ruminantes, persecutórios e fazem perguntas invasivas o tempo todo. Na tentativa de proteger a relação, acabam

O amor deve ser natural. Não força, não proíbe, não chantageia, não machuca, nem invade. A cumplicidade vem pela relação de confiança mútua. Muitos casais dão um show à parte e são exemplos para serem observados. Seja qual for a relação que expresse a possessividade, é importante que você reflita no íntimo: saiba que para haver real desenvolvimento é preciso ceder mediante as possibilidades, ter maturidade, trabalhar a insegurança e confiar em seus princípios. Reflita sobre suas atitudes e saiba que o AMOR vem sempre com a medida certa, sem exageros, possessões nem distorções.

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